A Biblioteca à Noite

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3 DE OUTUBRO DE 2018 A 10 DE FEVEREIRO DE 2019 Terça a sábado, das 10h30 às 21h Domingos e feriados, das 10h30 às 18h30 Vagas limitadas. Reserva online antecipada. Mais informações em sescsp.org.br/avenidapaulista

Sesc Avenida Paulista Avenida Paulista, 119 Tel.: 11 3170 0800 /sescavpaulista

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SESC – SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO Administração Regional no Estado de São Paulo PRESIDENTE DO CONSELHO REGIONAL Abram Szajman DIRETOR DO DEPARTAMENTO REGIONAL Danilo Santos de Miranda

A PALAVRA COMO LEGADO E MISSÃO As bibliotecas exercem um verdadeiro fascínio no imaginário das pessoas como lugares de guarda de memórias e produções da humanidade. A questão central envolve a tentativa de preservar, através da palavra, ou em tributo a ela, as sabedorias e também os obscurantismos protagonizados há séculos. Fontes ilimitadas de informação, enigmas da história e de conhecimentos múltiplos, esses espaços parecem revelar e esconder ao mesmo tempo. O que contam sobre nós as nossas coleções pessoais de livros? Quais segredos escondem as bibliotecas do mundo todo? Robert Lepage, sua companhia Ex Machina e o escritor Alberto Manguel acreditam que a biblioteca é uma floresta a ser adentrada com respeito, em silêncio, de modo que somente o movimento dos olhos já escolha um caminho a ser percorrido. Depois de ter participado desta experiência sensível que é A biblioteca à noite em junho de 2017, em Paris, me convenci que esta criação instiga outras relações com o livro, a leitura e o leitor no mundo contemporâneo. Provocar interações com os territórios misteriosos e movediços das narrativas subjetivas, mediadas por recursos multissensoriais e elementos de realidade expandida pode reter a nossa atenção e nos preparar para uma jornada literária convencional e muito mais profunda. Em um tempo de mudanças aceleradas e diferentes maneiras de acessar entendimentos e práticas, reinventar a aproximação e a descoberta dos lugares de preservação de repertórios vinculados à palavra demonstra compromisso com as atuais e futuras gerações. Estas são ações cultivadas pelo Sesc, em consonância com sua missão institucional que, em parceria com órgãos oficiais do Canadá e da França, está convicto dos processos educativos permanentes como instrumentos de inclusão e desenvolvimento social. DANILO SANTOS DE MIRANDA Diretor do Sesc São Paulo

A BIBLIOTECA COMO EPIFANIA Há alguns anos tenho um sonho recorrente. Estou em uma biblioteca – pouco iluminada tal como era a minha na França, com abajures verdes, teto alto, quase invisível – e caminho implacavelmente pelos corredores cobertos de livros, imaginando quais são os volumes que distingo pela lombada. Percebo que esses livros imaginários são um sonho no sonho e começo a reconstruir mentalmente os textos que acredito ter lido, os que eu gostaria de ler um dia ou os que li e esqueci, em um tipo de ressurreição forçada. O ritual da ressureição é sem dúvida mais comum do que gostaríamos de admitir e ocorre de mil maneiras. No início de 2015, pouco antes de tomar a decisão de desmontar e embalar minha biblioteca e partir da França para sempre, a diretora do programa cultural da Biblioteca e Arquivos Nacionais do Quebec, Nicole Vallières, escreveu para mim dizendo que gostaria de comemorar o décimo aniversário da instituição com uma exposição em torno de um

dos meus livros, A biblioteca à noite. Aceitei com entusiasmo, mas sugeri que, em vez de expor meu exemplar impresso e o manuscrito (o que na minha opinião seria uma exposição um tanto entediante), ela pedisse a Robert Lepage para imaginar um espetáculo a partir do livro. Lepage, um dos maiores diretores de teatro do mundo, está sempre envolvido em muitos projetos, mas, para nossa alegria, ele aceitou e começou a conceber uma criação interativa sobre o tema das bibliotecas. Eu conhecia o Lepage das produções de suas primeiras peças em Toronto, em meados dos anos 1980, e desde então acompanhei grande parte de seu trabalho, mas nunca pensei em colaborar com ele em um projeto. O resultado (inteiramente criado por Lepage) estreou no dia 27 de outubro de 2015 e foi milagroso. O público descia para uma das salas de exposição da biblioteca e era levado em pequenos grupos a um outro ambiente, que reproduzia com imaginação minha biblioteca perdida na França. Depois de escutar uma breve reflexão sobre a natureza das bibliotecas, os visitantes recebiam óculos 3D e eram conduzidos a um outro espaço maior, cheio de bétulas altas sobre um tapete de folhas espalhadas (aparentemente arrancadas dos meus livros), com longas mesas onde eles eram convidados a se sentar. Com os óculos 3D diante dos olhos, ele viam dez símbolos diferentes que lhes permitiam escolher visitar uma das dez bibliotecas célebres: a da Abadia de Admont, na Áustria; a de Alexandria; a do Congresso, na cidade de Washington; a Biblioteca Real da Dinamarca, em Copenhague; a Biblioteca Vasconcelos, no México; a Biblioteca Nacional da Bósnia e Herzegovina, em Sarajevo; a Biblioteca do Parlamento de Ottawa; a Biblioteca Sainte-Geneviève, em Paris; a do templo de Hasa-dera, no Japão; e – porque as bibliotecas imaginárias têm seu lugar legítimo no mundo – aquela do capitão Nemo a bordo do Nautilus. Visitar essas bibliotecas graças à magia dos óculos 3D foi uma experiência alucinante. Perdíamos a sensação do corpo, do chão sob nossos pés, dos outros visitantes, e acreditávamos que estávamos realmente em uma dessas salas veneráveis, rodeados por milhares de livros preciosos e alguns leitores fantasmas. Quanto a mim, foi a primeira sala a que mais me tocou. Depois de ter dito adeus à casa na qual eu havia vivido tanto tempo e embalado meus livros sem saber quando os reveria, fiquei comovido ao ver as estantes reconstituídas, as paredes de pedra e as pequenas janelas riscadas de rajadas de chuva , como também me comovi com a aparição do fantasma de um caro amigo falecido. Eu sentia que a biblioteca que eu havia perdido tinha sido transformada em uma outra, símbolo agora compartilhado de algo que eu vagamente entendia mas que sabia verdadeiro. O deus Proteu pode mudar de forma até que alguém o pegue e imobilize: podemos, então, ver como ele realmente era, uma combinação de todas as suas metamorfoses. Assim aconteceu com minha biblioteca. Ela havia mudado, tinha se dissolvido, sido remontada e desaparecido de novo, até o momento em que a versão imaginária foi evocada diante de mim. Ela deixou então de ser uma esperança, uma hipótese corajosa, um lugar material e passou a ser, graças a Lepage, com uma convicção surpreendente, uma epifania. ALBERTO MANGUEL

Biblioteca da Abadia de Admont | Áustria

Biblioteca de Nautilus | 20.000 Léguas submarinas

Construída no Iluminismo, a maior biblioteca monástica do mundo é dividida em três partes. Em um dos extremos, guarda a literatura sobre ciência e, no outro, os tratados de filosofia. No centro estão as bíblias, árbitros supremos de todas as questões que confrontam a humanidade. Os livros estão uniformemente cobertos com pele de porco para que não distraiam os frequentadores dos ornamentos da biblioteca. O olhar é induzido ao erro e o visitante é convidado a considerar os objetos e as ideias além de sua aparência imediata.

A biblioteca do capitão Nemo contém 12 mil obras de ciência, moral e literatura escritas em uma multiplicidade de línguas. Três características a definem: em primeiro lugar, não há livros de economia política, porque nenhuma teoria política satisfaz este leitor; em segundo lugar, a classificação dos livros é arbitrária, misturando assuntos e línguas sem ordem aparente, como se o capitão lesse o que sua mão encontrasse por acaso; e, finalmente, sobre suas estantes submarinas não há livros novos.

A mãe de todas as bibliotecas nasceu da vontade dos primeiros faraós ptolomaicos de reunir todo o conhecimento existente para reinar sobre o mundo de sua época. A biblioteca se transformou, de um lugar que concentraria o saber, para um espaço de poder e ambição. O fogo é frequentemente mencionado nas várias versões sobre seu desaparecimento e, metaforicamente, poderia ser traduzido como o destruidor da ambição em acumular todo o conhecimento em um só lugar, bem como de o ser humano desejar estar no centro de todas as coisas. A nova Biblioteca de Alexandria, inaugurada em 2002, foi erigida onde supostamente estava a biblioteca mítica.

Templo de Hase-dera | Japão

Biblioteca do Parlamento de Ottawa | Canadá

Biblioteca do Congresso | Estados Unidos

Ela ostenta um austero e magnífico estilo vitoriano e consiste essencialmente de documentos legais. Sua coleção contém uma obra rara cujo valor é proporcional ao seu esplendor: Os pássaros da América, do naturalista John James Audubon, adquirida há mais de 150 anos para oferecer aos parlamentares acesso a obras de grande valor artístico. Suas gravuras em tamanho real ilustram os pássaros mais bonitos da América. A experiência baseia-se na presença inesperada de pássaros coloridos entre o acúmulo de documentos que define a identidade legal e constitucional do Canadá.

A cidade de Washington se estende em uma vista de 360° em torno do visitante através das janelas circulares da cúpula deste edifício. A cidade evocaria uma nova Grécia em suas arquiteturas que remetem ao chamado berço da civilização ocidental. No entanto, no coração da sala de leitura vemos a mesa do bibliotecário chefe, onde cada leitor está potencialmente sob o olhar deste profissional, como em uma estrutura panóptica. Tal vigilância simbólica se soma aos inevitáveis sistemas de classificação arbitrária da biblioteca, aos quais os leitores também estão sujeitos.

Em Kamakura, no início da era Edo, no século XVI, a maioria da população japonesa não sabia ler nem escrever. Para assegurar o compartilhamento do saber religioso, monges budistas criaram o rinzo, uma imensa prateleira giratória que desencadeia o tilintar de sinos que são fixados a ela para espantar os maus espíritos que assombram a biblioteca. Monges copistas registravam as palavras de Buda com ajuda de peregrinos e, ainda hoje, as orações escritas por visitantes são primeiramente armazenadas ao lado dos 5.400 sutras de Buda exibidos permanentemente. Uma vez por ano este rinzo é esvaziado e pode receber novos pedidos dos fiéis.

Biblioteca de Alexandria | Egito

SUPERINTENDENTES TÉCNICO-SOCIAL Joel Naimayer Padula COMUNICAÇÃO SOCIAL Ivan Giannini ADMINISTRAÇÃO Luiz Deoclécio Massaro Galina ASSESSORIA TÉCNICA E DE PLANEJAMENTO Sérgio José Battistelli GERENTES ARTES VISUAIS E TECNOLOGIA Juliana Braga de Mattos AÇÃO CULTURAL Rosana Paulo da Cunha RELAÇÕES INTERNACIONAIS Aurea Leszczynski Vieira Gonçalves ESTUDOS E DESENVOLVIMENTO Marta Colabone ARTES GRÁFICAS Hélcio Magalhães ASSESSORIA DE IMPRENSA Ana Lúcia De La Vega ASSESSORIA JURÍDICA Carla Bertucci Barbieri SESC AVENIDA PAULISTA Felipe Mancebo

A BIBLIOTECA À NOITE CONCEPÇÃO Robert Lepage COCONCEPÇÃO E DIREÇÃO DE CRIAÇÃO Steve Blanchet AUTORIA E COCONCEPÇÃO Alberto Manguel CENOGRAFIA Marie-Renée Bourget Harvey ASSISTÊNCIA DE CENOGRAFIA Marie Mc Nicoll CONCEPÇÃO SONORA Jean-Sébastien Côté ILUMINAÇÃO Light Factor EFEITOS VISUAIS Volta SUPERVISÃO DE EFEITOS VISUAIS Nicolas-Denis Robitaille DIREÇÃO DO DEPARTAMENTO DE COMPOSIÇÃO Nathalie Girard CHEFIA DE EQUIPE DE ARTE EM 3D Éric Maltais CENOGRAFIA DIGITAL Richard Bergeron DIREÇÃO DE FOTOGRAFIA Sébastien Gros DIREÇÃO DE PRODUÇÃO Julie Marie Bourgeois e Catherine Comeau ASSISTÊNCIA DE DIREÇÃO DE PRODUÇÃO Valérie Lambert DIREÇÃO TÉCNICA Pauline Schwab e Michel Gosselin ASSISTÊNCIA DE DIREÇÃO TÉCNICA Dominique Hawry CONSULTORIA TÉCNICA Catherine Guay, David Leclerc, Patrick Durnin e Stanislas Elie MAQUINARIA E MONTAGEM TÉCNICA Jean-Félix Labrie COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO / FILMAGEM Vanessa Landry-Claverie REDAÇÃO Thierry Audin CONSTRUÇÃO DE CENÁRIO Hugues Bernatchez, Éric Leblanc, Danny Rochette e Gabriel Rochette AJUDANTE Tony Hamelin AGENCIAMENTO DE ROBERT LEPAGE Lynda Beaulieu PRODUÇÃO / EX MACHINA Michel Bernatchez, com assistência de Vanessa Landry-Claverie CONCEPÇÃO E PRODUÇÃO Ex Machina AGENCIAMENTO EUROPA E JAPÃO Epidemic (Richard Castell com assistência de Chara Skiadelli, Florence Berthaud e Claire Dugot) AGENCIAMENTO AMÉRICAS, ÁSIA (exceto JAPÃO), OCEANIA E NOVA ZELÂNDIA Menno Plukker Theatre Agent (Menno Plukker, com assistência de Dominique Sarrazin, Isaïe Richard e Magdalena Marszalek) Exposição concebida e realizada por Ex Machina a partir de uma ideia original da Biblioteca e Arquivos Nacionais de Quebec Ex Machina é subvencionada pelo Conselho de Artes do Canadá, Conselho de Artes e Letras do Quebec e da Cidade de Quebec

PRODUÇÃO NO BRASIL EQUIPE SESC Adriana Souza, Carolina Barmell, Heloisa Pisani, Hugo Cabral Carneiro, Kelly Teixeira, Leonardo Borges, Lilian Sales, Juliana Santos, Roberta Della Noce, Tiago Marin e Tina Cassie DIREÇÃO DE PRODUÇÃO Andrea Caruso Saturnino

Biblioteca Vasconcelos | México

Biblioteca Nacional e Universitária | Bósnia e Herzegovina

Construída em um leito de um lago seco no vale do México, a biblioteca pode primeiramente ser vista como uma enorme arca moderna onde livros, prateleiras e conhecimento flutuam no espaço, e à qual as pessoas podem se agarrar em caso de terremoto ou dilúvio, afastando as ameaças sísmicas que atormentam a região. As prateleiras são modulares e as seções de armazenamento dos livros podem se dilatar, expandir ou contrair conforme a necessidade. Diante dos problemas de espaço e tempo causados pelo acúmulo de documentos, sua arquitetura inova e propõe uma atuação similar às bibliotecas digitais.

O edifício foi construído no final do século XIX para sediar a prefeitura de Saravejo. Nesta época, a cidade abrigava muitos grupos religiosos e, assim como sua população, sua arquitetura combinava estilos e culturas. Em 1945, o local tornou-se biblioteca e ponto de encontro entre as culturas da Bósnia, Sérvia e Croácia, até sua quase total destruição na guerra civil de 1992. Neste período, o violoncelista Vedran Smailovic tocou repetidamente em suas ruínas para tentar, à sua maneira, resistir à destruição por meio da música. O edifício restaurado foi inaugurado em 2014.

PRODUÇÃO EXECUTIVA João Moreira TRADUÇÃO DOS TEXTOS Beatriz Sayad NARRAÇÃO Rodrigo Bolzan PROJETO DE ILUMINAÇÃO E DIREÇÃO TÉCNICA André Boll EQUIPE TÉCNICA Adilson Reis, Enrique Casas, Evaristo Moura, Everton Medeiros, Fernando Albuquerque, Fernando José Zimolo, Helena Cukier, Jimmy Wong, Lara Bordin, Paulo Ricardo Fernandes, Rafael Silva de Alcântara e William Zimolo PROJETO ARQUITETÔNICO Alvaro Razuk CONSTRUÇÃO DE PAREDES Cenotech DESIGN GRÁFICO Érico Peretta COORDENAÇÃO EDUCATIVA Casa Tombada ILUSTRAÇÕES/EDUCATIVO Heloísa Etelvina ASSESSORIA DE IMPRENSA Buriti Comunicação PRODUÇÃO E AGENCIAMENTO NO BRASIL Performas Produções

concepção

produção

apoio

Biblioteca Real | Dinamarca Construída em 1855, quando despontava a arquitetura neogótica, a Biblioteca de Ciências Sociais da Universidade de Copenhague é hoje um espaço situado num tempo passado, composta de livros perdidos em prateleiras, sem endereço, que são chamados de livros mortos. Esses livros não estão classificados nem listados e, portanto, não podem ser consultados. Sua utilidade atual é estética e acústica e seu valor é puramente patrimonial. Em uma biblioteca, e talvez ainda mais nesta, a presença de fantasmas é implícita, já que a memória se faz onipresente.

Biblioteca Sainte-Geneviève | França À época de sua inauguração, em meados do século XIX, o edifício foi testemunha de avanços tecnológicos, como o início do uso de elementos estruturais em ferro fundido e a introdução da iluminação a gás, que permitiu estender o horário de funcionamento da biblioteca para além da luz natural do sol. É uma obra do arquiteto Henri Labrouste, que desenvolveu sua dimensão simbólica a partir da alternância entre noite e dia, revelando a relação dual do conhecimento com a claridade da visão. Tais indicações denotam a tensão entre a razão e a intuição, o conhecimento prático e o conhecimento teórico.

realização

Consulte as atividades integradas à exposição no Portal sescsp.org.br/avenidapaulista


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