7 Leituras junho

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13o ano

77 7diretores autores

teatrodoabsurdo

Leituras

PASTICHES Tom Stoppard Concepção e Direção Geral Eugênia Thereza de Andrade Direção Nelson Baskerville



Teatrodoabsurdo*

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termo Teatro do Absurdo foi criado pelo crítico Martin Esslin (1918/2002), que assim intitulou seu livro de 1961. A intenção era agrupar, sob esta designação, as obras dramáticas do pós-guerra que colocavam em evidência o nonsense da vida cotidiana, a incomunicabilidade generalizada e, em suma, o absurdo da vida contemporânea, que se caracteriza pela fragmentação da personalidade e a busca inútil e incessante de algum sentido na existência. As primeiras manifestações do Teatro do Absurdo propriamente dito foram as peças Esperando Godot (1953), de Samuel Beckett e A Cantora Careca (1949), de Eugène Ionesco. Na primeira, a falta de sentido e a incomunicabilidade são levadas às raias da incompreensão. Já o texto de Ionesco desmascara de forma cômica o nonsense do cotidiano. Ambas as peças causaram escândalo ao estrearem e iniciaram uma verdadeira revolução na linguagem da dramaturgia. O Teatro do Absurdo teve muita repercussão no Brasil, até porque em muitos aspectos, a realidade brasileira em muito se aproxima do mundo sem nexo e sem saída retratado por esta corrente a cada dia mais contemporânea.

Frederico Barbosa poeta SP, 30/1/2019 * O Teatro do Absurdo de Martin Esslin. Edição atualizada (2018) – Zahar Editores


p a s t i c h e s Tom Stoppard

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dramaturgo inglês nascido na República Tcheca, Tom Stoppard, encontrou na biografia de James Joyce escrita por Richard Ellman tanto a ambientação quanto a trama principal da peça Pastiches, aqui apresentada na brilhante tradução de Marco Antônio Pâmio. O autor do Finngan’s Wake e sua esposa Nora moraram em Zurique, na neutra Suíça, fugindo da Primeira Guerra Mundial, entre 1915 e 1919. Assim Ellman descreve o ambiente na cidade que o casal Joyce encontrou: ”a cidade estava repleta de refugiados, alguns eram negociantes, outros, exilados políticos e outros eram artistas. A atmosfera de experimentação literária colaborou para Joyce redigir o Ulisses. Em 1916 no Cabaré Voltaire, na cidade velha, o movimento dadaísta foi criado por Tristan Tzara, Hans Arp e outros. (...) Havia excitação política também. No Café Odéon, ao qual Joyce ia com frequência, Lenin era um freguês constante e em certa ocasião, diz-se, os dois teriam se encontrado.” Mais do que o ambiente fértil, foi um curioso incidente relatado por Ellman que chamou a atenção de Stoppard: ao produzir uma apresentação da peça A Importância de ser Prudente, de Oscar Wilde, James Joyce envolveu-se em uma briga por dinheiro que chegou aos tribunais com o funcionário do consulado


britânico em Zurique, o ex-combatente inglês Henry Carr, que trabalhou como ator principal na montagem. Stoppard então imagina as memórias de Carr, décadas depois, rememorando ou criando encontros com Joyce. Lenin e Tzara, assim como com as personagens femininas Cecily e Gwendolen, claramente inspiradas nas protagonistas homônimas da peça de Wilde. Assim, costurando o texto com pastiches de poemas de Tzara, discursos de Lenin, trechos do Ulisses de Joyce, versos de Shakespeare, títulos de obras de Gilbert e Sullivan e cenas de A Importância de ser Prudente, de Oscar Wilde, Stoppard experimenta diversos gêneros dramáticos em Pastiches, para, por meio das ideias dos seus protagonistas, desenvolver algumas das mais pungentes discussões sobre as relações entre arte, política e sociedade já apresentadas no teatro.

Frederico Barbosa Poeta


Quando a Inglaterra estava em guerra alguém do governo sugeriu ao Primeiro-ministro cortar o financiamento das artes ao que Winston Churchill apenas respondeu:

“Se cortarmos o financiamento das artes, então estamos lutando para quê?”.


No momento ĂŠ o que temos a dizer.

SP, 17 de maio de 2019.


t o m s t o p p a r d

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om Stoppard nasceu Tomás Straüssler em 1937, na então Checoslováquia. Com a invasão nazista do país, a família foge para Singapura e depois para a Índia. Com a morte do pai, sua mãe casa-se com o major britânico Kenneth Stoppard, de quem adota o sobrenome. Já na Inglaterra, deixou os estudos formais aos 17 anos para se dedicar ao jornalismo e posteriormente à dramaturgia. A primeira das suas 36 peças montadas até hoje (21 na Broadway) foi o enorme sucesso Rosencrantz e Guildenstern Estão Mortos. É hoje um dos mais celebrados dramaturgos e roteiristas do mundo. Ganhou um Oscar com o roteiro de Shakespeare Apaixonado. Em 2008 o autor veio ao Brasil a convite da Festa Literária Internacional de Paratl (FLIP), quando encontrou-se com o diretor Caetano Vilela, que estava interessado em montar sua peça Pastiches. Durante o encontro, que durou algumas horas, Stoppard demonstrou-se acessível, amável e cedeu a Caetano os direitos autorais da peça Pastiches, nossa leitura de hoje. Marco Antônio Pâmio foi encarregado da tradução da peça. Mesmo dominando o inglês e fazendo um trabalho impecável de pesquisa, percebeu que o trabalho não era simples. Por isso, foi ao encontro do escritor em Londres. Como Caetano Vilela, Pâmio também ficou surpreso com a disponibilidade, a


Stop par d

gentileza e a simpatia do autor. Juntos, solucionaram as questões da língua e, como a peça original dura 4 horas, chegaram a adaptá-la para o nosso padrão de peças mais curtas. Mas o que mais tocou o tradutor foi o fato de Tom Stoppard ficar admirado ao ver que num país tão distante havia gente interessada em sua obra, artistas de um país tão distinto como o Brasil.

Eugênia de Andrade A partir de depoimentos de Caetano Vilela e Marco Antônio Pâmio São Paulo, junho de 2019.

Marco Antônio Pâmio e Tom Stoppard


7 L EI T UR A S ,7A U T ORE S ,7 DIRE T ORE S 13º Ano – Teatro do Absurdo

CONCEPÇÃO E DIREÇÃO GERAL EUGÊNIA THEREZA DE ANDRADE SELEÇÃO DE TEXTOS Eugênia de Andrade, Mika Lins, Marco Antônio Pâmio e Frederico Barbosa PASTICHES Tom Stoppard TRADUÇÃO Marco Antônio Pâmio DIREÇÃO Nelson Baskerville ELENCO / PERSONAGENS Débora Duboc NADIA

Fábio Espósito HENRY CARR Fernando Paz TZARA Maíra Chasseraux GWENDOLEN Maíra Dvorek CECILY

Marcello Airoldi JOYCE Marcelo Galdino LENIN Tiago Leal BENNETT AMBIENTAÇÃO CENOGRÁFICA Mika Lins ADEREÇOS E FIGURINOS Jorge Luiz Alves ILUMINAÇÃO Vitória Pamplona FOTOS Edson Kumasaka PRODUÇÃO Messias Lima Jogo Estúdio


PRÓXIMAS LEITURAS:

Rinoceronte Eugène Ionesco Direção: Caetano Vilela 28/maio Pastiches Tom Stoppard Direção: Nelson Baskerville 25/junho Coração Partido Caryl Churchill Direção: Marco Antônio Pâmio 30/julho

Esperando Godot Samuel Beckett Direção: Eugênia Thereza de Andrade 27/agosto Piquenique no Front Fernando Arrabal Direção: Oswaldo Mendes 24/setembro O Zelador Harold Pinter Direção: Kiko Marques 29/outubro Ping Pong Arthur Adamov Direção: Eric Lenate 26/novembro


7 Leituras 7 Autores 7 Diretores Teatro do Absurdo Pastiches – Tom Stoppard 25/6/2019, terça, 19h30. Teatro Anchieta Duração: 80 min.

Sesc Consolação Rua Dr. Vila Nova, 245 01222-020 São Paulo - SP Higienópolis-Mackenzie Tel: (11) 3234-3000 / sescconsolacao

sescsp.org.br/consolacao


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