OS MAIAS - A descrição do real e o papel das sensações

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II

OS MAIAS

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I



Relação entre o caráter literário do autor com a vertente psico-científica: As sensações "A sensação pode ser definida como um processo na qual o sistema nervoso e os recetores sensoriais representam a energia recebida pelos estímulos que se encontram ao nosso redor. Noutras palavras, sensação é o processamento realizado pelo cérebro primário da informação recebido através de algum dos cinco sentidos (visão, audição, olfato, paladar e tato). O cérebro organiza esta informação e apresenta um significado em forma de sensação."

Palavra chave aqui: VISÃO. É neste âmbito que Eça de Queiroz age. À medida que os nossos olhos desvendam as palavras escondidas nesta longa obra, o nosso cérebro vai recebendo estímulos variados resultantes da expressiva escrita rica em figuras de estilo e adjetivos como a ironia e a sinestesia.


II


O que é o Realismo? Na literatura, o Realismo é o movimento que, afastando-se da idealização característica

Falar-se nesta corrente literária é o mesmo que pronunciar orgulhosamente o nome de numerosas figuras públicas que a caracterizam: Antero de Quental,Teófilo Braga,Ramalho Ortigão,Guerra Junqueira e Eça de Queirós.

REAL

do Romantismo, aborda temas, até então considerados tabu, como o incesto.

Apresentação da realidade e objetividade Narrativa detalhada e lenta Retrato fiel das personagens

Retrato da vida contemporânea


Realismo - “os maias” capítulo X Gratidão. Este é o sentimento que desperta um fervor apaixonante na alma de Carlos de Maia quando o seu olhar se entrelaça com o de Maria Eduarda,fruto de uma graciosa e alegre saudação que Rosa,a filha da dama,fez ao médico que a curou. Carlos tem então a brilhante ideia de organizar uma visita aos Olivais com o escondido propósito de ficar a sós com Maria Eduarda enquanto os restantes convidados discutem os assuntos mais polémicos da altura. Conta então para a realização deste evento com a ajuda de Dâmaso que,encarregue de falar com um dos convidados,desaparece da vista de Carlos durante muito tempo,levando consigo as informações e respostas que ficara de fornecer a este. Apesar do ocorrido,com uma aura cavalgante nos rios de paixão por Maria Eduarda,Carlos junta-se aos seus companheiros no hipódromo e assiste a este desporto que são as corridas de cavalos,tradição originalmente inglesa,mas que,no entender do pouco patriota português – como alguns dos seus amigos referem – é mais chic que as famosas corridas de toiros defendidas por Afonso da Maia,que alega que são a única fonte de força dos portugueses. Após varrer a plateia atentamente,Carlos cai num estado de melancolia por não ver a sua apaixonada.


Por entre passos e galopes,chegam ao hipódromo troteando vários estrangeiros,criticados por apresentarem uma aparência altiva e não se darem ao trabalho de cumprimentar ninguém. Eis que aparecem então diante de si a Condessa de Gouvarinho ,com a ideia luminosa de passar uma noite com Carlos numa estalagem antes de partir para o Porto,e Dâmaso,que lhe dá a notícia de que Maria Eduarda ficara sozinha em Portugal durante três meses,habitando numa casa que Castro Gomes alugou.

Cada elegante – aparentemente – corrida de cavalos acaba da forma mais graciosa possível: com uma cena de porrada entre os jockers e outros indíviduos presentes no evento,caindo,assim,a linha postiça que envolvia todos os presentes portugueses pertencentes à alta sociedade. Acabada a corrida,Carlos recebe uma carta de Maria Eduarda,onde esta lhe pede que vá a sua casa tratar um familiar seu. Perante isto, o médico não conseguiu esconder a sua tremenda alegria,relendo a carta inúmeras vezes.


Realismo - “os maias” Momentos humorísticos do episódio

“ - Eu sou piegas na garganta, replicou logo

o marquês, desprendendo-se dele e olhando-o com ferocidade. E você é-o no sentimento. E o Craft é-o na respeitabilidade. E o Dâmasosinho é-o na tolice. Em Portugal é tudo Pieguice e Companhia!

“ “ Apenas Carlos se sentou ao pé dela. D.

Maria perguntou-lhe logo por esse aventureiro do Ega. Esse aventureiro, disse Carlos, estava em Celorico compondo uma comédia para se vingar de Lisboa, chamada o Lodaçal... - Entra o Cohen? perguntou ela, rindo. - Entramos todos, Sr.ª D. Maria. Todos nós somos lodaçal”

“ - A sociedade

ridicularizada no geral pelos seus costumes


Nesse momento, por trás do recinto, rompia, com um

taran-tan-tan molengão de tambores e pratos, o hino da Carta, a que se misturou uma voz de oficial e o bater de coronhas. E, entre dourados de dragonas, El-Rei apareceu na tribuna, sorrindo, de quinzena de veludo, e chapéu branco. Aqui e além, raros sujeitos cumprimentaram, muito de leve: a senhora espanhola, essa, tomou o óculo do regaço de D. Maria, e de pé, muito descansadamente, pôs-se a examinar o rei. D. Maria achava ridícula a música, dando ás corridas um ar de arraial... Além disso, que tolice, o hino, como num dia de parada! - E este hino, então, que é medonho- dizia Carlos - A Sr.ª D. Maria não sabe a definição do Ega, e a sua teoria dos hinos? Maravilhosa! - Aquele Ega! dizia ela sorrindo, já encantada. - O Ega diz que o hino é a definição pela música do carácter dum povo. Tal é o compasso do hino nacional, diz ele, tal é o movimento moral da nação. Agora veja a Sr.ª D. Maria os diferentes hinos, segundo o Ega. A Marselhesa avança com uma espada nua. O God

save the queen adianta-se, arrastando um manto real... – Portugal

era constituído por um povo com pouco fervor e mobilidade moral,enquanto que os outros países tinham uma sociedade com um comportamento contrário,uma mentalidade avançada e sempre a evoluir,e uma atitude conquistadora.


Realismo - “os maias” Momentos humorísticos do episódio

“ D. Maria da Cunha erguera-se para lhes falar: e durante um

momento ouviu-se, como um glou-glou grosso de peru, a voz da baronesa achando que c’était charmant, c’était très beau. O barão, aos pulinhos, aos risinhos, trouvait ça ravissant. E o Alencar, diante daqueles estrangeiros que o não tinham saudado, apurava a sua atitude de grande homem nacional, retorcendo a ponta dos bigodes, alçando mais a fronte nua. Quando eles seguiram para a tribuna, e a boa D. Maria se tornou a sentar, o poeta, indignado, declarou que abominava alemães! O ar de sobranceria com que aquela ministra, com feitio de barrica, deixando sair o sebo por todas as costuras do vestido, o olhara, a ele! Ora, a insolente baleia!

“ – Quem era patriota não suportava o

comportamento altivo dos estrangeiros,opondo-se aos costumes não nacionais.



A crítica Social

Eça de Queirós condena a sociedade Dâmaso levou as mãos à cabeça. Uma tourada! Então o Sr. Afonso da portuguesa pela Maia preferia touros a corridas de cavalos? O Sr. Afonso da Maia, um falta de patriotismo,alegan inglês!... - Um simples beirão, Sr. Salcede, um simples beirão, e que faz gosto do que a atitude nisso; se habitei a Inglaterra é que o meu rei, que era então, me pôs fora do patriota foi meu país... Pois é verdade, tenho esse fraco português, prefiro touros. Cada corrompida pelas raça possue o seu sport próprio, e o nosso é o touro: o touro com muito sol, ar de dia santo, água fresca, e foguetes... Mas sabe o Sr. Salcede qual é a tendências vantagem da tourada? É ser uma grande escola de força, de coragem e de estrangeiras,de destreza... Em Portugal não há instituição que tenha uma importância igual à que são um tourada de curiosos. E acredite uma coisa: é que se nesta triste geração exemplo as moderna ainda há em Lisboa uns rapazes com certo músculo, a espinha corridas de direita, e capazes de dar um bom soco, deve-se isso ao touro e à tourada de cavalos decorridas curiosos... O marquês entusiasmado bateu as palmas. Aquilo é que era falar! em Aquilo é que era dar a filosofia do touro! Está claro que a tourada era uma Lisboa,tradição grande educação física! E havia imbecis que falavam em acabar com os originalmente touros! Oh, estúpidos, acabais então com a coragem portuguesa!... inglesa,preferida - Nós não temos os jogos de destreza das outras nações, exclamava ele, às corridas de bracejando pela sala e esquecido dos seus males. Não temos o cricket, nem o toiros. football, nem o runing, como os ingleses; não temos a ginástica como ela se Existe um faz em França; não temos o serviço militar obrigatório que é o que torna o alemão sólido... Não temos nada capaz de dar a um rapaz um bocado de contraste muito fibra. Temos só a tourada... Tirem a tourada, e não ficam senão badamecos grande entre os diversos membros derreados da espinha, a melarem-se pelo Chiado! Pois você não acha, Craft? Craft, do canto do sofá, onde Carlos se fora sentar e lhe falava baixo, da população: respondeu, convencido: Presenciamos - O que, o touro? Está claro! o touro devia ser neste país como o ensino é indíviduos que se lá fora: gratuito e obrigatório. Dâmaso no entanto jurava a Afonso compenetradamente que gostava comportam e também muito de touros. Ah, lá nessas coisas de patriotismo ninguém lhe falam utilizando levava a palma... Mas as corridas tinham outro chic! Aqueles Bois de vocabulário Boulogne, num dia de Grand-Prix, hein!... Era de embatucar! estrangeiro,que - Sabes o que é pena? exclamou ele voltando-se de repente para Carlos. É afirmam que “o que tu não tenhas um four-in-hand, um mail coach. Íamos todos daqui, caia que não é tudo de chic! Carlos pensou também consigo que era uma pena não ter um four-in-hand. nacional é que é Mas gracejou, achando mais em harmonia com o Jockey Club da bom” – Como travessa da Conceição irem todos dentro dum autocarro. Dâmaso - , e outros que são tão nacionalistas que demonstram sentimentos raivosos por quem não é português.


E imediatamente aquela massa de gente oscilou, embateu contra o tabuado da tribuna real, remoinhou em tumulto, com vozes de ordem e morra, chapéus pelo ar, baques surdos de murros. Por entre o alarido vibravam, furiosamente, os apitos da polícia; senhoras, com as saias apanhadas, fugiam através da pista, procurando esbaforidamente as carruagens; - e um sopro grosseiro de desordem reles passava sobre o hipódromo, desmanchando a

A sociedade lisboeta vivia de aparências. Os que a ela pertenciam eram,na verdade,grotescos e precários. linha postiça de civilização e a atitude forçada de decoro... –

A alta sociedade portuguesa possuí também uma falsa postura, regendo-se pelas aparências: Transparece-se como culta e elegante mas,no entanto,tem um caráter bruto e comportamento não apropriado para a época.


A descrição do real e o papel das sensações


Impressionismo literário

Descrição do real

O impressionismo encontra-se geralmente ligado à pintura,valorizando fatores como a cor,a luminosidade,os contornos esfumados e os efeitos provocados em nós por um retrato (por exemplo) quando o observamos. No entanto,esta corrente também pode ser aplicada à literatura. É com recurso ao chamado impressionismo literário que temos a capacidade de fazer a descrição do real.


Esta descrição do real engloba uma componente muito importante que nos permite construir belas imagens sisnestésicas: As sensações,que se dividem em visuais,olfativas,auditivas,táteis e gustativas.

Sinestesia Recurso expressivo que consiste na associação de duas ou mais sensações que pertencem a registos sensoriais diferentes,apelando,por exemplo,uma ao tato e outra ao paladar. É baseado no uso da Sinestesia em conjunto com os adjetivos que Eça de Queirós obtém um vocabulário que permite transmitir diversas sensações,o que é muito útil nas diferentes descrições dos espaços e,consequente,do real. Na descrição do real recorre-se ainda com muita frequência à observação e análise da sociedade (comportamento,costumes,o ambiente e espaços que a rodeiam),explicitando-se,assi m,cada detalhe rigorosamente – Como é o caso do Ramalhete.

Era um dia já quente, azul ferrete, com um desses rutilantes sons de festa que inflamam as pedras da rua, doiram a poeirada baça do ar, põem fulgores de espelho pelas vidraças, dão a toda a cidade essa branca faiscação de cal, dum vivo monótono e implacável, que na lentidão das horas de verão cansa a alma, e vagamente entristece. – As

sensações visual,tátil e auditiva e a consequente importância da luz



Objetividade e subjetividade Focalização interna – O Narrador toma partido e ganha afeição por uma dada personagem, transmitindo uma imagem da história em torno da perspetiva dessa mesma personagem- Eça sente,vê,e julga

como a personagem,fazendo com que o leitor também o faça. Nos Maias,a focalização interna recai essencialmente sobre Carlos e o seu universo psicológico,incluindo-se,assim,as suas opiniões e críticas sociais. Este subjetivismo do Maia encontra-se afincadamente realçado quando este vislumbra Maria Eduarda pela 1ª vez.

Focalização externa - O Narrador refere os aspetos exteriores à história,como a caracterização física das personagens e os espaços onde se movimentam. É superficial,transmitindo com objetividade apenas aquilo que pode observar.

No entanto,esta focalização aparentemente externa pode ser,na verdade,interna. Isto deve-se aos adjetivos usados para descrever o que é observável,que podem indicar um caráter subjetivo.



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Trabalho realizado por: Carolina Feijão Daniela Santos Rafaela Nunes Nuno Simões 11ºB 2017/2018

Agrupamento de Escolas de Benavente


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