Março 2021
Serendipity
the magazine
VANESSA MARIEIRO
ANDRÉ DUARTE e ainda…
Comprar em segunda mão
Nota da editora Olá! Bem-vindo à Serendipity,um projeto que andava a crescer na minha cabeça há alguns meses,ansiando por brotar. O meu nome é Daniela Santos,estudo Ciências Farmacêuticas na FFUC (Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra),e tenho 19 anos. - Primeiramente,porquê a foto no Paço das escolas? Esta ideia nasceu na minha terra natal,mas foi em Coimbra que se desenvolveu,fruto da inspiração que a cidade me dá. Falando em termos práticos,foi no meu quarto em Coimbra que,às 11 da noite,sentada na secretária a fazer o caderno laboratorial de Química Orgânica II,me surgiu a visão da essência da revista e do que ela poderia vir a ser.
- Na revista,de momento, és só tu na equipa? Sim,de momento,sou. No entanto,nomeadamente nas entrevistas,chateei- sim,”chateei”- os meus amigos (mais uma vez,às 11 da noite,brainstorming night) a perguntar-lhes as questões que nunca tinham colocado a alguém e que poderiam agora fazê-lo. No entanto,em termos de design,escrita de artigos que não sejam entrevistas e edição de texto,sou só eu. Se quiserem juntar-se à equipa,é só dizerem!
© Abílio Garcia
Espero que gostem deste projeto tanto quanto eu. Have fun exploring!
André Duarte Motivação,foco e determinação O André ajuda diaramente milhares de pessoas a procurar a motivação,a alcançar o foco,e a manter a determinação. Conversámos com o André sobre a sua missão e o que levou à sua origem.
@andreduarteeeee
Desde quando é que sentiste que querias ajudar as pessoas? Sempre foi um sonho teu? -
Desde sempre que me lembro de gostar de ajudar os outros. Na escola, por exemplo, todos os meus colegas me vinham pedir conselhos e opiniões sobre a vida deles. Na altura, não percebi bem o porquê disso acontecer, mas era algo que era muito natural em mim. Assim sendo, posso dizer que era um dom que tinha, era algo que gostava de fazer e por fim era algo que não me precisava de esforçar nada para fazer e as pessoas ainda me agradeciam. À medida que fui crescendo existiam dois "monstros" na minha cabeça que me deixavam confuso. Por um lado adorava ajudar as pessoas e via a psicologia como uma profissão onde seria feliz, por outro, existia a parte da comunicação, onde me imaginava também a apresentar um programa de televisão. Acabei por escolher psicologia. Ainda assim, como uma coisa não invalida a outra, encontrei no instagram uma forma de aliar o desenvolvimento humano e saúde mental à parte da comunicação e até hoje tem sido o melhor dos dois mundos. Pelo menos estou a adorar e o feedback está a ser muito bom.
O céu não é o limite. A tua mente é.
- De onde vem a tua motivação? A motivação é um tema sensível e por isso mesmo gosto de lhe dar especial atenção. Todo o comportamento do ser humano é motivado por alguma coisa. Podem existir motivações mais visíveis e óbvias, assim como outras nem tanto. Enquanto num dia posso estar muito motivado para acordar e começar a trabalhar a todo o gás, passo a expressão. No dia a seguir posso acordar e não ter exatamente a mesma motivação do dia anterior. E isto é perfeitamente normal no ser humano, acontece com toda a gente, desde a pessoa que está a ler isto ao Cristiano Ronaldo. Sendo assim a pergunta impõem-se. "Como pode o Ronaldo ter falta de motivação às vezes e mesmo assim conseguir estar sempre no top e a ter resultados incríveis?". A resposta é simples, como a motivação não vai estar presente em nós todos os dias, temos de nos apoiar numa outra coisa que nos faça continuar e ser consistentes em qualquer que seja o nosso trabalho. Chegamos então à disciplina. Embora a minha motivação seja acordar todos os dias para trabalhar, ajudar pessoas, ganhar dinheiro, eu nem sempre me vou sentir motivado. Então é aí que entra a disciplina. Daí aquela frase, "disciplina é o que te faz fazer o que precisa ser feito, mesmo quando não estiveres motivado". Ser disciplinado é obedeceres-te a ti mesmo, eliminares as tuas distrações, tirares tempo para descansares, fazeres mais vezes a coisa certa e não muitas vezes várias coisas. Ou seja, embora tenha um propósito bem definido, que é acrescentar o máximo de valor às pessoas e ajudá-las nas suas vidas, nem sempre vou ter motivação, assim sendo a minha maior aliada, será sempre a disciplina.
- O que sentiste quando percebeste que estavas a alcançar público e a fazer a diferença? É verdade que estou a conseguir ter cada vez mais pessoas a acompanhar o meu trabalho e fico muito feliz por isso. Porém é verdade também que, esta minha jornada começou em 2013 quando criei o meu blog, há precisamente 8 anos atrás e na altura as únicas pessoas que liam o que eu escrevia era a minha mãe, o meu pai e os meus melhores amigos. Considero que desde 2013 para cá, cresci não só em tamanho mas também me tornei mais maduro, mas a consistência está sempre comigo. Mesmo que só 3 pessoas fossem ler aquele artigo, isso não era relevante para mim. Eu tinha sempre de escrever o melhor artigo do mundo. Na altura, eram cerca de 5 pessoas aquelas que eu conseguia influenciar, hoje em dia são uns quantos milhares. Ainda assim, quer sejam 5 ou 5 mil, as pessoas podem sempre esperar de mim o melhor conteúdo do mundo, vou sempre entregar o melhor que eu souber fazer.
- Agora mudando um pouco a perspetiva. Qual foi o melhor conselho que alguma vez te deram?
É uma paz enorme não tentar ser quem a gente não é.
Existiram dois conselhos que mudaram a minha vida. O primeiro foi da minha mãe numa altura em que estava com muito medo de seguir psicologia, porque muita gente me dizia que nunca iria conseguir arranjar emprego nesta área. E ela disse-me "Os bons têm sempre trabalho". Quer isto dizer que os que se esforçam, os que correm atrás das oportunidades, os que fazem a sorte deles, têm sempre trabalho na vida. E um medo que tinha de não arranjar trabalho, sendo que ainda nem sequer tinha tirado o curso, transformou-se numa força e coragem enorme para mim. O segundo conselho que mudou a minha vida foi de um amigo meu, que muitos devem conhecer, o Raul Minh'alma. Acho que ele nem sabe o impacto que isto teve na minha vida, mas disse-me uma coisa que me confortou muito. Foi numa altura em que comecei a ter mais visibilidade nas redes sociais e estava a começar a receber os meus primeiros comentários negativos, que naquela altura me deixavam mais embaixo. E o Raul disse-me uma coisa que nunca mais vou esquecer : "Faz sempre o teu trabalho da melhor forma que souberes, sê honesto, humilde e nunca te esqueças que não estás a prejudicar ninguém". Isto fez-me perceber que dar o meu melhor é mais do que o suficiente, vai sempre haver alguém que não gosta do teu conteúdo e está tudo bem com isso. A vida segue.
- Se pudesses falar com o teu "eu" do passado,o que lhe dirias? Se pudesse falar com o meu eu do passado, diria-lhe que não iria chegar a ter um metro e oitenta como sempre sonhou (risos), mas acima de tudo agradecer-lhe-ia por sempre ter sido fiel a si próprio e por nunca ter mudado o seu comportamento para agradar a quem quer que fosse. Considero-me uma pessoa autêntica, não foi fácil manter essa autenticidade, sobretudo quando sofres de bullying na infância por seres exatamente tu mesmo, mas vale muito a pena. Por fim, quero confortá-lo também dizendo-lhe que embora as chances de "dar certo" fossem pequenas e as certezas fossem nenhumas, o trabalho está a recompensar. Aquela máxima de "ninguém vence uma pessoa altamente determinada" é mesmo verdade e é essa a mensagem que quero deixar aos leitores. É impossível vencer uma pessoa que nunca desiste.
Obrigada,André,por aceitares dar a conhecer um pouco mais de ti,do teu projeto e por seres uma inspiração!
Comprar em segunda mão A primeira vez que ouvi falar em “thrifiting” foi há cerca de 3 anos atrás. Não fazia ideia do que se tratava este conceito,nem do que ele significava. Dei apenas por mim a ver um vídeo de uma rapariga no Canadá a entrar numa “thrifting store”,e observei,absorvendo a informação. Comecei então a refletir o porquê de,há uns anos,este conceito ser tão desconhecido e/ou quase nada praticável em Portugal. Sempre ouvi falar da “loja dos 300” e,especialmente,das “lojas em segunda mão”,caracterizadas pelos seus preços altos e por artigos que não estavam em bom estado. Sendo assim,a população rejeitava a ideia de adquirir peças destes estabelecimentos. Felizmente,este facto alterou-se. O termo “thrifting” (ou,em português,”comprar em segunda mão” ) tornou-se numa atividade cada vez mais comum,mais apelativa,mais creativa. Existem agora centenas de lojas – sendo,grande parte, online,também devido à pandemia,que leva à impossibilidade de comprar fisicamente – que postam diariamente peças de roupa em ótimo estado,nos mais variados estilos,e percorrendo os tempos desde o que é considerado vintage ,à coleção passada. Thrifting é também uma opção mais sustentável,no sentido em que uma “nova vida” é dada às peças,ocorrendo reciclagem destas,não se adquirindo roupa da prejudicial fast fashion,cuja produção frequentemente é não só poluente,como também ilegal, utilizando escravização dos seus trabalhadores (incluindo-se,por vezes,a infantil). Desde modo,e para alimentar a vossa curiosidade,aqui apresento algumas sugestões de lojas em segunda mão online,na rede social instagram !
Ethical Needle ( @ethicalneedle )
Odara ( @_odara_ )
Kinema ( @kinema.pt )
Caju ( @caju.pt )
Vanessa Marieiro
Quando a fotografia é uma paixão
@vanessamar.ph
A Vanessa é uma fotógrafa baseada no distrito de Aveiro que capta imagens únicas,belas e inspiradoras de quem fotografa. Quisemos falar com a Vanessa e conhecê-la e ao seu trabalho um pouco melhor. Vanessa Marieiro,o palco é teu! ●
Como surgiu o amor pela fotografia? Conta-nos um pouco da tua história. Para ser sincera , a fotografia sempre esteve presente na minha vida desde miúda, comecei a mostrar interesse na máquina digital da minha mãe desde muito cedo e,felizmente,ela sempre incentivou a paixão. Fui a primeira do grupinho de amigos a ter uma máquina digital, daquelas simples e pequeninas, e andava com ela para todo o lado, visitas de estudo, festas, tudo o que servisse de desculpa para a levar. Claro que ao início era mais para registar os momentos com os miguitos,mas depressa passou para algo mais. Ainda assim, acho que só percebi que realmente o meu futuro não podia ter outro caminho durante a licenciatura em artes plásticas e multimédia, que me deu a possibilidade de explorar inúmeras áreas que eu gostava, mas que percebi não serem o que mais me faz feliz.
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Como te sentes quando estás a fotografar? O que é que a fotografia representa para ti?
Acho que para te responder a isto tenho de dividir a fotografia em duas vertentes distintas. A artística e a de memórias. No que toca à primeira, fotografar é a minha maneira de dizer “isto, isto e isto está errado e eu quero ajudar-nos a mudar”, acaba por ser uma cura pessoal e uma tentativa de cura da sociedade em relação aos preconceitos e julgamentos “morais”. Gosto de me ver como uma feminista ativista e é através da fotografia que o consigo expor e, também, encontrar alguma paz interior. Já sobre a fotografia de memórias, como é o caso de sessões individuais, de grávida, de família, de cortejos académicos, de finalistas... fotografar para mim é fazer parte da vida dessas pessoas, eternizar os seus momentos especiais, para mim acaba por ser muito mais do que um trabalho, é muito mais do que ser só a fotógrafa. Quando me sento a editar e vejo emoção nos olhos das pessoas que fotografei, sei que valeu a pena e que me cruzei com elas por alguma razão.
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Tocando um pouco na edição anterior,e pelo que se pode observar nas tuas imagens, temos uma questão. As tuas fotos espelham a alma e a essência das pessoas nelas presentes, especialmente as dos estudantes de Coimbra, como se estivesses a vivenciar o que lhes vai nos sentidos naquele momento (da captura da imagem). Por isso, deixa-nos perguntar-te: Foste uma estudante aqui em Coimbra?
Ora não hahaha. Fiz a minha licenciatura em Viseu e estou neste momento a fazer o mestrado no Porto. Mas acredito que a minha passagem por Viseu me tenha dado uma base de compreensão dos estudantes muito grande. Acho que vivi tudo o que há para viver durante a universidade, fui praxada, trajei, praxei, pertenci a uma tuna, Estudantina Universitária de Viseu, estive na Associação de Estudantes, e por aí vai. Esta fase da minha vida foi, até hoje, a mais bonita e difícil que já passei, e talvez isso se reflete mesmo nos estudantes que fotografo, porque sei o que é estar ali, sei o que é viver um cortejo ao máximo, sei o orgulho que é vestir um traje.
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Qual foi o projeto que fizeste / em que participaste que consideras ter sido mais especial, e porquê? Esta não é muito fácil de responder, acho que cada sessão que faço me deixa um bocadinho das pessoas, a nível de projetos artísticos tenho de dizer que foi o de final de licenciatura, aprendi imenso sobre mim, sobre os outros, sobre a nossa sociedade e a forma como ela tem impacto no nosso amor-próprio, ou na falta dele, foi o meu projeto de introdução ao ativismo feminista através da arte e por isso mudou completamente a minha vida. Já falando de trabalho, acho que o ponto de viragem da minha vida como fotógrafa foi o cortejo académico de Coimbra em 2018, com Fisiologia Clínica. O feedback deles foi só INCRÍVEL e fez toda a diferença para querer continuar ligada à comunidade estudante de Coimbra. Quando fotografamos este tipo de eventos acabamos o dia com um cansaço inimaginável, a constante pressão de ter cuidado com a máquina por causa da cerveja que voa de um lado para o outro, o querer apanhar todos os momentos importantes, tentar que todos tenham o máximo número de fotografias possíveis... é muita coisa. Posso dizer-te que todos os anos no caminho para casa eu penso “ok, foi o último ano”, mas depois sento-me a editar e os sorrisos enchem-me mesmo o coração. Sou mesmo muito feliz por fazer parte de momentos tão felizes da vida de tanta gente e não tenho palavras para agradecer a todos os estudantes e a todas as estudantes (em especial da ESTeSC).
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Algum novo projeto que queiras divulgar aqui? Neste momento a fotografia comercial está toda em suspenso, por razões óbvias, e por isso estou a aproveitar para me focar no mestrado e alimentar projetos artísticos. Tenho muita coisa pensada, de certeza que vão haver novidades no segundo semestre lá pelas minhas redes. Wait for it.
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Mostra-nos a tua sessão mais aleatória mas que foi das que mais gostaste até hoje, a sessão que requis mais criatividade e a que recebeu mais elogios. Tinha chegado a Londres há cerca de 1 mês, troquei umas mensagens com a @im_eleonora, uma instagrammer italiana que está lá a viver também, e fomos fazer umas fotografias. São no hotel renascentista de St.Pancreas onde, já agora, é proibido fotografar sem autorização. Entrámos a dizer que íamos a um evento que estava a acontecer , e depois fugimos para a zona das escadas. A brincadeira foi boa até o segurança nos apanhar e mandar-nos embora, mas, felizmente, ainda deu para umas fotografiaszinhas.
© vanessamar.ph
Sobre a de criatividade , talvez a que fiz nas salinas com a Maria João. Foi uma sessão criada para uma cadeira do mestrado e, apesar da Maria ser super fotogénica e fácil de fotografar, foi-me um pouquinho complicado conseguir integrá-la com a paisagem, que era o meu objetivo final. Apesar de tudo,fiquei mesmo muito feliz com o resultado.
Elogios. Hm. Se falarmos de retorno, todas as que fiz com o curso de Fisiologia Clínica ao longo destes 3 anos. Tenho muita sorte de me ter cruzado com um curso de pessoas tão boas. Ano após ano,enchem-me a caixa de mensagens com palavras lindas logo depois de enviar alguma sessão, seja cortejo, seja de finalistas. Falando em elogios no geral, não só ao trabalho mas também ao conceito, mensagens de força para continuar trabalhos e a pedirem para verem mais coisas do género, foi o último projeto artístico que publiquei. O número de partilhas foi incrível e nunca esperei que as reações fossem tão positivas. As fotografias foram tiradas com o telemóvel e depois impressas e bordadas por mim. Demorei cerca de 3 horas em cada uma , mas acho que valeu muuuito a pena.
Obrigada,Vanessa! Continua a inspirar e a tocar as pessoas com a tua arte!
de Coimbra,com amor