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Norma Bezerra
NORMA BEZERRA Nasceu na cidade do Crto CE,morou em Recife, mudou-se para Recife/PE, onde residiu por mais de trinta anos. Desde 2011 mora em Brasília. Filha do jornalista José Figueiredo de Brito e Rosa Bezerra de Brito. Tem quatro filhos e três netos. Formada em Letras com especialização no Ensino da Língua Inglesa e Mestrado em Linguística Aplicada pela Universidade Federal de Pernambuco/UFPE. Ensinou em escolas públicas e universidades. Aposentou-se pela Universidade Regional do Cariri.Participou de várias antologias em Recife e Brasília. Escreve para a revista A Província, do Crato. Publicou um livro de crônicas e contos - A Vida não é Ensaio. É membro da Academia Cruzeirense de Letras/ACL e da Academia de Letras e Música do Brasil/ ALMUB. Viaja pelo mundo colecionando vivência, observando as diferenças e jogando no papel o que sente e o que vê.
VIVA AS DIFERENÇAS
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Todos nos acomodamos nos assentos e logo depois, o avião decolou. Ao meu lado direito, uma senhora que rapidamente adormeceu. Ao meu lado esquerdo, um jovem bem magrinho todo vestido de branco e turbante. Como não tinha levado nenhum livro para ler, eu passei a observar o rapaz que parecia um indiano ou, no mínimo, uma pessoa excêntrica. Alpercatas de couro natural calçavam seus pés. Os antebraços ornados por duas pulseiras douradas e, nos dois braços, pulseiras de couro trançado.
A viagem transcorreu normalmente. Uma criança chorava, alguns assistiam aos filmes e outros liam. Poucos dormiam. O lanche foi anunciado. De pronto, o rapaz levantou-se e pegou no bagageiro uma mochila listrada e de lá tirou algo enrolado em panos brancos. Voltou a sentar, abriu a trouxa de pano e desembrulhou um prato e uma caneca de ágata branca. Em seguida, pegou um frasco de álcool gel e passou nas mãos. Esperou.
Passado alguns minutos, o lanche começou a ser servido. O moço cruzou as mãos e baixou a cabeça. Parecia fazer uma oração de agradecimento. Chegou nossa vez. O comissário nos perguntou o que queríamos para beber. Depois nos serviu um pacotinho miserável de biscoitos. Quando viu o prato do rapaz vazio ofereceu dois pacotes. Ele aceitou e abriu um pacote espalhando os biscoitinhos pelo prato. Pegou o segundo pacote e fez o mesmo. Daí foi pegando um a um até terminar de comê-los. Arriscando-me a levar um fora, ofereci o meu pacote, ele aceitou e agradeceu em português carregado.
Enquanto os comissários recolhiam os utensílios, o rapaz limpou o prato com o guardanapo amarrou no pano branco, levantou-se e o guardou dentro de uma sacola de listras coloridas. Deu-me vontade de perguntar sua origem, o significado dos gestos. Mas não tive coragem. Não sei qual interpretação ele daria a minha curiosidade.
A aterrissagem foi anunciada. Quando o avião pousou, nosso personagem levantou, pegou a bagagem de mão, a sacola listrada e mais uma bolsa a tiracolo, quiçá a única bagagem. Deu sinal para passar e saiu na minha frente. Logo adiante, ainda no finger ele passou pela primeira porta. Fez um giro de 160 graus e continuou a andar. Ao passar pela segunda porta, ele fez o mesmo gesto e assim, sucessivamente, até chegar à sala de embarque.
Daí seguiu o seu rumo. Fiquei matutando: como esse mundo é cheio de diversidades! Culturas diferentes, costumes diferentes. Graças a Deus o mundo é assim! Seria muito sem graça se fôssemos todos iguais!