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Hélio Jaques Rocha

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JackMichel

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Em meu livro, busco representar a infância aos olhos de quem já passou por ela, como se fosse um convite a divertir-se, relembrála, para refletir sobre o que dela levamos à vida adulta e o que perdemos. Esta é a principal mensagem: por que crescer.”

ENTREVISTA ESCRITOR HÉLIO JAQUES ROCHA

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Carioca, nascido em 1971, Helio Jaques é astrônomo formado na UFRJ em 1993 e doutorado pela USP, em 2000. Trabalhou como pesquisador associado por três anos na University of Virginia, EUA. Desde 2004 é professor na UFRJ, e atualmente é diretor do Observatório do Valongo. Sua obra “O Rei Adulto” é seu primeiro texto literário. Além dela, atuou como revisor técnico do livro “Astronomia para Leigos”, da Editora AltaBooks, e foi o tradutor do “Atlas Ilustrado do Universo”, da Reader’s Digest. Seu primeiro livro “O Rei Adulto” foi lançado em 2016 com o apoio da AZO – Agência Literária.

Boa leitura!

Por Shirley M. Cavalcante (SMC)

Escritor Helio Jaques, é um prazer contarmos com a sua participação na Revista Divulga Escritor. Conte-nos em que momento surgiu inspiração para a escrita de seu livro “O Rei Adulto”?

Helio Jaques – A ideia de meu livro surgiu em 1990. À época eu tinha 19 anos e ainda atravessava a turbulência da vida adolescente. Comecei a refletir muito sobre o que significava crescer, chegar aos 20, 30 anos... Quando somos crianças, os adultos costumam nos perguntar: “o que você quer ser quando crescer?”. Eu me dei conta de que os adultos normalmente não estavam preparados para quando a criança respondesse que “não queria crescer”. Talvez não seja comum encontrar crianças que digam isso abertamente, mas elas existem, e se sentirão perdidas

quando notarem, anos depois, que estão crescendo. Peter Pan é um arquétipo que representa esse sentimento. Mas o livro “Peter Pan” não oferece uma resposta a essa questão. Eu busquei trabalhar esse dilema na construção dessa história. Quanto ao estilo, inspiro-me bastante em Michael Ende, autor de “A História Sem Fim”.

Apresente-nos o enredo que compõe o livro.

Helio Jaques – “O Rei Adulto” é uma fábula sobre as dificuldades que envolvem a passagem da criança à vida adulta. Ambientado dentro do mundo imaginário e fantasioso das próprias crianças, o livro narra a epopeia de Êisdur Árland, um menino de 11 anos que decide descobrir o paradeiro de seu irmão mais velho, Eisdras, que abandonou o mundo das crianças após entrar na adolescência. Êisdur acredita que pode localizá-lo com a ajuda do Rei Adulto, personagem lendário de seu mundo, reputado como a única pessoa a ter crescido sem deixar de ser criança. Outras seis crianças se juntarão a ele. Juntos, os sete são nomeados Suprapátrias, título raro dado somente àqueles cuja missão seja considerada tão importante para o mundo infantil que seu resultado estaria acima de qualquer questão regional ou nacional. Mas essa busca não é tão simples. Há, de fato, um rei adulto? Ele pode ajudar Êisdur? É essa a trama da história.

De forma resumida, apresente- -nos os principais personagens que compõem a trama.

Helio Jaques – São sete as crianças que compõem o núcleo principal de personagens de “O Rei Adulto”: o caçador Êisdur Árland, o ladrão

O Rei Adulto é uma fábula sobre as dificuldades que envolvem a passagem da criança à vida adulta.”

Wáldron Gastrano, a contadora de histórias e herbalista Marsena Sterinax, o cavaleiro Harsínu Sterinax, o mago Áymar Resphel, o mascate trambiqueiro Ernesto Molicári e a tenente Ctara Bergrak. Suas idades vão de 6 a 13 anos. Seu grupo é capaz de uma diversidade de funções, tal como um grupo de RPG. Todos são crianças muito cativantes, mas acredito que os leitores provavelmente sentirão mais afeição por Wáldron, o ladrãozinho, que é o caçula do grupo, além de ser o mais arisco e desbocado.

Você mantém um blog onde divulga a história. Uma das postagens mais recentes menciona o personagem Fernã, que criou vários mapas para o príncipe de Guaipur. Fernã tem papel importante no seu livro?

Helio Jaques – O blog oreiadulto.blogspot.com distribui material adicional inspirado no mesmo mundo ficcional. Esse personagem, Fernã de Doiro, não é mencionado no livro. Ele é uma referência ao cartógrafo português Fernando Dourado, do século XVI, que criou um estilo de mapa que busquei reproduzir. Já Guaipur é um dos sete reinos infantis nos quais dividi o mundo das crianças. Cada um desses reinos é caracterizado por cultura própria e, em alguns casos, por uma variedade da língua portuguesa, desde uma arcaica, uma etimológica, uma brasileira, outra europeia, até a variante informal das classes pobres dos subúrbios de cidades brasileiras. Em certo sentido, os traços culturais de cada reino podem lembrar “paisagens” da infância.

Eu já estou encantada com a história. Qual a mensagem que deseja transmitir ao leitor por meio do enredo que compõe “O Rei Adulto”?

Helio Jaques – “O Rei Adulto” é uma obra sobre a infância, mas não exatamente para crianças. Escrevi-o tendo como alvo um público do começo da adolescência até os trinta anos, especialmente os que gostam de aventura ou joguem Role Playing Games. Eventualmente, outros leitores podem vir a se interessar pela história, incluindo crianças. Em meu livro, busco representar a infância aos olhos de quem já passou por ela, como se fosse um convite a divertir-se, relembrá-la, para

refletir sobre o que dela levamos à vida adulta e o que perdemos. Esta é a principal mensagem: por que crescer.

O enredo de “O Rei Adulto” está dividido em quantos volumes? De que forma o enredo se apresenta em cada volume?

Helio Jaques – A história foi originalmente escrita para compor um único volume. Todavia, ela é grande, em comparação a outras obras do gênero: são 499 laudas A4. Do ponto de vista editorial, sugeriram- -me dividi-la em dois volumes. No primeiro volume, Êisdur compõe seu grupo de amigos e procura pelo Rei Adulto nos reinos de Teres, Tamatich e Macebólia. Recebem ajuda de vários grupos de crianças e,

mais para o fim do livro, conhecem seu principal antagonista, o príncipe Soslaio, que usurpou o trono de Ístar com a ajuda de seu irmão mais velho. No segundo volume, o conflito entre os Suprapátrias e Soslaio se mistura com a constatação de que muitas crianças não sabem mais como brincar ou imaginar, e por isso usam uma droga mascável que as estimula a isso. Essa droga tem efeitos devastadores sobre o mundo delas. Ao fim do segundo volume, Êisdur e seus amigos descobrem onde vive o Rei Adulto e sobre o que significa crescer e amadurecer. foi lançado em formado ebook, em novembro de 2016. Em dezembro de 2017, esse volume deverá ser lançado numa nova edição independente, desta vez impressa, pela AZO Agência Literária. Tenho a expectativa de publicar ambos os volumes em uma edição comercial. Por causa disso, o segundo volume ainda vem sendo mantido como inédito. Certamente, se o interesse dos leitores for grande, avaliarei essa decisão e poderei lançá-lo inicialmente como ebook.

Onde podemos comprar o seu livro?

Helio Jaques – O livro pode ser adquirido no site da Amazon, para Kindle, Kindle Cloud Reader (para computadores) ou Kindle App

(para celulares e tablets). Além disso, as vinte primeiras páginas estão disponíveis na Amazon para degustação, bem como no Wattpad. Basta buscar na internet pelo nome “O Rei Adulto”. Além disso, o leitor interessado também poderá encontrar esse link buscando pelo livro no Facebook, Instagram ou no blog.

Quais as principais atividades literárias desenvolvidas pelo autor Helio Jaques?

Helio Jaques – Já escrevi muita poesia quando jovem. E alguns poucos contos. Mas no momento minha única obra de fôlego e cunho literário é “O Rei Adulto”. Tenho dois outros livros iniciados, mas paralisados, em processo de fermentação. Sou astrônomo e professor na UFRJ. Por necessidade profissional, metade da minha atenção acaba se voltando para livros acadêmicos, não literários; e é nestes que tenho trabalhado mais ultimamente. O projeto que está mais avançado é a tradução para o português, bem como atualização, de uma obra clássica da Astronomia, sobre nomes de estrelas, publicado no século XIX.

Pois bem, estamos chegando ao fim da entrevista. Muito bom conhecer melhor o escritor Helio Jaques. Agradecemos sua participação na Revista Divulga Escritor. Que mensagem você deixa para nossos leitores?

Helio Jaques – Acredito que há em “O Rei Adulto” algo para cada leitor, pois a infância é uma fase comum a todos nós. Mas certamente os leitores afeiçoados a histórias de aventura e fantasia, mapas, trocadilhos linguísticos, e aqueles que cresceram embalados pelos textos de Monteiro Lobato e Michael Ende, encontrarão uma história marcante, que tem todos os elementos para inspirar ao longo da vida e tornar-se inesquecível.

_________________ Divulga Escritor: Unindo Você ao Mundo através da Literatura. https://www.facebook.com/ DivulgaEscritor/ www.divulgaescritor.com

PARTICIPAÇÃO ESPECIAL

Nell Morato

LITERATURA COMO ARTE, OU APENAS… LIVROS?

Eu ainda fico perambulando por pensamentos utópicos para mudar o “mundo”. Como quando era criança e sonhava em fazer acontecer grandes transformações. E a vivência no dia a dia se encarrega de alterar os acontecimentos e nunca chegamos, nem perto, do que sonhamos na infância. Os sonhos vão se esfacelando e outros surgem no lugar, é a vida se adaptando às circunstâncias.

Desde que mergulhei na literatura, literalmente falando, estou alimentando sonhos. E sempre me pergunto: o que seria do escritor se ele não sonhasse? Não sei a resposta, mas acredito que murcharia como uma flor não regada. Além dos sonhos de enredos apaixonantes, personagens fortes e ousados, tenho sonhado com a mudança no cenário literário. Os meus personagens estão aguardando na quietude das minhas memórias. Às vezes, um ou outro rebela-se e quer amotinar- -se para ganhar minhas palavras. Então, dedico-lhe algumas páginas e consigo acalmar a ansiedade para se ver nascer da criação. E, assim, posso dedicar tempo e atenção à literatura brasileira.

Leio e observo o cenário literário através de jornais, revistas e a internet. E confesso que fico confusa, sem saber para que lado pender, como se estivesse numa encruzilhada. De um lado, temos os renomados escritores brasileiros, grandes editoras, feiras e encontros cultuados pelo público, intelectuais e amplamente divulgado pela imprensa… De outro lado, escritores que se agrupam na internet, que sonham em participar da “elite literária”; alguns, que estão satisfeitos com o que já possuem; outros, estão sempre reclamando, de que no Brasil não temos leitores, que as editoras não querem saber dos autores nacionais, que as gráficas cobram excessivamente para imprimir seus livros e por aí segue uma interminável lista de reclamações.

Também passa, diante de meus olhos, textos mal escritos, com absurdos erros ortográficos e a língua portuguesa ignorada. Na comemoração do Dia Nacional do Escritor, li algumas mensagens de autores parabenizando os seus colegas, e senti vergonha. Dos primários erros da nossa grafia. Não custa nada ler e reler várias vezes, conferir os termos num dicionário atualizado. No Concurso de Textos Anônimos, alguns jurados me pediram para revisar os textos, antes de diagramar a Coletânea. E aí eu pergunto: como são enviados textos para um concurso com erros ortográficos? Era só o concurso do FLAL… acredito que alguns pensaram isso. Da mesma forma, a situação constrangedora criada por uma autora que pretendia abandonar o festival, mas sua editora era uma das patrocina

doras. Se faz necessário o comprometimento com a literatura, com a língua portuguesa, com seus colegas, com a coisa pública. Nenhuma sociedade se mantém sem disciplina e regras, por menor que seja.

Temos as falsas notícias do mercado literário. Há de se comprovar a fonte antes de postar ou compartilhar nas redes sociais. Recentemente, foi publicado um artigo no jornal Folha de S. Paulo e amplamente divulgado nas redes sociais, de que as editoras estavam contratando consultores como “leitores sensíveis” para avaliar problemas de ordem preconceituosa nos textos a serem editados. Dizem que no Brasil, diferentemente dos EUA, isto não está ocorrendo. Porém, alguns autores já utilizam leitores de confiança, os ‘betas”, para avaliar seus escritos.

No feed do Facebook, uma pergunta: quais são os requisitos para ser um escritor? E fiquei acompanhando os comentários, que se apresentaram de forma variada, inclusive eu, usando uma citação de José Saramago: “Somos todos escritores. Só que uns escrevem e outros não!” Um comentário que chamou minha atenção: falava que o autor deveria escrever para seus leitores, o que eles quisessem, mais ou menos assim. Será mesmo? Escrever por encomenda… ou sobre o tema que está na moda? Escrever o que os leitores gostariam de ler. E como saber? Não será por isso que os leitores perderam o interesse? E aí teremos apenas livros, que serão lidos ou não, dependendo sempre da família ou dos amigos para consumir. Ou então, que serão disponibilizados para leitura gratuita ou venda a meros R$ 1,99 na Amazon. Livros e mais livros, apenas livros. E não é bom? Claro que sim. Nada mais do que isso.

E a literatura como arte? O talento criativo que emana do íntimo do escritor. Que arrebata levando- -nos a ler sem parar enquanto as páginas são devoradas uma a uma por olhos famintos de uma desconhecida emoção. Não é mais uma narrativa, é uma obra-prima. É pura criatividade livre, sem dever nada a ninguém. É a arte da palavra… ou são as palavras escritas com arte. Só assim, para surgir, de tempos em tempos, um best-seller.

Ou alguém acredita que no mundo globalizado da alta tecnologia, que praticamente se autoevolui incessantemente, os leitores continuarão com a preferência literária?

Sugeri no meu artigo da edição anterior da revista uma campanha de “esquecer” livros em locais públicos. Nada a ver com a campanha do Dia Nacional do Escritor, que é fantástica, mas dura apenas durante o dia 25 de julho. O que propus foi uma campanha a longo prazo, para conquistarmos leitores para o futuro. Não leitores para esse ou aquele título ou autor. Leitores para a literatura brasileira, com pais ensinando seus filhos e doravante leitores. Quantos autores participaram da campanha? Um, dois, dez. Não sei. Não estou computando se aconteceu, se ficou apenas na vontade, ou se “esqueceram” da minha sugestão. Eu não vou desistir. Sei que é um trabalho lento e os resultados serão ínfimos. E alguma ação solidária é fácil no Brasil?

Parabenizo a revista pelo seu aniversário, e a jornalista Shirley Cavalcante que nos apresenta: entrevistas, artigos e reportagens com conteúdo qualitativo de literatura luso-brasileira, promovendo autores e seus escritos com serviço altamente profissional. Feliz com a parceria agradecendo a confiança no meu trabalho. Desde que mergulhei na literatura, literalmente falando, estou alimentando sonhos. E sempre me pergunto: o que seria do escritor se ele não sonhasse?”

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