MATERIAL EDUCATIVO
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O objetivo deste material é estimular o olhar em relação às potencialidades da comunicação escrita e visual na luta por direitos civis e justiça social. Ele compõe as ações integradas à exposição: Todo poder ao povo! Emory Douglas e os Panteras Negras. Nesta mostra, inédita no Brasil, são exibidas algumas obras gráficas do artista norte-americano Emory Douglas produzidas para o periódico The Black Panther, no período em que ocupou o posto de Ministro da Cultura do partido, além de outros impressos que circularam entre 1967 e 1982. As peças gráficas que Douglas criou servem de acesso a um tempo histórico no qual a naturalização da violência contra a população afroamericana encontrou forte resistência coletiva. Fatores como o conhecimento da Constituição e a autodeterminação da comunidade afro-americana a lutar contra o racismo foram fundamentais para forçar mudanças na sociedade norte-americana desde então. Como outros grupos de resistência surgidos na década de 1960, os Panteras Negras ocuparam as ruas para fazer valer a democracia, buscando constituir uma representação política voltada aos problemas deste segmento populacional. Nesse sentido, a obra de Douglas é uma ação, uma posição política para transformar a realidade vigente e garantir futuros mais justos para o povo oprimido. A partir da obra do artista, foram propostas três noções articuladas: MEMÓRIA, CULTURA VISUAL e EDUCAÇÃO POLÍTICA. Espera-se que essas ideias colaborem na interpretação da exposição e, consequentemente, na busca por mais informações a respeito da produção estético-política de Douglas, que segue engajado e solidário à luta anti-racista em seu país e no mundo.
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A QUEM SE DESTINA ESTE MATERIAL? Este impresso é dirigido a todos que anseiam debater ideias e educar-se ao longo deste processo. Para cada uma das noções abordadas nesse material, são oferecidas coleções de palavras-chave, nas páginas centrais deste material, com o intuito de instigar conversas sobre os temas que a exposição aborda: racismo, feminismo negro, direitos civis, corpo, infância, escola, poder, comunicação, artes visuais etc. Ao se deparar com as palavras listadas, busque suas definições, mesmo que provisórias, e inclua-as em seu vocabulário. Isso ampliará seu repertório de conceitos e aplicações sociais desse léxico, bem como subsidiará a compreensão delas nos contextos políticos presentes no cotidiano. Algumas dessas definições podem vir da leitura desta publicação, da visita livre à exposição, a partir da conversa com os educadores da mostra ou, ainda, da participação na programação integrada.
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MEMÓRIA Em 2016, com o cinquentenário do surgimento do Partido dos Panteras Negras, uma série de eventos, sobretudo nos EUA, rememorou sua trajetória de ativismo. Neste contexto da rever criticamente os acontecimentos do passado, as imagens produzidas por Emory Douglas são um estímulo fundamental, pois ajudam a entender a importância de algumas estratégias de comunicação do Partido. Mas por que revisitar a obra de um artista que tematizou a luta pelos direitos da população negra? A resposta aponta para a função da memória coletiva nas diferentes sociedades. Ela ajuda a recordar, e, ao recordar, adquire-se conhecimento, de modo inclusive a poder criar novas realidades e identidades culturais, transformando o futuro. No âmbito da luta por direitos civis, tanto a memória oral como a memória material têm grande importância. Ao longo de sua existência, os Panteras Negras produziram, entre diversos impressos, o jornal The Black Panther. Por ser um material descartável e efêmero, muito teria sido perdido caso não existissem acervos como o dos irmãos Alden e Mary Kimbrough, colecionadores que emprestaram os documentos e obras presentes na exposição. Por esta razão, a exposição Todo poder ao povo! Emory Douglas e os Panteras Negras exibe diferentes fontes históricas em papel que poderiam, pela própria natureza do material impresso, terem sido descartadas. Por serem parte de uma coleção, com o passar do tempo elas retornam à circulação, agora reapropriadas, para ampliar o conhecimento histórico e ensinar a entender que a sociedade não está dada, que ela precisa ser construída por todos aqueles que nela vivem, especialmente os grupos de resistência. Para esta tarefa inventiva de rever o passado, a memória cultural é essencial.
INTERROGUE-SE! 1 Como o conhecimento
dos fatos passados pode auxiliar a transformar o presente e o futuro?
2 Por que a memória pode ser uma importante arma nas lutas por direitos sociais?
3 O que a memória tem a ver com a criação?
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CULTURA VISUAL EXPRESSÃO E COMUNICAÇÃO VISUAL
O modo como se olha para a realidade é socialmente construído e envolve a produção e reprodução de repertórios e códigos de representação. Esse caráter construído da realidade pode ser visto nos trabalhos de Emory Douglas, responsável pelo discurso visual revolucionário que ajudou a comunicar os propósitos do partido. Sob sua coordenação, os Panteras Negras mostravam como queriam ser vistos e como viam a sociedade, em particular a norte-americana, concebida como decadente e imperialista. O uso estratégico de desenhos, ilustrações, caricaturas; a combinação calculada de textos e imagens e a disposição das cores foram recorrentes na sua prática gráfica. Essas técnicas foram aplicadas ao periódico, em cartões de felicitações, panfletos e cartazes que colocavam em movimento a ideologia do grupo. Observe no cartaz ao lado como a figura feminina que Douglas explorou em várias imagens é colocada em posição de combate. Ao tomá-la como se estivesse abaixo dela, o artista revela a importância das mulheres no partido. Note o cabelo black power e a presença simultânea da lança e da arma de fogo à semelhança da imagem de Huey P. Newton sentado na cadeira. Muitas destas imagens tinham ampla circulação, entravam nas casas das pessoas, ilustravam o periódico, decoravam embalagens de supermercado, apareciam em bótons sobre as roupas dos militantes, figurava em bandeiras, como é o caso da representação da pantera, símbolo maior do partido. Observe na exposição como os bótons com frases ou imagens aparecem tanto em fotografias quanto em ilustrações no jornal, nos cartazes, presos a roupas de donas de casa, trabalhadores e pessoas que foram assassinadas como o jovem Bobby Hutton. A imagem no bóton pode ser a pantera, o retrato de uma liderança como Huey P. Newton que foi preso, ou frases de efeito como self
Solidariedade afro-americana com as pessoas oprimidas do mundo. Cartaz, 1969.
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O jovem Huey P. Newton, um dos criadores do Partido dos Panteras Negras. Observe que ele segura dois objetos de combate uma arma de fogo e uma lança. Esse retrato expressa muitos dos ideais do partido, cujos membros estavam inconformados com o baixo poder decisório que possuíam para definir os destinos da população afro-americana. THE BLACK PANTHER, periódico, 17 de fevereiro de 1970.
defense (defesa pessoal). O bóton, objeto da cultura de massas, foi por eles capturado para uma finalidade precisa: chamar a atenção para um determinado assunto ou problema social, como a injustiça. As figuras dos animais pantera e porco são recorrentes. Se o primeiro, símbolo do partido, significava astúcia, força, habilidade e resistência, o segundo era a um só tempo uma crítica à polícia compreendida como branca e racista e ao imperialismo norte-americano. O objetivo destas convenções visuais estabelecidas por Douglas, em diálogo com seus pares, era motivar o homem oprimido a lutar contra o racismo e ajudá-lo a identificar o inimigo do povo. É possível, nesse sentido, encontrar na produção visual de Douglas um vocabulário visual temático que inclui representações de mulheres e crianças (mães armadas protegendo seus filhos), donas de casa, trabalhadoras; instrumentos de autodefesa: armas de fogo, lanças; símbolos: estrela, rato e Papai Noel. Observe como o artista valoriza, pelo uso da cor preta em contraste com outras cores, bocas, narizes, mãos e olhos. As mãos tem um apelo visual importante em seu repertório. Também no Brasil as imagens tiveram papel importante na difusão da ideologia anti-racista. A Voz da Raça, o famoso periódico do partido da Frente Negra Brasileira (1933-1937), apresentava um rosto de cuja boca aberta saíam a bandeira do Brasil e o nome do jornal. O Tição, jornal produzido no Rio Grande do Sul, e Jornegro, em São Paulo foram fundados em 1978 e também produziram muitas imagens usando técnicas como fotomontagem e ilustração. Um dos efeitos dessa produção gráfica foi a conscientização da população negra e, em outra escala, também dos brancos solidários à luta anti-racista. O caso do fotógrafo branco Stephen Shames é, talvez, o mais significativo, mas outros se juntaram à luta: Jane Fonda, Marlon Brando, John Lennon e Yoko Ono. No Brasil de meados da década de 1950/1960, quando alguns estudos emblemáticos sobre racismo foram publicados, intelectuais como Florestan Fernandes, Roger Bastide, Guerreiro Ramos e o escritor Nelson Rodrigues também abraçaram causas em favor da população negra ao lado de nomes importantes como os militantes José Correia Leite, Geraldo de Oliveira, Solano Trindade, Abdias Nascimento entre muitos outros.
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CORPO, IMAGEM E ESPAÇO POLÍTICO
O corpo é um dos meios mais provocadores de manifestar descontentamento, desobediência civil e posicionamento libertário. Para os Panteras Negras, roupas e acessórios foram bastante importantes, pois indicavam visualmente sua ideologia de dar ao povo o poder de decisão. Entre os acessórios merece destaque a boina, componente básico na construção da aparência masculina, apoiada sobre penteados afro relativamente volumosos. Esse cabelo afronta o padrão militar raspado nas laterais e curto em cima, estilo que definiu a estética nazi-fascista a partir da década de 1930, difundido pelo mundo associado a noções de disciplina, limpeza e autoritarismo. Entre os penteados afro, o black power talvez seja o mais empoderado entre os cabelos popularizados a partir da década de 1960, também como um sinal da feminilidade negra. Algumas figuras marcaram seu uso político como Kathleen Cleaver, Ericka Huggins e Angela Davis. No Brasil Lélia Gonzales, Beatriz Nascimento ostentaram cabelos semelhantes. Entre as mulheres, o uso do cabelo crespo questiona a imposição do alisamento concebido como uma forma de opressão e violência física. Esses signos corporais são componentes visuais significativos, pois dão a ver no espaço público o posicionamento político do partido e dos militantes ligados ou não aos Panteras Negras. Veja na exposição como o fotógrafo Stephen Shames documentou situações nas quais se pode ter uma ideia da apresentação visual do partido, construída de maneira a produzir efeitos desestabilizadores na arena pública.
INTERROGUE-SE! 1 É possível que a arte
e as imagens artísticas estimulem mudanças sociais? Se sim, em quais circunstâncias?
2 Por que esse tipo
de produção artística apresentada na exposição pode ser chamada de revolucionária? Qual é o poder que imagens e textos de protestos têm frente à mídia e ao sistema financeiro, a ponto de incomodá-los?
3 Identifique na
exposição um gesto corporal característico dos Panteras Negras, ainda hoje constantemente retomado para significar luta por direitos civis. Pense em que situação você o usaria.
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ORIENTAÇÕES PARA PROFESSORES O trabalho com imagens pode surtir ótimos resultados entre os alunos que hoje consomem uma quantidade enorme delas, especialmente em formato digital. Você pode com sua turma: 1. Criar repertórios visuais para discutir um determinado assunto, por exemplo, corpo e juventude; 2. Produzir imagens, usando as linguagens do desenho, fotografia, fotomontagem etc.; 3. Analisá-las por temas de acordo com os interesses do grupo; 4. Realizar pequenas exposições a partir de um assunto com forte apelo visual. Para entender na prática a noção de cultura visual como um sistema que repete códigos e costumes de uma sociedade inteira, uma dica é a análise de séries ou de grupos específicos. Adicionalmente, possibilitará a observação de como as imagens não são neutras, ao contrário, elas exprimem pensamentos, concepções e visões de mundo.
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PENSAMENTO ESQUECIMENTO SANKOFA HISTÓRIA ACUMULAÇÃO MNEMOTÉCNICA TEMPO POLÍTICAS PÚBLICAS LEMBRANÇA
IMAGEM FORMAS CONVENÇÕES VISUAIS IMPRENSA CÓDIGOS COMPOSIÇÃO COMUNICAÇÃO REPERTÓRIO VISUAL CONSTITUIÇÃO ESTADO ESTUDANTES MORAL RACISMO IGUALDADE LIBERDADE DE EXPRESSÃO SOLIDARIEDADE • ED_educativo_palavras_v5.indd 2
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CONTINUIDADE CRIAÇÃO DESTRUIÇÃO CONHECIMENTO ARQUIVO CONSCIÊNCIA NARRATIVA IMAGINAÇÃO LIXO/DESCARTE
VISUALIDADE VISÍVEL FOTOGRAFIA EFEITOS VISUAIS PUBLICIDADE MONTAGEM SERIAÇÃO TIPOGRAFIA ECONOMIA POLÍCIA ÉTICA ELEITOR PROGRAMAS SOCIAIS NEGOCIAÇÃO DECISÃO SABER TÁTICA LOBBY • ED_educativo_palavras_v5.indd 3
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SUGESTÕES DE USO DA COLEÇÃO DE PALAVRAS
1. Recortadas, elas podem ser dadas de presente a outrem; 2. Podem servir de motivação para um diálogo democrático; 3. Podem ser guardadas em uma caixa e sorteadas, por exemplo, na escola, ou em reuniões de família, tornando-se assim um objeto de mediação para conversas; 4. Podem ser manuseadas durante ou depois da visita à exposição; 5. Podem ser coladas no caderno, transportadas na carteira, na agenda, fotografadas pelo celular e replicadas digitalmente; 6. Podem ser rearranjadas alfabeticamente ou em função da proximidade conceitual entre elas; 7. Podem ser recortadas à medida que aumenta a curiosidade sobre os significados dos termos; 8. A coleção pode crescer de acordo com sua curiosidade e vontade de saber.
ORIENTAÇÕES PARA PROFESSORES A partir da coleção de palavras: 1. Estabeleça com seus alunos uma dinâmica de trabalho na qual as palavras sejam disparadoras de discussões mais amplas; 2. Divida a turma em grupos e sorteie ou permita que cada turma escolha até três termos segundo os interesses do grupo para discussão; 3. Promova debates sobre alguns dos diversos temas relacionados à exposição. Sugestões: educação política, a partir da ocupação das escolas públicas pelos estudantes secundaristas; a Constituição de 1988; o surgimento da noção histórica de juventude; para o conceito de cultura visual, o corpo e as concepções que se têm dele; usos e funções das imagens na publicidade; os sentidos dos arquivos públicos e privados, as narrativas de família, ou o impacto que o conhecimento do passado tem para a formulação de políticas públicas; 4. Aos professores de inglês é possível trabalhar com repertórios de termos fartamente aplicados pelos Panteras Negras em seus materiais de comunicação, como Black, Panther, Pig, People, Power, Brutality, Want, Slaves, Freedom, Community, Police entre muitas outros que podem gerar trabalhos diversos entre a turma.
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EDUCAÇÃO POLÍTICA Você sabia que muitos dos atuais direitos civis derivam da luta de indivíduos e grupos sociais para que o respeito à vida e à dignidade humana sejam garantidos pelos governos democráticos? Entre esses grupos estão as feministas, os hippies, os homossexuais, os indígenas, os trabalhadores e o movimento negro norte-americano e brasileiro. Algumas dessas lutas ganharam projeção principalmente a partir da década de 1960, quando jovens no mundo todo exprimiram seu descontentamento com os governos de suas sociedades produzindo textos, imagens, arte de protesto como canções e filmes. Em geral, são os jovens que não aceitam a ordem estabelecida e praticam atos de desobediência civil, contribuindo para que ocorram mudanças. Como os benefícios sociais nem sempre vem imediatamente às lutas, ocorre que os verdadeiros beneficiados são, sobretudo, as gerações futuras. Por isso, é necessário indignar-se com as pautas autoritárias que levam ao retrocesso de direitos anteriormente conquistados na base da luta. Os efeitos do que o Partido dos Panteras Negras imaginaram como justiça social, dignidade e liberdade de expressão estão presentes nas atuais lutas da juventude no mundo todo. Algumas demandas daquela época seguem atuais, como por exemplo, a pressão pela libertação de presos políticos e a erradicação da violência contra jovens negros. As lutas por dignidade e liberdade sempre se renovam, pois governos capturam, inclusive com apoio de parte da sociedade, direitos já conquistados, por isso é preciso pressioná-los, cobrando deles que respondam as demandas por democracia. Por isso a máxima dos Panteras Negras segue viva: Todo poder ao povo!
INTERROGUE-SE! 1 O que são privilégios e o que são direitos adquiridos? 2 Quais os benefícios que o sistema democrático é capaz de gerar para erradicar o racismo? 3 O que é consciência política?
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Cartaz produzido em 1968 com o retrato do jovem Bobby Hutton assassinado pela policia aos 18 anos. Em 2014, também com 18 anos, o jovem negro Michael Brown foi morto por um policial branco na periferia da cidade de Ferguson, no estado do Missouri. No Brasil, o Mapa da Violência de 2014 revelou que 77% dos cerca de 30 mil jovens assassinados entre 15 e 29 anos eram negros.
DIREITO À EDUCAÇÃO!
Nos EUA, em 1960, a menina Ruby Bridges precisava ser acompanhada por agentes federais para poder estudar na Willian Frantz Elementary School em New Orleans. Com a pressão exercida pelo Partido dos Panteras Negras na arena pública no inicio da década de 1970, mais estudantes negros puderam, ainda que com escolta policial, frequentar as escolas até então exclusivas para brancos. A luta anti-racista, porém, não é uma página virada nem da história norte-americana, nem da história de outras sociedades. Veja o debate sobre cotas raciais para negros e afrodescendentes nos concursos públicos, ou nos vestibulares no Brasil e a importância da criação de leis como a nº 10.639/2003 que instituiu o ensino obrigatório de história da África e história afro-brasileira na educação básica ou a criminalização do racismo.
NÃO À VIOLÊNCIA AUTORIZADA PELO ESTADO
Capa do jornal THE BLACK PANTHER 2 de janeiro de 1971.
Entre 1876 e 1965, foi comum nos EUA o uso de violência contra a população negra. Essa violência autorizada ficou amplamente conhecida sob o nome de Leis de Jim Crow, estava distribuída e tinha o apoio da sociedade de maioria
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branca. A polícia era seu agente principal que, amparada na lei, perseguia, prendia e exterminava a população negra. No rol de agressões estavam a segregação espacial uma forma de definir por onde pessoas negras deveriam circular e a morte por linchamento de homens negros. Muitas famílias brancas apoiadoras dessa brutalidade guardavam fotos em seus álbuns familiares desse tipo de agressão, o que mostra que havia um consumo visual ligado a essa prática mórbida. O questionamento é: De onde provém tanto ódio? Como justificá-lo? Qual o papel do Estado democrático para coibir a violência racista? Como se constroem políticas públicas contra o racismo e outras formas de preconceito que matam? Ao constituir o Partido dos Panteras Negras para Autodefesa da população afro-americana, seus fundadores Bob Seale e Huey P. Newton definiram como ação primeira a formação de patrulhas comunitárias para controlar as batidas policias nos bairros de maioria negra, que apresentavam altas taxas de mortalidade. Para Douglas e seus colegas de partido não bastava denunciar o racismo, era preciso agir. Leia abaixo o seu “Programa dos dez pontos” e reflita sobre as demandas que eles apresentavam. 1 Queremos liberdade, queremos o poder para determinar o destino 2 3 4 5 6 7 8 9 10
de nossa comunidade negra. Queremos pleno emprego para nosso povo. Queremos que acabe a perseguição de nossa comunidade negra por parte do homem branco. Queremos casas decentes, adaptadas ao ser humano. Queremos para nosso povo uma educação que mostre a verdadeira natureza desta sociedade americana decadente. Queremos uma educação que ensine nossa verdadeira história e nosso papel na sociedade atual. Queremos que todos os homens negros permaneçam isentos do serviço militar. Queremos o fim imediato da brutalidade policial e do assassinato da população negra. Queremos a liberdade para todos os homens negros detidos nas prisões e nos cárceres federais, estatais, de condados e municipais. Queremos terra, pão, habitação, educação, vestimenta, justiça e paz.
Contracapa do jornal THE BLACK PANTHER 20 de fevereiro de 1971.
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PARA SABER MAIS
Algumas indicações para aprofundar o tema apresentado na exposição. Lembre-se que o conhecimento é uma importante via na luta por direitos e que a democracia é algo que se constrói cotidianamente sempre olhando, a partir do presente, para o passado e para o futuro. BLOOM, Joshua, MARTIN, Jr., WALDO, E. Blacks Against Empire: The History and Politics of the Black Panther Party. Berkeley/ Los Angeles, University of California Press, 2013. CHAVES, Wanderson. O Partido dos Panteras Negras. Topoi (Rio J.), Rio de Janeiro, v. 16, n. 30, p. 359-364, jan./jun. 2015. Disponível em: www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2237-101X2015000100359. DOMINGUES, Petrônio. Movimento Negro Brasileiro: Alguns Apontamentos Históricos. Tempo, 23, 2007, p. 100-122. Disponível em: www.scielo.br/pdf/tem/v12n23/v12n23a07. FERRARA, Miriam Nicolau. A Imprensa Negra Paulista (1915-1963). São Paulo, FFLCH-USP, 1981. FREIRE, Paulo. “A concepção ‘bancária’ da educação como instrumento da opressão. Seus pressupostos, sua crítica”, in: Pedagogia do Oprimido, 59ª ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 2015, p. 79-95. http://resistirepreciso.org.br/alternativa/ticao-jornegro-sinba/. Acesso em 20/01/2017. LOPES, Maria Aparecida de Oliveira. Beleza e Ascensão Social na Imprensa Negra Paulistana, 1920-1940. São José, Premier, 2011. PINTO, Ana Flávia Magalhães. Imprensa Negra no Brasil do Século XIX. Coleção Consciência em Debate, Selo Negro. SILVA, Mário Augusto Medeiros da. A Descoberta do Insólito: Literatura Negra e Literatura Periférica no Brasil (1960-2000). 1ª ed. Rio de Janeiro, Aeroplano, 2013. VIEIRA, Vinicius Rodrigues e JOHNSON, Jacquelyn (editores). Retratos e Espelhos: Raça e Etnicidade no Brasil e nos Estados Unidos. São Paulo, FEA-USP, 2009.
SITES RECOMENDADOS www.ceert.org.br anistia.org.br www.geledes.org.br omenelick2ato.com blogueirasnegras.org www.politicalgraphics.org
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CRÉDITOS DAS IMAGENS EMORY DOUGLAS PP. 1/24 (CAPA E CONTRACAPA), 6, 8, 9, 16, 18, 19 © DOUGLAS, EMORY / AUTVIS, BRASIL, 2017 STEPHEN SHAMES PP. 2-3 Um Pantera Negra vende exemplares do jornal do Partido. Localização desconhecida, 1971. PP. 14-15 Glen Wheeler (à esquerda) e Claudia Grayson, conhecida como Irmã Sheeba (à direita), fora do funeral de George Jackson, na igreja. St. Agustine Oakland, agosto de 1971. PP. 23 Emory, Oakland, c.1968 © STEPHEN SHAMES / POLARIS IMAGES
TODO PODER AO POVO! EMORY DOUGLAS E OS PANTERAS NEGRAS DE 8 DE MARÇO A 4 DE JUNHO DE 2017 IDEALIZAÇÃO E CURADORIA GERAL La Silueta CURADORIA EDUCATIVA Alexandre Bispo PRODUÇÃO EXECUTIVA arte3 | Ana Helena Curti EQUIPE DE PRODUÇÃO Julia Brandão, Rodrigo Primo e João Luiz Calmon PROJETO EXPOGRÁFICO Marta Bogéa e Anna Helena Vilella | Metrópole Arquitetos COLABORADORA Liz Arakaki PROJETO DE ILUMINAÇÃO Lux Projetos PROJETO GRÁFICO E COMUNICAÇÃO VISUAL Elaine Ramos e La Silueta PRODUÇÃO GRÁFICA Aline Valli ASSISTENTE DE DESIGN Livia Takemura MUSEOLOGIA Denyse L. A. P. da Motta COORDENAÇÃO DE MONTAGEM Lee Dawkins TRADUÇÃO Ana Virginia Massaguer, Eladia Martín e Laura Valente Schichvarger REVISÃO Marca Texto Editorial EDIÇÃO Sandra Brazil ASSESSORIA DE IMPRENSA Canal Aberto | Márcia Marques TRANSPORTE Airseatrans S.A. (Los Angeles) e Art World (Brasil) SEGURO Pró Affinitté Consultoria e Corretagem de Seguros Exposição originalmente concebida por La Silueta para realização no Banco de La Republica (Bogotá/Colômbia), de 26 de novembro de 2015 a 22 de fevereiro de 2016, com produção da empresa 3D Family.
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SESC – SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO
ADMINISTRAÇÃO REGIONAL NO ESTADO DE SÃO PAULO PRESIDENTE DO CONSELHO REGIONAL Abram Szajman
DIRETOR DO DEPARTAMENTO REGIONAL Danilo Santos de Miranda
SUPERINTENDENTES TÉCNICO SOCIAL Joel Naimayer Padula COMUNICAÇÃO SOCIAL Ivan Giannini ADMINISTRAÇÃO Luiz Deoclécio Massaro Galina ASSESSORIA TÉCNICA E DE PLANEJAMENTO Sérgio José Battistelli
GERENTES ARTES VISUAIS E TECNOLOGIA Juliana Braga de Mattos ADJUNTA Nilva Luz ASSISTENTE Juliana Okuda Campaneli e Kelly Teixeira ESTUDOS E DESENVOLVIMENTO Marta Raquel Colabone ADJUNTO Iã Paulo Ribeiro ASSISTENTE Diogo de Moraes ARTES GRÁFICAS Hélcio Magalhães ADJUNTA Karina Musumeci ASSISTENTE Rogerio Ianelli DIFUSÃO E PROMOÇÃO Marcos Carvalho ADJUNTO Fernando Fialho GERÊNCIA DE ESTUDOS E PROGRAMAS SOCIAIS Cristina Riscalla Madi ADJUNTA Cristiane Ferrari ASSISTENTE Maria José Leandro Tavares ASSESSORIA DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS Aurea Leszczynski Vieira Gonçalves ASSISTENTE Heloisa Pisani SESC DIGITAL Gilberto Paschoal ADJUNTO Fernando Amodeo Tuacek
SESC PINHEIROS GERENTE Flávia Carvalho ADJUNTA Patrícia Piquera Vianna PROGRAMAÇÃO Lígia Moreli [coordenação], Maria Claudia Novaes Curtolo, Suellen Barbosa e Francine Segawa COMUNICAÇÃO Fernanda Monteiro [coordenação], Poliana Queiroz, Henrique Vizeu ADMINISTRAÇÃO Luciano Amadei ALIMENTAÇÃO Adriana Iervolino INFRAESTRUTURA Marcela Weege SERVIÇOS Cláudio Hessel
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VISITAÇÃO 9 DE MARÇO A 4 DE JUNHO DE 2017 TERÇA A SÁBADO 10H30 – 2 1H30 DOMINGO E FERIADO 10H – 18H30 Informações sobre agendamento agendamento@pinheiros.sescsp.org.br
SESC PINHEIROS RUA PAES LEME, 195 FARIA LIMA 11 3095 9400 /SESCPINHEIROS SESCSP.ORG.BR
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