Tabloide "São Paulo não é uma cidade"

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19.AGO.2017 A 28.JAN.2018


CÁSSIO VASCONCELLOS

(São Paulo, SP, 1965) SÃO PAULO 01 — SÉRIE AÉREAS 33 × 100 cm Acervo Cássio Vasconcellos/ Fotospot

cidade evasiva


São Paulo de Piratininga foi a primeira vila colonial instalada no interior do país. Resultado da interação entre portugueses e nativos, sua fundação remonta a 1554. Trata-se da primeira implantação de um núcleo colonial para além da costa, adentrando o vasto território originalmente povoado por populações indígenas. Deslocada dos centros de gravidade da colônia — situados no litoral —, tal vila correspondia a um lugarejo ao mesmo tempo pobre e desbravador. Era menos um lugar para se viver do que uma base estratégica, um entreposto. Nesse polo avançado do empreendimento colonial é inaugurada a atividade dos bandeirantes. Brancos e mamelucos, eles penetravam no interior do país imbuídos de propósitos extrativistas e expansionistas,

ocupando-se, sobretudo, da captura e da escravização de índios, da descoberta de minerais preciosos e da expansão dos limites territoriais brasileiros. Essa vocação itinerante e exploradora não nos abandonou. Ao contrário, acabou por marcar o controverso perfil de uma cidade que ainda presta homenagem ao bandeirantismo. Lastreada pela natureza ambulante e ambiciosa das bandeiras, a São Paulo das décadas recentes padece de evasões em seu próprio território. Emblema disso são os constantes deslocamentos do seu centro financeiro. Resultantes do fluxo de capitais, eles estão atrelados a iniciativas imobiliárias que, para se fazerem rentáveis, provocam a migração de toda uma zona nevrálgica da cidade, reimplantando-a em diferentes regiões. A partir do final dos anos

1960, o Centro e suas funções vão sendo transplantados, incialmente, para a avenida Paulista e, em seguida, para as avenidas Berrini e Faria Lima. Desde então, o seu território sofre um tipo de esvaziamento. Contudo, numa megalópole não há lugar para o vazio. Que dirá em seu centro! Esse falso vazio, por sua vez, abre espaço para outros grupos, outros usos, outros códigos. Ao se instalar nesse núcleo efervescente da cidade, cabe ao Sesc 24 de Maio se deixar contagiar pelas dinâmicas sociais e pelas práticas culturais emergidas no vácuo deixado pela fuga do capital financeiro. São Paulo não é uma cidade, sua exposição inaugural, fornece um caleidoscópio propício a esse exercício de afetação. DANILO SANTOS DE MIRANDA DIRETOR REGIONAL DO SESC SÃO PAULO


COMPLETAR SANGRIA [SUPERIOR, INFERIOR, ESQUERDA]


INVENÇÕES DO CENTRO A mostra organiza-se como um almanaque sobre o centro de São Paulo. Os almanaques modernos ganharam o sentido de variedade, sem uma lógica científica nem história que articule seus temas. Reúnem fatos diversos, sendo quase sempre pensados para o público em geral, e não para os especialistas. Sem cronologia, hierarquização nem uma agenda sistematizada, aos saltos e por descobertas, busca-se, com leveza e pequenos focos, ressaltar alguns acontecimentos, entre tantos outros possíveis. São as ocorrências (“invenções”) no centro urbano ou novos modos (“invenções”) de vê-lo. A lógica da centralidade urbanística reconfigura-se na geografia humana, como a de um Milton Santos, que propõe outra abordagem sobre o território, libertando-nos do binômio centro/periferia. O visitante flana no tempo e no espaço; é convidado a fazer múltiplos trajetos entre fatos históricos e culturais, lugares de fala e pontos de vista que inventaram o centro de São Paulo e que consolidaram a região como o coração simbólico de um dos maiores conglomerados urbanos do planeta. Como um emaranhado de fluxos com vetores centrípetos e centrífugos, a Paulistânia se revela como um dos centros internacionais mais complexos pelos idiomas em diálogo e pela abundância de culturas em convívio. Ser sempre diferente de si mesma, através

das maneiras como se configura como cidade, parece ser o devir da urbanidade que Mário de Andrade batizou de Pauliceia Desvairada. Se São Paulo não for uma cidade, o que seria então? Vilém Flusser, que aqui viveu 32 anos, afirmou em 1988 que São Paulo não se enquadrava na categoria de cidades. Para ele (segundo Barbara Freitag-Rouanet), São Paulo já não apresentava a forma de vida urbana “civilizada” nos termos da cidade moderna em sua origem medieval, que articulava três espaços necessários: o privado (a casa), o político (a praça pública) e o cultural (o templo). Esses três espaços, segundo Flusser, configuram a vida urbana, a vida civilizada. O desenvolvimento econômico de São Paulo trouxe um enorme poder político dentro e fora do país, mas também desequilíbrio, tensões e correrias de uma “vida inautêntica”. O texto de Flusser é de 1988, e desde então muito mudou. Ser uma cidade ou cidade alguma e ainda muitas mais é o que São Paulo nos ensina cotidianamente como uma civilização própria: ao reunir distintas vozes nesta mostra, lugar em que o aqui e o agora se encontram para inaugurarmos um novo espaço, em busca de outro tempo, é possível escutar a polifonia como verdadeiro patrimônio histórico, artístico e urbanístico paulistano. PAULO HERKENHOFF E LENO VERAS CURADORES

MAPPA DA CAPITAL DA P.CIA DE S. PAULO

seos Edifícios publicos, Hoteis, Linhas ferreas, Igrejas Bonds Passeios, etc. publicado por Fr.do de ALBUQUERQUE e JULES MARTIN 1877 71,5 × 52,5 cm Arquivo Histórico Municipal


página da esquerda

ARQUIVO HISTÓRICO MUNICIPAL PLANTA DA CIDADE DE S. PAULO

Situada em 23°,, 33’,, 30” de Latitude Sul; e em 331°,, 24”,, 30” de Longitude pelo Meridiano da Ilha do Ferro: Var. da Agulha 7,, 15”,, N& 1810 59,5 × 64,5 cm Arquivo Histórico Municipal PLANTA DA IMPERIAL CIDADE DE SÃO PAULO

Levantada em 1810 pelo Capitão de Engenheiros Rufino J.o Felizardo e Costa e copiada em 1841 com todas as alterações. — Lat. Sul’. 23º, 33” 30” Long. Pelo Meridiano da Ilha do Ferro 331º 24’ 30” 1841 43,4 × 54,2 cm Arquivo Histórico Municipal

página da direita CARTA DA CAPITAL DE SÃO PAULO

O Exmo Snr Barão de Caxias mandou Executar pelo Engenheiro da Columna — José Jacques da Costa Ourique Fortificador da Capital 1842 64,8 × 87,7 cm Arquivo Histórico Municipal

PLANTA DA CIDADE DE SÃO PAULO POR C. A. BRESSER

1841 87 × 75,4 cm Arquivo Histórico Municipal

MAPPA DA IMPERIAL CIDADE DE SÃO PAULO

Abaixo do título: Levantada particularmente para as meus servisas [sic] geodesicos e hydraulicos / a Carlos Rath 1855 63 × 88 cm Arquivo Histórico Municipal



MILITÃO AUGUSTO DE AZEVEDO

(Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1837 — São Paulo, São Paulo, 1905) Reprodução fotográfica Coleção Ruy Souza e Silva

CONVENTO DO PÁTIO DO COLÉGIO, 1862

PALÁCIO, SECRETARIA DO GOVERNO E IGREJA DO COLÉGIO, 1862

LADEIRA DO PALÁCIO, 1862

RUA JOÃO ALFREDO (ANTIGA LADEIRA DO PALÁCIO), 1887

CIDADE DE SÃO PAULO (VISTA TIRADA DO PAREDÃO DE PIQUES), 1868

PAREDÃO DE PIQUES, LADEIRAS DA CONSOLAÇÃO E DA RUA DA PALHA, 1862


PANORAMA

BRAZ — PANORAMA

PÁTIO DO COLÉGIO

ESCOLA CAETANO DE CAMPOS

PRAÇA COM EDIFÍCIO MARTINELLI AO FUNDO

VIADUTO DO CHÁ

FELISBERTO RANZINI

(San Benedetto Po, Itália, 1881 — São Paulo, SP, 1976) sem data Reprodução fotográfica Coleção Ruy Souza e Silva VALE DO ANHANGABAÚ


VICENTE DE MELLO

página da esquerda

FÉLIX-ÉMILE TAUNAY

(Montmorency, França, 1795 — Rio de Janeiro, RJ, 1881) DESCOBERTA DAS ÁGUAS TERMAIS DE PIRATININGA circa 1841 óleo sobre tela 177,5 × 135 cm Coleção Museu Nacional de Belas Artes/Ibram/MinC Fotografia Vicente de Mello CÂNDIDO PORTINARI

(Brodósqui, SP, 1903 — Rio de Janeiro, RJ, 1962) COLONA

1935 têmpera sobre tela 97 × 130 cm Coleção Mário de Andrade da Coleção de Artes Visuais do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo — IEB-USP OSCAR PEREIRA DA SILVA

(São Fidélis, RJ, 1867 — São Paulo, SP, 1939) RETRATO DE RAMOS DE AZEVEDO 1929 Óleo sobre tela 57 × 80 cm Acervo Pinacoteca do Estado de São Paulo Doação Luiz Carlos Drigo, Paschoal C. Grieco e outros, 1998 Fotografia Everton Ballardin página da direita

ALFREDO VOLPI

(Lucca, Itália, 1896 — São Paulo, SP, 1988) O ANJO

s.d. Têmpera sobre tela 76,4 X 60,4 cm Coleção Ladi Biezus Fotografia Everton Ballardin RAMOS DE AZEVEDO

(São Paulo, SP, 1851 — Guarujá, SP, 1928) DESENHO DO CORTE DA PLANTA ORIGINAL DO TEATRO MUNICIPAL DE SÃO PAULO

1911 Reprodução Acervo FAU-USP

AGOSTINHO BATISTA DE FREITAS

(Paulínia, SP, 1927 — São Paulo, SP, 1997) FACULDADE DE DIREITO — LARGO SÃO FRANCISCO 1973 Óleo sobre tela 48 × 38 cm Coleção Museu de Arte do Rio — MAR /Secretaria Municipal de Cultura da Cidade do Rio de Janeiro Fotografia Everton Ballardin



CHICO ALBUQUERQUE

(Fortaleza, CE , 1917 — Fortaleza, CE , 2000) VISTA PARA O VIADUTO DO CHÁ E PARA O EDIFÍCIO CONDE PRATES EM CONSTRUÇÃO c . 1954 Fotografia em preto e branco Acervo Instituto Moreira Salles CARTAZ DE DIVULGAÇÃO DO FILME SÃO PAULO, A SYMPHONIA DA METRÓPOLE

1929 Reprodução Acervo Cinemateca Brasileira/ SAv/MinC THOMAZ FARKAS

(Budapeste, Hungria, 1924 — São Paulo, SP, 2011) CONTRALUZ DOS EDIFÍCIOS MARTINELLI E ALTINO ARANTES — SÃO PAULO 1945 Fotografia em preto e branco Acervo Instituto Moreira Salles


MARCEL GAUTHEROT

(Paris, França, 1910 — Rio de Janeiro, RJ, 1996) EDIFÍCIO COPAN 1967 Fotografia Acervo Instituto Moreira Salles CHICO ALBUQUERQUE

(Fortaleza, CE, 1917 — Fortaleza, CE, 2000) LINA BO BARDI NA CASA DE VIDRO 1952 Fotografia em preto e branco Acervo Instituto Moreira Salles MARCEL GAUTHEROT

(Paris, França, 1910 — Rio de Janeiro, RJ, 1996) EDIFÍCIO COPAN 1967 Fotografia Acervo Instituto Moreira Salles


hortus deliciarum São Paulo, como tantas cidades, devastou a mata nativa e expulsou os habitantes originais da terra. O urbanismo da região aludia aos jardins de Paris, o modelo para as elites da belle époque. Jardins atuam como alvéolos, dão fôlego ao centro para os menos apressados, que buscam pontos de repouso e encontro. O imigrante Massao Okinaka trouxe erudição ao horto paulistano. O sumi-ê e o shodo (caligrafia) transpõem a norma culta da estética do Japão para o Brasil como uma flora nipônica cultivada com pigmentos vegetais, animais e minerais. A arte expõe a nostalgia de natureza no Hortus deliciarum paulistano e inventa uma natureza imaginária arraigada em mitos.

A vegetação invade o ambiente doméstico em retomada do território perdido para a vida urbana. Os móveis férteis de Rodrigo Bueno superam decadência (a entropia do design) como jardins suspensos. O canteiro de plantas espontâneas cumpre o desígnio da vida. Essa arte pede rega e luz. Os objetos de Camille Kachani viram ambiente fértil, em que florescem espécies da resistência da flora de uma natureza avassaladora. Frutos estranhos abundam o pomar em São Paulo. São artistas-agricultores da fantasia. Erika Verzutti expõe uma morfologia das jacas como razão matemática intrínseca à modernidade. Com a mutabilidade

das frutas de plástico surgem seres artificiais, metade pepino, metade centopeia, na colheita de Caito. Nosso olhar troca o contato intimista com a joaninha de Mauro Piva que passeia em meu jardim. O pequeno inseto é o que nos vê na selva paulistana. A flora e a fauna do lugar resistem em heterogonias com os pássaros-borboleta na pseudociência de Walmor Correa e com as pinturas de botânica de Sergio Allevato, com o enxerto da orquídea Scuticaria itirapinensis, espécie típica de São Paulo, e com personagens dos quadrinhos de Mauricio de Sousa, que formam os órgãos reprodutivos da planta.

F. MANUEL (FRÉDÉRIC MANUEL)

(Paris, França, 1900 — Paris, França, 1958)

JARDIM DA LUZ — SÃO PAULO

s.d. Reprodução fotográfica Coleção Ruy Souza e Silva

O. ACHTSCHIN (OTTOKAR ACHTSCHIN)

?, Áustria, 1868 — São Paulo, SP, 1932 PRAÇA DA REPÚBLICA

c . 1930 Reprodução fotográfica Coleção Ruy Souza e Silva

BEBEDOURO DE ASSOMBRAÇÕES E JUSTIÇA CAMPOS, CONSTRUÇÕES, EMBATES DA Zona de intensos conflitos de naturezas distintas, o centro de São Paulo foi locus de embates históricos, desde os que hastearam bandeiras, como na Revolução de 1932, até os que levantaram estandartes, como a camisa ensanguentada do estudante morto na dita Batalha da Maria Antônia, em 1968, ano-chave para a sublevação da classe estudantil frente ao recrudescimento da ditadura militar, em que não faltava o terrorismo de Estado. No polo democrático estão as comemorações pelo fim da Segunda Guerra Mundial e as manifestações pelas Diretas Já, que demarcaram o colapso do almejado estado de bem-estar social. Locais de tortura fazem parte do que há de concreto na história dessa centralidade, na qual as dissidências nunca foram bem-vindas.

Levantes contra o racismo institucionalizado pela ação da polícia, que historicamente promove sistemática chacina dos afrodescendentes, alternaram-se com a Marcha da Família, em um território marcado por disputas de interesses obscuros e suas motivações escusas. As ocupações e invasões de prédios abandonados, à mercê do mercado imobiliário, por famílias desabrigadas tornaram esse um território em que a guerra foi deflagrada como modus operandi de formas do estado de exceção no centro de São Paulo. Essa guerra do capital imobiliário há muito joga impunemente com criminosos incêndios em favelas. O projeto de higienização social reforça a agenda imobiliária. As múltiplas abordagens violentas — levadas a cabo por

gestões públicas em devir perverso dos que de fato comandam a política no escandaloso momento de nossa história — são um grave retrocesso quanto à civilização de respeito aos direitos humanos dos muitos a quem o reconhecimento da cidadania está sendo negado. De que necessita o centro de São Paulo, com seu significado político para o Brasil? Da violência da polícia e de políticos como sintoma de uma doença social em São Paulo? Ou de estadistas capazes de compreender o drama humano dos paulistanos despossuídos e sua complexidade, além do teatro de comunicação na internet com fins eleitoreiros? Vítimas do déficit social brasileiro na cidade mais rica do país, esses pobres escorraçados acabam pagando o pato.

RAQUEL GARBELOTTI

(Dracena, SP, 1973) PUXADINHO (COBOGÓS) 2014 Tijolo de maquete e argamassa Dimensões variadas Cortesia Galeria Marília Razuk Fotografia Sérgio Guerrini FRANZ ACKERMANN

(Neumarkt, Alemanha, 1963) NEW ADS FOR SÃO PAULO 3 — ED. 25

2011 C-print 48 × 60 cm Galeria Fortes D’Aloia & Gabriel


Anhangabaú é um termo cuja etimologia pertence ao tronco linguístico dos tupis-guaranis, tendo, entre suas acepções, segundo o tupinólogo Eduardo de Almeida Navarro, o seguinte significado: “lugar onde as almas bebem água”. Esse vale fértil, atravessado pelo Rio Anhangabaú, reúne córregos cujos sentidos, geográficos e filológicos, são diversos, porém escorrem pelas valas comuns do esgoto, e seu fluxo se intensifica em dias normais, como os de grandes manifestações e de espetáculos populares. Por sua vez, as famílias burguesas paulistanas ali conheceram as escadas rolantes na Galeria Prestes Maia, subindo e descendo entre os primeiros

LIBERDADE

arranha-céus da cidade, como os edifícios Martinelli e Matarazzo, em suas simulações arquitetônicas. Na década de 1950, contudo, duas de suas principais edificações — os Palacetes Prates — sucumbiram à pressão da especulação do mercado imobiliário e vieram abaixo, levando consigo a arquitetura do que foi a Câmara Municipal e o Automóvel Club de São Paulo. Muito embora parte de seu passado tenha sido implodida, enquanto território limítrofe entre os centros ditos antigo e novo, essa praça albergou, dos comícios das Diretas Já aos protestos de 2013 e 2016, milhões de pessoas reunidas em busca de um futuro melhor.

RENATO DOS ANJOS MULTIDÃO DURANTE COMÍCIO PELAS DIRETAS JÁ, NO VALE DO ANHANGABAÚ, EM SÃO PAULO

16.4.1984 Fotografia Renato dos Anjos/Folhapress


O termo escatologia possui dois sentidos quase opostos, com origens etimológicas diferentes, que aqui são trabalhados por quatro artistas de São Paulo. Na linguagem comum, o escatológico é o gosto pelo socialmente rebaixado, desde o obsceno e o sórdido até os dejetos humanos. Vem do grego skatós (fezes) e é grafado scatology em inglês. O livro Quarto de Despejo (Diário de Uma Favelada) (1960), de Carolina Maria de Jesus, uma catadora de lixo, narra em forma de diário o cotidiano de uma favelada em São Paulo, com angústias, fome, sofrimento e formas de resistência. O poema concreto “Luxo Lixo” (1965), de Augusto de Campos, reúne dois termos opostos pela deliberada escritura kitsch em letras pseudobarrocas que se articulam foneticamente. Nas duas palavras, as consoantes estão em posição fixa, a primeira vogal se altera e a última é um O; seus sons agregam ritmo. O jogo binário de oposições surpreende e fascina

o leitor, que se dá conta da crítica à divisão social de classes. Escatologia, na filosofia das religiões, refere-se ao destino último das coisas, ao fim da humanidade e do mundo, como o julgamento final, no cristianismo. Surgiu do grego eskhatos (último) e em inglês se escreve eschatology. O pintor Alfredo Volpi, sensível à vida dos afrodescendentes no Brasil, pintou um menino negro como o anjo que anuncia a aleluia, a louvação ao Senhor nas religiões judaico-cristãs, mas também faz uma ironia com a promessa não cumprida historicamente de redenção social com a abolição da escravatura no Brasil. Mira Schendel nos lembra da prata e do ouro, da palavra e do silêncio. A artista celebra a linguagem que funda a hipótese das diferenças: surge com A, estende-se em som alongado AAAAA, converte-se em aleluia e logo em nomes bíblicos, de Ananias a Zacarias, da graça à memória do Senhor.

“CAROLINA MARIA DE JESUS”

8.4.1961 Arquivo/Estadão Conteúdo


futuros passados A cultura contemporânea urbana, por meio de sua complexidade intercomunicante, é cada vez mais caracterizada pelas derivas entre os espaços material e cibernético, tendo a escrita sido levada a patamares até então não vislumbrados, como o método bomb do pixo, pelo qual seus realizadores se expõem a situações de risco real em busca da demarcação de territórios por meio dos grafismos, ou o hacking, em que desenvolvedores são capazes de acessar informações confidenciais, entre muitas outras possibilidades, com respeito a e também a partir dessas formas de ser de nosso tempo. A arte desse contexto social vem passando por processos de expansão de suas possibilidades, bem como de reavaliação de seus limites, tendo

as fronteiras entre instituições e corporações, bem como do artista e do ativista, sido diluídas, e por isso seu sistema operativo se tornou um emaranhado de acionamentos que agenciam discursos e mediações de símbolos e signos, esses a serviço de ideologias cada vez mais próximas às distopias. Uma crise das utopias parece enturvar nossa vista, dificultando, nesse estado suspenso de iminente desarranjo, a proposição de um programa coeso para um projeto de levante. Por sugestão de Mario Pedrosa, consideremos a possibilidade da invenção como motor da construção de outras formas de existência: “Em tempos de crise, é preciso estar com os artistas”.

ALICE BRILL

(Colônia, Alemanha, 1920 — Itu, SP, 2013) REALEJO NA PRAÇA DO PATRIARCA c . 1953 Fotografia em preto e branco Acervo Instituto Moreira Salles

Por outra globalização

SEIRO TAKAYAMA

(Sakata, Japão, 1918 — São Paulo, SP, 2016) PARTIDA DO JAPÃO AO BRASIL 1935 Coleção particular

Num país fundado por uma colonização sanguinária, subjugadora dos povos originários e por meio de uma escravidão massiva, sem precedentes na história da humanidade, é imperativo nos questionarmos acerca do status quo de migrante, posto que, a priori, é somente às populações indígenas oriundas de territorialidades pré-brasileiras que a noção de pertencimento territorial poderia se aplicar de fato. Entretanto, tendo em vista a complexidade dos fluxos migratórios que aqui convergiram, sobretudo desde meados do século 19, é possível, além disso, atentar à condição de interculturalidade e plurilinguismo que se instaurou na capital do estado paulista. São os benefícios da generosidade

que resultaram num Brasil mais rico culturalmente. Esses homens e mulheres aportam um capital simbólico singular. Advindas de uma multiplicidade de origens e, por conseguinte, ocasionadas por razões que vão desde genocídio étnico, no caso dos judeus e armênios, como exemplos, até desastres naturais, como no dos nordestinos com a seca e a fome ou no dos haitianos a partir do terremoto de 2010, as correntes de migrantes compõem um quadro complexo que materializa a multiplicidade dos processos geopolíticos. O pensador social Homi Bhabha define como um estado contemporâneo de “DissemiNação”, em que fronteiras geopolíticas são saltadas e as bordas culturais se contaminam.

A cosmópole paulistana foi erigida, dessa feita, como em uma Torre de Babel calcada no trabalho árduo daqueles cujas esperanças se depositam em sobreviver à guerra, à fome ou a outras situações dilemáticas. Seja via redes de acolhimento por meio das quais prostitutas polonesas se organizaram no período entreguerras, seja pelo caminho que leva bolivianos ao trabalho cujas condições são hoje similares à da escravidão segundo a ONU, como se sucedeu nas indústrias têxteis do bairro do Bom Retiro, a dinâmica das torrentes de refugiados que aqui aportam sempre foi de persistência histórica, de verdadeira supervivência. Em seus momentos reais de abrigo e acolhida, São Paulo mostra-se uma cidade generosa no superlativo.


“ENCHENTE EM SÃO PAULO”

1.1.1928 Arquivo/Estadão Conteúdo

“ENCHENTE NO VIADUTO DO CHÁ”

12.7.1967 Arquivo/Estadão Conteúdo

ALFREDO RIZZUTTI/ ESTADÃO CONTEÚDO “ENCHENTE NO CENTRO DE SÃO PAULO”

21.2.1980 Arquivo/Estadão Conteúdo

“ENCHENTE NO TÚNEL DO ANHANGABAÚ”

6.2.1963 Arquivo/Estadão Conteúdo


LIQUIDEZ DOS MERCADOS Da Várzea do Carmo ou das margens do Rio Tamanduateí, a água abundante da região que hoje abriga o centro de São Paulo era notada a olhos nus: muitos artistas dedicaram, desde as representações dos séculos 17 e 18, sua mirada sobre essa zona para a qual a cidade deu as costas. Maior reservatório subterrâneo de água doce do planeta, o Aquífero Guarani enreda seu complexo sistema em uma dinâmica simbiótica com a topografia do relevo mamelonar típico dessa região — o chamado “mar de morros” é que alimenta o correr dos rios.

A hidrografia, muito antes da crise hídrica do século 21, já era um viés de navegação territorial importante a partir das incursões dos jesuítas e bandeirantes ao interior do país, como retratam a diversidade de mapas dos rios que formam uma espécie de delta no que hoje se configura como uma cidade que acompanha aflita o volume morto de sua represa. Uma pintura de Félix-Émile Taunay — Descoberta das Águas Termais de Piratininga — que integra o acervo do Museu Nacional de Belas-Artes retrata a importância da descoberta dos mananciais para o estabelecimento dos colonizadores nessas localidades, por meio

de conquistas, a ferro e fogo, de territórios antes preservados pelos povos indígenas. A chuva fina que paira como condição climática emblemática da cidade, cantada pelos sambas de grupos como Os Demônios da Garoa, não impede o retorno para casa dos que voltam para as periferias nos trens noturnos tanto quanto as enchentes que, já há mais de um século, paralisam as vias asfálticas que solaparam o verdadeiro trânsito do fluxo. A natureza reclama seus caminhos históricos. A água não espera e cobra seus espaços conquistados pela especulação imobiliária e o planejamento inadequado da metrópole.

MILITÃO AUGUSTO DE AZEVEDO

(Rio de Janeiro, RJ,1837 — São Paulo, SP, 1905) VÁRZEA DO TAMANDUATEÍ c . 1862 Acervo Museu da Cidade de São Paulo “PASSAGEM DE NÍVEL NO VALE DO ANHANGABAÚ ALAGADA”

1.1.1958 Arquivo Estadão Conteúdo


CLAUDE LÉVI-STRAUSS

(Bruxelas, Bélgica, 1908 — Paris, França, 2009) RUA DA LIBERDADE c . 1937 Fotografia em preto e branco Acervo Instituto Moreira Salles

VIA DE MÃO ÚNICA As áreas de lentidão do trânsito de São Paulo são medidas em centenas de quilômetros, em uma sequência de quebras de recorde que alterna os posicionamentos do paulistano perante a ostentação de um dos maiores engarrafamentos do mundo: entre o orgulho e o rechaço, aprende-se a esperar por um sistema de transporte público mais eficiente. Na primeira metade do século 20, antes da vertiginosa expansão da indústria automobilística do chamado ABC paulista, as vielas do centro se enredavam em contexturas interculturais pelas quais olhares se entremeiam. Nomes como

os dos imigrantes japoneses Massao Okinaka, Flavio Shiró, Kiyoji Tomioka e Tikashi Fukushima emergem desse contexto, permitindo ver a perspectiva oriental integrada à cidade ocidental. Suas ruas e avenidas, no entanto, nem sempre tiveram a buzina das motocicletas como sonoridade ambiente — conta a cidade hoje com um acachapante contingente de motoboys que tentam, cotidianamente, salvar sua vida das perigosas condições de trabalho a que são submetidos, muito embora sejam eles os que oxigenam e possibilitam os processos diários dos

A FUZARCA CULTURAL QUE MUDOU O BRASIL

fluxos práticos necessários à dinâmica capital neoliberal que pede pressa. Por suas vias, um emaranhado de vetores articula-se, centrípetos e centrífugos, a trazer e levar os indivíduos de seu dormitório a seu escritório. Muitos são os que não podem retornar a sua casa, quando a possuem, por conta da precificação impeditiva dos meios aos quais deveriam ter acesso. Nesta capital, também conhecida por sua espantosa quantidade de helicópteros, a catraca para a perspectiva dos jovens libertários a partir de 2013 tornou-se um verdadeiro monumento à barbárie.


São Paulo foi fundada em de 25 de janeiro de 1554. Quem fundou a cidade, a partir de um colégio católico jesuíta? O padre Anchieta ou o padre Nóbrega? A comemoração do IV Centenário de São Paulo foi uma festa que se iniciou em dezembro de 1953 e foi até fevereiro de 1955. Ciccillo Matarazzo, o industrial fundador da Bienal de São Paulo, era à época reputado como o homem mais rico da América do Sul. Indicado presidente da comissão do IV Centenário, organizou festejos gigantescos e continuados. A população foi envolvida e as comemorações resultaram no reconhecimento de São Paulo na cena internacional. A programação incluiu chuva de papel de prata; a memorável II Bienal, com curadoria de Mario Pedrosa, que contou com a Guernica, de Picasso; inauguração do Parque do Ibirapuera, com projetos de Oscar Niemeyer; abertura da nova Sé, mesmo inacabada; o espetáculo do balé do IV Centenário, no Teatro Municipal. O ápice foi um grandioso desfile no Anhangabaú, que contou com a presença de um curumim e índios do Centro-Oeste, levados pelo indianista Orlando Villas-Boas. São Paulo imitava a Bienal de Veneza, que, no século 19, expôs índios. Era o triunfo bandeirante sobre os habitantes originais da terra, expulsos de seus territórios ancestrais.

AUTOR DESCONHECIDO GRUPO DE BANDEIRANTES DISFARÇADOS DE JESUÍTAS, CONDUZINDO ESCRAVOS ÍNDIOS AO CATIVEIRO Século XX

Nanquim, aguada e guache branco sobre papel Coleção Martha e Erico Stickel / Acervo Instituto Moreira Salles

IV centenário As primeiras experiências do moderno no Brasil podem ser compreendidas como o princípio de uma tomada de consciência a respeito da situação de dependência cultural das elites artísticas, culturais e intelectuais latino-americanas, com vista aos regimes de visibilidade advindos dos países detentores do controle sobre os meios de produção, o que deu lugar ao hiato entre as realidades históricas dessas sociedades em vivências díspares. Os sintomas de modernidade surgiram de norte a sul no urbanismo e na música popular, no estilo art nouveau e nas formas do Carnaval, da fotografia e do cinema nascente. A modernidade na região foi um esforço de superação da herança colonial. A erupção dos modernismos na América Latina está relacionada aos debates sobre

o desenvolvimento assimétrico dos povos locais, em que associações de cunho positivista atribuíam o subdesenvolvimento ao processo colonial de miscigenação. O modernismo proclamado no Theatro Municipal de São Paulo na Semana de Arte Moderna de 1922 reuniu artistas plásticos, escritores e compositores de todo o país, embora tenha deixado de lado alguns dos nomes mais radicais. Entre seus principais organizadores estavam Mário de Andrade, Graça Aranha e Di Cavalcanti. A lista de participantes incluía ainda Anita Malfatti, Victor Brecheret, Antonio Gomide e Vicente do Rego Monteiro, os escritores Oswald de Andrade, Manuel Bandeira e Ronald de Carvalho e o compositor Heitor Villa-Lobos, entre outros. O pintor contemporâneo Daniel Lannes

reinterpreta uma fotografia histórica dos rapazes da Semana. O escândalo da exposição de Anita Malfatti em 1917 foi o ensaio para o barulho pretendido com o evento. Como analisado por Mário de Andrade, o programa, com pinturas e esculturas, poesia e concertos, horrorizou a plateia provinciana de São Paulo; no Rio, diz ele, seria mais difícil ocorrer tal reação. O evento tornou-se um ícone do modernismo brasileiro e, sobretudo, paulistano, já que não foi capaz de abranger manifestações e artistas relevantes das demais regiões. Nesse primeiro momento, o modernismo de São Paulo tinha um projeto de atualizar-se com as vanguardas internacionais vagamente resumidas como “futurismo”. O ano de 1922 mudou o modo de o Brasil perceber a cultura.

ANITA MALFATTI

(São Paulo, SP, 1889 — São Paulo, SP, 1964) O GRUPO DOS CINCO 1922 Tinta de caneta e lápis de cor sobre papel 26,5 × 36,5 cm Coleção Mário de Andrade da Coleção de Artes Visuais do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo — IEB-USP


Afro São Paulo


JEAN MANZON

Mário de Andrade discutiu a cogitação que, apesar de abolicionistas como Luis Gama, os paulistas tiveram pouco engajamento na luta contra a escravidão. Ainda em 1921, Oswald de Andrade, o escritor originário na burguesia, desqualificou a abolição. Ele declarou que: 1) a Inconfidência Mineira de 1789 (o movimento que é o símbolo histórico da aspiração do Brasil à independência e à liberdade); 2) a Confederação do Equador (1824, que demandava a instalação da República); e 3) a abolição da escravidão (1888, que emancipava pelo menos formalmente expressivo percentual da população brasileira), tudo isso era inferior à expansão do imigrante europeu pelo solo de São Paulo. Eram movimentos sociopolíticos não ocorridos em sua província. Só escapava a Independência, proclamada por mero acaso em São Paulo e executada num contexto

de outorga paternal e compensação financeira à metrópole pela perda da colônia. Dois anos depois, diante da moda da art nègre, em Paris, um oportunista Oswald defendeu que Tarsila fizesse uma pintura vinculada à imagem de negros brasileiros. O século 21 é marcado por dois fatos em São Paulo: a fundação do Museu Afro-Brasil, a monumental obra ética de Emanoel Araújo, e o surgimento de uma geração de artistas afrodescendentes (Rosana Paulino, Jaime Lauriano, e outros) disposta a rever o papel dos bandeirantes como escravizadores dos africanos, que haviam buscado a liberdade nos quilombos, e a retirar da deliberada opacidade social a presença da história da escravidão na cidade. Essa nova consciência tem fundamentos na década anterior, em que a política de cotas ampliou a presença de afrodescendentes nas universidades brasileiras.

F. MANUEL (FRÉDÉRIC MANUEL)

(Paris, França, 1915 — Reguengos de Monsaraz, Portugal, 1990)

(Paris, França, 1900 — Paris, França, 1958)

MULHER NO TERRENO DE CAFÉ, NO INTERIOR DO ESTADO DE SÃO PAULO. FAZENDA SÃO MANUEL, PROPRIEDADE DE GEREMIA LUNARDELLI

EMBARQUE DE CAFÉ. PORTO DE SANTOS

Fotografia em preto e branco Acervo Jean Manzon — Cepar Consultoria e Participações Ltda.

s.d. Reprodução fotográfica Coleção Ruy Souza e Silva

ruptura paulistana & axiomas previsíveis

JUDITH LAUAND

(Pontal, SP, 1922) SEM TÍTULO

1955 Óleo sobre aglomerado (Eucatex) 40 × 40 cm Galeria Berenice Arvani

A mostra de Max Bill em São Paulo e a I Bienal (1951) estimularam o surgimento do grupo Ruptura (1952), chefiado por Waldemar Cordeiro, que recusava a arte como representação da realidade. Replicava-se o manifesto europeu da arte concreta (1930), que declarava que “a obra deve ser inteiramente concebida no espírito antes de sua execução”. Como axiomas matemáticos previsíveis, a obra concretista é “pré-formada” e pré-visualizável, como propusera o filósofo K. Fiedler. Aplicando as leis mecânicas de funcionamento da mente (Gestalt), a exacerbada objetividade concretista negava toda expressão subjetiva do artista — daí a fixação nas cores primárias, a geometria rígida, a pintura chapada com tinta industrial, sem marcas pessoais. A arte é puro signo, sem qualquer intencionalidade simbólica. Por tudo isso, sua crise diante da sociedade na derrocada do sonho desenvolvimentista. No entanto, alguns artistas geométricos paulistas, como Willys de Castro, Hercules Barsotti e Geraldo de Barros, entraram em discordância com Cordeiro e se aproximaram do pintor Alfredo Volpi e do grupo do Rio de Janeiro, mais vinculado à arte como discurso simbólico, à fenomenologia da percepção e ao resgate da subjetividade na obra geométrica.


INCÊNDIO NA DROGARIA AMARANTE

1.8.1965 Arquivo/Estadão Conteúdo INCÊNDIO NO PALÁCIO DOS CAMPOS ELÍSIOS

19.10.1967 Arquivo/Estadão Conteúdo

NILTON FUKUDA/ ESTADÃO CONTEÚDO INCÊNDIO NO MUSEU DA LÍNGUA PORTUGUESA

21.12.2015 Arquivo/Estadão Conteúdo ALFREDO RIZZUTTI/ ESTADÃO CONTEÚDO

Incêndio no Cine Belas-Artes 11.5.1982 Arquivo/Estadão Conteúdo

INCÊNDIO NO TEATRO OFICINA

3.6.1966 Folhapress

FILIPE ARAÚJO/ ESTADÃO CONTEÚDO INCÊNDIO NO CULTURA ARTÍSTICA

17.8.2008 Arquivo/Estadão Conteúdo EDIFÍCIO JOELMA EM CHAMAS

1.2.1974 Arquivo/Estadão Conteúdo

EDIFÍCIO ANDRAUS EM CHAMAS

24.2.1972 Arquivo/Estadão Conteúdo


Fogo paulista

Toda cidade tem sua história de fogo e incêndios, em festas e tragédias. São Paulo tem uma história singular de fogo nos últimos 50 anos. Nos incêndios do Edifício Andraus, em 1972, morreram 16 pessoas, e no Edifício Joelma, em 1974, foram 191 mortos. A transmissão ao vivo dos incêndios pela televisão impactou a sociedade profundamente. Desde então, a cidade tomou decisões precisas de ampliação de medidas de segurança. No entanto, qual é o grau de efetiva mobilização de São Paulo contra o fogo em suas favelas? Como entender os quatro pontos perversos nos incêndios em favelas que se ajustam: (1) a dificultação de construções em alvenaria; (2) o fogo e as mortes; (3) a construção de edifícios

nos terrenos pela especulação do capital imobiliário; e (4) o silêncio social? Qual a eficácia da ação dos partidos políticos, da OAB, da FAU, do IAB, da imprensa, dos artistas e de outras forças sociais na análise e na denúncia? Por que as reações, sempre desarticuladas, demoram tanto? Qual a função do silêncio total ou relativo? Quem lucra? A continuada série de incêndios nas favelas de São Paulo nas últimas décadas, de uma forma como não ocorre em nenhuma outra cidade brasileira, é a maior operação de higienização social das Américas. O que é o progresso? Quantas pessoas já morreram? Mais do que no Andraus. Seria isso uma forma de genocídio social? Uma forma de retaguarda da consciência cívica?


Casa de Macunaíma “Humanidade. Mas o dístico mais perfeito que já vi foi este, trazido por rapazes do interior: LASAR SEGALL

(Vilna, Lituânia, 1891 — São Paulo, SP, 1957) RETRATO DE MARIO DE ANDRADE

1927 óleo sobre tela 73 × 60 cm Coleção Mário de Andrade da Coleção de Artes Visuais do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo — IEB-USP

Deus S. Paulo Mamãe.” (Mário de Andrade no Diário Nacional)

Com a construção do metrô, a Praça da Sé foi afetada. O prefeito Olavo Setúbal promoveu um novo espaço, como um jardim de esculturas modernas com obras de Franz Weissmann, Amilcar de Castro, Rubem Valentim, José Resende e outros. A escultura de Ascânio MMM sofreu uma avaria, foi então recolhida ao depósito público e desapareceu. A escultura foi reconstruída pelo artista e será doada pelo Instituto Itaú Cultural à cidade de São Paulo. A elegância formal da peça convive com seu valor simbólico. É uma torre branca aberta de lado a lado para que a cidade seja vista através da escultura. Para Ascânio, essa situação da vista rememora sua cidade natal de Fão, no norte de Portugal, com seus estreitos becos alvos (ditos “cangostas”), através dos quais se divisa a cidade. MISSA DE VLADIMIR HERZOG

31.10.1975 Arquivo/Estadão Conteúdo

portugal paulista


CÍCERO DIAS

(Escada, PE , 1907 — Paris, França, 2003) CARTA ILUSTRADA PARA MÁRIO DE ANDRADE

1930 guache sobre papel 28 × 21 cm Coleção Mário de Andrade da Coleção de Artes Visuais do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo — IEB-USP

B®≥d™iµ®≥t™s O Foto-Cine Clube Bandeirantes, fundado em 1939, foi o principal movimento coletivo de fotoclubismo no Brasil, na tradição das agremiações abertas no Rio de Janeiro e em Porto Alegre. No pós-guerra, com a vinda de fotógrafos europeus e a presença de Pietro Maria Bardi à frente do Masp, a estética do fotoclube avançou por regiões experimentais, tendo à frente Geraldo de Barros com as Fotoformas. Outros artistas foram Thomas Farkas, José Yalenti, German Lorca, Gestrud Altschul, Chico Albuquerque, Menha Polacow. Por mais de 15 anos, o Bandeirantes buscou uma estética moderna baseada em ritmos modulares por repetição de formas, abstrações feitas de detalhes arquitetônicos (vigas, cantos e tetos, escadarias), dupla

exposição, solarização, contraluz, preparo do objeto, fotografia industrial, detalhes abstratizantes, atenção à luz com valorização dos pretos, brancos e cinzas. Seu Boletim divulgava a reflexão teórica sobre a fotografia. De modo vasto, o trabalho do Bandeirantes ainda partia da reprodução do real, embora sob novos tratamentos e pontos de vista. Com José Oiticica Filho, a fotografia experimental concreta passou ao domínio exclusivo do espaço do laboratório. Era da lógica internacional dos fotoclubes a promoção de salões, que recebiam obras de todo o mundo e conferiam prêmios. Aqui estão algumas peças do arquivo do Bandeirantes do acervo de seu ex-presidente Jacob Polacow.

B.J. DUARTE

(Franca, SP, 1910 — São Paulo, SP, 1995) MARIO DE ANDRADE

c . 1935 Acervo do Museu da Cidade de São Paulo

CHICO ALBUQUERQUE

(Fortaleza, CE , 1917 — Fortaleza, CE , 2000) FOTO CINE CLUBE BANDEIRANTE 1950 Fotografia em preto e branco Acervo Instituto Moreira Salles


O ARQUITETO E ARTISTA PLÁSTICO FLÁVIO DE CARVALHO COM SEU NEW LOOK

19.10.1956 Acervo UH /Folhapress HANS GUNTER FLIEG

(Cheminitz, Alemanha, 1923) A AMAZONA DE MANET c . 1960 Museu de Arte de São Paulo, na Rua Sete de Abril Fotografia em preto e branco Acervo Instituto Moreira Salles HILDEGARD ROSENTHAL

(Zurique, Suíça, 1913 — São Paulo, SP, 1990) MENINO JORNALEIRO 1940 Fotomontagem em preto e branco Acervo Instituto Moreira Salles EDUARDO ANIZELLI/ FOLHAPRESS MIRTHES BERNARDES, RESPONSÁVEL POR PROJETAR OS DESENHOS PADRONIZADOS DAS CALÇADAS DE SÃO PAULO.

26.6.2015 Folhapress


JOANA MELLO E ANA CASTRO

TERRITÓRIO PULSANTE EM DISPUTA

ÂNGELA CASTELO BRANCO E GIULIANO TIERNO DE SIQUIERA

PERDER AS PALAVRAS

“Eu sou 300, sou 350.” Assim Mario de Andrade se definiu num poema publicado em 1929, em seu livro Remate de Males. Assim podemos definir São Paulo. Cidade de índios, cidade de brancos, cidade de pretos, cidade italiana, a maior cidade nordestina fora do Nordeste, a maior cidade japonesa fora do Japão, cidade dos bolivianos, haitianos e africanos, cidade caótica, capital cultural, capital gastronômica, cidade industrial, capital financeira, sede da riqueza e da pobreza, da melhor e da pior classe média do país, cidade de todos e só para poucos, São Paulo é tudo isso porque reúne camadas de tempo e de história, reúne gentes de todos os cantos, atrai e afasta com a mesma intensidade. Coração pulsante do país, São Paulo construiu-se ao longo de seus quase cinco séculos de existência por meio do trabalho de toda essa gente, extraindo energia de seus habitantes, que podiam também ser acolhidos

nesta metrópole — cidade-mãe — e nela construir sua vida. Formada a partir de um colégio de jesuítas e da aldeia de Piratininga, constituindo-se como um nó de caminhos desde os tempos coloniais e mesmo antes, pelos caminhos de Peabiru, a cidade reafirmou seu papel de polo de irradiação — de pessoas, de produtos, de ideias — ao longo da história, por meio das ferrovias e depois das rodovias. A implantação da linha férrea impacta seu território material, simbolicamente fazendo da antiga estrada para a corte, a leste, o caminho de ligação com os bairros industriais e operários; da entrada norte, a nova porta principal; da face oeste, a área de expansão das elites pela travessia dos Viadutos do Chá e Santa Ifigênia; e dos fundos da cidade, o Vale do Anhangabaú, um ponto de atenção sempre renovado. A cidade, nesse percurso, transforma-se em centro.

Centro de uma metrópole em expansão contínua que atingiu uma área colossal, encontrando os limites naturais em suas bordas, com a violência inerente a esses processos de urbanização intensa. Centro cujos usos se alteraram ao longo do tempo, que se afirmou como um polo de serviços, comércio e cultura, com toda a infraestrutura urbana possível, e que se mostra na atualidade como local pertinente e desejável de moradia. Como um microcosmo da própria cidade, o centro de São Paulo concentra estratos de tempos e pessoas condensados em seus artefatos, na linguagem e espacialidade de seus edifícios, na organização urbana de suas ruas e construções, em suas representações, nas falas, nos usos e nos costumes de seus moradores. Território pulsante em disputa, São Paulo escapa a definições totalizantes e dicotômicas; é 300, 350 reunidas em uma só.

Perder a palavra cidade. Comecemos com Walter Benjamin: “Saber orientar-se numa cidade não significa muito. No entanto, perder-se numa cidade, como alguém se perde numa floresta, requer instrução” (1995b, p. 73). E que instrução seria essa? Haveria instrução para perder-se? Sim, se pensarmos que estamos debaixo de um imenso guarda-chuva chamado palavra e que a palavra cidade já está tão carregada de sentidos que talvez não nos permita mais desvios de rota. A primeira instrução para perder-se seria perder a própria palavra cidade. Perder uma ideia de cidade, para que possamos, quem sabe, ser encontrados por ela. Perder a palavra educativo. É preciso também perder a palavra educativo. E, para isso, é preciso junto dela perder a palavra escola, como disse Jan Masschelein. Perder a palavra escola para que possamos considerá-la mais próxima de sua etimologia grega skholé, que significa “tempo livre”, ou seja, um tempo sem destino, objetivo ou finalidade prévia. Um tempo para suspender

e profanar as palavras de ordem correntes para atender ao apelo do próprio mundo, expor-se a ele. Um lugar para o “tempo livre” em meio ao tempo acelerado das cidades? Sim, como disse a professora Luiza Christov: o padecimento nas cidades é tão grande que precisamos inventar lugares de refúgio. A escola é um lugar de refúgio. A partir do momento em que entendemos que a escola já não é mais o lugar privilegiado do conhecimento nem da informação, o que restaria para esse território? O convívio público, o encontro entre o comum e o diverso. E os espaços educativos em instituições culturais na cidade? Podem nos lembrar a skholé? Podem atuar na sintonia do “para nada”, do perder a finalidade de uma proposta prévia chamada educativa? Podem atuar a caminho do exercício do “amor público”, um amor impessoal de estar em relação com a cidade e não com a ideia de cidade? Aqui o caminho de perder a palavra educativo é ganhar um ponto de fuga entre as narrativas generalizantes, para que possamos nos aproximar dos fiapos de

conversas, das histórias entrecortadas que aparecem vivas nos encontros sob a forma de gestos corporais, de impressões sobre nosso tempo, anunciando um possível comum a ser partilhado no momento em que uma conversa se instaura (não antes nem depois). Perder a palavra projeto. Anunciar a palavra trajeto. Então, o desafio que se apresenta é dar materialidade às micronarrativas, aos gestos públicos que vão pedir passagem — sempre pedem — nesse espaço-tempo chamado São Paulo, que não é uma cidade, tentando não silenciá-los nem lê-los segundo alguma ideia de projeto ou finalidade produtiva. Será preciso perder a palavra projeto. E inventar uma gramática para estar nesse território: a prática da escuta, a prática da caminhada, a prática do registro, a prática da dissonância de vozes, da disponibilidade, do demorar-se. Para que possamos nascer em percurso, em trajeto.

— ANA CASTRO E JOANA MELLO (CONSULTORAS DE CONTEÚDO)

— ÂNGELA CASTELO BRANCO

E GIULIANO TIERNO DE SIQUIERA (CONSULTORES DE CONTEÚDO)


GISELLE BEIGUELMAN

ODIOLÂNDIA 2017

Videoinstalação para Paula Beiguelman (em memória)

RAPHAEL ESCOBAR

ESTRATÉGIA DE CUIDADO 2017

Distribuição de 400 cachimbos de cobre com piteira de silicone para usuários de crack na região da Cracolândia, no centro da cidade de São Paulo, entre agosto de 2017 e janeiro de 2018

RAPHAEL ESCOBAR ESTRATÉGIA DE CUIDADO

2017 Distribuição de quatrocentos cachimbos de cobre com piteiras de silicone para usuários de crack na região da Cracolândia no centro de São Paulo, entre os meses de agosto de 2017 e janeiro de 2018. Coleção da artista Fotografia Everton Ballardin

Odiolândia reúne comentários dos vídeos publicados nas redes sociais sobre as ações da Prefeitura de São Paulo e do Governo do Estado de São Paulo na Cracolândia. O título do trabalho nasceu do teor das mensagens postadas pelo público. Majoritariamente favoráveis ao tratamento policial da questão e ao uso da força e de armas de fogo contra os dependentes, esses posts expressam também o desejo de ver as mesmas políticas aplicadas a outros grupos. Nordestinos, sem-terra, gays e muçulmanos são alguns de seus diversos alvos.

Os comentários são apresentados em sua forma bruta, sem correções gramaticais nem adequações de estilo. A única interferência da artista foi retirar o conteúdo eleitoral das mensagens. No fluxo dos textos despidos das imagens, desvela-se um tecido social contaminado pela cultura do ódio. A Cracolândia se expande, como se fosse uma lente através da qual podemos ler a cidade. Transforma-se no ovo da serpente… Através da fina membrana, pode-se ver o réptil inteiramente formado. — GISELLE BEIGUELMAN

Aproximadamente em 2002, os Projetos de Redução de Danos começaram a distribuir cachimbos de madeira nas regiões onde se aglomeravam usuários de crack. Seu objetivo era estimular o uso individual e minimizar os riscos de transmissão de algumas doenças, como tuberculose e herpes. Visavam também, caso os lábios dos usuários apresentassem queimaduras e feridas, a evitar a transmissão de outras moléstias, como as hepatites — por serem de madeira, os cachimbos não causavam queimaduras e proporcionavam um uso mais asséptico do que as latas de alumínio para o consumo da droga,

além de impossibilitar certas técnicas para reaproveitar a “borra” do crack, uma resina que se deposita dentro do cachimbo. A experiência com esses cachimbos não teve aderência pelos usuários da Cracolândia em São Paulo, mas apresentou a possibilidade de inserção do insumo. Desse modo, as pessoas começaram a fabricar cachimbos mais adequados a sua dinâmica cotidiana, utili-zando peças como antenas e capacitores de eletrônicos, obtidos na região da Santa Ifigênia (bem próxima à Cracolândia). Os cachimbos, apesar de serem menos prejudiciais

do que as latas de alumínio, ainda são feitos de materiais muito tóxicos e causam queimaduras. Diversas políticas de redução de danos pelo mundo têm adotado a distribuição de cachimbos de vidro como forma de evitar maiores contaminações. No contexto brasileiro, no entanto, devido à situação de rua da maioria dos usuários de crack, os cachimbos de vidro podem quebrar. Por isso, propõe-se o uso de cachimbos de cobre, um metal que, quando submetido a altas temperaturas, exala menor quantidade de gases tóxicos do que o alumínio. — RAPHAEL ESCOBAR


ROSANA PALAZYAN

O REALEJO [SÃO PAULO] 2003-2004

Projeto de arte pública, instalação e performance Instrumento musical, pássaro e papéis coloridos Homem do realejo: Antonio Bloise

ROSANA PALAZYAN O REALEJO

2003-2004 Projeto de arte pública, instalação e performance Instrumento musical, pássaro e papéis coloridos* *Baseado em depoimentos de pessoas que vivem nas ruas de São Paulo. Coleção da artista Fotografia Everton Ballardin

A primeira ideia surgiu em 2003 como recuperação da memória; ao mesmo tempo conhecer a rua sem fronteiras, sem medo, como o espaço de encontro com o outro — o espaço das diferenças. Conhecer as pessoas que vivem nas ruas, imprimir seus pensamentos nos papéis coloridos do realejo e oferecê-los a quem passa apressado por elas sem notá-las. O Realejo foi apresentado pela primeira vez na 26a Bienal de São Paulo (2004) e, para-lelamente, no centro da cidade. Realizar essa pesquisa foi um desafio, de começar a co-nhecer de perto as ruas de São Paulo sem seus filtros. Em seguida, apresentar a obra na Bienal significaria levar as ruas de São Paulo para dentro do pavilhão. O projeto abrangeu seis meses de pesquisa em ruas, abrigos, albergues e institui-ções, com a colaboração de profissionais inseridos em pesquisas e ações no contexto de pessoas em situação de rua (em especial, Cleisa Rosa Maffei e Alderon Costa). Nesse pro-cesso, conheci pessoas com idades entre 25 e 66 anos (45 homens e nove mulheres) vivendo

nas ruas em situações e tempos muito diversos. Minha proposta era de troca, escuta e aprendizado. Os dois questionamentos que originaram a obra foram: (1) “Eu gostaria de aprender com você; o que você poderia me ensinar?” — o que mais gerava surpresa; e (2) “A relação com seus sonhos”. Os outros te-mas foram surgindo durante nossas conversas: arte, vida, sorte, amizade, liberdade, medo, família, sociedade, a cidade de São Paulo. Após os primeiros meses de pesquisa, na tentativa de conhecer e conversar com mais gente, tive o auxílio de duas pessoas: Amanda Guazzelli e Érika Hayashida. Estudantes de assistência social, elas revelaram nunca haver experimentado aquela forma de abor-dagem e ter a pretensão de aplicá-la em seus trabalhos futuros. Nem todas as conversas foram fáceis, mas, ao nos conhecermos um pouco melhor, o processo de troca aconteceu. Elas se sentiram à vontade e em diversos casos queriam falar por muito tempo. Todos aqueles que

conheci nesse processo estão presentes com seus pensamentos. Paralelamente à apresentação na Bienal, O Realejo percorreu as ruas de São Paulo. Era a ideia original: voltar aos locais onde aconteceram as conversas e levar o realejo agora transformado, oferecendo o pensamento das ruas para a própria rua, que não reconhece a si mesma. Ao fim, em uma etapa essencial, consegui levar à exposição algumas pessoas cujo depoimento integra a obra. Como público, elas participaram de O Realejo lendo um papel sorteado pelo pássaro. Em seguida, ao receberem os próprios pensamentos impressos, soltaram frases que poderiam fazer parte de novos papéis, como: “Assim você me faz sentir importante”. Foi um momento inesquecível para todos nós. Naquela tarde, percorrendo juntas a exposição, essas pessoas fizeram questão de conhecer todas as obras. Entre 2004 e 2006, voltei às ruas na tentativa de entregar os depoimentos impressos àqueles que não puderam ver O Realejo em ação. — ROSANA PALAZYAN


JAIME LAURIANO

SÃO PAULO IMPERIAL: ESCRAVIDÃO, CATIVEIROS, MONUMENTOS E APAGAMENTOS HISTÓRICOS 2017

Desenho feito de pemba branca (giz utilizado em rituais de umbanda) e lápis dermatográfico sobre algodão preto, placa de compensado gravada a laser e mapa da região central da cidade de São Paulo. Coleção do artista

JOÃO PAULO RACY

VIAS, SP 2017

Vídeo 4’48” em loop

No Brasil, 24 de maio é dedicado à celebração do Dia Nacional do Café. De origem africana, essa espécie foi introduzida no território brasileiro por volta de 1720, na região em que hoje é o estado do Pará, por Francisco de Mello Palheta. Mas foi somente depois de quase um século que o café se tornou um item de grande importância para a economia e a sociedade brasileira, passando a figurar como elemento central na construção da história do país. Tomando emprestada essa data para seu título, o trabalho apresentado na exposição São Paulo não é uma cidade — Invenções do centro consiste

no levantamento iconográfico da presença da escravidão na região central da capital paulista. Com desenhos, ações e intervenções — em locais como a biblioteca da própria unidade —, busca-se refletir como a demolição dos espaços destinados a suplício, violência e assassinato de corpos escravizados no centro paulistano serviu para a construção do mito de democracia racial e mestiçagem que até hoje vigora como elemento da suposta cordialidade do povo brasileiro, por meio do apagamento como política de construção de memória social. — JAIME LAURIANO

A Favela do Moinho é uma região do centro de São Paulo que desde 2006 vem sendo disputada por moradores da comunidade e pelo governo — que tenta desapropriar o terreno para a construção de um parque, como parte de um dos polêmicos projetos de revitalização do local. Em 2011, o incêndio de um prédio de seis andares deixou dois moradores mortos e centenas de desabrigados. Suas causas nunca foram descobertas, e o então prefeito Gilberto Kassab autorizou a desapropriação e implosão da construção.

A implosão não foi bem-sucedida, já que quatro dos seis andares do prédio se mantiveram de pé e precisaram ser demolidos com a ajuda de escavadeiras e outras máquinas pesadas. Este trabalho integra o projeto “Entorno ou Em Torno”, que compreende pesquisas em regiões centrais de grandes cidades e se configura como uma investigação sobre o cotidiano dos centros urbanos, com o objetivo de tratar das peculiaridades desses espaços homogeneizados e dos efeitos que certos fenômenos sociais exercem sobre a configuração das metrópoles. — JOÃO PAULO RACY

JAIME LAURIANO SÃO PAULO IMPERIAL: ESCRAVIDÃO, CATIVEIROS, MONUMENTOS E APAGAMENTOS HISTÓRICOS

2017 Desenho feito de pemba branca (giz utilizado em rituais de umbanda) e lápis dermatográfico sobre algodão preto, placa de compensado gravada a laser e mapa da região central da cidade de São Paulo Coleção do artista Fotografia Everton Ballardin


IGOR VIDOR

OPERAÇÃO CAMANDUCAIA — ABRIGO 2017

Instalação de vestimentas abandonadas por jovens em situação de rua nos arredores do prédio da 24 de Maio – assim como nos bairros de Santa Cecília, Sé, República, Bom Retiro, Consolação, Bela Vista, Liberdade e Cambuci – coletadas entre maio e agosto de 2017

OPERAÇÃO CAMANDUCAIA — FRONTEIRAS 2017

Madeira, ferro, óleo queimado

Tendo como ponto de partida a Operação Camanducaia, realizada na região central da cidade de São Paulo durante o período da ditadura militar, o trabalho desenvolvido pretende apontar a importância de reconhecer que a violação de direitos humanos não pode ser associada a um tempo já findo. Práticas herdadas dos centros de tortura ainda são realizadas sob outras denominações, motivo pelo qual é fundamental evidenciar a continuidade desses mecanismos, propondo reparações do comportamento levadas a cabo por setores do Estado brasileiro contra a infância, em sua vulnerabilidade.

Os dias de hoje seguem como um período propício para tratar da infância violada. Na atual conjuntura da cidade de São Paulo, é necessário apontar novos caminhos para um posicionamento acerca da questão, posto que, historicamente, a infância tem sido marginalizada. A infância na maior cidade do país deveria ter outro destino que não a exclusão, o aprisionamento, o desaparecimento, o tráfico e as chacinas. Deveria haver condições para que crianças não fossem revistadas, como se a suspeita fosse algo intrínseco à pobreza. — IGOR VIDOR

IGOR VIDOR OPERAÇÃO CAMANDUCAIA — ABRIGO 2017 Instalação Roupas abandonadas por jovens em situação de rua nos arredores do prédio da 24 de Maio, assim como nos bairros de Santa Cecilia, Sé, República, Bom Retiro, Consolação, Bela Vista, Liberdade e Cambuci, coletadas entre maio e agosto de 2017. Dimensões variáveis Coleção do artista Fotografia Everton Ballardin


MAURÍCIO MAGAGNIN

BUG 2000 2017

Insetos construídos a partir de objetos adquiridos no comércio informal no centro da cidade de São Paulo

GUILHERME ALTMAYER

LAMPIÃO DA ESQUINA: BICHÓRDIAS, SAPATANISMOS E TRAVESTISMOS

Bug é um termo utilizado para se referir a um erro de lógica na programação de um determinado software. A palavra, que tem origem no idioma inglês e cujo significado também pode ser “inseto”, ficou popularmente conhecida às vésperas de 2000, quando se previu que um erro de leitura nas datas desencadearia uma pane em todos os dispositivos eletrônicos não atualizados até então. A crise do sistema poderia causar danos na distribuição de dados e acarretar apagamentos irreversíveis, que comprometeriam o funcionamento dos meios de armazenagem. O ano 2000, que carregava no imaginário popular a esperança do futuro, era presente, incerto e caótico. Quase duas décadas e incontáveis avanços

tecnológicos depois, ainda vivemos em crise. Os códigos não foram organizados. A expectativa era de que a tecnologia pudesse auxiliar no avanço das relações humanas, facilitando a comunicação entre pessoas e nações, por meio de um diálogo que nos levaria a um futuro idealizado. O que ocorreu foi a afirmação do capital, por meio de um novo mercado, e a manutenção das classes oprimidas, legitimada pelo desejo de um consumo desenfreado. Bug 2000, trabalho que deriva da série Bichas, na qual construo insetos e outros corpos unindo partes de bichos e minerais, foi feito a partir de objetos adquiridos no comércio informal do entorno do Sesc 24 de Maio, no centro de São Paulo.

Cerca de 2 mil ambulantes trabalham na região sob a informalidade, que os expõe aos abusos do sistema social e à vulnerabilidade inerente a sua condição de classe. Homens, mulheres, gays, heterossexuais, transgêneros; paulistas, brasileiros, migrantes; portadores de necessidades especiais; pais, mães de família, vendedores, cambistas, cabeleireiras, barbeiros, peluqueiros, tatuadores, estudantes, cozinheiros, cantores, professores, artistas. Corpos potentes que constroem suas histórias à margem, que se inserem nessa malha porosa e cheia de falhas. E que, depois de muito trabalho para construir novos horizontes e expectativas de um futuro próspero, de politizar os corpos e dar voz às falas,… escutam: “Ó, o rapa!”. — MAURÍCIO MAGAGNIN

Lampião da Esquina, publicado entre 1978 e 1981, foi um jornal que se denominava “homossexual”, de circulação mensal e nacional. Com tiragem aproximada de 15 mil exemplares em suas 38 edições, a publicação tratou, com profundidade jornalística, de questões políticas invisibilizadas sobre repressão e liberdade não somente da população “guei” (formação predominante de seu conselho editorial), mas também de travestis, lésbicas, negrxs, mulheres e ameríndixs. O Lampião é um documento vivo do início da articulação e formação de

muitos grupos e movimentos ativistas “desviadxs”, “entendidxs” e feministas, em São Paulo e em outras regiões do país. Em suas páginas estavam presentes também questões que iam da masculinização das bichas a mapas de práticas sexuais públicas no centro de São Paulo; da perseguição a frequentadores de cinemas pornô à matança sistemática de travestis; da literatura lésbica de Cassandra Rios da música de Leci Brandão e à arte de Ney Matogrosso e Darcy Penteado. No editorial de sua primeira edição, em abril de 1978, o jornal anunciava

sua posição política sobre a questão homossexual, defendendo que “é preciso dizer não ao gueto e, em consequência, sair dele. […] O que Lampião reivindica em nome dessa minoria é não apenas se assumir e ser aceito — o que nós queremos é resgatar essa condição que todas as sociedades construídas em bases machistas lhes negaram: o fato de que os ‘homossexu-ais’ são seres humanos”. As edições presentes nesta exposição são: de novembro de 1978, de outubro de 1979, de maio de 1980, Extra n. 2 e de dezembro de 1980. — GUILHERME ALTMAYER


DANIEL LANNES

(Niterói, RJ, 1981) 17 HOMENS E UM SEGREDO OU OS MODERNISTAS 2017 Óleo sobre tela 200 × 300 cm Coleção do artista Fotografia Everton Ballardin



SOLON RIBEIRO

MITOS VADIOS 1978

Instalação

A participação de Hélio Oiticica no Mitos Vadios (evento idealizado por Ivald Granato em 1978, no estacionamento da Rua Augusta, em São Paulo) faz parte do exercício por ele denominado “Delírio Ambulatório”. O “Delírio Ambulatório” é um delírio concreto. Quando ando e proponho que as pessoas andem dentro de um penetrável com areia e pedrinhas, estou sintetizando minha experiência da descoberta da rua através do andar, do espaço urbano através do detalhe de andar, do detalhe da síntese do andar. Frederico de Morais denominou a participação de Hélio no Mitos Vadios como pura vadiagem artística. “Oiticica trouxe para São Paulo seus fragmentos, seus ‘tokéns’ (asfalto da Avenida Presidente Vargas, terra do Morro da Mangueira, água da Praia de Ipanema, objetos de bazares da Rua Larga). E, com destino a seu deambular crítico-criativo, vestia-se com sapatos prateados de salto alto, camiseta dos Rolling Stones debaixo de um blusão cor-de-rosa, sunga, óculos de mergulhador e peruca feminina. Foi assim, com essa roupa de ‘tokéns’ cariocas, que se intrometeu no evento paulista, pura vadiagem artística. Meu testamento, através de fotos e do fragmento de meu diário, são aspirações de trazer o brilho da poeira de ontem para o mito do maldito… A Folha de S.Paulo na mão, minha vista procurava alguma matéria que me desse prazer. No meio de tantas besteiras, de repente, uma nota pequena! (As notas pequenas nos jornais são as coisas mais importantes.) Dei um pulo, corri para a vitrola, mandei ver Caetano, lá estava Kaya. Teria de comemorar, isto é, me preparar para o domingo; desci, comprei alguns tri-x e me encarreguei de ligar para a moçada falando da chegada do Hélio. Hélio prometia um happening no estacionamento da Augusta ao som de Stones (um desaforo: depois da anistia, ROCK). O happening aconteceu como tinha de acontecer: um dia de Stones, quadros sendo pintados, pessoas pintando o 80, o trânsito parado, os intelectuais achando ridículo. Mas Hélio estava lindo, de tanga, a camisa com cara do Mick, sapatos altos e prateados. Hélio Oiticica sempre assumiu todas. Foi fundo nas drogas, no tesão pelos homens, na arte como na vida, a arte como vida, a tropicália é dele e do Brasil; ajudou a fundar o neoconcretismo. As escolas de samba, as maquetes, Nova York, os ensinamentos de seu avô, José Oiticica (Zé Oiticica, anarquista, graças a Deus). Pois é, de repente eu estava na pauliceia querendo que a poeira do brilho varresse o país. Como já disse, pelo menos, Hélio brilhou naquele dia e eu desejava que ele continuasse sempre brilhando. Logo após o happening, a poeira do brilho cessou e eu vi o negror. Desço em Fortaleza em busca do nada, inicio uma campanha em favor de um sorriso bonito e começo a tratar de meus dentes… — SOLON RIBEIRO

SOLON RIBEIRO Crato, CE , 1956 MITOS VADIOS

1978 Instalação Coleção do Artista


página da esquerda “REVOLUÇÃO DE 1932. CARTAZ COM A SIGLA MMDC”

1932 Arquivo/Estadão Conteúdo

“REVOLUÇÃO DE 1932. CARTAZ DE CAMPANHA POPULAR PAULISTA”

1932 Arquivo/Estadão Conteúdo DESFILE DE MILITARES DURANTE AS COMEMORAÇÕES DO IV CENTENÁRIO NO VALE DO ANHANGABAÚ.

1.1.1954 Arquivo/Estadão Conteúdo

“REVOLUÇÃO CONSTITUCIONALISTA DE 1932. SOLDADOS E ENFERMEIRAS HASTEIAM A BANDEIRA DO ESTADO DE SÃO PAULO”

1.1.1932 Arquivo/Estadão Conteúdo

SOLDADOS POSAM EM FRENTE AO QUARTEL DE ALISTAMENTO DURANTE A REVOLUÇÃO CONSTITUCIONALISTA DE 1932.

1.1.1932 Arquivo/Estadão Conteúdo

página da direita

ROLANDO DE FREITAS/ ESTADÃO CONTEÚDO CONCENTRAÇÃO NO LARGO DE SÃO FRANCISCO DA PASSEATA DOS ESTUDANTES CONTRA O GOLPE MILITAR DE 1964

2.4.1968 Arquivo/Estadão Conteúdo

A BATALHA NA RUA MARIA ANTÔNIA. A CAMISA DE JOSÉ GUIMARÃES É MOSTRADA EM FRENTE ÀS GALERIAS DA AVENIDA SÃO JOÃO

1.1.1968 Arquivo/Estadão Conteúdo

MANIFESTANTES, EM SUA MAIORIA NEGROS, DURANTE PROTESTO CONTRA O RACISMO NA PRAÇA RAMOS DE AZEVEDO, EM FRENTE AO TEATRO MUNICIPAL 7.7.1978

Folhapress

MARCHA DA FAMÍLIA COM DEUS PELA LIBERDADE

25.3.1964 Arquivo/Estadão Conteúdo JUCA MARTINS MANIFESTAÇÃO CONTRA O CUSTO DE VIDA EM SÃO PAULO, SP

1978 Fotografia Coleção do artista



CLAUDIA JAGUARIBE

(Rio de Janeiro, RJ, 1955) CENTRO 2014 Coleção da artista CLAUDIA JAGUARIBE

(Rio de Janeiro, RJ,1955) CENTRO — NOVE DE JULHO 2014 Coleção da artista MARLENE BERGAMO/ FOLHAPRESS ESTUDANTES DESOCUPAM O PRÉDIO DA ESCOLA ESTADUAL CAETANO DE CAMPOS, NA CONSOLAÇÃO

8.10.2016 Folhapress


USUÁRIOS DE DROGAS NA ESQUINA DA RUA HELVÉTIA COM A ALAMEDA DINO BUENO, NA CRACOLÂNDIA, NO BOM RETIRO, NO CENTRO DE SÃO PAULO

5.12.2016 Fotografia colorida Folhapress

DANILO VERPA/FOLHAPRESS POLICIAIS MILITARES ENTRAM EM CONFRONTO COM USUÁRIOS DE DROGAS NA REGIÃO DA CRACOLÂNDIA, NO CENTRO DE SÃO PAULO

23.2.2017 Folhapress

NIELS ANDREAS/ESTADÃO CONTEÚDO “MENINO DE RUA NA REGIÃO DA CRACOLÂNDIA”

19.10.2007 Arquivo/Estadão Conteúdo


ATESTADO DE ÓBITO

5.2.2009 Cópia de atestado de óbito original do jornalista Vladimir Herzog, morto em 1975. Coleção Instituto Vladimir Herzog

ATESTADO DE ÓBITO

1.3.2013 Retificação da anotação da causa morte em 1975 do jornalista Vladimir Herzog, por iniciativa da Comissão Nacional da Verdade. Coleção Instituto Vladimir Herzog


SESC — SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO ADMINISTRAÇÃO REGIONAL NO ESTADO DE SÃO PAULO PRESIDENTE DO CONSELHO REGIONAL

Abram Szajman DIRETOR DO DEPARTAMENTO REGIONAL

Danilo Santos de Miranda SUPERINTENDÊNCIAS TÉCNICO-SOCIAL

Joel Naimayer Padula COMUNICAÇÃO SOCIAL Ivan Giannini ADMINISTRAÇÃO Luiz Deoclécio Massaro Galina Sérgio José Battistelli

ASSESSORIA TÉCNICA E DE PLANEJAMENTO

GERÊNCIAS

ARTES VISUAIS E TECNOLOGIA Juliana Braga de Mattos ADJUNTA Nilva Luz ASSISTENTES Carolina Barmell, Juliana Okuda, Kelly Teixeira e Leonardo Borges ESTUDOS E DESENVOLVIMENTO Marta Colabone ADJUNTO Iã Paulo Ribeiro ASSISTENTE Diogo de Moraes ARTES GRÁFICAS Hélcio Magalhães ADJUNTA Karina Musumeci ASSISTENTES Rogerio Ianelli, Gabriela Borsoi e Tina Cassie GERÊNCIA DE DIFUSÃO E PROMOÇÃO Marcos Carvalho ADJUNTO Fernando Fialho ASSISTENTE Aline Ribenboim

SESC 24 DE MAIO

GERENTE Paulo Casale ADJUNTO Thiago Freire PROGRAMAÇÃO Suamit Barreiro (coordenação) Simone Wicca, Isabella Bellinger, Suelen Pessoa, Valeria Boa Sorte Amorim ALIMENTAÇÃO Adriana Iervolino da Cunha SERVIÇOS Eduardo Bianco INFRAESTRUTURA José Artur Simões Amaro COMUNICAÇÃO Cristina Tobias ADMINISTRATIVO Rodrigo Souza

SÃO PAULO NÃO É UMA CIDADE — INVENÇÕES DO CENTRO

Paulo Herkenhoff COCURADORIA Leno Veras CONSULTORIA DE CONTEÚDOS Ana Castro e Joana Mello PROGRAMA A Casa Tombada EXPOGRAFIA Isabel Xavier EQUIPE Antonio Neto, Clara Kanazawa e Cláudia Afonso COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO arte3 – Ana Helena Curti PRODUÇÃO EXECUTIVA Regina Viesi e Rodrigo Primo ASSISTÊNCIA DE PRODUÇÃO Eduardo Toni Raele APOIO DE PRODUÇÃO Michaela Kirsten Giraldella Barros ADMINISTRATIVO João Calmon PROJETO LUMINOTÉCNICO Guilherme Bonfanti ASSISTENTE Danielle Meireles ESTAGIÁRIO Paulo Abe IDENTIDADE VISUAL Raul Loureiro e Claudia Warrak PROJETO DE MULTIMÍDIA E SONORIZAÇÃO A3 Koncept + The Force DIREÇÃO EXECUTIVA E COMPOSIÇÃO Antonio Curti e Luciano Ferrarezzi PRODUÇÃO EXECUTIVA Arthur Boeira EQUIPE Breno Brasil, Bruno Dicolla, Caio Carreira, Fernando Dall’anese, Lorena Green, Lucas Cardoso, Raquel Uendi MUSEOLOGIA Denyse L .A .P. da Motta EQUIPE Ana Carolina Laraia Glueck, Bernadete Ferreira e Rosa Esteves DOCUMENTAÇÃO FOTOGRÁFICA Caio Motta e José Carlos Glueck CENOTECNIA Metro Cenografia – Adão Siqueira, Mauro Coelho e Quindó Oliveira RÉPLICAS DE GARÇONNIÈRE, MARCO ZERO E SÍMBOLO DO IV CENTENÁRIO Dimitri Kuriki EQUIPE Jamaira Pacheco, Pedro de Santana, Tico Taques e Wilson Castro ILUSTRAÇÕES MAPA DO CAFÉ, MAPA DE RAMOS DE AZEVEDO Dárkon Roque e Laura Nakel MONTAGEM FINA Lee Garrow Dawkins (coordenação) EQUIPE Alexeim Lobo Colin, Caio Pascuzzi, Cristian Ramcke, Elvis Vasconcelos Moreira, Hélio Bastsch, Jonathas Bastos Junior, Ronaldo Gomes Barbosa e Willians P. da Silva PROJETO DE ENGENHARIA ELÉTRICA HIT Engenharia PROJETO DE ENGENHARIA ESTRUTURAL Companhia de Projetos ILUMINAÇÃO Stage Luz e Magia AUDIOVISUAL Maxi Audio AMPLIAÇÕES FOTOGRÁFICAS E TRATAMENTO DE IMAGENS Laboratório Silvio Pinhatti REVISÃO DE TEXTOS Marca-Texto Editorial TRANSPORTE ArtWorld/ D-log ASSESSORIA DE IMPRENSA Sylvio Novelli Assessoria em Comunicação CURADORIA

EDUCATIVO

CAPA FELIPE RAU/ ESTADÃO CONTEÚDO “ MONUMENTO ÀS BANDEIRAS , DE VICTOR BRECHERET, É PICHADO”

1.10.2013

CONTRACAPA DANIEL TEIXEIRA/ ESTADÃO CONTEÚDO “ MONUMENTO ÀS BANDEIRAS , DE VICTOR BRECHERET, É PICHADO”

3.10.2013 Arquivo/Estadão Conteúdo


SESC 24 DE MAIO Rua 24 de Maio, 109, República | São Paulo | CEP 01041-001 Tel.: (11) 3350-6300 facebook.com/sesc24demaio instagram.com/sesc24demaio

sescsp.org.br/24demaio visitação

Terça a sábado, das 9h às 21h Domingo e feriado, das 9h às 18h Espaço expositivo — 5º andar Entrada gratuita Agendamento para grupos: agendamento@24demaio.sescsp.org.br


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