Tá Na Lista! 2018

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LITERATURA

MAIO A NOVEMBRO | 2018

TÁ NA LIS TA!

LIVROS PARA O VESTIBULAR


TÁ NA LIS TA!

Para deixar os vestibulandos ainda mais por dentro das obras exigidas pelas universidades mais concorridas do país, Tá na Lista! traz ao Sesc Campinas um time de especialistas para comentar e analisar estes livros. A cada encontro, após a fala de um professor convidado, ocorre também uma oficina de interpretação, com leituras e análises de passagens específicas do texto estudado.


INSCRIÇÕES Retirada de ingressos na Central de Atendimento no dia da atividade. Sábados, das 10h às 13h. Grátis. Não recomendado para menores de 16 anos.

ATIVIDADES As atividades duram três horas e acontecem entre os meses de maio e novembro de 2018 (com interrupção em parte do mês de julho), sempre aos sábados, entre 10h e 13h. Os encontros são divididos em dois blocos (com formatos diferentes de abordagem), tendo entre estes um intervalo de 15 minutos. Ao final de cada atividade, uma oficina de interpretação coordenada por Mário Martinez e Cléo Ferreira. Em algumas datas, a oficina de interpretação tem o complemento de uma atividade artística.

BATE-PAPO SOBRE A OBRA Durante cerca de uma hora um especialista em literatura, estudioso da obra em debate, aponta os principais aspectos do texto (contextuais, estilísticos, estéticos, etc.). Tal abordagem apresenta um viés mais acadêmico, focado na tendência do que vem sendo exigido atualmente pelos exames vestibulares.

OFICINA DE INTERPRETAÇÃO Após a fala do especialista, outro professor de literatura coordena atividades de interpretação e leitura de passagens representativas do texto. Nesta atividade estão previstas leituras interativas, perguntas e respostas, bem como resolução comentada de questões referentes à obra em debate cobradas em vestibulares anteriores.

INTERVENÇÕES ARTÍSTICAS Para contribuir na fruição de algumas obras, em algumas datas estão previstas atividades artísticas envolvendo música e teatro, com performances inspiradas na obra em estudo.

Fotos: Nilton A. Bergamini


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O CORTIÇO

MAYOMBE

“O Cortiço é daqueles livros que a maioria das pessoas lê ainda no ensino básico e comigo não foi diferente. Lembro do impacto que senti ao adentrar no universo tão diferente e, ao mesmo tempo, tão rico daquele espaço que divide nossos sentimentos entre a repulsa e a atração total. A sensação causada pelo meio que determina as ações dos personagens faz com que olhemos para as páginas de Aluíso Azevedo (1857-1913) com admiração. O autor é hábil em nos fazer sentir como parte daquele aglomerado alegre e extrovertido, mas, ao mesmo tempo, sofrido, e pertencente às classes mais baixas da sociedade carioca da segunda metade do século XIX. Os tipos humanos, suas angústias e seus anseios são convites irrecusáveis para que deixemos nossa zona de conforto para conhecer as riquezas e mazelas de nosso povo.” uuDia: 5/5. Mediação de Lisângela Peruzzo.

“O contato com Pepetela e sua literatura se deu ainda nos primeiros anos de minha graduação na Universidade de São Paulo. Mayombe foi o segundo romance angolano que li e seu impacto na minha decisão de aprofundar o estudo das literaturas africanas de língua portuguesa foi enorme. Acredito que o gosto pela temática da guerra, que seria foco mais tarde de meu doutorado, surgiu ali. A figura do Comandante Sem Medo cativou minha atenção ao deixar latente a fragilidade do ser humano, mesmo quando revestido de coragem e espírito de liderança. O desejo de liberdade que avivava aquele grupo de guerrilheiros, o qual lutava de dentro da floresta Mayombe contra as forças de Portugal, foi profundamente inspirador. Essa obra é um convite a conhecer um universo diferente do nosso, rico de experiências, que desperta o que há de mais humano em cada um de nós.” uuDia: 12/5. Mediação de Lisângela Peruzzo.

Aluísio Azevedo

Pepetela



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HISTÓRIA DO CERCO DE LISBOA José Saramago

“Em História do Cerco de Lisboa, publicado em 1987, José Saramago (1922-2010), único autor da língua portuguesa detentor de um prêmio Nobel, une literatura e história, aliás, uma das marcas essenciais de sua obra, visíveis em diversos outros livros. Temos, portanto, uma história real e outra fictícia. Valendo-se de seu estilo inconfundível, com a subversão às formas convencionais de pontuação, entre outras marcas, o autor contrapõe duas histórias. Uma delas (a real), é o cerco dos portugueses a Lisboa, liderados por Afonso Henriques, em 1147. A outra (a fictícia) é a do narrador, Raimundo Silva, revisor de livros, que, a partir de um erro proposital, introduz um “não” a um tratado histórico sobre o cerco alterando a verdade sobre o acontecido. A história de amor vivida por Raimundo também se entrelaça com os acontecimentos medievais. Com extrema habilidade, através de recursos como espelhamento e metalinguagem, Saramago estabelece nessa obra um rico questionamento sobre o que seria a verdade histórica. Ou seja, se escrita, é sempre resultante de interpretações e escolhas daquele que a escreve.” uuDia: 19/5. Mediação de Lisângela Peruzzo.

QUARTO DE DESPEJO Carolina Maria de Jesus

“Figura suis generis em nossa literatura, Carolina Maria de Jesus (1914-1977), mulher, negra, com baixa escolaridade e favelada, teve sua obra celebrada por alguns de nossos maiores intelectuais, além de ser traduzida para mais de uma dezena de idiomas. Quarto de Despejo – Diário de uma favelada descreve de maneira crua a vida na periferia, a fome, as dores e os sonhos de alguém alheia à “sala de visitas” da sociedade, relegada ao “quarto de despejo”, ou seja, à vida sofrida nas áreas precárias das grandes cidades. Descoberta em 1958 pelo jornalista Audálio Dantas, que colaborou na seleção e organização dos excertos do livro (interferindo minimamente no texto, mantendo inclusive a grafia original praticada pela autora), a obra foi um sucesso de vendas após seu lançamento, em 1960. Retrato mais que realista de nossa absurda desigualdade social, a obra, de fácil leitura e extremamente impactante, mantém-se plenamente atual, apesar do hiato de mais de meio século que a separa de nossos dias.” uuDia: 2/6. Mediação de Eliane Silva.


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CORAÇÃO, CABEÇA E ESTÔMAGO Camilo Castelo Branco

“A obra, publicada em 1862, é uma novela satírica de Camilo Castelo Branco (1825-1890), maior nome da prosa romântica lusitana. Cada termo do título designa uma das fases da vida de Silvestre da Silva, o protagonista: a primeira, marcada por amores, libertinagens e desilusões; a segunda é dominada pela busca da racionalidade (ou seja, a cabeça sobrepondo-se ao coração) e a terceira marcada pela maturidade e a aceitação da vida simples. Folhetim desenvolvido aos moldes românticos, o livro tem também o caráter ambíguo de representar uma crítica a esse estilo. Vem daí uma de suas riquezas. Nas palavras do crítico Paulo Franchetti, temos, neste livro, “talvez o momento mais luminoso da arte de Camilo, no qual o que dá a solda dos vários episódios soltos e razoavelmente simples é o estilo e o jogo entre as instâncias narrativas e autorais.” Nesse sentido, este livro, dentre todos os de Camilo, talvez seja um dos que reúne mais probabilidades de permanecer como referência viva na história da prosa contemporânea da língua portuguesa.” uuDia: 9/6. Mediação de Lisângela Peruzzo.

IRACEMA

José de Alencar “O livro Iracema, de José de Alencar (18291877), é antes de tudo um clássico, uma das obras fundadoras da nossa tradição literária, a exemplo do que representa Os Lusíadas para a literatura portuguesa. Publicado originalmente em 1865, compõe a chamada “trilogia indianista” do autor, da qual também fazem parte O Guarani (1857) e Ubirajara (1874). Como indica o subtítulo, “Lenda do Ceará”, constrói o mito da origem da terra natal de Alencar (natural da cearense Messejana), e por analogia, romanceia o processo de colonização da América, idealizando o contato entre o nativo e o europeu. Valendo-se de grande habilidade estilística, o autor navega com maestria pela linha divisória entre prosa e poesia, sem perder de vista a grandeza narrativa, desenvolvida na figura da índia da tribo tabajara e sua saga em busca do grande amor, Martim, o branco guerreiro europeu. Da obra, assim falou Machado de Assis: ‘tal é o livro do Sr. José de Alencar, fruto do estudo e da meditação, escrito com sentimento e consciência. Quem o ler uma vez, voltará muitas e mais a ele, para ouvir em linguagem animada e sentida, a história melancólica da virgem dos lábios de mel.” uuDia: 16/6. Mediação de Vitor França Galvão e performance teatral de Samea Ghandour.


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A RELÍQUIA

VIDAS SECAS

“José Maria de Eça de Queirós (1845-1900) é o mestre do Realismo português. Dono de um estilo peculiar – no qual, além do uso de uma linguagem leve, despida do vocabulário rebuscado dos antigos românticos, também sobressai a ironia ácida e a crítica contundente contra os setores conservadores da sociedade portuguesa do final do século XIX – é leitura obrigatória para quem pretende formar um bom repertório sobre nossa tradição literária. Em A relíquia, publicada em 1887, na chamada “fase realista” do autor, tais marcas se evidenciam. O livro retoma a crítica ao clero, já acentuadamente revelada em O crime do padre Amaro (1875), obra que inaugura da segunda fase do autor. Em A relíquia essa crítica é ainda mais enfática, pois ataca, de maneira cômica e virulenta, a beatice e a hipocrisia de uma sociedade fortemente permeada pelo catolicismo. Narrado em primeira pessoa, em forma de memórias, pelo protagonista Teodorico Raposo, o livro também traz tons que já apontam para as novas concepções estéticas do autor, tão visíveis na fase final de sua vida, qual seja, a vazão à fantasia. Não à toa, a obra traz como subtítulo a expressão “sobre a nudez crua da verdade, o manto diáfano da fantasia.” uuDia: 23/6. Mediação de Vitor França Galvão.

“A história de Fabiano, Sinha Vitória, Baleia e os dois meninos sensibiliza pela crueza de suas vidas, perpassada pela miséria extrema e pelas condições climáticas adversas num ambiente de plena exclusão política e econômica. Para além do flagelo natural que se impõe sobre a pobre família, chegando a igualar seus entes à condição animal, Vidas Secas, publicado em 1938, nos faz pensar, sobretudo, nas profundas causas sociais daquela pobreza. O engajamento político de Graciliano Ramos (1892-1953) e sua denúncia não afetam o caráter estilístico do livro. Pelo contrário. Em poucas obras de nossa literatura forma e conteúdo integram-se tão intensamente. A escolha vocabular, o ordenamento das orações, as frases enxutas, assim como o delineamento da focalização psicológica dos personagens articulam-se para que o leitor compartilhe de seus dramas e reflita sobre eles. Escrita num contexto de intensa turbulência política, com o Brasil sob o comando de Getúlio Vargas, a obra mantém-se atual, por também contribuir para a reflexão acerca dos grandes desajustes sociais que ainda maculam nosso país.” uuDia: 30/6. Mediação de Vitor França Galvão.

Eça de Queirós

Graciliano Ramos


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CAMINHOS CRUZADOS Érico Veríssimo

“A segunda fase do modernismo brasileiro, que vai de 1930 até 1945, é caracterizada pela prosa regionalista. Transposto o momento de ruptura e revanchismo contra as marcas do passado, os autores da década de 1930 tiveram mais liberdade para se debruçarem sobre temas de outras envergaduras, aproximandose de assuntos de maior interesse do público. Nos romances, as narrativas trouxeram à tona, em linguagem clara e abrasileirada, o questionamento da realidade social do país, o nosso subdesenvolvimento e indagações filosóficas sobre o destino da humanidade em um período de guerra e incertezas generalizadas. Apesar do sucesso editorial que consagrou autores oriundos do nordeste, como Jorge Amado, Graciliano Ramos, Rachel de Queirós e

José Lins do Rego, não podemos nos esquecer do quanto à obra do gaúcho Érico Veríssimo (19051975) também é significativa deste período. Autor de grande fôlego (haja vista a trilogia O tempo e o vento, além de inúmeras traduções, por exemplo), seus romances transitam por diversas vertentes. No chamado romance urbano, em Caminhos Cruzados (obra de 1935), conforme também aponta Antonio Candido, temos um de seus melhores livros. Histórias entrelaçadas, ao modo da novela, “espécie de mural pintado com pistola automática”, o livro é fruto de refinada percepção social. Leitura prazerosa, tanto pelos aspectos da linguagem quanto pelo enredo cativante, Caminhos Cruzados têm ainda o dom de nos fazer pensar sobre quão frágil é a existência humana.” uuDia: 28/7. Mediação de Mário Martinez.


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MINHA VIDA DE MENINA

O BEM AMADO

“Diário de uma adolescente, entre treze e quinze anos, vivendo em Diamantina, interior de Minas, Minha vida de menina traça um panorama do cotidiano daquele lugar na última década do século XIX. É um retrato histórico, cheio de vida quente, bom humor e originalidade – há que se destacar, também, o olhar feminino, tão raro em nossas letras naquele período. Helena Morley (pseudônimo de Alice Dayrell Caldeira Brant – 1880-1970), filha de pai inglês, só veio a publicar a obra aos 62 anos. Tendo despertado o interesse de autores como Carlos Drummond de Andrade e Guimarães Rosa, o livro foi traduzido para o inglês por Elisabeth Bishop. Leitura para ser apreciada em gomos, como uma saborosa fruta colhida ao pé num pomar viçoso do interior, Minha vida de Menina, devido ao estilo leve e despreocupado, tem sempre o vigor do novo.” uuDia: 4/8. Mediação de Ude Baldan e performance teatral de Samea Ghandour.

“Peça do baiano Dias Gomes (1922-1999), O Bem Amado, publicada originalmente em 1962, é um texto atualíssimo, pois retrata com humor e forte ironia os desmandos do nosso meio político. Demagogia e carisma populista são algumas das marcas mais evidentes em Odorico Paraguaçu, o impagável prefeito de Sucupira – esta, um Brasil em microcosmo. Boas risadas são garantidas com o modo como o protagonista se expressa, através do seu estilo “bonitês”. Obra muito conhecida do grande público em outras versões (foi a 1ª telenovela em cores da televisão brasileira, série televisiva muito popular nos anos 1980 e filme de Guel Arraes, lançado em 2010), O Bem Amado é um dos mais belos exemplos da qualidade da dramaturgia de Dias Gomes – seguramente um dos maiores nomes do teatro brasileiro da segunda metade do século XX.” uuDia: 11/8. Mediação de Ude Baldan.

Helena Morley

Dias Gomes


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AMOR

O ESPELHO

“No conto Amor, de Clarice Lispector (19201977), pertencente ao livro Laços de Família, publicado originalmente em 1960, desfrutamos a grande maturidade do nosso Modernismo, através da sofisticação das técnicas do monólogo interior e a tematização da condição humana, na abordagem extremamente original da autora. Voltando das compras, num dia qualquer, Ana, a protagonista, depara-se com um cego. Esse acontecimento insólito a desestabilizará de tal maneira a ponto de fazerlhe vivenciar um instante único de iluminação.” uuDia: 18/8. Mediação de Ude Baldan e performance teatral de Samea Ghandour.

“Machado de Assis (1839-1908), mestre do Realismo, é nosso craque maior no gênero conto. Sem desmerecer a riqueza de seus romances, é nessa forma (por conta da quantidade de exemplos) que todas as marcas que definiram seu estilo exemplificam-se em profusão. Em O Espelho (extraído do livro Papéis Avulsos), lançado em 1882, o autor de Dom Casmurro retrata a questão das nossas máscaras sociais. Leitura rápida e agradável, o enredo tem o encanto de conter um tema bastante atual.” uuDia: 18/8. Mediação de Ude Baldan e performance teatral de Samea Ghandour.

Clarice Lispector

Machado de Assis



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SONETOS

SAGARANA

“Luís Vaz de Camões (1524-1579) é o principal modelo para a poesia feita em língua portuguesa. Mestre maior do verso e do uso da língua, sua obra é de um vigor sem fim. Lê-lo é sempre um exercício de aprendizado, algo que nunca se esgota. Em um tempo dominado pela urgência e pela superficialidade, tal tarefa torna-se ainda mais complexa. Mas nem por isso devemos fugir ao desafio, posto que este é sempre compensador. Em sua lírica (na qual o soneto decassílabo se sobressai), o “bardo” nos fala de amor (através de sua concepção de platonismo), dos desconcertos do mundo e das angústias que afligem a existência humana, entre outros temas. E para além da obra há, ainda, no obscuro componente biográfico, lacunas que dão mais beleza a seus textos.” uuDia: 25/8. Mediação de Antônio R. Giraldes e performance teatral de Samea Ghandour.

“Nos nove contos (alguns, na verdade, novelas) que compõem Sagarana – o livro de estreia de João Guimarães Rosa (1908-1967), publicado originalmente em 1946 – já se apresentavam em marcas acentuadas o estilo que consagraria o autor de Grande Sertão: Veredas como um dos maiores gênios de nossa literatura. Fundindo o regional e o universal, o real e o místico, com apuradíssimo trabalho com a linguagem, Rosa explora uma diversidade de temas, focando-se sempre num universo restrito (mas ao mesmo tempo amplificado através da profundidade da abordagem), que é o sertão mineiro. A honra, as disputas políticas, o sentido da vida, o bem e o mal, o real e o imaginário são algumas dessas abordagens. Captando um Brasil em transformação, que saía de uma tradição agrária para a modernização capitalista, os contos de Sagarana instigam ainda uma profunda reflexão sobre as diversas vertentes da condição humana. Comentando sobre o processo de concepção do livro, assim disse o autor: “Tinha de pensar (...) na palavra “arte”, em tudo o que ela para mim representava, como um corpo e como uma alma; como um daqueles variados caminhos que levam do temporal ao eterno, principalmente”. E assim nasceu esta grande obra.” uuDias: 1º, 15 e 22/9. Mediação de Cléo Ferreira e participação de Paulo Freire, dia 15, no ‘Prosa e Viola com Sagarana’.

Camões

João Guimarães Rosa


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POEMAS NEGROS

A TEUS PÉS

“A obra do alagoano Jorge de Lima (19831953) é tida como difícil e hermética. Dada à variedade de caminhos pelos quais o poeta transitou (indo, entre outros, do Parnasianismo ao religioso, passando pelo surrealismo, sempre em altas dosagens de experimentalismo, mesclando erudição e cultura popular), sua produção é na verdade ainda pouco compreendida. Em Poemas Negros, publicado em 1947, com ilustrações de Lasar Segall e prefácio de Gilberto Freyre, o autor de Invenção de Orfeu nos traz, envolta em forte musicalidade e invocações sensoriais, a sexualidade, a paisagem nordestina e a miscigenação. É o que se observa em versos como “Na noite aziaga, na noite sem fim/ cabindas, mulatos, quibundos, cafuzos,/aos tombos, gemendo, cantando, rodando./Senhor do Bonfim! Senhor do Bonfim!/Oxum! Oxalá. Ô! Ê!”. Poemas Negros tem ainda tem ainda o feito de conter “Essa nega fulô”, a mais expressiva criação e Jorge de Lima, e um dos mais antológicos poemas já produzidos no Brasil.” uuDia: 29/9. Mediação de Antônio R. Giraldes e intervenção Musical de Alex Lima.

“A poesia de Ana Cristina Cesar (1952-1983) atualiza a nossa lírica com impactantes inovações tanto estéticas quanto temáticas. Expoente da chamada geração mimeógrafo (que buscava nos anos 1970 meios alternativos de difusão cultural num contexto de repressão produzido pela ditadura militar) foi vítima de suicídio aos 31 anos. A Teus Pés, de 1982, último livro lançado em vida pela autora, é na verdade a compilação de outros três publicados anteriormente em edições independentes: ‘Luvas de Pelica’, ‘Correspondência Completa’ e ‘Cenas de Abril’. Transitando entre a prosa e a poesia, o coloquial, o confessional, a carta e o diário, num estilo carregado de sugestividade, elipses e hiatos, beirando a desconexão às vezes, os poemas de A Teus Pés retratam com delicadeza e ironia a mulher moderna, suas inquietações e sua sexualidade, velando e desvelando os sins e os nãos da construção da identidade feminina numa sociedade em intensa transformação.” uuDia: 6/10. Mediação de Mário Martinez e performance teatral de Samea Gandour.

Jorge de Lima

Ana Cristina Cesar


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SERMÕES

Padre Antônio Vieira “O Padre Antônio Vieira (1608-1697) veio criança para o Brasil. Neste território, que era extensão do reino português, estudou no Colégio dos Jesuítas, onde obteve sólida formação em línguas, teologia, filosofia, retórica etc. Ingressou na Companhia de Jesus em 1623 e prosseguiu nos estudos em diversas áreas, incluindo matemática, lógica e artes. Envolveu-se em polêmicas com a Igreja, por defender posições contrárias ao rei – relativas aos holandeses e aos judeus. Ao final da vida, reuniu cerca de 750 cartas e mais de 200 sermões, em numerosos volumes. O teor e a forma dos sermões demonstram a abrangência de seus conhecimentos e revelam o rigor de um homem que, ao escrevê-los, mobilizava extraordinária capacidade analítica no emprego de conceitos, metáforas e alegorias. A leitura de Vieira tem absoluta relevância em nossa formação. Permite compreender a mentalidade da elite luso-brasileira em seu tempo e lugar e mostra como a argumentação ligava o púlpito, a catequese e os negócios de Portugal por intermédio do discurso.” uuDia: 20/10. Mediação de Jean Pierre Chauvin.


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MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS Machado de Assis

“Machado de Assis (1839–1908) beirava os quarenta anos quando o romance Memórias Póstumas de Brás Cubas foi editado em livro. O escritor dividia-se entre a carreira na administração pública, a colaboração em diversos periódicos e a composição de crônicas, contos, novelas, romances, poesia, teatro, crítica e tradução. A narrativa é contada por um homem de posses, favorecido pela herança de seus pais. Ainda jovem, Brás Cubas percorre a Europa, forma-se em Direito e retorna ao Rio de Janeiro, onde passa a descrever a cidade e os homens de diferentes círculos sociais. A obra dialogava com a literatura inglesa, portuguesa e francesa de séculos anteriores e é pautada por digressões, autoironias e falsos saberes de um sujeito que narra sua vida sob a perspectiva da morte. O contato com o romance permite discutir a transição de Machado entre duas maneiras de escrever – uma mais próxima da escola romântica, outra em que predominam os códigos do movimento realista –, sem perder de vista a linguagem cifrada e o comportamento ambíguo do narrador e personagens, a denunciar o caráter postiço das relações na sociedade e o frágil caráter dos indivíduos, durante o Segundo Império brasileiro.” uuDia: 27/10. Mediação de Jean Pierre Chauvin.

CLARO ENIGMA

Carlos Drummond de Andrade “Publicado em 1951, Claro Enigma é uma das principais obras de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), mineiro de Itabira. Aproximando-se das formas mais rigorosas próprias da tradição clássica (tais como o soneto), e, portanto, daquelas implantadas pelo Modernismo, o livro abarca com lirismo, ironia e mineiridade, um leque de temas que marcam, sobretudo, a maturidade do autor. São inquietações acerca da existência, na tensão ininterrupta entre o eu e o mundo – núcleo temático de toda sua obra. Nas palavras do professor Alcides Villaça, “acima de qualquer influência sofrida, a poesia de Drummond é personalíssima, individualíssima, tanto nos temas que frequenta (entre eles, as raízes mineiras e provincianas, a oposição entre o arcaico e o moderno) como nas várias soluções de estilo que adotou ao longo dos seus mais de 60 anos de poesia". (*). Dentre as mais de quatro dezenas de textos que compõem o livro, merece destaque “A máquina do mundo”, poema que abre a sexta e última parte. Dialogando com Dante e Camões, Drummond construiu um dos mais belos escritos da literatura em língua portuguesa.” (*) Jornal da Unicamp, ed. 194, ano XVII – out. 2002 uuDia: 10/11. Mediação de Alcides Villaça.



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PALESTRANTES Alcides Villaça tem graduação (bacharelado e licenciatura) em Letras pela Universidade de São Paulo (1971). Fez mestrado (1976) e doutorado (1984) em Literatura Brasileira, orientado pelo professor Dr. Alfredo Bosi, nessa mesma universidade. Aprovado em concurso de Livre-docência (1999), é, desde 2003 Professor Titular de Literatura Brasileira na FFLCH-USP. Tem longa experiência na área de Letras, com ênfase em Poesia Moderna. Vem se dedicando principalmente aos seguintes temas: lírica e sociedade; poéticas de Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto, Manuel Bandeira e Ferreira Gullar e tendências poéticas contemporâneas. Nos últimos anos tem estudado a produção contística de Machado de Assis. Vem ministrando com regularidade cursos de graduação e pós-gradução na USP e exercendo suas funções como orientador na área de Literatura Brasileira. Alex Lima é músico, agente cultural, arte educador e artista multimídia. Possui habilitação em violoncelo pela UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) e é bacharel em designer digital pela UNIARA (Centro de Ensino Superior de Araraquara). Entre 2005 e 2009 ocupou o cargo de diretor de formação cultural no Departamento de Cultura da Prefeitura Municipal de Matão (SP). Como arte educador, desenvolve pesquisas voltadas para a área de cultura popular, tendo como base o registro e a transmissão de histórias, brinquedos, brincadeiras, ritmos e canções da tradição oral. Tem no currículo dezenas de projetos envolvendo música, literatura e arte digital. Antônio R. Giraldes é bacharel em Letras com Habilitação em Português e Linguística, licenciado em Língua e Literatura Portuguesa e Brasileira, é também mestre e doutor em Educação na área de Mitohermenêutica, Estudos do Imaginário e Pedagogia da Escolha. Leciona há 25 anos no ensino médio e fundamental. Tem artigos publicados em Filosofia e Educação. É membro da Comissão da Olimpíada Brasileira de Linguística e foi um dos responsáveis da Equipe Brasileira na

International Linguistics Olympiad (2013), em Manchester, na qual a equipe recebeu a premiação de duas menções honrosas e uma medalha de ouro. Cléo Ferreira é formada em Letras pela UNESP, campus Assis, mestre e doutora em língua e literatura francesa, bem como em língua portuguesa e literatura brasileira pela USP, é professora de língua francesa no Colégio Etapa. Recentemente, desenvolveu na unidade do Sesc Campinas, atividade literária na qual lidava com as obras de Castro Alves e Victor Hugo, autores com os quais lidou em seu doutorado. Eliane da Conceição Silva é professora efetiva do Governo do Estado de São Paulo e trabalha como professora no Programa de Ensino Integral em Araraquara-SP. Também atua como pesquisadora do Laboratório de Política e Governo (Labpol) da Faculdade de Ciências e Letras, Araraquara-SP (FCLAr-Unesp). Concluiu seu doutorado em Sociologia pela FCLAr-Unesp em dezembro de 2016 com a tese intitulada “A violência social brasileira na obra de Carolina Maria de Jesus”. Atualmente, seus temas de estudo se centram na discussão da violência social na literatura a partir das obras de Carolina Maria de Jesus e Machado de Assis e no ensino de sociologia e literatura no Ensino Médio. Jean Pierre Chauvin é autor de O poder pelo avesso na literatura brasileira (2013), entre outros. Pesquisa e leciona Literatura Luso-Brasileira na ECA (Graduação) e na FFLCH (Pós-Graduação), USP. Mestre e doutor em Teoria Literária e Literatura Comparada pela mesma Universidade, tem se dedicado a estudos em torno do Brasil durante a Colônia, o Império e a República. Lisângela Peruzzo é graduada pela USP em Letras-Português. Há mais de quinze anos leciona em colégios particulares de médio e grande porte na cidade de São Paulo. Em 2002, tornou-se mestra em Estudos Comparados de literaturas de língua portuguesa pela USP, estudando Guimarães Rosa e Mia Couto. Em 2011, concluiu o doutorado na mesma área e


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universidade, com trabalho sobre dois escritores moçambicanos: Mia Couto e Paulina Chiziane. Nos últimos anos, além de atividades acadêmicas, também participou do projeto “A hora e a vez do vestibular”, promovido pela Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo nas bibliotecas da cidade. Nos colégios onde atua, especializou-se na análise das obras exigidas pelas grandes universidades para os exames vestibulares. Mário Martinez é formado em Letras pela Unesp de Araraquara (onde também cursou quatro semestres de Ciências Sociais), é professor de literatura e redação em cursos pré-vestibulares, além de poeta, cantor, compositor, instrumentista, arranjador e produtor cultural. Em seus mais de vinte anos de carreira, já produziu música e arranjo para espetáculos de dança, teatro e literatura. Na imprensa da região de Araraquara atuou como crítico musical, cronista e articulista. Há cerca de vinte anos desenvolve trabalhos que unem música e poesia, como a participação nos projetos “Tertúlias”, para o Sesc de Araraquara; “A música dos poemas de Drummond”, para o Sesc de São José do Rio Preto; “Clave de Versos”, para o Sesc de “Bauru”; “Letra e Música”, para o Sesc de São Carlos; “Machado e as canções”, para o Sesc Taubaté, entre tantos outros. É autor do musical infantil “A Babel dos Bichos”. Possui canções gravadas por Simone Guimarães, Renan Barbosa, André de Souza, Fabio Cadore, Márcia Tauil, entre outros, além de ter gravado um disco com o Coletivo Cabeu (2012). Esteve em alguns dos principais festivais de música pelo interior do Brasil, obtendo inúmeras premiações. Em 2011, a convite da unidade de São Carlos, dividiu o palco com a poeta Alice Ruiz, no evento “Achados e Perdidos”, no qual por mais de duas horas conversaram sobre poesia. Paulo Freire é violeiro, escritor e contador de histórias. É autor de trilhas sonoras, canções, romances, biografias, livros de causos, livros infantis e CDs de viola. Vem recebendo diversos prêmios em suas atividades ligadas à cultura brasileira. Tem participação em trabalhos de diferentes artistas brasileiros e é considerado um dos mais importantes violeiros e contadores de causo da atualidade.

Samea Ghandour é atriz formada pelo Centro de Pesquisa Teatral de Antunes Filho e bacharel em Letras Clássicas com habilitação em Grego Antigo e Português pela Universidade de São Paulo. Dentre seus trabalhos destacam-se as atuações performáticas do evento “Máquina Tadeusz Kantor”, realizado no Sesc Consolação em São Paulo. Ude Baldan tem graduação em Letras, com licenciatura em Português-Inglês pela Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (1978), mestrado em Estudos Literários pela Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (1986) e doutorado em Letras (Teoria Literária e Literatura Comparada) pela Universidade de São Paulo (1994). Atualmente é Professora Assistente Doutora da Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" - Campus Araraquara. Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Teoria da Literatura e Semiótica, principalmente nas seguintes linhas de pesquisa: teorias e crítica da poesia, teorias e crítica da narrativa e relações intersemióticas. Atua como membro do corpo editorial das revistas Itinerários (Unesp), Baleia na Rede (Unesp/Marília) e CASA (Unesp). Faz parte do Conselho Curador da Editora da Unesp. É membro do Grupo de Pesquisa CASA - Cadernos de Semiótica Aplicada e do GEN - Grupo de Estudos da Narrativa. Vítor França Galvão é bacharel em Letras – Português/ Inglês, pela Universidade Presbiteriana Mackenzie; mestre com dissertação sobre “O discurso jornalístico e o discurso médico sobre o câncer” e doutor com tese defendida sobre “A relação médico-paciente: processos de paixão e idealização”, em Semiótica e Linguística Geral pela Universidade de São Paulo. Trabalhou na redação do jornal O Estado de São Paulo durante seis anos. Professor de curso pré-vestibular durante 25 anos, período em que lecionou Redação, Gramática e Literatura Brasileira e Portuguesa.


Sesc Campinas

Rua Dom JosĂŠ I, 270/333 13070-741 Bonfim Campinas Tel.: + 55 19 3737-1500 /sesccampinas

sescsp.org.br/campinas


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