Resistências Confluentes É da natureza humana aventurar-se por desvelar o desconhecido. Ir ao encontro do outro para reafirmar quem somos pelas similaridades, diferenças, e alçar novos dilemas, são combustíveis aparentemente voláteis, que imprimem memórias e abastecem imaginários, nutrindo repertórios de vida. Distintas vozes ecoam e são acolhidas no programa de Turismo Social do Sesc São Paulo, propiciando vivências que abarcam as trocas simbólicas, a fruição cultural e das paisagens tanto geográficas quanto humanas. O exercício democrático do turismo envolve escolhas conscientes e um permanente compromisso com a formação do público para a corresponsabilidade da experiência. Nesse contexto, insere-se o projeto Itinerários de Resistência, que apresenta parte da rede de turismo
de base comunitária paulista realizada por grupos com identidades diversificadas como as aldeias indígenas, quilombos, assentamentos, associações e coletivos urbanos. Esses movimentos voltados para a coletividade convergem para o desenvolvimento local, bem como para o fortalecimento de lutas e objetivos comuns. Ao difundir saberes e aspectos socioculturais de tais territórios, apresentando uma das faces do turismo social em ambiente digital, o Sesc amplia os meios de acesso a essa pluralidade, acendendo um farol deflagrador de suas potencialidades. Que as narrativas e o conteúdo imagético de tais iniciativas sejam portadores de estímulos à reflexão e construção de uma sociedade mais justa e equânime, com encantamentos a serem desvelados, vividos e compartilhados. Sesc São Paulo
Comunidades no estado de São Paulo usam o turismo como ferramenta para apresentar as suas visões de mundo e seus modos de vida, e para reforçar projetos de autonomia e sustentabilidade
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ABERTURA
Itinerários de Resistência
A pandemia de Covid-19 evidenciou fragilidades da economia do turismo. A atividade turística que demanda consumo em larga escala para se manter viável foi duramente golpeada pelo imperativo do distanciamento social, pela redução abrupta dos deslocamentos e pela dinâmica de transmissão da doença que transformou os equipamentos turísticos convencionais, tais como hotéis, museus, restaurantes e espaços comerciais, em lugares de risco iminente de perda da saúde.
O turismo de base comunitária, de escala muito reduzida em relação ao formato industrial de viagens e atividades turísticas, também sofreu as consequências da insegurança sanitária mundial. No entanto, à medida que vão se acumulando os aprendizados sobre a situação de pandemia e análises vão sendo produzidas, vai ficando mais evidente que estas iniciativas comunitárias, descentralizadas, majoritariamente voltadas a grupos pequenos, apontam caminhos de futuro. O projeto Itinerários de Resistência se propõe a registrar e pensar o turismo de base comunitária a partir das experiências de comunidades no estado de São Paulo. Trata-se de um
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catálogo dessas iniciativas; ao mesmo tempo, de uma reflexão sobre as estratégias autônomas de vida e sobrevivência diante da crise profunda e abrupta, que atingiu a todos, mas de forma desigual. A palavra comunidade, neste projeto, é genericamente usada para definir grupos de pessoas em seus territórios, sejam eles quilombos, assentamentos ou propriedades rurais, ocupações urbanas, aldeias, coletivos culturais. Em comum, essas comunidades se valem do turismo para dar visibilidade às suas visões de mundo e seus modos de vida. Dessa forma, o turismo é uma estratégia de luta pelos direitos fundamentais da cidadania.
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A escritora e pesquisadora Elisa Spampinato tem ampla experiência teórica e prática em turismo comunitário, que inclui a Itália, o Reino Unido e o Brasil. Atualmente dedicada a criar estratégias de promoção desse tipo de turismo, ela ajuda, aqui, a pensar sobre o sentido de comunidade. “Para ser comunidade é preciso ter uma história comum e um projeto de futuro comum.” São dois aspectos que se aplicam para definir os grupos e territórios apresentados nesta coleção.
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ABERTURA
Autodeterminação e desafio econômico
“Esse turismo da cotidianidade leva os visitantes a verem como outras sociedades se organizam e atuam” Sueli Ângelo Furlan
Turismo de base comunitária é resistência, no entendimento da bióloga e geógrafa Sueli Ângelo Furlan. Professora do departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP), Sueli considera que esse turismo impulsiona a luta pelo direito ao território e pela conservação ambiental. Tem, também, o papel de resistir ao apagamento de povos e modos de vida tradicionais. “Esse turismo da cotidianidade leva os visitantes a verem como outras sociedades se organizam e atuam”, diz a professora, que usa visitas a comunidades como ferramentas educacionais. “Mas, para ser mesmo resistência, a comunidade deve fazer isso numa lógica de autodeterminação, na qual ela é a protagonista. Os turistas é que devem se adaptar à comunidade, e não o contrário.”
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É um argumento que tem a adesão da pesquisadora Elisa Spampinato, para quem, além da autodeterminação, o turismo de base comunitária tem um segundo pilar, a independência econômica da comunidade em relação à atividade turística. “Não pode ser a única atividade, nem a principal. Se for, tudo o que se faz no interior da comunidade fica subordinado ao turismo. Tem de ser fonte de renda complementar, lembrar que a comunidade nasceu fazendo outra coisa, e essa outra coisa é que desperta o interesse turístico”, completa. Comunidades precisam refletir sobre o que o turismo pode oferecer a elas antes de abrir as portas a esta atividade. A consideração é da professora de Economia do Turismo Diomira Faria, do Departamento de Geografia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “A pergunta a ser respondida é o que se quer com o turismo em seu território. Renda? Fortalecimento de sua cultura? Intercâmbio? A
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“Mas, para ser mesmo resistência, a comunidade deve fazer isso numa lógica de autodeterminação, na qual ela é a protagonista.” Sueli Ângelo Furlan
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“A pergunta a ser respondida é o que se quer com o turismo em seu território. Renda? Fortalecimento de sua cultura? Intercâmbio?” Diomira Faria
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partir desse objetivo definido, pode-se traçar o tipo de recepção a ser oferecida”, explica a professora, que lidera, na universidade, o grupo de pesquisa Turismo, Economia, Cultura e Território. Ainda segundo Diomira, são fundamentais que sejam feitos no interior das comunidades debates sobre limites da participação dos turistas em rituais tradicionais e no contato com o patrimônio imaterial. “Quando é o caso, o turista atual sabe que está vendo uma representação, a título de curiosidade, entretenimento, e isso não é necessariamente ruim”, diz a professora. Resta, ainda, pensar sobre a viabilização econômica dos produtos turísticos comunitários. Neste sentido, Elisa Spampinato afirma que marketing e comercialização são gargalos, etapas do processo
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olhadas com desconfiança por causa de um justificado receio de superexploração pelas grandes operadoras que dominam o mercado. Agências com uma prática mais horizontal, de valorização do protagonismo das comunidades, de sua autodeterminação, ocupam neste cenário uma posição estratégica: ajudam o turismo comunitário a se perceber como um negócio que pode, sim, ser ético. Especialistas afirmam que o papel do poder público é o de viabilizar capacitações, acesso a crédito e políticas públicas - dentre elas, a regularização fundiária. “O direito à terra assegurado é fundamental para a segurança alimentar e para que as comunidades possam de fato colocar em prática a autodeterminação”, afirma a professora Diomira Faria.
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O direito à terra assegurado é fundamental para a segurança alimentar e para que as comunidades possam de fato colocar em prática a autodeterminação Diomira Faria
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ABERTURA
Lugares de escuta e experiência
“Muito do patrimônio imaterial se prolonga por meio do turismo comunitário” Cláudia Fernanda dos Santos
A turismóloga e professora Claudia Fernanda dos Santos, mestre em Planejamento e Gestão do Território pela Universidade Federal do ABC, afirma que fazer turismo em comunidades é se abrir para escutar o outro e para conhecer seus modos de fazer. “Muito do patrimônio imaterial se prolonga por meio do turismo comunitário”, diz a pesquisadora. “Vale a gente se perguntar por que as pessoas entram num ônibus e viajam uma noite inteira para chegar a uma praia e passar algumas horas, mas não têm paciência para escutar um relato de um indígena, de um griô, dos mais velhos dessas comunidades.” Neste sentido, este projeto é baseado sobretudo em escutas: parte de entrevistas com representantes de diversas comunidades no estado de São Paulo, aproximadamente 60 mulheres e homens que, nos papéis de lideranças comunitárias e ativistas,
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ajudam a construir o turismo comunitário em suas localidades. Pesquisadores com olhares distintos sobre o turismo, profissionais do setor e mobilizadores com atuação focada em roteiros comunitários também são entrevistados, para iluminar aspectos variados da reflexão. Vale ressaltar que toda a interação com as comunidades, o registro de suas narrativas e a elaboração ou coleta dos materiais que compõem este projeto se dá em contexto pandêmico, sem contato presencial. Para a turismóloga Cláudia Fernanda, o turista que visita comunidades está aberto para ser transformado pelas experiências. Para entender que os ambientes são dinâmicos. “Você pode visitar um sítio de pesca em um território caiçara e naquele dia específico o clima não ajudou, o mar estava diferente. Nada será todo dia igual. E, muitas vezes, você só vai entender de fato o que vivenciou muito tempo depois. Você vai construindo e dando significados àquela experiência.” Um exemplo poderoso de experiência turística voltada à construção de significados a partir de experiências e escuta está no Vale do Paraíba. Solange Barbosa, historiadora e técnica em turismo, idealizou a Rota da Liberdade, um mapeamento robusto das comunidades negras nessa região paulista, que
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“Você pode visitar um sítio de pesca em um território caiçara e naquele dia específico o clima não ajudou, o mar estava diferente. Nada será todo dia igual.” Cláudia Fernanda dos Santos
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“muitas vezes, você só vai entender de fato o que vivenciou muito tempo depois. Você vai construindo e dando significados àquela experiência.” Cláudia Fernanda
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resultou em uma série de roteiros focados no protagonismo das pessoas afrodescendentes. As visitas guiadas por Solange abordam a relevância de negras e negros na economia, na cultura, na religiosidade, nas artes. “Um dos meus roteiros mostra como a população escravizada do Vale do Paraíba fez uma antropofagia com a festa de São Benedito, que é a segunda festa religiosa mais importante da cidade de Aparecida. Transformou, incluiu danças como o moçambique e a congada. É uma coisa linda, um ritual maravilhoso”, conta Solange. A Rota da Liberdade surgiu também do contato de Solange com a Rota das Abolições, na França, onde a historiadora vivenciou roteiros temáticos destinados a mostrar o povo negro não a partir das correntes que prendiam seus corpos, mas de suas mentes livres, apesar da violência. Todo esse movimento rendeu a Solange a posição de consultora da Unesco. Ela também é coordenadora do Centro Cultural Afrobrasileiro e Biblioteca Zumbi dos Palmares, em Taubaté. A extensão natural da proposta tem sido o litoral norte, onde a Rota da Liberdade inclui visitas à Ilhabela, São Sebastião e Ubatuba, narrando a chegada de pessoas negras escravizadas e a resistência que levou à formação de diversos quilombos na região.
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Reinventar o turismo
Para Elisa Spampinato, o turismo está em um momento de virada. E, se for capaz de escutar essas outras vozes, pode ser reinventado, existir de forma equilibrada, centrada nas pessoas e nas relações. “Dessa forma, o turismo pode realmente ser o lugar do encontro, do crescimento, da transformação do indivíduo e, como consequência, da sociedade toda.” Neste movimento, o turismo de base comunitária tem contribuições importantes. “Ele destaca a diversidade cultural, as estratégias de distribuição de renda e inclusão social por meio de capacitação, preservação do meio ambiente, valorização dos patrimônios cultural, histórico e natural. É um turismo que ressalta a identidade comunitária”, afirma Claudia. Um turismo, portanto, que oferece possibilidades e caminhos, sobretudo coletivos. O desejo desta coleção é ser uma fonte de inspiração, diversa como as próprias comunidades, seus roteiros e suas estratégias de resistência.
“É um turismo que ressalta a identidade comunitária” Cláudia Fernanda
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SP
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ARARAQUARA Assentamento Monte Alegre Assentamento Bela Vista do Chibarro
SP
SP
30
0
33 0
Casa de Cultur Fazenda Rosei
SP 28 0
Comuna
Com Irm SP 27 0
Quilombo Cafundó
SALTO DE PIRAPORA
Quilombo Ivaporunduva
ELDORADO
Quilombo Sapatu
CANANEIA
PARANÁ Quilombo Mandira
ILHA DO CARDOSO Enseada da Baleia
MINAS GERAIS
ra ira
CAMPINAS BR
FRANCO DA ROCHA D. Tomás Balduino
muna da Terra mã Alberta
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UBATUBA PARAIBUNA
Comunidade Cultural Quilombaque
Institutos H&H Fauser e Chão Caipira
SÃO PAULO
BR
CUBATÃO
SANTOS
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Quilombo e Comunidade Caiçara da Fazenda Picinguaba
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BERTIOGA
Praia de Castelhanos Ilha Diana
SP
Bairro Cota 200
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Ilha do Bororé Acolhendo em Parelheiros
Bairro do Paquetá Terra Indígena Tenondé Porã Comunidades retratadas Águas
Oceano Atlântico
Áreas de Proteção Ambiental Municípios em destaque Rodovias
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ABERTURA
Ficha Técnica
sesc - serviço social do comércio
design gráfico e ilustrações
Administração Regional no Estado de São Paulo
Bicho Coletivo
presidente do conselho regional
entrevistas e textos
Abram Szajman
Mônica Nóbrega
diretor do departamento regional
produção executiva
Danilo Santos de Miranda
Guará Produções Artísticas e Socioambientais
superintendentes
entrevistados
Técnico-Social Joel Naimayer Padula Comunicação Social Ivan Giannini Administração Luiz Deoclécio Massaro Galina Assessoria Técnica e de Planejamento Sergio José Battistelli
Ana Flávia Flores e Silvani Silva [Assentamento Bela Vista do Chibarro | Araraquara]
gerentes
Sesc Digital Fernando Tuacek Artes Gráficas Hélcio Magalhães Estudos e Desenvolvimento Marta Raquel Colabone Assessoria Jurídica Carla Barbieri equipe sesc
Flávia Roberta Cortez Lombardo Costa [Núcleo de Turismo Social | Coordenação] Mayra Vergotti Ferrigno, Fernanda Vargas Ricardo Tacioli, Fernanda Fava Karina Musumeci, Rogerio Ianelli, Lourdes Teixeira Benedan João Paulo Guadanucci, Terezinha Gouvea Isadora Cunha Poci e Marcela Guimarães
Ângela Barbieri Nigro e Regina Braz [Assentamento Monte Alegre | Araraquara] Cicero Umbelino da Silva e Mauro Evangelista da Silva [Assentamento Comuna da Terra Dom Tomás Balduíno | Franco da Rocha] Alessandra Ribeiro Martins, Bianca Lúcia Martins Lopes e Flávia Tamiris Soares [Casa de Cultura Fazenda Roseira | Campinas] Regina Aparecida Pereira, Alex Aguiar Pires e Lucimari Aguiar Pires [Quilombo Cafundó | Salto de Pirapora] Benedito Alves da Silva [Quilombo de Ivaporunduva | Eldorado] Ivo Santos Rosa [Quilombo Sapatu | Eldorado] Chico Mandira e Nei Mandira [Quilombo do Mandira | Cananéia] Tatiana Cardoso e Joyce Cardoso [Nova Enseada da Baleia | Ilha do Cardoso]
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Fátima Maria Costa, Maria José Silva, Edja de Souza Gomes e Raimunda de Resende Rodrigues [Bairro Cota 200 | Cubatão]
Claudia Dias Nogueira, Vera Lion e Bel Santos Mayer [Instituto Brasileiro de Estudos e Apoio Comunitário – IBEAC | São Paulo]
Samara Faustino e Gradsnay Faustino [Bairro de Paquetá | Santos]
Ederon Marques [Projeto Bagagem e Araribá Turismo & Cultura | São Paulo]
Angela de Sousa e Patrícia dos Santos [Ilha Diana | Santos]
Elisa Spampinato [Travindy | Londres]
Irineu de Sousa Lúcio e Angélica dos Santos [Praia de Castelhanos | Ilhabela]
Fernando Oliveira [Matimpererê Turismo de Experiência | Cananeia]
Laura de Jesus Braga [Quilombo e Comunidade Caiçara da Fazenda Picinguaba | Ubatuba]
Raquel Pasinato [Instituto Socioambiental – ISA | São Paulo]
Susi Fauser, José Joaquim de Almeida, Maria Neide Souza, Irene Fernandes Neves, Ronnie dos Santos, José Vicente Faria, Lucas Campos e Larissa Neli [Instituto H&H Fauser e Instituto Chão Caipira | Paraibuna]
Solange Cristina Virginio Barbosa [Rota da Liberdade | Taubaté]
Jaison Pongiluppi Lara [Ilha do Bororé | São Paulo] Valéria Macoratti, Marlene Pereira Sila e Eduardo dos Santos Faria [Acolhendo em Parelheiros | São Paulo] Jerá Guarani e Karai Thiago [Terra Indígena Tenondé Porã | São Paulo] Camila Cardoso [Comunidade Cultural Quilombaque | São Paulo] Maria Alves da Silva, Marília de Azevedo Baptista Leite, Rafael Amorim Ramos, Silvana Bezerra da Silva [Comuna da Terra Irmã Alberta | São Paulo] Carlos Eduardo de Castro [Expedições Terra Brasilis Projetos Culturais e Turísticos | Bertioga]
Renata Antunes da Cruz [Caiçara Expedições | São Vicente]
Claudia Fernanda dos Santos [Oyá Consultoria em Territórios Turísticos e Inteligentes | São Paulo] Diomira Faria [Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG | Belo Horizonte] Sueli Angelo Furlan [Universidade de São Paulo – USP | São Paulo] Thaíse Guzzatti [Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC | Florianópolis]