SELECIONADOS 4 A
DE NOVEMBRO 8 DE JANEIRO
DE DE
2016 2017
A Mostra, a seleção, as propostas e a temperatura Um intento de Leonardo Araujo e Luiza Proença em explicitar, ficcionalmente, os critérios, estruturas, contratempos e as condições climáticas dos preparativos para a 27ª Mostra de Arte da Juventude, do Sesc Ribeirão Preto. * Era uma manhã fria de terça-feira. O júri havia sido convocado para se encontrar às 10hs no Sesc Vila Mariana, São Paulo. A equipe do Sesc Ribeirão Preto aguardava em uma grande sala, praticamente vazia – algumas mesas juntadas, um projetor, uma tela e cadeiras. Eram três pessoas para analisar os projetos e outras três, da equipe do Sesc, que assistiam, na finalidade de cuidarem de futuras mostras. - Bom dia. Temos café? - Quantos projetos recebemos? - A princípio 52, mas acabamos recebendo alguns de última hora que estamos organizando para vocês avaliarem também. - Você começa com aqueles daquele lado, eu por aqui e você pelos digitais. De tarde abrimos a discussão, pode ser? - Acho ótimo. - Quantos mesmo temos que selecionar? - Não tem um número determinado e depende do espaço da sala também. Ano passado foram 12. Podem ser premiados 3 ou mais artistas, para dividir o valor de R$ 15.000 e realizarem uma exposição em abril de 2017. - R$ 15.000? Uau! É bastante. Já é mais do que o SARP [Salão de Arte de Ribeirão Preto, que acontece no Museu de Arte de Ribeirão Preto]. Talvez por isso hoje já não é muito claro a diferença dos dois programas. E talvez seja por isso que artistas que já participaram de Mostras da Juventude anteriores estejam se inscrevendo novamente. O edital não impede, mas acho que não devemos selecionar quem participou da Mostra recentemente. Também precisamos ficar atentos para ver se os artistas que poderiam ser premiados tem produção suficiente para fazer uma individual. - Você conhece algum dos artistas? - Conheço alguns poucos, mas não muito os trabalhos. E você? - Não, nenhum. Mas é legal ver que tem bastante gente de Ribeirão e região. - Inscrição via digital só tem gente da ECA. Parece que alguém ensinou para eles a economizar papel... - Dinheiro, né! - Acho ruim quando os artistas escrevem sobre o trabalho, talvez seja melhor pedir para eles não escreverem nada. - Acho o contrário! Tinha justamente pensado que seria importante nas próximas mostras pedir uma descrição de pelo menos um parágrafo de cada trabalho. Somente pela legenda e imagem às vezes não dá muito para entender. Além disso, é um bom exercício para eles no futuro, já que muitas convocatórias, no mundo, pedem textos. - Concordo plenamente. Acho que esse exercício é fundamental, até mesmo para saber o quanto há uma consciência da própria produção. - Tem duas pessoas que mandaram trabalhos muito semelhantes sobre sexualidade, mas uma já participou e também acaba de participar do SARP. Vamos considerar a outra? - Alguém tem Nimesulida? - Eu tenho! Após o almoço, as duas pessoas que analisavam os projetos impressos foram ver juntas os projetos enviados por e-mails e também os vídeos. Terminando esse processo, compartilharam a lista dos artistas que achavam que deveriam ser selecionados, indicando já obras e projetos específicos para integrarem a exposição. Desta lista, foram excluídos aquelas que participaram recentemente de uma exposição em Ribeirão, seja na própria Mostra ou no SARP, apesar de isso não ter sido uma condição do edital. Foi quase um consenso: era claro reconhecer entre os artistas, os que tinham
uma produção mais ampla ou uma obra que demandou mais dedicação e reflexão. Também teve um esforço de identificar a produção que não se revela tão facilmente nos formatos e linguagens mais comuns da arte contemporânea: um trabalho de arte digital, uma imagem desfocada, uma legenda complexa. Chegou-se em cerca de 19 nomes e, por sorte, não foi necessário fazer nenhum equilíbrio de gênero, idade ou de meio – critérios tão comuns e importantes em comissões de seleção. * Era uma sexta-feira de calor. Sabe-se que as temperaturas de Ribeirão costumam ser elevadas. Um dos jurados chegou um pouco atrasado, pois havia passado a noite em claro – insônia. Outro bem mais tarde, pois só pode sair de São Paulo no mesmo dia do encontro. Mas um deles chegou bem cedo e já estava na sala de exposições, onde iria acontecer a 27ª Mostra da Juventude, e encontrou as obras ainda nas suas embalagens de correio e foi logo propondo: - Vamos abrindo? O processo de organizar os trabalhos recebidos ocupou quase a manhã toda. O júri ficou bastante surpreso com a qualidade de apresentação da maioria das obras. Somente duas delas pareceram muito diferentes das expectativas. Mas quando finalmente aparentava que todos os trabalhos estavam disponíveis para a avaliação final, concluiu-se que era melhor almoçar. O sempre gentil técnico do Sesc os levou no kilo em que come nas ocasiões especiais. Após o almoço, constataram que ainda faltavam alguns vídeos enviados pela internet para serem analisados. Com isso, um dos jurados mencionou para outro: - Estou ficando angustiado. Estamos demorando muito. - Concordo. Talvez possamos nos dividir. Faço a lista de obras, enquanto você tenta calcular se todas as obras cabem no espaço. - Melhor, vou coloca-las nos lugares que pensamos cada uma e assim visualizamos a exposição. As projeções e TV`s faço uns displays de papel. - E eu posso ajudar a reunir as obras que não entraram! - Ótimo! Acho que se tivermos espaço, podemos dar a oportunidade para todos os artistas mostrarem pelo menos uma obra. - Sim, de acordo! - Agora, questão importante: a premiação. Ao invés de selecionar agora, acho melhor conversar com os artistas no dia da abertura e a partir disso entender quem poderia desfrutar melhor do diálogo conosco e da oportunidade de ocupar um espaço todo desse. - Realmente! Se tivermos essa oportunidade, podemos avaliar com mais cautela quais dos artistas que já temos em mente para premiação poderiam se sair melhor numa mostra individual. Conseguiríamos saber os interesse por parte deles de produzir trabalhos novos ou até mesmo de apresentar certa trajetória de produção. Alguns ainda não apresentam uma larga produção, mas já se configuram com uma pesquisa aparente que se reflete no todo do trabalho. - Acho que não podemos fazer isso. Há uma tradição de revelar os premiados na abertura. E a cidade ficaria ociosa dessa informação. - Sim, porém, ao mesmo tempo, não só nós, mas a cidade e os artistas ganharíamos muito em qualidade, pois teríamos tempo e clareza para decidir e assim realizar o melhor possível. - Olha, não sei. Precisamos ver com o Sesc e resolvemos durante a semana seguinte. Pode ser? - E quem pode resolver essa arquitetura? A exposição está bem cheia, mas não queremos tirar nenhuma obra… - Podemos chamar o Nilton Campos, do MARP, sabe? Ele é arquiteto também… - Estamos em casa! Talvez podemos criar uma parede, ou construir um ambiente para aquele artista... Já era começo da noite. Uma pessoa iria ficar na cidade para conhecer e visitar os espaços de arte, pois nunca havia visitado. Outros precisavam voltar para São Paulo, pois tinham compromissos no sábado pela manhã. Embarcaram separados, e agora trabalham neste texto em documento aberto no Google Drive. Na verdade, continua em aberto, uma vez que a Mostra não começa no edital nem termina na seleção, mas acontece justamente neste e em outros encontros.
Luiza Proença e Leonardo Araujo - Curadores convidados da 27ª MAJ
27ª MOSTRA DE ARTE DA JUVENTUDE
ARTISTAS SELECIONADOS 2016 Aline Moreno Campinas/SP Antonio Gonzaga Amador Rio de Janeiro/RJ Bruno Ferreira São Paulo/SP Flavia Kitasato São Paulo/SP Gabriela de Laurentiis São Paulo/SP Gustavo Ansia Limeira/SP Heitor Alaleris Ribeirão Preto/SP Juliana Akstein São Paulo/SP Lahayda São Paulo/SP Manu São Paulo/SP Matheus de Simone Juiz de Fora/MG Osmar Domingos Itajaí/SC Paulo Aureliano da Mata Inhumas/GO Rodrigo Arruda São Paulo/SP Sté Frateschi Ribeirão Preto/SP Ultraviolet Ribeirão Preto/SP
ARTISTAS PREMIADOS Aline Moreno
Antonio Gonzaga Amador
Lahayda
Manu
[Exposição Abril e Maio 2017]
Ultraviolet [Ilustração do material gráfico das exposições da Mostra em 2017]
COMISSÃO DE SELEÇÃO E PREMIAÇÃO Carolina Barmell, Leonardo Araujo e Luiza Proença
PROJETO EXPOGRÁFICO Nilton Campos
ABERTURA
ATIVIDADES FORMATIVAS
4/11 . SEXTA . 20h30
5/11 . SÁBADO
VISITAÇÃO De 5 de novembro de 2016 a 8 de janeiro de 2017. De terça a sexta, das 13h30 às 21h30; sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h.
11h . BATE-PAPO Com os artistas participantes da exposição e curadores. 15h às 18h . OFICINA DE FORMAÇÃO Comissão de Seleção e inscritos no projeto.
ALINE MORENO
BRUNO FERREIRA
[1992, Campinas SP / São Paulo SP]
[1986, Mogi-Mirim SP / São Paulo SP]
Contrapostos
Lugares Vagos
2015
2016
Madeira, tiras de papel e concreto
Papelão e equipamento eletrônico
13,8 x 19,1 x 6,4 cm
dimensões variadas
Contrapostos
Lugares Vagos
2015
2016
Madeira, tiras de papel e concreto
Papelão, metal e tecido
41,2 x 29,4 x 4,7 cm
dimensões variadas
Janela
Lugares Vagos
2016
2016
3 fotografias / Impressão sobre papel
Papelão e metal
À esquerda, imagem de uma das fotos da obra “Janela”
À esquerda, detalhe do projeto de uma das obras “Lugares Vagos”
dimensões variadas
FLAVIA KITASATO ANTONIO GONZAGA AMADOR [1991, Rio de Janeiro RJ / Rio de Janeiro RJ] Co(r)tação do açúcar
[1991, Salvador BA / São Paulo SP] Faces, da série Tijolo 2015 Gravura em metal (água tinta) e pó de tijolo sobre papel 43 X 45 cm
2015 Nanquim e pigmento sobre papel Poliptico com 12 desenhos 23 x 32cm O açúcar da união 2015 Vídeo 1’56” À esquerda, detalhe da obra “Co(r)tação do açúcar”
Molde, da série Tijolo 2015 Molde de silicone e pó de tijolo sobre madeira 21 X 40 cm À esquerda, detalhe da obra “Molde, da série Tijolo”
GABRIELA DE LAURENTIIS [1987, São Paulo SP/ São Paulo SP] Reverberações de um choque 2016
HEITOR ALALERIS [1991 Capetinga MG / Ribeirão Preto SP] Veículos 2016
Impressão sobre papel
Garrafa de refrigerante, rolha, equipamento eletrônico e outros
80 x 54 cm
dimensões variadas
Sem título
Sistemas
2016
2016
4 fotografias / Impressão sobre papel
Madeira, espelho, fio de nylon, vidro e outros
40 x 60 cm
dimensões variadas
À esquerda, detalhe da obra “Sem título”
À esquerda, detalhe da obra “Veículos”
JULIANA AKSTEIN [1994, Poços de Caldas MG / São Paulo SP] Marinho
GUSTAVO ANSIA [1991, Limeira SP / Limeira SP]
2014 4 fotografias / Impressão jato de tinta sobre papel fotográfico 32 x 50 cm
Sem título 2016 Pintura sobre parede
À esquerda, imagem de uma das fotos da obra “Marinho”
200 x 1300 cm À esquerda, detalhe da obra “Sem título”
LAHAYDA [1992, Embu-Guaçu SP/ São Paulo SP] Série Crediário 2016 5 fotografias / Jato de tinta sobre papel neutro Hahnemühle 42 x 59,4 cm À esquerda, imagem de uma das fotos da obra “Série Crediário”
MANU [1987, Belém PA / São Paulo SP] Restauro 2016 Prato de Barro
PAULO AURELIANO DA MATA [1987, Inhumas GO / Catanduva SP | Porto PT] Eu Gisberta
18 x 18 cm
2015
Norte sul
29,7 x 117,5 cm
Impressão lambda em papel fotográfico fosco
2016 Prato de barro e bússola dimensões variáveis À esquerda, detalhe da obra “Restauro”
À esquerda, detalhe da obra
RODRIGO ARRUDA [1994, São Paulo SP / São Paulo SP] Sem título 2014 Vídeo 5’36”
MATHEUS DE SIMONE [1994, Rio de Janeiro RJ / Juiz de Fora MG] Ostracismo 2016 Vídeo
À esquerda, detalhe de imagem de frame do vídeo
STÉ FRATESCHI [1988, Ribeirão Preto SP / Ribeirão Preto SP]
1’45” Quem é ela na fila do pão? À esquerda, detalhe de imagem de frame do vídeo
2015 8 fotografias / Impressão sobre papel 11 x 9 cm À esquerda, imagem de uma das fotografias
OSMAR DOMINGOS [1990, Brusque SC / Itajaí SC] As três irmãs 2016 Vídeo 5’30” À esquerda, detalhe de imagem de frame da projeção
ULTRAVIOLET [1998, Ribeirão Preto SP / Ribeirão Preto SP] Opression, ode ao comando 2016 3 imagens / Colagem digital À esquerda, uma das três imagens
Detalhe da obra de Yuli Yamagata, artista premiada na 26ª MAJ 2015, “Quintalzinhos”, 2015.
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