Índice Corpo e existência
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Ser olímpico ou a eterna busca pela excelência
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Interseccionalidade: uma lente amplificadora do ser
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Ser educador (a)
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Fernando Meligeni Édson Cavalcante Criar e refletir E na arte... / Para saber mais...
28 29 30 31
ser diferente? Para começar a conversa De onde eu vejo Enquanto a sociedade cancela, o esporte aprova Fabi Alvim Evelyn Vieira Criar e refletir E na arte... / Para saber mais...
8 10 11 12 13 14 15
ser mulher Para começar a conversa De onde eu vejo Empoderamento Ádria Santos Yane Marques Criar e refletir E na arte... / Para saber mais...
32 34 35 36 37 38 39
ser lgbtqiap+ Para começar a conversa De onde eu vejo Para além das sexualidades visíveis – assexualidade Edênia Garcia Walmes Rangel Criar e refletir E na arte... / Para saber mais...
16 18 19 20 21 22 23
ser negra e ser negro Para começar a conversa De onde eu vejo Tornar-se Negro: uma revolução em curso Irenice Rodrigues Rosinha Criar e refletir E na arte... / Para saber mais...
40 42 43 44 45 46 47
Linha do tempo
48
Exposição ser atleta
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Ficha Técnica
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ser migrante Para começar a conversa De onde eu vejo Metáforas, memórias e ancestrais
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Corpo e existência A ideia de vencer obstáculos e superar os limites do corpo vai além do esporte. Muitas dificuldades impostas referem-se também a um corpo social, em cujas tessituras residem múltiplas e diversificadas maneiras de ser e estar no mundo. A livre vivência dessa diversidade, quando dificultada, impacta, direta ou indiretamente, toda a sociedade. Encontrados em diferentes áreas, tais empecilhos afetam também as práticas esportivas, sobretudo em âmbito profissional e competitivo, que sujeita atletas às regras e convenções referentes ao contexto em que vivem. Dessa forma, a figura atleta representa mais do que o desempenho de seus corpos em competição, simboliza a trajetória de uma vida sob as mais diversas situações, entre êxitos e adversidades. Nessa perspectiva, a exposição “Ser Atleta” aborda a relação entre esporte e temas contemporâneos emergentes como questões étnico-raciais, de gênero e sexualidade, de identidade e pertencimento. Com curadoria de Katia Rubio, o projeto apresenta vivências de atletas olímpicos e paralímpicos brasileiros, de diferentes épocas e modalidades esportivas.
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Competições desafiam as habilidades e o desempenho de corpos humanos, enquanto o desrespeito e a indiferença desafiam a vida, maculando o corpo social com restrições e violências de variadas ordens. Encontrar no esporte pessoas que representem a diversidade humana em posição de destaque pode suscitar novos olhares, com identificações entre diferentes, cujo potencial de influência pode auxiliar no enfrentamento ao preconceito e à discriminação advindos do racismo, machismo, misoginia, assédio, homofobia, transfobia, xenofobia, gordofobia, capacitismo, segregação e exclusão social. Entendendo que reconhecimento e respeito à alteridade são fundamentais para a conquista de uma sociedade mais justa e democrática, o Sesc oferece atividades a fim de corroborar com a reflexão acerca dos papéis sociais que todos nós temos na defesa de direitos, no cumprimento de deveres, enfim, no exercício da cidadania. Danilo Santos de Miranda Diretor do Sesc São Paulo
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Ser olímpico ou a eterna busca pela excelência Na condição de produção sociocultural o esporte é um fenômeno em si, muito embora nele também se manifestem as tantas contradições humanas da atualidade. A humanização do esporte se dá pela presença do atleta, um ser para quem nada mais é possível se não a perfeição. Por isso a excelência é um dos mais importantes valores olímpicos. Isso porque atletas têm suas vidas voltadas a fazer o seu melhor todos os dias, na busca de seu limite. E isso leva essas pessoas a se aproximarem de um gesto heroico. Não é uma demanda externa, social, que mobiliza essas pessoas a repetirem, aprimorarem, repetirem, ampliarem, repetirem até alcançar o resultado desejado. E esse é apenas o ponto de partida para recomeçar um novo ciclo em busca de uma nova marca a ser conquistada. Poucos têm a real dimensão do trabalho realizado para se alcançar a condição de ser atleta. E essa mesma rotina realizam todos aqueles que em suas atividades buscam a excelência, seja na docência, na pesquisa, nas atividades industriais ou do comércio, no desenvolvimento humano, na agricultura, na compreensão da natureza. Não há avanço, desenvolvimento, sem todo esse esforço. Isso porque ele também envolve a derrota, a frustração do erro e do fracasso, recuos, saídas criativas para respostas não alcançadas, enfim, a metáfora do esporte encaixa como uma luva em todas as atividades humanas que envolvem desafio. Katia Rubio Curadora da exposição, mãe de muitos filhos, amante da preservação da memória e apaixonada pelo esporte.
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Interseccionalidade: uma lente amplificadora do ser Quando se olha rapidamente uma pintura, quando se ouve uma canção sem muita atenção, quando se vê de relance uma escultura, muitas informações passam despercebidas. Detalhes podem não ser observados e então, conhecimentos sobre tais fenômenos podem ser parcialmente armazenados. Quando se olha um ser humano, é possível escapar informações fundamentais para compreender sua totalidade e complexidade. O olhar interseccional vai além da primeira impressão. Permite acompanhar ruas, ruelas e avenidas que atravessam cada ser. Essas vias carregam informações sobre idade, gênero, aspectos étnico-raciais, identidades, habilidades e tantas outras características que impactam e compõem cada pessoa, e que por vezes são invisibilizadas em grupos ditos homogêneos. Cunhado por Kimberlé Crenshaw na década de 80, o conceito de interseccionalidade identifica essas categorizações que resultam em dinâmicas de discriminação, desigualdades e desvantagens. As sobreposições desses marcadores aproximam ou distanciam as pessoas das posições de poder e privilégio, das possibilidades de fala ou silenciamento. Aprimorar o olhar de maneira interseccional amplia possibilidades de compreender as pessoas plenamente. Detectar marcadores permite traçar estratégias de valorização das diferenças e desenvolver metodologias e práticas educativas positivas e efetivas para cada pessoa ou grupo. A interseccionalidade pode ser primordial para o estabelecimento de relações mais humanas, livres de opressões, injustiças e desigualdades sociais. Adriana Inês de Paula Mulher, negra, educadora, aprendiz, amiga, ex-atleta amadora e mãe de cachorrinhas!
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Ser educador (a) Quando se fala em SER atleta, de pronto vêm à mente aspectos repetidos quase automaticamente. A rotina extenuante de treinamentos. A abnegação dos prazeres da vida. A busca por um objetivo. A gangorra das vitórias e derrotas. Para acessar o SER atleta profundamente, contudo, é preciso entender como estes olham e narram suas próprias trajetórias, humanizando o esporte para além das performances extraordinárias. Para entender o SER educador(a), também é necessária uma análise menos imediata. Será que é fácil delimitar seus campos de saberes e encontros? O que caracteriza o preparo, a demanda, ou mesmo a experiência de se expor ao imprevisível, parte fundante do exercício coletivo da educação? Como educadores e educadoras tecem suas singularidades? Como vivenciam as dinâmicas e reflexões contemporâneas, em constante fluxo? Como as abordam? Não há uma resposta, pois não há forma única de educar. Não existe uma forma correta de SER educador(a).
Há várias. E possivelmente, todas se pautem pela ação de repensar o mundo e repensar-se continuamente. É comum que algo nos pareça ter uma unidade quando visto à distância. Ao nos aproximarmos, porém, vamos aos poucos mirando as nuances e camadas que cada coisa apresenta. Num processo educativo, quando nos aproximamos de algo novo e aprendemos um pouco, o mundo se abre e temos a sensação de saber muito. Quando realmente começamos a aprofundar o assunto, a sensação se inverte: nos damos conta de que ainda há muito para aprender. Este material é voltado a profissionais da educação e interessados, e aborda temas presentes na virto-exposição SER ATLETA, inaugurada em julho de 2021. Ele se estrutura a partir dos 5 arcos temáticos da exposição e se caracteriza pela pluralidade. Criado conjuntamente por diferentes vozes, por meio de fragmentos, relatos pessoais, reflexões, dados e sugestões de práticas para ambientes de ensino, busca incluir você, que nos lê, neste diálogo que se constrói cotidianamente sobre temas em permanente transformação no esporte, na sociedade, na vida. 7
Para começar a conversa
ser diferente?
Citius, Altius, Fortius! Palavras em Latim que expressam o lema dos Jogos Olímpicos: mais rápido, mais alto, mais forte. Considerando essa máxima, é quase justificável imaginarmos corpos altos, fortes e longilíneos ao desenharmos em nossas mentes um corpo atlético. Mas o que é, de fato, um corpo atlético? Quando o lema foi proposto pela primeira vez, os Jogos Olímpicos continham nove modalidades esportivas. Hoje, são mais de quarenta. Existe, de fato UM corpo ideal? Seria o corpo atlético de um ciclista, de um arremessador de martelo, de uma ginasta ou de uma judoca? O conjunto de esportes olímpicos nos mostra que a alta habilidade, a beleza, a precisão e a reação rápida dos gestos estão presentes nos inúmeros e diversos formatos de corpos. Tamanho, peso, cor, idade, ausência de membros ou reduzida amplitude de movimento são peculiaridades que não 8
Pessoas com deficiência no Brasil
impedem a disputa pelo pódio, seja ele olímpico ou paralímpico – ao contrário, a diversificam e a compõem. E é nesta linda diversificação que nascem as infinitas possiblidades de performar, seja em modalidades coletivas, seja na solidão de uma raia. Particularidades e soluções inusitadas surgem nos diferentes corpos e operam a magia lúdica do esporte: liberdade, risco, invenção. O esporte olímpico, ao se diversificar no tempo, nada mais fez que refletir pulsões sociais. A variedade de corpos é bem-vinda, assim como também é para uma sociedade a pluralidade de ideias, atitudes, filosofias e modos de viver. A história de atletas que, além de vencerem batalhas no esporte, tiveram que superar barreiras atitudinais
Saulo Cruz
Darlan Romani
ser diferente?
2000
24.600.256
14,5%
2010
45.606.048
23,92%
Surdos
35 milhões 10 milhões
Deficiência motora
13 milhões
Deficiência intelectual
2,5 milhões
Cegos
Proporção de pessoas com pelo menos uma das deficiências
65 ou +
Uma entre quatro pessoas no Brasil declarou, em 2010, ter alguma deficiência. Como você acha que nosso país lida com pessoas com deficiência? E você?
2000
2010
54%
67,7%
14-16
15,6% 24,9%
0-14
4,3%
por grupo de idade
7,5%
Estatísticas de cirurgias plásticas em 2017 2.427.535
Número de procedimentos cirúrgicos e não-cirúrgicos estéticos realizados no Brasil
Procedimentos feitos por jovens com 18 anos ou menos: Rinoplastia
70.882
Aumento dos seios
44.617
Aplicação de toxina botulínica
42.786
Lipoaspiração
33.677
18,6% de cirurgiões plásticos fizeram procedimentos de aumento dos seios em mulheres com 17 anos ou menos no país O Brasil é um dos líderes mundiais em número de cirurgias plásticas. O que você pensa sobre isso? Você já fez - ou faria - uma cirurgia estética no seu corpo?
impostas por quem valoriza uma forma estreita de conceber o corpo, nos mostra que estamos ainda no início desta maratona. Em outras palavras, ser diferente pode ser entendido como potência, não como problema ou ameaça. Não apenas no que diz respeito a diversidade de corpos, mas também pensamentos e escolhas. Assim como a biodiversidade é necessária a um ecossistema, uma sociedade deveria crescer equilibrada na coexistência das diferenças, para nelas se enriquecer. Quem nos ensina o contrário tem apenas medo de se transformar.
Homem Vitruviano, famoso desenho de Leonardo da Vinci, apresenta o corpo humano a partir
de proporções consideradas ideais no Renascimento. Mas ideais para quem? Já pensou que estes padrões mudam? Por que de tempos em tempos surge um novo Homem ou Mulher Vitruvianos para nos impor padrões de beleza? Por que não ser diferente?
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ser diferente?
De onde eu vejo Esperei ansiosamente pelos Jogos do Rio - 2016. Minha relação com Olimpíadas remonta aos Jogos de Moscou, há tanto tempo que nem vale a pena contar. Criança, chorei no encerramento daqueles Jogos, suspeito que por conta de tudo, menos das competições. Festas, mascote, hinos, bandeiras, torcida. Agora, lá estava eu, e não pela TV. Eu mesmo me convidei a penetrar na maior festa esportiva do mundo. Comparecer ao vivo em territórios e arenas de modalidades menos populares – como esgrima, remo e ginástica - trouxe, aos meus olhos descondicionados, uma certeza inesperada: a percepção de que cada esporte contém uma cultura, para muito além do jogo em si, com estética e códigos de comportamento próprios, de atletas, árbitros e público. Vivenciar esta totalidade foi uma dádiva olímpica que me retornou aos 6 anos de idade. Mais do que nos resultados, a magia olímpica e paralímpica reside na diversidade destas culturas. Tantos povos, modalidades e códigos diferentes sob um mesmo teto. Utopia? Prefiro chamar de espírito lúdico. O círculo mágico que envolve os Jogos com tempo, espaço e regras próprios - é
uma ficção criada para abarcar todos, e que ao nascer, mostrou nossas potências. Por que não expandir esta potência do convívio das culturas dos esportes para além deles? Para assim respeitar a diversidade. Valorizar a pluralidade dos modos de ser. Observar sem preconceito o diferente. Olhar para o que hoje desconhecemos com olhos curiosos. A história olímpica não é apenas doce e inclusiva. Boicotes, suspensões, repressões, escândalos e até atentados existiram. Mas nunca o espírito para acolher e abraçar se apagou totalmente. Manter este espírito aceso, para que não suspire apenas poucas semanas a cada 4 anos, e somente no esporte, este é o verdadeiro desafio olímpico. A oportunidade de sermos diferentes, nós e o mundo. Alberto Duvivier Tembo é um educador que estuda o campo do jogo e chora em toda edição dos Jogos Olímpicos.
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ser diferente?
Enquanto a sociedade cancela, o esporte aprova Cancelado é uma palavra que está na moda. Somos cancelados quando estamos fora dos padrões sociais; quando pensamos ou vestimos diferente; ou até mesmo quando nos destacamos de forma positiva. Isso porque, os ambientes sociais estabelecem as categorias de pessoas que devem ser ali encontradas. Mas, o cancelado existe desde os primórdios. Na Grécia antiga, por exemplo, havia os estigmatizados. Pessoas que possuíam estigmas - sinais corporais para evidenciar alguma coisa de extraordinário ou de mau sobre o status moral de quem os apresentava. Os sinais eram feitos com cortes ou fogo no corpo. Hoje, as marcas foram substituídas por estigmas sociais, ou seja, uma forte desaprovação de características ou crenças pessoais, que vão contra normas culturais. Estigmas sociais frequentemente levam à segregação. Assim, as pessoas se agrupam onde se acham em condições de igualdade. Por mais que haja inclusão social, o primeiro olhar sobre esta pessoa sempre é reflexivo. Uma vez que normalmente, exige-se do indivíduo que ele se comporte de maneira tal que não signifique nem que sua carga é pesada e nem que carregá-la tornou-o diferente. Nesse sentido, ser um atleta paralímpico é estar num espaço de pertencimento; é estar num grupo estigmatizado pela eficiência. O esporte é o lugar onde pessoas com deficiência se sentem fortes, ágeis, rápidos em equidade com os que ali estão. Capazes de realizar feitos extraordinários na busca da imagem heroica, de protagonizar o espetáculo. Portanto, em nossas reflexões é aconselhável partir do princípio que o diferente é relativo. Um atributo que estigmatiza alguém pode normalizar outro. Luciane Maria Micheletti Tonon Mãe adotiva de dois filhos, voluntária no Projeto Fast Whells Kids e amante do esporte paralímpico. 11
Vôlei
Nascida no Rio, Fabi Alvim foi desestimulada a seguir o sonho de jogar vôlei por causa de sua altura. Na modalidade em que tamanho parecia ser documento, fez-se gigante com 1,65m. Escreveu seu nome da história do esporte como líbero, função criada em 1998. A posição, focada na defesa, ajudou a democratizar o vôlei ao acolher maior diversidade de biotipos. Fabi hoje é bicampeã olímpica e tida como a melhor líbero de todos os tempos. Após 20 anos de carreira, largou as quadras e, ao lado da esposa, partiu para a conquista do novo título - o de mãe. Depois de desbravar caminhos num ambiente tão dominado pelos homens, espera que a filha cresça num mundo em que lugar de mulher seja onde ela quiser.
Crédito da imagem Comitê Olímpico do Brasil - COB
Fabi Alvim
ser serdiferente? diferente
“
O esporte de alto nível exige muitos padrões e eu não me encaixava em muitos deles, especialmente na altura. Fabi Alvim
”
A criação do líbero no vôlei teve como propósito permitir disputas mais longas de pontos, em uma época em que a média de altura e força dos jogadores aumentava. A função, especialista em defesa, foi a solução para tornar o jogo mais atraente. A curiosidade é que foi justamente o aumento da média de altura que permitiu à Fabi, uma jogadora baixa, brilhar. A posição não foi criada para os mais baixos; mas os incluiu no jogo sem prejuízos. Isto levanta uma questão: será que não há mecanismos possíveis de inclusão de corpos diferentes, ainda não pensados, em várias áreas? Como educadores, não podemos propor tais mecanismos em ambientes de ensino? 12
ser diferente?
Bocha Paralímpica
Evelyn nasceu com atrofia muscular espinhal, em Mauá-SP, e nunca andou. Tem um irmão com a mesma patologia. Enfrentaram dificuldades de tratamento pela distância dos grandes centros e pela necessidade dos pais em trabalhar. Foi alfabetizada pelos próprios pais, e só foi ter acesso à escola com 18 anos, quando se mudou para Suzano. Lá concluiu o ensino fundamental e médio. Certo dia, foi abordada na rua por uma professora do SESI, perguntando se conhecia modalidades paralímpicas. Nunca se imaginou fazendo esporte, mas se identificou com a Bocha paralímpica - modalidade em que, dependendo do nível de comprometimento, pode-se usar um capacete especial para arremessar a bola. Na modalidade, levou o ouro nos Jogos do Rio - 2016. Formou-se em Marketing e Publicidade.
Evelyn Vieira
”
A história de Evelyn pode ser analisada pelo viés de sua relação com os ambientes de ensino. A atleta nunca havia ido à escola, pois esta não a acolheu na infância. Seus pais desempenharam importante
Comitê Paralímpico Brasileiro - CPB
Evelyn Vieira
Crédito da imagem
“
A bocha me ajudou a desconstruir barreiras e encontrar meu espaço na sociedade.
papel em sua educação, até que a encontrassem uma escola, já em Suzano. Foi lá também que uma profissional da educação a levou para o esporte. Por fim, a atleta formou-se no Ensino Superior. Evelyn é um exemplo das dificuldades que muitas pessoas enfrentam para conseguirem estudar; mas também é um exemplo de como ser acolhido em um ambiente de ensino pode revolucionar a vida de uma pessoa. E, claro, também evidencia como o olhar atento de um educador pode transformar a vida de alguém.
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ser diferente?
Criar e refletir Igualzinho ao Diferente é um jogo simples, não-competitivo, que traz conceitos relacionados à identidade, diferenças e interseccionalidade. A brincadeira é possível a partir de 8 anos, mas mais indicada para grupos de adolescentes ou adultos. Viável com um mínimo de 4 pessoas, torna-se mais interessante com grupos numerosos, sem limite máximo. Objetivo: agrupar-se com pessoas semelhantes a partir de comandos proferidos pela Voz - normalmente, o (a) professor (a). Preparação: Escolha uma área onde os (as) participantes possam se movimentar livremente. O tamanho da área, naturalmente, dependerá do número de jogadores (as). A Voz, antes do jogo, escolhe até 8 critérios. Veja uma lista imaginária: A. Idade B. Número de irmãos C. Estado onde nasceu
D. E. F. G. H.
Cor dos olhos Esporte favorito Cor preferida Time de futebol Cantor favorito
A brincadeira: A Voz lê em voz alta o primeiro critério, e os (as) participantes se agrupam por semelhança. Por exemplo, após a Voz gritar “Idade”, as pessoas de 15 anos se juntam em um mesmo grupo; as de 16 em outro, e assim por diante. Depois de todos estarem alocados (as), a Voz diz “Número de irmãos” e todos (as) se reagrupam a partir das respostas. Para isso, as pessoas precisam se comunicar, e a Voz confere se estão corretos os agrupamentos. Assim segue a brincadeira até o fim da lista. Pós-jogo: Converse com os (as) participantes a respeito do que descobriram sobre os (as) colegas, como se sentiram e
como foram percebidos (as) pelos outros (as). Sobre como podem se associar a uma pessoa sob um critério, mas não sob outro. Perceba as diferenças entre questões objetivas e subjetivas. Podese abordar temas como pertencimento, exclusão, diferenças e semelhanças. E principalmente, sobre como podemos ser “classificados (as)” de acordo com critérios. Esta brincadeira pode ser usada com diversos fins: quebra-gelo, integração de um grupo novo, diagnóstico de grupo ou para abordar conteúdos mais densos. Tudo depende da lista de palavras usadas e da intenção do (a) educador (a) ao usá-la. Aqui apresentamos critérios mais leves; porém o (a) educador (a), conhecendo seu grupo, pode inserir temas polêmicos. Aproprie-se desta brincadeira. Não faça igualzinho ao que está escrito. Aventure-se em fazer diferente.
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ser diferente?
Para saber mais... CANDAU, Vera Maria. Direitos humanos, Educação e Interculturalidade: As Tensões Entre Igualdade e Diferença. Revista Brasileira de Educação, v.13, n.37, jan-abr, 2008. DAOLIO, Jocimar. Da Cultura do Corpo. Campinas, SP. Papirus, 1995. PAULA, Adriana Inês. A Imagem Corporal e a Tão Propalada Padronização do Corpo Belo-MagroForte. In: CAVALCANTE Jr., Francisco (Org.). Corpos Anárquicos. Curitiba, PR: CRV, 2014.
E na arte... Os padrões corporais de beleza e de normalidade são tema recorrente na arte contemporânea. Vale conhecer dois artistas brasileiros que abordam estes questionamentos a partir da suas próprias histórias. O artista paraplégico Pazé, com seu trabalho Transeuntes, e Nazareth Pacheco, com a criação de objetos que aludem a seu histórico de cirurgias para correções corporais, devido à uma síndrome congênita.
SHUSTERMAN, Richard. Consciência Corporal. São Paulo. É realizações, 2012. Estatuto da Pessoa com Deficiência. Disponível em: bit.ly/estatutodeficiência Manifesto Paralímpico. www.CPB.org.br Disponível em: bit.ly/manifestoparalímpico
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ser lgbtqiap+
Para começar a conversa Quando falamos de diversidade, estamos falando também de identidade. A comunidade LGBTQIAP+ carrega em si uma história de muitas lutas e conquistas, ganhando pouco a pouco terreno contra uma sociedade que replica estereótipos e intolerância. Muito se conquistou em termos de direito à dignidade humana, mas ainda há muito o que caminhar para combater a violência e o apagamento destas vozes. Quando falamos no universo do esporte, é fácil de imaginar que, somados aos desafios próprios de cada modalidade, há os imensos obstáculos enfrentados pelos atletas desta comunidade por respeito e equidade. Imensas 16
ser lgbtqiap+
são, igualmente, as conquistas. A cada vez que um atleta LGBTQIAP+ vence uma prova, vence também a discriminação, o preconceito e a segregação, certamente companheiras de seu caminho até o pódio.
Vale refletir sobre a visibilidade que um atleta carrega consigo, como exemplo de superação no esporte. Quando se soma a isso uma voz que assume publicamente sua orientação sexual ou identidade de gênero, sabemos do impacto positivo que esta atitude pode gerar na sociedade, construindo lugares diferentes e normalizando as diversas formas de ser e
agir no mundo, para além das hegemonias. As pautas da diversidade vem ganhando cada vez mais espaço, felizmente, num cenário de uma sociedade conservadora e cheia de preconceitos. Muito se fala em liberdade para amar, o que certamente é uma pauta fundamental. Acima de tudo, porém, é preciso lutar pela liberdade de SER quem se é, antes de mais nada.
Julia Vasconcelos
De 193 países...
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proíbem a discriminação baseada em orientação sexual no trabalho
20
Comitê Olímpico do Brasil - COB
proíbem a discriminação baseada em identidade de gênero no trabalho
3
proíbem a discriminação baseada no fato de ser intersexo
Tipo de violação 83,20%
Violência psicológica
74,01%
Discriminação
32,68%
Violência física
5,70%
Negligência
4,18%
Violência sexual
2,39%
Violência institucional
1,13%
Abuso financeiro e econômico
0,10%
Outras relacionadas ao dhs
0,10%
Trabalho escravo
0,03%
Tráfico de pessoas
Fonte: SDH, 2012
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ser lgbtqiap+
De onde eu vejo Quando eu estava no segundo ano da faculdade, fiz um grande amigo. Vivíamos juntos o tempo todo, compartilhávamos afinidades como a música, a literatura e a alegria. Em pouco tempo já o sentia como um irmão. Era no ombro dele que eu chorava e ria dos amores, e estranhava que ele nunca se abria sobre sua vida sentimental. Ele era muito tímido, e embora me contasse tudo sobre todos os outros assuntos, eu colocava esse silêncio na conta do seu temperamento reservado. Um dia, num corredor antes da aula, ele disse que queria me contar uma coisa. Sentamo-nos cúmplices como sempre, mas ele parecia empacado. Depois de muito tempo em silêncio, eu compreendi. Ele disse que estava apaixonado, e não conseguiu dizer mais nada. Percebi que aquela notícia não era uma novidade para mim, mesmo eu que nunca tivesse pensado sobre isso. Ainda assim, num esforço imenso, me contou sussurrando, no ouvido: “mas não é por uma garota...”. Nos abraçamos e sorrimos, e ele se sentiu feliz de finalmente me contar tudo sobre o seu amor platônico. Neste dia me dei
conta de algo que nunca vivi. Ele era o meu melhor amigo, e ainda assim sussurrou no meu ouvido. Me soou alto como um grito. O grito de todas as pessoas que passaram em algum momento por isso. Desde então, reforçou-se em mim a vontade de que todos possam dizer ou silenciar suas identidades e desejos por escolha, e não por medo. Felizmente muito se caminhou desde então, embora ainda haja muita luta pela frente. Stella Ramos é educadora e aprecia a escuta como espaço de aprendizado sobre as diversidades.
18
ser lgbtqiap+
Para além das sexualidades visíveis – assexualidade Quando se pensa na sexualidade humana, as orientações sexuais mencionadas são relacionadas ao prazer sexual, afetivo e romântico, tendo o ato sexual como determinante. A ideia de existir apenas essa forma de interagir no contexto das relações, impossibilita diversas maneiras de sentir ou não sentir atração sexual. A assexualidade é a ausência, de formas diversas, de atração sexual. Ou seja, existem pessoas que não sentem atração sexual nunca, outras sentem em alguns contextos e circunstâncias que são diversos de acordo com cada pessoa. A naturalização de que todas as pessoas sentem desejo sexual, é um problema para assexuais que são colocados num lugar de invisibilização. Porém, estudos do Relatório Kinsey apontavam para identidade assexual em 1953. Pessoa alossexual é a que sente atração sexual. Este contraponto é importante para localizar como as pessoas sentem atração sexual de forma diferente. O celibato não tem ligação com a assexualidade e sim as convicções religiosas e pessoais. Existe preconceito devido a essa confusão. Assexualidade pode ser lida como algo desviante e que por isso precisa ser “curada”, passando pela dimensão da patologia erradamente. Sendo a assexualidade uma identidade que foge a norma e reivindica maneiras diferentes de sentir atração sexual e formas outras de lidar com o sexo, fugindo da lógica hegemônica, merece ter mais visibilidade para ampliar as discussões sobre sexualidades, relações e maneiras de interagir com as pessoas na sociedade. Leonardo Morjan Britto Peçanha Filho de D. Valquíria Britto e Sr. José Peçanha, professor de educação física, pesquisador, ex-atleta amador e LGBTQIAP+ 19
Natação Paralímpica
Mulher, com deficiência, lésbica, vinda do interior do Ceará e de origem humilde. Edênia Garcia é uma desbravadora. Atleta paralímpica de natação, recebeu 17 medalhas em mundiais e três em Paralimpíadas. As piscinas entraram em sua vida aos sete anos, para auxiliar no tratamento da doença degenerativa que prejudica o movimento de seus braços e pernas. Foi a primeira atleta brasileira a conquistar um tricampeonato mundial, e é hoje a única tetracampeã. O esporte foi seu passaporte para a liberdade. A partir dele, construiu sua identidade e virou referência para uma geração de meninas e mulheres que busca viver bem com seu próprio corpo e afirma o direito e a coragem de ser e amar quem quiser.
Comitê Paralímpico Brasileiro - CPB
Edênia Garcia
“
ser lgbtqiap+
... Eu me cobrava
muito por não ser igual a esses corpos e só depois dos 30 anos que eu comecei a me enxergar, a me aceitar. Edênia Garcia
”
Ao longo de sua vida, Edênia se encontrou com muitos obstáculos. Possivelmente enfrentou muitos preconceitos, seja por sua deficiência ou orientação sexual. Nas piscinas transformou sua história em vitória, seja no esporte, seja na vida. É hoje exemplo onde podem se mirar todas as meninas que passam ou passaram por algum tipo de interdição social, trazendo coragem e alegria como bandeiras.
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ser lgbtqiap+
Walmes Rangel Atletismo
Num ambiente em que a diferença era vista como fraqueza e falha, Walmes Rangel foi o primeiro atleta olímpico brasileiro a se assumir gay. Sua orientação sexual foi revelada de forma compulsória, expondo sua sexualidade, sem seu consentimento. Walmes sofreu bullying, ameaças e agressões. Perdeu patrocínios, mas ganhou a chance de ser ele mesmo. O garoto, que foi deixado em frente a uma igreja ao nascer, decidiu aos seis anos que chegaria a uma Olimpíada. Descoberto por um projeto social, realizou o sonho nos Jogos de Atlanta. Mas, desiludido com o esporte, partiu para uma bem-sucedida carreira de cabeleireiro e maquiador, que o levou à Irlanda. Ser campeão não é estar no pódio, é vencer na vida.
Walmes Rangel
”
Comitê Olímpico do Brasil - COB
“
Ser um campeão é também saber a hora de mudar. É saber dar certo e fazer o certo. Ser quem você é.
Walmes Rangel escreveu sua história com coragem e orgulho. Lutou pelo sonho olímpico, a despeito de todas as dificuldades, e conquistou o sonho de participar de uma olimpíada. A coragem o acompanhou mesmo quando decidiu seguir outro caminho, assim como a sua determinação pela qualidade.
21
Unsplash
ser lgbtqiap+
direito ou esquerdo. Guardem por enquanto, sem deixar que o modelo da vez veja.
Criar e refletir Nos textos deste arco, SER LGBTQIAP+, nos aproximamos de histórias de afirmações de identidade, buscando o respeito por sua diversidade plena. Vamos fazer uma prática a partir de um processo artístico, que nos instiga a refletir sobre nossa identidade e a do outro. Esta prática pode ser feita com 3 ou mais pessoas. Você vai precisar de: Papel sem pauta (pode ser branco, sulfite comum, ou de qualquer cor) Lápis ou canetas para desenhar Mesa ou prancheta para apoiar A brincadeira aqui é estética e reflexiva, e vai funcionar num esquema de rodízio. A cada rodada, sempre haverá uma pessoa sendo desenhada e outras duas desenhando. Prontos?
Para começar, cada um pega um papel e dobra ao meio. Aquele será o papel em que o seu retrato será feito. A seguir, decidam quem vai ser o primeiro a servir de “modelo” para o desenho. Os outros dois irão fazer o retrato do seu rosto. Lembre-se: a cada rodada, uma mesma pessoa deve ser desenhada por outras duas. É importante que o desenho seja feito apenas na metade do papel e que fique bem combinado quem faz a metade esquerda e quem faz a metade direita. Para facilitar, vale combinar antes, com um risquinho, algumas marcações de orientação, como o topo da cabeça e o limite do queixo, por exemplo. Assim, os dois desenhos vão ter o mesmo limite da área do rosto da pessoa desenhada.
Na rodada seguinte, outra pessoa será retratada, enquanto as outras duas fazem a metade de seu retrato, repetindo o processo. Depois que todos tiverem sido retratados, é hora de ver os desenhos. Juntem a metade esquerda e a direita, formando o rosto. Vejam juntos, rosto por rosto e observem: as duas metades ficaram parecidas ou muito diferentes? Olhar alguém é contemplar uma diversidade de elementos, um universo rico e complexo. Será que todos, ao nos olharem, veem as mesmas características como destaque? E quando olhamos para o outro, conseguimos abarcar sua complexidade?
Quando terminarem, escrevam atrás o nome de quem foi retratado e o lado do rosto 22
ser lgbtqiap+
Para saber mais... JESUS, Jaqueline Gomes de. Homofobia: Identificar e Prevenir. Rio de Janeiro. Metanoia. 2015. LOURO, Guacira Lopes. Gênero, Sexualidade e Educação: Uma Perspectiva Pós-Estruturalista. Petrópolis. Vozes, 1997.
E na arte... Leonilson foi um importante artista visual brasileiro. Com obras que conjugavam delicadeza e força, trazia à tona seu universo pessoal e questionamentos de várias ordens. Em muitas de suas obras trazia à campo temas ligados a sua homosexualidade, fosse em declarações de amor, de receio ou de solidão. Misturando desenho e palavra, abordou de maneira muito sensível questões pessoais que tocam a vida do espectador de maneira pungente.
Princípio de Yogyakarta Princípios sobre a aplicação da legislação internacional de direitos humanos em relação à orientação sexual e identidade de gênero. 2007. Disponível em: www.dhnet. org.br/direitos/sos/gays/principios_de_yogyakarta.pdf/ Atualização Princípio de Yogyakarta 2017: yogyakartaprinciples.org/wp-content/uploads/2017/11/ A5_yogyakartaWEB-2.pdf Acesso em 15 mar 2020. Livreto informativo Coletivo Abrace drive.google.com/file/d/1EZwgGoX_ sKPYB3miyNzlkGgSr4zgK3ZB/view ONU. Nações Unidas e Direitos Humanos. Enfrentando a Discriminação Contra Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Pessoas Trans e Intersexo Padrões de Conduta para Empresas. Disponível em: www.unfe.org/wp-content/uploads/2018/04/Padroesde-conduta-para-empresas.pdf Acesso em julho/2021. 23
ser migrante
Para começar a conversa Ao analisar a história da espécie humana, uma pessoa poderia afirmar que somos seres migratórios. Uma segunda pessoa rebateria esta estranha classificação, que nos aproxima de andorinhas, salmões e gafanhotos. Afinal a cultura humana ergueu impérios norteada pelo desejo de permanência. Porém, a primeira insistiria que esta aventura sedentária seria apenas um intervalo na história humana, pois desde o surgimento do Homo Sapiens vivemos pouquíssimo tempo fixos em cidades. Na maior parte do tempo fomos nômades em busca de caça e ambientes favoráveis, e só após a agricultura assentamos de verdade. E a outra pessoa refutaria: só não tínhamos conhecimento suficiente antes, pois o que buscamos é estabilidade... 24
ser migrante
Brasil mais exporta do que recebe gente
O que faz um país exportar mais gente do que recebe?
3 milhões Brasileiros no exterior
Estrangeiros no Brasil
EUA
Portugal 280 Mil 120 Mil
90 Mil
1,4 Mi
Você já se sentiu estrangeiro?
de 700 mil a 1 milhão
Bolívia 350 Mil
120 Mil
Japão 280 Mil
O que faria você migrar para longe do seu lar?
Xenofobia é a aversão Brasil
Paraguai 332 Mil Fonte: Organização das Nações Unidas/2017
Comitê Olímpico do Brasil - COB
Edinanci Silva
e ódio contra estrangeiros. Normalmente, é acompanhada de estereótipos e da ideia de que a própria cultura é superior à outra. Esse preconceito tornou-se mais comum com o grande número de migrações no mundo.
Este diálogo imaginário de opostos serve para evidenciar que migrações, por vocação ou necessidade, sempre caminharam ao nosso lado e nos formaram. Por meio delas, humanos partiram da África há 70 mil anos, para ocupar o mundo todo, gerando miscigenações, erradicações, aculturações e diversificações. Você já pensou que somos, de certa forma, todos parentes? Relacionados a ancestrais comuns que se espalharam pelo globo? Infelizmente, isto nunca evitou
sectarismos. Com o sedentarismo, surgiram propriedades privadas, cidades e nações. Sucederam guerras por fronteiras. As migrações continuaram, voluntárias ou não, decorrências de projetos de governos, segregações, guerras, miséria, desejos, oportunidades. Hoje, em um mundo interconectado, onde a percepção do tempo e espaço se relativizou, as fronteiras geográficas parecem menos importantes que as econômicas. Ainda assim, resistem a uma globalização supostamente inevitável algumas tradições e culturas não-hegemônicas. A cada quatro anos, Jogos Olímpicos em constante mutação nos oferecem uma luz sobre como anda esta pulsão entre o particular/local e o universal/global. As migrações? Elas persistem, tanto dentro de países, quanto entre nações, como pode atestar a diversidade de motivos e de histórias que levaram atletas migrantes – ou migrantes atletas - a abandonar seus locais de origem e permanecer em outros lugares. Até quando existirão? Sempre que houver diferenças.
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ser migrante
De onde eu vejo - Ô alemão, passa a bola! Uma irritação irrompia na infância. Não da solicitação pela bola, eu nunca fui fominha. Vinha de outro fato: eu também nunca fui alemão. O cabelo bastava para me associar a uma cultura com a qual eu não tinha relação específica, e eu sentia que, na esteira daquela nomeação, vinham ideias associadas sobre quem eu deveria ser. Isso me era especialmente incômodo. Nascido nos EUA, com seis meses já vivia definitivamente no Brasil. Era um detalhe, o do nascimento, que quando descoberto vinha seguido de uma inevitável pergunta: você é norte-americano? Não, mesmo que a lei me concedesse o privilégio da dupla nacionalidade em um mundo desigual, onde algumas pessoas não conseguem ter uma sequer. Afinal: é a lei que define onde pertencemos, pelo acaso do nascimento? São os genes dos antepassados que nos
identificam? Ou a cultura que nos envolve? Em um mundo crescentemente fluido, de deslocamentos, relações efêmeras e um mercado multinacional, a ideia de pertencimento também migra e rompe fronteiras, transformandose em caminho. Ideal seria estar onde quiséssemos, com autonomia para nos definir como parte do povo ou nação a qual queremos pertencer. Quanto a mim, sou brasileiro. Alberto Duvivier Tembo é um educador e artista brasileiro, nascido nos EUA meio por acaso.
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ser migrante
Metáforas, memórias e ancestrais Metáfora é uma figura de linguagem especial. Abstrações ajudam a compreender conceitos complexos e abrem espaços para reflexões e interpretações. Metaforicamente, podemos pensar em nossas vidas como um livro. Em uma moda de viola, foi cantado que cada um constrói a sua vida e sua história. Todavia, o prefácio do livro de nossas vidas já está escrito antes de nascermos. De modo múltiplo, com uma riqueza de cores, tons e estilos, nossos antepassados deixam marcas que vão aparecer novamente, ocultas ou explícitas, naquilo que nos caberá escrever. Há migrantes voluntários, que tiveram a oportunidade da escolha de começar um novo capítulo nesse livro da vida. Há aqueles que foram obrigados a deixar para trás o lugar onde nasceram, e tiveram de começar um novo capítulo com a sensação que as páginas anteriores não tiveram um ponto final. Interrogações, exclamações, interjeições que acompanham para sempre as trajetórias. Presente em nossa constituição biológica de maneira invisível a olho nu, pelos traços do DNA, a ancestralidade ganha força e visibilidade nas atitudes cotidianas e relações sociais. No sabor do alimento, nas cores das vestimentas, na construção do vocabulário, nas conexões com aqueles que nos rodeiam. Como uma remada rumo à terceira margem do rio, quem busca a ancestralidade nem sempre conhece aquilo que procura. A única certeza é que nossa história começou mesmo antes de nós. Ser Migrante é construir novos capítulos em novos locais. Não significa um divórcio com o passado. O pretérito que já foi escrito ganha novas interpretações a cada nova leitura. William Douglas de Almeida Francano de nascimento, bauruense de coração e jundiaiense por opção. Pai da Aurora. 27
ser migrante
Fernando Meligeni Tênis
Nascido em Buenos Aires, Fernando Meligeni mudou-se para o Brasil aos 4 anos de idade por causa do trabalho do pai. Diante da determinação em ser tenista, aos 15 anos seus pais lhe mandaram para Argentina, e caso terminasse o ano entre os 3 primeiros do ranking argentino, poderia seguir no esporte – o que aconteceu. Naturalizou-se brasileiro a contragosto da família, em um processo que durou 5 anos. Foi 4º colocado nos Jogos Olímpicos de Atlanta – 1996, e semifinalista em Roland Garros. Retirou-se das quadras em 2003, com o ouro épico nos Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo. É considerado um dos 10 maiores tenistas brasileiros. Foi apresentador e comentarista de TV. Atualmente, ministra clínicas de tênis.
Fernando Meligeni
”
Comitê Olímpico do Brasil - COB
“
Sabe qual é a diferença entre nós? Vocês nasceram no Brasil. Não tiveram escolha. Eu tive. Eu decidi ser brasileiro.
Meligeni, um argentino que enfrentou a família pelo desejo de ser brasileiro, precisou ainda resistir a um arrastado processo de naturalização. O que faz de alguém digno ou indigno de receber uma nacionalidade? O filósofo Zygmunt Bauman vem à mente: Quem sabe, em vez de falar sobre identidades, herdadas ou adquiridas, estaria mais próximo da realidade do mundo globalizado falar de identificação, uma atividade que nunca termina, sempre incompleta, na qual todos nós, por necessidade ou escolha, estamos engajados.
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Atletismo Paralímpico
Filho de um soldado da borracha na Segunda Guerra Mundial, Edson Cavalcante nasceu no interior do Acre. No parto sem assistência, com falta de oxigênio, teve paralisia cerebral, o que prejudicou o movimento do braço direito. Só quando se mudou com a família para Rondônia, deu-se conta da deficiência. Lá descobriu o esporte. Começou no tênis de mesa e migrou para o atletismo, no qual conquistou bronze na Rio 2016. Ser atleta, vindo de onde veio, nunca foi fácil. Praticava em pista de terra. Como tantos, precisou correr o país em busca de treinamento. Vindo do seringal, pisou pela primeira vez numa pista de borracha em São Paulo, local em que hoje reside e, já veterano, consegue viver do esporte.
Comitê Paralímpico Brasileiro - CPB
Édson Cavalcante
“
ser migrante
Eu vim de uma cidade do interior do Acre, bem distante, um lugar em que a gente não tem muitas expectativas. Édson Cavalcante
”
Edson, diferente de Meligeni, não precisou lutar para ter uma nacionalidade brasileira. Mas precisou lutar pela vida. Sua trajetória, saindo do Acre para Rondônia, e de lá para São Paulo, não se deu por identificação com outra cultura. Deu-se por uma necessidade de crescimento: a cada migração, Edson conseguiu melhores condições de vida e de treinamento. Encontrou realidades discrepantes dentro do seu próprio país e precisou migrar para se compreender, depois se destacar, e por fim, sobreviver do esporte. Quantos países existem dentro do Brasil? O que os une sob uma mesma bandeira?
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ser migrante
B. Em seguida, os países devem ser ocupados pelos jogadores, do modo mais equilibrado possível.
Criar e refletir Mundo em Movimento é uma vivência lúdica relacionada a fluxos migratórios, para ser jogada em ambientes de ensino, por no mínimo 10 pessoas. A partir de 12 anos.
C. Os habitantes batizam seus países, que a partir daí serão chamados pelo novo nome.
Objetivo do grupo: terminar o jogo com a população igualmente distribuída pelos 4 países.
D. Escreva esta lista: 1. Guerra 2. Pobreza Econômica 3. Desastre Ambiental 4. Conflitos internos 5. Migração Livre 6. Prosperidade
Objetivo individual: terminar o jogo no seu país de origem, ou conhecer todos os países.
Início: Decida a ordem dos países. Cada país joga uma vez o dado por rodada. O número do dado define a ação do país:
Preparação: será necessário um dado e fita crepe: A. Demarque 4 grandes áreas com fita no chão. Elas representarão 4 países ou continentes. Deixe um espaçamento entre elas para movimentação.
1
4
2 3
1. Guerra: o país escolhe outro país para uma guerra de dados. Quem perder no dado será assolado por miséria, e perderá um habitante, que migrará para outro país – menos o que venceu a guerra. 2. Pobreza: A situação está terrível, e um habitante perdeu a esperança. Ele migrará para o país menos populoso do jogo.
3. Desastre Ambiental: Aquecimento global, desmatamento... impossível sobreviver. Dois participantes migrarão para países diferentes. 4. Conflitos: A desarmonia interna está enorme. Dois habitantes batalharão com dados. O perdedor torna-se um inimigo político do estado – e foge para outro país. 5. Migração Livre: Quaisquer habitantes podem migrar para outro país, se quiserem. 6. Prosperidade: A vida está ótima. Todo mundo quer morar aí. Vocês podem dar o visto para alguém de sua escolha. O jogo tem 3 rodadas. Ao final, sobrarão países com configurações diferentes das originais. Faça uma leitura com o grupo sobre o que aconteceu com tantos fluxos. Pergunte como se sentiram durante o jogo (exemplo: quando foram forçados a migrar) e relacione, se possível, a fatos históricos. Quanto mais você criar uma narrativa, melhor. Adapte as regras, aumente as rodadas, crie desafios e use esta vivência para abordar as complexidades das migrações!
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ser migrante
Para saber mais... BAUMAN, Z. Globalização: As Consequências Humanas. São Paulo. Schwarcz - Companhia das Letras, 1999. HALL, S. Da Diáspora. Belo Horizonte. UFMG, 2003. MONTAGNA, P. Alma Migrante. Revista USP, v.0, n.114 SE - Dossiê Interculturalidades, 16 set. 2017. Disponível em: www.periodicos.usp.br/revusp/ article/view/142371.
E na arte... Você sabia que há uma corrente de artistas que usa caminhadas como um ato artístico? A vertente surgiu na Inglaterra no fim dos anos 60, e com o passar do tempo migrou para o mundo todo. No Brasil, um exemplo é o artista Paulo Nazareth, que transformou sua migração em arte. O projeto Notícias de América, de 2011, consistiu em andar, a pé ou de carona, de Belo Horizonte até Nova Iorque. A aventura de 7 meses, foi registrada em diversas imagens em que o artista aparece com frases provocativas.
SANTOS, M. Por Uma Outra Globalização. Do Pensamento Único à Consciência Universal. São Paulo. Record, 2000. Conheça os atletas refugiados que competem nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio 2020: UNHCR ACNUR Agência da ONU para Refugiados. Disponível em: bit.ly/atletasrefugiados
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ser mulher
Para começar a conversa Que perguntas nos fazemos quando pensamos no que significa ser mulher? Ou ainda, como são diferentes as maneiras de se perceber mulher no mundo em que vivemos? A famosa frase de Simone de Beauvoir “Não se nasce mulher, torna-se mulher“ segue atual e necessária. As histórias de todas as mulheres são múltiplas, diversas, únicas. Ao mesmo tempo compartilham um campo comum, ainda que vivenciado de formas diferentes. A sociedade machista e patriarcal que é o pano de fundo das nossas experiências no mundo nos defronta com desigualdade de condições no mercado de trabalho, sobrecargas com filhos e responsabilidades domésticas. Feminicídio, assédio, silenciamento e violência de várias 32
ordens perseguem todas as mulheres. Algumas, entretanto, sentem um peso ainda maior de cada forma de abuso em suas vidas. É importante que levemos em conta que dentro do universo de ser mulher, há recortes fundamentais. A experiência de habitar o mundo de uma mulher branca é bastante diferente da que vive uma mulher negra, ou de uma mulher negra e lésbica ou das mulheres transexuais.
ser mulher
Estruturas econômicas, participação em atividades produtivas e acesso a recursos Tempo dedicado aos cuidados de pessoas e/ou afazeres domésticos (horas semanas)
Homens
Mulheres
Total
10,5
18,1
Branca
10,4
17,7
Preta ou parda
10,6
18,6
R$
R$
Diferença de rendimentos (rendimento habitual médio mensal de todos os trabalhos)
2306 1764
Ano referência: 2016. Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais.
Camille Rodrigues
Comitê Paralímpico Brasileiro - CPB
Possivelmente nem nos perguntamos se eles tem ou não filhos. Nos sentimos do mesmo modo ao imaginar a vida de uma atleta mulher na mesma situação? Tendemos, mesmo que sem perceber, a classificá-las como guerreiras, às vezes glamourizando a superação das dificuldades impostas socialmente, sem refletir sobre as mudanças necessárias.
Vida pública e tomada de decisão Representação política / 2017
A luta das mulheres no Brasil e no mundo pela equiparação de direitos e melhoria na sua qualidade de vida não é nova e segue pulsante. Como é de se imaginar, no esporte as histórias das mulheres se cruzam com estas experiências. As modalidades esportivas eram campo exclusivamente masculino. A partir de ações pioneiras abriram-se pouco a pouco a participação das mulheres. Ainda assim, as desigualdades seguem evidentes. Conseguimos imaginar com facilidade um atleta homem com filhos que tem uma rotina intensa de treinamentos.
10,5%
dos assentos na câmara dos deputados são ocupados por mulheres No mundo, as mulheres ocupavam 23,6% dos assentos
Cargos gerenciais / 2016
62,2% x 37,8% ocupados por homens
ocupados por mulheres
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais.
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ser mulher
De onde eu vejo Qual foi a primeira vez que você percebeu o machismo na sua vida? Me lembro de quando senti que o jogo não era o mesmo para todos. Quando criança, era comum frequentar eventualmente o trabalho da minha mãe depois da escola. Eu me divertia, mas não tinha a dimensão de que ela não tinha outra escolha. Éramos nós duas e só, do meu pai não ouvia nada ou mesmo o via já há bastante tempo. Foi assim por muitos anos, e só mudou quando eu fui atrás de retomar o contato com ele. Naquela época, era comum receber amigos em casa. A música era convidada certa, assim como boa comida, mas nunca entendi por que, na hora de arrumar as coisas, os homens eram acometidos por algum tipo de moleza e só as mulheres tiravam a mesa e lavavam a louça… Isso se repetiu com tanta recorrência no contato com outras famílias ao longo da vida que a certa
altura começou quase a parecer natural. Quase. Um dia, décadas depois, ouvi de um conhecido que estava feliz por ter feito um ateliê do lado de fora da casa, assim podia trabalhar com tranquilidade sem ser interrompido por seus filhos. Olhei para minha bebê, a caçula, e pensei se as crianças dele desapareciam como mágica quando ele fechava a porta. As minhas, não, nunca. E certamente as da esposa dele também não. Stella Ramos é uma mulher cis, educadora, artista e mãe de dois filhos.
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ser mulher
Empoderamento Há quem já ouviu falar em Empoderamento, palavra que ressoa na vida de muitas pessoas. Mas, você já procurou saber sobre essa definição? Então vamos lá: “Passar a ter domínio sobre a sua própria vida; ser capaz de tomar decisões sobre o que lhe diz respeito. Exemplo: empoderamento das mulheres.” Empoderar é trazer para si a consciência de que seu corpo está sob seu domínio. Palavras de ordem como “meu corpo, minhas regras”, “jogue como uma garota”, “meu black é power” demonstram esse conceito. É um processo de entendimento da quebra de paradigmas. Empoderar é dar poder de decisão, é poder ser cidadã, é ter direitos humanos. Empoderar mulheres é afirmar o individual numa consciência coletiva feminina. É entender que a afirmação mulher sexo frágil resulta de um imaginário masculino dominador, que não foi capaz de impedir ações de mulheres como: Maria Amélia Queiróz, que lutou pela abolição da escravatura; Nísia Floresta com a publicação de seu livro “Direito das Mulheres e injustiças dos homens”; Maria Bonita, a mulher que participou de um grupo de cangaceiros. Assim, abriuse espaço para que Seiko Hashimoto fosse a Presidente da Comissão Organizadora dos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2021. Todo poder às mulheres. Ser Mulher é ultrapassar as barreiras que respaldam o caminhar. É entender sobre seu poder e suas múltiplas ações. Para tanto é preciso ressignificar o caminho e assim empoderar outras mulheres. O coletivo é mais do que a soma de individualidades. É a sua interação. É entender que Lugar de Mulher é onde ela quiser. Ellen Moraes Scherrer Filha de Méa Olivia e Etiel Scherrer, feminista negra, criadora de conteúdo, ex-atleta, profissional da educação física e pesquisadora.
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Atletismo Paralímpico De origem pobre, mais nova entre os nove irmãos - quatro deles com deficiência visual –, a velocista cega Ádria Santos tornou-se a maior medalhista paralímpica do Brasil. Na sua trajetória, muita coisa chegou cedo. Seu primeiro pódio veio aos 14 anos. Aos 15, teve uma filha, antecipando também a maturidade necessária para prosperar em ambiente ainda tão hostil à maternidade. O sacrifício de nem sempre estar presente decidiu reverter em melhores oportunidades para sua menina. Ádria coleciona hoje 13 medalhas paralímpicas. Conhecida como filha do vento, nos jogos de Sydney subiu ao pódio com a pequena no colo - um sopro de esperança a anunciar ao mundo que lugar de mulher é onde ela quiser.
Comitê Paralímpico Brasileiro - CPB
Ádria Santos
ser mulher
“
A gente pensa que as coisas mudaram muito. Mudaram quando estamos no meio de pessoas que estão acostumadas com a gente e que nos conhece. Quando saímos daquele grupo, a gente vê que as coisas não mudaram tanto assim. O preconceito ainda persiste... Ádria Santos
”
O esporte nos traz a oportunidade de vibrar com vitórias, ou mesmo de vivenciá-las, mesmo que em contextos bem distantes do alto rendimento paralímpico. Muitas vezes, torcemos tanto por um atleta que sentimos como se fossemos nós a vencer, tamanha a identificação que o esporte permite. Quando vemos uma paratleta que enfrentou tantos desafios e adversidades como a Ádria em suas conquistas, podemos nos inspirar a lutar para que todos e todas possam ocupar os lugares que quiserem.
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ser mulher
Pentatlo Moderno
Natural do Sertão de Pernambuco, Yane Marques firmou-se campeã numa modalidade tradicionalmente masculina e de influência militar. Desde 1912, o Pentatlo Moderno integra os Jogos Olímpicos, mas apenas no ano 2000 a participação feminina foi permitida. Nas Olimpíadas de Londres 2012, Yane foi lá e trouxe para o Brasil a primeira e única medalha do país nesse esporte, de bronze, uma conquista que nenhum atleta brasileiro conseguiu. Eleita Presidente da Comissão de Atletas do COB em 2021, Yane é gestora na Secretaria Executiva de Esportes no Recife. Num mundo ainda tão desigual, abre brechas com sua própria trajetória e conquista território para todas. A existência de uma mulher em papel de liderança será sempre política.
“
Yane Marques
”
Comitê Olímpico do Brasil - COB
Yane Marques
Queria que esta fosse a última Olimpíada com só uma atleta do Brasil no pentatlo moderno.
A trajetória de Yane é inspiradora para muitas meninas. É importante povoar o campo da imaginação com mulheres que ocupam lugares em que com frequência vemos apenas homens. Não basta declarar um desejo de equidade ou mesmo afirmar sua possibilidade. Na prática, as mulheres precisam caminhar muito mais para ocupar espaços que estão tacitamente abertos aos homens. A sensação de interdição nos é transmitida silenciosamente. Quando uma mulher quebra essas barreiras, entretanto, seu exemplo ecoa alto no imaginário de todas e de todos nós.
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ser mulher
Para isso, leia bem o conjunto todo. Vale pensar que a interpretação de cada palavra muda a partir dos olhos de quem lê.
Criar e refletir Pensar sobre o que significa algo feminino pode parecer simples. Será que é tão fácil cercar tudo que este universo contempla? A própria experiência de ser mulher, como já vimos, é muito diversa e cheia de nuanças. Vamos tirar partido desta multiplicidade para uma atividade poética. Num poema as palavras são usadas em toda sua versatilidade e potência: som, imagem, múltiplos significados. Prontos para o Jogo de Palavras? A atividade foi pensada a partir de dois participantes, mas fica mais interessante se você puder chamar mais gente. Podem ser familiares, amigos ou mesmo sua turma de alunos. O material é bem simples: tiras de papel recortadas, do tipo que você tiver à mão, além de canetas ou lápis e seu pensamento.
Começa assim: cada um ganha o mesmo número de tiras. Podem ser dez para cada um. Você deve escrever, em cada uma delas, uma palavra que associa à ideia de Feminino Atenção, a regra é clara: você pode escrever apenas uma palavra por tira, nada mais e nada menos. Pronto? A seguir, recolha todas as tiras que foram escritas, e as misture bem. Agora é hora de sortear dez palavras para cada participante, do conjunto todo. Como as palavras foram todas misturadas, cada um vai receber um conjunto bem diverso de ideias, expressas nas palavras.
Reflita e a partir da sua escolha deixe a escrita fluir, pensando nas imagens e nos sons como parte importante da construção poética. Você pode usar uma palavra em cada verso, ou ainda usar mais de uma se achar que funciona bem. Lembre-se: as palavras das tiras vão compor o texto final que vocês irão escrever na forma de um poema. Ao final, leiam os de todos e conversem sobre o que se transformou no olhar de vocês neste processo. A ideia é quebrar estereótipos sobre o feminino, ampliando o olhar sobre este universo: como as mulheres se veem e como são vistas? Aproveite a atividade para observar a si mesmo e sua relação com esta multiplicidade.
Hora de colocar a mão na massa: dessas dez palavras que você recebeu, deve usar no mínimo sete para escrever um poema.
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ser mulher
Para saber mais... DAVIS, Angela. Mulheres, Raça e Classe. Tradução de Heci Regina Candiani. São Paulo. Boitempo, 2016. HOOKS, Bell. O Feminismo é Para Todo Mundo: Políticas Arrebatadoras. 1 ed. Rio de Janeiro. Rosa dos Tempos, 2018.
E na arte... Há muitas artistas que trazem as lutas das mulheres como tema fundamental de seu trabalho. O coletivo Guerrilla Girls, embora seja norte americano, problematiza a visibilidade e a participação de mulheres no campo das artes e dos museus em diversos lugares do mundo. Em 2017 elas montaram uma exposição em São Paulo, no Masp, trazendo cartazes que deixavam bem visíveis os parâmetros diferentes para artistas homens e mulheres em diferentes lugares do mundo. Apresentam-se sempre com máscaras de gorila, em ações performáticas que problematizam o uso da imagem da mulher no cotidiano e na história da arte.
RUBIO, Katia (Org). Mulheres e Esporte no Brasil: Muitos Papéis, Uma Única Luta. São Paulo. Laços, 2021. Documentário Mulheres Olímpicas Produção de Laís Bodanzi. São Paulo. ESPN, 2013. Disponível em: www.espn.com.br/video/583320_mulheresolimpicas-assista-ao-documentario-naintegra. Acesso em 07/2021. Instituto Mattos Filho. Direitos das Mulheres. 2020. Disponível em: www.politize.com.br/equidade/tema/ direitos-das-mulheres/?gclid=Cj0KCQj wxJqHBhC4ARIsAChq4atpz1sxKin9MxN BwBg7lxxtFIDMxDXyq_61UAm7faqiDYfZ4WXtEkaAkTHEALw_wcB. Acesso em 07/2021.
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ser negra e ser negro
Para começar a conversa Dentre tantas formas de SER, de existir no mundo, está a de SER negra e SER negro. A cor da pele é a qualidade que salta aos olhos, revelando parcialmente essas identidades tão diversas. Em comum, uma história marcada pela diáspora africana, a imigração forçada de seus antepassados que pertencentes a distintas regiões e etnias deste grande continente cruzaram o Atlântico em direção às Américas. Em meio a escravidão a que foram submetidos, estes povos e culturas vem entrelaçar aqui seus saberes, histórias, memórias e afetos reinventando suas identidades e formas de existência. É importante considerar que a abolição da escravidão não ocorreu por um gesto de benevolência imperial, mas foi resultado 40
Atual e último, entre aqueles que já tiveram um chefe
65% Brancos 22% Pardos 10% Pretos 3% Amarelos 1% Índios Fonte: Observatório das Desigualdades: O Racismo no Mercado de Trabalho em Infográficos, 2020
de pressões e revoltas protagonizadas por negras e negros escravizados e abolicionistas. O que se segue é a construção de uma República que dá continuidade a uma estrutura desigual e opressora. O temor da expressiva presença negra em nosso país é motivo de políticas públicas declaradas que buscam apagá-la a todo custo. Este foi o caso, por exemplo, da promoção da imigração de europeus, no início do séc XX que visava um gradual embranquecimento da população. Os apagamentos e negação de direitos ainda permanecem como base de nossa estrutura social, mesmo que de forma velada. Frente a estas questões o que é ou tem sido SER
ser negra e ser negro negra e SER negro neste país? De que forma vivenciam tantos discursos contraditórios, que ditam seus modos de SER e moldam tão profundamente nossa consciência, imaginário e relações sociais? Como, enquanto brasileiros, não nos chocamos diariamente com a ausência negra em tantos âmbitos de nossa sociedade? A necessidade de compreensão e luta é constante. No esporte, assim como em vários outros
campos sociais, homens e mulheres negras exercem sua expressão e centralidade e assim traçam suas próprias narrativas, inspirando tantos outros. De formas diversas ocupam seu estar no mundo, exigem seus direitos, alargam fronteiras em meio a muitos enfrentamentos e opressões. SER aquilo que se tem desejo de SER. Ter a liberdade de SER o que se é e de deixar-se vir a ser.
Quem são as vítimas de ofensas racistas no futebol Dos 82 (oitenta e dois) casos que dizem respeito à discriminação racial no futebol:
36 são atletas
representam outras formas de discriminação
46,34%
43,90%
38
Acervo Família
Qual a cor/ raça do seu chefe?
8
fazem parte do quadro de arbitragem ou são ex-árbitros
9,75%
Alfredo Gomes
Quem são os acusados de cometer ofensas racistas no futebol Dos 82 (oitenta e dois) casos que dizem respeito à discriminação racial no futebol:
42
29
11
51,21%
35,36%
13,41%
o agressor é o torcedor
outras formas de agressores
a agressão partiu de outro atleta
Fonte: Relatório Anual da Discriminalização Racial no Futebol. 2019.
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ser negra e ser negro
De onde eu vejo Sempre tive grande afinidade e admiração pela expressão da cultura negra brasileira, principalmente por meio da música e das artes visuais como também muito interesse nas questões sobre a história e cultura afrobrasileira. Isso, no entanto, não tornou mais fácil a escuta de discursos mais dolorosos, duros e enfáticos sobre os processos de violência sofridos pela população negra. A urgência destas vozes e a impossibilidade de uma troca afetiva causava em mim uma certa recusa de me deixar afetar por elas. Foi nos últimos anos, como formadora de equipes de mediadores culturais que a questão de ser negro e negra no Brasil chegaram até mim de maneira avassaladora e transformadora. A forte presença de jovens negros como educadores-estagiários nas exposições de arte, fruto, entre outras coisas, das políticas de ações afirmativas nas universidades,
tornou possível encontros potentes em meio a um clima de escuta, troca, confiança e respeito. Pude acompanhar em uma das exposições - Geringonças de Mestre Molina – um singelo relato que revelou a dor do educador negro ao se deparar com a leitura recorrente por parte do público da obra Vida na Roça, somente com uma cena da escravidão, sem outras possibilidades de imaginários e narrativas. Naquele momento compreendi melhor a intensidade e por vezes agressividade daquelas falas e acolhê-las e legitimá-las tem sido para mim mulher branca um movimento libertador. Thelma Löbel é mulher, branca, educadora, pesquisadora e mãe de Ana Clara, de 8 meses.
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ser negra e ser negro
Tornar-se Negro: uma revolução em curso Tornar-se Negro é, em essência, uma tarefa revolucionária que não se encerra no encontro de homens e mulheres com identidades culturais ressignificadas. Trata-se, fundamentalmente, de um acerto de contas da história com humanidades irredutíveis, herdeiras de uma fortuna ancestral que lhes foi roubada, mas que seria imediatamente reivindicada na modernidade, mediante luta e resistência. Nesse contexto, a palavra Negro vai deixar de ser mero recurso colonial de designação da “degradação da raça”, para se tornar, no seio dos movimentos abolicionistas e anticoloniais, um símbolo de liberdade, de humanidade inalienável e de diferenças incontestáveis. No Brasil, há pelo menos cento e vinte milhões de formas de ser negro e negra. E há quem, com razão, reivindique dessas experiências a sua porção latino-americana e transnacional. Mas embora a negritude ocupe hoje o centro do debate sobre os direitos de ser, o corpo negro continua sendo o alvo principal de um sistema econômico e jurídico que insiste em fazer do racismo a sua coluna vertebral e das violências institucionas uma política. A isto se soma um conjunto de violências simbólicas, responsáveis por transformar relações cotidianas em verdadeiras guerras de interdição às formas de ser negras. Realidade que se expressa no esporte de modo exemplar, mas nunca sem resistência dos seus protagonistas. Parte dessa resistência é partilhada por nós, que assumimos a tarefa de cultivar o encanto crítico dessas trajetórias negras, cientes de que a disputa pelo reconhecimento também precisa ser vencida no plano da memória e da história. Neilton Ferreira Júnior Osasquense de nascença, carapicuibano de formação, antirracista com forte apelo anticapitalista, o maior fã do D’Angelo que esse país já conheceu.
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ser negra e ser negro
Atletismo
No mesmo ano em que dois atletas negros, Tommie Smith e John Carlos, entravam para a história ao erguerem os punhos no pódio - protesto que marcaria as Olimpíadas de 1968 -, uma brasileira, também negra, era expulsa da competição por “indisciplina”. Irenice Rodrigues foi recordista brasileira dos 400 metros rasos, e sul-americana dos 800 metros, prova em que se impôs, a despeito de as mulheres terem sido consideradas incapazes de disputar. Crítica radical do sistema esportivo brasileiro, Irenice enfrentou o preconceito racial e o autoritarismo dos clubes e dirigentes. Em plena ditadura, liderou uma greve contra o COB através da qual denunciou o descaso da instituição para com o atletismo e seus atletas. Conduta que custou caro à uma trajetória que, embora atlética e politicamente exemplar, passou a ser empurrada para o esquecimento, até ser apagada da memória do esporte brasileiro.
Agência O Globo
Irenice Rodrigues
Irenice foi uma importante liderança negra feminina, uma voz firme, destemida, consciente de seu pensar e agir no mundo. Diferente de outros atletas negras e negros que chegaram a se valer do silêncio ou até mesmo da dissimulação como forma estratégica para garantir uma presença no esporte, sua arma era sua voz. A atleta não se limitava aos padrões de comportamento impostos ou se calava frente as diferentes formas de opressão. Seu papel foi o de denunciar situações que colocavam em cheque o mito da democracia racial no Brasil ou mesmo do esporte enquanto lugar isento de conflitos existentes na sociedade.
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Atletismo Paralímpico Roseane Ferreira tinha 18 anos e era empregada doméstica, quando foi atropelada e teve a perna amputada. “A gente já sofre preconceito por ser negro, pobre, mulher, agora deficiente... Era muito peso pra carregar”. O esporte descortinou um novo mundo, que aliviou esse fardo. Especialista em arremessos de dardo, disco e peso, Rosinha é dona de dois recordes mundiais e duas medalhas paralímpicas. Mirou certeira no sonho até então distante de viajar e comprar uma casa para a mãe. Alcançou, não sem dificuldades. Competiu em meio a um tratamento de câncer; precisou de uma vaquinha para se preparar para os Jogos Paralímpicos Rio 2016. Nunca perdeu o bom-humor. A adversidade, ela transforma em sabedoria.
Comitê Paralímpico Brasileiro - CPB
Rosinha
ser negra e ser negro
“
Abraçar a vida com paixão, perder com classe e vencer com ousadia. Porque o mundo pertence a quem se atreve e a vida é muito para ser insignificante.
Rosinha
”
O esporte nos inspira e arrebata com suas histórias repletas de determinação, coragem e superação. Como não se emocionar com uma trajetória como a de Rosinha, tão humana, cheia de enfrentamentos, dores, superações, realizações e reviravoltas. Até onde pode chegar nossa vontade, nossos sonhos? Quais barreiras esta mulher, negra, deficiente - que representa tantas outras - precisa transpor diariamente? Em meio a tantas adversidades, no anseio de “ser alguém”, a vida lhe trouxe possibilidades de virar o jogo. O desafio foi aceito. Após tantas vitórias ela não se ilude. Longe dos pódios e consciente de sua história volta-se finalmente para o maior dos desafios: a descoberta de si. 45
Comitê Olímpico do Brasil - COB
Criar e refletir Para existir e não apenas resistir é necessário imaginar, sonhar, se amar e ter a liberdade de traçar os próprios significados e destinos. Muitas das histórias e memórias de homens e mulheres negras sofreram constantes processos de negação e apagamento, não sem muita luta. Cabe a todos nós caminhar no sentido de recuperar o tamanho do mundo fazendo vir a tona a diversidade de visões e entendimento sobre ele. Histórias como a de Irenice e Rosinha são repletas de acontecimentos, enfrentamentos e superações dignas de verdadeiras heroínas. É preciso celebrá-las sem no entanto romantizar ou naturalizar as violências pelas quais estas mulheres negras passaram. Por outro lado ver a presença delas no esporte, nos ajuda a reconhecer outras centralidades, potências, discursos e imagens. Você conhece heróis e heroínas com rosto africano? Eles e elas estão por toda parte.
ser negra e ser negro
Diogo Silva
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Escrever esta história com suas palavras, uma página no máximo
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Formar duplas de trabalho, cada um deve narrar sua história para o colega
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A partir da escuta desta história, fazer uma imagem/representação bidimensional - pintura ou desenho tendo como objetivo uma imaginação mais generosa e diversificada de homens e mulheres negras
Para Inspirar Em sua pesquisa, Neilton Ferreira Júnior problematiza dimensões simbólicas que envolvem o campo esportivo de um modo geral, mas que atravessam as trajetórias negras de modo particular. Apoiado em Clyde Ford, o pesquisador identifica que a condição do herói olímpico negro se impõe no esporte como um ato de resistência às estruturas que forjam a negação da sua humanidade. A partir destas reflexões e inspirações reúna seu grupo e proponha o seguinte desafio:
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Conheça as obras, que fazem parte do acervo do Pinacoteca de São Paulo, que ilustram o livro Enciclopédia Negra, de Flávio dos Santos Gomes e Lilia Moritz Schwartz. (consultar Para saber mais...). Conheça também a série Heróis de Todo Mundo que retrata personalidades da cultura afro-brasileira que se destacaram na história do Brasil (consultar Para saber mais...).
Pesquisar sobre a história de vida de uma personalidade negra inspiradora, pode ser uma pessoa comum ou preferencialmente não muito conhecida. 46
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Para saber mais... ALMEIDA, Silvio. Racismo Estrutural. São Paulo. Sueli Carneiro - Pólen, 2019. Coleção Feminismos Plurais. ESCRIVÃO, Marco; MENDONÇA, Thiago B; CALASANS, Laura. Procura-se Irenice. 2016. Disponível em: fb.watch/v/3LKrhcAs_/ Acesso em junho de 2021.
E na arte... Rosana Paulino é mulher, negra, artista visual, pesquisadora e educadora. Sua produção é ligada a questões sociais, de gênero, identidade e representação negra. Em sua obra Parede da Memória, de 1994, questões como história, afetividade, violência e silenciamento se destacam. Nela, a artista utiliza retratos de seu arquivo familiar impressos em pequenas almofadas bordadas ao modo de patuás. Entre as imagens, a presença do homem branco nos faz pensar sobre a miscigenação como base destas relações e da formação das famílias brasileiras. Conheça o site da artista: www.rosanapaulino.com.br
FERREIRA JÚNIOR, Neilton de Sousa. Revisitando a “Raça” e o Racismo no Esporte Brasileiro: Implicações para a Psicologia Social. In: RUBIO, Katia; CAMILO, Juliana (Orgs). Psicologia Social do Esporte. São Paul. Képos, pp. 183-208, 2019.
TEIXEIRA, Marina Dias. Enciclopédia Negra: Pesquisadoras Indicam Personalidades. Site: SP Arte 365, 2021. Disponível em: https://bit. ly/3hRKVyu. Acesso em junho de 2021. Programa de Atividades para a Implementação da Década Internacional de Afrodescendentes. Nações Unidas. 2021. Disponível em: decada-afro-onu.org Acesso em julho de 2021.
FERREIRA JÚNIOR, Neilton de Sousa. O Herói com Rosto Africano e o Atleta Olímpico Negro. In: RUBIO, Katia (Org.). Esporte e Mito. São Paulo. Laços, pp. 199-220, 2017. Heróis de Todo Mundo. A cor da Cultura. Disponível em: https://bit.ly/3k1wM4x Acesso em junho de 2021. SOUZA, Neusa Santos. Tornar-se Negro ou As Vicissitudes da Identidade do Negro Brasileiro em Ascenção Social. Rio de Janeiro. Graal, 2ª ed., 1983. 47
Início do tráfico negreiro no Brasil Antes da chegada dos portugueses, o território hoje chamado Brasil era habitado por centenas de etnias indígenas. Com a chegada dos africanos escravizados, processo que durou mais de 300 anos, somou-se aos saberes dos nativos outras tecnologias e conhecimentos responsáveis pelo desenvolvimento do pais.
pedia
1904
1948 1932
1827 wikipedia
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Em 29 de julho de 1948, dia da abertura dos Jogos Olímpicos de Londres, o neurologista alemão Ludwig Guttmann organizou a primeira competição para atletas de cadeira de rodas. Os Jogos Internacionais de Stoke Mandeville foram o embrião dos Jogos Paralímpicos, trazendo à tona a existência social de pessoas com deficiência, muitas ainda com sequelas da 2ª Guerra Mundial.
Freak Shows Freak Shows eram corriqueiros na Europa e EUA. A objetificação dos corpos de pessoas com deficiência, com nanismo ou muito altas - e sua espetacularização - refletia um padrão corporal que não considerava a diferença como uma característica, mas sim como algo a ser exposto ou ridicularizado.
Jogos Antropológicos Paralelamente às Olimpíadas de Saint Louis, os norteamericanos organizaram os Jogos Antropológicos, disputados por representantes de etnias consideradas exóticas, como Pigmeus da África, índios Cocopas do México, Moros das Filipinas e Pehuenches da Patagônia.
1939-1945 wikipe dia
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1530-1550
Foi apenas no Código Eleitoral de 1932 que o voto da mulher foi garantido como direito no Brasil. É um dos marcos mais importantes na luta por igualdade, já que votar é fundamental no exercício de uma cidadania plena. Segundo o último censo, a maior parte da população brasileira é mulher. Você acha que a representação política segue a mesma proporção?
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1800
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ser diferente? ser lgbtqiap+ ser migrante ser mulher ser negra e ser negro
Jogos de Stoke Mandeville
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Antes desta data, as mulheres não tinham direito garantido aos estudos. Ensino superior, então, só passou a ser permitido no Brasil em 1879. A educação abre portas e janelas, e sem um diploma era difícil estabelecer uma vida profissional sólida. Já imaginou ter que pedir autorização de outra pessoa para estudar?
Mulheres podem votar
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Mulheres podem estudar
Segunda Guerra Mundial O conflito causou um intenso fluxo de saída de pessoas da Europa, em direção a diversos países – inclusive o Brasil. Uma guerra não apenas pode alterar demarcações de territórios externos. Ela pode também mudar a composição demográfica de vários países – mesmo dos que não tomam parte direta no conflito.
Lei Afonso Arinos (nº 1.390/51)
Criação do Mercosul
Participação histórica Em 1967, a participação em maratonas era permitida somente aos homens. Kathrine Switzer inscreveu-se sem se identificar como mulher, usando apenas suas iniciais, e completou a prova apesar da tentativa da organização de arrancá-la. Graças a essa ousadia, a partir de 1972 a prova passou a ter uma versão feminina. Gestos como esse evidenciam a segregação e abrem espaços.
A entidade, que rege o desporto para pessoas com deficiência no Brasil, foi criada com o objetivo de promover o esporte Paralímpico (da iniciação ao alto rendimento), e de incluir a pessoa com deficiência na sociedade
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1982
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2001
1991 wiki pe
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1995
ser diferente? ser lgbtqiap+ ser migrante ser mulher ser negra e ser negro
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1967
1995
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1951
Fundação do Comitê Paralímpico Brasileiro
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1961
Nasce o Mercado Comum do Sul. Onze anos depois, em 2002, são firmados o Acordo sobre Regularização Migratória Interna de Cidadãos do Mercosul e o Acordo sobre Regularização Migratória Interna de Cidadãos do Mercosul, Bolívia e Chile.
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Primeira lei brasileira a criminalizar atos resultantes de preconceito de raça e cor. Ao mesmo tempo que abre espaço para a discussão sobre racismo em nossa sociedade, trata-o de forma branda ao ser considerado contravenção penal.
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Inauguração de Brasília
Primeiro Gay Games
A construção da cidade foi marcada pela migração de trabalhadores de diversas partes do país, principalmente do Nordeste, atingido pela grande seca de 1958. A estimativa é que 42 mil pessoas tenham trabalhado na construção da cidade, e muitas tiveram suas histórias apagadas.
Em 1982, acontece a primeira edição dos Gay Games, Jogos Gays em português. As edições acontecem a cada quatro anos, do mesmo modo que os Jogos Olímpicos. Sua principal bandeira é a da diversidade, buscando dar visibilidade a temas como respeito e solidariedade. A iniciativa nos alenta e alerta sobre a importância da visibilidade.
Reconhecimento da Terra Quilombola Boa Vista, no Pará Em 1850, a Lei de Terras extinguia a apropriação de terras com base na ocupação, tornando a terra mercadoria - o que deslegitimava desde então o direito a terras por partes da população negra. Somente na Constituição de 1988 esse direito passa a ser assegurado por lei.
União Estável e Casamento Homoafetivo Em 2011, o Supremo Tribunal Federal passou a considerar como União Estável casais do mesmo gênero que se apresentavam como uma entidade familiar. Em 2013, o Conselho Nacional de Justiça publicou uma resolução que permite aos cartórios que registrem casamentos homoafetivos, oficialmente, um imenso ganho para a comunidade LGBTQIAP+.
Lei Joanna Maranhão
Criminalização da homofobia Olimpíada da diversidade
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2016 2016
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2012
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Lei 10.639/2003
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2003
2009
Em 2019 o STF determinou que as violências contra pessoas LGBTQIAP+ fossem equiparadas às leis de racismo. A comunidade LGBTQIAP+ comemorou a decisão. Porém, na mesma lógica da criminalização do racismo, existe uma discussão sobre o quanto a lei funciona na prática, em uma sociedade com valores de intolerância e discriminação tão arraigados. wi ki
Os Jogos Olímpicos Rio 2016 bateram recorde de participação de atletas homossexuais brasileiros. Ainda assim, as demais letras da sigla LGBTQIAP+ continuam sem participação declarada. No mesmo ano, é criado o primeiro time de futebol amador de homens trans do Brasil, o Meninos Bons de Bola, ampliando a visibilidade da comunidade. pedia
A nadadora Joanna Maranhão denunciou um abuso sofrido por um treinador quando tinha apenas 9 anos. Como ela, inúmeras meninas sofreram e sofrem abusos, dentro e fora do esporte. A lei Joanna Maranhão amplia a prescrição de prazo para assédio, auxiliando especialmente as menores de idade assediadas.
Lei que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional para a inclusão obrigatória no currículo oficial da Rede de Ensino a temática História e Cultura Afro-Brasileira. É também por meio dela que o dia da consciência negra (20 de novembro) passa a ser celebrado, no dia da morte de Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares.
Lei das Cotas
Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro
Foram muitos anos de luta do movimento negro pelo direito ao ensino superior. Em 2012 é instaurada a lei de cotas, que contempla indivíduos autodeclarados pretos, pardos, indígenas e pessoas com deficiência. Segundo o Censo, em 1997, apenas 1,8% dos jovens entre 18 e 24 anos que se declararam negros havia frequentado uma universidade.
O Brasil tem uma delegação recorde, com 465 atletas. Desses, 24 nasceram em território estrangeiro e eram brasileiros por fatores de ancestralidade ou naturalização. Pela primeira vez, os Jogos Olímpicos e Paralímpicos contam com uma delegação formada por atletas refugiados.
ser diferente? ser lgbtqiap+ ser migrante ser mulher ser negra e ser negro
19 JUL - 30 NOV 2021
ser migrante
A exposição virtual Ser Atleta apresentou a história de 30 atletas, divididos nos 5 arcos presentes na exposição. A seguir, a lista de todos os atletas contemplados na exposição, e o convite para que pesquisem a história notável destes atletas do esporte nacional.
Burkhard Cordes - Vela Edinanci Silva - Judô Édson Cavalcante - Atletismo Paralímpico Fernando Meligeni - Tênis Juliano Di Fiori - Rúgbi Maurício Dumbo - Futebol de Cinco
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Daniel Bispo - Boxe Darlan Romani - Atletismo Evelyn Vieira - Bocha Paralímpica Fabi Alvim - Vôlei Joana Neves - Natação Paralímpica Maria Elizabete Jorge - Halterofilismo
Ádria Santos - Atletismo Paralímpico Benedicta Souza Oliveira - Atletismo Camille Rodrigues - Natação Paralímpica Jackie Silva - Vôlei / Vôlei de Praia Joanna Maranhão - Natação Yane Marques - Pentatlo Moderno
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ser negra e ser negro
Edênia Garcia - Natação Paralímpica Ian Matos - Salto Ornamental Isadora Cerullo - Rúgbi Júlia Vasconcelos - Taekwondo Tuany Priscila - Atletismo Paralímpico Walmes Rangel - Atletismo
Alfredo Gomes - Atletismo Diogo Silva - Taekwondo Irenice Rodrigues - Atletismo Mílton Costa - Atletismo Raíssa Machado - Atletismo Paralímpico Roseane Ferreira (Rosinha) - Atletismo Paralímpico
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Sesc – Serviço Social do Comércio Administração regional no Estado de São Paulo Presidente do Conselho Regional: Abram Szajman. Diretor do Departamento Regional: Danilo Santos de Miranda. Superintendentes: Técnico-Social: Joel Naimayer Padula. Comunicação: Ivan Giannini. Administração: Luiz Deoclécio M. Galina. Assessoria Jurídica: Carla Bertucci Barbieri. Gerentes: Desenvolvimento Físico-Esportivo: Maria Luiza de Souza Dias. Artes Visuais e Tecnologia: Juliana Braga de Mattos. Estudos e Programas Sociais: Cristina Riscalla Madi. Artes Gráficas: Helcio José de Paula Magalhães. Estudos e Desenvolvimento: Marta Raquel Colabone. Sesc Digital: Fernando Amodeo Tuacek. Sesc Itaquera: José Roberto Ramos. Exposição Virtual Ser Atleta Curadoria: Katia Rubio. Equipe Sesc: Adriana Inês de Paula, Ellen Moraes Scherrer, Adriano Alves Pinto, Alessandra Aparecida Neves Garcia, Alessandra Pereira Souza, Alexandre Kesper Pimenta, Anderson Tadeu de Campos, Beatriz Souza Pereira, Bruno Corrente Andriani, Caio Mombeli Desiderio, Cristiane Ferrari, Denise Mariano da Silva, Eduardo Roberto Uhle, Elder Regis
Deorato Marques, Emília Carmineti, Nilva Luz, Érica Martins Dias, Fabiano Maranhão, Geysa Bernardes Magalhães, Guilhermo Bonini Panebianco, Helena Maria Alves Bartolomeu, Igor Roberto Dias, Iona Damiana de Souza, Isadora Cunha Poci, Jeniffer A. do Nascimento, Juliana Marquez Novacov, Julio Cesar Pereira Junior, Karina Camargo Leal Musumeci, Leandro dos Santos Oliveira, Leonardo Borges, Leonardo Calix Soares, Leonardo Morjan Britto Peçanha, Ligia Helena Ferreira Zamaro, Lourdes Aparecida Teixeira Benedan, Luciane Maria Micheletti Tonon, Luiz Daniel Curralo Falcão Pires, Marcelo Dias de Carvalho, Marcio Sousa de Carvalho, Michelle G. Santana Alves, Morrissey Vieira de Pádua, Neilton de Sousa Ferreira Junior, Rachel Oliveira Leão Rocha, Renan Augusto Soares Braga, Ricardo Carrero da Costa, Ricardo de Oliveira Silva, Ricardo Tacioli, Rui Mauro Ferreira Junior, Sergio Gobbo, Tatiane Claro Ito, Thais Ferreira Rodrigues, Thiago Marchini Cambui Del Cura, Viviane Cristina dos Santos e William Douglas de Almeida. Produção esportiva: Abajur Promoções e Eventos S/S LTDA - M/E. Produção Artística: Loma Filmes. CoProdução: Archimidia. Direção Geral: André Wissenbach. Produção Executiva: Fernando Nogueira. Produção: Heloisa Jinzenji e Clara Ramos. Coordenação de Produção: Graziela Cabral.
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Designer Gráfico - Identidade Visual: Carla Sarmento e Patrícia Gonçalves. Webdesign: Fernanda Albuquerque. Programação: Dennis Shrazi. Animação: Pedro Sarmento e Rolnei Tavares. Assistentes de motion design: Barbara Coimbra e Alexandre Guidara. Edição de textos: Joana Rozowkwiat. Roteiro: Dilner Gomes. Direção de Fotografia: Anna Júllia Santos. Técnico de som: Tomás Franco. Montador: Danilo do Valle e Ricardo Matias. Trilha sonora original: Dan Zimmerman. Recursos de acessibilidade: All Dubbing Group. Ação Educativa: Zebra5 - Alberto Duvivier Tembo, Stella Ramos e Thelma Azevedo Löbel. Diagramação do material de mediação educativa: Karen Gameiro. Parceria Institucional: Comitê Olímpico do Brasil - COB. Comitê Paralímpico do Brasil – CPB.
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