Retrospectiva Leon Hirszman Dezembro 2020 a Fevereiro 2021
Retrospectiva Leon Hirszman 10 de dezembro 2020 a 9 de fevereiro 2021 sescsp.org.br/leonhirszman
Retrospectiva Leon Hirszman Fascinado pelo cinema desde criança, Leon Hirszman seguiu trabalhando na sétima arte em toda sua vida. Com filmografia voltada para as discussões relevantes do Brasil e sua população, com intensa participação política como cineasta, foi um expoente do Cinema Novo - o longa metragem Cinco Vezes Favela (1961), dirigido por ele, Cacá Diegues, Joaquim Pedro de Andrade, Miguel Borges e Marcos Farias, é considerado, por muitos teóricos, como uma das primeiras produções desse movimento cinematográfico brasileiro que nas décadas de 1960 e 1970 era uma resposta à instabilidade racial e classista no Brasil. O diretor também se dedicou pela regulamentação das leis do cinema e pelo fim da censura. Esteve ligado a grupos teatrais importantes da época como o Teatro de Arena e seus principais criadores Augusto Boal, Gianfrancesco Guarnieri e Oduvaldo Vianna Filho. Era estudioso de Bertolt Brecht, Jung e Reich e tentava compreender as desigualdades da população da sua geração com filmes que versavam sobre a diversidade cultural, aspectos da vida social e política do país. Sesc São Paulo
Leon Hirszman: Um Exemplo de Rigor e Coerência do Percurso Por Ismail Xavier Leon Hirszman participou do Cinema Novo desde seu início. Primeiro, como parte do grupo de jovens do Rio de Janeiro que estrearam como cineastas no filme Cinco vezes favela produzido em 1962 pelo Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes. Neste filme em cinco episódios, cada qual tratando de um aspecto da vida dos favelados, Leon dirigiu o curta Pedreira de São Diogo, cujo enredo foi ajustado para realçar os benefícios trazidos pela união em torno de ações em defesa da comunidade. Vale, neste caso, a postura militante do CPC. Após esta fase CPC, ele realiza em 1964 o documentário de curta-metragem Maioria Absoluta, filmado no sertão do nordeste, obra em que deu um passo enorme no domínio da técnica do "som direto": gravador e câmera sincronizados para filmar entrevistas de camponeses que falam sobre a experiência do analfabetismo que atingia uma enorme maioria. Há um salto na qualidade do seu trabalho, mais amadurecido no ajuste entre a militância política e o encontro de uma linguagem à altura dos desafios de um cinema capaz de tratar de seus temas com profundidade.
Ao passar para o longa-metragem, Leon adapta a peça de Nelson Rodrigues A falecida, em 1965, filme em que já anuncia em várias passagens um rigor de composição que se tornou mais apurado em S. Bernardo (1972) e Eles não usam black-tie (1979), filmes notáveis em que aprofundou seu diálogo com a literatura, vertente que se alternou com sua dedicação ao documentário, sempre empenhado na coerência estética e na reflexão sobre os problemas sociais brasileiros. Em seu último lance, sua obra nos deixou um legado especial: a série de documentários sobre a criação artística dos internados no hospital psiquiátrico da Dra. Nise da Silveira, um exemplo de dedicação ao trabalho inovador e humanista da doutora e à extraordinária força criadora destes que nos encantam com obras notáveis. Nesta série de Leon, vale sua coerência de estilo e força de expressão. Ismail Xavier é pesquisador formado em Comunicação Social com habilitação em Cinema pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), fez mestrado e doutorado em Teoria Literária na FFLCH-USP e PhD em Cinema Studies pela Universidade de Nova York. É também professor da ECA-USP desde 1991.
Biografia — Leon Hirszman
Leon Hirszman (1937 - 1987) nasceu em Lins de Vasconcelos, no Rio de Janeiro. Era filho de judeus poloneses foragidos das perseguições anti-semitas. Desde os sete anos, já pedia ao pai para leválo ao cinema, onde assistia a duas, três sessões seguidas. Por exigência da mãe, formou-se na Escola Nacional de Engenharia, onde participou da criação do seu primeiro cineclube. Em 1958, fundou a Federação de Cineclubes do Rio de Janeiro. E acabou por abandonar a engenharia para dedicar-se exclusivamente ao cinema. O início no cinema foi em 1957, como ajudante de produção do filme Rio, Zona Norte, de Nelson Pereira dos Santos. Neste mesmo ano foi assistente de direção e continuidade de Juventude sem amanhã, de Elzevir Pereira da Silva. Ligou-se, também, ao grupo de Teatro de Arena de São Paulo, formado por Augusto Boal, Gianfrancesco Guarnieri e Oduvaldo Vianna Filho. Em 1958, participou do Seminário de Dramaturgia que preparou a Revolução na América do Sul, de Boal, e, em 1959, da montagem de Chapetuba Futebol Clube, de Vianninha. Desses encontros surgiu, em 1961, o CPC - Centro Popular de Cultura, da União Nacional dos Estudantes (UNE), que produziu seu primeiro filme, Pedreira de São Diogo, lançado em 1962.
Em 1965, para evitar a repressão política, refugiouse no Chile. De volta ao Brasil no ano seguinte, fundou com Marcos Farias a Saga Filmes, que foi à falência com as dívidas de São Bernardo, interditado pela censura. No início dos anos 1980, participou da fundação da Cooperativa Brasileira de Cinema. Em 1981 recebeu a consagração de público e crítica, e três prémios no Festival de Veneza, também indicado ao Leão de Ouro, com o filme Eles não usam black-tie, adaptação da peça teatral de Gianfrancesco Guarnieri, que escreveu com Leon o roteiro e os diálogos do filme. Após concluir o tríptico Imagens do Inconsciente e preparando-se para filmar a epopeia de Canudos, faleceu em 16 de setembro de 1987, em consequência da debilitação provocada pela Aids. www.leonhirszman.com.br cpdoc.fgv.br/producao/dossies/Jango/biografias/leon_hirszman (fontes acessadas em Fevereiro de 2020)
ABC da Greve
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Eles Não Usam Black-Tie
Brasil. 1979–1990. Cor. 89 minutos. Documentário.
Brasil. 1981. Cor. 134 minutos. Drama.
Documentário sobre a primeira greve brasileira fora da fábrica. Cobrindo os acontecimentos na região do ABC paulista. O filme acompanha o movimento de 150 mil metalúrgicos em luta por melhores salários. Sem obter suas reivindicações, decidem-se pela greve, afrontando o governo militar. Este responde com uma intervenção no sindicato da categoria. O governo inicia uma grande operação de repressão. Sem opção para realizar suas assembleias, os trabalhadores são acolhidos pela Igreja. Passados 45 dias, patrões e empregados chegam a um acordo. Mas o movimento sindical nunca mais foi o mesmo.
O filme debruça-se sobre as contradições e anseios da classe trabalhadora no final dos anos 1970. Tião, jovem operário, namora Maria. Quando toma conhecimento de que ela está grávida, resolve marcar o casamento. Mas as dificuldades financeiras do casal são imensas. Nisso eclode uma greve. Otávio, pai de Tião, líder sindical veterano, adere à greve mesmo contrariado com a decisão da categoria. O filho, indiferente à luta do pai e dos colegas, fura a greve. O conflito então explode no interior da família. Baseada em peça homônima de Gianfrancesco Guarnieri, o filma cativou o público e a crítica, e recebeu vários prêmios, entre os quais se destaca o Prêmio Especial do Júri do Festival de Veneza (1981).
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São Bernardo
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Ecologia
Brasil. 1972. Cor. 111 minutos. Drama.
Brasil. 1973. Cor.: 13 minutos. Documentário.
Baseado no romance de Graciliano Ramos e com trilha sonora de Caetano Veloso, o filme acompanha a trajetória de Paulo Honório, um modesto caixeiroviajante que enriquece, valendo-se de métodos violentos, compra a fazenda São Bernardo e contrata casamento com Madalena, a esclarecida professora da cidade. O conflito se estabelece quando Madalena não aceita ser tratada como propriedade. Com atuações marcantes de Othon Bastos e Isabel Ribeiro, o filme, que estreou em 1972, tornou-se um clássico do cinema brasileiro, tendo recebido vários prêmios.
Primeiro documentário a tratar do tema, realizado no início da década de 70, Ecologia denuncia os efeitos nefastos do crescimento industrial descontrolado sobre o meio ambiente. É uma vigorosa denúncia contra a exploração desenfreada dos recursos naturais e clama pela revisão dos padrões de comportamento para evitar que o mundo físico, doente, venha a perecer.
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Maioria Absoluta
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Megalópolis
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Brasil. 1964. P&B. 16 minutos. Documentário.
Brasil. 1973. Cor. 12 minutos. Documentário.
Filmado em som direto, o documentário retrata o cotidiano dos trabalhadores rurais analfabetos do Nordeste que vivem na extrema miséria. Incapazes de escrever são, no entanto, conscientes de sua condição e perfeitamente habilitados a propor as soluções que esperam para os seus problemas. O filme ficou proibido no Brasil até 1980, período em que foi exibido fora do Brasil.
O documentário adota como referência histórica a cidade de Atenas, a megalópole grega que incorporou 40 cidades em 370 a.c. Atualizando a questão, o filme discute o destino da região sudeste brasileira, que tem por centros Rio de Janeiro e São Paulo, e questiona: temos capacidade de produzir um projeto mais feliz para a humanidade?
Nelson Cavaquinho
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Pedreira de São Diogo
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Brasil. 1969. P&B. 14 minutos. Documentário.
Brasil. 1962. P&B. 18 minutos. Ficção.
Esse filme foi realizado como um contraponto à "Garota de Ipanema". Ao invés da Bossa Nova e da Zona Sul carioca, o interesse do cineasta volta-se para as raízes da música popular brasileira. O resultado é um belo e pungente registro do sambista em seu ambiente, conversando e tocando com amigos e vizinhos, em casa, no bar, no terreiro. Cenas da vida no subúrbio mesclamse às memórias e improvisos, compondo um sensível panorama, ao mesmo tempo melancólico e alegre, do compositor e da vida à margem da sociedade.
O primeiro filme de Leon é um dos episódios do longametragem Cinco vezes favela, realizado pelo CPC da União dos Estudantes, no início da década de 1960. O episódio acompanha o drama vivido pelos trabalhadores de uma pedreira carioca, diante da ordem de intensificar as explosões, o que poria em risco a população que habitava os barracos situados no alto do morro.
Posfácio: Entrevista com a Dra Nise da Silveira
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Imagens do Inconsciente: Fernando Diniz – Em busca do Espaço Cotidiano
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Brasil. 1983–1986. Cor. 60 minutos. Entrevista.
Brasil. 1983–1986. Cor. 80 minutos. Entrevista.
Como parte do projeto que gerou a trilogia Imagens do Inconsciente, Leon Hirszman entrevista a psiquiatra Nise da Silveira, discípula de Carl Jung e fundadora do Museu de Imagens do Inconsciente.
Este episódio tece considerações sobre o trabalho de Nise da Silveira à frente do Museu de Imagens do Inconsciente e o papel da atividade artística no tratamento dos pacientes. Em busca do espaço cotidiano, denuncia os limites da psiquiatria tradicional e a decadência dos lugares que acomodam os doentes. A partir daí, volta-se para o caso de Fernando Diniz, cujas pinturas funcionam como lugar de exposição de seus tormentos subjetivos.
Imagens do Inconsciente: Adelina Gomes – No Reino das Mães
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Imagens do Inconsciente: Carlos Pertuis – A Barca do Sol
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Brasil. 1983–1986. Cor. 55 minutos. Entrevista.
Brasil. 1983–1986. Cor. 70 minutos. Entrevista.
O episódio tem como principal personagem a paciente Adelina Gomes – moça pobre, filha de camponeses, internada num hospício no final dos anos 1930. Aos 18 anos, Adelina apaixonou-se por um rapaz, mas seu casamento foi proibido pela mãe. Em sinal de revolta, ela estrangula a gata de estimação da família e recebe o diagnóstico de esquizofrenia. Ao longo do filme, conhecemos as esculturas e pinturas feitas por Adelina no ateliê da Seção de Terapêutica Ocupacional do Centro Psiquiátrico Nacional, organizada por Nise da Silveira em 1946.
O episódio mergulha no universo místico de Carlos Pertuis, filho de uma família de imigrantes franceses, internado aos 29 anos. Depois de enfrentar problemas pessoais como a morte do pai, ele certo dia vislumbrou uma imagem cósmica, a que deu o nome de “o planetário de Deus”. Foi encarcerado no hospital da Praia Vermelha, no Rio de Janeiro, e recebeu o diagnóstico de esquizofrenia. Em 1946, passou a frequentar o ateliê criado por Nise da Silveira, afeiçoando-se por ele como se fosse sua casa. Suas obras são marcadas pela presença de mandalas, sinais de suas tentativas de organizar o caos psíquico.
Cantos de Trabalho no Campo
Cantos de Trabalho no Campo – Mutirão
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Entre 1974 e 1976, Leon Hirszman realizou três documentários produzidos pelo MEC sobre os cantos entoados pelos trabalhadores rurais nordestinos. Na trilogia há a documentação dos cantos de trabalho da cana-de-açúcar em Feira de Santana, dos plantadores de cacau em Itabuna, de mutirões em Chã Preta. “É uma espécie de partido-alto do campo, uma roda de samba no trabalho” - afirma o cineasta que confessadamente caminhava na trilha aberta por Humberto Mauro e Mário de Andrade no resgate dessa prática cultural em vias de extinção.
Brasil. 1975. Cor. 12 minutos. Documentário. Gravado na cidade de Chã Preta, em Alagoas, este episódio aborda a tradição do canto de trabalho coletivo no Brasil, onde influências indígenas se misturam a dos europeus e dos africanos. Gradativamente essa tradição cultural vem desaparecendo até mesmo nos meios rurais - onde sempre existiu.
Cantos de Trabalho no Campo – Cacau
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Cantos de Trabalho no Campo – Cana-de-Açúcar
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Brasil. 1976. Cor. 11 minutos. Documentário.
Brasil. 1976. Cor. 10 minutos. Documentário.
Filmado na região de Itabuna, Bahia, o documentário recolhe cantos e danças dos trabalhadores das roças de cacau, praticados nas atividades de extração e “pisa” da fruta.
Ao mesmo tempo em que transformam a natureza, certas atividades humanas, pelo seu caráter sazonal, criam manifestações culturais e artísticas muito particulares pela dimensão e ritmo que contêm. Leon Hirszman registra na região de Feira de Santana, Bahia, as cantorias dos trabalhadores da cultura da cana-de-acúcar.
O Cinema de Leon Hirszman Cinema da Vela O bate-papo, com duração do tempo de queima de uma vela, traz conversas com o intuito de refletir sob a luz da sétima arte. Em versão on-line, com a participação do professor e pesquisador Ismail Xavier e a crítica de arte Maria Hirszman. A mediação fica por conta do crítico de cinema Sérgio Alpendre.
15 de dezembro, às 20h Ao vivo em youtube.com/cinesesc
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