Timbres que choram Não há quem possa resistir Quando o chorinho brasileiro faz sentir, Ainda mais de cavaquinho, Com um pandeiro e um violão na marcação. Trecho da letra de "Brasileirinho", música de Waldir Azevedo e letra de Pereira Costa
Surgido na segunda metade do século XIX, no Rio de Janeiro, entre polcas, schottisches, valsas, batuques e lundus, o choro é um gênero musical popular tipicamente brasileiro, trazendo em sua gênese uma mescla de influências de ritmos europeus e africanos que formavam o cenário urbano carioca deste período. A o longo de sua história, passou por um contínuo processo de assimilação de novos sotaques e da incorporação e diálogo com diversos outros gêneros musicais, como o samba, o frevo, o maxixe e o jazz, entre outros. Entre os pioneiros do gênero encontramos nomes fundamentais para a história da música popular brasileira como Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth e Joaquim Callado e em determinados momentos, músicas como Carinhoso, de Pixinguinha, Brasileirinho, de Waldir Azevedo, ou Tico-tico no fubá, de Zequinha de Abreu,
viveram períodos de grande sucesso de público: quem já não se pegou assoviando ou cantarolando trechos destas músicas? Talvez por conta disso tudo, mesmo em se tratando de um estilo musical bastante sofisticado e muitas vezes virtuoso, fazendo uso do improviso em seu processo de criação, o choro possui a característica de soar familiar e estabelecer uma conexão imediata com o público. Assim, no intuito de promover um mergulho neste universo, com o projeto "De onde vem esse choro? ", o Sesc Araraquara apresenta cinco shows com músicos que se expressam a partir de diferentes instrumentos, interpretando cada qual à sua maneira as melodias que tanto dialogam conosco. Alguns dos convidados resgatam a tradição em sua sonoridade e, outros, por sua vez, apresentam trabalhos que transitam por outros gêneros musicais, mas que têm, no choro, uma fonte de inspiração e diálogo constantes. São timbres que choram há mais de um século e ainda hoje traduzem uma parcela do imenso universo da cultura brasileira.
O Regional de choro A o longo da história do choro, foi se estruturando uma combinação de instrumentos que se tornou característica e que até hoje acompanha os chorões: os conjuntos regionais. Neles, a percussão oferece a base rítmica, que é complementada pelo cavaquinho, que por sua vez também elabora a base harmônica. O violão, além de complementar o conteúdo harmônico, apresenta, junto a um instrumento melódico, os contrapontos que dialogam constantemente com o ritmo, a harmonia e a melodia. Está constituída, assim, a trama que sustenta e "veste" as melodias dos chorões. Atualmente, em função de todo diálogo musical que, ao longo do tempo, foi compondo a música brasileira, a configuração destes grupos por vezes apresenta formações diferenciadas e proporciona inúmeras possibilidades de interpretação, transitando entre a tradição e a vanguarda, influenciando e sendo influenciado por outros gêneros e estilos musicais.
" A partir do surgimento das primeiras gravações de solo de cavaquinho c o m Nelson Alves, Garoto e principalmente c o m o sucesso de Waldir Azevedo, o cavaquinho passou a ter u m papel duplo podendo solar ou acompanhar ou ainda c o m o é a prática mais moderna, não separar essas funções, acompanhar safando e solar acompanhando." Henrique Cazes*
" ... embora o instrumento mais utilizado seja o pandeiro, que é de origem árabe, trazido pelos portugueses, toda a questão rítmica, polirrítmica, existente no choro é tipicamente africana." Beto Cazes*
"... o violão é u m instrumento que faz os complementos harmônicos, contraponto e de ritmo também. (. ..) Acho que é muito difícil pensar na história do choro s e m pensar no violão, (. ..) ele consegue trazer inflexões rítmicas pro choro que, dificilmente, outros instrumentos conseguem." João Camarero*
*músicos que se apresentam no espetáculo "Jacob do Bandolim 100 anos - Sentimento e Balanço"
Espetáculo de lançamento do álbum do Selo Sesc que celebra o legado centenário do bandolinista Jacob do Bandolim, eternizado como um dos maiores instrumentistas da história da música popular brasileira e que construiu um patrimônio em forma de composições e gravações históricas. Joel Nascimento (bandolim) Fabio Péron (bandolim) Henrique Cazes (cavaquinho) Beto Cazes (percussão) João Camarero (violão de 7 cordas) Marcos Nimericheter (acordeom)
"A minha opinião é que o bandolim, através de Jacob, introduziu no choro a malícia, brejeirice, a bossa e o coração." Joel Nascimento
" C o m u m par d e cordas a mais, o bandolim de 10 cordas extensão melódica, além de u m a tessitura mais grave,
ganha mais
o que amplia muito as possibilidades de execução das melodias d o choro. A l é m disso, talvez o instrumento esteja ganhando nova função, mais harmônica, u m a vez que c o m o quinto par seja possível destrinchar mais os acordes, caminhos de baixo e todo o resto." Fábio Péron
Choro de Casa é o encontro de duas escolas do choro: Silvério Pontes, Daniela Spielmann e Netinho, com linguagens, vivências e referências cariocas, se unem aos araraquarenses Everton Rodrigo e Fabiano Marchesini e a experiência deles com o choro do interior paulista, e apresentam um repertório com releituras das obras de Pixinguinha, Jacob do Bandolim, K-Ximbinho, Zé Menezes, além do trabalho autoral de Silvério e Daniela. Silvério Pontes (trompete) Daniela Spielmann (saxofone) Fabiano Marchesini (violão 7 cordas) Éverton Rodrigo (cavaquinho) Netinho (percussão)
"(. ..) o trompete sempre foi usado no choro, era tocado nas bandas, nos saraus e nas ruas, ainda não existia o rádio. Instrumentos c o m o trompete, bombardino e trombone sempre tiveram destaque por ter muita projeção. Vários compositores também eram trompetistas c o m o Casimiro, Anacleto de Medeiros e Bonfiglio de Oliveira." Silvério Pontes
"O saxofone,
por ter mais volume do que a flauta e o clarinete, (. ..) traz u m pouco da sonoridade da gafieira."
Com a influência de Dominguinhos, Luiz Gonzaga, Egberto Gismonti, Jacob do Bandolim, entre outros, o violinista mistura ritmos brasileiros, africanos e o sentido de improvisação do jazz. Sua técnica leva ao instrumento o resfolego da sanfona, o ronco da rabeca e as belas melodias do choro tradicional e moderno. Ricardo Herz (violino) Gian Correa (violão 7 cordas) Henrique Araujo (cavaquinho e bandolim) Rafael Toledo (percussão)
" ... meu violino traz pro choro um lado da música cigana e também da música de rabeca, do forró
(...)gosto muito da improvisação típica do choro, que vem muito do samba, do maxixe, e é baseada muito na melodia. Dentro e fora do choro, uso muito os padrões rítmicos brasileiros pra improvisar." Ricardo Herz
Sanfona, acordeom ou gaita são diferentes nomes para o mesmo instrumento, dependendo da região do Brasil. Esse instrumento está intimamente ligado à alma da música brasileira, assim como o choro. Neste show, Toninho Ferragutti apresenta o choro composto e pensado para acordeon a partir de composições originadas no instrumento. São obras dos mestres Sivuca, Oswaldinho do Acordeom, Dominguinhos, entre outros, além do seu repertório autoral. Toninho Ferragutti (acordeom) Paulo Braga (piano) Thiago Alves (contrabaixo) Cleber Almeida (bateria)
"... sou filho de saxofonista, Pedro Ferragutti. M e u pai sempre compôs choro. Em casa ele compunha choros pros filhos e valsas pras filhas. Então o choro é uma marca fundamental na música
que faço, na maneira de pensar, na maneira de compor o m e u pensamento melódico. Eu devo tudo ao choro." Toninho Ferragutti
Considerado um dos mais representativos pianistas brasileiros da atualidade, Hércules Gomes sobe ao palco para apresentar um repertório composto por choros com arranjos que carregam fortes influências de ritmos brasileiros, do jazz e da música erudita. Uma homenagem a grandes compositores brasileiros como Jacob do Bandolim, Radamés Gnattali, Ernesto Nazareth, Pixinguinha, Chiquinha Gonzaga, Anacleto de Medeiros, Dominguinhos e Laércio de Freitas. Hércules Gomes (piano)
"Gosto muito de trazer o choro pro piano de u m a forma orquestral, digamos; trazer o regional pro piano. Porque o piano a gente tem essa possibilidade de imitar todos os instrumentos. Qualquer instrumento ou todos os instrumentos ao m e s m o tempo, devido à g a m a de possibilidades que a gente tem c o m essas 88 teclas." Hércules Gomes
De 9/11 a 7/12/2018
Sextas-feiras Garimpo I Grรกtis
Sextas-feiras 1 20h
9/11
Jacob d o Bandolim 100 anos Sentimento e Balanço
16/11
Choro da Casa
23/11
Ricardo Herz e o N o v o Choro Paulista
30/11
Toninho Ferragutti
7/12
HĂŠrcules Gomes
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