Cartas para 2020

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Cuidar de quem cuida Redes de apoio e cuidados

Cartas para 2020


O PROJETO Cartas para 2020 é uma ação do Programa Espaço de Brincar do Sesc Jundiaí que integra a programação do Cuidar de Quem Cuida, projeto do Sesc São Paulo dedicado às cuidadoras e aos cuidadores de crianças de 0 a 6 anos. Em sua terceira edição, o projeto traz o tema “Redes de apoio e cuidados”, voltando um olhar aos diversos atores sociais que atuam junto a bebês e crianças pequenas. Dentre eles estão as educadoras e os educadores de creches, pré-escolas e outras instituições, para quem a pandemia de Covid-19 trouxe uma situação absolutamente nova e desconcertante. Desde a abrupta interrupção do trabalho presencial, no mês de março, tais profissionais têm percorrido caminhos diferentes dos habituais em suas práticas educativas. Acreditando na importância de narrar tais experiências, bem como de registrá-las e difundi-las, o Programa Espaço de Brincar do Sesc Jundiaí convidou educadoras e educadores que atuam junto à primeira infância a escreverem uma carta, compartilhando suas percepções, práticas, sentimentos e tudo o mais que pudesse delinear a experiência construída neste período, enquanto profissional da educação, formal ou não formal. Foi proposto que as cartas fossem dirigidas ao ano de 2020, de modo a exercitar um diálogo imaginativo e reflexivo com este ano de tantos desafios, perdas e descobertas.

Sesc Jundiaí


ANA ETC E TAL. | Educadora não formal Francisco Morato, 01 de outubro de 2020. Querido 2020 (ou não tão querido assim!),

Fecharam as escolas, bares, Sesc. Fecha tudo! O povo surtado fazendo estoque de papel higiênico (Oi?!). 15 dias de quarentena. 30 dias.

Sei que as coisas não andam nada fáceis, mas espero que ainda assim você esteja bem e esperançoso.

60.

Lembro de como estava animada para te conhecer. Você é um número tão bonito! Redondinho! Vinte e vinte. Não sei se é meu sol em virgem, mas dá gosto olhar para seu nome.

Mortes. Muitas mortes.

Tinha muitos planos para nós: terminar a pós-graduação, viajar, pegar firme nas aulas de inglês, curtir o carnaval...Por falar em carnaval, foi aí que as coisas começaram a ficar estranhas na nossa relação. O mundo começou a parar por conta de um tal vírus que, segundo boatos, passou de um morcego para um homem que comeu ele cru. Mas também tinha uma galera que botava fé que, na verdade, ele foi criado em laboratório e espalhado pelos chineses sabe-se lá por quê. Loucura, né?

Antes eu brincava com filhos e filhas dos outros e pouco tinha tempo para ficar com o meu. Agora a gente passa o tempo todo pertinho. Me vi participando de reuniões enquanto fazia cafuné na cabecinha dele.

Ninguém estava entendendo nada. E, sem saber a dimensão do que estava rolando, eu só me preocupava mesmo é com o carnaval que eu iria perder. Trabalhar durante os dias da folia era o que eu achava que seria o nosso pior momento juntos. Superada a tristeza do carnaval, o coração passou a ser abalado pelas mortes. Muitas mortes em várias partes do mundo. O pânico de saber que chegaria aqui no BR foi ficando gigante. Dá para se proteger? Tem cura? Deixa sequelas? Com esse vírus o bagulho é “loko”: cruzou, vacilou, pegou! Caos no mundo. Caos em mim. Não quero que tenhamos uma relação tóxica em que eu jogue toda culpa deste momento em ti. Mas, amado, sobreviver a você está mais difícil que fase final de jogo de videogame. Sei que deve estar pensando: “A culpa é do vírus, não minha! Ele tinha que aparecer logo na minha vez?”. Te entendo.

1352499001 dias de quarentena. Tenho saudades das famílias que eu convivia quase diariamente no trabalho. Mas hei de ser sincera ao dizer que estou amando trabalhar em casa.

É difícil reconhecer que, em meio a tamanha tragédia, de certo modo, você me trouxe experiências boas, 2020. Eu gosto do meu trabalho, gosto das pessoas de lá, mas minha prática já é tão solitária na maior parte do tempo - pois fico “trancada” em uma sala- que, ironicamente, hoje me sinto mais próxima dos meus pares trabalhando em equipe virtualmente. Deve estar me achando estranha, né 2020? É que, assim como você, não sou mais a mesma de quando nos conhecemos. São muitos sentimentos, contradições, mortes. Muitas mortes. Meu camarada, espero que no nosso último encontro, em 31 de dezembro, possamos sentir o pesar de todas estas vidas que se perderam, mas agradecer pela chance de viver um novo ano. PS: não se chateie por eu querer que o próximo ano tenha coisas melhores do que você pôde trazer. Com fé, ele terá muitos pontos positivos, mas com certeza não terá o charme do seu nome: vinte e vinte. Redondinho! Aperto de mão cheio de álcool em gel,

Ana etc e tal.


BIANCA PARIZI | Educadora não formal Jundiaí, 3 de outubro de 2020. Oi, 2020. Como vai? Escrevo para contar um pouco sobre como tem sido o meu trabalho nesses últimos meses. Estou em casa desde março, trabalhando remotamente. Agora, início de outubro, a luz do sol atinge a parede da sala de um modo que só acontece nos meses mais quentes do ano; ela estava aqui quando a quarentena começou, mas muito mais branda do que agora, e o seu retorno me recorda que os dias mais frios do ano se foram. Mais de um semestre se passou desde o início da pandemia de covid-19 no Brasil. São mais de seis meses sem encontrar as crianças e os adultos que frequentavam o Espaço de Brincar, muitos deles regularmente. Não houve despedidas ou preparação: de repente, a vida era outra, e os encontros, a convivência e as experiências compartilhadas não eram mais possíveis. Em março, eu ingenuamente acreditava que se tratava de uma situação passageira e que em pouco tempo estaríamos, adultos e crianças, de volta ao nosso espaço, às nossas brincadeiras. Mas os dias foram passando e o desenrolar da pandemia afastou essa ilusão: a retomada do atendimento presencial, tal como o conhecíamos, era, e ainda é, impensável. O que você trouxe, 2020, não estava no planejamento. No começo da quarentena, frente às primeiras iniciativas de atendimento remoto às crianças, praticadas tanto por escolas de educação infantil, quanto por instituições culturais, eu tive muitas dúvidas. Que tipo de ação seria possível fora do encontro? O que poderia ser bom para as crianças e suas famílias neste momento atordoante? Diante da rápida difusão de atividades online, me vi em uma situação de paralisia. Porque eu não sou da informática: eu sou da invencionática, como bem sintetizou o poeta Manoel de Barros. Você gosta de poesia, 2020? Pois bem: o vírus chegou, o Sesc fechou, a família sumiu, o encontro acabou, e agora, 2020? Diante de tantas incertezas, foi preciso seguir a trilha das crianças: criar. Ao longo dos meses, e em muito boa companhia – passei a trabalhar em uma equipe extendida, cujas sensibilidade e criatividade muito me inspiraram e inspiram – comecei a pensar e a construir coletivamente novas ações, as possíveis neste momento que atravessamos. Foi preciso criar, com todos os demais verbos que o acompanham: imaginar, pensar, testar, descobrir fazendo. Hoje, percebo que encontrei – encontramos! – mais caminhos do que eu conseguia vislumbrar, naquele já distante mês de março. Me parece que as

narrativas, as memórias e a ideia da casa como um lugar de invenção nortearam as minhas proposições, assim como um anseio de situá-las mais em um lugar de inspiração do que de prescrição. O que tem se desenhado é uma outra face do trabalho, outros exercícios, outros tipos de ação – como a que deu origem a esta carta para você, 2020. São práticas que têm seus êxitos e suas limitações e que, muito provavelmente, jamais surgiriam não fossem a pandemia e a necessidade de distanciamento social que ela impôs. Recupero esse percurso com carinho, pois ele foi e é resultado de um trabalho experimental, que expandiu as ações do Programa Espaço de Brincar em direções que eu nunca poderia imaginar. E a despeito disso, há o fato, incontornável, de que o coração do meu trabalho é a relação, e a relação acontece na presença, especialmente com as crianças. O que tenho feito nos últimos meses é uma outra coisa; é o possível para este agora ainda tão nebuloso. Eu me lembro com saudade de crianças e de adultos que iam com frequência ao Espaço de Brincar. Me lembro das últimas trocas – conversei longamente com uma mãe, pedagoga, sobre as brincadeiras intensamente corporais de seu filho e o quanto tais brincadeiras são, muitas vezes, censuradas de um modo um tanto automático pelos adultos. Uma conversa boa, que me fez pensar. Também me lembro de ao menos dois compromissos importantes, que ficaram pendentes: fiquei devendo uma história pra uma pequena amiga e mais um ensaio/show da banda que formei junto com dois companheiros, frequentadores assíduos do Espaço de Brincar. Não esqueci de nada disso. Ah, e me lembro da cidade! Ela foi construída a muitas mãos no piso do “EB”, com nada além de fita adesiva. Começou no fim de semana, com uma família que quis construir uma pista para carrinhos. Nos dias seguintes, outras famílias interviram e o entorno da pista foi ganhando formas e desenhos: uma praça, um museu, um caminhão que vendia macarrão, um carrinho de sorvete, um posto dos bombeiros, um lugar para brincar, pessoas e até uma barata. O que foi criar a cidade senão imaginar, pensar, testar e descobrir fazendo? Veja que coisa, 2020! Agora percebo que o caminho que eu percorri nos últimos meses foi precisamente a rua da cidade de fita adesiva do Espaço de Brincar. Fico por aqui. Vamos nos falando, está bem? Um abraço,

Bianca Parizi


CAROL | Educadora não formal Querido Dois Mil e Vinte,

Há tanto para te dizer e temo não ter ainda o distanciamento necessário para conseguir depurar já os aprendizados que você traz. Tenho a impressão que contigo apenas inauguramos um longo período de transformações. Quantos desafios, querido. Quantas dores. Esclareço: não te maldigo! Antes, olho para nós, Humanidade. Viver teus dias tem nos deixado evidente: construímos tanta tecnologia, mas não temos sabedoria equivalente. Inventamos meios de comunicação avançados, sem nunca nos perguntarmos sobre nosso real desejo de encontrarmos quem é diferente de nós. Buscamos acumular, sem termos ainda arado a terra para dar de comer a quem tem fome – e são tantos. Procuro minhas reservas de coragem e fé na Vida. E nestas horas, meu pensamento sorri e chega perto das crianças... Esses bichos tão bem aparelhados para construir afetos e modos de refazer a vida. Penso em Nina, que já já vai sair da barriga apertada de sua mãe. Quando uma criança nasce, o mundo torna a começar, nos ensinou Guimarães Rosa. Acredito em Guimarães, acredito em Nina, acredito em nós. Esperançar é o melhor verbo que conheço. É preciso recriar nossas relações, os sentidos de nossos conhecimentos, a ideia do que é riqueza. É preciso tornar a começar o mundo. E, antes de me paralisar frente ao tamanho do planeta, essa constatação me lembra da minha potência para recriar o pequenino e anônimo mundo das minhas relações. Ouvir os pequenos professores. Fazer silêncio para escutar as crianças. Nos seus gestos, nas suas maneiras de amar, em sua liberdade para inventar. Preciso te contar: Miguel nunca me sai do coração. Com seu voo do nono andar

do prédio em Recife rumo a se tornar um Encantado, Miguel deixou registrado em seu rastro nossas maiores incompetências. Tenho compromisso firmado com ele: não o esquecer nunca. E transformar com minhas mãos meu modo de agir no mundo, para que os Migueis que diariamente encontro recebam de mim carinho, respeito, acolhimento. Nada grandioso. Tudo profundamente enraizado no cotidiano. De resto, querido, você já conhece as conversas que tive com os anos que te antecederam. Alegria é sentimento revolucionário e é matéria que estudo com afinco, nos menores gestos. Cantar, dançar, poemar, sorrir... com o corpo e com a alma. Para que minha pequena existência possa desenhar traços de beleza. Esse nosso combinado continua sempre. Termino agradecendo a possibilidade que tem nos dado de aprendermos com teus dias. Ontem à noite, deitado para dormir, Joaquim me olhou muito sério e perguntou pausadamente: - Mamãe... tudo no mundo tem seu ciclo, não é? Confirmei com a cabeça. Ele me deu um beijo agradecido e fechou os olhos com um sorriso tranquilo. Eu também. Quando teu ciclo terminar, querido, desejo não ter fugido de nenhum aprendizado. E que rememorar teus dias possa sempre me contar da importância e da potência que tem toda Vida. Com carinho,

Carol


GIANE MORAES | Educadora não formal


ANDRÉ MARÓSTICA | Educador não formal Caro 2020, você tem sido um ano de incertezas, mortes, desemprego e acima de tudo muito MEDO. Isso quando colocamos o nosso foco nas coisas ruins que aconteceram. Ouvi há pouco tempo uma frase que diz: “Tudo aquilo em que colocamos o nosso foco, se expande.” Quando coloco o meu foco nas coisas boas que aconteceram em 2020, eu percebo que as dificuldades que enfrentei me tornaram uma pessoa melhor. Melhor porque percebi que de tanto medo da morte acabei ficando com medo de viver. Melhor porque decidi que estava muito cansado de ter medo da morte, e que eu preferia aproveitar a vida da melhor maneira possível. Melhor porque busquei novas maneiras de me manter ocupado, de adquirir, produzir e compartilhar conhecimento, tornando-me útil a um número ainda maior de pessoas. Melhor porque constatei que nossa existência é repleta de momentos bons e ruins que se revesam incessantemente um após o outro, e que a beleza da vida é que podemos aprender com ambos, mas é na adversidade onde evoluímos mais. Gratidão é uma palavra poderosa que liberta quem a conjura e lhe dá o poder de se conectar com a própria essência do universo. Dizem que o melhor aço é aquele que foi testado pelo fogo e martelado duramente. Há também quem diga que tudo aquilo que não nos destrói nos fortalece. Portanto querido 2020, eu quero agradecer pelas oportunidades em forma de desafios que você me apresentou, pois foi através deles que me tornei mais forte, física, mental e espiritualmente. GRATIDÃO 2020!!!!

André Maróstica


ANDRÉ CONCEIÇÃO | Educador não formal

Trecho final do poema “Morte e Vida Severina” – João Cabral de Melo Neto

Esse foi o ano que menos ensinei (profissionalmente), ao mesmo tempo um dos que mais aprendi (com a família)...

...

Essa é a boa e velha vida, usa o problema como trampolim e ainda dá umas piruetas... A danada não nos deixa em paz, aproveita qualquer espacinho e quando vemos, estamos do lado de fora, brincando na praça, correndo em casa, passando nervoso, nos conhecendo mais, cozinhando, pegando a estrada...

“eu não sei bem a resposta da pergunta que fazia, se não vale mais saltar fora da ponte e da vida; nem conheço essa resposta, se quer mesmo que lhe diga é difícil defender, só com palavras, a vida, ainda mais quando ela é esta que vê, Severina mas se responder não pude à pergunta que fazia, ela, a vida, a respondeu com sua presença viva. E não há melhor resposta que o espetáculo da vida: vê-la desfiar seu fio, que também se chama vida, ver a fábrica que ela mesma, teimosamente, se fabrica, vê-la brotar como há pouco em nova vida explodida; mesmo quando é assim pequena a explosão, como a ocorrida; como a de há pouco, franzina; mesmo quando é a explosão de uma vida Severina.”

Pra cada folhinha que cai é um novo ramo que surge! Que venha 2021, 22, 23...!

André Conceição


BRONCO AMOXIL | Educador não formal Prezado 2020, Você tem sido bem desafiador, hein!? Caprichando aí na criatividade e na inovação! Quando todos pensavam que seu irmão mais velho, o 2019, seria o campeão em inovação e desafios... eis que você nasceu! Quietinho e muito desejado, todos apostaram em você! Desde investidores e políticos, até os mais simples pensaram “Em 2020 a gente vai sair dessa... a nossa vida só tende a melhorar! Depois de 2019 eu aguento qualquer coisa...” até que com pouca idade – logo no terceiro mês – você surgiu com uma ideia que poucos dos seus irmãos (anos) conseguiram desenvolver tão bem. O último a desenvolver essa ideia com tanta maestria foi o centenário 1918. Outros também tentaram, mas sem tanto sucesso: 1998, 2009... esses caras tentaram, mas você hein!? Se superou! Acho que eu e nem ninguém esperava passar tanto tempo sem ver aqueles e aquelas que tanto amamos. No começo até pareceu interessante “Ah! Vai ser um mês diferente... vou curtir a minha casa, por a leitura e os filmes em dia...” e o tempo passou! As leituras já estavam redundantes, os filmes e séries tão desejados acabaram... muita vontade de abraçar aqueles amigues que a gente via pouco, é verdade, mas tão pouco assim? Já era inconcebível! E as lives? Não têm mais graça! E a aquele curso de mosaico armênio que você tanto admirava? Virei especialista, já fiz todo o estoque de material, não aguento mais olhar na frente! E o tempo passou... saudades apertou... as fases do plano do estado passaram, entre notas baixas e fakes, mudamos para fases mais flexíveis! E o coração? Flexibilizou? Uma ova! As visitas? Flexibilizadas, desde que mantendo o protocolo de distanciamento, álcool gel, máscaras, tudo ao ar livre! Está tossindo? Não venha! Dor de cabeça? Melhor ficar em casa! Já lavou as mãos? Ora mas de novo!? É! Vi você coçando o nariz! Pelo menos álcool gel né!? Álcool gel... minhas mãos já estão secas, desidratadas, rachadas, cortadas de tanto álcool – cândida – água! Chega de tudo isso! Ninguém mencionou as crianças!? Dá para notar que quem está escrevendo essa carta não é nem um pai, nem uma mãe ou alguém responsável por crianças... porque se fosse, ela (s) já teriam aparecido nessa narrativa. Como estão nossas crianças? Tão logo já foram expostas a essa ideia do 2020 que nem o vovô que nasceu em 1950 tinha passado de forma tão única! Falaram para a criança: “Isso é um momento

histórico!”, assim como me falaram da ideia do 2001! Lembro como se fosse hoje: o rádio ligado e o tio da perua me falando “Os EUA estão acabando! Dá para vocês ficarem quietos um minuto para ouvir o rádio!?” – Eu não fiquei... queria brincar, gritar, pular e fazer guerrinha de papel na perua. Guerra... escapamos de uma das grandes... mas será? O mundo vive em guerra, veja nessa pandemia! Ou você vai dizer que ficou em paz? “Paz é quando a vacina chegar!” Vacina contra desigualdade? Vacina contra fome? Vacina contra a competição desenfreada, enlouquecedora? Paz é o contrário da guerra... e a guerra que se vive internamente todos os dias? Bom, 2020, você está aí quietinho, só ouvindo, não vai me responder nada... mas mesmo assim eu vou registrar: estou com saudades das crianças, de vêlas brincando, correndo e sendo crianças livres, rolando no chão, se abraçando, compartilhando brinquedos ou brigando visceralmente por eles. Tudo com muito contato, nenhum distanciamento, nenhuma assepsia. Crianças sendo crianças, nada de “novo normal”, nada normatizador, nada novo também, tudo igual como poderia ter sido, não fosse essa ideia sua, 2020. Espero que você ainda nos reserve surpresas agradáveis. Já pensou? Você é tão criativo! Inova mais uma vez, vai!? Que tal vacina e saneamento básico pra todo mundo!? Quem tal vacina e livre acesso a educação e os recursos necessários para todo mundo? Que tal saúde, vacina e segurança pra todo mundo poder brincar na rua e compensar o tempo perdido?... vai pensando! Conto com a sua criatividade... Com carinho,

Bronco Amoxil


JOSI | Educadora não formal 04/10/2020 Olá 2020, como está sua saúde? Você está muito, mas muito doente, não é? Sim, eu sei! Já rolaram mais lágrimas dos olhos da humanidade esse ano, do que pingos de água no céu com a chuva. Fico pensando... O que queres dizer para nós com tudo isso?! Afinal, quando adoecemos, é só nosso corpo exteriorizando algo de dentro que precisa ser transformado. E parece que o senhor conseguiu fazer isso com cada um de nós, quando (talvez por tirania, talvez por única opção de melhoria da humanidade) tirou tudo e todos ao nosso redor. Fez lidarmos individualmente com nossos sentimentos; não pudemos compartilhar nossa dor com um abraço na perda dos nossos entes queridos; não pudemos comemorar mais um ano de nosso nascimento com quem amamos; não pudemos prever a sua chegada pandêmica e nem preparar nossa família para o sustento de longos meses sem a certeza de um trabalho... Muitos te julgam; te condenam; te temem; te criticam; te especulam; te odeiam... Mas no fundo, penso que você nada mais é que um espelho do que a própria sociedade fez consigo mesma... Já estávamos humanamente isolados, polarizados, separados, fragmentados exclusivamente em dois universos: aqueles que pensam e se comportam da mesma forma que nós ou aqueles que não se encaixam no nosso padrão, dessa forma, nossos inimigos... Prova disso é a própria corrida pela vacina... Àqueles que chegarem primeiro (logicamente não serão os países subdesenvolvidos) imunizarão todos os seus (alguns governos já deixaram isso bem claro), a sua tribo, independente da necessidade ser maior ou não em algumas pessoas de outras tribos... Infelizmente, é a nossa forma polarizada de pensar...

Afinal, se a pandemia foi para todos, se a doença se alastrou independente de raça e classe social, não devíamos pensar na cura da mesma forma? Em termos de humanidade e não de pequenos países elitizados? Se nossos governos fossem regidos pela imaginação e criatividade das crianças, tenho certeza que, ao chegar a vacina certa, a brincadeira seria imunizar todos do grupo de risco e profissionais da saúde da humanidade inteirinha primeiro... E só depois as pessoas que estivessem saudáveis e correndo menor perigo. Falando em criança e em imaginação, estou curiosa... O senhor, 2020, será apenas o vilão da nossa história? Será que pensas em trazer a vacina para o seu ano? Ou irás deixar realmente que o herói desse trágico momento que estamos vivendo seja 2021? Continuando ainda na linguagem lúdica quero propor uma brincadeira para você, senhor 2020, topa? Vamos brincar de faz de conta... Você conhece? Funciona assim: Tudo que eu lhe escrever que ainda não existe, você com sua imaginação fará, com toda sua força, existir. É só você utilizar as sensações, pensamento, criatividade e sensibilidade. E quanto mais você acreditar que o faz de conta é real, mais ele conseguirá se tornar verdade, a sua verdade. E essa é a diversão da brincadeira! Não vale duvidar, muito menos fingir que não é com você que estou brincando. Combinado? Podemos começar? Faz de conta que você tem nove anos de idade. Faz de conta que você usa máscara e álcool gel para proteger as pessoas dos seus poderes incontroláveis que saem por sua mão e por sua boca, parecido com o “Ciclope” do “X-MEN” que usa óculos para proteger as pessoas do fogo que sai dos seus olhos. Faz de conta que esses seus novos poderes continuarão com você após a pandemia acabar, te fazendo uma pessoa ou um ano melhor. Que poderes seriam esses? Faz de conta que você não está saindo de casa porque está montando um plano infalível para pegar o coelho da “Mônica” (ou o plano infalível para sua vida após tudo isso passar... Que plano seria esse?) Faz de conta que, se tocar nas pessoas, assim como na brincadeira, elas virarão


BERNARDO CARVALHO MACHADO | Educador não formal estátuas ou gelo e não poderão nunca mais se mexer, então, melhor evitar... O que, no futuro, será melhor evitar? Faz de conta que dia após dia desses longos meses algo dentro de você foi construído e mudou Mudou e se transformou em um lindo presente Faz de conta que você abre esse presente e encontra duas perguntas: - Quem você era,2020, antes de tudo isso começar? - Quem você será, 2020, após tudo isso acabar? Faz de conta que o fim da Pandemia não depende mais da vacina, apenas da descoberta de uma resposta sincera para essas duas perguntas. E então, senhor 2020? Qual será sua resposta? Aguardo seu retorno, não em formato de carta, como essa que lhe escrevo. Mas quem sabe, em forma de mudanças profundas sociais que façam valer, de alguma forma, a imensa chuva desse ano simbolizada em lágrimas e não em pingos de água, como deveria ser...

Josi

Ah, 2020, como aguardamos ansiosos a sua chegada... Você vai ser um ano especial, por vários motivos. Em 2020 viveremos experiências únicas. Vamos deixar de lado a rotina frenética do dia a dia, que não nos deixa olhar pro lado, e aproveitar para olhar pra dentro de nós, pra nossa casa, pros nossos filhos... Em 2020 vamos nos reinventar... como pessoas, como maridos e esposas, nos reinventar como professores, como alunos, vamos ser artistas e expectadores de toda surpresa que virá. Você já pensou que pode fazer diferente, que pode viver com menos, que talvez uma ligação sua possa mudar o dia, a semana, a vida de alguém? Então aproveite 2020 para isso, para fazer a diferença. 2020 precisa ser o ano para olharmos para o nosso planeta como um todo. Esquecer as divisões de países, continentes, raças, credos e pensarmos que somos todos iguais, feitos de carne e osso, e suscetíveis igualmente a qualquer coisa boa ou ruim que possa acontecer. Mudar a nossa atitude como cidadãos do planeta, que somos irmãos e que só assim, juntos, podemos pensar num futuro melhor. Eu te desejo um 2020 marcante. Um 2020 com novos hábitos, novas descobertas, novas crenças, nova maneira de ver e viver o mundo. E que cada um chegue ao final de 2020 melhor do que começamos, mais humanos.

31 de dezembro de 2019 Bernardo Carvalho Machado


LIGIA | Educadora não formal Olá 2020! Escrevo essa carta como um acerto de contas entre mim e você. Começamos nossa relação como todos os anos, renovando as energias, com novos planos, com metas a serem alcançadas e novos objetivos traçados. Mas logo que iniciamos nosso convívio já percebi que você não seria mais um ano comum. No início fui um pouco procrastinadora com você, eu admito. Critico quando dizem que no Brasil o ano só começa depois do carnaval, mas de fato o meu 2020 ainda não tinha engrenado a quinta marcha quando essa pandemia de dimensões globais chegou ao nosso País. E logo de cara achei que você seria um ano perdido. No trabalho ainda estávamos conhecendo os novos alunos e programando as ações futuras, fora dele ainda estava iniciando a caminhada para alcançar os objetivos estabelecidos para o ano. Tudo isso foi pausado e você trouxe algumas coisas indesejadas para minha vida, dentre elas, a que menos gosto, é a nova relação que tive que estabelecer com as telas. Ao mesmo tempo em que essa relação possibilitou que eu estivesse próxima à amigos e parentes de que precisei me afastar, também deixou tudo mais impessoal. Nunca fui fã de ficar conectada aos celulares e redes sociais, entendo a necessidade da utilização desses meios eletrônicos e a importância da apropriação dos mesmos, principalmente no cenário atual, mas para mim essa foi uma mudança drástica e desconfortável. No início eu estava ficando uma quantidade elevada de horas ligada às telas, utilizando dessa ferramenta para sanar as demandas diárias. Mas com o passar do tempo percebi certo cansaço e ansiedade, provavelmente pela quantidade de notícias referente ao período que estamos passando e pelo tanto de informações desnecessárias em que eu estava ficando exposta. Acho que não deve fazer bem a quase ninguém ficar vendo a vida passar por uma tela. Por isso, decidi me afastar e utilizar os meios eletrônicos quando essencialmente necessário e de forma rápida. Essa atitude me fez bem. Descobri que não fui feita para ficar muito tempo diante das telas. Permitiu-me desfrutar mais da minha própria presença. Engraçado isso, parece que às vezes não prestamos a devida atenção a nós mesmos...rs!

Outra coisa, pude notar o quanto sinto falta de estar fisicamente em certos lugares e ter contato com algumas pessoas. Nesse momento o que mais quero é, poder ir à casa dos meus pais e ficar no jardim pasmando, encontrar alguns amigos em uma mesa de bar, ouvir meus pequenos alunos contando suas mais recentes descobertas e me surpreender com as resoluções de problemas que só eles tem. Pequenas coisas que se tornaram grandes ideais. Por essas descobertas, 2020, você me possibilitou olhar meus objetivos e metas de uma nova perspectiva, e deixou de ser um ano perdido, como eu estava achando no início. Então, proponho que 2021 seja a versão alfa de 2020, ou seja, um 2020 que passou por revisão e aprimoramentos e agora tendem a funcionar em perfeita coordenação, da forma mais azeitada possível, otimizando e superando resultados esperados, tornando-se a melhor versão de si mesmo. Portanto, até 2021, 2020!

Ligia


WANDERSON RODRIGO PEREIRA | Educador não formal

Todo começo de ano fazemos um planejamento mental, de como imaginamos que vai ser o ano. Quando estamos lá na noite de Réveillon, além de estarmos perto de familiares e amigos celebrando o encerramento de um ano, e o inicio de um novo, já projetamos alguns sonhos, desejos, vontades e mudanças. Creio que cada um de nós, acaba traçando algumas metas sejam elas pessoais ou profissionais para o ano que estava para nascer. 2020 não poderia ser diferente. Era para ser um ano de mudanças, de adaptações. E assim começou, com notícias que vinham lá do outro lado do mundo sobre uma até então epidemia local. Por aqui, continuamos nossas vidas e rotinas normalmente, imaginando que esse vírus não cruzaria fronteiras. Mas o vírus se transformou em uma Pandemia global, e de uma hora para outra nossas vidas e rotinas foram impactadas. A pergunta que fazíamos era, mas e agora? Como ficam nossos alunos e alunas, como ficam nossas relações de trabalho, nossas produções, nossas entregas. Ninguém tinha ou ainda continuam a não ter certas respostas. Acho que a palavra que mais se encaixa nessa turbulência de ressignificarmos nossas ações é a transformação. Fomos “obrigados” a nos transformar e a transformar nossas ações, de modo que fosse acessível a todos e para todos, mesmo que distantes fisicamente. Via colegas que dificilmente utilizavam mídias sociais, adaptando atividades para atingir um determinado público, do seu jeito da sua maneira. É nessa transformação que as atividades com o público da primeira infância devem acontecer. Elas precisam ser acessíveis, transformadoras. E se elas não têm seus colegas e amigos por perto, a interação com os pais e/ou familiares se torna cada vez mais frequente. Talvez daí tenha saído um “lado bom”, se existe algo de bom em uma Pandemia, não é verdade? Outrora deixado muitas vezes de lado, com o isolamento cada vez mais os pais tiveram que “assumir” um papel de estarem mais próximos, acompanhar melhor as atividades e interagirem com elas.

Com certeza essas crianças terão passado por momentos de aprendizagem constante, algo que ficará marcado nas suas memórias e lembranças. E o pouco que cada um de nós educadores e educadoras do Sesc desenvolveu dentro das suas possibilidades, certamente terá feito uma diferença enorme no desenvolvimento dessas crianças, seja no aspecto físico, intelectual ou mental. Acredito que fizemos tudo que nos foi possível, nesse processo de transformação. As adaptações foram e serão necessárias por mais tempo, até que tudo volte a ser como imaginamos, até termos mais um dia de Réveillon e reorganizamos todos os nossos planejamentos mentais e ter um ano mais “normal”.

Wanderson Rodrigo Pereira


MARIA ZUPELARI | Educadora não formal

Quando os fogos de artifício explodiram e tornou clara a noite, uma nova década se anunciava. Naquele momento, fechei os olhos e, como manda a tradição, fiz um pedido: Que eu aceitasse as permanências, mas que buscasse muito ativamente as mudanças que há tanto desejava. Pedi também para que eu aprendesse a lidar bem com a distância, com as saudades da criança por quem sou encantada, minha única sobrinha, que havia pouco tempo tinha se mudado para Portugal. Sabia que a sua companhia, 2020, seria para mim um desafio de aprender a viver longe, de amar e torcer pelos outros, e de buscar caminhos mais atrativos para mim. Mas, não imaginava, acho que ninguém, o tropeço que estava por vir! Você chegou com este soco no estômago, com um silêncio tão alto, que veio de dentro, e que foi inflando até tomar todo meu corpo, em março. Por sorte, por descaso, ou quem sabe, por capricho seu, você nos deixou pular o carnaval, afogar tantas mágoas no próprio suor, em pancadas de chuvas, e em mergulhos na multidão. AS folhas do calendário mal sopraram e pararam em março, congeladas. O estranho caso de um congelamento do planeta, enquanto por aqui no Hemisfério Sul, estávamos com tanto calor. Ninguém nas ruas. Céu limpo, pintado de rosa e lilás, avisando que o tempo congelado ou não, o outono ia passar. E, passou. Passou tão rápido, e também tão devagar, quanto as motocicletas dos entregadores. Zuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu uuuuuuuuuuuuuuuum! Entregadores de aplicativos indo de lá para cá, e nos lembrando como é frágil e perigoso ser trabalhador em um país que recém perdeu suas leis e seguranças trabalhistas. Vivendo a História. Hoje, agora. Apocalipse no qual os zumbis podemos ser nós, qualquer um de nós. Grande demonstrativo da força da natureza, a crise ambiental literalmente bateu em nossas portas e janelas, lambuzadas de álcool em gel. Tempo que faltava, agora até pareceu sobrar, teve tanta coisa que reapareceu, principalmente boas histórias nas páginas esquecidas. A horta ficou tão verde, a casa limpa, a rede cheia, e o peito, cada vez mais vazio. Aquela “zumbizeira” toda cotidiana, de tantas crianças gritando, vários familiares falando ao mesmo tempo conosco, se transformou em silêncio. De repente, me vi lendo, estudando, pesquisando, ouvindo sobre crianças, mas afastada delas. E, afastada da criança que é a pérola da minha conchinha do mar.

Ela cruzou de volta o Atlântico, com minha irmã e cunhado, de volta, estar perto felicita, mas não acalma, pois nos juntar a quem amamos parece agora ser uma tarefa árdua, complexa e cheia de riscos. Eu já tinha gostares de olhar para as crianças bem pequenas, e agora, coincidentemente ou não, eu estava mais voltada para elas, sem elas. Sem brincar. Sem conversar. Sem criar junto. Um hiato solitário. Eis que no meio de um trabalho sobre a valorização do brincar, aproximei-me quase com o inverno, que teimava em não chegar, esquecendo-se de esfriar nossas cabeças, de uma criança muito especial, guardadinha em tramas da memória. Se, antes pensamos e refletimos muito sobre não acessar às crianças pelas telas, por acreditarmos que este tempo em casa inesperado poderia ser uma rica oportunidade para as famílias estarem e se descobrirem juntas, apesar das dificuldades, tudo teve de ser repensado, recriado. A balança já pendeu para os dois extremos: já desaparecemos da vida das crianças, e também já adentramos suas casas, em suas conchas de segurança. Pensar em estar com as crianças pelas telas trouxe a gravidade da desigualdade social, e ainda, uma grande preocupação com as famílias que convivíamos, por distintas razões. Mas, não é fácil em uma equipe multidisciplinar e com certa autogestão encontrar formas confortáveis e produtivas que agradem a todos de como aceitar as mudanças de objetivos, formas, tempos e pessoas. Ver pela tela as crianças com quem diariamente brincávamos foi muito mais estranho do que eu havia imaginado. Faltou corpo. Faltou. Ansiei pela presença, doeu, saudades cortantes. Um certo sentimento de que não sabemos se voltaremos um dia trabalhar e viver como antes, quando nosso dia-a-dia era absolutamente uma aglomeração. E, se, não for encontrada uma vacina? E, se ela não chegar para toda a população de forma acessível? Recriação, ou recreação? O que podemos fazer à distância pelas crianças, pelo brincar, pela boa convivência familiar? Com o aprofundamento das distâncias, as telas chegaram como oportunidades e cheganças. Talvez, principalmente para nós, educadores. Ficar sem as crianças, e com tanto silêncio, pode fazer com que corramos o risco de nos endurecer, nos desencantar, com o agravo da ansiedade do que há de ser, do aumento do medo cotidiano de continuar viva, segura, com o olhar triste e quase sem esperança de ver o que faz de nós brasileiros queimando, acabando-se em fogo,


DENISE TEALDI | Pedagoga cobiça, ambição e autoritarismo. E, em plena primavera, já sentimos o ardor de suas fagulhas, país em chamas. 2020, às vezes sinto que quando você se for, não haverá mais país, este país. Tenho receio de perceber que, com medo de um vírus causado pelo desequilíbrio ambiental, nos depararmos com outro muito maior, e sem volta. Talvez o maior medo que o distanciamento social trouxe foi que, em ampla escala, nos deparamos com o distanciamento da civilização. Evidenciou a desigualdade, as injustiças, o egoísmo, e, junto com tudo isso, nosso sentimento de incapacidade frente a uma situação tão calamitosa. Ao passar do seu tempo, tantos medos e dores, fizeram que nossos distanciamentos nos aproximassem tão velozmente da barbárie. Tantas folhas de seu calendário foram necessárias cair, e uma certeza se torna um guia, temos que cuidar de nosso desencantamento, de nosso endurecimento enquanto educadores, pois não cabe falar, pensar e criar com e para a infância sem se encantar. Mas, se o encantamento costumava se dar no encontro, no com-viver, no re-partir, agora ele tem que vir de dentro, de nós mesmas. Não cabe neste pensamento o “déficit de conteúdo escolar”, a preocupação com a falta das escolas/ambientes não-formais para mim se deu na ausência de uma estrutura que protege, alimenta as crianças, e que, por essência, promove o encontro. Qual é o tamanho da falta de convivência com outras crianças, para cada faixa etária? Quanto pode doer para um professor passar meses sem ver/estar com seus educandos? Que abismo está sendo cavado por câmeras fechadas, quando tratamos de crianças mais velhas ou adolescentes, ou até pela ausência de encontros, virtuais ou não, para os pequenos? E, ainda assim, não há uma linha de esperança à frente, não há um cenário seguro para o retorno. Qualquer retorno será, antes de muito estudo e modificações estruturais e metodológicas, uma antecipação, provocada pelo crescimento da ansiedade, principalmente dos adultos, familiares e dirigentes, políticos em período eleitoral. Você podia ser uma oportunidade de repensarmos a barbárie, as injustiças, as dores. Mas, pela própria desigualdade sobre a qual se formou o Brasil, e o mundo contemporâneo, não tem como avançarmos em civilização, sem repararmos o básico, que todos precisam de proteção, cuidado e melhores condições e estruturas. Infelizmente, por aqui, não foi o caminho eleito.

Maria Zupelari

Jundiaí, 29 de outubro, 2020. 2020 Olá, muito prazer! Meu nome é Denise Tealdi, sou pedagoga de um abrigo. Espero que esteja bem, afinal, nos deixou muito preocupados! Sentimos medos, angústias, raiva, amor, tristezas, incertezas, felicidade... Um mix de sentimentos juntos, que não estávamos acostumados a vivenciar de uma só vez. Ao contrário de outros educadores, minha rotina junto às crianças, se intensificou no acolhimento. Estive mais tempo com as crianças e adolescentes, estudei muito mais do que estudava antes, aprendi muito, até sobre o que eu não sabia. Vi o mundo dentro do acolhimento de outra forma.... Às vezes professora, muitas vezes mãe, amiga, conselheira, chata e exigente, mas tudo valeu a pena! Conheci as particularidades de cada um, podendo viver com eles, ótimos e agradáveis momentos. Foi lindo ver eles se ajudando nos deveres de escola, na tecnologia que agora faz parte de nossas vidas, na união, não vista com tanta frequência antes.... Tudo valeu a pena! Tenho muito a agradecer o quanto sou respeitada nas escolas parceiras, sendo ouvida e trabalhando junto a cada professor, coordenador e diretor, aprendendo a lidar com cada um deles.... Acho que você 2020, foi um ano de conhecimento de particularidades, fazendo tudo valer a pena! Foi através de 2020, que conheci meu verdadeiro potencial como educadora, aprendendo a coordenar uma rotina nunca vivida antes. Consegui conhecer cada um dos colegas de trabalho, como realmente são...E tudo valeu a pena! Espero que você 2020, com todos os males que passou, tenha aprendido também muitos coisas boas. Apesar de tudo, agradeço o tempo que precisou para se convalescer, afinal, tudo valeu a pena! E que 2021, venha cheio de saúde!

Denise Tealdi | Pedagoga Associação e Comunidade Casa de Nazaré


Anônimo(a) | Educador(a) formal

Terminamos o ano de 2019, com muitos planos para 2020. Começamos janeiro com muita garra, fevereiro passou e quando chegou março tudo parou e deu vontade de escrever uma carta para vc 2020. Vivemos em tempos extremos e sabemos disso em tempo real, pois temos na ponta dos dedos o acesso a um portal imenso de dados, ao mesmo tempo sabemos que o dia a dia a vida é feita de miudinhos, é o que dá sentido e forma a nossa vida. Se aprender é o verbo, a ação só pode ser a educação. Aprendemos com essa grande parada, a resiliência e a empatia com o próximo, e a chegada a novos tempos como: trabalhar em casa com novos mecanismos e regras. Perdemos muitas vidas com esse virus e aprendemos a dar mais valor a união com a família e amor ao próximo. Tenho certeza que o próximo ano será uma chegada de uma nova era. Seja bem vindo o ano de 2021. Tenha certeza que não importa quem você é, ou quem é a pessoa que você conhece,se você for um educador(a) ensine e se você for estudante (aprenda).

Anônimo(a) | Educador(a) formal

Um ano que começou com sonhos esperanças.... Fomos surpreendido logo após o carnaval,fomos ficando assustados com cada notícia vindo de fora e não queríamos acreditar que chegaria até nós. Tivemos que nos reinventar tanto os sonhos,no trabalho em casa... De repente tudo foi mudando e nós nos adaptando a cada dia. Tivemos grandes perdas,família chorando pelas perdas do luto e famílias se desfazendo por não aguentar tanto confinamento . Infelizmente estamos ainda assustados com tantas ondas vindo a cada dia ...mas agora com uma pequena esperança em dias melhores para que possamos nos reprogramar e iniciar um novo ano com sonhos e esperanças... Enfim um ano de aprendizados diferentes e na certeza que até aqui valeu a penando resguardar e se apegar a um Deus poderoso que tudo sabe o porque nós precisamos passar por essa lição... Um ano diferente!! Obrigada 2020 por tudo!! Até aqui o senhor nos guardou!! 2021 tenho fé que será diferente.


Anônimo(a) | Educador(a) formal

Elisângela | Educadora formal

Vc nos ensinou muita coisa.......

Olá 2020!

Mas agradeço que vc já está indo embora, sei que o Covid 19 veio com tudo.

E lá se vai o ano que ficou para história, um ano que começou com um vírus lá na China e de repente já estava aqui e tudo foi parando, a vida parou. Até pensávamos que logo ia passar, mas já se passaram quase nove meses, e ele ainda persiste.

Mas 2020, vc não deixará saudades! Até nunca mais!!!!

Tivemos que nos reinventar, nos adequar a situação do distanciamento social. Foi o ano que a tecnologia se destacou, sem crianças na escola, meu trabalho como educadora foi através do teletrabalho, com o ensino remoto todos da educação tiveram que inovar na maneira de chegar até os alunos. Foi um ano de incertezas, estressante, difícil para muitos, muitas perdas de vidas, desemprego em alta, desequilíbrio emocional, informações incertas. Afinal ninguém sabia, acho que nem sabe ainda ao certo lidar com esse vírus, só nos resta ter fé para que logo tudo fique bem! Posso dizer que esse ano foi reflexivo e de solidariedade. Um ano bem família, no começo muitas receitas novas, colocar em ordem o que nunca dava tempo. Tivemos tempo de parar e observar tudo que está ao nosso redor e valorizar os pequenos detalhes. Enfatizou que a família e nossa casa é o melhor abrigo. Fico por aqui. Que 2021 venha a vacina e seja mais leve!

Elisângela


Anônimo(a) | Educador(a) formal

2020 voce chegou....como sempre em todo ano novo, tínhamos muitos planos e expectativas, e logo voce nos mostrou que seria um ano diferente pois vinha acompanhado por um mal que em pouco tempo se tornaria uma pandemia (covid-19) e assolaria a humanidade, ceifando muitas vidas e infectando muita gente sem exceção de raça ou nível social. Nossas rotinas foram interrompidas e nos vimos sem alternativas, confinados dentro de nossas casas pelo distanciamento social . Voce está sendo um tempo de muito aprendizado para todos, pois embora estejamos distantes dos amigos, familiares e de pessoas queridas, a tecnologia nos dá o privilégio de nos sentirmos perto e mantermos os laços afetivos mesmo à distância. Ainda que pra muitos tenha sido um tempo de adversidades e incertezas, pra outros foi muito bom e valeu a pena. Estamos chegando ao seu fim e já que não se conseguiu uma solução para os males causados durante o seu trajeto, voce fica incumbido de passar isso para o seu sucessor como primeiro item da pauta. Diga a ele que o esperamos acompanhado de paz e saúde. Saudades de 2020?...Não sei se teremos, mas não será esquecido facilmente. Sem mais.....GRATA

Anônimo(a) | Educador(a) formal

Prezado 2020, Estou preocupada com você, tenho ouvido muitas reclamações ao seu respeito, mas não quero ser como os outros, tenho tentado ser positiva e achei melhor falar direto com você. Eu sei que o ser humano não está colaborando, mas você chegou com o pé na porta querido, vai com calma. Logo que você chegou já foi trazendo o corona vírus, teve nuvem de gafanhotos, tempestade de areia, ciclone no Brasil, explosão quase como bomba atômica, terremotos, revoltas civis, e a lista continua. Eu sei que as profecias bíblicas tem que se cumprir, mas deixa um pouco para o seu sucessor também. Nada disso foi fácil, mas a maioria já passou, o problema mais persistente e desanimador é esse tal corona, vamos tentar resolver isso também, o que acha? Colabora com a gente? Mas não sou insensível, eu sei que os problemas são consequência das más administrações anteriores e você só seguiu com o jogo. Também aprendemos muito com você, desenvolvemos resiliência, paciência, perseverança, qualidades que são muito importantes para enfrentarmos o que pode vir a frente. Obrigada pelo tempo que nos deu com nossas famílias e o tempo para estudo, para nos desenvolvermos melhor, isso foi muito útil, espero que possamos colaborar melhor com seu sucessor, de formas que não sabíamos como fazer com você. Mas me promete que vai pensar com carinho, para encerrar seu mandato com um pouco de paz, e quem sabe segurança. Isso também seria cumprimento de profecias, olha que beleza. E que venham melhoras, estamos precisando. Obrigada por ter lido até o final. Atenciosamente, humana.


Anônimo(a) | Educador(a) formal

Você foi um ano atípico, assustador e preocupante. No início do ano estava ocorrendo tudo bem, me adaptando na escolas nova, onde pedi minha remoção e adorando as crianças pequenas. De repente começaram os falatórios de pessoas doentes no mundo a fora e, comecei a ficar preocupada. Depois de um dia, tudo parou, ficamos em casa sem ver meus pais, sogros e ilhados. Supermercado online, aulas do filho online, e a internet ? Meu marido precisou trocar e, nós, professores de Educação Infantil, precisamos nos reinventar e criar estratégias online para chamar atenção dos alunos e famílias. Aprender a gravar vídeos e ajudar o filho estudar, fazer dever, provas, trabalhos e entrar em reuniões no google meet para o filho, para meu trabalho e dormir a noite esquece ..... quantas noites em claro, com medo da morte, dos entes queridos morrerem.  Essa onda de terror que pegou nosso mundo, muitos países com muitas mortes e nós nos adaptando a essa mudança de vida....  Bom, o tempo passou e fomos nos adaptando e nos acostumando, as mortes foram diminuindo e nos começando a sair de casa. Toda mudança assusta, mas tudo passa. ....... Os pontos positivos, demos mais valor a vida, família, amigos. O tempo passou mais devagar, deu para caminhar, tomar sol, participar das aulas do filho, ajudar em trabalhos e provas. O marido ficou mais presente, arrumamos a casa, armários, penduramos quadros, consertamos o que não tinha tempo antes......  No trabalho, novos desafios mas novas conquistas e aprendizagens....... Foi um ano difícil mas um ano de muitas conquistas novas. Ficamos mais caseiros e tivemos mais fé em Deus, nos estressamos com os deveres do filho mas recordamos conteúdos esquecidos ....... valeu 2020!

Fernanda | Educadora formal

Querido ano de 2020, Não foi fácil chegar até aqui. Na minha vida posso dizer que tive a maior felicidade desse mundo nesse ano, pois mesmo em meio há tanta pandemia e a perda de tantas vidas, eu ganhei a mais bela vida, a de ter mais um filho. Foi muito duro estar em isolamento, não receber visitas e compartilhar de alegrias , abraços e beijos com amigos e familiares, porém, por outro lado, pudemos desfrutar da companhia da nossa família dentro de casa. Pudemos ter a proximidade ao sentar para comer, para assistir a tv, momentos próximos de interação com os filhos, sentir o amor e o calor e carinho em meio a tanto medo e insegurança. Estive afastada das atividades escolares por um tempo, mas estive a todo momento realizando elas em casa com os meus filhos pois os cuidados são os mesmos e vendo também o desenvolvimento da minha bebê. Tivemos muitas dúvidas de como seria com os familiares, com as crianças pequenas, como elaborar atividades, como fazer com que tudo desse certo. Mas ao final de tudo, vimos o retorno das famílias e o sorriso estampado no rosto das crianças e pudemos matar a saudade através de vídeos,imagens,mensagens e de certa forma poder estar próximos . Esse ano nos trouxe muitos aprendizados e o maior de todos eles foi a empatia. Desejo que no próximo ano estejamos livres dessa pandemia e possamos estar bem próximos como sempre estivemos,mas levando no coração o aprendizado,amor, paciência, comunhão e toda empatia que tivemos durante todo esse ano! Um beijo,

Fernanda


Anônimo(a) | Educador(a) formal

Você 2020 já está velhinho, quase terminando!!!

Descobri a solidariedade e a fraternidade!!!

No dia 01 de janeiro, você nasceu!!!! Novinho em folha!!!

Apesar de muitos acontecimentos terríveis no mundo, como guerras, doenças, a

Eu o brindava em meio a uvas, champagne, fogos, músicas e alguns projetos!!!!

a fome..... A Terra está unida em descobrir remédios eficazes e vacina eficiente!!!!

Meu filho Paulo estava em férias na Irlanda, quando um tal vírus começou a despontar!!! Vírus, isso não será fácil, pensei. O Paulo resolveu voltar ao Brasil. Avisei venha de máscara, não a tire!!! Ele conseguiu achar e comprou- as.

E você 2020 está chegando ao fim!!!!

Por ter trabalhado em um hospital municipal de Jundiai e minha primeira formação é Biologia, a minha intuição dizia que o Mundo se dobraria perante essa ameaça.

Não houve um dia de 2020 sem aprendizagem !!!

Em fevereiro o mundo estava já diante da maior Epidemia que o pós modernismo ainda não conhecia. Mas quem diria que o meu aniversário de 2020 seria tão marcante!!!! 19 de março! !! Dia de São José, o pai de Jesus na Terra!!!! O dia 20 de março despontou e logo veio a notícia que as escolas e alguns outros setores parariam. E parou!!!!! Meu coração batia muito rápido e a minha mente começou a girar!!!! E eu me perguntava : _ “ Meu Deus como conseguirei dar conta de tudo?” Fiz uma pequena lista e lá fui de máscara no rosto. Comprei alimentos e remédios de uso contínuo para a minha família e meus pais. E os dias foram passando , mais setores de trabalhos fechando, até que só os essenciais podiam ficar abertos e funcionando. O afastamento social tornou-se obrigatório. E agora perante a nova realidade, as pessoas tiveram que se desdobrar, se reinventar!!! A toda hora as informações do mundo todo chegavam. E a Covid-19 mostrou -se dura cruel e brutal!!! Os dias dos outros meses chegaram e conheci também o lado bom!!! Fiz muitas atividades de Teletrabalho, me organizei, pude cuidar de todos da minha família, sou solidária aos vizinhos, amigos e parentes.

Não posso reclamar. Todos da minha família, os colegas de trabalho, os amigos e os vizinhos estão bem de saúde!!!! Aprendemos o significado de respeito !!! Eu respeito as pessoas e as pessoas me respeitam!!! Faremos um Natal em família e o Ano Novo também!!!! Poderei contar aos meus netos e sobrinhos netos , como sobrevivi o Ano de 2020!!! O meu aprendizado foi intenso !!! Agradeço a Deus por Ele ter me concedido a Graça de ter vivido o Ano de 2020. Enquanto só muitos criticam a Internet, eu a vejo como a mais poderosa ferramenta do nosso Século. E você Ano 2020 vai se despedindo e eu renovo toda a minha Esperança e Fé no Ano que está quase nascendo!!!! Afinal, o importante não é ter, o importante é ser!!!!!!!

“A sabedoria da natureza é tal que não produz nada de supérfluo ou inútil” Nicolau Copérnico


Anônimo(a) | Educador(a) formal

Anônimo(a) | Educador(a) formal

É 2020 o que dizer pra você ou de você??

O ano de 2020 para mim é um ano em que aconteceram coisas em minha vida que jamais vivi, apesar de terem acontecido coisas a agradecer, a pandemia e problemas particulares ocorreram o ano todo e talvez possam ser solucionados somente em meados de 2021, porém agradeço estar vivo e o meu pensamento para 2020 é: termine logo, que 2021 possa ser diferente e que eu possa novamente dizer: hoje fiz uma brincadeira divertida com as crianças na aula de educação física, o que você fez no final de semana? fui viajar! Fui nadar! Reuni a família no domingo...

Você chegou e acreditamos que seria um ótimo ano, muito proveitoso e até mesmo de muitas vitórias, mas não foi bem assim. Juntamente com você veio essa pandemia do covid 19, onde ficamos muito assustados, pois pessoas se infectaram, algumas se salvaram, outras ficaram com sequelas e mais outras até perderam a vida. População em desespero por não entender na verdade o que estava acontecendo, mesmo que todo dia passava em TV ou Rádio. 2020 você foi um ano complicado para todos, mas acho que uma coisa foi útil pra muita gente, o aprendizado de valorizar a vida, a família e mostrou que nessas horas não existe classe social e que tudo o que aconteceu foi pq Deus assim permitiu. Mas eu gostaria de te fazer um pedido 2020… Gostaria muito que vc terminasse o seu ano com uma trégua, para podermos passar o Natal com paz, alegria apesar de muitas dores, muito amor ao próximo e muitas bênçãos de Deus , gostaria que pudéssemos abraçar nossos amigos e familiares sem se preocupar como vai ser nos próximos dias, esperando sempre que será o melhor. Espero que vc veja td isso com atenção e consiga nos dar essa alegria. Sem mais......obrigada



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