e f e l i c i da d e 3
Apresentacao
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Levando o sorriso a sério
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Com a boca no mundo
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alimentacao e saúde
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O que pode atrapalhar a saúde bucal
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como evitar as doencas bucais
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Orientacoes sobre acidentes
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Em busca da saúde bucal
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Referencias bibliográficas
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a p r e s e n ta c a o
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MUITO RISO E POUCO SISO As ações do Sesc na área de saúde remontam à criação da instituição, em 1946. De lá para cá, ocorreram muitas mudanças na abordagem e nos serviços oferecidos, mas o propósito de trabalhar pela qualidade de vida dos trabalhadores do comércio, serviços e turismo manteve-se sólido, incluindo uma importante perspectiva educativa. Nesse sentido, a atualização das premissas institucionais permitiu que a saúde passasse a ser compreendida positivamente, como a busca permanente pelo bem-estar, o que inclui os aspectos subjetivos, da percepção das pessoas sobre si mesmas, sobre o outro e sobre o mundo. É esse o espírito que anima o Guia de Saúde Bucal, apresentando de forma lúdica um assunto da mais alta seriedade. Para o Sesc, essa iniciativa contribui para que possamos todos nos ver como responsáveis pela construção de nosso bem-estar individualmente e como agentes na construção do bem-estar coletivo.
Danilo Santos de Miranda Diretor Regional do Sesc São Paulo
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levando o sorriso a sério
COMUNICAÇÃO O sorriso é uma das primeiras formas de comunicação dos seres humanos.
SORRIR 1 Rir levemente, sem rumor, com ligeira contração dos músculos faciais. 2 Dar, dirigir um sorriso. 3 Ser favorável. 4 Dar esperanças, mostrar-se prometedor. 5 Ser objeto de desejo, atrair, apetecer. 6 Achar chiste ou graça. 7 Significar de modo risonho ou agradável à vista. Dicionário Michaellis da Língua Portuguesa
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CONQUISTA Sorrir abre caminhos, facilita a interação com os outros, dissolve ressentimentos, conquista e expressa admiração e simpatia.
FELICIDADE Um rosto que se abre em um sorriso pode indicar muitas coisas: emoção, charme, ternura, surpresa, deslumbramento e, muitas vezes, significa felicidade.
AUTONOMIA QUE VEM DO CONHECIMENTO Temos o sentimento de felicidade quando fazemos boas escolhas em nossas vidas. Em nosso cotidiano incluem-se as escolhas saudáveis que, ao promoverem nossa saúde, trazem como resultado o nosso sorriso. Para realizar boas escolhas, porém, é necessário que tenhamos autonomia, gerada principalmente por meio de informação e conhecimento, o que denota um dos objetivos da promoção da saúde. Para abrirmos muitos sorrisos, portanto, é fundamental que vivamos num estado de bem-estar, prazer e vida saudável no sentido mais amplo desses termos.
SORRIR FAZ BEM! Quem sorri estimula o cérebro a liberar endorfina e serotonina – substâncias responsáveis pela sensação de leveza e bem-estar, além de ativarem o sistema imunológico para prevenir, principalmente, doenças ocasionadas por estresse. O sorriso combate a depressão, diminui a pressão arterial, melhora a digestão, desintoxica o organismo, espanta a dor e até deixa a pele mais bonita.
QUALIDADE DE VIDA O sorriso é o nosso indicador de satisfação e o reflexo de nossa qualidade de vida. Devemos, assim, reafirmar a sua importância e valorizá-lo ainda mais. 7
n d u m o o n a ! c o b a m Co “Tenho mais é que botar a boca no mundo Como faz o tico-tico quando quer comer.” Rita Lee
A boca geralmente é definida como sendo o órgão da fala, ou então, a cavidade que se situa na parte inferior da face, onde a língua e os dentes estão inseridos, formando a primeira parte do sistema digestivo. Porém, a boca não é um órgão isolado. Ela faz parte do corpo, que é resultado de processos que abrangem aspectos biológicos, psíquicos e afetivos.
Da cavidade bucal dependem a linguagem, o prazer e o ato da mastigação, funções essenciais para o consumo e a produção do mundo. Esse olhar singular sobre a boca resgata a beleza, a delicadeza, a voracidade e a potência desse território corporal, destacando-o como lugar de afirmação da vida.
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Por dentro da boca Anatomicamente falando, a boca é a entrada do tubo digestivo, o local por onde se inicia o processo de alimentação.
É na boca que desvendamos o gosto, a temperatura e a textura dos alimentos. Sua grande aliada é a língua, que exerce um papel fundamental no paladar. Existem sobre a língua estruturas chamadas papilas gustativas, responsáveis por captar quimicamente as características dos alimentos e transmiti-las através de impulsos nervosos até o cérebro, que, por fim, identificará os cinco sabores básicos: azedo, amargo, doce, salgado e umami. Estudos revelam que o corpo humano reconhece também o sabor umami, um termo em japonês que significa saboroso ou delicioso. Pode ser identificado quando comemos carne, tomate, queijo parmesão e cogumelos, por exemplo.”
Embora duros e calcificados, os dentes são órgãos vivos. Cada dente se divide em duas partes: a coroa (a parte que se vê) e a raiz (aquela que não se vê). Os dentes são formados por três camadas: - a camada externa e dura é o esmalte; - a intermediária e sensível é a dentina; - e a mais interna e responsável pela vitalidade do dente, a polpa. 9
as duas fases da denticao Durante a vida todos têm duas dentições: a decídua (como é chamada a dos dentes de leite) e a permanente.
DENTES DECÍDUOS Também conhecidos como dentes de leite, começam a aparecer na boca por volta dos 6 meses de idade e continuam surgindo aos poucos, até os três anos, fase em que todos estão presentes.
Fique ligado É preciso cuidar muito bem dos dentes decíduos, mesmo sabendo que irão cair. Eles ajudam os dentes permanentes a nascerem na posição correta e mantêm o espaço adequado para os que virão.
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A dentição decídua totaliza 20 dentes, divididos em incisivos (que cortam), caninos (que perfuram) e molares (que moem e trituram os alimentos).
DENTES PERMANENTES Quando a criança atinge cerca de 6 anos de idade, começa a troca da dentição, com a erupção dos dentes permanentes, que só termina aproximadamente aos 12 anos.
Fique ligado Por volta dos 6 anos, inicia-se a erupção do primeiro molar permanente, atrás dos últimos dentes decíduos, sem que haja perda de nenhum dente correspondente. É comum os pais não perceberem a chegada deste dente, pois as crianças não costumam relatar nenhum incômodo.. Por isso, é sempre importante ficar atento a esta fase.
A dentição permanente totaliza 32 dentes, que devem durar a vida toda, se forem bem cuidados.
Os dentes não são responsáveis somente pela estética. Tanto os decíduos como os permanentes são fundamentais para a mastigação e para a articulação das palavras, duas funções essenciais em nossa vida.
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para que servem os dentes? Juntamente com a língua e a saliva, os dentes são fundamentais na hora das refeições. Eles são encarregados de triturar e amassar os alimentos e transformá-los em uma massa, que será então engolida. Quanto mais os alimentos forem mastigados, melhor será o processo de digestão no estômago e a distribuição dos nutrientes para todo o organismo. Os dentes possuem diferentes tamanhos e formatos que assumem funções distintas na tarefa da mastigação, para processar com eficiência alimentos com diversas consistências.
INCISIVOS Ficam na frente da boca, são responsáveis por cortar os alimentos. Além disso, são importantes para um sorriso bonito e harmonioso.
CANINOS Estão ao lado dos incisivos. São pontudos e ajudam a rasgar os alimentos.
PRÉ-MOLARES Ficam próximos aos caninos e são usados para esmagar a comida para que seja engolida mais facilmente.
MOLARES Situam-se no fundo da boca. Largos e chatos, eles são úteis para triturar e amassar os alimentos mais duros. 12
PROPOSTA DE ATIVIDADES cortar
Como os dentes funcionam Proponha um jogo de associação entre imagens dos diferentes tipos de dentes e fotos de objetos que simbolizem suas funções.
erar furar, dilasc
triturar,
amassar
Cada dente no seu lugar Oriente as crianças a recortarem formatos de dentes em uma cartolina branca e a, partir daí, montarem uma arcada com dentes recortados.
Degustação de frutas Peça às crianças que, ao comerem um pedaço de fruta (maçã, pera, melão), observem o que cada grupo de dentes realiza durante a mastigação. 13
d ú e a s e o a c a t n alime “A gente não quer só comer... A gente quer prazer... Para aliviar a dor.” Arnaldo Antunes
A alimentação adequada e saudável é um direito de todos os seres humanos. Este direito envolve a garantia ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade e em quantidade suficiente, considerando práticas alimentares promotoras de saúde que respeitem a diversidade e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis. 14
Uma alimentação inadequada está associada a várias doenças, entre elas a desnutrição e a obesidade. O consumo alimentar da população brasileira apresentou mudanças nas últimas décadas. Houve redução da fome e da desnutrição, no entanto, simultaneamente ocorreu um aumento expressivo da população com sobrepeso e obesidade e como consequência, aumento das doenças crônicas não transmissíveis como diabetes e hipertensão, em todas as faixas etárias.
Frente a este cenário, com o objetivo de orientar a escolha de alimentos voltados para uma alimentação nutricionalmente balanceada, saborosa e culturalmente apropriada, bem como ampliar a autonomia e promover o bem-estar de todos, o Ministério da Saúde lançou em 2014 o novo Guia Alimentar para a População Brasileira, com a intenção de que este documento oficial seja utilizado nas casas das pessoas, nas escolas e todos os espaços onde atividades de promoção de saúde tenham lugar. Suas recomendações estão sintetizadas em uma regra de ouro e dez passos para uma Alimentação Adequada e Saudável, que você vai conhecer a seguir.
A versão digital do Guia Alimentar está disponível em: bit.ly/guia-alimentar-pdf
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regra de ouro
alimento in natura (fruta fresca)
alimento processado (fruta em calda)
Prefira sempre alimentos in natura ou minimamente processados e preparações culinárias a alimentos ultraprocessados.
alimento ultraprocessado (suco em pó de fruta)
Ou seja: opte por água, leite e frutas no lugar de refrigerantes, bebidas lácteas e biscoitos recheados. Não troque comida feita na hora (salada, arroz, feijão, sopa, macarronada, legumes refogados, farofa) por produtos que dispensam preparação culinária (macarrão instantâneo, pratos congelados prontos para aquecer, sanduíches, frios e embutidos, molhos industrializados); e fique com sobremesas caseiras, dispensando as industrializadas.
Dez passos para uma alimentacao adequada e saudável 1
Fazer de alimentos in natura ou minimamente processados a base da alimentação. Em grande variedade e predominantemente de origem vegetal, alimentos in natura ou minimamente processados são a base ideal para uma alimentação nutricionalmente balanceada, saborosa, culturalmente apropriada e promotora de um sistema alimentar socialmente e ambientalmente sustentável. Variedade significa alimentos de todos os tipos – grãos, raízes, tubérculos, farinhas, legumes, verduras, frutas, castanhas, leite, ovos e carnes – e diversidade dentro de cada tipo – feijão, arroz, milho, batata, mandioca, tomate, abóbora, laranja, banana, frango, peixes, etc.
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Utilizar óleos, gorduras, sal e açúcar em pequenas quantidades ao temperar e cozinhar alimentos e criar preparações culinárias. Utilizados com moderação em preparações culinárias com base em alimentos in natura ou minimamente processados, óleos, gorduras, sal e açúcar contribuem para diversificar e tornar mais saborosa a alimentação, sem deixá-la nutricionalmente desbalanceada.
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Limitar o consumo de alimentos processados. Os ingredientes e métodos usados na fabricação de alimentos processados – como conservas de legumes, compota de frutas, pães e queijos – alteram de modo desfavorável a composição nutricional dos alimentos dos quais derivam. Em pequenas quantidades, podem ser consumidos como ingredientes de preparações culinárias ou parte de refeições baseadas em alimentos in natura ou minimamente processados.
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Evitar o consumo de alimentos ultraprocessados. Devido a seus ingredientes, alimentos ultraprocessados – como biscoitos recheados, “salgadinhos de pacote”, refrigerantes e “macarrão instantâneo” – são nutricionalmente desbalanceados. Por conta de sua formulação e apresentação, tendem a ser consumidos em excesso e a substituir alimentos in natura ou minimamente processados. Suas formas de produção, distribuição, comercialização e consumo afetam de modo desfavorável a cultura, a vida social e o meio ambiente. 17
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Comer com regularidade e atenção, em ambientes apropriados e, sempre que possível, com companhia. Procure fazer suas refeições em horários semelhantes todos os dias e evite “beliscar” nos intervalos entre elas. Coma sempre devagar e desfrute o que está comendo, sem se envolver em outra atividade. Procure comer em locais limpos, confortáveis e tranquilos e onde não haja estímulos para o consumo de quantidades ilimitadas de alimento. Sempre que possível, procure fazer suas refeições com familiares, amigos ou colegas de trabalho ou escola. A companhia nas refeições favorece o comer com regularidade e atenção, combina com ambientes apropriados e amplia o desfrute da alimentação. Compartilhe também as atividades domésticas que antecedem ou sucedem o consumo das refeições.
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Fazer compras em locais que ofertem variedades de alimentos in natura ou minimamente processados. Procure fazer compras de alimentos em mercados, feiras livres e feiras de produtores e outros locais que comercializam variedades de alimentos in natura ou minimamente processados. Prefira legumes, verduras e frutas da estação e cultivados localmente. Sempre que possível, adquira alimentos orgânicos e de base agroecológica, de preferência diretamente dos produtores.
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Desenvolver, exercitar e partilhar habilidades culinárias. Se você tem habilidades culinárias, procure desenvolvê-las e partilhá-las, principalmente com crianças e jovens, sem distinção de gênero. Se você não tem habilidades culinárias – e isso vale para homens e mulheres –, procure adquiri-las. Para isso, converse com as pessoas que sabem cozinhar, peça receitas a familiares, amigos e colegas, leia livros, consulte a internet, eventualmente faça cursos e... comece a cozinhar!
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Planejar o uso do tempo para dar à alimentação o espaço que ela merece. Planeje as compras de alimentos, organize a despensa doméstica e defina com antecedência o cardápio da semana. Divida com os membros de sua família a responsabilidade por todas as atividades domésticas relacionadas ao preparo de refeições. Faça da preparação de refeições e do ato de comer momentos privilegiados de convivência e prazer. Reavalie como você tem usado o seu tempo e identifique quais atividades poderiam ceder espaço para a alimentação.
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Dar preferência, quando fora de casa, a locais que servem refeições feitas na hora.
No dia a dia, procure locais que servem refeições feitas na hora e a preço justo. Restaurantes de comida a quilo podem ser boas opções, assim como refeitórios que servem alimentação caseira em escolas ou no local de trabalho. Evite redes de fast-food.
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Ser crítico quanto a informações, orientações e mensagens sobre alimentação veiculadas em propagandas comerciais. Lembre-se de que a função essencial da publicidade é aumentar a venda de produtos, e não informar ou, menos ainda, educar as pessoas. Avalie com crítica o que você lê, vê e ouve sobre alimentação em propagandas comerciais e estimule outras pessoas, particularmente crianças e jovens, a fazerem o mesmo. 19
sem perder o prazer Fique ligado Para evitar a cárie e a doença gengival, é preciso escovar os dentes após as refeições e preferir alimentos como carnes, queijos, leite, cereais, frutas, legumes e verduras. Eles ajudam os dentes ficarem saudáveis e sem dor.
Guloseimas em geral são consideradas inimigas dos dentes saudáveis. A rigor, quase todos os alimentos podem provocar cáries, mas o açúcar é um dos principais responsáveis pela sua formação. Porém, não é preciso eliminar os doces da rotina. Eles podem ser consumidos com moderação e de forma racional, ou seja, de preferência após as refeições principais e sempre seguidos de escovação.
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Se ingerir alimentos açucarados e ácidos (limão, laranja, vinagre, refrigerante), procure consumi-los durante as principais refeições, pois a salivação resultante do processo mastigatório evita que os resíduos se acumulem nos dentes com tanta facilidade. Alimentos açucarados pegajosos e/ou sólidos (bala de goma, biscoito recheado, caramelo, chocolate) são mais prejudiciais que os líquidos (refrigerante e suco adoçado) por ficarem mais tempo junto aos dentes. Ao ingerir um alimento açucarado mais pegajoso, no lanche da escola, por exemplo, pode-se consumir em seguida um dos alimentos chamados “detergentes”, como maçã ou cenoura crua. Eles têm esse nome porque, pelo atrito durante a mastigação, fazem uma pequena “limpeza” nos dentes. Quanto maior a frequência de ingestão de alimentos açucarados e quanto mais tempo os resíduos ficarem nos dentes, maior será o risco de formação de cáries. Por isso, após o consumo, é necessária a escovação, o quanto antes.
dicas
Lembre-se de fazer pelo menos três escovações ao dia, sempre após as refeições.
Comer doces é prazeroso, mas seu consumo excessivo além de aumentar o risco de cáries, leva à obesidade e outras doenças crônicas. Assim, é preciso definir momentos especiais para seu consumo, como, por exemplo, a hora da sobremesa.
A mais importante delas é aquela realizada à noite, antes de dormir.
Acostume naturalmente seu paladar a ingerir sucos naturais não adoçados. Evite o consumo de sucos industrializados com adição de açúcar. Crianças devem retardar ao máximo o consumo de refrigerantes, “salgadinhos de pacote”, biscoitos recheados e balas, uma vez que este hábito dificilmente será contornado posteriormente. 21
PROPOSTA DE ATIVIDADES Escolhas saudáveis Mostre imagens de alimentos fazendo associações com sua categoria e recomendações de consumo:
ALIMENTOS IN NATURA ou MINIMAMENTE PROCESSADOS base da alimentação
ALIMENTOS PROCESSADOS consumo limitado
ALIMENTOS ULTRAPROCESSADOS evitar consumo
Destaque a necessidade de diversificar o consumo de alimentos sem perder de vista os hábitos e costumes da cultura local.
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Prato do dia Entregue a cada crianรงa um pratinho descartรกvel e revistas ou folhetos de supermercados que contenham imagens de alimentos variados. Peรงa para cada uma delas montar com as figuras um prato colorido e saudรกvel. Sugestรฃo: acesse o Guia Alimentar para o melhor desenvolvimento da atividade.
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o q u e p o d e at r a pa l h a r “Tira-me o pão, se quiseres, Tira-me o ar, mas não Me tires o teu riso.” Pablo Neruda
As principais doenças da boca possuem diversos fatores de risco em comum, tanto entre elas quanto para algumas doenças sistêmicas (que podem afetar outras partes do corpo). Dessa forma, deve haver uma abordagem integral para seu tratamento com ações de promoção e prevenção inclusive sobre os seus determinantes, tais como fatores culturais e socioeconômicos, acesso a políticas públicas saudáveis (meios coletivos de uso de flúor e alimentação saudável, por exemplo) e controle mecânico do biofilme (placa bacteriana), dentre outros. No nosso dia a dia temos domínio principalmente sobre o controle mecânico da placa bacteriana. Vamos nos atentar a ele. 24
a saúde bucal bactérias vivas aderidas ao dente
Quando a higiene bucal é deficiente e a alimentação é rica em açúcares e carboidratos, forma-se na boca o chamado biofilme bacteriano (placa bacteriana), uma massa branca e leitosa, composta por bactérias vivas e por restos de alimentos aderidos ao dente. Entre essas bactérias há aquelas que causam a cárie (principalmente a Streptococcus mutans e a Lactobacillus) e também as que infectam as gengivas (como a Actinomyces sp. e a Aprevotella intermedia). O acúmulo do biofilme causa a gengivite, que deixa a gengiva avermelhada, inchada e sangrando à toa. Caso não seja tratada, a doença periodontal pode evoluir para uma periodontite e causar, além de mau hálito, mobilidade, perda óssea e até perda dos dentes. 25
cárie A cárie aparece quando as bactérias presentes no biofilme produzem um ácido que consegue dissolver o dente. A cárie pode demorar a se formar ou surgir rapidamente. Inicialmente, o esmalte é atacado e há a formação de uma mancha branca com aspecto opaco e poroso. Com o tempo surge uma cavidade que atinge a dentina e o dente começa a doer. Se ela evoluir, possivelmente atingirá a polpa (canal radicular), a camada mais profunda do dente, causando dor, inchaço, mau hálito e alterações ligadas à oclusão (encaixe dos dentes) e à função (mastigação), o que pode trazer prejuízos estéticos. A consequência mais grave da cárie, na impossibilidade de tratamento restaurador, é o comprometimento endodôntico, ou seja, do canal radicular, o que pode levar à perda do dente.
perda dentária Uma perda dentária precoce decorrente de cárie ou traumas acidentais, por exemplo, poderá causar alterações no posicionamento dos dentes. Neste caso, os dentes vizinhos mudam de posição, impedindo o correto nascimento ou posicionamento dos dentes permanentes. Por isso, se ocorrer uma perda precoce dos dentes, recomenda-se a utilização de aparelhos ortodônticos para manter os demais na posição correta. 26
PROPOSTA DE ATIVIDADES
Quem vai vencer a competição? Convide os alunos a criarem coletivamente um roteiro de filme, peça de teatro ou história em quadrinhos no qual dentes, gengiva, escovas de dente, bactérias e alimentos açucarados apareçam como personagens, e desenvolvam uma competição entre si.
Hora da limpeza Proponha às crianças que, após comerem um pedaço de bolo, escovem os dentes e passem fio dental apenas na arcada dentária superior. Em seguida, peça a elas explorarem todos os dentes com a língua e sentirem a diferença da parte não escovada. Por fim, solicite que observem diretamente a diferença diante de um espelho.
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c a u n e c o d b i s a s a s r a t i v como e “Pois não houve ainda filósofo que suportasse a dor de dente com paciência.” William Shakespeare
higiene bucal
É importante que os pais supervisionem a higienização bucal dos filhos pelo menos até os 9 anos.
A escolha da escova é muito importante. O ideal é que tenha a cabeça pequena, com cerdas macias e arredondadas. Existem escovas apropriadas para cada faixa etária.
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O biofilme (placa bacteriana) é o maior inimigo dos dentes e das gengivas. Mas, você pode lutar contra ele usando uma arma poderosíssima: a higiene bucal. Em primeiro lugar, é preciso lembrar que os dentes são estruturas pequenas, cheias de cantos e reentrâncias. Por isso, o biofilme só será removido por meio de uma limpeza caprichada e cuidadosa, utilizando a escova de dentes, a pasta e o fio dental.
O creme dental com flúor é recomendado para todas as idades, variando somente a quantidade utilizada. As crianças devem ser orientadas a não engolir creme dental.
escovacao Deve-se fazer pelo menos três escovações ao dia: após as refeições e à noite, antes de dormir (considerada a mais importante). A escovação ideal, tanto para a arcada superior como para a inferior, é aquela em que a escova passa por todos os lados dos dentes: na frente, atrás (com a escova próxima da gengiva) e em cima, sem pular nenhum dente. Use uma pequena porção de creme dental e escove os dentes sem força, de preferência, olhando no espelho.
dicas Feche a torneira ao escovar os dentes. Utilize um copo com água para enxaguar a boca ao final da escovação. Esta quantidade é suficiente e evitamos o desperdício. Enxugue bem a escova exposta no banheiro para evitar contaminação de bactérias (usar capa ou porta-escova)
DENTES DA FRENTE Fazer movimentos circulares com a escova.
DENTES DO FUNDO Fazer movimentos de vai e vem, limpando as partes que mordem os alimentos..
PARTE INTERNA Fazer um movimento de varredura partindo da base dos dentes (perto da gengiva) em direção às pontas. Os dentes de cima devem ser “varridos” de cima para baixo. Os de baixo, no sentido contrário.
LÍNGUA Fazer movimentos de varredura, do fundo para a ponta. A escovação da língua também é necessária, pois ela acumula resíduos alimentares que podem causar mau hálito e contribuir para a proliferação de bactérias, formando uma camada esbranquiçada na parte superior da língua, chamada de “saburra”. Além da escova, pode-se também limpar a língua com instrumentos específicos, chamados raspadores linguais. 29
fio dental O fio dental é tão importante quanto a escova. É indispensável para complementar a higiene bucal, uma vez que limpa a região entre os dentes, alcançando a área que está sob a gengiva, local que escova não tem acesso. Deve ser utilizado ao menos uma vez por dia. Em crianças, seu uso deve ser iniciado a partir do momento em que começar a ocorrer o contato entre os dentes.
Corte um pedaço com 40 cm aproximadamente e enrole as extremidades nos dedos médios. Curve o fio ao redor da superfície lateral dos dentes, deslizando-o para frente e para trás, de maneira a abraçar os dentes, penetrando ligeiramente abaixo da gengiva. Lembre-se de limpar cada dente separadamente.
flúor e saúde bucal
Os métodos preventivos baseados na utilização de flúor - como seu uso nas águas de abastecimento - promovem aumento de sua concentração na cavidade bucal, o que interfere também na formação do esmalte dentário, deixando a estrutura do dente mais resistente e dificulta a progressão da cárie dentária. Políticas públicas saudáveis devem desenvolver estratégias direcionadas a todas as pessoas da comunidade, como políticas que gerem oportunidades de acesso à água tratada, incentive a fluoretação das águas, o uso de creme dental e assegurem a disponibilidade de cuidados odontológicos básicos apropriados.
Após a utilização do fio dental, escove corretamente seus dentes.
É importante usar o fio dental corretamente, sempre de forma delicada, para não ferir a gengiva.
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A fluoretação das águas de abastecimento público é elemento essencial da estratégia de promoção da saúde e é indicada a toda população. A utilização de dentifrícios fluoretados é considerada como um dos métodos mais racionais de prevenção das cáries, principal doença bucal que acomete as crianças. Toda a população, em especial crianças menores de 9 anos de idade, deve usar em pequenas quantidades (recomenda-se o equivalente a um grão de arroz), devido ao risco de fluorose dentária.
FLUOROSE DENTÁRIA
dicas
São manchas nos dentes causadas por ingestão de flúor em excesso. As manchas podem ter várias tonalidades, indo do branco a tons castanhos. Nos casos mais graves, pode ocorrer até perda da estrutura dental e comprometer a estética.
Crianças em idade pré-escolar apresentam risco para o desenvolvimento de fluorose dentária, pois ingerem involuntária e sistematicamente alguma quantidade de creme dental quando escovam os dentes. Pequenas quantidades de creme dental colocadas na escova e a vigilância de adultos são altamente recomendáveis, principalmente em regiões com água fluoretada..
enxaguantes bucais Enxaguantes bucais só devem ser utilizados quando indicados pelo cirurgião dentista. A maioria deles contém flúor e pode fazer mal à criança, se for ingerido. 31
PROPOSTA DE ATIVIDADES É duro, mas é frágil Encha meio copo transparente com refrigerante à base de “cola”. Mergulhe metade de um pedaço de giz no copo para mostrar às crianças seu derretimento, evidenciando como a acidez pode comprometer estruturas calcificadas.
Fora, biofilme! Coloque duas crianças uma ao lado da outra, ombro a ombro, sugerindo dois dentes bem juntos. Peça-lhes que pressionem entre si uma folha de papel, que represente o biofilme (placa bacteriana). Outras crianças deverão simular o uso do fio dental, segurando pelas pontas uma fita grossa, que irá passar entre os “dentes” para remover o “biofilme”. Atente para que elas façam o movimento correto do vai-e-vem e do abraço, como na higiene bucal, utilizando fio dental de verdade.
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o r i e n ta c o e s s o b r e a c i d e n t e s Às vezes, a visita ao dentista precisa ser feita às pressas devido a acidentes que podem acontecer com os dentes, sobretudo com crianças. Especialmente entre 6 e 14 anos, ao se divertir com amigos, jogando bola, andando de bicicleta ou de skate, a criança pode cair e se machucar.
É importante que os responsáveis fiquem atentos aos acidentes que envolvem os dentes e a boca, pois eles podem apresentar diferentes consequências, que vão de um corte ou sangramento à perda parcial ou integral de um dente.
EM CASO DE ACIDENTE, CONSULTE AS DICAS NA PÁGINA SEGUINTE. 33
dicas em caso de acidentes
Limpe a área com água filtrada ou soro fisiológico para observar melhor a região atingida. Se houver corte ou sangramento leve, faça uma compressão com gaze ou pano limpo por dez minutos. Caso um ou mais dentes estejam quebrados, guarde os pedacinhos em um copo ou pote com água filtrada, leite ou soro fisiológico e leve-os imediadatamente ao dentista. Se o dente sair inteiro, coloque-o em um pote com leite, soro fisiológico ou até água filtrada, na ausência dos anteriores, e procure o dentista imediatamente para que ele tente reimplantá-lo.
Fique ligado Sempre que alguém cair, bater, machucar ou cortar a boca, procure um dentista para avaliar os possíveis danos ocorridos.
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PROPOSTA DE ATIVIDADES
Evite acidentes! Peça às crianças que contem alguns casos de tombos e quedas que elas tenham vivido ou viram ocorrer com algum colega. Em seguida, discuta com elas formas de prevenção de acidentes e as primeiras medidas que elas mesmas podem tomar, após uma queda ou um tombo.
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l a d ú e a s c a b u d a c s em bu “Cavalgar bem a sua saúde para poder fazer com ela viagens longas.” Gilberto Amado
Apesar de as principais doenças bucais serem passíveis de controle e as medidas necessárias sejam relativamente simples, verifica-se que a saúde bucal está associada a condições sociais, econômicas, políticas e educacionais e não apenas como resultado de aspectos biológicos na placa bacteriana dentária. Políticas públicas que busquem a promoção da saúde e gerem condições favoráveis para escolhas saudáveis com autonomia serão fundamentais para que a saúde bucal seja conquistada.
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A visita ao dentista torna-se importante quando inserida num contexto maior de condições de vida de cada pessoa, caminhando juntamente com a possibilidade de o indivíduo desfrutar de benefícios que possibilitem a realização de escolhas mais saudáveis. Essa visita é importante para ajudar a prevenir as doenças bucais ou iniciar um tratamento, mas sempre pautada pela autonomia alcançada pelo paciente.
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Referencias bibliográficas
BOTAZZO C. Da arte dentária. São Paulo: Hucitec, 2000. BOTAZZO C. Sobre a bucalidade: notas para a pesquisa e contribuição ao debate. Ciência & Saúde Coletiva, 2006; 11(1):7-17. BONECKER, Marcelo; SHEIHAM, Aubrey. Promovendo Saúde bucal na infância e adolescência: conhecimentos e práticas. Editora Santos, 2004. v. 1. 195 p. Brasil. Ministério da Saúde. Guia Alimentar para a População Brasileira. 2º edição. Brasília, 2014. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Política nacional de promoção da saúde / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde. Brasília, 2010. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde Bucal / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. Brasília, 2008. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Guia de recomendações para o uso de fluoretos no Brasil / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. Brasília, 2009. 38
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