Muito prazer, meu primeiro disco #4 ALCIONE Já imaginou, sem moralismos, uma das maiores cantoras da história do Brasil ter de exibir parte por parte de seu corpo nu para sobreviver? Algumas pessoas – poucas, é verdade – chegaram a fantasiar essa hipótese. Quando, no fim da década de 1960, a maranhense Alcione deixou a escola onde dava aulas em São Luís para apostar suas fichas na vida artística no Rio de Janeiro, seu pai e alguns de seus irmãos pensavam que aquela garota negra, esguia e de cabelos curtinhos, então com apenas 20 anos de idade, andava ganhando a vida fazendo strip-tease pelas boates da capital fluminense. Durante os sete longos anos passados entre o Rio e São Paulo antes de gravar seu primeiro disco, “A voz do samba” (1975), Alcione começou a despertar o interesse do público e da mídia não por um fator erótico, como devaneavam seus familiares, mas por algo incomum e exótico. Numa sociedade que àquela época conseguia ser ainda mais machista e patriarcal do que a de hoje, chamava a atenção o fato de uma mulher tocar um instrumento musical.