A origem do rosto

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Na face das imagens Ao tomar a imagem como objeto de expressão, estimula-se a própria linguagem como criação humana, na medida em que a relação e os significados se estabelecem pelo olhar, ou melhor dizendo, pelos múltiplos olhares que aí incidem. Trata-se de um encontro permeado pela somatória de sentidos atribuídos em diferentes espaços e tempos, portanto, em constante mutação. Tendo justamente o universo imagético como matéria prima, o multiartista brasileiro Arthur Omar desdobrou suas criações em cinema, vídeo, fotografia, desenho, instalações, música e poesia. Pela curadoria de Adolfo Montejo Navas, a exposição denominada Arthur Omar — A origem do rosto faz um exercício singular de trações: ao mesmo tempo que traz em si a busca de uma nova iconografia brasileira, oferece uma experiência vívida da transitoriedade de interpretações nas imagens da face. Com esta realização, o Sesc mantém a consonância com seu desígnio de valorizar a difusão cultural por meio do contato com as criações artísticas contemporâneas, oferecendo ao público a possibilidade de alimentar seu repertório de imagens, e estabelecer diálogos cada vez mais sensíveis nesse âmbito. Sesc São Paulo




Adolfo Montejo Navas Curadoria


Perto do coração selvagem do sublime? Do irrepresentável, do inexpressável? Esse é o trabalho de campo da obra de Arthur Omar, sua exploração fundamental, além da categoria de beleza. Encontrar a poesia e o mito da imagem, seu nascedouro, como o rosto da origem. Pois a origem do rosto é o descobrimento da alteridade, algo que provém de um esgarçamento das identidades do que vemos que já está onipresente na obra do artista, mas também deriva daquela vibração emocional que a câmera colada ao rosto oferece, produzindo assim um singular triângulo: o rosto do artista focando o rosto do outro para chegar ao rosto final da imagem. A origem de uma alteridade, outro rosto da imagem. A operação de ver, nesta obra, é provocada por uma espessa trama entrecruzada de imagens que tende a certo infinito. Através de inéditas miríades visuais, feixes de luz, aparições, deslumbramentos contínuos. Obras que são novos estágios do inefável, desconhecidos. Sabendo sempre que somos seres sedentos de imagens, atavicamente, carentes de sua pluralidade, porque não suportamos a ideia de sermos reduzidos a uma identidade engaiolada, sem mistério, estarmos confinados a uma mínima condição do ser, unidimensional.

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Ivana Bentes Professora e pesquisadora da Escola de Comunicação da UFRJ


Arthur Omar tem feito da percepção um tema constante da sua obra. Quem olha? O que vemos? O que se fotografa? E vem expandindo essa investigação por todos os meios e campos: fotografias, instalações, desenhos e filmes. Nesta exposição singular, o artista toma o rosto como ponto de partida e apresenta séries fotográficas, desenhos, projeções e imagens que têm origem em diferentes épocas, lugares, mas que formam uma única instalação. Passando do mais figurativo até chegar a dissolução e a abstração nos deparamos com uma multidão de rostos. Nas fotografias das séries Antes de Ver e Antropologia Solúvel, os rostos emergem ainda na sua luta por se tornarem figuras. As imagens nos olham como na série monumental da Antropologia da Face Gloriosa, uma série viva, in progress, que registra a multiplicidade quase alucinatória de rostos durante o carnaval do Rio de Janeiro, captando o êxtase e o delírio dos foliões. Em Limbo, os rostos foram superpostos a paisagens e elementos gráficos, composições inesperadas e superposições. Uma fotomontagem em que o acaso produz um imaginário fabuloso captado na viagem do artista ao Afeganistão. Esses estados transitórios também se materializam nos desenhos, nas projeções e vídeos que conectam o mundo da fotografia com a vida das imagens. Afinal, somos imagens entre imagens, rostos de uma multidão. Em um presente conturbado, Arthur Omar aposta que podemos atravessar barreiras sociais, culturais, de todos os tipos e constituir uma relação com o outro a partir do olhar e da arte. 7




CICLO DE DEBATES

O Pensamento Sensorial Cinema, Fotografia, Antropologia Organização Ivana Bentes

SETEMBRO — OUTUBRO — NOVEMBRO DE 2018

A ORIGEM DO ROSTO

AS PORTAS DA PERCEPÇÃO

Apresentação da exposição A Origem do Rosto com a presença do artista Arthur Omar e do curador. A aparição do rosto na arte, os processos de criação das imagens e a relação da fotografia com o cinema, a antropologia e a percepção.

Um antropólogo e um neurologista falam sobre arte, antropologia, sonho e rituais e como essas questões aparecem na obra de Arthur Omar.

Sábado 01/09 às 15h

Arthur Omar artista, fotógrafo, cineasta, RJ Adolfo Montejo curador, SP Ivana Bentes pesquisadora, ECO/UFRJ

EXPERIMENTAL TROPICAL

Sábado 10/11 às 15h

Carlos Fausto antropólogo, Museu Nacional Sidarta Ribeiro neurocientista, UFRN Lúcia Ramos pesquisadora, USP

A VIDA DAS IMAGENS Sábado, 24/11 às 15h

Sábado, 29/09 às 15h

É possível pensar por imagens? O efeito-cinema na arte e o pensamento sonoro e por música. Fotografia, arte e cinema experimental na obra de Arthur Omar. Ismail Xavier pesquisador, ECA/USP Guiomar Ramos pesquisadora, ECO/UFRJ Rosane Kaminski historiadora, UFPR

Como viver entre imagens? As questões interculturais, de mídia, política e filosofia e como a arte contemporânea e a obra de Arthur Omar dialogam com o presente urgente. Conferência de encerramento com a participação de Arthur Omar.

IMAGENS DO ÊXTASE E POLÍTICAS DA ALTERIDADE Sábado, 20/10 às 15h

A questão do êxtase, do delírio e da arte como formas de atravessar as barreiras sociais e nossa relação com o outro e sua expressão na obra de Arthur Omar. Tania Rivera pesquisadora e curadora, UFF–RJ Charles Cosac historiador e editor, SP Vera Casanova pesquisadora, UFMG 10

Informações na Central de Atendimento


ARTHUR OMAR é um artista múltiplo, cineasta, fotógrafo, artista plástico e escritor. Seu trabalho alia inovação tecnológica, experimentação com as linguagens e uma grande intensidade dramática, destinada à excitação dos sentidos, visando montar uma nova iconografia para a representação do Brasil. Como artista visual, participou de duas Bienais de São Paulo. Na de 1998, apresentou, a série fotográfica Antropologia da Face Gloriosa, objeto de livro com o mesmo nome, reunidas numa instalação com 100 fotografias de rostos ocupando uma parede de quarenta metros com o título de A Grande Muralha. Na Bienal de 2002, exibiu fotografias feitas no Afeganistão central, na região de catástrofe entre Cabul e Bamyian.

Uma grande retrospectiva de seus filmes e vídeos foi apresentada no Museu de Arte Moderna de Nova York, com o conjunto dos seus curtas-metragens experimentais e os seus vídeos, assim com nos CCBBs do Rio e de São Paulo. Seu longa-metragem Triste Trópico é considerado um clássico do cinema brasileiro. Dirigiu e produziu diversos filmes para Channel Four e ZDF Arte, como o longa metragem Sonhos e História de Fantasmas, documentário metafórico em linguagem experimental sobre a cultura negra nos quilombos de Minas e nas favelas do Rio. Seu filme mais recente é Cavalos de Goethe, filmado no Afeganistão. Pioneiro do uso de instrumentos eletrônicos na música de cinema no Brasil, compôs a trilha sonora da maioria de seus filmes e instalações, propondo relações inovadoras entre imagem.

Sobre estas experiências, publicou o livro Viagem ao Afeganistão, com prefácio do filósofo italiano Antonio Negri. Outros livros são O Zen e a Arte Gloriosa da Fotografia, Lógica do Êxtase, O Esplendor dos Contrários, este último com paisagens da Amazônia.

Entre suas exposições, O Esplendor dos Contrários com paisagens em 3 D, vistas com óculos especiais, e premiada com troféu da APCA de melhor exposição do ano em São Paulo. Outras exposições: Frações da Luz (também prêmio da APCA), Demônios, Espelhos

e Máscaras Celestiais, e Um Olhar e Sete Véus. Em 2006, no Rio de Janeiro apresentou Zooprismas, conjunto de 12 vídeo instalações, apontada pelo O Globo como a melhor exposição do ano. No Vídeobrasil apresentou a Trilogia Cognitiva, composta de três instalações, Dervixxx, Infinito Maleável e Ciência Cognitiva dos Corpos Gloriosos, em projeções circulares. No Oi Futuro de Belo Horizonte, apresentou As Portas da Percepção, com fotografias e instalações. Seu último livro, lançado em setembro de 2014, é Antes de Ver — ­Fotografia e Antropologia como Teoria da Imagem, um livro de conceituação teórica sobre a imagem, com 160 fotografias inéditas. Em 2016, apresentou no Rio de Janeiro a exposição Outras Portas da Percepção, com seus trabalhos fotográficos mais radicalmente experimentais, ocupando várias salas encadeadas, com imagens e textos referentes à natureza antropológica da percepção. Prepara um livro de textos com entrevistas, intervenções orais, aulas e artigos que resumem sua trajetória ao longo de muitas décadas. 11


SESC – SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO Administração Regional no Estado de São Paulo PRESIDENTE DO CONSELHO REGIONAL Abram Szajman DIRETOR DO DEPARTAMENTO REGIONAL Danilo Santos de Miranda SUPERINTENDENTES Técnico-social Joel Naimayer Padula Comunicação social Ivan Giannini Administração Luiz Deoclécio Massaro Galina Assessoria técnica e de planejamento Sérgio José Battistelli GERENTES Artes visuais e tecnologia Juliana Braga de Mattos Estudos e desenvolvimento Marta Colabone Artes gráficas Hélcio Magalhães Sesc Consolação Mariângela Abbatepaulo EQUIPE SESC Adriano Alves Pinto Alexandre Monteiro Babadobulos Allison Lopes Rocha Cynthia Petnys Edmilson F. Lima Edna Ribeiro S. Fachetti Elaine de Sousa Juliana Okuda Kelly Teixeira Marco Antonio da Silva Sabrina Popp Marin Tayná Guimarães

EXPOSIÇÃO Concepção geral, fotografias, filmes e instalações Arthur Omar Artista assistente Ana Dantas Curadoria Adolfo Montejo Navas Coordenação geral Ivana Bentes Projeto expositivo André Vainer, Tiago Wright, Fernanda Jozsef e Débora Filippini (estagiária) Produção executiva Oiya — Roberta Martinho e Frida Projetos Culturais Produção Córtex Digital Lidyani Marques Projeto gráfico Luxdev — Giselle Macedo Projeto de iluminação Fernanda Carvalho — Design da Luz Estúdio com colaboração de Charly Ho Processamento de imagem Hiperespaço Tratamento de imagem e efeitos especiais Ana Dantas e Roberto Benson Finalização de cor para impressão digital Norman Passos Pós-produção de vídeo e finalização de mídia Hiperespaço Vitral — montagem e sequência Ana Dantas Molduras Izonete Porto Molduras Coordenação de montagem Sorokê Arte e Ofício Coordenação montagem audiovisual Studiointro Assessoria de imprensa Pombo Correio


Ă gua

Caligrafia


Visitação

30 de agosto a 1º de dezembro de 2018 Segunda a sexta — 11h às 21h30 Sábados e feriados — 10h30 às 18h30

Sesc Consolação Rua Dr. Vila Nova, 245 01222-020 São Paulo – SP Tel: (11) 3234-3000 email@consolacao.sescsp.org.br /sescconsolacao

sescsp.org.br/consolacao


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