Cartilha a verdade sobre as drogas em baixa

Page 1

Verdades

e Mentiras sobre as

Drogas

1


2


Verdades

e Mentiras sobre as

Drogas


Apresentação Parece-nos desnecessário listar aqui os efeitos devastadores da droga na sociedade atual. No Brasil, o quadro tem se agravado significativamente nas últimas décadas, sobretudo em razão do aparecimento do crack, um subproduto da cocaína de baixo preço e fácil acesso. Atingindo desde crianças a indivíduos da terceira idade, o consumo de crack amplia a cadeia de violência doméstica e urbana, sendo o principal responsável pelos aumentos alarmantes desses índices. Essa realidade exige respostas urgentes da sociedade e do poder público, no sentido de prevenir, cuidar e reprimir o tráfico de drogas e conseqüente consumo. Sabemos que a melhor arma contra as drogas é e continuará sendo a prevenção. Na família, em forma de atenção, amor, diálogo e na sociedade, na forma de oferta de educação de boa qualidade, atividades culturais e esportivas, qualificação profissional e oportunidades de emprego. 4


Essa cartilha tem como objetivo estabelecer um diálogo sincero com essa problemática, sem recorrer a chavões e argumentos “lugar comum”. Entendemos que ações educativas e preventivas são eficazes na medida em que são internalizadas e discutidas de forma aberta com a sociedade. Essa é a nossa proposta! O uso habitual de drogas, definido no artigo 27 da lei 000000 como “toxicomania ou a intoxicação habitual, por substâncias entorpecentes” é considerado doença pela Lei brasileira, o que implica no direito a internação para tratamento por dependência química. Cabe a população exigir a garantia de seus direitos de cidadania, que neste caso significa vagas para internação dos dependentes químicos e assistência no processo de reintegração a sociedade. Nos últimos meses, registraram-se esforços do Governo Federal para enfrentamento aos problemas causados pelo uso de drogas, mais especificamente do crack. Esses esforços, no entanto, só terão os resultados esperados se a sociedade se envolver no processo, em todas as formas possíveis de cooperação e ação conjunta: família, escola, comunidade, poder público. Só assim será possível vencer esse inimigo que ameaça não só os usuários e suas famílias, mas a sociedade com um todo. 5


6


Amor, diálogo e compreensão: a melhor prevenção O amor, o diálogo a compreensão são as maiores armas para afastar a tentação das drogas. Converse com seus filhos, mostre interesse pelas suas conquistas e também por suas dificuldades. Um comercial veiculado nos anos 90 alertava: ame e cuide do seu filho, antes que um traficante o adote. Essa verdade não vale só em relação a crianças e adolescentes. Procure manter em seu lar, com seu parceiro e familiares, uma convivência baseada na confiança, no amor, onde cada membro tenha oportunidade expressar seus sentimentos e encontrar apoio para superar as dificuldades do dia a dia. Menos tempo dedicado a televisão e ao computador, mais atividades realizadas com os familiares, conversas, participação em brincadeiras são um ótimo começo. 7


Pesquisas apontam que a motivação principal para consumir drogas vem de algum tipo de desajuste interior, de infelicidade, de não se sentir amado e não ter com quem desabafar. Quanto mais uma criança, um adolescente ou até mesmo um adulto se sentir integrado ao grupo familiar, amado, respeitado, menos chances terá de se sentir atraído para consumir drogas. A escola funciona como um espaço importante para a prevenção do uso de drogas, através de uma educação integral e motivadora. O envolvimento em atividades esportivas, artísticas e culturais é um meio eficaz de manter crianças e jovens longe das drogas.

8


O grande “barato” sai caro Muitas campanhas educativas cometem o erro de subestimar o apelo inicial das drogas, o que é uma mentira. As drogas oferecem um alívio imediato para os problemas, uma possibilidade de sair da realidade muitas vezes não desejada, de se sentir forte, confiante. É esse seu grande trunfo, seu grande apelo inicial. Para vencer um inimigo, é preciso combater o que ele tem de mais atrativo. É preciso reforçar que esse grande barato, de se sentir alegre, confiante, determinado vai durar cada vez menos e exigir cada vez mais. Fazendo uma comparação, é como uma isca para o peixe, um pedaço de queijo em uma ratoeira para o rato. Mal se começa a saborear, já caímos na armadilha. 9


10


A liberdade que vira escravidão Uma das conquistas que o homem mais preza é a liberdade. Liberdade de fazer escolhas na vida, de arcar com os próprios erros e acertos, de ser o que se quer ser. Liberdade para cuja conquista muitos deram suas vidas, em tantas lutas ao longo da história da humanidade. As drogas dão uma sensação de liberdade... Verdade! Mas fica só na sensação. Ao contrário, o uso de drogas é a caminho mais curto para se perder a liberdade. Uma vez dominado pelo vício, o usuário vai passar a ser escravo do traficante. Já pensou na loucura? Se tornar escravo por sua própria escolha? Uma vez escolhido esse caminho, é para ele que você, usuário, irá entregar o dinheiro do seu salário, da sua mesada, do lanche. Sustentar o estilo de vida do traficante será sua prioridade: o luxo de suas mulheres, os carrões, as festas, a piscina de hidromassagem. E quando não houver mais dinheiro porque você foi demitido, seu negócio faliu ou 11


sua mesada foi cortada você terá que arregaçar as mangas e encarar a batalha: isso inclui desfazer-se de seus bens, trair a confiança das pessoas que você mais gosta e por risco em sua vida, sua liberdade, roubando, se prostituindo, assaltando e até matando. Comprar uma roupa maneira, tomar um sorvete com a namorada, trazer um presentinho para a esposa e filhos não é mais prioridade. Nem tampouco se alimentar, morar, se relacionar com os amigos, parceiro, estudar, tratar da saúde. Afinal, você agora é escravo e sua vida consiste em suprir as necessidades de seu senhor: o traficante! E se não conseguir cumprir esses compromissos, provavelmente será assasinado, pois os fornecedores de drogas não admitem devedores.

12


A cadeia das drogas A droga, como todo produto, depende de uma cadeia que começa com a produção, passa pela distribuição e termina nos pontos de venda. Essa cadeia, igualmente as demais, movimenta produtores, comerciantes e vendedores. Muitas vezes se alega que a situação econômica atrai as pessoas para trabalhar no mundo das drogas. É verdade que esses “trabalhadores” das drogas recebem bem mais do que um trabalhador do mercado legal. Mas esse mais é muito pouco, considerando que esse é um trabalho escravo, com risco permanente de vida e condições degradantes. Um “soldado do tráfico” pode receber 13


ordens, e terá que cumpri-las, para eliminar um amigo, um parente. Ele próprio poderá ser apenado com a morte, a qualquer momento, por qualquer deslize. Vale ressaltar que toda essa cadeia é alimentada pelos consumidores. É bem simples: se não houvesse consumidores não haveria tráfico. Além de alimentar o tráfico, o consumo de drogas alimenta também outros tipos de crimes, principalmente assaltos a mão armada, que muitas vezes resultam em morte. Alimenta também a violência familiar, provocada pela necessidade cada vez maior de conseguir dinheiro para sustentar o vício. Um consumidor de droga, seus amigos e familiares, podem ser assaltados e mortos com a arma que ele próprio ajudou a comprar.

14


Sinais de alerta Um consumidor de droga emite sinais facilmente reconhecíveis: pouca concentração, baixa de rendimento na escola ou trabalho, confronto permanente com as regras em casa e na convivência social, isolamento, letargia, mudança brusca de humor com tendência a agressividade, fala mais lenta e dificuldade de compreender, descuido com a aparência, maior necessidade de dinheiro. Os sinais corporais mais comuns são pupilas contraídas ou dilatadas, sonolência exagerada após o efeito das drogas, tremor nas mãos, maior sensibilidade a luz. É comum os familiares quererem não enxergar esses sinais, muitas vezes preferindo ignorá-los, o que é um erro grave. Quanto mais cedo o problema for abordado, mais chance de sucesso terá a recuperação.

15


Um “mito” comum sobre drogas é de que existem drogas leves e drogas pesadas, sendo que as mais leves, como por exemplo, a maconha, podem ser usadas sem maiores danos a vida e a saúde do indivíduo. É verdade que substâncias tóxicas diferentes têm efeitos diferentes no organismo, mas, a droga considerada leve acaba servindo como porta de entrada para as drogas pesadas. Outro mito é o do usuário de drogas leves sob controle, que não se vicia. O que existem são diferentes tempos para se instalar a dependência química, variando de indivíduo para indivíduo. Portanto, é uma mentira acreditar que se pode conviver com a droga sem prejuízo para a saúde e para a vida como um todo.

16


O vício é uma doença, não uma opção Uma frase corriqueira entre os consumidores iniciantes é: peguei um pouco para experimentar, largo quando quiser. Mentira! Uma vez ingerida a primeira dose, o organismo necessitará de cada vez mais droga, em intervalos de tempo cada vez menores. A sensação de euforia, de segurança, diminuirá à medida que avança o consumo. Resumindo: será preciso cada vez mais droga para ter sensações agradáveis que duram cada vez menos. Por outro lado, muitos familiares, empregadores, ou pessoas que se relacionam com o viciado tendem a achar que este “pega droga” porque quer, que não para por falta de vergonha. Errado! A dependência química é reconhecida pela lei brasileira como doença, necessitando, portanto, de tratamento médico. Não é uma escolha do viciado continuar usando drogas. É dever de quem está por perto orientar e apoiar o usuário no sentido deste se conscientizar da necessidade de tratamento.

17


18


Como agir para estimular a internação eletiva Uma postura clara por parte dos familiares e demais pessoas que convivem com o usuário é fundamental. É difícil, principalmente para os familiares mais próximos, assumir determinadas posturas, mas é preciso ter em mente que elas são fundamentais e necessárias. É preciso deixar claro para o usuário que ele só terá qualquer tipo de apoio se quiser se tratar. Cortar qualquer tipo de auxílio financeiro é fundamental, assim como agir com firmeza contra eventuais atitudes abusivas que o usuário venha a ter. Impedir o acesso a bens de valor, que possam ser revertidos em dinheiro também se faz necessário. Ceder, em qualquer circunstância, é demonstrar sinal de fraqueza, o que com certeza será explorado pelo dependente químico. É preciso estar atento e vigilante, pois o usuário lançará mão de artifícios que vão de simulações a chantagem emocional para conseguir seu intento: dinheiro para alimentar o vício! A internação eletiva é a mais desejável, pois o processo de recuperação terá muito mais chances de sucesso se contar com a cooperação do paciente. 19


Em quais casos a internação forçada é indicada Quando falham as tentativas as tentativas de conscientização para uma internação eletiva, o único recurso é a internação compulsória, isto é, contra a vontade do usuário. Esse tipo de internação tem sido alvo de discussões de natureza jurídica. O argumento maior é que em razão da dependência às drogas, os usuários perdem o discernimento e não mais conseguem decidir o rumo de sua vida, sendo dever do Estado interferir na vida daquele cidadão e determinar sua internação para tratamento, o poder público tem o dever de salvar a vida daquele cidadão e devolver-lhe a dignidade, sua cidadania. O Decreto-Lei 891, que regulamenta a fiscalização de entorpecentes, reconhece que o usuário de drogas é doente, proibindo seu tratamento em domicílio. Também cria e regulamenta a internação obrigatória para dependentes químicos, quando provada a necessidade de tratamento adequado ao enfermo ou quando for conveniente à ordem pública. 20


A quem se pode recorrer Além da rede de saúde pública, existem instituições particulares e instituições filantrópicas que mantêm centros de recuperação, sobretudo nas capitais e grandes cidades. A família do dependente químico também precisa de apoio e não raro de acompanhamento psicológico. Instituições de saúde coletiva e de assistência social prestam esse tipo de atendimento. Grupos de apoio formado por pessoas que compartilham os mesmos problemas, sejam ex-usuários ou familiares, são um ótimo espaço para se fortalecer e enfrentar os problemas causados pelo consumo de drogas. O Ministério da Justiça disponibiliza no endereço www. obid.senad.gov.br informações sobre entidades públicas e privadas que atuam na prevenção, tratamento e reintegração de dependentes químicos além de instituições de pesquisas científicas relacionadas às drogas.

21


22


Caminho de volta: a reintegração à sociedade No caminho de volta é bom ser sempre cuidadoso, observando com cuidado onde se pisa. O ideal é se integrar em atividades esportivas, culturais, de assistência social e comunitária. Manter ocupado, com a mente ativa, é fundamental. Frequentar grupos de apoio, formados por ex-dependentes é uma força para se manter longe do vício. O ex-dependente vai precisar de todo apoio da família, pois a ameaça de uma recaída sempre o rondará. Em famílias com fragilidade econômica, o estado precisa oferecer opções de inserção na economia, do contrário a recuperação será dificultada.

23


Drogas mais consumidas no Brasil Crack A droga é uma mistura de cloridrato de cocaína a bicarbonato de sódio ou amônia com água destilada. Alguns “fabricantes”, para aumentar o lucro, acrescentam à essa mistura materiais como gesso, pó de giz. Devido ao baixo custo, o consumo desta droga tem se alastrado no Brasil, o nos inclui entre os cinco maiores países afetados. Os efeitos do crack são devastadores: chegam ao cérebro em apenas 15 segundos e uma única dose pode desencadear o processo de dependência.

Cocaína É obtida a partir da folha de um arbusto chamado coca, comum na região da cordilheira dos Andes. O produto é obtido a partir da pasta das folhas utilizando como solventes como ácido sulfúrico, querosene e outros. Assim como o crack, a cocaína pode estar misturada a bicarbonato, pó de gesso e outras substâncias, o que aumenta ainda mais seus efeitos negativos sobre o organismo. É considerada uma droga de elite, por seu valor elevado. Os consumidores de cocaína, em maioria oriundos da classe média e alta, estão entre os maiores “financiadores” do tráfico e, por conseguinte da violência urbana.

24


Maconha É produzida a partir das folhas e flores da planta cannabis sativa: secas, picadas e prensadas. Consumida na forma de cigarros, a maconha é considerada droga leve, e quase sempre serve como “porta de entrada” para drogas mais pesadas. Existem polêmicas em torno da maconha, com movimentos sociais que reivindicam sua legalização e seu uso terapêutico. Os efeitos dessa dependem da quantidade consumida. Doses baixas provocam euforia (sensação de bem-estar), relaxamento e sonolência. O uso contínuo, porém, prejudica a memória e o desempenho profissional. Os principais sintomas físicos são desorientação, perda de equilíbrio e força muscular, tontura, delírios, alucinações, o que pode evoluir para um quadro de psicose tóxica.

Êxtase É um derivado sintético da anfetamina, classificado tanto como estimulante e alucinógeno, semelhante à cocaína e anfetaminas. Apresentado na forma de capsulas é consumido prioritariamente por jovens e adolescentes, principalmente em festas e baladas. O uso da droga, dependendo da dosagem, provoca alucinações, desmaios, convulsões, arritmia, taquicardia, palpitação, hipertensão arterial seguida de hipotensão, hipertemia (aumento da temperatura acima de 42°C), coagulação do sangue, insuficiência renal aguda, intoxicação do fígado, quadros que podem levar à morte do usuário. Além desses danos à saúde, o êxtase cria um quadro propício ao sexo sem prevenção, o que implica em risco de contração de DST´s, gravidez indesejada, de acidentes de trânsito e violência doméstica.

25


Legislação que trata especificamente do tratamento da dependência química “Artigo 27. A toxicomania ou a intoxicação habitual, por substâncias entorpecentes, é considerada doença de notificação compulsória, em caráter reservado, à autoridade sanitária local.” “Art. 28. Não é permitido o tratamento de toxicômanos em domicílio.” “Art. 29. Os toxicômanos ou os intoxicados habituais, por entorpecentes, por inebriantes em geral ou bebidas alcoólicas, são passíveis de internação obrigatória ou facultativa por tempo determinado ou não. §1º. A internação obrigatória se dará, nos casos de toxicomania por entorpecentes ou nos outros casos, quando provada à necessidade de tratamento adequado ao enfermo, ou for conveniente à ordem pública. Essa internação se verificará mediante representação da autoridade policial ou a requerimento do Ministério Público, só se tornando efetiva após decisão judicial.” Quando se tratar de usuário menor de idade, a internação deverá ser requerida judicialmente pelo Ministério Público, como medida protetiva à criança ou adolescente, sempre utilizando como base legal o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90).

Fonte: http://www.conjur.com.br/2011-ago-05/internacao-compulsoria-dependentes-quimicos-constitucional

26


27


28


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.