2
1
2
3
2_10 OUT 2021 9 dias 8 países Sesc Campinas
4
Ultrapassar Barreiras Abram Szajman
Presidente do Conselho Regional do Sesc São Paulo A pandemia da covid-19 impactou fortemente o pleno funcionamento do setor de comércio e serviços no último ano e meio quando, por questões sanitárias, foi proibida ou restringida a livre circulação de pessoas nas cidades. Os encontros e eventos presenciais que pudessem aglomerar pessoas foram afetados. A situação gerou desafios e, também, oportunidades para os empreendedores que buscam caminhos para levar adiante suas realizações. Diante de obstáculos conjunturais, os empresários do comércio de bens, serviços e turismo têm aplicado sua capacidade de ultrapassar barreiras, combinando investimentos nas áreas científica e tecnológica com a experiência acumulada por seus profissionais no dia a dia. Têm criado e encontrado meios para seguirem cumprindo o compromisso de responsabilidade social nos trabalhos desenvolvidos. Há 75 anos, por iniciativa deste mesmo empresariado, foi criado o Sesc, uma instituição privada, de interesse público e sem fins lucrativos, cujas atividades e serviços estão em consonância com os valores da promoção do bem-estar social e da melhoria da qualidade de vida em prol da comunidade nos campos da educação, cultura, saúde, assistência e lazer. Nesse sentido, a realização da 12ª edição da Bienal Sesc de Dança, a partir do polo tecnológico, cultural e comercial de Campinas, reafirma esse compromisso e, neste ano, incorpora as ferramentas digitais como forma de expandir o acesso para mais pessoas. O impacto de projetos dessa natureza no âmbito da cultura alcança diferentes públicos e cadeias produtivas, colaborando de forma a complementar o papel que cabe aos diversos níveis da administração pública.
5
Overcoming Barriers Abram Szajman President of Regional Council, Sesc São Paulo The Covid-19 pandemic strongly affected the full operation of the trade and services sector in the last year and a half when, for health reasons, it prohibited or restricted the free movement of people in the cities. Faceto-face gatherings and events that could crowd people were affected. The situation has created challenges and also opportunities for entrepreneurs looking for ways to move their business forward. Facing conjunctural obstacles, the entrepreneurs of the trade of goods, services, and tourism have applied their ability to overcome barriers, combining investments in the scientific and technological areas with the expertise accumulated by their professionals on a daily basis. They have created and found ways to continue fulfilling their commitment to social responsibility in the work developed. Seventy-five years ago, through the initiative of this same business community, Sesc was created, a private, of public interest, non-profit institution, whose activities and services are consistent with the values of promoting social welfare and improving quality of life on behalf of the community in the fields of education, culture, health, assistance, and leisure. In this regard, the 12th edition of Sesc Dance Biennial, from the technological, cultural and commercial center of Campinas, reiterates this commitment and, this year includes digital tools as a way to expand access to more people. The impact of projects of this nature in the scope of culture reaches different publics and productive chains, collaborating in a way that complements the role that is up to the different levels of public administration.
6
Dançar Limites Danilo Santos de Miranda Diretor do Sesc São Paulo
O corpo que se expressa estabelece relações com o espaço que ocupa. Encontra em elementos internos ou externos eventual motivo para seus movimentos. Também opera a partir de limites de diferentes naturezas, podendo se circunscrever a eles ou desafiá-los. Indissociável daquilo que ocorre na mente e no espírito, o corpo é dispositivo que cria gramáticas, que por sua vez são fruto da amálgama entre ele e essas outras dimensões. Contexto que atravessa nossos corpos há mais de um ano e meio, a atual pandemia traz contingências que constantemente fazem surgir novos modos e novas dinâmicas nos terrenos da criação estética e sua fruição, assim como da própria ação cultural e educativa. Ainda assim, mesmo com a incerteza como tônica, tal perspectiva não foi capaz de refrear algo que nos caracteriza como seres munidos de linguagem: a expressão. O caso da dança faz parte desse movimento, que se confirma pela pluralidade de artistas que abriram suas casas para que o público pudesse acompanhar – por meios digitais, é preciso dizer – o que de mais atual é criado nessa manifestação, mantendo ativa sua cadeia produtiva. Agora, o público tem a oportunidade de vê-los em seus habitats naturais, mesmo que ainda a distância. Dedicada a este panorama e atenta aos diferentes territórios do país e de fora dele, a Bienal Sesc de Dança chega à sua 12ª edição e segue pela via na qual obra e público ainda se veem mediados por câmeras e telas, dando seguimento aos protocolos sanitários necessários nos dias atuais. Realizada entre os dias 2 e 10 de outubro de 2021, tem em sua programação apresentações nacionais transmitidas ao vivo, de forma on-line e a partir do Sesc Campinas – sua atual sede – e outras unidades do Sesc na cidade de São Paulo, além da disponibilização de gravações de espetáculos de diferentes países, mostra de videodança, coleção de filmes, residência artística e ações formativas, enfatizando a vocação socioeducativa da cultura. Ao saírem de suas casas, que serviram por um bom tempo como palcos provisórios, e dançarem em teatros, praças e outros espaços e, ao investirem em linguagens com alta voltagem de experimentação, como a videodança, esses artistas nos dão a oportunidade de ver coreografias acabadas ou que ainda se encontram em processos de criação, e que frutificaram em um contexto inegavelmente difícil. Essa diversidade de criações e modos de fruição sublinham a ideia de que a arte é motor humano e, mesmo em situações extremas, é hábil em reinventar a maneira como ocupa lugares, confronta limites e se afirma como grafia contemporânea de um mundo permeado por incertezas, ao mesmo tempo que por potências.
7
Dancing Limits Danilo Santos de Miranda Director of Sesc São Paulo The body expressing itself establishes relations with the space it occupies. It finds in internal or external elements possible reason for its movements. It also operates from different kinds of limits and can either circumscribe itself to them or challenge them. Inseparable from what happens in the mind and spirit, the body is a device that creates grammars, which, in turn, are the result of the amalgam between it and these other dimensions. A context that has been permeating our bodies for over a year and a half, the current pandemic brings contingencies that constantly bring about new modes and new dynamics in the fields of aesthetic creation and its enjoyment, as well as from cultural and educational action itself. Yet, even with uncertainty as a tonic, such a perspective was not able to curb something that characterizes us as beings endowed with language: expression. The case of dance is part of this movement, which is confirmed by the plurality of artists who have opened their homes so that the audience can follow – through digital means, it must be said – the most up-to-date creations in this manifestation, keeping its production chain active. Now, the audience has the opportunity to see them in their natural habitats, even if still at a distance. Dedicated to this scenario and attentive to the different territories in the country and abroad, Sesc Dance Biennial reaches its 12th edition and continues along the path in which work and audience are still mediated by cameras and screens, following the necessary sanitary protocols nowadays. To be held between October 2nd and 10th, 2021, its program includes national performances broadcasted live, online and from Sesc Campinas – its current headquarters – and other Sesc units in the city of São Paulo, besides the availability of recordings of performances from different countries, video dance shows, film collections, artistic residency and training actions, emphasizing the culture’s socio-educational vocation. By leaving their homes, which served for a long time as temporary stages, and dancing in theaters, squares, and other spaces, and by investing in languages with a high voltage of experimentation, such as video dance, these artists allow us to see finished choreographies or choreographies that are still in the process of creation, and that bore fruit in an undeniably difficult context. This diversity of creations and ways of enjoyment underline the idea that art is a human engine and, even in extreme situations, is capable of reinventing the way it occupies places, confronts limits, and asserts itself as a contemporary spelling of a world permeated by uncertainties and, at the same time, by potencies.
8
A Iminência do Desconfinamento Equipe de curadoria da Bienal Sesc de Dança 2021 A principal finalidade da Bienal Sesc de Dança é apresentar e fomentar a dança contemporânea por meio de uma programação que contempla investigações de artistas brasileiros e estrangeiros. Um espaço de encontros, com apresentações de espetáculos, performances, cursos, oficinas, debates e residências, entre muitas outras ações nas quais públicos e artistas compartilham experiências e visões. Ao longo dos anos, a curadoria sempre teve como inquietação trazer as discussões do momento presente e reverberar as narrativas de artistas e pesquisadores. Neste mais de um ano e meio de pandemia do novo coronavírus (covid-19), a bienal não contou com sua convocatória, instrumento tão importante de aproximação com a produção em dança e de expansão das pesquisas realizadas cotidianamente. Formamos uma equipe de curadoria transversal composta de 14 programadoras e programadores de diferentes linguagens e unidades operacionais do Sesc São Paulo que se debruçaram sobre as questões que a dança tem lançado e enfrentado nestes quase dois anos de pessoas confinadas em espaços e telas. Durante o processo de discussão sobre quais seriam os possíveis formatos para uma Bienal de Dança on-line, muitas perguntas foram compartilhadas: como fazer um festival on-line? Por que fazer um festival on-line? Os corpos cabem nas telas? Que corpos são esses? O que carregam? As fronteiras realmente deixam de existir no ambiente digital? É mais fácil difundir digitalmente? Será possível reencontrar as pessoas? Tocá-las? Ficaremos com medo de conviver? O avanço da vacinação começou a desenhar um possível desconfinamento. A possibilidade de realizar ações presenciais, com público, chegou a circular nas conversas. Mais perguntas surgiram: quem ainda está confinado? Quais corpos e “corpas” ainda estão confinados e confinadas? Isolamento social existe para quem? Será possível desconfinar mentes? O número de infecções e mortes ainda está muito alto. As pessoas vacinadas ainda são muito poucas. Optamos por manter a realização da bienal totalmente on-line. Como curar, somente no ambiente digital, uma bienal que represente os diversos segmentos da dança brasileira criados na contemporaneidade? Como mostrar a pluralidade de danças, “corpas”, corpos, ações e pensamentos, assim como a fricção entre as diferenças que nos formam? Quem dança? Quem é dançada? Quem é dançado? Quem é “dançade”? Trazer artistas e pesquisadores para perto, para pensar e construir junto com a gente, foi praticamente a solução mais óbvia. Mais do que um convite, propusemos uma parceria entre artistas, curadoria e espaços ocupáveis. A iminência do desconfinamento, depois de tantas idas e vindas, reverberou na proposição da ocupação de diferentes espaços das unidades do Sesc, por diferentes corpos e “corpas”, diferentes narrativas, diferentes vivências.
9
The Imminence of Lockdown-free Sesc Dance Biennale curatorship team, 2021 The main purpose of the Sesc Dance Biennale is to present and foster contemporary dance with a program that contemplates investigations of Brazilian and foreign artists. A space for encounters, with shows, performances, courses, workshops, roundtables, and residence, among other actions where audience and artists share experiences and points of view. Over the years, the curatorship has always cared about bringing the discussions of the current moment and reverberating the narratives of artists and researchers. In this more than one and a half year of the coronavirus pandemics, the Biennale did not have its invitation call, an essential instrument to closer approximation with the dance production and the expansion of researches carried every day. We set up a transversal curatorship team with 14 programmers in different languages and operational units of Sesc São Paulo who pored over the issues that dance is raising and facing in these almost two years of people confined in spaces and screens. Many questions were shared during the discussion about possible formats for an online Dance Biennale: how to make an online festival? Why have an online festival? Do the bodies fit on the screens? What bodies are those? What do they carry? Do boundaries really become inexistent in the digital environment? Is it easier to spread digitally? Is it possible to reencounter people? Touch them? Will we be afraid of living together? The advance in vaccination started to design a possible lockdown-free. The possibility of having in-person activities with an audience came up in conversations. More questions were raised: who is still in lockdown? What bodies and “corpus” are still in lockdown? Social distancing exists for whom? Is it possible to deconfine minds? The number of infections and deaths is still too high. Very few people received the vaccine. We decided to have a totally online Biennale. How to curate, only in the digital environment, a Biennale that represents the several segments of the Brazilian dance created in contemporaneity? How to show the plurality of the dances, “corpus,” bodies, actions, thoughts, and the friction among the differences that make us? Who dances? Who is danced? Who is the “dancing self? Bringing artists and research closer to think and build together with us was the most obvious solution. More than an invitation, we proposed a partnership between artists, curatorship, and occupiable spaces. After so many comings and goings, the imminence of a lockdown-free reverberated in the proposal to occupy different spaces of Sesc units by different bodies and “corpus,” different narratives, and experiences. The works were created or adapted considering the architecture’s relationship, presenting an even more screen-mediated dance. Although the artists were to be present in the spaces, the interaction with the audience would be only virtual. Would the audience be present in such a
10
Trabalhos foram criados ou adaptados levando em consideração a relação com as arquiteturas, apresentando uma dança ainda mediada pela tela. Embora os artistas fossem estar presentes nos espaços, a interação com o público seria restrita ao virtual. Nesse formato, estaria o público presente? O que é presença? Como estar presente? Construir e compartilhar a sensação de presença tem sido o grande desafio das artes cênicas neste momento. O contexto brasileiro nos coloca desafios gigantescos. Lidamos com a morte, com a fome, com a doença, com a falta de perspectiva. A gente tem fome de quê? Comida, educação e vacina? Diversão? Arte? Há um futuro possível? Há um presente possível? Há possibilidade de cura? Eixos, atravessamentos, linhas e pontos de partida, ora divergentes ora convergentes, formaram o sumo dos encontros da equipe de curadoria. As dinâmicas de contribuição não cessaram até a véspera da abertura. Entendemos que também estamos em processo de criação quando nos dispomos a participar do vivo movimento que é pensar a dança nestes tempos: processos que geram narrativas, alternativas, recortes e ampliam questões que hoje nos parecem pungentes à cena contemporânea deste Brasil tão controverso quanto imenso. A programação apresenta uma pluralidade de corpos e estéticas da dança contemporânea. Poéticas e lutas de corpos negros, de corpos indígenas, de corpos deficientes, de corpos LGBTQIA+, permeando as ações cênicas e formativas, além das mostras especiais de filmes e videodanças, podcast, peça sonora, indicação de livros e as homenagens a Lia Rodrigues e Ismael Ivo. Durante os nove dias de festival, a busca é por construir um ambiente de encontros, aproximação de ideias, escutas e partilhas. Queremos ouvir diferentes sotaques. Queremos partilhar perguntas e vislumbrar caminhos. Queremos colocar corpos e “corpas” em expansão. Queremos saciar a fome da presença. Queremos viver em bando. O futuro é coletivo e sua construção começa sempre no agora.
setting? What is presence? How to be present? Build and sharing the sense of presence has been the great challenge of scenic arts at this moment. The Brazilian context brings huge challenges. We deal with death, hunger, disease, and lack of perspective. What are we hungry for? Food, education, and the vaccine? Entertainment? Art? Is there a possible future? Is there a possible present? Is there a possibility of a cure? Axes, crossings, lines, and starting points, sometimes divergent, sometimes convergent, were the core of the meetings of the curatorship team. The dynamic of contributions did not stop until the eve of the opening. We recognized that we are also in the creative process when we are willing to participate in the live movement that is the dance in these times. Processes that generate narratives, alternatives, cuts, and expand questions that today seem pungent to the contemporary scene of this Brazil so controversial as immense. The program shows a plurality of bodies and esthetics of contemporary dance. Poems and struggles of black, indigenous, with disabilities, LGBTQIA+ bodies permeating the scenic and formative actions, the special exhibition of movies and video dances, podcasts, sound pieces, books recommendation, and the tributes to Lia Rodrigues and Ismael Ivo. The aim of the nine days of the festival is to build an environment for meetings, approximation of ideas, listening, and sharing. We want to hear different accents. We want to share questions and glimpse paths. We want to expand bodies and “corpus.” We want to satiate the hunger for presence. We want to live in a flock. The future is collective, and its construction always starts in the now.
11
12
Sumário
15
1 Espetáculos
[Shows] 65
2 Mostras Especiais
[Special Shows] 135
3 Podcast | Peça Sonora
[Podcast | Sound Play] 148
4 Ações Formativas
[Formative Learning] 177
5 Informações
[Information]
13
14
1
15
Espetáculos [Shows]
16
17
18 20 22 24 26 28 30 32 34 36
38 40 42 44 47 50 52 55 56 58 60 62
131 OUT Abismo [Abyss] Bichos Soltos em Casa Buraco Conversa pra Boy Dormir Darktraces Delirar o Racial Despacho Deferido Devotees | N’otro Corpo este corpo é tão impermanente… [this body is so impermanent...] Goldfish IKU Imalè Inú Ìyágba Matéria Escura Multiple-s Na Fresta da Certeza, o Vermelho Escuro NO HACER NADA pulverizar NoPorn | Ponto de Encontro O Que Mancha Taoca Viaduto Yebo Musical
18
131 OUT Sara Marasso & Stefano Risso Itália [Italy]
20 min | Livre [All ages] www.ilcantiere.net www.stefanorisso.com sara.marasso stecontro saramarassostefanorisso
Conceito, realização, coreografia e dança [Concept, realization, choreography and dance]: Sara Marasso; Conceito, realização, pesquisa sonora e composição [Concept, realization, sound research and composition]: Stefano Risso; Colaboração para criação de vídeo [Collaboration for video creation]: Miha Sagadin (Turim), Pedro Sena Nunes e Vo’Arte (Lisboa); Apoio para criação de vídeo [Support for video creation]: Diana Matias e João Dias (Lisboa) e Elia Lasorsa e Silvia Urbani (Turim); Montagem final [Final montage]: Miha Sagadin; Cor [Color]: Luca Pescaglini; Produção [Production]: Il Cantiere Cultural Association; Gestão [Management]: Giovana Gosio; Apoio [Support]: bXh Performing Arts Festival_L’Elastiko & C.AR.M.E. Brescia, Cross Residence Verbania, Galerie Mazzoli Berlin, L’Avutarda Pinilla de L’Olmo, Margine Operativo Rome, Piemonte dal Vivo_Lavanderia a Vapore_I Regional Center for Dance and Sumisura Torino e Teatri di Vita Bologna; Agradecimentos [Acknowledgments]: Balleteatro e Isabel Barros
*A apresentação deste espetáculo contou com o Apoio Institucional do DDD – Festival Dias da Dança (Portugal)
Dança, música e espaço urbano ou uma bailarina, um músico e um sempre portentoso contrabaixo impregnam ruas, praças, monumentos e distintas paisagens de Lisboa e Turim. Três corpos, portanto, confrontam-se num espaço que se recria a cada instante por intermédio desse confronto. Um espaço no qual o instrumento – e não ela ou ele, artistas – acaba por se afirmar como elemento-chave de um jogo no qual é o verdadeiro diretor. Acompanhamos uma relação lúdica que se insere no cotidiano, ao ar livre e à procura de uma impossível sincronia com 2.000 km de distância e uma hora de fuso horário de diferença entre as duas cidades onde essas três presenças se encontram separadas. Trata-se de um convite ao público para olhar de forma diferente, inesperada e imprevisível o espaço exterior, os lugares das cidades e as relações humanas, tanto em proximidade como em distância. “Um uso adequado do espaço público em dança, com um objeto como personagem principal, criando paisagens urbanas inusitadas e bucólicas”, comentou a crítica Catarina Ferreira na edição on-line do Jornal de Notícias, da cidade do Porto, em 30 de abril de 2021. Em certa medida, o formato virtual de 131 OUT desdobra projetos anteriores do coletivo Il Cantiere, como aquele que resultou em 131 Urban Rendez-Vous, de 2018, que circulou pela Europa e ambicionava recriar uma nova forma de viver o espaço através do envolvimento direto e indireto do público no processo criativo, descrevendo um território e uma comunidade na sua dimensão contemporânea. O mundo ainda estava longe de conhecer as agruras da quarentena condicionada pela crise sanitária que até esta edição online especial da Bienal Sesc de Dança havia matado mais de 4,5 milhões de pessoas. Observação: estreado em abril de 2021 no Festival Dias da Dança (DDD), no Porto, dentro do eixo Corpo+Cidade, o trabalho é apresentado na Bienal em conjunto com Darktraces, de Joana Castro (Portugal). Il Cantiere, associação cultural fundada em Turim em 2000, é um coletivo artístico independente que atua no campo das artes performativas. Centra-se em ações para espaços teatrais e criações site specific para locais não convencionais que ligam a investigação coreográfica e sonora ao vídeo, à arte contemporânea e a diferentes práticas de teatro participativo. A direção artística é formada pela bailarina e coreógrafa Sara Marasso e pelo baixista, compositor e videomaker Stefano Risso. A equipe inclui a artista visual e dançarina Fenia Kotsopoulou e a produtora Giovanna Gosio.
Dance, music, urban space, or a ballerina, a musician and one always portentous contrabass impregnate streets, squares, monuments, and distinct landscapes of Lisbon and Turim. Therefore, three bodies clash in a space that recreates itself in every moment through this confrontation. It is a space where the instrument – and not they, the artists – end up asserting itself as the key element of a game where it is the true director. We follow a ludic relationship that is inserted in the everydayness, in the open air and searching for an impossible synchrony with 2,000 km distance and a time zone that separates the two cities where these three presences are apart. It’s an invitation to the audience to have a different look, unexpected and unpredictable of the outer space, the places in the cities, and human relations, both when close or apart. “The proper use of the public space with dance, having an object as the main character, creating unusual and bucolic urban landscapes,” said the critic Catarina Ferreira at the online edition of Jornal de Notícias, of Porto, on April 30, 2021. In a certain way, the virtual format of 131 OUT unfolds previous projects of the II Cantiere collective, like the one that resulted in 131 Urban Rendez-Vous of 2018, that moved around Europe aiming at recreating a new way of living the space through the direct and indirect engagement of the audience in the creative process, describing a territory and community in its contemporary dimension. The world was still far from knowing the hardship of the quarantine imposed by the health crisis that until this special online edition of Bienal Sesc de Dança had already killed more than 4,5 million people. Note: its debut was in April 2021 at the Festival Dias da Dança (DDD) in Porto (Portugal), within the Body+City axis. The work is presented in this biennial together with Darktraces by Joana Castro (Portugal). Il Cantiere, a cultural association, founded in Turim in 2000, is an independent artist collective that works in the field of performing arts. It focuses on the actions for theatrical spaces and site-specific creations for non-conventional sites that connect the choreographic and sound investigation to video, contemporary art, and the different practices of the participative theater. The art direction is in the hands of the ballet dancer and choreographer Sara Marasso and the bassist, composer and videomaker Stefano Risso. The team includes the visual artist and dancer Fenia Kotsopoulou and the producer Giovanna Gosio.
19
20
Abismo [Abyss] 99 Art Company Coreia do Sul [South Korea]
30 min | Livre [All ages] www.99artcompany.modoo.at 99artcompany 99art.hall Ninety9ArtCompany
Diretora executiva, diretora de arte e coreógrafa [Executive director, art director and choreographer]: Hyerim Jang; Dançarinas [Dancers]: Hyerim Jang, Jang Seo-yi, Kim Dan-woo, Rhee Min-joo, Sohn Ga-bin, Yeon Eun-joo e Yoo Hyun-jeong; Vocal: Seo Jin-sil; Direção musical [Musical direction]: Leem Young-jo; Percussão [Percussion]: Choi Shin-kwon; Violino [Violin]: Han A-in; Luz [Lighting]: Kim Geonyeong; Cenário [Scenario]: Kim Jong-suk; Texto [Text]: Lee Joo-hee; Figurino [Costume]: Sung Hye-yul; Música [Music]: Jonsi & Alex ‘Howl’; Apoio [Support]: Centro Cultural Coreano no Brasil (CCCB), KOFICE e Traveling Korean Arts
A diretora artística e cofundadora da 99 Art Company, Hyerim Jang, valoriza a intensidade do gesto, do olhar e do pensamento de quem pisa no palco. “Eu acredito na força interior dos seres humanos. E por meio desse poder é possível alcançar muito quando se dirige de forma positiva. E isso, claro, não se limita às mulheres, mas a todos os seres humanos”, considera a sul-coreana que, em sete anos de atividade, tem seu trabalho exibido pela primeira vez no Brasil. “Quando coreografei Abismo pela primeira vez, em 2016, pensei que o poder seria transmitido de forma mais intensa com um corpo feminino. Além da realidade que enfrentamos, eu queria compartilhar o significado de estar verdadeiramente vivo por meio dos gestos das dançarinas.” Para tanto, a coreógrafa é adepta da máxima do empenho de 1% de inspiração e outros 99% de transpiração, mote para o nome da companhia com bússola apontada ao diálogo com a dança tradicional do país asiático. Seis das sete bailarinas trazem na mão direita, como se fosse um anel, uma dobradura de barco de papel que contribui para redimensionar o movimento delas, seja como coral, seja individualmente. Como extensão dessa proposta, busca-se manifestar a emoção do han, a sensibilidade por excelência, palavra usada para descrever ressentimento ou tristeza profundamente arraigados no mar da alma. Tudo acompanhado por música ao vivo, seja por meio do canto, seja por instrumentos de percussão e violino. Quando jovem, a artista, que também faz parte do elenco, era incentivada a cantar e a tocar instrumentos como extensão da prática da dança, e assim o fez. Sobre a inspiração para perseverar em sua arte, Hyerim Jang conta que “ela veio da curiosidade de que aproveitar o espaço dentro do corpo também pudesse ser uma dança. E logo senti que a mensagem através dos sons naturais de dentro do corpo de quem dança era muito forte”. 99 Art Company é uma organização que cria uma nova dança coreana, a qual conecta tradição e modernidade sob o lema de ‘’dança que ressoa com a alma’’. Com a diretora artística Hyerim Jang como elemento central, artistas de diversas áreas trabalham juntos para realizar belas atividades artísticas com 1% de inspiração e 99% de dedicação. Com uma consciência temática do valor ontológico humano, eles desejam compartilhar energia com muitos públicos por meio do trabalho de desenhar a história de nossas vidas através da dança. Seus principais trabalhos incluem ‘’ 숨 그네 / Breathing Swing’’ (2014), “심연 / Abyss’’ (2016), ‘’ 침묵 / Silence’’ (2016), ‘’Mark 7:34’’ (2018), ‘’ 장미의 땅 / The Land of Roses’’ (2018), “제(祭) / Ritual’’ (2019), ‘’제(祭) ll- 꿈 / Ritual 11 – Dream’’ (2021).
The art director and co-founder of 99 Art Company, Hyerim Jang, values the intensity of the gesture, look, and thoughts of those who get on the stage. “I believe in the inner strength of human beings, and it is by this power that it is possible to go further when we drive in a positive way. And, of course, this is not limited to women, but all human beings,” says the South Korean that in seven years of activity has her work exhibited for the first time in Brazil. “When I first choreographed Abyss in 2016, I thought that the power would be transmitted more intensively by a female body. Besides the reality we face, I wanted to share the meaning of being fully alive with the dancers’ gestures.” The choreographer is adept with the saying of 1% of inspiration and 99% of sweating, the motto for the company’s name with the compass pointed to the dialogue with the traditional dance of the Asian country. Six of the seven dancers bring in their right hand, as it was a ring, a boat paper folding that contributes to resizing their movements as a choral or individually. As an extension of this proposal, there is the attempt to manifest the han emotion, the sensitivity by excellence, a word used to describe resentment or sadness deeply rooted in the soul. All accompanied by live music, whether songs or percussion instruments and violin. When younger, the artist that is also part of the cast was encouraged to sing and play instruments as an extension of the dance, and so she did. About the inspiration to persevere in her art, Hyerim Jang says that “it came as a curiosity that using the space inside the body could also be a dance. And soon, I realized that the message through the natural sounds from inside the body of those who dance is really very strong.” 99 Art Company it is an organization that creates a new Korean dance that connects tradition and modernity under the motto “dance that resonates with the soul.” With the artistic director, Hyerim Jang, as the central element, artists from several areas work together to perform beautiful artistic activities with 1% of inspiration and 99% of dedication. With a thematic awareness of the human ontological value, they share vitality with many audiences by designing the story of our lives through dance. Their main works include: ‘’ 숨그 네 / Breathing Swing’’ (2014), ‘’ 심연 / Abyss’’ (2016), ‘’ 침 묵 / Silence’’ (2016), ‘’Mark 7:34’’ (2018), ‘’ 장미의 땅 / The Land of Roses’’ (2018), ‘’ 제(祭) / Ritual’’ (2019), ‘’ 제(祭) ll- 꿈 / Ritual 11 – Dream’’ (2021).
21
22
Bichos Soltos em Casa [Loose Bugs] FUTURA/Clarice Lima Brasil/SP [Brazil/SP]
23 min | Livre [All ages] www.claricelima.org futura________
Direção e coreografia [Direction and choreography]: Clarice Lima; Assistente de direção e coreografia [Assistant director and choreographer]: Aline Bonamin e Natália Mendonça; Criação e dança [Creation and dance]: Aline Bonamin, Clarice Lima, Marcela Costa e Patrícia Árabe; Figurino [Costume]: Onono – Ad Ferreira, Maria Elizabete Vasconcelos e Sirley Ferreira; Trilha sonora [Soundtrack]: Schubert – Sinfonia n° 3 & n° 5; Produção [Production]: FUTURA; Apoio [Support]: Publica e Lote
As quatro bailarinas que circulavam com suas criaturas fantásticas, em figurinos de cores fortes e esvoaçantes, desta vez estão se habituando com elas entre quatro paredes. Trocaram as praças e ruas por sala, cozinha, quarto, banheiro, escada, embaixo da mesa, em cima do sofá, nos cantos e nas brechas do ambiente doméstico. Esta dança para crianças de todas as idades foi criada antes da pandemia e agora é apresentada em formato de vídeo, transmitida da casa de cada intérprete. A diretora e a equipe reformularam as perguntas sobre a relação homem-natureza e potencializaram a meditação sobre o convívio, reconfigurando lógicas, padrões e regras sociais. Para Clarice Lima, artista cearense radicada em São Paulo há 12 anos, os bichos cênicos podem ser percebidos como agentes desestabilizadores, capazes de abrir janelas para utopias por meio de camadas ficcionais distintas e sobrepostas – seres que nunca foram vistos, já extintos e que ainda estão por vir. Em sua versão para interagir ao ar livre, em diálogo com a cidade, Bichos Soltos foi o segundo espetáculo de dança para crianças de Lima. Após conceber Supernada EP01, em 2018, ela quis explorar ainda mais as camadas fantásticas presentes nesse universo, bem como aprofundar sua pesquisa de movimento e espaço. A estreia se deu em 2019, no Circuito Sesc de Artes. A coreógrafa define FUTURA como a “casa” que movimenta a sua pesquisa, criação, produção e difusão em dança. Um contexto, uma plataforma, um grupo, um nome que imagina o quê, quando, onde ou como virá, aproximando artistas e juntando pessoas. Transita entre dança, performance e artes visuais; entre diferentes faixas de idade; entre mostras e festivais nacionais e internacionais. No seu dizer, “FUTURA é tudo que é presente e ainda não vemos”.
The four dancers who used to circulate with their fantastic creatures, in brightly colored and fluttering costumes, are this time getting used to them behind closed doors. They have exchanged the squares and streets for the living room, kitchen, bedroom, bathroom, stairs, under the table, on the sofa, in the corners and gaps of the home environment. This dance for children of all ages was created before the pandemic and is now presented in video format, broadcast from each performer’s home. The director and the team reworked the questions about the human-nature relationship and enhanced meditation on social interaction, reconfiguring logics, patterns, and social rules. For Clarice Lima, an artist from the State of Ceará who has lived in São Paulo for 12 years, scenic animals can be perceived as destabilizing agents, capable of opening windows to utopias through distinct and overlapping fictional layers – beings that have never been seen, that are already extinct, and that are yet to come. In her version to interact outdoors, in dialogue with the city, Bichos Soltos ((Loose Animals) was Lima’s second dance performance for children. After designing Supernada EP01 (Supernothing EP01), in 2018, she wanted to further explore the fantastic layers present in this universe, as well as deepen her research of movement and space. The premiere took place in 2019, at Sesc Circuit of Arts. The choreographer defines FUTURA as the “home” that moves her research, creation, production and dissemination in dance. A context, a platform, a group, a name that imagines what, when, where or how it will come, bringing artists closer and bringing people together. She moves between dance, performance, and visual arts; between different age groups; between national and international shows and festivals. In her words, “FUTURA is everything that is present yet we don’t see it.”
Clarice Lima é coreógrafa e diretora cearense atuante na capital paulista. Sua produção artística conquistou visibilidades nacional e internacional. Formada pelo Colégio de Dança do Ceará, é bacharela em dança pela Amsterdam School of Arts, na Holanda. Dançou com Andréa Bardawil (CE), Cristian Duarte/LOTE (SP) e Jan Fabre/Troubleyn (Bélgica). Transita pelas linguagens da dança, da performance e das artes visuais.
Clarice Lima is a choreographer and director from Ceará, who works in São Paulo. Her artistic production has gained national and international visibility. With a degree from Colégio de Dança do Ceará, she holds a bachelor’s degree in dance from the Amsterdam School of Arts, in the Netherlands. She danced with Andréa Bardawil (CE), Cristian Duarte/LOTE (SP) and Jan Fabre/Troubleyn (Belgium). She transits through the languages of dance, performance and visual arts.
23
24
Buraco [Hole] Elisabete Finger Brasil/SP [Brazil/SP]
45 min | Livre [All ages] www.elisabetefinger.com elisabetefinger elisabete.finger
Direção e coreografia [Direction and choreography]: Elisabete Finger; Criação [Creation]: Cinira Macedo, Jamil Cardoso e Sandro Amaral; Elenco [Cast]: Cinira Macedo (ou Priscila Maia), Jamil Cardoso (ou Mariza Virgolino) e Sandro Amaral (ou Bernardo Stumpf); Assistência [Assistance]: Litó Walkey e Xenia Hauf; Materiais de cena e figurino [Stage materials and costume]: Elisabete Finger, Marion Montel e Marcelo Busato (construção) (construction); Luz [Lighting]: Fábia Regina e Yair Vardi; Produção [Production]: Cândida Monte/Wellington Guitti e Carolina Goulart; Coprodução [Co-production]: Festival Panorama de Dança (Rio de Janeiro), Pact Zollverein (Essen) e Uferstudios (Berlim); Apoio [Support]: Fundo Senatskanzlei Kulturelle Angelegenheiten (Alemanha); Prêmio Funarte Petrobras de Dança Klauss Vianna 2012 (Brasil); Prêmio Rumos Itaú Cultural Dança 2012-2013; Fabrik Potsdam e Pact Zollverein; Agradecimentos [Acknowledgments]: Ana Trincão, Barbara Friedrich, Danilo Viana, Eva Maria Hoerster, Gustavo Bitencourt, Jorge Alencar, Kerem Gelebek, Laila El-Jarad (Studio La Caminada, Berlim), Lena Sommer, Murilo Morégola, Neto Machado e Thiago Granato
As múltiplas formas de um cubo que não demora a se revelar mágico, de uma montanha de plástico que dá margem para a imaginação voar longe e de um túnel de tecido que lembra o cordão umbilical são alguns dos territórios atravessados pela expedição de três criadores e performers em torno da anatomia humana. No espetáculo de dança para crianças e adultos, tudo é furado e tudo fura, como gosta de ilustrar a diretora e coreógrafa Elisabete Finger. “Tudo é para atravessar, para sair ou entrar, para cair dentro, para permanecer, para desaparecer. Para olhar e ver do outro lado: preto, pele, verde, estampado, cabeludo. Buraco é uma aventura da matéria. Sem transição. Cabe um mundo”, diz ela. Há um elogio às simetrias entre movimentos e arranjos coreográficos. Um desejo manifesto de partilhar outras possíveis lógicas relacionais, abrindo-se a uma aventura sensível. Estão em jogo as possibilidades de ser e mover um corpo-matéria (carne, ossos, músculos, líquidos, cabelos…) em contato/colisão com outras matérias. “Nessa pesquisa com materiais costumo dizer que não trabalho com ‘objetos’, mas sim com ‘matérias’. Quando tratamos as coisas como ‘objetos’ nos separamos delas, pois para que elas possam existir como ‘objeto’ precisamos assumir a posição de ‘sujeito’. Objeto remete também ao valor de uso de uma coisa pelo respectivo sujeito. E as coisas aqui não importam pelo seu valor de uso, mas pelas suas características como matéria (textura, peso, volume, cheiro, temperatura)”, elabora Finger. “Gosto de pensar que, ao menos por alguns momentos, podemos deixar nossa posição antropocêntrica e assumir que somos também matéria e coisa, e vivemos neste mundo uma aventura entre outras matérias-coisas. Talvez essa mudança de posicionamento que começa na linguagem possa nos ajudar a encontrar outros modelos de relação com o que está no mundo, mais responsáveis, mais criativos, mais ecológicos.” Elisabete Finger é coreógrafa e performer. Fez parte da Formação Essais, no Centre National de Danse Contemporaine d’Angers (França), e do Programa SODA – Solo/Dance/Authorship, e tem mestrado em dança pela HZT/UdK (Alemanha). Seus trabalhos perseguem uma lógica de sensações e um estado de encantamento da matéria. Transita em diferentes contextos, como dança, performance e artes visuais.
The multiple forms of a cube that soon turns out to be magical, of a plastic mountain that allows the imagination to fly far and wide, and of a fabric tunnel that resembles the umbilical cord are some of the territories crossed by the expedition of three creators and performers around the human anatomy. In the dance performance for children and adults, everything is pierced and everything pierces, as director and choreographer Elisabete Finger likes to illustrate. “Everything is meant to cross, to come out or go in, to fall in, to remain, to disappear. To look and see on the other side: black, skin, green, patterned, hairy. Hole is an adventure of matter. Without transition. A world fits,” she says. There is a compliment to symmetries between movements and choreographic arrangements. A clear desire to share other possible relational logics, opening up to a sensitive adventure. What is at stake are the possibilities of being and moving a material body (flesh, bones, muscles, liquids, hair...) in contact/collision with other matters. “In this research with materials, I usually say that I do not work with ‘objects’ but rather with ‘matters’. When we treat things as ‘objects’, we separate ourselves from them, because for them to exist as ‘objects’, we need to take the position of ‘subjects’. Object also refers to the use value of a thing by its subject. And things here do not matter for their use value, but for their characteristics as matter (texture, weight, volume, smell, temperature),” Finger explains. “I like to think that, at least for a few moments, we can leave our anthropocentric position and assume that we are also matter and thing, and we live in this world an adventure among other matter-things. Maybe this change of positioning that begins in language can help us find other models of relationship with what is in the world, more responsible, more creative, more ecological ones.” Elisabete Finger is a choreographer and performer. She was part of the Essais Training at Centre National de Danse Contemporaine d’Angers (France) and of the SODA – Solo/ Dance/Authorship Programme, and has a master’s degree in Dance from HZT/UdK (Germany). Her works pursue a logic of sensations and a state of enchantment of matter. She transits in different contexts, such as dance, performance and visual arts.
25
26
Conversa pra Boy Dormir [Pilow Talk for a Boy] Mexa + GRUA Brasil/SP [Brazil/SP]
50 min | 14 anos [14 years old] www.grupomexa.com.br www.grua.gr ogrupomexa ogrupoMEXA grua_gentlemen_de_rua gruagentlemenderua
Direção artística compartilhada [Shared artistic direction]: GRUA e Mexa; Direção GRUA [GRUA’s Direction]: Jorge Garcia, Osmar Zampieri e Willy Helm; Performers GRUA e Mexa [GRUA’s and Mexa’s performers]: Aivan Siqueira, Alessandro Lins dos Anjos, Alexandre Magno, Anita Silvia, Barbara Brito, Daniela Pinheiro, Dourado, Fernando Martins, Jerônimo Bittencourt, João Turchi, Jonatan Vasconcelos, Jorge Garcia, Laysa Elias, Lu Mugayar, Luiza Brunah, Patricia Borges, Roberto Alencar, Tatiane Dell Campobelo, Vinícius Francês e Willy Helm; Dramaturgia [Dramaturgy]: Rosa Hercoles; Câmera [Camera]: Osmar Zampieri; Ambientação sonora [Sound ambientation]: Fernando Martins; Direção de corte [Cut direction]: Mariana Sucupira; Figurino e acessórios [Costume and accessories]: João Pimenta (GRUA) e acervo do grupo (Mexa); Produção [Production]: Corpo Rastreado; Produção do Grupo Mexa [Mexa’s group Production]: Lu Mugayar
Antes de tudo, uma conversa. Como em todo diálogo, há sempre algo que se perde daquilo que é comunicado. Em uma conversa do tipo dialógico, a busca não é por um discurso único, mas, sim, por um terreno comum em que trocas possíveis possam ocorrer. Nesta intervenção, Mexa e GRUA tentam, em plano-sequência, estabelecer uma conversa entre palavra e movimento. Conversa pra Boy Dormir é, também, uma carta. Uma carta de amor, uma canção, uma ficção, uma ação permeada pela ausência e pela transitoriedade dos encontros. Tem algo que sempre se perde... Mas como conversar em outra língua? E, ainda assim, não deixar de ser uma conversa? Como relacionar as singularidades durante o contínuo do falar-ouvir-silenciar? Os grupos realizaram três semanas de residências em que artistas de cada um dos coletivos se conheciam em cena e decidiam, ao vivo, suas ações. A partir desse contato, pontes foram criadas e distâncias percebidas. Nesta intervenção, se disponibilizam para mais um encontro. Partindo das próprias linguagens (dança e performance), ambos se perguntaram como foram atravessados, que afetos compartilharam, o que ainda não entendem e como podem, agora, conversar. O percurso desenhado pela câmera operada por Osmar Zampieri através dos espaços se estabelece de forma planejada e roteirizada, porém as ações seguem a lógica da composição cênica ao vivo. Para tanto, há sempre uma ambiência, uma sonoridade constante produzida a partir da sonoplastia de Fernando Martins e de falas, cantos e sons. “Sem dúvida, as questões relacionadas ao gênero são naturalmente tocadas e friccionadas ao estabelecermos um diálogo artístico, criativo e humano entre pessoas que representam posições que se antagonizam, ao menos nas imagens de suas figuras”, reconhecem os grupos. “Mas independentemente do contexto dramatúrgico da performance, essa questão não é o assunto focal. Nos debruçamos, sim, em responder à pergunta: Qual é o diálogo possível a partir de realidades tão distintas, tendo a rua ou o espaço público como ponte?”
First of all, a conversation. As in any dialogue, there is always something that is lost from what is communicated. In a dialogic type of conversation, the search is not for a single discourse, but rather for a common ground where possible exchanges can occur. In this intervention, Mexa and GRUA try, in a sequence shot, to establish a conversation between word and movement. Conversa pra Boy Dormir (Cock-and-bull story) is, also, a letter. A love letter, a song, a fiction, an action permeated by absence and by the transience of encounters. There is something that always gets lost... But how can you talk in another language? And yet not ceasing to be a conversation? How can you relate the singularities during the speaking-listening-silencing continuum? The groups held three weeks of residencies in which artists from each of the collectives met on stage and decided their actions live. From this contact, bridges were created and distances perceived. In this intervention, they are available for one more encounter. Using their own languages (dance and performance), both groups asked themselves how they were crossed, what affections they shared, what they still don’t understand and how they can now talk to each other. The route drawn by the camera operated by Osmar Zampieri through the spaces is established in a planned and scripted way; however, the actions follow the logic of live scenic composition. Therefore, there is always an ambience, a constant sounding produced from Fernando Martins’ sound effects and from the lines, songs, and sounds. “Undoubtedly, gender-related issues are naturally touched and rubbed off as we establish an artistic, creative, and human dialogue between people who represent opposing positions, at least in the images of their figures,” the groups recognize. “But regardless of the dramaturgical context of the performance, this question is not the focal issue. Rather, we focus on answering the question: What dialogue is possible from such different realities, with the street or public space as a bridge?”
GRUA – Gentleman de Rua é um grupo que, desde 2002, desbrava o encontro entre dança e espaços urbanos em um jogo de improviso entre os intérpretes e os fluxos dos locais onde atuam. Dirigido por Jorge Garcia, Willy Helm e Osmar Zampieri, traz em seu nome e proposta um pensamento sobre a relação com a cidade: homens gentis observam acontecimentos em seu entorno através de suas ações, criando uma dança torrencial feita de nexos de conexão com o lugar.
GRUA – Gentleman de Rua is a group that, since 2002, has been exploring the encounter between dance and urban spaces in an improvised game between the performers and the flow of the places where they perform. Directed by Jorge Garcia, Willy Helm and Osmar Zampieri, it brings in its name and proposes a thought about the relationship with the city: gentle men watch events in their surroundings through their actions, creating a torrential dance made of nexuses of connection with the place.
Mexa surge em 2015 após episódios de violência em alguns centros de acolhida de São Paulo. O grupo realiza ações que transitam entre a arte e a política, assumindo lugares de fala e de falha de conceitos que procuram enquadrar corpos e estéticas. É formado por membros da comunidade LGBTT que, a partir de derivas, performances, escritas e protestos, criam obras limítrofes, que não se encaixam em categorias precisas. O coletivo integra a Casa do Povo.
Mexa emerged in 2015 after episodes of violence in some shelters in São Paulo. The group performs actions that transit between arts and politics, taking over the speech and failure of concepts that seek to frame bodies and aesthetics. It is comprised of members of the LGBTT community who, from drifts, performances, writings and protests, create borderline works, which do not fit into precise categories. The collective is part of Casa do Povo.
27
28
Darktraces Joana Castro Portugal
25 min | 12 anos [12 years old] www.joanacastrofficial.blogspot.com joana_cst/
Concepção e direção artística [Realization and artistic direction]: Joana Castro; [Performers]: Ana Rita Xavier, André Mendes, Maurícia Neves e Thamiris Carvalho; Figurinos e caracterização [Costumes and characterization]: Joana Castro (a partir de figurino e caracterização de Silvana Ivaldi em RITE OF DECAY); Realização [Achievement]: Joana Castro e Miguel De; Edição de vídeo [Video edition]: Miguel De; Som [Sound]: Joana Castro; Operação de câmera [Camera Operation]: a-tundra; Apoio à criação e residências artísticas [Support for creation and artistics residencies]: Reitoria da Universidade do Porto, Visões Úteis e Maus Hábitos; Bolsa de criação [Creative Scholarship]: Balleteatro; Agradecimentos [Acknowledgments]: Daniel Pires; Apoio Institucional do DDD – Festival Dias da Dança (Portugal)
*A apresentação deste espetáculo contou com o Apoio Institucional do DDD – Festival Dias da Dança (Portugal)
Desde 2009, a diretora artística e coreógrafa portuguesa Joana Castro lida com a morte na vida pessoal de uma forma muito próxima e constante, e inevitavelmente ideias como o luto, a decadência, a destruição, a falha e os rituais de fim têm atravessado as suas criações. Este projeto parte do negro enquanto matéria-prima. A escuridão como fonte, que deu origem a tudo. Como um manto que nos cobre, como leito e regeneração. O negro como potência transformadora, de um espaço que não só absorve, mas que também se abre à luz. Entre o espanto e o adormecimento, os corpos são matéria e memória, presenças fantasmagóricas que deambulam entre evocações e assombros, risos e choros, erotismos e violências, numa evasão constante de si próprios. A morte não é estanque, antes mutável. Cada matéria se transforma, encontrando um novo início no seu fim. A dança, como a vida, é efêmera. Mas Darktraces intenta a eternidade, numa suspensão de uma inspiração, na repetição de movimentos ou permanência em estados. E no fim, o que permanece? “Não é uma performance, nem o registro desta, não é um filme nem videodança, mas um objeto híbrido e independente que se foi transformando à medida que a impossibilidade de apresentar fisicamente os objetos se tornou uma realidade cada vez mais presente”, situa Joana. Um lugar do absurdo, onde as mutações de estados e movimentos nos deslocam para outras percepções, repletas de assombrações que existem dentro e fora de nós, de medos e questões existenciais que nos compõem. Em seus processos criativos, ela diz explorar “as infinitas possibilidades do corpo enquanto objeto performativo, que desafia as normas, os limites, e que traz consigo linguagens, discursos sempre individuais, num determinado contexto, mas que se pretendem também globais, políticos e artísticos”. Observação: estreado em abril de 2021 no Festival Dias da Dança (DDD), no Porto (Portugal), dentro do eixo Corpo+Cidade, o trabalho é apresentado nesta bienal em conjunto com 131 OUT, de Sara Marasso e Stefano Risso (Portugal/Itália). Joana Castro desenvolve o seu trabalho entre a dança, a performance e o som, tendo apresentado algumas de suas obras em Portugal, na França, na Bélgica e na Alemanha. Iniciou os estudos no curso do Balleteatro Escola Profissional em 2003; cursou o Programa de Estudo, Pesquisa e Criação Coreográfica (PEPCC) no Fórum Dança, em 2008; foi bolsista do NEC em 2009; participou do DanceWeb Schoolarship Programme do Festival ImPulsTanz, em Viena, em 2003; e frequentou a pós-graduação de especialização em performance na Faculdade de Belas Artes do Porto, entre 2016 e 2017. É artista-associada do Visões Úteis.
Since 2009, the Portuguese art director and choreographer Joana Castro deals with death in her personal life in a very close and constant way, and inevitably ideas such as grief, decadence, destruction, failures, and the rituals of an end have interwoven her creations. This project uses black as raw material. The darkness as the source that gave origin to everything. As a mantle covering us as a bed and regeneration. The black as transformational power, of a space that not only absorbs but also opens at light. Amidst bewilderment and numbness, the bodies are matter and memory, ghostly presences that walk among evocations and haunts, laughs and cries, eroticism and violence, in a constant escape from themselves. Death is not stagnant but mutable. Each matter transforms itself, finding a new beginning in its end. Dance, like life, is ephemerous. But Darktraces aims at eternity, in the suspension of inspiration, in the repetition of movements or permanence in states. In the end, what remains? “It’s not a performance, neither its register; it’s not a movie or video dance, but a hybrid and independent object that went through a transformation while the impossibility of physically presenting the objects became an increasingly present reality.” A place of absurd, where the mutation of the states and movements takes us to other perceptions, full of haunts that exist inside and outside us, of fears and existential issues that make us up. In her creative processes, she states exploring “the infinite possibilities of the body as a performance object that challenges the standards, limits, bringing with it languages and discourses, always individual, in a certain context, but that also intend to be global, political and artistic.” Note: its debut was in April 2021 at the Festival Dias da Dança (DDD) in Porto (Portugal), within the Body+City axis. The work is presented in this biennial together with 131 OUT, with Sara Marasso and Stefano Risso (Portugal/Italy). Joana Castro develops her work among dance, performance, and sound. She presented some of her works in Portugal, France, Belgium, and Germany. She started her studies at the Balleteatro Escola Profissional in 2003. She attended the Study Program, Research and Choreography Creation (PEPCC) at the Dance Forum in 2008. She was a fellow student at NEC in 2009; participated in the DanceWeb Scholarship Programme of the ImPulsTanz Festival, in Vienna, in 2003; and attended the post-graduation course in performance at the Fine Arts School of the University of Porto in 2016 and 2017. She is an associate-artist of Visões Úteis.
29
30
Delirar o Racial [Rave the Racial] Davi Pontes e Wallace Ferreira Brasil/RJ [Brazil/RJ]
36 min | Livre [All ages] davipontttes patfudyda
Direção [Direction]: Davi Pontes e Wallace Ferreira; Câmera e edição [Camera and edition]: Matheus Freitas; Trilha musical e sound design [Soundtrack and sound design]: PODESERDESLIGADO; Voz [Voice]: Davi Pontes; 3D: Gabriel Junqueira; Direção de arte e luz [Art and lighting direction]: Iagor Peres; Styling: Iah Bahia; Som direto [Direct sound]: Nuno Q Ramalho; Produção de set [Set production]: Idra Maria Mamba Negra; Apoio de set [Set support]: Gabe Arnaudin; Agradecimentos [Acknowledgments]: Victor Gorgulho; Apoio [Support]: Obra comissionada pelo Programa Pivô Satélite, 2021
E se o pensamento desse um passo atrás e navegasse sem a ideia de localização? E se pudéssemos pensar em uma coreografia fora da flecha do tempo? Perguntas assim instigam a dupla de artistas a buscar por “uma imagem para pensarmos espacialidade sem as ficções formais de espaço e tempo”. Em edição audiovisual exclusiva para esta Bienal de Dança, a performance de Davi Pontes e Wallace Ferreira anula as convenções de duração e extensão. A obra experimental se propõe a elaborar a diferença sem a chamada separabilidade. A ideia é dar corpo ao pensamento da artista visual e filósofa fluminense Denise Ferreira da Silva ao imaginar um filme “sem o fantasma da linearidade”. Para tanto, ambos recorrem a procedimentos utilizados desde o início da parceria em dança, em 2018: “Uma série de ações que lidam com a incerteza, a desordem e o provisório para pensarmos em uma ética fora do tempo para vidas negras”. A luz do dia que invade frestas e janelas de um galpão onde acontece a ação e a paisagem sonora acentuam o caráter sensorial da criação que intercala reflexões em voz off de Pontes. Em Delirar o Racial, o universo orientado pelo princípio da não localidade, o deslocamento e a relação não descrevem o que acontece, porque todas as partículas estão implicadas. A não localidade expõe uma realidade mais complexa na qual tudo possui uma existência atual e virtual. “A escolha do conectivo lógico bicondicional permite a retirada da determinação de ambos os lados desta equação”, explica a dupla. O filme foi originalmente realizado para a segunda edição do Pivô Satélite. A obra completa o projeto curatorial O Assombro dos Trópicos, desenvolvido por Victor Gorgulho, que pontua “os corpos insubordinados da prática performática” para a plataforma digital da associação cultural que lançou essa rede de apoio à comunidade artística brasileira.
What if thought took a step back and sailed away without the idea of location? What if we could think of a choreography outside the arrow of time? Questions like these instigate the duo of artists to search for “an image to think about spatiality without the formal fictions of space and time”. In an exclusive audiovisual edition for this Dance Biennial, Davi Pontes and Wallace Ferreira’s performance overturns the conventions of duration and extension. The experimental work proposes to develop the difference without the so-called separability. The idea is to give substance to the thinking of visual artist and philosopher from Rio de Janeiro, Denise Ferreira da Silva, when imagining a film “without the ghost of linearity”. To do so, they both turn to procedures used since the beginning of their dance partnership, in 2018: “A series of actions that deal with uncertainty, disorder, and the provisional to think about an ethics out of time for black lives.” The daylight invading the cracks and windows of a shed where the action takes place and the soundscape enhances the sensory character of the creation that intersperses reflections in Pontes’ voiceover. In Delirar o Racial (Rave the Racial), the universe guided by the principle of non-locality, shifting, and relationship does not describe what happens, because all particles are implied. Non-locality exposes a more complex reality in which everything has a current and virtual existence. “The choice of the biconditional logical connective allows the removal of determination from both sides of this equation,” the duo explains. The film was originally made for the second edition of Pivô Satélite. The work completes the curatorial project O Assombro dos Trópicos (The Haunting of the Tropics), developed by Victor Gorgulho, which highlights “the insubordinate bodies of performance practice” for the digital platform of the cultural association that began this support network for the Brazilian artistic community.
Davi Pontes é artista, coreógrafo e pesquisador. Formado em artes pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e mestrando no Programa de Pós-Graduação em Artes da mesma instituição. Estudou na Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo (Esmae), em Porto, Portugal.
Davi Pontes is an artist, choreographer and researcher. He has a degree in arts from Fluminense Federal University (Universidade Federal Fluminense) – UFF and is a student of a master’s degree in the Graduate Program of Arts at the same institution. He studied at Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo (Esmae), in Porto, Portugal.
Wallace Ferreira é artista da dança, performer e artista visual. Nascido em Vigário Geral, Rio de Janeiro, sua primeira referência artística surge na infância com sua família, em que todos dançam e constroem relações através do afeto e movimento. É graduando em dança pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Wallace Ferreira is a dance artist, performer and visual artist. Born in Vigário Geral, Rio de Janeiro, his first artistic reference comes from his childhood with his family, where everyone dances and builds relationships through affection and movement. He has a degree in dance from the Federal University of Rio de Janeiro (UFRJ).
31
32
Despacho Deferido [Deferred Jugdment] Jaqueline Elesbão Brasil/BA [Brazil/BA]
32 min | 18 anos [18 years old] www.picopreto.com.br/ despacho-deferido jackelesbao jack.elesbao
Direção, coreografia e interpretação [Director, choreography and performance]: Jaqueline Elesbão; Produção executiva [Executive production]: Nai Meneses; Produção e preparação corporal [Production and body preparation]: Anderson Gavião; Video mapping: Ani Haze; Assistente de VJ [VJ’s assistant]: Priscila Rodrigues; Direção musical [Musical direction]: EdBrass Brasil; Trilha sonora [Soundtrack]: EdBrass Brasil e Rafael Kalunga; Iluminador [Illuminator]: Moisés Victório; Figurino [Costume]: Jaqueline Elesbão; Confecção de figurino [Costume making]: Maria Belízia (Dona Bela); Gravação [Recording]: Ives Padilha e Priscila Rodrigues; Produção [Production]: Coletivo Pico Preto; Apoio [Support]: O projeto tem o apoio financeiro da Lei Emergencial Aldir Blanc, por meio do Prêmio Anselmo Serrat de Linguagens Artísticas, da Fundação Gregório de Mattos, Prefeitura Municipal de Salvador, com recursos oriundos da Secretaria Especial da Cultura, Ministério do Turismo, Governo Federal
Jogar capoeira com a projeção de si ao fundo ou circunscrever um duo com o instrumento atabaque, o tambor alto e afunilado seminal das tradições culturais afro-brasileiras, são emblemas do quanto o solo da coreógrafa e intérprete baiana se propõe a desestabilizar certezas sobre o corpo desejante e politizado quanto às demarcações antirracistas. Sob base percussiva pulsante de ponta a ponta, Jaqueline Elesbão estabelece uma analogia com o jogo e traz ao público, sobretudo às cidadãs e aos cidadãos negros, a experiência de se imaginar peça que fundamenta o sistema dominante que aí está, escancarando o racismo estrutural e denunciando o sexismo. A artista de collant branco fala em ampliar nossa ótica desobedecendo essa lógica, contrariando a rima e desbravando os medos que, ao cabo, são coletivos. Presente na cena de Salvador desde o final da década de 1990 e circulando nos últimos anos com Entrelinhas, a artista irradia o imaginário e as narrativas negras, a construção com “o outro” e consigo mesma, “além da compreensão da nossa ancestralidade, como um elo indispensável para o lugar que escolhermos afetar”. Elesbão diz perceber que sua pesquisa na dança é atravessada pelos seus prazeres. “Me dá muito prazer, mesmo na dor da lição, entender as estratégias desenvolvidas e tecidas a várias mãos para a construção do racismo. Isso me inspira e dá tesão para criar. É perceptível o reflexo deste estado de mente e corpo na cena”, afirma. Para a artista, não se trata apenas de reivindicação por justiça, e lá se vão 133 anos da abolição da escravatura no Brasil. “Sugiro tomada de poder e quebra do sistema. Deixo escuro o conhecimento da cumplicidade do judiciário brasileiro para toda a indignidade imposta à população negra deste país. E saber disso nos dá poder para jogar, desobedecer a lógica das jogadas nos dá prazer em aprofundar e se levar ao limite para manobrar as regras. É um ebó cênico afrofuturista.” Jaqueline Elesbão é mãe, negra, bailarina, drag king, produtora e ativista das questões femininas, étnicas e causas LGBTQIA+. Atua há mais de 17 anos junto a grupos de teatro, dança, companhias, projetos e montagens coreográficas nacionais e internacionais. Gestora do espaço cultural Casa Charriot, idealizadora e fundadora do Coletivo Pico Preto, da revista digital Pico Preto e de ações como a websérie Voz sem Medo e o solo Entrelinhas, a partir do qual busca o corpo-manifesto.
Playing capoeira with the projection of the self in the background or circumscribing a duo with the atabaque instrument, the tall and tapered drum, seminal of AfroBrazilian cultural traditions, are emblems of how much the solo of the choreographer and performer from Bahia intends to disrupt certainties about the desiring and politicized body regarding anti-racist demarcations. Under a percussive base pulsating from end to end, Jaqueline Elesbão sets an analogy with the game and brings to the audience, especially to black citizens, the experience of imagining themselves in the play that underlies the dominant system that is there, exposing structural racism and denouncing sexism. The artist in the white leotards talks about broadening our viewpoint by disobeying this logic, contradicting the rhyme and taming the fears that, after all, are collective. Present on the stage of Salvador since the late 1990s and going around in recent years with Entrelinhas, the artist radiates the black imagination and narratives, the construction with “the other” and with herself, “besides the understanding of our ancestry as an imperative bond to the place we choose to affect.” Elesbão says she realizes that her research in dance is crossed by her pleasures. “It gives me great pleasure, even in the pain of the lesson, to understand the strategies developed and woven by many hands for the construction of racism. This inspires me and turns me on to create. The reflection of this state of mind and body in the scene is noticeable,” she says. For the artist, it is not just a matter of claiming justice, and 133 years have passed since the abolition of slavery in Brazil. “I suggest taking on the power and breaking the system. I obscure the knowledge of the Brazilian judiciary complicity for all the indignity imposed on the black population of this country. And knowing this gives us power to play; disobeying the logic of the moves gives us pleasure in delving deeper and pushing ourselves to the limit to maneuver the rules. It is an Afrofuturistic performing ebó.” Jaqueline Elesbão is a mother, black, dancer, drag king, producer and activist for women’s, ethnic issues, and LGBTQIA+ causes. She has been working for over 17 years with national and international theater and dance groups, companies, projects and choreographic productions. Manager of the cultural space Casa Charriot, creator and founder of Coletivo Pico Preto, the digital magazine Pico Preto and of actions such as the webseries Voz sem Medo (Voice Without Fear) and the solo Entrelinhas (Between the lines), from which she seeks the body-manifest.
33
34
Devotees | N’oTro Corpo João Paulo Lima Brasil/CE [Brazil/CE]
Devotees 25 min | 14 anos [14 years old] N’oTro Corpo [In Another Body] 40 min | Livre [ All Ages] www.producaojplima.wixsite.com/jplima
Devotees | Concepção, criação e interpretação [Conception, creation, and interpretation]: João Paulo Lima; Música original [Original music]: Felipi Gifoni; Figurino [Costume]: Lucas Everdosa; Fotos [Photos]: Artur Luz; Apoio [Support]: Projeto Zona de Criação e Centro Cultural Porto Dragão N’otro Corpo [In Another Body] | Direção artística [Artistic direction]: Alda Pessoa; Concepção e interpretação [Conception and interpretation]: João Paulo Lima; Figurino [Costume]: Lídia dos Anjos; Adereço [Props]: Miguel Campelo; Música [Music]: Márcio Motor; Apoio [Support]: Bienal Internacional de Dança do Ceará e Centro Cultural Porto Dragão
O artista cearense conjuga dois trabalhos na programação. Devotees, na expressão inglesa, visita o lugar do devoteísmo (fetiche por pessoas amputadas) para compor e alinhavar o processo de criação. O movimento do coto, as muletas, a seminudez junto a adereços como máscara, lenços e jockstrap, peça íntima erótica, acompanham um corpo ao provocar no outro o desejo sobre si. Já N’otro Corpo é um ensaio sobre possibilidades. O que nos constitui sujeitos de nós mesmos e de nossos movimentos? Essa dança afirma reagir, resistir e empoderar. O olhar autoetnográfico de João Paulo Lima constrói um discurso sobre a história-memóriacorpo que aos 13 anos sofreu amputação do membro inferior direito. O que dizer de uma experiência que pode nascer do “corpo sem o sentido da falta”, como anota o escritor angolano Gonçalo M. Tavares? Variações lúdicas, grotescas e eróticas gravitam nas ideias do intérprete e da diretora Alda Pessoa ao invadir olhares para lançar perguntas: Que corpo temos? Que corpo podemos ter? As duas criações podem ser lidas como um díptico. “Meus processos de criação se conectam bastante, esses dois últimos solos nascem um do outro. Da última cena de N’oTro Corpo fui alimentando o que poderia ser um solo que intensificaria a ideia do desejo, do desejarse, como mote para Devotees. Não há dúvida que até mesmo os adereços já dialogam, como as máscaras e os coletes que remetem a fetiches”, considera Lima. Envolvido em pesquisas coreográficas desde 2005, Lima recém-lançou Viço Manco Voo (editora Substânsia), livro de poemas que tateia outras dissidências. “Minha escrita, principalmente nesse meu primeiro livro, foi intencionalmente para falar a partir de um eu-lírico que se confessa como um corpo-gay-def-nordestino-pardo. Dessas dissidências vou desfazendo o novelo e contando histórias em versos de corpos que não foram autorizados a contar suas memórias, suas descobertas e seus desejos. Cada poema expõe propositalmente um corpo que se movimenta e quer deslocar olhares.” João Paulo Lima é doutorando em dança pela Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa. Formado pelo curso técnico para intérpretes-criadores em dança contemporânea da Escola Porto Iracema das Artes (CE, 2012). Idealizador e produtor da Plataforma de Dança e Acessibilidade da Bienal Internacional de Dança do Ceará. Ministra disciplinas como pesquisa de corpo para cena e performance na Universidade Federal do Ceará (UFC).
The Ceará’s artist combines two works in the program. In the English expression, Devotees visit the place of devoteism (amputee fetish) to make up and outline the creation process. The movement of the stump, the crutches, the seminude together with the adornments such as masks, scarfs, and jockstrap, an erotic garment, follow the body to raise the desire on the other. N’oTro Corpo is an essay about possibilities. What makes us subjects of ourselves and our movements? This dance claims to react, resist and empower. João Paulo’s autoethnographic look builds a discourse about history-memory-body that at the age of 13 had the right lower limb amputated. What to say of an experience born from “a body without a sense of lack,” as the Angolan writer Gonçalo M. Tavares states? Ludic, grotesque, and erotic variations gravitate in the interpreter and the director Alda Pessoa’s ideas, invading looks to prose questions: What body do we have? What body can we have? Both creations can be read as a diptych. “My creation processes are closely connected. These two last solos are born one from the other. From the last scene of N’oTro Corpo, I nourished what could be a solo that would intensify the idea of desire, desiring your own self, as a motto for Devotees. There is no doubt that even the adornments dialogue, as well as the masks and the vests that refer to fetishes”, says Lima. Engaged in choreographic research since 2005, Lima has just launched Viço Manco Voo (Substância publishing house), a book of poems that gropes other dissidence. “My writing, especially in this my first book, was intended to speak about my lyric-self that confesses to being a gay-disabled-northeast-brown body. I undo the hank and tell stories in verses of bodies that have not been allowed to tell their memories, discoveries, and desires from this dissidence. Each poem willfully exposes a body that moves, wanting to displace looks.” João Paulo Lima is a doctoral student in dance at the School of Human Kinetics at the University of Lisbon. Graduated from the vocational course to interpreters-creators in contemporary dance at the Porto Iracema School of Arts (CE, 2012) Creator and producer of the Dance and Accessibility Platform of the International Biennial of Dance of Ceará. He teaches disciplines such as body research to scene and performance at the Federal University of Ceará (UFC).
35
36
este corpo é tão impermanente… [this body is so impermanent…] Peter Sellars EUA [USA]
78 min | Livre [All ages]
Uma produção de The Boethius Initiative na UCLA e Fisher Center em Bard [A production of The Boethius Initiative (UCLA) and Fisher Center (Bard)]. Diretor [Director]: Peter Sellars; Produtores executivos [Executive Producers]: Peter Sellars, Gideon Lester e Diane J. Malecki; Produtores [Producers]: Julia Carnahan, ChengSim Lim, Caleb Hammons, Susan Pertel Jain, Jason Silverman e Cathy Teixeira; Elenco [Cast]: Wang Dongling, Michael Schumacher e Ganavya Doraiswamy; Diretor de fotografia (Hangzhou) [Phography director (Hangzhou)]: Yu Lik-wai; Fotografia segunda unidade (Portland) [Second unit Photography (Portland)]: Just Joondeph Hoffer; Designer de som [Sound designer]: Shahrokh Yadegari; Editor [Publisher]: Tim Squyres Sutra Vimalakirti | Tradução em inglês [English translation]: Robert Thurman; Tradução em chinês [Chinese translation]: Kumarajiva; Tradução em português [Portuguese translation]: Fernanda Mello; Apoio [Support]: June e Simon Li; The J. Paul Getty Trust; Burroughs Wellcome Fund; The Fisher Center Artistic Innovation Fund, com o apoio principal de Rebecca Gold Barbara e Sven Huseby; University of Kentucky International Center; Asia Society – Center on U.S. – China Relations; Fundação Thendara; Carol e Harvey Berman; Arquivo de Cinema e Televisão da UCLA; Agradecimentos especiais [Special thanks for]: Wang Dongling Ink Studio; Articulação no Brasil [Connection in Brazil]: prod.art.br (Ricardo Muniz Fernandes e Ricardo Frayha); Legendagem [Subtitling]: Rodrigo Gava
O Vimalakirti Sutra, texto budista do primeiro século da Era Comum, entende qualquer enfermidade como um caminho para o despertar espiritual. A figura central na narrativa é um empresário que, doente, se dirige aos semelhantes desde o leito. Seus ensinamentos surpreendem por não temer a morte e encarar a vida sem ilusões. Interseções da arte e da medicina – no rastro das mudanças de paradigma que afetam a humanidade desde 2020 – impulsionaram a cantora Ganavya Doraiswamy, o dançarino de improvisação Michael Schumacher, o calígrafo Wang Dongling e o encenador Peter Sellars a criar uma meditação simultânea que explora duas páginas dessa escrita visionária e icônica. A colaboração em ciberespaço desde China, Estados Unidos e Europa, portanto em distintos fusos horários, entrelaçou três formas de arte como um filme feito em tempo real. O texto contrasta o corpo que é impermanente, que está fadado a ser quebrado e destruído, com o corpo da realidade, formado por todas as nossas boas ações, sabedoria, generosidade, amor, paciência, moralidade, transcendência, bondade compartilhada e coragem. Assim, este corpo é tão impermanente… ambiciona tornar-se um memorial de sofrimento compartilhado e uma mensagem de beleza e esperança. “O bem-estar é cada vez mais reconhecido como um estado holístico com complexas dimensões médicas, psicológicas e espirituais. Nossos corpos são organismos delicados que experimentam, comunicam e expressam realidades em camadas múltiplas. Considerações morais e éticas, um senso de justiça, equilíbrio social e político e um propósito de vida profundamente arraigado são essenciais para a capacidade dos seres humanos de funcionar e florescer”, constata Sellars. “O papel das artes é criar uma série de marcas próximas a esse marcador, que podem memorizar e comemorar esse momento no tempo, e também oferecer uma janela de reconhecimento, compreensão e empatia.” Peter Sellars ganhou renome internacional por suas interpretações inovadoras e transformadoras de obras-primas, criadas em colaboração com uma gama de artistas. Seus trabalhos exploram questões que conectam o contemporâneo e o atemporal, com uma compreensão do poder da arte como meio de ação social e expressão moral. Ele encenou tragédias, dramas e oratórios na ópera e no teatro, além de ter assinado direções no cinema.
The Vimalakirti Sutra, a Buddhist text from the first century of the Common Era, understands any illness as a path to spiritual awakening. The central figure in the narrative is a businessman who, ill, addresses his peers from his bed. His teachings are surprising for not fearing death and facing life without illusions. Intersections of art and medicine – in the wake of the paradigm shifts affecting humanity since 2020 – drove singer Ganavya Doraiswamy, improv dancer Michael Schumacher, calligrapher Wang Dongling, and director Peter Sellars to create a simultaneous meditation that explores two pages of this visionary and iconic writing. The collaboration in cyberspace from China, the United States, and Europe, therefore in different time zones, intertwined three art forms as a film made in real-time. The text contrasts the impermanent body, that is bound to be broken and destroyed, with the body of reality, made up of all our good deeds, wisdom, generosity, love, patience, morality, transcendence, shared goodness, and courage. Thus, this body is so impermanent... it aspires to become a memorial of shared suffering and a message of beauty and hope. “Well-being is increasingly recognized as a holistic state with complex medical, psychological and spiritual dimensions. Our bodies are delicate organisms that experience, communicate, and express multi-layered realities. Moral and ethical considerations, a sense of justice, social and political balance, and a deeply rooted purpose in life are essential to human beings’ ability to function and flourish,” Sellars says. “The role of the arts is to create a series of marks near that marker, which can memorize and celebrate that moment in time, and also provide a window of recognition, understanding, and empathy.” Peter Sellars became internationally renowned for his innovative and transformative interpretations of masterpieces, created in collaboration with a range of artists. His works explore issues that connect the contemporary and the timeless, with an understanding of the power of art as a means of social action and moral expression. He has staged tragedies, dramas, and oratorios in opera and theater, as well as been a film director.
37
38
Goldfish Alexandre Américo Brasil/RN [Brazil/RN]
38 min | Livre [All ages] www.alexandreamerico.com alexandreamericooficial
Dança, direção e roteiro [Dance, direction and script]: Alexandre Américo; Música [Music]: Oliver Ortiz; Assistência de palco [Stage assistence]: Ana Vieira; Figurino [Costume]: Alexandre Américo; Iluminação [Lighting]: Anderson Galdino; Câmera de laboratório [Lab camera]: Gustavo Letruta; Edição e montagem de vídeo [Video editing and montage]: Samuel Oliveira; Arte gráfica [Graphic arts]: Yan Soares; Fotos de divulgação [Publicity photos]: Brunno Martins; Câmera caseira [Home camera]: Rodrigo Lacaz; Câmera aérea e subaquática [Aerial and underwater camera]: Igor Silva; Operação de câmera ao vivo [Live camera operation]: Mylena Sousa; Produção [Production]: Celso Filho (Listo Produções); Assessoria de imprensa [Press office]: Rosa Moura
Uma imagem de 2016 ocupa o imaginário do dançarino até hoje. O sangue na calçada, o cheiro forte e o “mar de peixes” dissecados o fizeram estancar enquanto caminhava pelas ruas do bairro da Ribeira, na capital potiguar. “Aquela imagem me pegou”, lembra Alexandre Américo, que se viu pensando sobre a humanidade e outros seres vivos. “Por que eu não senti nenhuma compaixão pelo massacre de peixes?” Esse questionamento é uma das escamas do filme misto de live solo, norteado pelo sentimento e postura de solitude, condição de isolamento voluntário e positivo a contrastar com o advento do chamado distanciamento social imposto pela pandemia. O artista e pesquisador de dança faz da casa um aquário de captações de arquivo que entrelaçam experiências estéticas em tempos e formatos distintos. Há registros de práticas de 2018, ensaios de 2020 e tomadas subaquáticas deste ano, em que a câmera assume o olhar subjetivo. Ao público, é proposto um mergulho cênico em que não esteja lúcida a relação espaço-temporal daquele que poderia ser um peixe dourado, possível merecedor de acolhimento. Instigado a pensar sobre os períodos prévios e atuais da pandemia, levando em conta a transição da obra e o corpo e seus graus de liberdade, Américo disse “encontrar um jeito outro de estar vivo, de aprender fazendo o próprio contexto”. Para ele, criar esta versão foi como fazer um mergulho profundo, nadar contra uma correnteza que tampouco tem direção certa. “Ser o Goldfish, neste momento, é afirmar uma história preta, periférica, pobre, LGBTQIA+, epilética, nordestina e brasileira de uma carne que se faz fora da curva. É ser em dança gestando um futuro possível, desejando e fabulando (como uma ação político-corporal); uma humanidade capaz de admitir a diversidade e abraçar um sistema de cooperação como o coração de nosso comportamento”, reivindica. “Afinal, somos seres biossociais: o individualismo não basta.” Alexandre Américo é artista e pesquisador da dança com licenciatura em dança e mestrado pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas (PPGArC), ambos pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Hoje é atuante na área da investigação em arte contemporânea, com enfoque em estruturas performativas e seus desdobramentos dramatúrgicos. Ex-aluno especial de doutorado em estudos da mídia, pela UFRN, e diretor artístico da Cia. Gira Dança (Natal, RN).
There is one image that is still lodged in the dancer’s imaginary. The blood on the sidewalk, the pungent smell, and the “sea of dissected fishes” made him halt while walking the streets of the Ribeira neighborhood in the city of Natal. “That image caught me,” says Alexandre Américo, who found himself thinking about humanity and other living beings. “Why didn’t I feel any compassion for the fish massacre?” This questioning is one of the scales of the live solo mixed movie, driven by the feeling and attitude of solitude, the condition of voluntary and positive isolation opposing the advent of the so-called social distancing imposed by the pandemics. The artist and dance researcher makes the house a file capture aquarium that intertwines esthetic experiences in different times and formats. There are records of practices in 2018, assays in 2020, and subaquatic shots in this year where the camera assumes a subjective look. The audience is invited to a scenic dive where the space-time relation of that who could be a Golden fish, and therefore deserving of welcome, is not clear. Instigated to think about the previous and actual pandemic period, considering the transition of the work and the body with its levels of freedom, Américo said, “finding another way of being alive, learning making my own context.” For him, creating this version was like taking a deep dive, swimming against a current that doesn’t have the right direction. “Being the Goldfish at this moment is to assert a black, peripheral, poor, LGBTQIA+, epileptic, Northeast and Brazilian history of an outlier body. It’s a dancing being, gestating a possible future, craving and fabling (as a political-body action). A humanity capable of admitting the diversity and embracing a system of cooperation as the heart of our behavior”, he states. “After all, we are all biosocial beings: individualism is not enough.” Alexandre Américo is an artist and dance researcher with a degree in dance and a master’s degree from the PostGraduation in Scenic Arts Program (PPGArC), both from the Federal University of Rio Grande do Norte (UFRN). Currently, he is an activist in the area of contemporary art investigation with a focus on performative structures and their dramaturgic unfolding. A special Ph.D. alumnus in media studies at UFRN and art director of the Cia. Gira Dança (Natal, RN).
39
40
IKU Núcleo Ajeum Brasil/SP [Brazil/SP]
45 min | Livre [All ages] www.nucleoajeum.com nucleoajeum nucleoajeum www.youtube.com/channel/ UCjGRkr-TGha7d9JmeEd9H3A
Direção, concepção e coreografia [Direction, realization and choreography]: Djalma Moura; Intérpretes-criadores [Performer-creators]: Aysha Nascimento, Djalma Moura, Erico Santos, Marina Souza, Sabrina Dias e Victor Almeida; Artistas residentes/estagiários [Resident artists/interns]: Eri Sá e Juliana Nascimento; Orientação de pesquisa [Research Orientation]: Bruno Garcia Onifadé; Direção musical [Musical direction]: Dani Nega; Colaboração sonora [Sound collaboration]: Pedro Bienemann; Figurino [Costume]: Eder Lopes e Núcleo Ajeum; Máscaras [Masks]: Daniel Normal, Erico Santos e Murilo de Paula; Projeto e operação de luz [Lighting design and operation]: Juliana Jesus; Práticas de corpo [Body pratices]: Bruno de Jesus, Djalma Moura, Lenny de Sousa, Letícia Tadros e Verônica Santos; Arte gráfica [Graphic arts]: Bruno Marciteli; Produção geral [General production]: Dafne Nascimento; Celebração e saudade [In memory and celebration]: Carol Zanola, Dona Carmelita Maria Dias, Dona Jandira, Dona Margarida, José do Nascimento, Maria Paulina Ferro, Núbia Sá Lima e Rosa Maria de Jesus
Como falar artisticamente da morte no contexto de um luto coletivo como o da pandemia? O Núcleo Ajeum, da periferia sul de São Paulo, parte do corpo negro, de sua cosmopercepção de mundo e do universo pluridimensional dos terreiros e seus afrossentidos para mostrar a etapa atual da pesquisa e criação do espetáculo IKU, orixá do panteão yorubá e palavra que significa morte. As culturas africana e afro-brasileira embasam o trabalho, que lança mão de uma leitura do conceito de necropolítica, conforme o pensador camaronês Achille Mbembe chamou o poder do Estado em decidir quem pode viver ou deve morrer em conjunturas de absoluta desigualdade na distribuição de renda, como a brasileira. Dessa forma, a “ikupolítica” – como o grupo se delineia poeticamente a partir dos escritos de Wanderson Flor do Nascimento – propõe que se possa sentir as ausências, questionar os motivos e suas estruturas, porém mantendo a possibilidade de celebrar esse ancestral que se foi, suas ações, sua existência, suas contribuições para o entorno social e a família. Uma comunidade é construída por centenas de acordos entre si. Acordos que operam na manutenção da vida, na pulsão existencial, nos prazeres e nas partilhas que possam gerar sentido. Não à toa, ajeum, palavra que dá nome ao grupo, significa “comer junto” em yorubá. O toque de Iku é um portal ambíguo que despeja desconfortos. Os ciclos nascimento, vida e passagem são a integração do vir a ser. Como um organismo vivo que se revitaliza e se transforma a cada movimento e as subjetividades que carrega. “Iku é a energia surpresa que cria rupturas na circulação do axé, puxando outras camadas de renovação. É um gozo que descarrega os excessos. É a possibilidade de ancestralizar”, explica a equipe de criadores. “A fuga da morte é o que temos em comum, mas Iku nos alcançará de uma forma ou de outra. O beijo de Iku é temido e a força desse temor é o que faz nossos corpos buscarem a revitalização das experiências comunitárias.” Núcleo Ajeum é formado por artistas que pesquisam em suas danças contemporâneas narrativas africanas e afro -brasileiras. Criado em 2014, inicialmente era conhecido como Núcleo Djalma Moura, fundador e diretor, e depois se permitiu o nome que traz o conceito de comer junto para refletir a prática coletiva. O núcleo tem se interessado nas transformações corporais e emocionais que espaços de celebração e resistência negra dão às incorporações, aos transes e ao corpo que ali se manifesta, numa conexão para as obras coreográficas.
How can we artistically talk about death in the context of collective grief as the pandemics? Núcleo Ajeum, from the outskirts of São Paulo, starts with the black body, from its cosmos perception of the pluridimensional world and the universe of the yards and their afro-senses to show the current stage of the survey and creation of the IKU show, “orixá do panteão yorubá” and word meaning death. Afro and Afro-Brazilian cultures back the work that resorts a reading of the necropolitics concept, as the Cameroonian philosopher Achille Mbembe called the power of the State to decide who can live or die in contexts of absolute inequality in income distribution, such as the Brazilian. Therefore, the “ikupolítica” – as the group is poetically designed from the Wanderson Flor do Nascimento writings – proposes that these absences should be felt, questioning the motives and their structures but keeping the possibility to celebrate this ancestral that is gone, their actions, existence, contributions to the social surrounding and family. A community is built from hundreds of mutual agreements. Agreements that operate in life’s maintenance, existential pulse, pleasures, and share that can provide a sense. It’s not by chance that ajeum, the word that group is named after, means “eating together” in Yorubá. Iku’s touch is an ambiguous portal that pours discomfort. Birth cycles, life, and passage are the integration of becoming, as a live organism that revitalizes, transforming itself at each step and the subjectivities it carries. “Iku is the surprising energy that creates ruptures in the circulation of axé, pulling other layers of renovation. It’s an enjoyment that discharges excesses. It’s the possibility to ancestralize”, explains the creators’ team. “Escaping death is what we have in common, but Iku will catch us, one way or another. Iku’s kiss is feared, and the strength of this fear is what makes our bodies to search for the revitalization of communitarian experiences.” Núcleo Ajeum is made of artists that in their contemporary dances, search for African and Afro-Brazilian narratives. Created in 2014, it was initially known as Núcleo Djalma Moura, founder and director, and then the name that brings the concept of eating together to reflect the collective practice was chosen. The Núcleo is interested in bodily and emotional transformations that spaces of black celebration and resistance give to incorporations, trances, and that body that manifests there, in a connection for the choreographic work.
41
42
Imalè Inú Ìyágba Adnã Ionara Brasil/SP [Brazil/SP]
25 min | Livre [All ages] www.sites.google.com/view/ imaleinuiyagba adna_ionara
Concepção, interpretação e criação [Conception, interpretation, and creation]: Adnã Ionara; Direção artística [Artistic direction]: Mariana Andraus; Direção de vídeo [Video direction]: Lígia Villaron; Provocação (assistência de direção) [Provocation (direction assistance)]: José Teixeira e Milena Pereira; Concepção musical [Musical conception]: Eduardo Scaramuzza, Graciela Soares e Tavinho Andrade; Execução de trilha sonora [Sound track execution]: Graciela Soares e Tavinho Andrade; Design e operação de luz [Lighting design and operation]: Milena Pereira; Operação de som [Operation in sound]: Yasmin Berzin; Fotografia [Photographs]: Leonardo Lin; Produção administrativa [Administrative production]: Teixos Dançantes Produções; Produção executiva [Executive production]: Adnã Ionara e Teixos Dançantes Produções; Assistente de produção [Production assistant]: Pedro Picelli; Apoio [Support]: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Departamento de Artes Corporais da Unicamp, Espaço Cultural NanoCirco, Ilê Iyá Omi Asé Oiyá Bocossun, Instituto de Artes da Unicamp e Programa de Pós-Graduação em Artes da Cena da Unicamp
A artista da dança se guia pelas mãos da escritora mineira Conceição Evaristo, a começar pelo conceito de “escrevivência”, a escrita nascida do cotidiano, das lembranças, da trajetória de vida da própria autora tensionada por uma experiência coletiva. Despontando jornadas escurecidas, Adnã Ionara narra uma dança que fortalece e dá movimento à raiz que se carrega. Na base da construção do espetáculo estão a bibliografia e as simbologias ligadas ao matriarcado mítico yorubano. O título de mesma origem abrange diferentes traduções e interpretações. Imalẹ̀ ecoa o sagrado: símbolo e local de perpetuação da ancestralidade. Inú, o interior, o íntimo ou as próprias vísceras, como o útero e o estômago. Já Ìyágbà significa mulher ancestral, matriarca. “O trabalho nasce enquanto femenagem (reconhecimento) aos laços maternos, uma espécie de discurso, lembrete (ou seria rememoração?) da força vital que nutre toda uma linhagem familiar: Ìyá, a Mãe”, pondera a intérprete-criadora que também soma rastros biográficos e memorialísticos. “Ao me lançar à travessia do tempo, mal sabia que era ele, o tempo, o sentenciador do meu corpo no mundo. Parafraseando Conceição Evaristo, aprendi foi de vó e de mãe que a dança é um dos muitos caminhos capazes de invocar e evocar os tempos: dançando eu determino e convoco passados e futuros possíveis sobre meu cordão umbilical. Devo tudo à Maria das Dores Alves, matriarca da minha família. Em 1954, minha avó foi a primeira mulher de Rio Claro (São Paulo) a cultuar as ancestralidades negras em terreiro. Tive o privilégio de nascer nas mãos dos guias, orixás e entidades. Tudo, absolutamente tudo que aprendi e vivi foi e passa pela casa de candomblé. O terreiro me forjou e eu sou forja do terreiro. Cresci assistindo ao jogo de corpo de minha mãe, aos quadris de minha avó, ao som dos atabaques, ao coro firme e empossado de minha tia, à roda e à festividade que bradavam a continuidade de nossa história”, conta Ionara. Adnã Ionara é pesquisadora e artista das artes do corpo. Graduada em dança e mestranda em arte da cena pela Unicamp, iniciou estudos na dança e outras linguagens quando criança no terreiro de sua avó. Sua pesquisa aborda as “danças de cordão umbilical”, uma tentativa de refletir as sabenças do corpo em movimento a partir das escrevivências de sua avó, considerando a mobilização de sua experiência e sua jornada mítica ancestral. Sua formação inclui balé clássico, jazz dance, dança contemporânea, educação somática, dança moderna e danças negras da diáspora, sobretudo técnicas de danças afro-brasileiras.
The dance artist is guided by the hands of the writer from Minas Gerais, Conceição Evaristo, starting with the concept of “escrevivência”, the writing that arises from daily life, from memories, from the author’s own life story tensioned by a collective experience. Unraveling darkened days, Adnã Ionara narrates a dance that strengthens and gives movement to the root that one carries. The bibliography and the symbols connected to the Yoruba’s mythical matriarchy are at the base of the performance construction. The title of the same origin covers different translations and interpretations. Imalé echoes the sacred: symbol and place of ancestry perpetuation. Inú, the inside, the intimacy, or the viscera themselves, such as the uterus and the stomach. Ìyágbà, on the other hand, means ancestral woman, matriarch. “The work is born as a tribute (recognition) of maternal bonds, a kind of discourse, a reminder (or would it be a remembrance?) of the vital force that nourishes an entire family line: Ìyá, the Mother,” says the performer-creator, who also adds her own biographical and memorial traces. “When I threw myself into the crossing of time, little did I know that time was the convicting ministry of my body in the world. To paraphrase Conceição Evaristo, I learned from my grandmother and my mother that dance is one of the many paths capable of invoking and evoking time: by dancing I determine and summon pasts and possible futures on my umbilical cord. I owe everything to Maria das Dores Alves, the matriarch of my family. In 1954, my grandmother was the first woman in Rio Claro (São Paulo) to worship her black ancestry in a Candomblé yard. I had the privilege of being born in the hands of the guides, orixás, and entities. Everything, absolutely everything I learned and experienced was and goes through the candomblé house. The yard forged me and I am the forging of the yard. I grew up watching my mother’s body game, my grandmother’s hips, the sound of the atabaques, my aunt’s firm and empowered chorus, the circle and the feast that shouted the continuity of our history,” says Ionara. Adnã Ionara is an artist and researcher of body arts. With a degree in dance and a student of a Master’s degree in performing arts at Unicamp, she started her studies in dance and other languages as a child in her grandmother’s candomblé yard (terreiro). Her research focuses on the “dances of umbilical cord”, an attempt to reflect the wisdom of the moving body based on her grandmother’s writings, considering the mobilization of her experience and her ancestral mythical journey. Her background includes classical ballet, jazz dance, contemporary dance, somatic education, modern dance and diaspora’s black dances, especially Afro-Brazilian dance techniques.
43
44
Matéria Escura [Dark Matter] Grupo Cena 11 Brasil/SC [Brazil/SC]
75 min | 16 anos [16 years old] www.cena11.com.br grupocena11ciadedanca
Criação, coreografia e performance [Creation, choreography and performance]: Alejandro Ahmed, Aline Blasius, Bianca Vieira, João Peralta, Karin Serafin, Kitty Katt, Luana Leite, Malu Rabelo e Natascha Zacheo; Operação e criações em vídeo e som [Operation and creations in sound and video]: Alejandro Ahmed e João Peralta; Direção técnica [Technical direction]: Grupo Cena 11; Interlocução para iluminação [Interlocution for lighting]: Irani Apolinário e Rafael Luiz Apolinário; Técnico de som e transmissão [Sound and broadcast technician]: Eduardo Serafin; Direção de produção [Production Direction]: Karin Serafin; Assistência de produção [Production assistance]: Malu Rabelo; Assistência de direção de movimento [Motion steering assistance]: Aline Blasius; Assistência cenotécnica [Cenotechnic assistance]: Adilso Machado; Equipe de produção, mídias sociais e projeto [Production, social media and project team]: Aline Blasius, Bianca Vieira, Kitty Katt, Luana Leite e Natascha Zacheo; Peças gráficas [Graphic pieces]: Luana Leite; Fotografias [Photographs]: Cristiano Prim e Karin Serafin; Tradução [Translation]: Kitty Katt; Preparação técnica [Technical preparation]: Alejandro Ahmed, Aline Blasius e Kitty Katt; Desenvolvimento técnico-artístico para Matéria Escura 2019-2020 e teaser para Futuro Fantasma 2020 [Technical-artistic development for Matéria Escura (Dark Matter) 2019-2020 e teaser para Futuro Fantasma (Future Ghost) 2020]: Hedra Rockenback; Criação e programação de objetos, instrumentos e mecanismos [Creation and programming of objects, instruments and mechanisms]: Diego de los Campos; Fúrias [Furies]: cinco estruturas feitas com galhos de árvores que, animadas por motores, vibram
se deslocando ruidosamente pelo chão [five structures made of tree branches that, animated by engines, vibrate and move noisily along the ground]; Água nervosa [Angry water]: uma válvula solenoide controlada por Arduino instalada na base de um recipiente de vidro faz uma gota cair sobre um captador de som [an Arduinocontrolled solenoid valve installed at the bottom of a glass container makes a drop fall onto a sound pickup]; Besta [Beast]: sintetizador feito com Arduino usando a biblioteca Mozzi, que tem cinco potenciômetros que regulam a frequência de dois osciladores, pitch, nota e ruído [synthesizer made with Arduino using the Mozzi library, which has five potentiometers that adjust the frequency of two oscillators, pitch, note and noise]; Sampler: arquivos de áudio de frases usadas no espetáculo são controladas em sua duração, velocidade de reprodução (pitch), começo e final [audio files of phrases used in the show are controlled for their duration, pitch, start and end]; Baixolata [Basscan]: uma lata de tinta de 3,6 litros que funciona como caixa de ressonância de um baixo de uma corda só [a 3.6-liter paint can that works as the sounding board for a one-string bass]; Plantas para cenografia [Plants for scenography]: Karin Serafin; Textos [Texts]: Grupo Cena 11; Interlocução técnico-artística para criação de vídeos [Technical-artistic dialogue for creating videos]: Pact/UFSC (João Peralta, Rodrigo Garcez e Thiago R. Passos); Operação de câmera [Camera operation]: João Peralta e Karin Serafin; Operações de drone [Drone operations]: Alex Costa; Coprodução [Co-production]: Corpo Rastreado/São Paulo, Gabi Gonçalves, Instituto Goethe, Mousonturm, PANORAMA RAFT, Something Great (Berlim) e Tanzhaus NRW; Apoio [Support]: Prêmio Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura (2019); Sede e preparação técnica [Headquarters and technical Preparation]: Jurerê Sports Center (Jusc); Agradecimentos [Acknowledgments]: Adélia Aurora, Ana Lucia Rodrigues, Andrea Druck, Aurora Khan, Aya Nishimuta, Bartolomeu, Batman, Binha, Breu K. Katt, Bruno Bez, Caio Matienzo, Candy, Cassiana Kerber, Cecília Blasius, Chewie, Cristina Schmitt, Eveline Orth, Fabiana Dultra Britto, Florentina, Francisco J. Peralta, Gatite, Gianca Piccolotto, Gizely Cesconetto, Héctor Lamela, Hedra Rockenbach, Íris, Jamile de Souza Santos, Khaninanas Cobras, Ludovico, Luiz Falcão, Maki, Marcos Klann, Marcos Morgado, Mateus Ramos de Melo, Maurício Pires Marin, Muha, Murilo Brogim Leal, Neltair Piccolotto, Nina, Norma Adó, Pedro Mello e Cruz, Rodrigo Garcez, Theo Gomes, Thiago R. Passos e Vanderlúcio Cunha; Concepção, direção e coreografia [Conception, direction and choreography]: Alejandro Ahmed
Há 28 anos empenhado nas artes da presença, o grupo, notabilizado pela pesquisa continuada nas expansões do corpo, também viu seu planejamento virado de ponta-cabeça na pandemia. Somente em maio foram retomados os ensaios presenciais com vistas à peça coreográfica que estrearia em abril de 2020, na Alemanha, e resultou completamente reconfigurada, assim como o modo de trabalhar da companhia. Matéria Escura acontece de forma simultânea, digital e fisicamente, com transmissão e edição em tempo real. Não é a primeira vez que o grupo, inquieto por natureza com a tecnologia do movimento, está às voltas com a linguagem de programação e softwares, forjando um ecossistema que quebra linearidades. “Estamos entrelaçados nisso desde o início da companhia, o que nos deu o que chamamos de dramaturgia cinética, ou seja, tudo que se move nos interessa desde sempre. Não existe mediação sem ruído”, afirma o diretor artístico Alejandro Ahmed, que percebe dobras vitais na falha e na queda.
Having been committed to the arts of presence for 28 years, the group, famous for its ongoing research into the expansions of the body, also saw its planning turning upside down in the pandemic. Only in May were in-person rehearsals resumed with a view towards the choreographic play that would premiere in April 2020, in Germany, and was completely reconfigured, as well as the company’s way of working. Dark Matter happens simultaneously, digitally and physically, with real-time broadcasting and editing. It is not the first time that the group, restless by nature with the technology of movement, is dealing with programming language and software, forging an ecosystem that breaks linearities. “We have been intertwined in this since the beginning of the company, which has given us what we call kinetic dramaturgy, i.e., everything that moves has always interested us. There is no mediation without noise,” says artistic director Alejandro Ahmed, who perceives vital folds in failure and fall.
45
46
Um corpo invisível vincula sua aparência à modificação de outros corpos para manifestar sua existência. Ferramentas novas entretecem presença, virtualidade, arquivos, memória e toda espécie de transformação de energia que escorre destes contatos. Geram um moto-contínuo multidirecional a integrar ações de texto, áudio, vídeo, temporalidades e espacialidades através dos corpos que tornam acessíveis a manifestação e o atravessamento da vida das coisas no acontecer do movimento. Diante dessa dança feita instrumento para transduzir comportamentos cinéticos em sintaxes bioculturais, como ambicionam seus criadores, é caso de suscitar:
An invisible body binds its appearance to the modification of other bodies in order to express its existence. New tools interweave presence, virtuality, archives, memory, and all kinds of energy transformation that flows from these contacts. They generate a multidirectional perpetual motion to integrate actions of text, audio, video, temporalities and spatialities through bodies that make the expression and crossing of the things’ life accessible over the course of movement. Facing this dance as an instrument to transduce kinetic behaviors into biocultural syntaxes, as its creators aspire, it is a case of raising questions:
Na escuridão tudo é engolido? Na distração dos olhos, o que não conseguimos ver? Na atenção à integração dos sentidos, é possível mapear o ponto cego da presença? É possível, na irreversibilidade da vida, nossos corpos se multiplicarem em temporalidades e espacialidades para dar continuidade ao movimento do estar vivo? Extinção é uma aparência. Oportunidade feita de aparência. Tudo se move até o fim.
In the darkness, is everything swallowed up? In the distraction of the eyes, what can we not see? In attending to the integration of the senses, is it possible to map the blind spot of presence? Is it possible, in the irreversibility of life, for our bodies to multiply in temporalities and spatialities to continue the movement of being alive? Extinction is an appearance. Opportunity is made of appearance. Everything moves to the end.
O Grupo Cena 11 atua desde 1993 como companhia de pesquisa no Brasil e, amparado na continuidade de elenco e aprofundamento artístico, propõe um ponto de estabilidade na tecnologia do movimento. Dirigido por Alejandro Ahmed, busca resistir às estruturas que reforçam os processos de extinção dos modos de produção coletivos. Cria diálogos, abre caminhos e fomenta perspectivas junto às novas gerações das artes da presença.
Grupo Cena 11 has been performing since 1993 as a research company in Brazil and, supported by the continuity of the cast and artistic deepening, proposes a point of stability in the technology of movement. Directed by Alejandro Ahmed, it seeks to withstand the structures that reinforce the extinction processes of collective modes of production. It creates dialogues, opens paths, and fosters perspectives with the new generations of the arts of presence.
47
Multiple-s Salia Sanou França – Senegal [France – Senegal] De Beaucoup de Vous | Germaine Acogny e Salia Sanou Criação [Creation]: Setembro/2018 [september/2018] – Le Mans De Vous a Moi | Nancy Huston and Salia Sanou Textos [texts]: Nancy Huston, extraídos de Limbes Limbo, un Hommage à Samuel Beckett (Actes Sud, 2000), Nord Perdu (Actes Sud, 1999) e In Deo (ed. du Chemin de Fer, 2019) Criação [Creation]: Maio/2018 [may/2018] – Castelnau-le-Lez Et Vous Serez là Babx e Salia Sanou Textos [texts]: Aimé Césaire (Cristal Automatique) e Gaston Miron (La Marche à L’amour) Criação [creation]: Junho/2019 [june/2019] – Bruxelas;
80 min | 12 anos [12 years old] www.saliasanou.net sanou.salia.1
Concepção e coreografia [Realization e choreography]: Salia Sanou; Música [Music]: David Babin (Babx); Cenografia [Scenography]: Mathieu Lorry-Dupuy; Iluminação [Lighting]: Marie-Christine Soma; Diretor de palco [Stage director]: Rémy Combret; Operação de luz [Light operation]: Eric Corlay; Operação de som [Sound operation]: Delphine Foussat; Administração [Management]: Stéphane Maisonneuve; Fotografia [Photography]: Laurent Philippe; Produção [Production]: companhia Mouvements Perpétuels; Produção no Brasil [Brasil’s production]: Julia Gomes Coprodução [Co-production]: Chaillot – Théâtre National de la Danse, Charleroi Danse, CNDC Angers, Embaixada da França no Senegal, Le Kiasma de Castelnau-le-lez, Les Francophonies en Limousin e Malraux – Scène Nationale Chambéry Savoie Apoio [Support]: A companhia Mouvements Perpétuels tem incentivo do Ministère de la Culture – DRAC Occitanie e da Région Occitanie; apoio de Ville de Montpellier e Montpellier Métropole Méditerranée Agradecimentos [Acknowledgment]: Ahmed Madani, Irène Tassembédo, JeanBaptiste Guiard-Schmid, Jean-Paul Guarino e Patricia Carette
48
Após fase recente de trabalhos verticais junto a grupos, o coreógrafo e bailarino Salia Sanou trilhou o desejo de explorar o tema do encontro em outra chave. Noções do lugar do “eu” e do “jogo”, do gesto e do espaço, da raiz e do exílio coabitaram suas perguntas com circularidade. “Quem é você, Salia Sanou? Quem é você, o dançarino, o desenraizado?”, ouviu ecoar dentro de si. Nascido em Burkina Faso, ele vive na França desde os anos 1990, onde fundou a Compagnie Mouvements Perpétuels em 2011. Essa voz interior o fez repensar a dimensão da representação e interpretação ao entrelaçar literatura, dança e música. E assim chegou à estrutura do face a face, convocando o outro no confronto paralelo, na complementaridade, na alteridade mesmo ou, ainda, por que não, na oposição. Para essa jornada expansiva, seus pares em três duos sucessivos são a coreógrafa franco-senegalesa Germaine Acogny, a escritora canadense Nancy Huston e o músico David Babian, o Babx. O desdobramento dessa experiência, crê Sanou, é uma aliança sincronicamente cênica, verbal e sonora entre o engajamento do corpo e seus ritmos internos. Como uma etapa giratória a espelhar o ciclo da vida e driblar didatismos. Um fluxo de saberes e fazeres em torno do que é distinto, como a ouvir o poder das buscas pessoais e da sinceridade compartilhada. “Creio que essa criação mudou significativamente o meu relacionamento com a cena, é uma proposta na encruzilhada da dança com a performance. Trata-se, acima de tudo, de descobrir a arte do outro naquilo que ele tem de pessoal; por outro lado, espero ser esculpido e afirmado no encontro além da voz, do gesto e da música”, desejou, em diálogo com a gestora cultural Patricia Carette, em 2019. As três sequências ocupam o mesmo espaço cênico em Multiple-S. “É intenção, sobretudo, não reproduzir três pinturas idênticas, mas trazer à tona uma forma fiel de nossos universos comuns e diferentes, plenos de gravidade, humor, momentos lúdicos ou tensões, mas também em ressonância com o estado do mundo no que ele representa de trágico e, acima de tudo, de alegria.”
Following a recent phase of vertical work with groups, the choreographer and dancer Salia Sanou pursued the desire to explore the theme of encounter in another way. Notions of the place of “I” and “game,” gesture and space, root and exile, cohabited his questions with circularity. “Who are you, Salia Sanou? Who are you, the dancer, the uprooted?,” he heard echoed within himself. Born in Burkina Faso, he has lived in France since the 1990s, where he founded Compagnie Mouvements Perpétuels in 2011. This inner voice made him rethink the dimension of acting and interpreting by interweaving literature, dance and music. And so, he arrived at the face-to-face structure, evoking the other in parallel confrontation, in complementarity, even alterity, or even, why not, opposition. For this expansive journey, his pairs in three successive duos are the French-Senegalese choreographer Germaine Acogny, the Canadian writer Nancy Huston, and the musician David Babian, aka Babx. The development of this experience, Sanou believes, is a synchronically scenic, verbal, and sonic alliance between the engagement of the body and its internal rhythms. Like a revolving stage mirroring the cycle of life and bypassing didacticism. A flow of bits of knowledge and actions around what is distinct, such as listening to the power of personal searches and shared sincerity. “I believe that this creation has significantly changed my relationship with the scene, it is a proposal at the crossroads of dance with performance. It is, above all, about discovering the art of the other in what is personal about them; on the other hand, I hope to be sculpted and affirmed in the encounter beyond voice, gesture and music,” he wished, in a dialogue with cultural manager Patricia Carette, in 2019. The three sequences occupy the same scenic space in Multiple-S. “It is the intention, above all, not to reproduce three identical paintings, but to bring out a faithful form of our common and different universes, full of gravity, humor, playful moments or tensions, but also in resonance with the state of the world in what it represents of tragic and, above all, of joy.”
Salia Sanou, burquinense, teve formação inicial na capital de seu país, Ouagadougou, onde frequentou cursos de teatro e de danças rituais da etnia Bobo. O coreógrafo, dançarino e ator migrou para a França, onde fez parte da companhia da também coreógrafa Mathilde Monnier, em 1993. Desde então, lidera projetos que perpassam referências da arte e da cultura africanas em diálogo com o contexto europeu. Em 1995, Sanou e o coreógrafo, dançarino e ator compatriota Seydou Boro fundaram a companhia Salia nï Seydou e conceberam a obra Le Siècle des Fous. De 2003 a 2008, associou-se à Scène Nationale de SaintBrieux antes de entrar em residência no Centre National de la Danse (CND), de Pantin, de 2009 a 2010. No ano seguinte, fundou a Compagnie Mouvements Perpétuels, sediada em Montpellier e a partir da qual gerou trabalhos como Audelà des Frontiers (2012); Clameur des Arènes (2014), este para o festival Montpellier Danse; Doubaley le Miroir (2013); e Du Désir d’Horizons (2016), espetáculo inspirado em workshops conduzidos em campos de refugiados do Burundi e de Burkina Faso. Sob nova parceria com Boro, cria e dirige Body Dialogues Biennale, na capital burquinense, onde desenvolve, desde 2006, o centro coreográfico La Termitière. Salia Sanou é autor do livro Afrique, Danse Contemporaine (2008), com ilustrações de Antoine Tempé e coeditado pelo Cercle d’Art et le Centre National de la Danse, de Pantin.
Salia Sanou, from Burkina Faso, had his initial education in the capital of his country, Ouagadougou, where he attended courses of theater and ritual dances of the Bobo ethnic group. The choreographer, dancer, and actor migrated to France, where he joined the company of fellow choreographer Mathilde Monnier in 1993. Since then, he has been leading projects that permeate references from African art and culture in dialogue with the European context. In 1995, Sanou and fellow choreographer, dancer and actor Seydou Boro founded Salia nï Seydou company and conceived the work Le Siècle des Fous. From 2003 to 2008, he joined the Scène Nationale de Saint-Brieux before taking up residency at Pantin’s Centre National de la Danse (CND) from 2009 to 2010. The following year, he founded the Compagnie Mouvements Perpétuels, based in Montpellier and from which he created works such as Audelà des Frontiers (2012); Clameur des Arènes (2014), this one for the Montpellier Danse festival; Doubaley le Miroir (2013); and Du Désir d’Horizons (2016), a performance inspired by workshops conducted in refugee camps in Burundi and Burkina Faso. Under a new partnership with Boro, he creates and directs Body Dialogues Biennale, in the capital of Burkina Faso, where he has been developing, since 2006, the choreographic center La Termitière. Salia Sanou is the author of the book Afrique, Danse Contemporaine (2008), with illustrations by Antoine Tempé and co-edited by Pantin’s Cercle d’Art et le Centre National de la Danse.
49
50
Na Fresta da Certeza, o Vermelho Escuro [In the Crack of Certainty, a Deep Red] Luciane Ramos-Silva Brasil/SP [Brazil/SP]
40 min | Livre [All ages] luciane.corpoemdiaspora lucianeramoss
Concepção e direção [Conception and direction]: Luciane Ramos-Silva; Elenco [Cast]: Juliana Jesus, Keithy Alves, Luciane Ramos-Silva e Malu Avelar; Luz [Lighting]: Dedê Ferreira; Montador de cena [Stage assembler]: Ricardo Januario; Corpo-câmera [Body-camera]: Pétala Lopes; Produção [Production]: Otávio Bontempo/Bomtempo.co; Condução de equipe de filmagem [Film crew driving]: Vinícius Bernardo; Figurino [Costume]: Doida da Espanha (Joana de Leon); Apoio técnico [Technical support]: Ricardo Januario; Preparação corporal [Body preparation]: Mariana Martins; Apoio [Support]: Este trabalho faz parte da Espiral “Desaparecimentos e Re-existências”, do projeto Amor Catastrófico, contemplado pela 29ª Edição do Fomento à Dança da cidade de São Paulo. A performance original fez parte da exposição coletiva Histórias Afro-Atlânticas, realizada pelo Masp em parceria com o Instituto Tomie Ohtake (2018).
Quatro artistas balizam em cena o movimento de um grupo de mulheres que, impulsionadas pela memória, decidem mudar a ordem das coisas e prospectar outras formas e sentidos. Para elas, o espaço instituído e delimitado não é mais forte que a velocidade ancestral da imaginação. O trabalho toma como motor a premissa dos feminismos negros que observam que a escuridão deve ser abraçada e que o mistério é fundamento e força de contestação. Em pulso coletivo criam interrogações, fricções e alegrias explorando as infinitas possibilidades de jogo narrativo da história. Paulistana de formação transdisciplinar, estudiosa das artes do corpo, da antropologia e da educação, Luciane Ramos-Silva concebe, dirige, coperforma e reflete nas encruzilhadas das perspectivas afrodiaspóricas, movimentos históricos e sociais decorrentes do deslocamento de pessoas e saberes do continente africano para as Américas e suas multiplicidades contemporâneas. Essa criação fez parte da exposição coletiva Histórias Afro-Atlânticas (Masp/Instituto Tomie Ohtake), de 2018, e foi adaptada para uma versão sem público devido aos reveses da pandemia. Acerca da transposição da performance para a versão sem público e a que tipo de presencialidades ela se abre ou se reinventa, Ramos-Silva pondera: “Há uma outra dimensão que permeia o trabalho, a da imaginação, que nos instigou nesse processo de pensar a obra sem a presença de gente em carne viva no local. Dançar para um público que não está ali compartilhando a mesma quentura do ar ou ouvindo de perto o risco supersônico do nosso movimento, mas está do outro lado da tela, segue como um comprometimento artístico nosso. Afetar tendo a tela como mediadora inexorável. Uau… Nossa arte está, em fundamento, implicada na relação… Então, dançar nessa versão sem público presente no espaço, mas presente em outras dimensões, é, ainda assim, e ainda mais, dançar com a urgência da relação e do encontro”.
Four artists mark on stage the movement of a group of women who, driven by memory, decide to change the order of things and prospect other ways and meanings. For them, the established and delimited space is not stronger than the ancestral speed of imagination. The work takes as its engine the premise of black feminisms, which note that darkness must be embraced and that mystery is both foundation and force of objection. In collective pulse, they create inquiries, frictions and joys exploring the infinite possibilities of the story’s narrative game. Luciane Ramos-Silva, born in São Paulo with a transdisciplinary background, a scholar in the arts of the body, anthropology and education, designs, directs, co-performs and reflects on the crossroads of Afrodiasporic perspectives, historical and social movements resulting from the shifting of people and knowledge from the African continent to the Americas and their contemporary multiplicities. This creation was part of the 2018 group exhibition Histórias Afro-Atlânticas (Afro-Atlantic Stories) (Masp/ Instituto Tomie Ohtake), and was adapted for a version without an audience due to the setbacks of the pandemic. Regarding the transposition of the performance to the no audience-version and to what kind of presences it opens up or reinvents itself, Ramos-Silva considers: “There is another dimension that permeates the work, the one of imagination, which instigated us in this process of thinking the work without the presence of live people on site. Dancing for an audience that is not there, sharing the same warmth of the air or closely listening to the supersonic risk of our movement, but is on the other side of the screen, remains our artistic commitment. Affecting with the canvas as an inexorable mediator. Wow... Our art is, fundamentally, implied in a relationship... So, dancing in this version without the presence of an audience in the space, but present in other dimensions, is, still, and even more, dancing with the urgency of relationship and encounter.”
Luciane Ramos-Silva é artista da dança, antropóloga e educadora. Fundamentando-se em corporeidades afrodiaspóricas e africanas, articula as ideias de pluralidade, movimento e transformação em seus trabalhos. Reflete sobre as modernidades e contemporaneidades negras e as articula com os saberes ancestrais estruturantes da experiência brasileira. Dedica-se também a elaborar pensamentos críticos sobre o impacto da experiência colonial nas formas de pensar corpo, cultura e dança. A formação transdisciplinar abarca artes do corpo, antropologia e educação.
Luciane Ramos-Silva is a dance artist, anthropologist and educator. Based on Afrodiasporic and African corporealities, she articulates the ideas of plurality, movement, and transformation in her work. She reflects on black modernities and contemporary times, and articulates them with the ancestral knowledge that structures the Brazilian experience. She is also dedicated to devising critical thoughts about the impact of the colonial experience on the ways of thinking about the body, culture and dance. The transdisciplinary background includes the arts of the body, anthropology and education.
51
52
NO HACER NADA pulverizar [NOT DOING ANYTHING: disappear] Fausto Ribeiro e Lucía Sismondi – Istmo Nómade Brasil – Uruguai [Brazil – Uruguay]
30 min | 12 anos [12 years old] www.faustoribeiro.com Istmo-nómade-178858042942579 nohacer_nada.pulverizar/
Performer: Lucía Sismondi; Direção [Direction]: Fausto Ribeiro; Assistência de direção [Direction assistance]: Stephanie González; Câmera [Camera]: Diego Peña; Criação audiovisual e edição [Audiovisual creation and editing]: Clara Fernández; Assistência de ilusão [Illusion assistance]: Cristian Antelo; Produção [Production]: Istmo Nómade
A situação da espera e seus efeitos orientam a pesquisa e criação da performer uruguaia Lucía Sismondi e do diretor brasileiro Fausto Ribeiro. Em formato de curta-metragem, o solo de dança contemporânea desenvolve-se a partir de noções físicas e interiorizadas do que é considerado presença, permanência, disponibilidade e virtualidade. “Esse trabalho é um convite a contemplar o tempo saturado de nosso cotidiano”, consideram os cofundadores do coletivo Istmo Nómade. Na busca constante por uma linguagem grávida de diferentes formas de expressão, a dupla aborda o tema a partir do corpo em cena que aguarda algo em um tempo suspenso no qual talvez nada aconteça… A obra é fruto da pesquisa chamada #enlínea (#emlinha), dedicada a refletir acerca da natureza do esperar e a incontornável expectativa do vir a ser. Percepção tornada mais aguda após a emergência sanitária de 2020, mas que sempre mobilizou poeticamente artistas como o escritor argentino Jorge Luis Borges e o francês Roland Barthes, ambos entre as fontes do projeto. Considerou-se, por exemplo, a hegemonia das plataformas virtuais, que levou a população global a uma presencialidade não física, uma disponibilidade permanente. O que acontece no ato da espera e na situação de permanecer disponível? Um átimo, minutos, horas, não importa, que estados cênicos contém a espera? O que isso permite? A partir desse lugar cheio de contradições que o tempo traz, Ribeiro e Sismondi encontram o ato de ação que contradiz o próprio título, não como uma armadilha, mas como uma dança que cruza dois opostos: a utilidade e a inutilidade. “Quem sabe esperar, sabe o que significa viver na condicional. Mas toda espera se converte em falta se não estacionamos na mera possibilidade. Quando perdemos nossas vidas por causa de falsas esperanças que nos impedem de decidir, chamamos a isso de manter as opções abertas. Esperar é próprio de toda evolução, seja na gestação, na puberdade ou na coleta/acumulação e hesitação durante o ato criativo.” Istmo Nómade é um coletivo de pesquisa em artes surgido em 2017 a partir do encontro no Brasil entre Lucía Sismondi e Fausto Ribeiro, ambos investigadores das artes do corpo. Desde o princípio as motivações giraram em torno de como estimular alterações na normatividade dos espaços públicos e privados. A performer Sismondi é licenciada em dança pelo Instituto de Artes da Unicamp e, em seu país, o Uruguai, cursou o módulo I de formação de Danza Contemporánea Casarrodante. O diretor Ribeiro é doutorando em artes da cena pela Unicamp, onde analisa obras de criadores como os uruguaios Tamara Cubas, Roberto Suárez e Sergio Blanco e a argentina Lola Arias. Também atua como docente.
The situation of waiting and its effects guide the research and creation of Uruguayan performer Lucía Sismondi and Brazilian director Fausto Ribeiro. In the format of a short film, the contemporary dance solo is developed from physical and internalized notions of what is considered presence, permanence, availability, and virtuality. “This work is an invitation to contemplate the saturated time of our daily lives,” consider the co-founders of Istmo Nómade collective. In the constant search for a language pregnant with different forms of expression, the duo approaches the theme from the body on stage that waits for something in a suspended time in which perhaps nothing will happen... The work is the product of a piece of research called #enlínea (#inline), dedicated to reflecting on the nature of waiting and the unavoidable expectation of coming to be. A perception that became more acute after the 2020 health emergency, but that has always poetically mobilized artists such as Argentine writer Jorge Luis Borges, and Frenchman Roland Barthes, both included in the project’s sources. We considered, for example, the hegemony of virtual platforms, which has led the global population to a non-physical presence, a permanent availability. What happens in the act of waiting and in the situation of remaining available? A flash, minutes, hours, it doesn’t matter; what scenic states does the waiting contain? What does it allow? From this place full of contradictions that time brings, Ribeiro and Sismondi find the act of action that contradicts the title itself, not as a trap, but as a dance that crosses two opposites: usefulness and uselessness. “Those who know how to wait, know what it means to live in the conditional. But all waiting turns into lack if we don’t remain stationary in mere possibility. When we lose our lives because of false hopes that prevent us from deciding, we call this keeping our options open. Waiting is an attribute of all evolution, whether in pregnancy, puberty, or the gathering/accumulation and hesitation during the creative act.” Istmo Nómade is an art research collective that emerged in 2017 from the meeting in Brazil between Lucía Sismondi and Fausto Ribeiro, both researchers of the arts of the body. From the beginning, the motivations revolved around how to encourage changes in the normativeness of public and private spaces. Performer Sismondi has a degree in Dance from the Institute of Arts at Unicamp and, in her country, Uruguay, took module I of Danza Contemporánea Casarrodante. Director Ribeiro is a PhD student in Scenic Arts at Unicamp, where he analyzes works by creators such as Uruguayans Tamara Cubas, Roberto Suárez, and Sergio Blanco, and Argentinean Lola Arias. He also works as a teacher.
53
54
55
Ponto de Encontro
60 min | 18 anos [18 years old] www.madsound.com.br/noporn-sim www.noize.com.br/exclusivo-em-sim-noporn-latejaprazer-liberdade-e-subversao www.miojoindie.com.br/critica-noporn-sim www.youtube.com/watch?v=9xoLzFYxmmY
NoPorn Liana Padilha e Lucas Freire Brasil/SP [Brazil/SP] Apresentação [Presentation]: Natália Nalli Sasso (Sesc SP)
O Ponto de Encontro estabeleceu-se como um espaço de troca entre as linguagens artísticas e o público da Bienal Sesc de Dança por meio de uma programação de shows, performances e discotecagens na área de convivência do Sesc Campinas. Com a pandemia, a pista de dança onde cada qual se expressava à sua maneira, durante sete noites do evento, agora se dará através das telas. No sábado (9/10), véspera de encerramento, o público foi convidado a uma jornada virtual singular em clima de celebração conduzida pela poesia e música eletrônica do projeto NoPorn, de Liana Padilha e Lucas Freire, duo surgido na noite paulistana.
Ponto de Encontro [Meeting Point] was established as a space of exchange between the artistic languages and the audience of Sesc Dance Biennial through a program of shows, performances and DJing in the social area of Sesc Campinas. With the pandemic, the dance floor, where everyone expressed themselves in their own way during the seven nights of the event, will now take place through the screens. On Saturday (Oct. 9th), the eve of the closing event, the public is invited to a unique virtual journey in an atmosphere of celebration conducted by the electronic poetry of the NoPorn project, by Liana Padilha and Lucas Freire, a duo that appeared in the São Paulo night.
NoPorn – formado em 2002 pela artista plástica Liana Padilha e pelo DJ Luca Lauri, o primeiro disco homônimo do NoPorn foi lançado em 2006 e marcou a geração que frequentava a noite paulistana no início dos anos 2000. Em 2016, o duo reafirma sua estética eletroerótica com o lançamento de seu segundo álbum, Boca. Desde 2018, o produtor Lucas Freire faz dupla com Liana no projeto NoPorn. Recentemente estiveram em turnê na Europa para divulgação de 3º álbum, Sim (2021).
Formed in 2002 by artist Liana Padilha and DJ Luca Lauri, NoPorn’s first album, with the same name, was released in 2006 and marked the generation that used to go to São Paulo’s nightlife in the early 2000s. In 2016, the duo reiterates their electro-erotic aesthetic with the release of their second album, Boca. Since 2018, producer Lucas Freire has been working with Liana on the NoPorn project. Recently, they have been on tour in Europe to promote their 3rd album, Sim (2021).
56
O Que Mancha [What Stains] Beatriz Sano e Eduardo Fukushima Brasil/SP [Brazil/SP]
30 min | Livre [All ages] www.biasano.com www.eduardofukushima.com bia_sano eduardofukushimaa youtube.com/channel/ UCy1hheL0SKSTPaxP0vikSOA
Concepção e dança [Conception and dance]: Beatriz Sano e Eduardo Fukushima; Dramaturgia [Dramaturgy]: Júlia Rocha; Desenho de luz e espaço cênico [Light design and scenic space]: Hideki Matsuka; Assistente de iluminação e operação [Lighting and operating assistant]: Igor Sane e Patrícia Savoy; Criação sonora [Sound creation]: Miguel Caldas, Rodolphe Alexis, Beatriz Sano e Eduardo Fukushima; Captação de áudio [Audio capture]: Miguel Caldas e Rodolphe Alexis; Adaptação de som e composição ao vivo [Sound adaptation and live composition]: Chico Leibholz; Diretor de filmagem [Film director]: Pedro Nishi; Operador de câmera [Camera operator]: Daniel Luppo; Fotos [Photos]: Paula Ramos e Wojciech Gauszka; Figurino [Costume]: Beatriz Sano, Eduardo Fukushima e Júlia Rocha; Produção [Production]: Isabel Ramos Monteiro; Gestão administrativa [Administrative management]: Cais Produção; Apoio [Support]: Esta peça fez parte do projeto Le Flâneurs em colaboração com o diretor de teatro polonês Michal Borczuch. A pesquisa inicial teve subsídio do programa de colaboração artística da Rolex Arts Institute, em Genebra.
A peça de dança teve origem numa pesquisa sobre flanar, o andar ociosamente, sem rumo nem sentido certo. Na impossibilidade da estreia presencial, porém, Beatriz Sano e Eduardo Fukushima, coreógrafos e dançarinos, a reelaboraram em formato de vídeo. Do quadrado de madeira no meio do palco, espaço em que pisaram para ensaio aberto em tempos pré-pandemia, até a atual concentração nos limites da tela, é desejo fazer vibrar justamente os corpos enquadrados. Para isso, a voz e a respiração são fundamentais, como demonstrou a escuta atenta da equipe às práticas orientais. “Os movimentos se mesclam entre vozes que se misturam do riso ao choro, do animal ao balbucio humano, do ruído à melodia, do barulho ao silêncio. A voz sobressalta e vibra a sonoridade com os corpos. O que mancha invade, aumenta, avança e distorce”, pretendem os criadores. A palavra “mancha” surgiu da relação voz e movimento. Sano e Fukushima querem expandi-la e explodi-la no corpo e transformá-la em qualidade de movimento, valorizando, inclusive, as dissonâncias das vozes, fazendo da “mancha” a marca nos corpos. “São composições muito diferentes entre a criação da performance presencial, a criação de videodança e a transmissão ao vivo. Especificamente na videodança, a possibilidade de aproximação da câmera trouxe uma mudança considerável na transposição desta performance presencial para o vídeo, permitindo o olhar do público para os detalhes, para as pequenas partes do corpo, pulsações e a possibilidade de recortar o corpo”, explica a dupla. “Sobre a sonoridade, incluímos sons que apareceram do acaso, como latidos de cachorro e sons de grilo, ampliando a composição; por outro lado, perdemos a sonoridade quadrifônica que confundia o público sobre a origem de nossas vozes, ora nitidamente saindo dos corpos em dança, ora se expandindo e se mesclando a captações pré-gravadas.” Beatriz Sano é professora, coreógrafa e dançarina. Faz parte da Key Zetta e Cia. Desde 2011, pratica o seitai-ho, educação corporal japonesa, com Toshi Tanaka e Ciça Ohno. Seus trabalhos autorais são: SOLO (2014) e Estudo de Ficção (2017). Graduou-se em dança pela Unicamp, atualmente é professora da Escola Livre de Dança de Santo André e cursa o mestrado em artes da cena na Unicamp. Eduardo Fukushima também é coreógrafo, bailarino e professor de tai-chi-dawing. É formado em comunicação das artes do corpo na PUC/SP. Seu principais trabalhos são: Entre Contenções (2008), Como Superar o Grande Cansaço? (2010), Homem Torto (2012), Título em Suspensão (2017) e Oxóssi (2017). Vem circulando seus trabalhos pelo Brasil, América do Sul, Europa e Ásia. Em 2020 ganhou o prêmio APCA de criação em dança pela videoperformance Silêncio.
The dance play stemmed from a research about wandering, walking idly, aimlessly and without right direction. However, due to the impossibility of the in-person premiere, Beatriz Sano and Eduardo Fukushima, choreographers and dancers, reworked it in video format. From the wooden square in the middle of the stage, a space they used for an open rehearsal in pre-pandemic times, to the current concentration on the limits of the screen, the desire is to make the framed bodies vibrate. To this end, voice and breathing are critical, as demonstrated by the team’s attentive listening to Eastern practices. “The movements are mixed between voices that blend from laughter to crying, from animal to human babble, from noise to melody, from noise to silence. The voice enhances and vibrates the sounding with the bodies. What Stains invades, increases, advances and distorts,” the creators intend. The word “stain” arose from the relationship between voice and movement. Sano and Fukushima want to expand it and explode it in the body and transform it into quality of movement, valuing even the dissonance of the voices, making the “stain” the mark on the bodies. “These are very different compositions between the creation of the face-to-face performance, the creation of video dance, and the live broadcast. Specifically in video dance, the possibility of bringing the camera closer brought a considerable change in the transposition of this face-to-face performance to video, allowing the audience to look at the details, at the small parts of the body, pulsations, and the possibility of cutting out the body,” the duo explains. “Regarding the sound, we included sounds that appeared by chance, like dog barks and cricket sounds, amplifying the composition. On the other hand, we lost the quadraphonic sound that confused the audience regarding the origin of our voices, sometimes clearly coming from the dancing bodies, sometimes expanding and merging with pre-recorded captures.” Beatriz Sano is a teacher, choreographer, and dancer. She is part of Key Zetta e Cia. Since 2011, she has been practicing seitai-ho, Japanese body education, with Toshi Tanaka and Ciça Ohno. Her authorial works include: SOLO (2014) and Estudo de Ficção (Fiction Study) (2017). She has a degree in dance from Unicamp, is currently a teacher at Santo André’s Escola Livre de Dança and is a student of a Master’s degree in performing arts at Unicamp. Eduardo Fukushima is also a choreographer, dancer, and taichi-dawing teacher. He has a degree in communication of the body arts from PUC/SP. His main works are: Entre Contenções (Between Restraints) (2008), Como Superar o Grande Cansaço? (How to Overcome the Great Tiredness?) (2010), Homem Torto (Crooked Man) (2012), Título em Suspensão (Title in Suspension) (2017) and Oxóssi (2017). His works have been circulating throughout Brazil, South America, Europe and Asia. In 2020, he was awarded the APCA prize for creation in dance for the video-performance Silêncio (Silence).
57
58
Taoca Uýra Sodoma Brasil/AM [Brazil/AM]
15 min | 12 anos [12 years old] uyrasodoma dacordobarro anmiga apiboficial
Performer: Uýra; Direção e captação [Capture and direction]: Uýra; Edição e finalização [Edition and finishing]: Kerolayne Kemblim; Apoio [Support]: Agradeço às mulheres Kayapó e de tantos outros povos presentes na 2ª Marcha das Mulheres Indígenas que, durante a apresentação cultural realizada na tenda principal da mobilização, somaram seus passos integrados e sincrônicos ao movimento de vida [I thank the Kayapó women and so many other peoples present at the 2nd March of Indigenous Women who, during the cultural presentation held in the main mobilization tent, added their integrated and synchronous steps to the movement of life]
Artista visual indígena contemporânea, Emerson Pontes exibe em primeira mão uma fotossíntese de imagens que performou em deslocamentos realizados com emanações socioambientais e políticas. Por meio da “entidade híbrida” que nomeia Uýra Sodoma – “canal de comunicação com outros mundos é por habitar e viajar por múltiplos imaginários para eles acenderem Vida” – busca mostrar que a encantaria está viva e o sagrado não é lenda. Taoca retrata em videoarte trânsitos com e por existência: da Bienal de São Paulo, onde expõe séries de fotografia, à Marcha das Mulheres Indígenas, em Brasília, quando realizou uma performance, ambas em setembro de 2021 – “ano de travessia de doença viral, florestal e presidencial no Brasil”, no dizer da entidade que também se apresenta como “árvore que anda”. “As árvores se mexem, sempre se moveram. Quem as narra como seres inertes é o pensamento colonial eurocêntrico. A biologia das árvores é de movimentos de água e nutrientes em seus corpos, e o tempo inteiro elas dialogam e se relacionam com outros animais e todo o ecossistema através de sua floração e frutificação. Não há nada parado em suas vidas”, diz Pontes, biólogo e educador nascido no interior do Pará, onde afinou a escuta rente a igarapés, riachos que nascem na mata e deságuam em rio. Atualmente, vive na metrópole de Manaus. Tal como as formigas de correição, que na mata se movem pelo chão e troncos em busca de alimentos, criando redes de interação com outras espécies, a entidade “anda em árvore conectada a pés que pisam em sincronia e verdade”. “As coisas vivas estão unidas, não separadas. Mesmo a desgraça habita em múltiplas dimensões simultaneamente. Sou uma pessoa indígena, trans não binária, periférica e amazônica – tudo isso, a mim, reflete-se em potência, mas também possui seus desafios. É olhando para mim e para as minhas comunidades que sigo esta jornada de um trabalho que unifica questões raciais, sociais, culturais e espirituais, numa arte de guerra e reza através de imagens”, evoca. Uýra Sodoma é uma “entidade híbrida” criada e performada pela artista indígena Emerson Pontes, paraense residente na capital do Amazonas. Utilizando seu corpo como suporte e trânsito coletivo ao unir elementos orgânicos em suas montações, expressa, através de Uýra, a imbricação entre sabedorias ancestrais e conhecimentos científicos da ecologia, gerando imagens que nos convocam a olharmos as florestas presentes em toda a paisagem urbana e a repensarmos arraigadas noções de “natureza”. Nesse fluxo, tem atuado correlativamente nos últimos seis anos como biólogo, arte-educador e artista visual. Suas performances, fotoperformances, falas, intervenções e instalações também remetem a causas de preservação ambiental e direitos LGBTQIA+.
A contemporary indigenous visual artist, Emerson Pontes, shows first-hand a photosynthesis of images he performed in displacements executed with socio-environmental and political emanations. Through this “hybrid entity” called Uýra Sodoma – a communication channel with other worlds, living and traveling through multiple imaginary that light up Life” – he tries to show that enchantment is alive, and the sacred is not a legend. Taoca portraits in video art transit with and by existence: from the São Paulo Biennale where he exhibits a series of photographs, to the Indigenous Women March, in Brasília, when he presented a performance, both in September 2021 – “a year of viral, forest and presidential disease in Brazil,” in the words of the entity that also presents itself as a “walking tree”. “Trees move. They have always moved. One who says they are inert beings is the Eurocentric colonial thinking. The biology of the trees is the movement of water and nutrients in their bodies. They talk and relate, all the time, with other animals and the ecosystem through their flowering and fruiting. Nothing is stagnant in their lives,” says Pontes, biologist and educator born in the interior of Pará, where he tuned his listening close to the igarapés, rivers originated in the forest flowing into a river. Currently, he lives in the city of Manaus. As the army ants move incessantly over the floor and trunks searching for food, creating interaction networks with other species, the entity “walks on trees connected to feet that step on synchrony and truth.” “Living things are united, not separate. Even misfortune dwells in multiple dimensions simultaneously. I am an indigenous, not binary trans, peripheral, and Amazonian – all of this, inside me, is reflected in power and has its challenges. It is looking at me and my communities that I follow this journey of a work that unifies racial, social, cultural, and spiritual issues in an art of war and prayer through images,” he says. Uýra Sodoma is a “hybrid entity” created and performed by the indigenous artist Emerson Pontes, born in Pará and living in the Amazonas capital city. Using his body as support and collective transit, uniting organic elements in his performances, he expresses through Uýra the imbrication between ancient wisdom and scientific knowledge on ecology, generating images that call us up to look at all the forests present in the urban landscape and to think about the old notions about “nature.” He has been working in this flow in the last six years as a biologist, art educator, and visual artist. His performances, photo performances, speeches, interventions, and installations also refer to environmental protection and LGBTQIA+ rights.
59
60
Viaduto [Viaduto] Renan Martins & Frankão Portugal – Alemanha – Brasil [Portugal – Germany – Brazil]
90 min | 14 anos [14 years old] www.renanmartins.net www.ogringosou.eu www.sekoia.pt renanmartinsworks frankao_ogringosoueu sekoia.artesperformativas renanmartinsdanceworks youtube.com/user/MrNascocha
Direção artística e coreografia [Artistic direction and choreography]: Renan Martins; Música ao vivo [Live music]: Frankão; Assistente de coreografia e apoio dramatúrgico [Choreography assistant and dramaturgical support]: Ana Rocha; Criação e interpretação [Creation and interpretation]: João Cardoso, Mar Grifoll, Maria Ferreira Silva, Nina Botkay e Thamiris Carvalho; Desenho de luz [Lighting design]: Luisa L’Abbate; Figurino [Costume]: Maria Ferreira Silva e Nina Botkay; Produção administrativa e executiva [Administrative and executive production]: Sekoia – Artes Performativas; Produção brasileira [Brazilian production]: Iolanda Sinatra; Vídeo [Video]: a-tundra; Apoio [Support]*: Teatro Municipal do Porto/ DDD – Festival Dias de Dança, Sekoia, Espaço do Tempo, Fundação Calouste Gulbenkian e Mão Esquerda; Agradecimento especial [Special acknowledgment]: Víctor Pérez Armero
*A apresentação deste espetáculo contou com o Apoio Institucional do DDD – Festival Dias da Dança (Portugal)
A audiência brasileira não deve demorar a ser capturada pela escuta na exibição do espetáculo Viaduto, dos artistas brasileiros radicados em Portugal, gravado em abril de 2021, numa sessão sem público, na região portuguesa do Porto, sob protocolo do distanciamento social determinado pelas autoridades da saúde. Há momentos com músicas de Noel Rosa, passinho do funk e uma canção gospel. Fluminenses lá radicados, o diretor artístico e coreógrafo Renan Martins e o músico Frankão evocam memórias da terra natal e rendem homenagem às manifestações culturais populares urbanas que transformam espaços públicos em ambientes de festa. A obra busca ativar estados de procura, observação, experiência, contemplação e pensamento crítico ao implantar um ambiente marcado por camadas e encontros de pulsações. Desse processo emerge uma atmosfera de união orgânica, opondo-se ao corte cimentado da arquitetura do palco desnudo, em meio às pick-ups e caixas de som. Em vez de separar o viajante das terras que atravessa, este viaduto metafórico propõe a sua própria construção. Adota a ótica DIY, o faça você mesmo da sigla em inglês, pois criadores e bailarinos operam tudo em cena, e o low-fi, em que a imperfeição sonora e performativa contraria a divisão entre intérpretes e público ao permitir que ambos comunguem diferentes níveis de presencialidade, inclusive na exibição à distância. A sonoridade ora rarefeita, ora efusiva também abre janelas de leitura para a realidade brasileira. Na medida em que arquiteta corporeirades e espacialidades genuínas, Renan lança olhar sobre seu país, cujos alicerces democráticos ameaçam ruir, a exemplo dos desmoronamentos que o governo de turno faz nos campos dos direitos humanos, sociais e da cultura. Em análise do espetáculo na plataforma digital lisboeta Umbigo, dedicada à arte e à cultura, Rodrigo Fonseca observa que “os corpos que dançam vão entrando cada vez mais no imaginário da festa, colocando consequentemente também o público nesse lugar”. Uma imersão festiva e deveras reflexiva.
It won’t take long for the Brazilian audience to be captured by the exhibition of the show Viaduto, by Brazilian artists based in Portugal, recorded in April 2021, in a session with no audience, in the Portuguese region of Porto, under the social distancing protocol set by the health authorities. There are moments with songs from Noel Rosa, funky step dance, and gospel music. Also from Rio de Janeiro and living there, the art director and choreographer Renan Martins, and the musician Frankão, evoke memories of their hometown and pay tribute to the urban popular cultural manifestations that transform public spaces in party environments. The work aims at fostering states of search, observation, experience, contemplation, and critical thinking when implementing an environment marked by layers and encounters of pulsations. From this process emerges an atmosphere of organic union, opposing the cemented cut of the bare stage between pickups and speakers. Instead of separating the traveler from the lands he crosses, this metaphoric viaduct proposes its own construction. It adopts the DIY (Do It Yourself) technique since creators and dancers do everything on the stage and the low-fi where the sound imperfection contradicts the division between interpreters and the audience when allowing both to share different levels of presence, including the exhibition at a distance. The sonority, sometimes rarefied, sometimes effusive, also opens windows to read the Brazilian reality. While putting up genuine corporeity and spaces, Renan takes a look at his country, which democratic foundations threaten to collapse, as the current government is doing in the fields of human, social rights, and culture. In a review of the show at the Lisbon digital platform Umbigo, dedicated to art and culture, Rodrigo Fonseca observes that “the dancing bodies increasingly enter in the imaginary of the party, consequently putting the audience in this place.” A festive and reflexive immersion indeed.
Renan Martins é coreógrafo e performer brasileiro que reside entre o Porto e Heidelberg (Alemanha). Iniciou os estudos em dança aos 16 anos. Um ano depois entrou na SEAD (Salzburg Experimental Academy of Dance), Áustria. Em 2010 foi admitido na P.A.R.T.S., em Bruxelas, onde começou a desenvolver seu próprio trabalho enquanto coreógrafo. Em sua carreira trabalhou junto a coreógrafos e coreógrafas como Anne Teresa de Keersmaeker, Daniel Linehan e Meg Stuart.
Renan Martins is a Brazilian choreographer and performer that lives between Porto (Portugal) and Heidelberg (Germany). He started to study dance at the age of 16. One year later he joined SEAD (Salzburg Experimental Academy of Dance, Austria. In 2010 he was admitted at P.A.R.T.S., in Brussels, where he started to develop his own choreographic work. Throughout his career, he worked with choreographers, namely Anne Teresa de Keersmaeker, Daniel Linehan and Meg Stuart.
Frankão, ou Franklin Soares Monteiro, é músico forjado em projetos socioculturais em Volta Redonda (RJ) e residente em Portugal desde 2010. Está à frente do projeto sonoro O Gringo Sou Eu, que tem como formação espontânea o convívio na periferia e na favela brasileiras. Sempre com perspectiva crítica, ele atua na formação de coletivos musicais com crianças e jovens.
Frankão, or Franklin Soares Monteiro, is a musician shaped by social-cultural projects in Volta Redonda (RJ), living in Portugal since 2010. He leads the sound project O Gringo Sou Eu, which has spontaneously created the living with the Brazilian outskirts and shantytowns. Always with a critical perspective, he acts on creating musical collectives with children and young adults.
61
62
Yebo Musical Eduardo Marmo, Maurício Oliveira, Tamiris Silveira, Theodoro Nagô, Rubens Oliveira e Munique Costa Brasil/SP [Brazil/ SP]
60 min | Livre [All ages] www.gumbootdancebrasil.blogspot.com www.instrumentalsescbrasil.org.br youtube.com/c/ InstrumentalSescBrasil gumbootdancebrasil gumbootdancebrasil rubensmovimento
Direção artística [Artistic direction]: Rubens Oliveira; Direção técnica [Technical direction]: Washington Gabriel; Bailarinos [Dancers]: Rubens Oliveira e Munique Costa; Músicos [Musicians]: Eduardo Marmo (baixo), Maurício Oliveira (sax), Tamiris Silveira (teclados), e Theodoro Nagô (violão), Produção [Production]: Incrivy Produções
A música e a dança irmanam-se plenamente neste encontro. O grupo de instrumentistas formado por Eduardo Marmo (baixo), Maurício Oliveira (sax), Tamiris Silveira (teclados) e Theodoro Nagô (violão), dirigido pelo bailarino e aqui também percussionista corporal Rubens Oliveira, apresenta no Instrumental Sesc Brasil um show com repertório de trilhas sonoras de espetáculos da Gumboot Dance Brasil. Eles contam com a participação da bailarina Munique Costa na percussão corporal. O bailarino, coreógrafo e diretor Rubens Oliveira sempre valorizou a construção e imersão da composição musical em seus trabalhos. Em Yebo, ele apresenta as sonoridades em cena para que sejam ouvidas com o corpo. A palavra yebo quer dizer “sim, vamos”, expressão comum entre operários submetidos a condições similares à da escravidão em minas de ouro e diamante na África do Sul de meados do século XIX, capitaneadas por colonizadores holandeses e britânicos. Por conta da profusão de identidades e de línguas faladas por quem vinha de diferentes regiões do país, esses homens, de maioria negra, descobriram no batuque das botas de borracha, no canto e nos gritos a conjunção perfeita para se comunicarem de forma não verbal. Daí que a metáfora do corpo como instrumento é elevada à enésima potência percussiva na prática da dança gumboot, à qual Oliveira foi apresentado pelo coreógrafo e soprano sul-africano Derrick Mlambo, cofundador do grupo Kholwa Brothers, responsável pela trilha sonora de Milágrimas (2005), obra em que o brasileiro atuava e era dirigido por Ivaldo Bertazzo. A transposição dessa técnica ao contexto brasileiro está na base da cia. Gumboot Dance Brasil. No palco, ou melhor, na live, diante da conjuntura pandêmica, artistas alinhados por corporeidades e musicalidades dialogam a partir de texturas expressivas para narrar a que vieram. Gumboot Dance Brasil está em atividade desde 2008 e foi criada a partir do trabalho do bailarino e coreógrafo Rubens Oliveira, que atuou por oito anos na Cia. Teatro Dança Ivaldo Bertazzo. Ele conheceu a cultura, a técnica e o pensamento a propósito da dança de botas de borracha por meio do grupo Kova Brothers, da África do Sul. E desde então se empenha em pesquisá-la e difundi-la no Brasil. Instrumental Sesc Brasil é um projeto pioneiro de música, que foi adaptado para TV em 1990, mas já existia nos palcos da unidade do Sesc Avenida Paulista desde o início da década de 1980. Atualmente, os shows acontecem semanalmente no Teatro Anchieta, no Sesc Consolação. É um espaço de encontro entre músicos novos e consagrados de diversas vertentes.
Music and dance are fully twinned in this encounter. The group of instrumentalists formed by Eduardo Marmo (bass), Maurício Oliveira (sax). Tamiris Silveira (keyboards), and Theodoro Nagô (guitar), directed by the dancer, and here also body percussionist Rubens Oliveira, present at Instrumental Sesc Brasil a show with a repertoire of soundtracks from Gumboot Dance Brasil. The ballerina Munique Costa also participates in the body percussion. The dancer, choreographer, and director Rubens Oliveira has always valued the construction and immersion of musical composition in his works. In Yebo, he presents the sonorities on stage to be heard by the body. The word yebo means “yes, let’s go,” a common expression among workers submitted to slavery-analogous conditions in gold and diamond mines in South Africa amid the 19th century, led by Dutch and British colonizers. Due to the profusion of identities and languages spoken by those coming from different regions of the country, these men, mostly black, found in the beat of the rubber boots, in singing and screaming, the perfect conjunction to have a non-verbal communication. Thence the metaphor of the body as an instrument is raised to the nth percussive power in the gumboot dance to which Oliveira was introduced by the South African choreographer and soprano Derrick Mlambo, cofounder of the Kholwa Brothers group, responsible for the soundtrack of Milágrimas (2005), work where the Brazilian acted and was directed by Ivaldo Bertazzo. The transposition of this technique to the Brazilian context is the base of the Cia. Gumboot Dance Brasil. On the stage, better saying, on the live, because of the pandemics, artists aligned by corporeality and musicality dialogue from expressive textures to tell what they came for. Gumboot Dance Brasil has been in activity since 2008 and was created from the work of the dancer and choreographer Rubens Oliveira, who acted for eight years in Cia. Teatro Dança Ivaldo Bertazzo. He got in touch with the culture, technique, and thinking of the rubber boots dance through the Kova Brothers group from South Africa. Since then, he has been dedicated to its research and dissemination in Brazil. Instrumental Sesc Brasil is a pioneer music project that was adapted for TV in 1990, but it has already existed on the stages of Sesc Avenida Paulista since the beginning of the 1980s. Currently, the shows are weekly at Teatro Anchieta, at Sesc Consolação. It is a space of encounters between new and established musicians of diverse strands.
63
64
2
65
Mostras Especiais [Special Shows]
66
A Bienal Sesc de Dança segue com sua vocação de fomentar a dança contemporânea por meio de uma programação que contempla investigações de artistas de diferentes regiões do Brasil e do exterior. Esta edição presta homenagens especiais a Ismael Ivo e Lia Rodrigues Companhia de Danças, por meio da exibição de obras e criações inéditas. Apresenta, também, a coleção de filmes Ó, Meu Corpo!, com curadoria de Amaranta César, exibição Danças para Todas as Telas, uma seleção de videodanças produzidas por artistas jovens da cena contemporânea, e ainda Coreografias de Cabeceira, série de vídeos curtos, criados especialmente para o Instagram, que apresenta uma seleção de publicações em dança para conhecer e compartilhar. The Sesc Dance Biennial keeps with the mission of fostering contemporary dance through a program including investigations by artists from different regions of Brazil and abroad. This edition pays special tribute to Ismael Ivo and Lia Rodrigues Companhia de Danças, through the exhibition of new works and creations. It also presents the film collection Ó, Meu Corpo! (Oh, My Body!) curated by Amaranta César, Danças para Todas as Telas (Dances for All Screens) exhibition, a selection of video dances produced by young artists from the contemporary scene, and also Coreografias de Cabeceira (Bedside Choreographies), a series of short videos produced especially for Instagram, which presents a selection of dance publications to discover and share.
67
68 Lia Rodrigues – Cadernos de Criação [Lia Rodrigues – Creation Notebooks]
84 Ismael Ivo [Ismael Ivo]
93 Coreografias de Cabeceira [Bedside Choreographies]
96 Ó, Meu Corpo! Uma coleção de filmes incorporados [Oh, My Body! A collection of embeddeb films]
108 Danças para Todas as Telas Dances for All Screens
68
Homenagem [Tribute]
Lia Rodrigues | Cadernos de Criação [Lia Rodrigues | Creation Notebooks] 30 anos da Lia Rodrigues Companhia de Danças [30 Years of Lia Rodrigues Companhia de Danças] Brasil/RJ [Brazil/RJ]
16 anos [16 years old] www.liarodrigues.com liarodriguescompanhia liarodriguescompanhiadedancas
O projeto Cadernos de Criação foi idealizado e desenvolvido por [The Notebooks of Creation project was conceived and developed by]: Amália Lima, Andrey Silva, Carolina Repetto, Clara Amorim, Felipe Vian, Gabi Gonçalves, Karolline Silva, Larissa Lima, Leonardo Nunes, Lia Rodrigues, Ricardo Xavier e Valentina Fittipaldi; Edição de imagem [Image editing]: David Costa; Música interpretada e composta por [Music performed and composed by]: Zeca Assumpção; Um agradecimento muito especial a [A very special thanks to]: Ana Godoy, André Boccheti, Alexandre Seabra, Helena Katz, Isabelle Launay, Marina Guzzo, Ricardo Carmona, Sammi Landweer e Silvia Soter, juntamente com a equipa HAU Hebbel am Ufer, em Berlim; Produção [Production]: Lia Rodrigues Companhia de Danças e Corpo Rastreado; HAU Hebbel am Ufer
No âmbito da covid-19, e a convite do teatro HAU Hebbel am Ufer, na Alemanha, a carioca Lia Rodrigues Companhia de Danças burilou um modo de processar o caminho percorrido em três décadas e em pleno marco das tantas emergências planetárias. O trabalho sobre a memória e o enfrentamento das incertezas do presente foram como que inventariados à maneira de cadernos elaborados a partir de procedimentos audiovisuais e difundidos na plataforma virtual do espaço berlinense no semestre passado. Nesta edição, a Bienal Sesc de Dança os apresentou no Brasil por meio da Plataforma Sesc Digital. São prospectados os universos poético, político e artístico, numa colagem de ensaios, apresentações, inspirações, imagens, fotografias e depoimentos. Em dois episódios sobressaem a abordagem das sequelas da crise sanitária e a mobilização das lideranças do Complexo da Maré (RJ), onde a companhia está sediada desde 2004, no Centro de Artes da Maré, em parceria com a organização Redes da Maré. Elo incrementado ainda pela colaboração em ações artístico-culturais na Escola Livre de Dança da Maré. A favela abriga cerca de 140 mil habitantes – maior que 80% das cidades brasileiras. Nesse território, as injustiças sociais tornaram os efeitos da pandemia ainda mais devastadores, incidindo sobre o dia a dia da companhia, como se dará a ver. Os demais cadernos interagem com obras do repertório ensaiadas em 2019 e programadas para 2020, a propósito dos 30 anos do núcleo artístico – mas toda a agenda foi suspensa, como sabemos. São elas: Aquilo de que Somos Feitos, Formas Breves, Pindorama, Para que o Céu Não Caia e Fúria. A seguir, a sinopse de cada volume escrito pela companhia.
Within the covid-19 scope, and invited by the theater HAU Hebbel am Ufer, in Germany, Lia Rodrigues Companhia de Danças, from Rio de Janeiro, refined a way of processing the path taken for three decades, amidst a milestone of so many planetary emergencies. The work on the memory and confrontation of the uncertainties of the present time were somehow inventoried in the form of notebooks prepared from audiovisual procedures and disclosed in the Berliner’s space virtual platform last semester. Now, Sesc Dance Biennial presents them in Brazil through the Sesc Digital Platform. The poetic, political, and artistic universes are prospected in a collage of essays, presentations, inspirations, images, photographs, and testimonies. In two episodes, the approach of the consequences of the health crisis and leadership mobilization in Complexo da Maré (RJ) stands out, where the company has been hosted since 2004, at the Centro de Artes Maré, in partnership with the organization Redes da Maré. The link is incremented also by the collaboration in artistic-cultural actions at Escola Livre de Dança da Maré. The favela is home to around 140 thousand inhabitants – larger than 80% of the Brazilian cities. In this territory, social injustices caused the pandemic effects to be even more devastating, reflecting on the company’s every day, as it will be seen. The other notebooks interact with works from the repertoire, rehearsed in 2019 and scheduled for 2020, for the 30 years of the artistic nucleus – but the entire program was suspended, as we know. They are: Aquilo de que Somos Feitos [What We Are Made Of], Formas Breves [Brief Forms], Pindorama, Para que o Céu Não Caia [For the sky not to fall] and Fúria [Fury]. Next, the synopsis for each volume written by the company.
69
70
Caderno “Aquilo de que Somos Feitos” [Notebook “Aquilo de que Somos Feitos”] Depois de três anos (1994 a 1997) trabalhando com projetos em torno do artista e intelectual brasileiro autor de Macunaíma, Mário de Andrade, em 1998 a coreógrafa Lia Rodrigues foi convidada para, com sua companhia, criar uma performance para a abertura da retrospectiva da obra de Lygia Clark, no Rio de Janeiro. A essa experiência se juntaram as comemorações dos 500 Anos do Descobrimento do Brasil, em 2000. Enquanto o governo celebrava a chegada dos portugueses ao país, dentro de uma perspectiva histórica eurocêntrica, outras vozes contestavam a versão da descoberta, considerando que o Brasil foi conquistado e invadido. Essa data indicava o início da colonização portuguesa que, como as outras colonizações europeias, além da exploração de recursos naturais, provocou genocídios históricos dos povos originários. Nos ensaios, investigamos memória, formas de luta e resistência, palavras de ordem e os diferentes significados da palavra “descobrir”. Os artistas pesquisaram o corpo nu e suas possibilidades de criar figuras fantasmáticas e inusitadas. Aquilo de que Somos Feitos estreou em julho de 2000, no Espaço Cultural Sérgio Porto, Rio de Janeiro, com apoio da Compagnie Maguy Marin, da França, através do projeto Accueil Studio. Nesses 20 anos a peça já percorreu inúmeras cidades brasileiras e diversos países mundo afora, sendo apresentada até hoje.
After three years (1994-1997) working with projects related to the Brazilian artist and intellectual, author of Macunaíma, Mario de Andrade, in 1998 the choreographer Lia Rodrigues was invited to create, with her company, a performance for the opening of Lygia Clark’s work retrospective, in Rio de Janeiro. The 500 years of Brazil’s discovery celebrations joined this experience in 2000. While the government celebrated the Portuguese’s arrival in the country, other voices challenged the discovery’s version within a Eurocentric historical perspective, considering that Brazil was conquered and invaded. This date indicated the start of Portuguese colonization that, like other European colonizations, besides exploring the natural resources, caused historical genocides of the native people. In the essays, we investigate memory, forms of fight and resistance, words of order, and the different meanings of the word “discover.” The artists researched the naked body and its possibilities for creating phantasmic and unusual figures. Aquilo de que Somos Feitos [What We Are Made Of] premiered in July 2000 at the Espaço Cultural Sérgio Porto, Rio de Janeiro, with support from Compagnie Maguy Marin, France, through the project Accueil Studio. In these 20 years, the play had already been through countless Brazilian cities and several countries worldwide, being performed to this day.
71
72
Caderno “Covid-19“
73
[Notebook “Covid-19”] De março de 2020 a janeiro de 2021 a companhia se manteve em atividade com encontros virtuais de conversas, aulas e leituras. Fizemos também algumas experiências de diálogo com os trabalhos do repertório que iríamos apresentar em 2020. No Brasil, estamos vivendo um dos momentos mais terríveis da história recente do país. A crise sanitária provocada pela covid-19 expõe as circunstâncias precárias em que vive a maioria dos brasileiros, com a profunda desigualdade social e violação dos direitos humanos que marcam o passado e o presente do nosso país. Muitas vidas estão em ameaça constante: da população negra e indígena, da população trans LGBTQIA+, das mulheres. Em 2020, com a celebração dos 30 anos da Companhia Lia Rodrigues, havia uma agenda muito intensa de apresentações, mas tudo precisou ser cancelado. Entretanto, a companhia pôde contar com a solidariedade e o apoio de seus parceiros na Europa e no Brasil para poder fazer sobreviver durante todo o ano, além da manutenção do Centro de Artes da Maré e da Escola Livre de Dança da Maré, projetos desenvolvidos em parceria com a Redes da Maré.
From March 2020 to January 2021, the company remained active with virtual meetings for talks, classes, and readings. We also carried out some dialog experiences with the works from the repertoire we were going to present in 2020. In Brazil, we are experiencing one of the most terrible times in the country’s recent history. The health crisis caused by covid-19 exposes the precarious circumstances in which most Brazilians live, with deep social inequality and violation of the human rights that mark our country’s past and present. Many lives are under constant threat: the black and indigenous population, trans LGBTQIA+ population, women. In 2020, there was a very intense performance schedule to celebrate the 30 years of Companhia Lia Rodrigues, but it all had to be canceled. However, the company counted on the solidarity and support from its partners in Europe and Brazil so it could survive throughout the year, besides maintaining the projects Centro de Artes da Maré and Escola Livre de Dança da Maré, developed in partnership with Redes da Maré.
74
Caderno “Formas Breves”
75
[Notebook “Formas Breves”] Em 2002, Lia Rodrigues, juntamente com a dramaturga Silvia Soter e os bailarinos da companhia propuseram trabalhar em um encontro de dois artistas: o escritor Ítalo Calvino e o pintor e coreógrafo Oskar Schlemmer, identificando questões que moviam pontos em comum, afinidades e dissonâncias. Em comum, a discussão do homem e seu futuro e a investigação das estruturas por trás da obra artística. O movimento Bauhaus se propunha a fazer “a construção do futuro” e Schlemmer se preocupava com a relação entre o corpo com a geometria e o espaço. Em seu livro, Seis Propostas para o próximo milênio, Ítalo Calvino apontou seis qualidades imprescindíveis na literatura: leveza, rapidez, exatidão, visibilidade, multiplicidade e consistência. Essas qualidades deveriam nortear não apenas a atividade dos escritores, mas cada um dos gestos de nossa existência. Enquanto Schlemmer nos inspirou com uma frase: “É bem simples: ter o mínimo de preconceito possível, abordar os objetos como se o mundo acabasse de ter sido criado, não se matar de tanto meditar sobre uma coisa, mas deixar que ela se desenvolva, claro que com prudência, porém livremente. Ser simples, não pobre”. Formas Breves estreou no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro, em abril de 2002.
In 2002, Lia Rodrigues and the playwright Silvia Soter and the company’s dancers proposed to work in a gathering of two artists: writer Ítalo Calvino and painter and choreographer Oskar Schlemmer, identifying matters that drove points in common, affinities, and dissonances. In common, the discussion of the man and their future, and the investigation behind the artistic work. The Bauhaus movement proposed itself to make the “building of the future,” and Schlemmer was concerned with the relationship between the body with geometry and space. In his book, Six Memos for the Next Millennium, Ítalo Calvino pointed out six indispensable qualities in literature: lightness, quickness, exactitude, visibility, multiplicity, and consistency. These qualities should guide not only the writers’ activity but each one of the gestures from our existence. While Schlemmer inspired us with one sentence: “It is very simple: One should be as free of prejudice as possible, one should act as if the world had just been created; one should not analyze a thing to death, but rather let it unfold gradually and without interference.” One should be simple, not poor.” Formas Breves [Brief Forms] premiered at Centro Cultural Banco do Brasil, in Rio de Janeiro, in April 2002.
76
Caderno “Fúria”
77
[Notebook “Fúria”] Como espiar o tempo em um mundo dominado por uma infinidade de imagens contrastantes – hediondas e belas, sombrias e luminosas –, atravessadas por uma infinidade de perguntas não respondidas e permeadas de contradições e paradoxos? Como espiar o tempo em um mundo de fúria? Como dar visibilidade e voz ao invisível e silenciado? Para a criação de Fúria, construímos um grande mural em uma das paredes do Centro de Artes da Maré com imagens que colecionamos: do Brasil e do mundo, do presente e do passado; de alegria, dor, violência; medonhas e belas, sombrias e luminosas. Começamos nosso processo criativo articulando essas figuras entre si e criando ambientes, texturas, cores e situações coreográficas e espaciais para formar um quadro-vivo (tableau vivant). Os elementos cênicos e o figurino foram criados por nós ao longo dos ensaios, reciclando materiais de outras performances. A paisagem sonora foi construída com um trecho de um minuto, repetido ininterruptamente, de uma música tradicional dos Kanak, da Nova Caledônia, território francês na Oceania. A escritora brasileira Conceição Evaristo também foi muito importante para a nossa criação. Entre 2017 e 2018 ocorreu uma exposição sobre sua vida e seu trabalho no Centro de Artes da Maré e seus textos e depoimentos nos inspiraram em nossas improvisações. “E quando a dor vem encostar-se a nós, enquanto um olho chora, o outro espia o tempo procurando solução” (Conceição Evaristo, 2015). Fúria foi concebida no Centro de Artes da Maré, sede da Lia Rodrigues Companhia de Danças, e estreou em novembro de 2018 em parceria com o Festival d’Automne de Paris, no Théâtre National de Chaillot e no teatro Le Centquatre.
How to spy the time in a world dominated by an infinity of contrasting images – hideous and beautiful, dark and bright -, pierced by an infinity of unanswered questions and full of contradictions and paradoxes? How to spy the time in a world of fury? How to give visibility and voice to the invisible and silenced? For the creation of Fúria [Fury], we created a large mural in one of the walls at the Centro de Artes da Maré with images we collected: from Brazil and the world, the present and the past; of joy, pain, violence; horrific and beautiful, dark and bright. We started our creative process articulating these figures among themselves and creating environments, textures, colors, and choreographic and spatial situations to form a living picture (tableau vivant). We created the scenic elements and the costume design throughout the rehearsals, recycling materials from other performances. The audio landscape was built with a one-minute excerpt, repeated uninterruptedly, of a traditional song from the Kanak, from New Caledonia, a French territory in Oceania. Brazilian writer Conceição Evaristo was also very important to our creation. Between 2017 and 2018, an exhibit about her life and work occurred at Centro de Artes da Maré, and her writing and testimonies inspired us in our improvisations. “And when the pain leans against us, while one eye cries, the other one spies the time seeking for a solution” (Conceição Evaristo, 2015). Fúria [Fury] was created at the Centro de Artes da Maré, Lia Rodrigues Companhia de Danças headquarters, and premiered in November 2018, in partnership with the Festival d’Automne de Paris, at Théâtre National de Chaillot and Le Centquatre theater.
78
Caderno “Maré”
79
[Notebook “Maré”] A Redes da Maré é uma organização da sociedade civil que promove a construção de uma rede de desenvolvimento sustentável voltada para a transformação estrutural da favela da Maré, uma das maiores do Rio de Janeiro. Com 140 mil habitantes em condições socioeconômicas extremamente difíceis, ela é maior que 80% das cidades brasileiras. É um local vibrante, com forte tradição de ativismo e auto-organização, rico em eventos populares, produções artísticas e com um comércio efervescente. Em 2004, Lia Rodrigues mudou as atividades da companhia de dança para o Complexo da Maré, onde vem desenvolvendo projetos artísticos e pedagógicos desde então. Em 2009 nasceu o primeiro projeto resultante da parceria da companhia com a Redes da Maré. Um galpão abandonado foi o pontapé inicial para a criação do Centro de Artes da Maré, um lugar com diversos projetos culturais e sociais, que é também sede da companhia e onde são realizadas pré-estreias e temporadas das criações. Em 2011, outro projeto nasceu: a Escola Livre de Dança da Maré, combinando aulas livres de dança e atividades socioculturais para cerca de 300 estudantes de todas as idades. Além disso, um grupo de 16 jovens recebe uma formação continuada em dança. No contexto da covid-19, desde março de 2020 o Centro de Artes da Maré foi totalmente ocupado com alimentos, garrafões de água, produtos de higiene e limpeza e Equipamentos de Proteção Individual (EPI) para doação a 17 mil famílias da região que vivem em extrema pobreza. A iniciativa fez parte da campanha “Maré Diz NÃO ao Coronavírus”, da qual muitos alunos da Escola Livre de Dança da Maré foram voluntários. Das favelas emergem coragem, habilidade de cooperação, soluções inventivas e esperança. Este caderno traz imagens do processo de construção do Centro de Artes da Maré de 2009 até os dias de hoje, além da história da Escola Livre de Dança da Maré.
Redes da Maré is a civil society organization that promotes building a sustainable development network targeted at the structural transformation of the Maré favela, one of Rio de Janeiro’s largest. With 140 thousand inhabitants under extremely tough social-economic conditions, it is larger than 80% of the Brazilian cities. It is a vibrant place, with strong activism and self-organization tradition, rich in popular events, artistic productions, and a lively trade. In 2004, Lia Rodrigues moved the dance company activities to Complexo da Maré, where she has been developing artistic and educational projects ever since. In 2009, the first project resulting from the company’s partnership with Redes da Maré was born. An abandoned shed was the kick-off for the creation of the Centro de Artes da Maré, a place with various cultural and social projects, and that is also the company’s headquarters, where the premieres and seasons of the creations are performed. In 2011, another project was born: Escola Livre de Dança da Maré, combining free dance classes and social-cultural activities to around 300 students of all ages. Besides, a group of 16 young people receives a continued dance education. Within the covid-19 context, since March 2020, the Centro de Artes da Maré was fully occupied with food, water bottles, hygiene and cleaning products, and Personal Protection Equipment (PPE) to be donated to 17 thousand families in the region that live under extreme poverty. The initiative was part of the campaign “Maré Says NO to the Coronavirus,” of which many students from the Escola Livre de Dança da Maré were volunteers. From the favelas emerge courage, the ability to cooperate, inventive solutions, and hope. This notebook presents images of Centro de Artes da Maré’s construction process, from 2009 to this day, besides Escola Livre de Dança da Maré’s history.
80
Caderno “Para que o Céu Não Caia” [Notebook “Para que o Céu não Caia”] Em 2015, os artistas da companhia e os alunos do núcleo de formação continuada da Escola Livre de Dança da Maré criaram um Questionário AfetivoCultural-Corporal para ser realizado com moradores de várias faixas etárias da Maré. Foram mais de cem entrevistas com depoimentos gravados, em que as pessoas falaram sobre suas vidas, dança, arte, expectativas para o futuro, sonhos, medos, desejos. Esses relatos individuais, em suas dimensões políticas e estéticas, foram material de trabalho para que os artistas da companhia e os alunos da escola criassem um exercício coreográfico que foi apresentado no Centro de Artes da Maré nesse mesmo ano. A ação marcou o início da pesquisa para a criação do espetáculo Para que o Céu Não Caia. Foram nove meses de ensaios no Centro de Artes da Maré no período mais quente do ano. Os livros Há Mundos por Vir?, de Déborah Danowski e Eduardo Viveiros de Castro, e A Queda do Céu, de Davi Kopenawa – baseado em relatos em língua Yanomami recolhidos pelo etnólogo Bruce Albert – foram fontes importantes de inspiração. “Só existe um céu e é preciso cuidar dele, porque, se ficar doente, tudo vai se acabar.” Essas são as palavras de Davi Kopenawa, o xamã do povo Yanomami da floresta amazônica. “Rompida a harmonia da vida no universo, o céu – ‘aquilo que está acima de nós’ – desaba sobre todos os que estão abaixo.” Como não desistir, quando todos os dias somos confrontados com as forças do caos e assombrados por desastres e atrocidades? O que resta fazer? O que cada um de nós pode fazer para proteger o céu? Vamos juntar nossa força interior para manter este céu. Cada um à sua maneira. Dançamos ao ritmo de máquinas e carros, helicópteros, sirenes; dançamos com chuva e tempestade e sol escaldante; dançamos como oferenda e homenagem para não murchar, durar e apodrecer, mover o ar e expandir; para sonhar e visitar lugares sombrios; dançamos para nos tornarmos vaga-lumes; para sermos fracos e para resistir. Dançamos para encontrar uma maneira de permanecer vivos e sobreviver neste mundo de cabeça para baixo. Para que o Céu Não Caia estreou em maio de 2016 no Teatro Hellerau, em Dresden, Alemanha.
In 2015, the artists from the company and the students from the continued education center of the Escola Livre de Dança da Maré created an Affective-Cultural-Bodily Questionnaire to be taken with Maré residents from several ages groups. There were more than one hundred interviews with recorded depositions, in which people talked about their lives, dance, art, expectations for the future, dreams, fears, desires. Within their political and aesthetic dimensions, these individual stories provided work material so that the company’s artists and the school’s students could create a choreography exercise presented at Centro de Artes da Maré in this same year. The action marked the beginning of the research to create the show Para Que o Céu Não Caia [So The Sky Won’t Fall]. The rehearsals lasted nine months at Centro de Artes da Maré, in the hottest time of the year. The books Há Mundos por Vir? [Are There Worlds to Come?], by Déborah Danowski and Eduardo Viveiros de Castro, and A Queda do Céu [The Fall of the Sky], by Davi Kopenawa – based on stories in the Yanomami language collected by ethnologist Bruce Albert – were important sources of inspiration. “There is only one sky, and it must be taken care of because if it gets sick, everything will end.” These are the words from Davi Kopenawa, the Yanomami tribe shaman from the Amazon forest. “If the harmony of life in the universe, the sky breaks, – ‘the thing that is above us’ – collapses over all of us that are below.” How do we not give up when we are confronted by the forces of the chaos and hunted by disasters and atrocities every day? What is left for us to do? What each of us can do to protect the sky? Let’s combine our inner strength to maintain this sky. Each in our own way. We dance to the rhythm of machines and cars, helicopters, sirens; we dance with rain and storm and blazing sun; we dance as an offering and a tribute so it won’t wither, harden, and rot, we move the air and expand; to dream and visit dark places; we dance so we can become fireflies; to be weak and to resist. We dance to find a way to stay alive and survive in this upside-down world. Para Que o Céu Não Caia [So The Sky Won’t Fall] premiered in May 2016 at Hellerau Theather in Dresden, Germany.
81
82
Caderno “Pindorama”
83
[Notebook “Pindorama”] Em 2013, a artista Christiane Jatahy convidou a Lia Rodrigues Companhia de Danças a participar do projeto In Drama, em torno do livro de Clarice Lispector A descoberta do mundo. Escolhemos trabalhar em torno de uma palavra encontrada em uma das crônicas desse livro – “arfar” – e reciclamos experiências feitas com material cênico já testadas em outras criações. Essa performance aconteceu em abril desse mesmo ano na Casa França-Brasil no Rio de Janeiro. Esse foi o ponto de partida para a pesquisa de criação de Pindorama, palavra de origem Tupi que significa “terra das palmeiras” e o nome do Brasil antes da chegada dos portugueses. Um pedaço de plástico transparente, esferas translúcidas, corpos nus, silêncio, água e o verbo arfar. Quais rituais, sacrifícios e acordos seriam necessários para a constituição de um coletivo, ainda que temporário? Como abordar, ainda uma vez, as possibilidades do estar juntos, misturando-se até a diluição? Afirmando limites e singularidades? Como criar ciclos de morte, transformação, vida? Pindorama completa um tríptico sobre as relações entre o grupo e o indivíduo que começou com Pororoca (2009) e continuou com Piracema (2010). A estreia foi realizada em novembro de 2013 no Théâtre Jean Vilar de Vitry-sur-Seine, na França, dentro da programação do Festival d’Automne de Paris.
In 2013, artist Christiane Jatahy invited Lia Rodrigues Companhia de Danças to participate in the project In Drama, around Clarice Lispector’s book, Discovering the World. We chose the work around a word we found in one of these book’s chronicles – “gasp” – and recycled experiences made with scenic material already tested in other creations. This performance happened in April of this same year at Casa França-Brasil, in Rio de Janeiro. This was the starting point for Pindorama‘s creation research, a Tupi word that means “land of the palm trees” and Brazil’s name before the Portuguese’s arrival. A piece of transparent plastic, translucid spheres, naked bodies, silence, water, and the verb gasp. Which rituals, sacrifices, and agreements would it take to form a collective, even if temporary? How to approach, even if once, the possibilities of being together, blending in until the dilution? Stating limits and singularities? How to create cycles of death, transformation, life? Pindorama completed a triptych about relationships between the group and the individual, which started with Pororoca (2009) and continued with Piracema (2010). The premiere happened in November 2013, at the Théâtre Jean Vilar de Vitry-sur-Seine, in France, within the Festival d’Automne de Paris program.
84
Homenagem [Tribute]
Ismael Ivo [Ismael Ivo] Mostra audiovisual evocou o coreógrafo e bailarino Ismael Ivo [Audiovisual showcase evokes the choreographer and dancer Ismael Ivo] Brasil/SP [Brazil/SP], Livre [All ages]
Através da plataforma Sesc Digital, a Bienal apresentou uma mostra de obras e espetáculos que rememoram o coreógrafo e bailarino morto em abril de 2021, aos 66 anos, vítima da covid-19. Registros audiovisuais de espetáculos concebidos e interpretados por Ismael Ivo, bem como o recém-lançado documentário sobre a vida e a obra do artista integram a coleção. Negro e filho de empregada doméstica, Ismael Ivo, contrariando os indicadores sociais, saiu da periferia da cidade de São Paulo para tornar-se uma figura consagrada e reconhecida no Brasil e no mundo. Os brasileiros Ruth Rachou, Renée Gumiel, Klauss Vianna, Dulce Aquino e Marcia Haydée, e o estadunidense Alvin Ailey são alguns dos nomes com quem Ismael compartilhou vivências pedagógicas e profissionais. Criou e dirigiu o Festival ImpulzTanz, em Viena, foi diretor do Teatro Nacional Alemão, em Weimar, diretor da Bienal de Veneza e idealizador do L’Arsenalle della Danza. A Coleção Ismael Ivo apresentou um recorte especial do acervo da série Dança Contemporânea, produzida e exibida pelo SescTV desde 2007. Dentre os espetáculos programados estão: Mapplethorpe (2007), tributo ao fotógrafo estadunidense Robert Mapplethorpe; Babilônia: Il Terzo Paradiso (2012), com bailarinos de 25 nacionalidades; Erêndira (2014), que compõe o projeto Biblioteca do Corpo; e Logos Diálogos – Parte 3 (2014), com direção e interpretação musical do violoncelista Dimos Goudaroulis e coreografia e interpretação de Ismael Ivo. Todos os trabalhos foram dirigidos por Antonio Carlos Rebesco e apresentam, além das versões editadas dos espetáculos, entrevistas exclusivas com os artistas. O Acervo do SescTV traz ainda a videoarte Me Empresta Teus Olhos – Ismael Ivo (2014), dirigida por por André Guerreiro Lopes. A novidade da mostra fica por conta do recémlançado Ismael Vivo. Produzido em 2021 pela TV Cultura e dirigido por Alberto Pereira Jr., o documentário reúne mais de 30 depoimentos e uma coleção de registros de várias fases da carreira do artista, dentre eles, imagens raras do acervo da própria emissora. A narrativa é conduzida pelo olhar da jovem atriz e cantora fluminense Merícia Cassiano.
Through Sesc Digital Platform, the Biennial presents a showcase of works and performances that recall the choreographer and dancer who died in April 2021, aged 66, victim of Covid-19. Audiovisual records of performances conceived and performed by Ismael Ivo, as well as the recently released documentary about the artist’s life and work are part of the collection. Black and son of a housekeeper, Ismael Ivo, contrary to social indicators, left the outskirts of the city of São Paulo to become an established and recognized figure in Brazil and the world. Brazilians Ruth Rachou, Renée Gumiel, Klauss Vianna, Dulce Aquino, and Marcia Haydée, and Alvin Ailey from the USA are some of the names who Ismael shared pedagogical and professional experiences with. He created and directed the ImpulzTanz Festival, in Vienna, was the director of the German National Theater, in Weimar, director of the Venice Biennale, and creator of L’Arsenalle della Danza. The Ismael Ivo Collection starts with the presentation of a special section of the Contemporary Dance series collection, produced and exhibited by SescTV since 2007. The scheduled shows include: Mapplethorpe (2007), a tribute to American photographer Robert Mapplethorpe; Babilônia: Il Terzo Paradiso (2012), with dancers from 25 nationalities; Erêndira (2014), which is part of Biblioteca do Corpo (Body Library) project; and Logos Diálogos – Part 3 (2014), with direction and musical interpretation by cellist Dimos Goudaroulis and choreography and interpretation by Ismael Ivo. All works were directed by Antonio Carlos Rebesco and include, in addition to edited versions of the performances, exclusive interviews with the artists. The SescTV Collection also features the video artwork Me Empresta Teus Olhos (Lend Me Your Eyes) – Ismael Ivo (2014), directed by André Guerreiro Lopes. The novelty of the show is the recently released Ismael Vivo. Produced in 2021 by TV Cultura and directed by Alberto Pereira Jr., the documentary brings together more than 30 testimonies and a collection of records from many stages of the artist’s career, including rare images from the station’s own collection. The narrative is narrated by the young actress and singer from Rio de Janeiro, Merícia Cassiano.
85
86
A Sagração da Primavera [The Rite of Spring] 2018, (58 min; 14 anos) gravado no Theatro Municipal de São Paulo Em A Sagração da Primavera, a beleza se introduz com uma suave chuva de pétalas de rosas. Porém, subsequentemente, dá lugar a uma tempestade de pétalas, num delírio incessante e incontrolável. Uma metáfora e uma forma de alarme do desequilíbrio das condições ambientais. A coreografia se encaminha para um ritual coletivo em que cada membro se torna um veículo que expressa conflitos contemporâneos, desejos, aspirações, sensualidade e gênero. O corpo tentando despertar seus instintos primários. Um ritual misterioso, que busca a beleza, desejos, sensualidade e aspirações humanas.
In The Rite of Spring, beauty is introduced with a gentle shower of rose petals. However, it subsequently gives way to a storm of petals, in an incessant and uncontrollable delirium. A metaphor and a form of alarm about the unbalanced environmental conditions. The choreography moves towards a collective ritual in which each member becomes a vehicle that expresses contemporary conflicts, desires, aspirations, sensuality, and gender. The body trying to awaken its primal instincts. A mysterious ritual that searches for beauty, desires, sensuality, and human aspirations.
87
Babilonia: Il Terzo Paradiso 2011, 52 min, 12 anos Direção para TV [TV Direction]: Antonio Carlos Rebesco
O espetáculo envolve 25 bailarinos de diferentes nacionalidades do L’Arsenale della Danza, da Bienal de Veneza, e é o último trabalho de uma trilogia artística que traz à cena questões ambientais e a nossa própria capacidade de sobrevivência. “Essa é a ideia de Babilonia – Il Terzo Paradiso: pessoas de culturas e corpos diferentes que tentam encontrar uma nova forma de se expressar. Babilonia é um pouco esse quadro aberto de fantasia, de tentativa da dança como espelho da sociedade – como um documento de um indivíduo hoje na sociedade, que faz da arte o seu veículo de expressão”, explica o coreógrafo.
The show involves 25 dancers of different nationali-ties from L’Arsenale della Danza, of the Venice Bien-nale, and is the last work of an artistic trilogy that brings to the stage environmental issues and our own survival capacity. “That is the idea of Babilonia – Il Terzo Paradiso: people from different cultures and different bodies trying to find a new way to express themselves. Babilonia is a bit of this open picture of fantasy, of an attempt of dance as a mirror of society as a document of an individual today in society, who makes art his or her vehicle of expression,” ex-plains the choreographer.
88
Biblioteca del Corpo 2012, 58 min, 16 anos Direção para TV [TV Direction]: Antonio Carlos Rebesco
A coreografia inspirada no conto A Biblioteca de Babel, do argentino Jorge Luis Borges, apresenta a
concepção dos corpos como livros que contêm diferentes conhecimentos e fazem parte de uma espécie de “enciclopédia humana”, com diversas informações e identidades neles presentes. Ismael Ivo concebeu a obra e dirigiu bailarinos do L’Arsenale della Danza, da Bienal de Veneza, espécie de mestrado em dança para artistas jovens, proporcionando um aprofundado conhecimento corporal e amadurecimento de seus bailarinos. A cenografia de Marcel Kaskeline proporciona uma instalação que reporta ao ambiente de uma enorme biblioteca, na qual os corpos encaixotados em pequenos compartimentos acabam por romper as repartições e iniciam a jornada por troca de informações.
The choreography inspired by the short story A Biblioteca de Babel (The Library of Babel), by Argentine Jorge Luis
Borges, presents the conception of bodies as books that contain different information and are part of a kind of “human encyclopedia”, with diverse information and identities in them. Ismael Ivo conceived the work and directed dancers from L’Arsenale della Danza, at the Venice Biennale, a kind of master’s degree in dance for young artists, providing a deep corporal knowledge and maturing of its dancers. Marcel Kaskeline’s scenography provides a setup reminding the atmosphere of a huge library, in which bodies boxed into small compartments eventually break through the compartments and begin the journey to exchange information.
89
Erêndira 2014, 55 min, 16 anos Direção para TV [TV Direction]: Antonio Carlos Rebesco
Coreografia embrionária do projeto Biblioteca do Corpo, dirigida por Ismael Ivo e inspirada no romance A Incrível e Triste História da Cândida Erêndira e da Sua Avó Desalmada, do colombiano Gabriel García
Márquez. Estreado em Viena, no ImPulsTanz Festival, o espetáculo traz à baila questões relacionadas à prostituição infantil, presente na obra literária, em que a avó da menina Cândida Erêndira resolve prostitui-la em troca de dinheiro e de alimentos, destruindo o sonho de a criança tornar-se bailarina. Também dialoga com o realismo mágico presente na obra do autor e nesse imaginário que povoa toda a América do Sul. Com a atriz convidada Cleide Queiroz e dançarinos convidados Stefano Roveda e Valentina Schisa.
An embryonic choreography of Biblioteca do Corpo (Body Library) project, directed by Ismael Ivo and inspired by the novel The Incredible and Sad Tale of Innocent Erendira and Her Heartless Grandmother, by Colombian Gabriel García Márquez. Premiered in Vienna at the ImPulsTanz Festival, the performance brings up issues related to child prostitution, present in the literary work, in which the girl Cândida Erendira’s grandmother decides to prostitute her in exchange for money and food, destroying the child’s dream of becoming a ballerina. It also dialogues with the magical realism present in the author’s work and in this imaginary that populates all of South America. With guest actress Cleide Queiroz and guest dancers Stefano Roveda and Valentina Schisa.
90
Ismael Vivo
Mapplethorpe
2021, 54 min, Livre
2007, 57 min, 14 anos
Direção [Direction]: Alberto Pereira Jr.
Direção para TV [TV Direction]: Antonio Carlos Rebesco
O documentário Ismael Vivo revela quem era o humano atrás do artista, seu lado político, e como o poder transformador da arte pode inspirar pessoas. “Ismael Ivo é um ícone da dança mundial. Devido ao seu talento e trabalho incansável, se consagrou nos principais palcos internacionais. Negro e periférico, extrapolou as estatísticas sociais, mostrando o poder transformador da arte. Criou e apoiou inúmeras iniciativas de inclusão social a partir da arte. A história de Ismael serve de inspiração para muitos jovens, ela valida que é possível acreditar nos sonhos”, diz o diretor Alberto Pereira Jr.
Então radicado na Alemanha, Ismael Ivo apresenta o espetáculo solo criado em tributo ao polêmico fotógrafo norte-americano Robert Mapplethorpe (19461989), que retrata, de forma erótica, corpos de homens negros se opondo à moralidade e intolerância racial da sociedade estadunidense da época. Dividida em três partes, Prisão, Flores e Mortalidade, a coreografia evidencia tabus através da fotografia e da dança.
The documentary Ismael Vivo reveals who the human behind the artist was, his political side, and how the transformative power of art can inspire people. “Ismael Ivo is an icon of world dance. Due to his talent and tireless work, he has established himself on major international stages. Black and from the outskirts, he exceeded social statistics, showing the transforming power of art. He created and supported numerous social inclusion initiatives through art. Ismael’s story serves as inspiration for many young people, it validates that it is possible to believe in dreams,” says director Alberto Pereira Jr.
Then living in Germany, Ismael Ivo presents the solo show created as a tribute to the controversial American photographer Robert Mapplethorpe (1946-1989), who portrays, in an erotic way, the bodies of black men opposing the morality and racial intolerance of the American society of the time. Divided into three parts, Prisão, Flores e Mortalidade (Prison, Flowers, and Mortality), the choreography highlights taboos through photography and dance.
91
Me Empresta Teus Olhos [Lend me Your eyes] 2014, 104 min Direção [Direction]: André Guerreiro Lopes
Videoarte gravada com Ismael Ivo durante edição do Mirada – Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas de Santos, em 2014, na ação Laboratório Audiovisual realizada pelo SescTV no contexto do projeto Imersão Olho-Urubu: Olhos de Espelho. Video artwork recorded with Ismael Ivo during the Mirada edition – Santos Performing Arts Ibero-American Festival, in 2014, at Audiovisual Laboratory action carried out by SescTV in the context of the project Imersão Olho-Urubu: Olhos de Espelho (Mirror Eyes).
92
Logos Diálogos | Parte 3 | Ismael Ivo e Cia Anacã 2014, 56 min e 26 min – o programa é composto por dois espetáculos [the program consists of two performances] Direção para TV [TV Direction]: Antonio Carlos Rebesco
Ambos espetáculos dialogam com as Suítes V e VI de Johann Sebastian Bach, executadas pelo violoncelista Dimos Goudaroulis e coreografados por Ismael Ivo e Deborah Colker. No palco, o violoncelista é acompanhado por Ismael Ivo e Cia Anacã. A palavra “diálogo” foi somada ao título para significar vários tipos de interações: o diálogo entre a música e a dança, entre um instrumentista dedicado à obra de Bach e coreógrafos criadores conceituados, entre o antigo e o contemporâneo nas linguagens artísticas, entre o som e o movimento, a música, a dança, o cenário e a iluminação. Idealizado por Luiz Felipe D’Àvila e Ana Diniz, a concepção e direção artística dos trabalhos são de Goudaroulis, que ao longo de 25 anos estudou as seis suítes de Bach.
Both performances dialogue with Suites V and VI by Johann Sebastian Bach, performed by cellist Dimos Goudaroulis and choreographed by Ismael Ivo and Deborah Colker. On stage, the cellist is accompanied by Ismael Ivo and Cia Anacã. The word “dialogue” was added to the title to signify many types of interactions: the dialogue between music and dance, between an instrumentalist dedicated to the work of Bach and choreographers who are respected creators, between ancient and contemporary artistic languages, between sound and movement, music, dance, scenery, and lighting. Conceived by Luiz Felipe D’Àvila and Ana Diniz, the design and artistic direction of the works are by Goudaroulis, who has studied Bach’s six suites over 25 years.
93
Livros
Coreografias de Cabeceira [Bedside Choreographies] Brasil/SP [Brazil/SP], Livre [All ages] Concepção e direção [Conception and direction]: Jon Russo e Rogério Shareid; Realização [Achievement]: Usinanimada
Vídeos veiculados no Instagram e no site da Bienal Sesc de Dança que convidam a conhecer livros que tratam da dança em suas diversas esferas. Por meio do contexto em que foram criados e suas poéticas particulares, o livro dança. Videos that invite you to discover books talking about dance in its different spheres. Through the context in which they were created and their particular poetics, the book dances. The videos will be broadcast on Instagram and on Sesc Dance
Viço Manco Voo [Lame Flight by] João Paulo Lima “Um livro que falta muito para completar o poema de paixão ou de amor ou de denúncia. Ele manca de propósito. Usa a palavra para aleijar todas as pernas e quebrar o ritmo” (João Paulo Lima). “A book that has a long way to go to complete the poem of passion or love or denunciation. It limps on purpose. It uses the word to cripple all the legs and break the rhythm” (João Paulo Lima).
94
O Livro das Envultações [The Book of Envultations by]
Historiografia da Dança: Teorias e Métodos
Alana Falcão e Leonardo Cordeiro
[Dance Historiography: Theories and Methods]
O livro de Alana Falcão e Leonardo Cordeiro convida mais quatro artistas (Inaê Moreira, Neemias Santana, Melissa Figueiredo e Denny Neves) para experimentarem uma dança em que “cada corpo é uma constelação de corpos”. A proposta dos artistas é que o livro seja experimentado como uma dança, como um corpo que se movimenta entre aparecimentos e desaparecimentos de palavras, imagens e sensações. Em sua versão audiolivro propõe danças que só acontecem quando escutadas e imaginadas; uma espécie de cinema que só é visto de ouvidos abertos e olhos fechados. The Book by Alana Falcão and Leonardo Cordeiro invites four more artists (Inaê Moreira, Neemias Santana, Melissa Figueiredo and Denny Neves) to experience a dance in which “each body is a constellation of bodies”. The artists intention is for the book to be experienced as a dance, as a body that moves between appearances and disappearances of words, images and sensations. In its audiobook version, it aims at dances that only happen when heard and imagined; a kind of cinema that is only seen with open ears and closed eyes.
Organização [Organization]: Rafael Guarato “A alteração do figurino não implica necessariamente em mudança de manequim. As recentes propostas de pesquisa em história da dança no Brasil atuam muito aquém de seu enunciado, reforçando antigas formas de legitimação e distinção” (Rafael Guarato). “A change in costume does not necessarily imply a change in mannequin. Recent research proposals in the history of dance in Brazil fall far short of what they claim, reinforcing old forms of legitimization and distinction” (Rafael Guarato).
95
Acordar o Chão: Dramaturgias em Danças Contemporâneas Negras
Traços da Memória da Dança Contemporânea em Salvador – 2000 a 2010
[Waking the Ground: Dramaturgies in Contemporary Black Dances]
[Memory Traces of Contemporary Dance in Salvador – 2000 a 2010]
Organização [Organization]: Kanzelumuka e Murilo de Paula
Concepção e organização [Conception and organization]: Eliana Pedroso
“Por reconhecermos a pertinência na elaboração de um pensamento crítico e poético sobre as dramaturgias produzidas para a dança e, mais especificamente, para danças feitas por artistas negros(as)(es), enraizadas e referenciadas nas culturas afrodiaspóricas e ameríndias, foi o que nos inspirou e instigou a organizar esta publicação” (Kanzelumuka e Murilo De Paula). “Because we recognize the relevance in the development of a critical and poetic thought about the dramaturgies produced for dance and, more specifically, for dances made by black artists, rooted and referenced in Afro-diasporic and Amerindian cultures, that is what inspired and instigated us to organize this publication” (Kanzelumuka and Murilo De Paula)
“Espetáculos geram emoções que viajam no ritmo do tempo e avançam sobre a plateia para propor um diálogo de sensibilidade e sentidos. O catálogo é um pequeno rascunho de uma década, que homenageia a todos os que se dedicam ao ofício de fazer arte” (Eliana Pedroso). “The performances generate emotions that travel at the rhythm of time and advance over the audience to propose a dialogue of sensibility and senses. The catalog is a small draft of a decade, which pays tribute to all those who dedicate themselves to the craft of making art” (Eliana Pedroso)
96
Mostra de filmes [Movies]
Ó, Meu Corpo! Uma coleção de filmes incorporados [Oh, My Body! A collection of embeddeb films] Curadoria de [Curated by] Amaranta Cesar Por [By] Amaranta Cesar “Eu não aceito não ter feito eu mesmo o meu corpo.” Esta famosa frase de Antonin Artaud é fulgurante portadora de uma possível tradução para aquilo que oferece liame a esta coleção de filmes: a questão implicada na figuração/presença dos corpos, central em formas fílmicas que emergiram com força estética e política no Brasil, nos últimos dez anos. A frase de Artaud manifesta a produtiva/performativa tensão entre a superfície de sobredeterminação histórico-cultural que assombra os corpos e o fundo de indeterminação subjetiva que os anima, impulsionando-os a contestar a história e a intervir no seu curso. Ao dizer “eu não aceito não ter feito eu mesmo o meu corpo” é como se Artaud constatasse, com espanto e angústia, “meu corpo não é meu”, “antes de mim, meu corpo já existe”. Resultado de uma trama de histórias antepassadas e estruturas arraigadas, que o abraçam enquanto ele se move, o corpo, sim, antecede e ultrapassa o sujeito. O corpo é uma história de muitos. Uma história que é, ainda, para determinados corpos, herança e ameaça de violência e trauma. Mas é esse reconhecimento – de que o corpo é, em boa medida, despossessão – que enseja as retomadas que aqui encontram formas e narrativas fílmicas, nas quais a luta travada é para reconquistar o corpo para si. O que encontramos, nessa coleção de filmes, é, assim, a contestação do determinismo histórico e cultural e suas opressões, rumo à retomada de si para si mesmo. Uma retomada que encontra seu lema na voz e no corpo de Grace Passô, em Vaga carne: “E que nada tem o direito de invadir o seu corpo. E que se alguma coisa invadir o seu corpo, que lhe peça licença.”
“I do not accept that I did not make my body myself.” This famous phrase by Antonin Artaud is a dazzling bearer of a possible translation for what offers a bond to this collection of films: the question implied in the figuration/presence of bodies, central to filmic forms that have emerged with aesthetic and political force in Brazil in the last ten years. Artaud’s phrase expresses the productive/performative tension between the surface of cultural-historical overdetermination that haunts the bodies and the background of subjective indetermination that animates them, impelling them to contest history and intervene in its course. By saying “I do not accept that I did not make my body myself”, it is as though Artaud found, in astonishment and anguish, “my body is not mine”, “before me, my body already exists”. The result of a web of ancestral stories and deep-rooted structures that embrace it as it moves, the body does precede and surpass the subject. The body is a story of many. A story that is still, for certain bodies, an inheritance and threat of violence and trauma. But it is this recognition – that the body is, to a large extent, dispossession – that entails the retaking that here finds forms and filmic narratives, in which the struggle is to regain the body for oneself. What we find in this collection of films is, thus, the contestation of historical and cultural determinism and its oppressions, towards the retaking of oneself for oneself. A retaking that finds its motto in Grace Passô’s voice and body, in Vaga carne (Vague Flesh): “And that nothing has the right to invade your body. And if anything invades your body, that it asks your permission.”
97
O desejo de autoria e autonomia se enuncia aqui, de uma obra a outra, como uma pulsação, um movimento de incorporação em que a liberdade e a cura são urdidas e reivindicadas a cada plano. Através de estratégias narrativas e sensíveis diversas, os filmes aqui colecionados expressam movimentos múltiplos através dos quais corpos buscam formas de autoinvenção, que não se forjam, no entanto, em solidão, mas, pelo contrário, são construídas em comunidade, em conjugação com espíritos, forças da Natureza, crianças, animais, cidades, ruínas, manas, parentes, cosmo. Filme a filme, assistimos, nesta coleção, o processo contínuo, o movimento infindável de arrancar os corpos de suas heranças de controle e opressão para inscrevê-los num presente de invenção e num futuro de liberdade, numa expansão infinita. Tarefa traduzida em toda sua envergadura por Frantz Fanon, na frase final de Pele negra, máscaras brancas: “Ó meu corpo, faça sempre de mim um homem que questiona!”. Conjuração que aqui se apresenta como um convite para dançar e agir com o cinema: Ó meu corpo, faça sempre de mim alguém que questiona!
The desire for authorship and autonomy is enunciated here, from one work to the next, as a pulsation, a movement of incorporation in which freedom and healing are woven and claimed at each level. Through diverse narrative and sensitive strategies, the films collected here express multiple movements through which bodies seek forms of self-invention, which are not, however, forged in solitude, but, instead, are constructed in community, in conjunction with spirits, forces of nature, children, animals, the cities, the ruins, the sisters, the kin, the cosmos. Film by film, we watch, in this collection, the continuous process, the endless movement of tearing the bodies from their heritages of control and oppression to inscribe them in a present of invention and in a future of freedom, in an infinite expansion. A task translated in all its magnitude by Frantz Fanon, in the final sentence of Pele negra, máscaras brancas (Black Skin, White Masks): “Oh my body, always make of me a man who questions! A conjecture that is presented here as an invitation to dance and act with cinema: Oh my body, always make me a man who questions!
Amaranta Cesar é professora do curso de cinema e audiovisual da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), tem doutorado em cinema e audiovisual pela Universidade de Paris III – Sorbonne-Nouvelle (2008), pós-doutorado pela New York University e pela Universidade Federal de Pernambuco, este em andamento. É idealizadora e coordenadora do Cachoeiradoc – Festival de Documentários de Cachoeira (BA) e coordenadora do Grupo de Estudos e Práticas em Documentário. Tem participado de inúmeros festivais como curadora, membro de júri, palestrante e conferencista.
Amaranta Cesar is tacher of the Cinema and Audiovisual Course at Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), Cinema and Audiovisual doctor from University of Paris III – Sorbonne-Nouvelle (2008), post-doctor from New York University and Universidade Federal de Pernambuco; the ladder is ongoing. She is the idealizer and coordinator of the Cachoeiradoc – Cachoeira (BA) Documentary Festival and coordinator of the Group of Studies and Practices in Documentary. She has been participating in countless festivals as a curator, member of the judging panel, lecturer and speaker.
98
Longas e Médias-Metragens [Full and Medium-Lengt Films]
Um Filme de Dança Brasil, 2013, 90 min. Livre. Pesquisa, roteiro e direção: Carmen Luz.
Agora Brasil, 2020, 68 min. Livre. Direção: Dea Ferraz. O filme convida artistas a se lançarem numa caixa vazia, um dispositivo que materializa o confinamento no tempo presente. O corpo é livre para improvisar? The film invites artists to launch themselves into an empty box, a device that materializes the confinement in the present time. Is the body free to improvise?
“E os negros? Onde estão os negros?” A questão exposta em uma crônica de Nelson Rodrigues, nos anos 1960 do século passado, ainda ressoa no Brasil do século XXI. O eco desta pergunta na dança cênica brasileira foi o ponto de partida para a realização de Um Filme de Dança. Mesclando danças e entrevistas realizadas em Salvador, São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Nova York, a obra mostra a trajetória, o pensamento, o belo e contundente trabalho de alguns dos mais atuantes criadorxs pretxs de dança de diferentes gerações. O filme é uma homenagem à perseverança de bailarinas e bailarinos, coreógrafos e coreógrafas. Um tributo ao corpo negro, dono de sua própria dança. “What about the black people? Where are the black people?” The question exposed in a Nelson Rodrigues chronicle in the 60s of the last century still resonates in Brazil of the XXI century. This question’s echo in the Brazilian performing dance was the starting point for the performance of the Um Filme de Dança [A Dance Movie]. Combining dances and interviews held in Salvador, São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, and New York, the work shows the trajectory, the thinking, the beautiful, and the overwhelming work of some of the most acting dance black creators from different generations. The film is an homage to the perseverance of men and women dancers and choreographers. A tribute to the black body, owner of its own dance.
99
Vaga Carne Brasil, 2019, 45 min. 16 anos. Direção: Grace Passô e Ricardo Alves Jr. Uma estranha voz toma posse do corpo de uma mulher. Juntos, a voz e o corpo procuram por pertencimento e por uma identidade própria enquanto questionam seus papéis dentro da sociedade. O filme é uma transcriação do espetáculo teatral da atriz e dramaturga Grace Passô. A weird voice takes over a woman’s body. Together, voice and body seek belonging and their own identity while questioning their roles within society. The film is a transcreation of the theater act by actress and playwright Grace Passô.
Yãmĩyhex | As Mulheres-Espírito Brasil, 2019, 71 min. Livre. Direção: Sueli Maxakali e Isael Maxacali. Após passarem alguns meses na Aldeia Verde, as yãmĩyhex (mulheres-espírito) se preparam para partir. Durante a festa, uma multidão de espíritos atravessa a aldeia. As yãmĩyhex vão, mas sempre voltam com saudades dos seus pais e mães. “Quando eu filmo no meio do ritual, dançando, eu não estou filmando, eu estou participando também, parece que eu não estou com a câmera filmando, parece que eu estou dançando, brincando, em movimento, no meio do movimento”, declarou o codiretor Isael Maxakali, em agosto de 2020. After spending some months in Aldeia Verde, the Yãmĩyhex (spirit-women) get ready to leave. During the party, a crowd of spirits crosses the village. The yãmĩyhex go but always come back missing their fathers and mothers. “When I am filming in the middle of the ritual, dancing, I am not filming; I am also participating. It feels like I am not with the camera filming; it feels like I am dancing, playing, in movement, in the middle of the movement,” the co-director Isael Maxakali declared in August 2020.
100
Sessão de Curtas 1 [Short-Film Session 1]
Nascente
Novo Mundo
Brasil, 2005, 5 min. Livre. Direção: Safira Moreira.
Brasil, 2020, 21 min. Livre. Direção: Natara Ney e Gilvan Barreto.
Um rio e seus afluentes.
Uma mulher negra caminha entre florestas e ruínas, reconhecendo um território erguido sobre o sangue de muitos povos. Esse reconhecimento poderia deixá-la paralisada de medo, mas a inspira para atos de coragem.
A river and its affluents
A black woman walks through forests and ruins, recognizing a territory built on the blood of many people. This recognition could have paralyzed her with fear but inspires her with acts of bravery.
101
Para Todas as Moças Brasil, 2020, 2 min. 10 anos. Direção: Castiel Vitorino Brasileiro. Eu agora vou falar para todas as moças. Eu agora vou bater para todas as moças. Para todas as travestis, para todas elas. Eu agora vou fazer macumba para todas as bixas. Para todos os testículos femininos, para todas elas. I will now talk to all the ladies. I will now spank, for all the ladies. For the travesty, for all of them. I will now make a macumba for all the fags. For all the female testicles, for all of them.
Yãy Tu Nunãhã Payexop: Encontro de Pajés Brasil, 2020, 26 min. Livre. Direção: Sueli Maxakali. Em julho de 2020, em plena pandemia de covid-19, cerca de cem famílias tikmῦ’ῦn-maxakali deixaram a reserva de Aldeia Verde (Ladainha – MG) em busca de uma nova terra. A tensão causada pelo isolamento tornou mais urgente a necessidade de uma terra rica em matas e, sobretudo, água, na qual pudessem fortalecer as relações com os povos-espíritos yãmĩyxop, através dos cantos, rituais, festas e brincadeiras. In July 2020, in the middle of the Covid-19 pandemic, around 100 tikmῦ’ῦn-maxakali families left the Aldeia Verde reserve (Ladainha – MG) in the quest for new land. The tension caused by isolation made the need for land rich in forest and, especially, water more urgent to strengthen the relationship with the people-spirits yãmĩyxop, through the singing, rituals, parties, and games.
102
Sessão de Curtas 2 [Short-film Session 2]
Arco do Medo
Aurora
Brasil, 2017, 9 min. 12 anos. Direção: Juan Rodrigues.
Brasil/Cuba, 2018, 15 min. Livre. Direção: Everlane Moraes.
Um relato de insurgência. Masculino e feminino se desfazem em um corpo negro que resiste na busca por liberdade e tempo. Borrando os limites do gênero, na tentativa de simplesmente ser, um corpo negro supervive.
No palco de um teatro destruído, Elizabeth, Mercedes e Crisálida, três mulheres negras de idades diferentes, revivem e reinterpretam suas histórias, conflitos e perdas, recorrendo a monólogos, boleros e memórias de dança.
A report of insurgency. Male and female unravel in a black body that resists in the quest for freedom and time. Blurring the limits of gender in the attempt of simply being, a black body super lives.
On the stage of a destroyed theater, Elizabeth, Mercedes, and Crisálida, three black women of different ages, relive and reinterpret their stories, conflicts, and losses, turning to monologues, boleros, and dance memories.
103
Elekô Brasil, 2015, 6 min. 16 anos. Direção: Coletivo Mulheres de Pedra. Olhando a história a partir do porto, na pequena África, reconhecer e afirmar as potências e a beleza. Parir, do próprio sofrimento e memória, um horizonte de liberdade, apoio e colaboração. Encontrar, na presença de outras mulheres, a força do feminino e o sagrado sentido de ser, até poder celebrar a vida, em fêmea comunhão e sociedade. Looking at history from the port, in small Africa, to acknowledge and affirm the powers and the beauties. To give birth, from one’s own suffering and memory, to a horizon of freedom, support, and collaboration. To meet, in the presence of other women, the strength of the female and the sacred sense of being, until being able to celebrate life, in a female communion and society.
Tudo que É Apertado Rasga Brasil, 2019, 27 min. Livre. Direção: Fábio Rodrigues Filho. Na tentativa de forjar uma ferramenta capaz de operar o corte por justiça, este filme retoma e intervém em imagens de arquivo, reestudando parte da cinematografia nacional à luz da presença e agência do ator e da atriz negra. In the attempt of forging a tool capable of operating the cutout by justice, this film resumes and intervenes in archive images, restudying part of the national cinematography under the light of presence and agency of the black actor and actress.
104
Sessão de Curtas 3 [Short-film Session 3]
Corpostyledancemachine
Quebramar
Brasil, 2017, 7 min. Livre. Direção: Ulisses Arthur.
Brasil, 2019, 27 min. 12 anos. Direção: Cris Lyra.
“Ando por mistério, vivo por mistério […] Nosso corpo é uma máquina, ou cuida ou sabe como é, né?” Entre memórias da boate e relatos de resistências cotidianas, Tikal, importante personalidade LGBTQIA+ do Recôncavo da Bahia, dança e afronta as normas.
Jovens lésbicas de São Paulo viajam à praia para passar o Ano-Novo. Lá, constroem refúgio físico e emocional para seus corpos e afetos através da amizade e da música. Nesse ambiente seguro e de cuidados mútuos, podem dançar.
“I walk for mystery, I live for mystery […] Our body is a machine, you either take care of it or you know how it goes, right?” Among memories from the nightclub and reports from daily lives resistances, Tikal, an important LGBTQIA+ personality from Recôncavo da Bahia, dances and confronts the rules.
Young lesbians from São Paulo travel to the beach to spend New Year’s. There, they build a physical and emotional refuge for their bodies and affections through friendship and music. In this safe environment of mutual care, they can dance.
105
Veias de Fogo Brasil, 2020, 18 min. 14 anos. Direção: Coletivo Carnaval do Inferno (Darwin Marinho, Dhiovana Barroso, Dora Moreira, Eduardo Barroso, Eduardo Moreira, Garu, Luana Barros, Marissa Noana, Monstra, Nara Sena, Peaug, Ridimuin, Raquel Gomes, Silvia Miranda e Sunshine Armstrong). Uma horda de “demônyas” atravessa a cidade rumo ao inferno, tomando para o próprio corpo a fé na palavra apocalíptica. A horde of demon women crosses the city towards hell, taking the faith in the apocalyptic word to their own bodies.
106
Sessão de Curtas 4 [Short-film Session 4]
Corpo Político
Estamos Todos Aqui
Brasil, 2016, 4 min. 14 anos. Direção: Movimento Mulheres no Audiovisual Pernambuco (Mape).
Brasil, 2018, 20 min. 14 anos. Direção: Chica Andrade e Rafael Mellim.
Na TV brasileira, velhos discursos fascistas e machistas vociferam o retrocesso e a violência, enquanto nas ruas um outro grito toma corpo. Nós somos a nova política! Feminismo é revolução! O Movimento Mulheres no Audiovisual Pernambuco (Mape) é composto pelas realizadoras Dea Ferraz, Maíra Iabrudi , Lu Teixeira, Rapha Spencer, Sá Luapo e Camila de Carvalho.
Rosa, expulsa de casa, precisa construir seu próprio barraco. Enquanto isso, um projeto de expansão do maior porto da América Latina avança, não só sobre Rosa, mas sobre todos os moradores da Favela da Prainha.
In Brazilian TV, old speeches, fascist and sexist, shout retrocession and violence, while another scream takes shape on the streets. We are the new politics! Feminism is a revolution! The Movement Women in the Audiovisual Pernambuco (MAPE) is composed by the filmmakers Dea Ferraz, Maíra Iabrudi, Lu Teixeira, Rapha Spencer, Sá Luapo and Camila de Carvalho.
Rosa, kicked out of home, needs to build her own shack. In the meantime, a project to expand the largest port in Latin America moves forward, not only over Rosa but all the residents of Favela da Prainha.
107
Subsidência Brasil, 2020, 7 min. Livre. Direção: Beatriz Vilela e Marcus José. Subsidência é um afundamento do solo, uma dissolução dessa estrutura material inescapável aos olhos e aos pés. A dor das vítimas da subsidência causada pela exploração predatória do sal-gema em Maceió (Alagoas) é, por sua vez, imaterial e irreparável. Com o solo, afundaram também lares, vizinhanças, sentimentos de pertencimento e todo um território de afetos, no qual milhares de pessoas construíram suas histórias. Subsidence is a sinking of the soil, dissolution of this material structure inescapable to the eyes and feet. The pain of the subsidence caused by the predatory exploitation of rock salt in Maceió (Alagoas) is, in its turn, intangible and irreparable. With the soil, homes, neighborhoods, feelings of belonging, and a whole territory of affections also sunk, in which thousands of people have built their stories.
108
Mostra de Videodanças [Video dance exhibit}
Danças para todas as Telas [Dances for all Screens] Curadoria de [Curatorship by] Isis Gasparini, Rodrigo Gontijo e Vanessa Hassegawa
Da palma da mão à projeção [From the palm of the hand to the projection] Por [By] Isis Gasparini, Rodrigo Gontijo e Vanessa Hassegawa
Foi na palma da mão. Sim, na palma da mão que boa parte da programação chegou aos encantos dos nossos olhos. As danças que ao longo desses dias serão assistidas em diferentes telas escolhidas por seus espectadores têm em comum o desejo de dança. O ímpeto que nos convocou a esta curadoria, a atravessar noites a fio sendo plateias de obras que uniam corpos, coreografias de imagens e audiovisual compõe uma infinitude de narrativas de danças para tela que, em alguma medida, marcam as trajetórias dessas e desses artistas que tivemos o prazer de apreciar. Videodança, cinema, telas. Desde seu primeiro encontro, a curadoria partiu de reflexões em torno dessas três palavras que dispararam determinadas considerações para um alargamento das fronteiras da dança em sua relação com as imagens em movimento. Um assunto que vai além de um enquadramento da lente de uma câmera, seja ela vídeo, película ou digital, e da capacidade de se reorganizar em algoritmos. Assim iniciamos com o desejo de olhar para o fazer associado à exibição, uma vez que as aproximações entre telas e danças são muitas, e a forma plural com que as obras têm sido tanto produzidas quanto compartilhadas deveria aparecer neste recorte como um convite fluido e amigável ao público. Como pensar um conjunto de obras produzidas em direta relação com a tela, em um momento em que a tela por si mesma passou a ser o lugar de existência possível diante de um mundo em transformação? Essas diferentes formas de produção, de natureza híbrida e mutável – que de tempos em tempos se reinventam – nos convidam a refletir sobre a desmaterialização das relações que, inevitavelmente, nos toca na atualidade. Cada obra convidada foi trazida aqui pelo que carrega de singular em seu fazer e naquilo que agrega a essa multiplicidade de direções e fazeres possíveis. O plural que acompanha a dança e que reverbera em múltiplas telas, emerge enquanto linguagem a fim de cruzar com as diferentes possibilidades de apreciação que são variadas, sobretudo, num momento em que os encontros se expandem no acesso às telas, aos dispositivos móveis e também aos saberes compartilhados. Ao olharmos para a etimologia da palavra vídeo, entendemos que se trata da conjugação do verbo videre (ver, em latim), na primeira pessoa do presente
It was in the palm. Yes, in the palm of the hand that good part of the program reached our eyes’ delight. The dances that will be watched over these days on different screens chosen by their viewers have in common the desire for dance. The impetus that has called us to this curatorship, to pull all-nighters being the audience for works that combined bodies, images choreographies, and audiovisual, forming an infinitude of narratives of dances for the screen1 which, somehow, mark their trajectories and of these artists that we have the pleasure of appreciating. Video dance, cinema, screens. Since its first reunion, the curatorship started with reflections around these three words, which triggered certain considerations for extending the dance borders in its relationship with the images under motion. A subject that goes beyond the framing of a camera’s lens, whether video, film, or digital, and the ability to reorganize itself in algorithms. So we start with the desire to look into the action associated with the exhibit since the approximations between screens and dances are many, and the plural form with which the works have been both produced and shared should appear in this cutout as a fluid, friendly invitation to the audience. How to think about a set of works produced in a direct relationship with the screen, in a moment the screen itself started being the place of a possible existence against a changing world? These different forms of production, of a hybrid and changeable nature – which from time to time, reinvent themselves – invite us to reflect on the dematerialization of the relationships that inevitably touch us on the present. Each invited work was brought here by what it carries of unique in its action and on what it adds to this multiplicity of directions and possible actions. The plural accompanying the dance that reverberates in multiple screens emerges as a language to cross over the different possibilities for appreciation, which vary, especially when the reunions expand themselves in the access to the screens, mobile devices, and also shared knowledge. By looking at the etymology of the word video, we understand it is the conjugation of the verb videre (see, in Latin), in the first person of the simple tense: I see. The video is an action, an act of looking, contemplating. Throughout the story, video was the name given to a technological device used to produce images performed in electronic systems. Here, our “act
109
110
do indicativo: eu vejo. Vídeo é uma ação, é um ato de olhar, de contemplar. Ao longo da história, vídeo foi o nome dado a um dispositivo tecnológico utilizado para a produção de imagens realizadas por sistemas eletrônicos. Aqui, o nosso “ato de olhar” não está diretamente relacionado ao dispositivo de captação, mas às formas de exibição. A tecnologia do streaming, que permite o acesso a filmes sob demanda na internet, possibilita que o ato de olhar se reatualize no instante presente, em diferentes suportes de exibição. Isso nos permitiu olhar para os trabalhos a partir da tela e pensá-los a partir da recepção, antes mesmo que dos próprios meios de produção. Assim, caminhamos com a reflexão sobre um campo que, hoje, entendemos dizer mais da apreciação do que de uma especificidade técnica no momento da realização. Imaginamos ainda, que os trabalhos poderão ser apreciados por um público amplo e, esperamos, para além do circuito mais consolidado da dança. As múltiplas telas, que se referem tanto aos diferentes modos de fazer quanto aos de apreciar, chegam ao público na palma da mão, em um monitor ou, quem sabe, numa projeção. O exercício de agrupar um conjunto de obras audiovisuais que tem a dança como fio condutor é uma tarefa tão desafiadora quanto inesgotável. A mostra apresenta moveres de corpos de muitos brasis que transmuta a interação com as telas na medida em que os suportes e dispositivos se modificam. Reunimos aqui trabalhos que nascem de diferentes materialidades que vão da película ao digital, filmes, “danças rápidas” como as provenientes de plataformas de rede social TikTok e Reels no Instagram, passando ainda por dispositivos móveis, drones, câmeras compactas ou profissionais, dentre outros. As Danças para Todas as Telas foram produzidas não só por artistas de diferentes regiões do país, mas também de diferentes circuitos, de variadas gerações e momentos de carreira. Longe de esgotar a multiplicidade que esse encontro dança-imagem é capaz de produzir, nos interessa aqui pensar a potência do encontro entre os universos da Dança com as Telas, que assume nos tempos atuais uma presença ainda mais marcante e irreversível, reunindo trabalhos que, muitas vezes, consideramos atemporais. Decidimos organizar as obras dentro dos seguintes programas: “Estados de Invenção”, “Solitude e Recolhimento”, “Memórias, Corpos e Afetos” e “Fluxos, Modulações e Deslocamentos”. Ao assistir cada uma delas separadamente, o espectador poderá experienciar suas singularidades e aproximar-se do universo de cada artista. E, percorrendo as sequências propostas por esses programas, poderá participar do diálogo que estabelecemos com elas, partilhando as conexões poéticas sugeridas pela curadoria. E, de uma forma ou
of looking” is not directly related to the capture device but the exhibition forms. The streaming technology, which allows access to on-demand movies on the Internet, allows the act of looking to be renewed in the present instant, in different exhibition supports. It allowed us to look at the works from the screen and think about them from the reception, even before the production means. Thus, we move forward with the reflection on a field that, today, we understand as saying more about the appreciation than a technical specificity at the moment of the performance. We also imagine that the works can be appreciated by a broad audience and, expect, beyond the more consolidated dance circuit. The multiple screens, which refer both to the different ways of doing and those of appreciation, reach the audience in the palm of their hand, in a monitor, or maybe in a projection. The exercise of grouping a set of audiovisual works that have the dance as the common thread is a task both challenging and inexhaustible. The exhibit presents movements of bodies from varied Brazils, which transmute the interaction with the screens to the extent the supports and devices are modified. We gathered here works born from different materialities, from the film to the digital, movies, “fast dances,” like the ones from social media platforms like TikTok, Reels in Instagram, and going through mobile devices drones, compact or professional cameras, among others. The “Danças para Todas as Telas” [Dances for All the Screens] were produced not only by artists from different country regions but also from different circuits, varied generations, and points in the career. Far from depleting the multiplicity that this reunion dance-image is capable of producing, it is interesting for us here to think about the power of the reunion between the universes of Dance with the Screens, which assumes, in current times, an even stronger and irreversible presence, reuniting works that we often consider timeless. We decided to organize the works within the following programs: “States of Invention”, “Solitude and Retreat”, “Memories, Bodies, and Affection”, and “Flows, Modulations, and Displacements]” By watching each of them separately, the spectator will be able to experience its singularities and come closer to each artist’s universe. And, going through the sequences proposed for these programs, they can participate in the dialog that we establish with them, sharing the poetic connections suggested by the curatorship. And, one way or the other, they may find their own paths, punctuating other approximations among the works. And it is under this imponderable effect that here, bodies show what do their people have of them,
de outra, poderá encontrar seus próprios caminhos, pontuando outras aproximações entre os trabalhos. E é sob este efeito imponderável que aqui corpos mostram o que de si têm em seus povos, o que têm de seus povos em suas almas, o que de suas almas têm naquela gíria-passo-dança que conta para o mundo a avidez de SER dança até que as telas sejam estilhaçadas de tanto desejo de dançar. E a partir desse desejo e sob essa inspiração que convidamos a todas, “todes” e todos a adentrarem nessas danças. Uma ótima sessão! Isis Gasparini é artista e pesquisadora atuante na área da dança e artes visuais. Investiga corpo, imagem, coreografia e espaços expositivos. É mestra em poéticas visuais pela ECA-USP, graduada em artes plásticas e especialista em fotografia. Bailarina com atuação em companhias independentes. Rodrigo Gontijo é artista, pesquisador, curador e professor na Universidade Estadual de Maringá. Atua no campo do cinema experimental e expandido, danças para telas, filme -ensaio, cinema ao vivo, performances audiovisuais e cinema de exposição. Vanessa Hassegawa é pesquisadora de dança da Amazônia paraense, curadora, artista do campo da videodança|dança para a tela e relações públicas atuante. É mestranda em artes da cena pela Unicamp, onde investiga as mídias “da palma da mão”.
what do their souls have of their people, what do their souls have in that slang-step-dance that tells the world the eagerness of BEING dance until the screens are shattered from so much desire to dance. And from this desire, and under this inspiration, we invite them all to join in these dances. Have a great session! Isis Gasparini is an artist and researcher working in the field of dance and visual arts. She investigates body, image, choreography and exhibition spaces. She holds a master’s degree in visual poetics from ECA-USP, a degree in fine arts and is a specialist in photography. She is a dancer with performance in independent companies. Rodrigo Gontijo is an artist, researcher, curator and professor at the State University of Maringá. He works in the fields of experimental and expanded cinema, dances for screens, essay-film, live cinema, audiovisual performances, and exhibition cinema. Vanessa Hassegawa is a dance researcher born in the Amazon region of the State of Pará, curator, artist in the field of video dance|dance for the screens and an acting public relations practitioner. She is a Master’s student in performing arts at the State University of Campinas (Unicamp), where she is researching the media “of the palm of our hand”.
111
112
Programa: Estados de Invenção [session: States of Invention] Experimentações da linguagem e o uso criativo do audiovisual da película ao digital. O artista performático Hélio Oiticica dizia que “a invenção é imune à diluição. A invenção propõe uma outra invenção”. Neste programa, assistiremos a trabalhos que se organizam por sequências de fotografias animadas, imagens aceleradas, câmera lenta, cortes inesperados, incorporações de planos dentro de planos. Sobreposições e camadas que recriam imagens e percepções, nas quais corpos ganham contornos e movimentos a partir da linguagem audiovisual. Language experimentation and the creative use of the audiovisual from film to digital. Performance artist Hélio Oiticica used to say that “invention is immune to dilution. Invention proposes another invention”. In this schedule, we will watch works that are organized by sequences of animated photographs, accelerated images, slow motion, unexpected cuts, inclusions of close-ups within close-ups. Overlays and layers that recreate images and perceptions, in which bodies gain contours and movements from the audiovisual language.
113
Coreocodes: Movimentos Codificados em Espaços singulares Brasil (PR), 2021. Livre. Criação e direção: Tom Lisboa e Patrícia Machado. COREOCODES é um projeto criado pela bailarina Patrícia Machado e o fotógrafo Tom Lisboa que narra a dança, a gente e o percurso visual através de cidades pelo Paraná. Os títulos “Carol – O Jardim”, “Mari – O Campo” e “Nílvea – A Casa”, integram este projeto. COREOCODES is a project created by dancer Patrícia Machado and photographer Tom Lisboa that narrates the dance, the people, and the visual journey through cities across the State of Paraná.
Carol – O Jardim Lapa/PR, 1:01 min Trilha sonora sugerida [Suggested soundtrack]: Carol – As Quatro Estações (Antonio Vivaldi) Patrícia Machado – Oração ao Tempo (ao vivo, Caetano Veloso) Tom Lisboa – Le Premier Bonheur du Jour (Pink Martini e The Von Trapps) No Spotify, “Coreocodes O Jardim” (https://open.spotify.com/playlist/ 5eAu7XI9WU3aD4xCpPCltT?si=f4b8bfb2d30947c3&nd=1) é uma playlist colaborativa; adicione sua trilha sonora para este vídeo [it’s a collaborative playlist; add your soundtrack to this video]
A conexão com a terra e a natureza é algo ancestral e que foi herdado de seus antepassados. A dança de Carol é expansiva e intuitiva, assim como o vento que toca as folhas de uma árvore. Por trás de cada intenção de movimento foi trabalhada a questão do cultivar, do colher e do cuidar. No dia da sessão de fotos estávamos ouvindo As Quatro Estações, de Vivaldi. The connection to the earth and nature is something ancestral and inherited from her ancestors. Carol’s dance is expansive and intuitive, like the wind touching the leaves of a tree. Behind each movement intention, the subject of cultivating, harvesting and caring was worked. On the day of the photo shoot, we were listening to Vivaldi’s The Four Seasons.
114
Mari – O Campo
Nílvea – A Casa
Prudentópolis/PR, 1:12 min
Lapa/PR, 1:17 min
Trilha sonora sugerida [Suggested soundtrack]: Mari – A Sala tá Cheia (A Barca) Patrícia Machado – Canto de Proteção (Clarianas) Tom Lisboa – Yáyá Massemba (Maria Bethânia)
Trilha sonora sugerida [Suggested soundtrack]: Nilvea – La Vie en Rose (Richard Claydeman) Patrícia Machado – Kalu (Dalva de Oliveira) Tom Lisboa – Carinhoso (Elizeth Cardoso)
No Spotify, “Coreocodes o campo” (https://open.spotify.com/playlist/ 1Zx7gioolBomglTs5zJNtx?si=46441cb746844240&nd=1) é uma playlist colaborativa; adicione sua trilha sonora para este vídeo [it’s a collaborative playlist; add your soundtrack to this video]
No Spotify, Coreocodes a casa é uma playlist colaborativa; adicione sua trilha sonora para este vídeo [it’s a collaborative playlist; add your soundtrack to this video]
Mari não é original de Prudentópolis, mas sua vida parece ter feito sentido quando mudou para lá, cerca de três anos atrás. Na cidade ela redescobriu o prazer da reflexão e a importância do silêncio. Este campo marca sua entrada na umbanda, um definidor de sua vida espiritual. Ali ela colhe eucaliptos para forrar o chão nas giras. Mari is not originally from Prudentópolis, but her life seems to have made sense when she moved there about three years ago. In the city, she rediscovered the pleasure of reflection and the importance of silence. This field marks her entry into Umbanda, a definer of her spiritual life. There, she harvests eucalyptus trees to line the floor for the giras (Umbanda’s main ritual).
Foi uma dança de agradecimento e despedida. A casa em que mora há 52 anos e agora está posta à venda já era um cenário perfeito. Na sala, a saudosa relação que tinha com sua mãe se fez presente: acrescentamos sua foto em preto e branco na pilastra central (onde antes estava um calendário) e colocamos em um vaso a rosa de uma roseira que ela plantou há quase 30 anos. It was a dance of thanks and farewell. The house where she has lived for 52 years and is now for sale was already a perfect setting. In the living room, the nostalgic relationship she had with her mother was present: we added her black and white photo to the central pilaster (where a calendar used to be) and placed in a vase the rose from a rose bush she planted nearly 30 years ago.
115
Cronocianografia
Dance em Casa Escala
Malu Teodoro e Thaneressa Lima
Alex Soares e Cia. Jovem de Dança de Jundiaí
MG, 2021, 1:46 min, Livre
SP, 2020, 3:46 min, Livre Durante a pandemia de 2020, Malu e Thaneressa, artistas interessadas nos processos históricos da fotografia, fizeram esse experimento utilizando duas técnicas: a cianotipia e a cronofotografia. Elas burlaram o isolamento social criando esse encontro visual de escrita no tempo em azul.
Videodança criada para a Cia. Jovem de Dança de Jundiaí inspirada em um quadro da peça infantil Instagrimm. Trata da questão de que todo bailarino precisa de espaço para estar se movendo e propõe de suas casas um novo espaço imaginativo neste tempo de isolamento causado pela pandemia da covid-19.
During the 2020 pandemic, Malu and Thaneressa, artists interested in the historical processes of photography, made this experiment using two techniques: cyanotype and chronophotography. They circumvented social isolation by creating this visual meeting of writing in the blue time.
Video dance created for Cia. Jovem de Dança from Jundiaí inspired by a painting of the children’s play Instagrimm. It addresses the issue that every dancer needs space to be moving and proposes, from their homes, a new imaginative space in this time of isolation caused by the Covid-19 pandemic.
116
Dance Juke Box
Grupo 09 – Mentira!
[Dance Juke Box] Raimo Benedetti Lali Krotoszynski SP, 1999, 2:51 min, Livre Obra para a internet realizada em parceria com o programador Luiz Camara em 1999. O site não existe mais e esse é um vídeo demonstrativo do seu funcionamento. O conceito de Dance Juke Box se baseou no exercício de dançar uma mesma coreografia com músicas diferentes. Quem já fez esse exercício sabe como ele pode revelar aspectos da coreografia que não seriam perceptíveis de outra forma. A cada nova música que se dança, os mesmos movimentos ganham novas tônicas e temporalidades. As músicas foram retiradas da internet, e escolhidas por serem tão diferentes entre si, quanto os seus compositores: Villa-Lobos, Jimmy Hendrix, Shostakovich, Al Greene e música tradicional irlandesa (anônima). Work for the internet made in partnership with programmer Luiz Camara in 1999. The website no longer exists and this is a video demonstrating how it works. The concept of Dance Juke Box was based on the exercise of dancing the same choreography with different songs. Anyone who has done this exercise knows how it can reveal aspects of the choreography that would not be perceptible otherwise. With each new song that is danced to, the same movements gain new tones and temporalities. All songs in the menu were taken from websites and chosen because they are as different from each other as their composers: Villa-Lobos, Jimmy Hendrix, Shostakovich, Al Greene and traditional Irish music (anonymous).
SP, 2003, 12:20 min, 18 anos Vídeo produzido no contexto do projeto Vídeo Experimental, baseado em um curso criado por Raimo Benedetti que realiza trabalhos coletivos com seus alunos. Conduzido por não dançarinos, Grupo 09 teve a improvisação presente em todas as etapas de produção: coreografia, edição e sonorização. [Video produced in the context of the Experimental Video project, based on a course created by Raimo Benedetti who performs collective works with his students. Conducted by non-dancers, Grupo 09 had improvisation present in all stages of production: choreography, editing, and sound.] Parceria e apoio [Partnership and support]: MAM – Museu de Arte Moderna de São Paulo [Sao Paulo Museum of Modern Art]
Não há nada que possa ser descartado em um processo de experimentação, desde que haja uma relação insuspeita com a criação. There is nothing that can be discarded in a process of experimentation, as long as there is an unsuspected relationship to the creation.
117
Nós que Aqui Estamos, Por Vós Esperamos – Parte 1
Nós que Aqui Estamos, Por Vós Esperamos – Parte 2
Marcelo Masagão
Marcelo Masagão
SP, 1999, 73 min, trecho exibido 4’30’’, 12 ano
SP, 1999, 73 min, trecho exibido 1’40”, 12 anos
Filme-memória a partir de recortes biográficos reais e ficcionais de pequenos e grandes personagens que viveram no século XX. Pretende discutir a banalização da morte e, por correspondência direta, da vida. As imagens são de arquivo: filmes antigos, fotos e reportagens de TV. A sonorização é realizada com músicas, efeitos sonoros e silêncios. O título foi extraído do pórtico de um cemitério de uma cidade do interior paulista. Tem como pano de fundo, orientando a narrativa, Sigmund Freud e Eric Hobsbawm.
Filme-memória a partir de recortes biográficos reais e ficcionais de pequenos e grandes personagens que viveram no século XX. Pretende discutir a banalização da morte e, por correspondência direta, da vida. As imagens são de arquivo: filmes antigos, fotos e reportagens de TV. A sonorização é realizada com músicas, efeitos sonoros e silêncios. O título foi extraído do pórtico de um cemitério de uma cidade do interior paulista. Tem como pano de fundo, orientando a narrativa, Sigmund Freud e Eric Hobsbawm.
A film-memoir based on real and fictional biographical excerpts of great and small characters who lived in the 20th century. It intends to discuss the trivialization of death and, by direct correlation, of life. The images are from the archives: old films, photos, and TV reports. The sound system is made with music, sound effects, and silence. The title was taken from the portico of a cemetery in a city in the inland of São Paulo. It has Sigmund Freud and Eric Hobsbawm as background, guiding the narrative.
A film-memoir based on real and fictional biographical excerpts of great and small characters who lived in the 20th century. It intends to discuss the trivialization of death and, by direct correlation, of life. The images are from the archives: old films, photos, and TV reports. The sound system is made with music, sound effects, and silence. The title was taken from the portico of a cemetery in a city in the inland of São Paulo. It has Sigmund Freud and Eric Hobsbawm as background, guiding the narrative.
118
Queda Marcelo Sena, Filipe Marcena e Cia. Etc. PE, 2020, 5:36 min, Livre Essa videodança, que também pode ser categorizada como videoclipe, foi gravada em um take único de duas horas sem cortes com a técnica de timelapse. A criação dá continuidade à parceria entre a Banda Rua do Absurdo e a Cia. Etc., que existe desde 2011 e já rendeu vários resultados como trilhas sonoras de espetáculos, videodanças e pesquisas sobre a relação entre dança e música. Queda foi toda realizada em casa durante o isolamento social. This video dance, which can also be categorized as a video clip, was recorded in a single take of two hours without cuts using the timelapse technique. The creation continues the partnership between Banda Rua do Absurdo and Cia. Etc., which exists since 2011 and has produced several results such as soundtracks for shows, video dances and research on the relationship between dance and music. Queda was performed entirely at home during social isolation.
Way Down in the Hole Diogo Granato, Henrique Lima e Ricardo Januário SP, 2021, 3:30 min, Livre Apesar de todas as dificuldades que as artes estão sofrendo neste momento, artistas tentam deixar o “diabo lá embaixo no buraco”. No sentido de que não se pode deixar-se afundar junto, se multiplicam e lutam contra as forças esmagadoras, com saltos, danças de chão e qualidade energética. Despite all the difficulties that the arts are suffering at this time, artists try to leave the “devil down in the hole”. Regarding the fact that you can’t let yourself sink together, they multiply and fight against the overwhelming forces with leaps, floor dances, and energetic quality.
119
Programa: Solitude e Recolhimento [session: Solitude and Seclusion] Retirar-se, mover-se, permitir-se à experimentação. Apartamentos, casas, corredores, lares, seus ninhos. Na quietude e no recolhimento nascem obras que se voltam para si em estados de solitude que convidam a um espelhamento no qual a unidade se torna múltipla: um, uma, eu, outro. A dança registrada nos espaços de introspecção apresenta instantes íntimos, nos quais corpos em fuga e corpos em suspensão transitam nos isolamentos voluntários, involuntários e nos distanciamentos sociais. Withdrawing, moving, allowing oneself to experiment. Apartments, houses, corridors, homes, their nests. In quietness and seclusion works are born, which turn to themselves in states of solitude and invite to a mirroring in which the unity becomes multiple: one, me, the other. The dance recorded in spaces of introspection presents intimate instants, in which fleeing bodies and bodies in suspension transit in voluntary and involuntary isolations and in social distancing.
120
Coda Marcos Camargo
Estudo para Tempos Suspenso
SP, 2008, 9:10 min, Livre
Andréa Babour e A Penca
Três bailarinas estão chegando em suas casas. Sozinhas com seus próprios delírios.
SP, 2020, 5:55 min, Livre
Three ballerinas are arriving at their homes. Alone with their own delusions.
Vídeodança-circo do coletivo A Penca (Andréa Barbour, Bárbara Francesquine e Maria Carolina Oliveira). Essa criação, desenvolvida durante a quarentena, é um registro cotidiano de mulheres vivenciando a solidão e relacionando-se apenas com suas plantas? Ou um ritual de resistência e retorno à terra? Inspiradas por narrativas sobre continuidade, risco e relutância, as artistas exploram, de diferentes maneiras, as relações, o silêncio, a suspensão dos corpos vivos e do tempo. As plantas como parceiras de criação e de um cotidiano incerto, ora são apresentadas como objeto de manipulação e equilíbrio, ora como sujeitos e protagonistas de cena. Video-dance-circus by the collective A Penca. This creation, developed during quarantine, is a daily record of women experiencing loneliness and relating only to their plants? Or a ritual of resistance and return to the earth? Inspired by narratives about continuity, risk, and reluctance, the artists explore, in different ways, relationships, silence, and the suspension of living bodies and time. Plants as partners in creation and in an uncertain daily life, sometimes presented as objects for manipulation and balance, sometimes as subjects and protagonists of the scene.
121
Pequenas Danças por Apenas 7’
Protocolo 22 (Just Watching You)
Paula Sousa
Pasha Gorbachev
PR, 2020-2021, 7 min, 12 anos
SP, 2020, 5:49 min, Livre
Pequenas Danças por Apenas 7’ é uma nova leitura do trabalho desenvolvido durante o período de isolamento social pela artista Paula Sousa, intitulado Pequenas Danças, uma coletânea com 40 self-vídeos arte de 1 minuto cada. O trabalho projeta e cria imagens e ambientes corporais ancorados no desejo estético da artista: a busca da beleza e poesia que comunicam e/ ou que servem de respiro para o outro.
Um fragmento de um corpo, um tronco sem face, um conjunto de movimentos que contrastam a sutileza dos gestos à fisicalidade que esse corpo carrega. Aqui, Pasha, artista russo radicado no Brasil desde 2017, revisita sua trajetória, marcada por técnicas de movimento dos braços e da musicalidade como elementos de sua pesquisa. Entendendo a edição como processo de escolhas artísticas, este trabalho busca refletir sobre a irrelevância de movimentos virtuosos em detrimento da beleza hipnotizante do minimalismo e das possibilidades dramatúrgicas desta proposta corporal. Sua criação é resultado de experimentações provocadas pelos encontros remotos junto à T. F. Style Cia de Dança durante a pandemia.
Small Dances For Only 7’ is a new reading of the work developed during the period of social isolation by the artist Paula Sousa, entitled Pequenas Danças (Small Dances), a collection with 40 art self-videos of 1 minute each. The work designs and creates images and body environments anchored in the artist’s aesthetic desire: the search for beauty and poetry that communicate and/or serve as a breath of fresh air for the other.
A fragment of a body, a chest without a face, a set of movements that contrast the subtlety of gestures to the physicality that this body carries. Here, Pasha, a Russian artist living in Brazil since 2017, revisits his trajectory marked by techniques of arms movements and musicality as elements of his research. Viewing the edition as a process of artistic choices, this work tries to reflect on the irrelevance of virtuous movements in detriment of the mesmerizing beauty of minimalism and the dramaturgical possibilities of this body proposal. His creation is the result of experiments provoked by remote encounters with T. F. Style Cia de Dança during the pandemics.
122
Quais São os Vírus da Nossa Sociedade?
Rebuçado
Cia Duo Due
PA, 2015, 7:50 min, Livre
SP, 2021, 02:09:12, Livre. Direção: Ana Clara Poltronieri e Daniel Lupo.
O oculto, o velado. O que está na origem ou no âmago. O íntimo e o profundo. Enfim, Rebuçado: um experimento em videodança que explora estéticas em trânsito entre diferentes tribos, sabores e desejos.
Quais são os reais vírus da nossa sociedade? Um levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública revelou que houve aumento de feminicídio e violência doméstica em março de 2020. O lugar mais perigoso é dentro de casa. O filme foi feito no período da quarentena para levantar o debate de que o isolamento social diante da atual pandemia é importante, mas o isolamento para as mulheres que sofrem com violência doméstica tem sido um beco sem saída. Elas ficam desamparadas, sofrendo violência e vivendo em isolamento com seus agressores. Quais são os reais vírus da nossa sociedade? Um levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública revelou que houve aumento de feminicídio e violência doméstica em março de 2020. O lugar mais perigoso é dentro de casa. O filme foi feito no período da quarentena para levantar o debate de que o isolamento social diante da atual pandemia é importante, mas o isolamento para as mulheres que sofrem com violência doméstica tem sido um beco sem saída. Elas ficam desamparadas, sofrendo violência e vivendo em isolamento com seus agressores.
Danilo Bracchi
The hidden, veiled. What is in the origin or in the core. The intimate and the deep. In short, Rebuçado: a video dance experiment that explores aesthetics in transit between different tribes, flavors, and desires.
123
Travessia Maryah Monteiro EUA, 2020, 5:44 min, 12 anos Travessia é um jogo com as telas que me entornam. Esvazio as telas para que então me abram passagens por onde o meu corpo escapa. Crossing is a game with the screens that surround me. I empty the screens so that they then open passages through which my body escapes.
124
PROGRAMA: Memórias, Corpos e Afetos [session: Memories, Bodies, and Affections] Heranças simbólicas, memórias impressas nos corpos, lembranças, histórias e conexões antepassadas. São obras que enaltecem em suas materialidades corporais, seus territórios, que na movência de seus saberes nos arrebatam em potência e poesia. São trabalhos que carregam o berro, o silêncio, o medo e os relatos afetivos que se misturam aos nossos corpos espectadores. Symbolic inheritances, memories printed on the bodies, memories, stories, and ancestral connections. These are works that exalt in their corporal materialities, their territories that in the movement of their knowledge take us away in power and poetry. They are works that bear the scream, the silence, the fear, and the affective stories that mix with our spectator bodies.
125
A Cambonagem e o Incêndio Inevitável Castiel Vitorino Brasileiro ES, 2021, 34:17 min, 10 anos Parceria e apoio: Institute for Studies on Latin American Art (Islaa) e Center for Cultural Studies (CCS).
Inevitável é o acaso da forma do fogaréu. Inevitável é o fogo que acontece em mim quando eu danço. A cambonagem trata-se de um pacto: acolheremos a imprevisibilidade de nossos caminhos. Inevitable is the chance of the shape of the fire. Inevitable is the fire that happens to me when I dance. Cambonagem is about a pact: we will welcome the unpredictability of our paths.
Corredeira Kanzelumuka, Nave Gris Cia Cênica, Murilo de Paula e Osmar Zampieri SP, 2021, 19 min, Livre Videodança concebida a partir do solo homônimo dançado por Kanzelumuka, nasce da percepção das águas que correm para o mar e da relação do poder ancestral ligado às águas no corpo feminino. No espetáculo original buscou-se aprofundar relações entre manifestações culturais em seu contexto tradicional e litúrgico e a criação em dança contemporânea. Na sua recriação para videodança, partimos da estrutura da dramaturgia original do espetáculo e estabelecemos uma relação direta com espaços da cidade de São Paulo marcados pela presença das águas, sob a forma de nascentes, rios visíveis e invisíveis e pela presença de coletivos e grupos que articulam seus fazeres e lutas nestes territórios. A video dance designed from the solo dance of the same name by Kanzelumuka, it was born from the perception of the waters that flow to the sea and the ancestral power connected to the waters in the female body. In the original performance, we aimed to deepen the relationship between cultural manifestations in their traditional and liturgical contexts and contemporary dance creation. In its recreation for video dance, we started from the structure of the original dramaturgy of the show and established a direct relationship with spaces in the city of São Paulo marked by the presence of water, under the form of springs, visible and invisible rivers, and by the presence of collectives and groups that articulate their actions and struggles in these territories.
126
Entre o Fundo e o Meio Céu
Estudos de Corpo-Embarcação
Estúdio Kaquiado
Davi de Jesus do Nascimento
PA, 2020, 7:20 min, 18 anos
MG, 2021, 6:43 min, Livre
Videoperformance que investiga e experimenta o diálogo entre duas linguagens e que tem como norte o saber astrológico através da interpretação simbólica do meu próprio mapa astral. Performo meu próprio cosmo, minha mandala astral, minha cosmopoética. É uma pesquisa que aborda o tempo e seus ciclos e homenageia as mulheres que atravessam minha existência. Me lanço na praia do Chapéu Virado, na Ilha de Mosqueiro, em Belém (PA), no chalé número 13, fazendo alusão às casas astrais existentes no universo da astrologia. O chalé é eleito como local da pesquisa por representar as casas astrais, além da nutrição afetiva pela casa, pelas histórias familiares ali vividas e revividas.
Mexidão de muvucas desde o risco de calafetagem do nado. (Quando a cagaita abana o verão com tábua de carne).
A video performance that investigates and experiments with the dialogue between the two languages and that has astrological knowledge as a guide through the symbolic interpretation of my own astrological chart. I perform my own cosmos, my astral mandala, my cosmo-poetics. It is a research that approaches time and its cycles, and pays homage to the women who go through my existence. I set out on the beach at Chapéu Virado, on Mosqueiro Island in Belém (PA), in the chalet number 13, alluding to the astral houses that exist in the universe of astrology. The chalet was chosen as the place for the research because it represents the astral houses, in addition to the affective nourishment for the house, for the family stories lived and relived there.
Mix of muvucas since the risk of caulking the swim. (When the cagaita fans the summer with a chopping board).
127
Homem Torto
Loess
Eduardo Fukushima
Marise Maués
BR/Chile, 2020, 13:55 min, Livre
PA, 2015, 7:56 min, Livre
Homem Torto é um dos solos mais importantes do
“Um homem nunca é o mesmo, permitido-lhe uma existência.” A obra se constitui de uma performance, orientada para o vídeo, produzida na Ilha de Maracapucu-Miri, município de Abaetetuba (PA). Loess pretende instigar a leitura do homem contemporâneo como um ser loess, ou seja, um ser passível de múltiplas identidades, um ser formado de camadas que se sobrepõem ao longo do tempo. Adentrar em um igarapé e elevar o meu corpo à condição análoga a um sedimento loess, passível à ação de agentes naturais, possibilitou a materialização imagética de ter um corpo tecido em camadas que se sobrepunham com o passar das horas pelo depósito de sedimentos carregados pelas águas.
Homem Torto is one of the most important solos by
“A man is never the same, allowed one existence.” The work is a video-oriented performance, produced on Maracapucu-Miri Island, in the city of Abaetetuba (PA). Loess intends to instigate the reading of contemporary man as a Loess being, which means, a being susceptible to multiple identities, a being formed of layers that overlap over time. Entering a stream and elevating my body to a condition analogous to a Loess sediment, susceptible to the action of natural agents, allowed the imagery materialization of having a body woven in layers that overlapped with the passing of hours by the deposit of sediments carried by the waters.
dançarino Eduardo Fukushima, com música de Tom Monteiro e luz de Hideki Matsuka. Esse trabalho, estreado em 2013, em Veneza, foi construído em relação à sala Cenacolo Palladiano, onde Pablo Veronese pintou a famosa obra Casamento da Cana entre 1562-1563. Homem Torto faz oposição à grandiosidade e às linhas retas desse lugar ao ser uma dança quebrada, desalinhada e vibracional; uma constante caminhada no desequilíbrio. O solo foi recriado em 2014 para ser apresentado em espaços alternativos que formem uma passarela, transformando-se em uma dança que o público assiste nas laterais, expandindo movimentos internos em gestos torcidos e multivetoriais. dancer Eduardo Fukushima, with music by Tom Monteiro and lighting by Hideki Matsuka. This work, premiered in 2013 in Venice, was built in relation to the Cenacolo Palladiano room, where Pablo Veronese painted the famous work Marriage at Cana between 1562-1563. Homem Torto opposes the grandeur and straight lines of that place by being a broken, misaligned, vibrational dance; a constant walk in imbalance. The solo was recreated in 2014 to be performed in alternative spaces that form a catwalk, becoming a dance that the audience watches from the sides, expanding internal movements into twisted, multi-vectored gestures.
128
Seliberation #2
Xapiri
Estela Laponi
Leandro Lima e Gisela Motta; Laymert Garcia dos Santos e Stella Senra; Bruce Albert
SP, 2021, 5:40 min, 18 anos (se libertar + celeberation = versão indiana do inglês, celebration) Encaro o cânone das proporções. Me canso do cânone das proporções. Insisto no cânone das proporções. Me canso do cânone das proporções. Risco o cânone das proporções. Antropofagio o cânone das proporções. I seliberate you. You seliberate me. We seliberate us!! I face the canon of proportions. I get tired of the canon of proportions. I insist on the canon of proportions. I get tired of the canon of proportions. I get tired of the canon of proportions. I make anthropophagy in the canon of proportions. I seliberate you. You seliberate me. We seliberate us!!
AM, 2012, 55:03 min, 16 anos Xapiri é uma palavra Yanomami usada na designação dos xamãs, as “pessoas-espíritos” (xapiri thë pë), e dos seus “espíritos auxiliares” (xapiri pë). Os xapiri pë são as “imagens” dos seres na sua forma primordial; em particular as imagens dos antepassados humanos-animais (yarori pë), primeiros habitantes da terra-floresta urihi a. Os xamãs fazem descer e dançar esses entes -imagens para conduzir suas curas-batalhas contra as malevolências humanas e não humanas, bem como para domar as forças e entidades invisíveis que movimentam a ordem cosmoecológica aparente do mundo. Este filme experimental foi realizado durante dois encontros de xamãs na aldeia Watoriki, Amazonas, em março de 2011 e abril de 2012. Xapiri is a Yanomami word used to designate both the shamans, the ‘spirit-people’ (xapiri thë pë), and their ‘auxiliary spirits’ (xapiri pë). The xapiri pë are the ‘images’ of beings in their primordial form; in particular the images of the human-animal ancestors (Yarori pë), the first inhabitants of the urihi a forest-land. The shamans bring down and dance these images-beings to conduct their healing-battles against the different forms of human and non-human malevolence, as well as to tame the invisible forces and entities that move the apparent cosmoecological order of the world. Xapiri is an experimental film, inspired by Yanomami shamanism. Its images were recorded on the occasion of two meetings of shamans in Watoriki village, Amazonas, in March 2011 and April 2012.
129
PROGRAMA: Fluxos, Modulações e Deslocamentos [session: Flows, Modulations, and Movements] Frequências e intervalos que ora se expressam pela plasticidade, ora pelo ritmo. Trabalhos distintos que, aqui, se aproximam em cadência e por suas materialidades peculiares. Montagens que colocam em diálogo o movimento demarcado pela construção sonora de danças de corpos, danças de imagens e coreografias de frames. Frequencies and intervals that are sometimes expressed by plasticity, sometimes by rhythm. Distinct works that, here, come together in cadence and by their peculiar materialities. Editings that put into dialogue the movement demarcated by the sound construction of dances of bodies, dances of images and choreographies of frames.
130
Faz que Vai
Loka
Bárbara Wagner e Benjamin De Burca
Keila e Luiza Chedieck
PE, 2015, 12 min, Livre
PA, 2020, 2:39 min, 16 anos
Tomando o nome de um passo de frevo que simula um momento de instabilidade, o trabalho retrata quatro bailarinos em seus modos de articular uma forma de tradição popular em questões socioeconômicas e de gênero. Como uma série de anotações sobre a relação entre corpo, câmera e movimento no registro de uma dança típica do Nordeste do Brasil, Faz que Vai comenta o sentido do carnavalesco presente em diversas estratégias de preservação do frevo como imagem, patrimônio e produto.
Loka é uma junção do hip-hop e tecnobrega com uma pegada pop, vem falando sobre a união da mulher da periferia, onde muitas vezes precisa acolher e apoiar uma à outra para se proteger do assédio sofrido de tantas formas.
Taking its name from a frevo step that simulates a moment of instability, the work portrays four dancers in their ways of articulating a form of popular tradition in socioeconomic and gender issues. As a series of notes on the relationship between body, camera, and movement in the recording of a typical dance from the Northeast of Brazil, Faz que Vai comments on the sense of the carnivalesque present in different strategies to preserve frevo as an image, heritage, and product.
Loka is a mix of hip-hop and technobrega with a pop vibe, and talks about the unity of women from the outskirts, where they often need to shelter and support each other to protect themselves from the harassment they suffer in so many ways.
131
Marahope 14/07
Noturno 150
Alexandre Veras e Paulo Caldas
Heavy Baile
CE, 2007, 15 min, Livre
RJ, 2020, 2:50 min, Livre. Direção: Daniel Venosaz.
Mara Hope é um navio – na verdade, o que resta dele – encalhado no Ceará, uma ilha de metal abandonada na costa de Fortaleza. Neste site specific marítimo, isolado, desolado e em ruínas, dois corpos exercitam uma dramaturgia de distâncias e proximidades, de movimentos e detenções, de sons e quase silêncios.
Coletivo multimídia de funk que propõe a convergência de produções musicais, coreográficas e audiovisuais, o Heavy Baile explora a solidão durante o período de pandemia como o ponto de partida para o videoclipe Noturno 150. O dançarino afrofuturista Sheick, cria da periferia carioca, traz coloca a sua cultura em meio a obras eurocêntricas da coleção do Metropolitan Museum of Art de Nova York. Naqueles passinhos empolgantes há um pouco de frevo, de samba, de capoeira e de dança afro no geral. A música é um funk 150 bpm fundamentalmente instrumental, voltada para as pistas de dança, num formato clássico de montagem de funk com samples e batidas.
Mara Hope is a ship – in fact, what is left of it – stranded in Ceará, a metal island abandoned off the coast of Fortaleza. In this maritime site specific, isolated, desolate and in ruins, two bodies exercise a dramaturgy of distances and proximities, of movements and detentions, of sounds and almost silences.
A multimedia funk collective that proposes the convergence of musical, choreographic, and audiovisual productions, Heavy Baile explores loneliness during the pandemic period as the starting point for the music video Noturno 150. Afrofuturist dancer Sheick, stars in scenes of pure art in a virtual tour of New York’s Metropolitan Museum of Art. The black dancer, from the outskirts of Rio de Janeiro, brings his culture into the midst of Eurocentric works. In those exciting little steps there is a little frevo, samba, capoeira, and Afro dance in general. The song is a fundamentally instrumental 150 bpm funk, aimed at the dance floor, in a classic format of funk setting with samples and beats.
132
Samba #2
Saudade
chameckilerner Andrea Lerner e Rosane Chamecki
Vinícius Cardoso e Irupé Sarmiento
EUA, 2014, 3 min, Livre
SP, 2018, 2:48 min, Livre
As artistas trabalham com o clichê do samba, tentando subvertê-lo. O plano fechado no quadril é resgatado da TV brasileira que elas cresceram assistindo. “The Chacrinha frame”, como elas chamam, evoca o programa de talentos dos anos 1970 onde a câmera fazia um zoom para enquadrar os quadris das dançarinas. Ao prolongar o tempo da ação, vemos um movimento que se revela visceral e imprevisível. A tensão entre quadris e pernas cria uma “dança da carne”, demolindo, metafórica e literalmente, a materialidade do corpo em uma paisagem desorientadora. Este desconforto visual evoca o desconforto de crescer numa sociedade onde o corpo feminino é agressivamente observado e constantemente objetificado.
Este curta-metragem nasceu do encontro criativo entre o diretor e a artista. Vinícius e Irupé se conheceram criando vídeos de dança. E Saudade nasceu de um exercício criativo entre a dupla. Irupé passava uma temporada dançando na Alemanha e, em sua primeira volta ao Brasil, o encontro de arte rendeu este filme. Como marca, os contrastes. Leveza e dureza. A fluidez e pujança. As sensações e palavras que podem descrever a falta, a saudade. O espaço vazio, cheio de sentimento.
The artists work with the samba cliché in an attempt to subvert it. The close-up on the hip goes back to the Brazilian TV They grew up watching. “The Chacrinha frame,” as they call it, evokes the talent show of the 1970s where the camera zoomed the butts of the dancers. When prolonging the action time, we see a movement that reveals visceral and unpredictable. The tension between hips and legs creates a “flesh dance,” breaking down, metaphorically and literally, the materiality of the body in a baffling landscape. This visual discomfort evokes the discomfort of being raised in a society where the female body is aggressively observed and constantly objectified.
This short film was born from the creative meeting between the director and the artist. Vinícius and Irupé met each other creating dance videos. And Saudade was born from a creative exercise between them. Irupé spent a season dancing in Germany and, on his first return to Brazil, the artistic meeting produced this film. As a mark, contrasts. Lightness and hardness. Fluidity and strength. The sensations and words that can describe the lack, the longing. The empty space, full of feeling.
133
Superpoderosas
Odoín
Lucas Syuga e Gangart
Cynthia Domenico
GO, 2021, 2:42 min, 12 anos
SP, 2019, 4:42 min, Livre
Inspirado no clássico programa de TV As Meninas Super Poderosas, o GANGART, trio composto e dirigido por
Em uma trajetória que parece sem fim, um sonho revela paisagens internas. Mas seria o próprio sonho? Sensível, enigmática e imagética, esta videodança apresenta, na dança de uma mulher com cavalos, uma jornada de autotransformação.
Flávys Guimarães, Gleyde Lopes e Lucas Syuga, vem lutando e resistindo e combatendo o “mal” no centro da cidade, tendo suas danças como seus superpoderes. Adaptação em vídeo de uma apresentação que participou da IV Mostra Goiana de Danças Urbanas, em 2019, produzido pela Enjoy Cultura, e recebeu a premiação de 1° lugar na categoria Trio. Inspired by the classic TV show The Powerpuff Girls, GANGART, a trio composed and directed by Flávys Guimarães, Gleyde Lopes and Lucas Syuga, has been fighting and resisting and fighting the “evil” in the city center, having their dances as their superpowers. Video adaptation of a performance that participated in the IV Mostra Goiana de Danças Urbanas, in 2019, produced by Enjoy Cultura, and was awarded the 1st place in the Trio category.
In a seemingly endless trajectory, a dream reveals internal landscapes. But was it the dream itself? Sensitive, enigmatic and imagery, this video dance presents, in the dance of a woman with horses, a journey of self-transformation.
134
3
135
Podcast | Peça Sonora
[Podcast | Sound Play]
136
137
134 Podcast Um Rádio na Paisagem [A Radio Station in the Landscape]
139 Peça Sonora | CARDS Mover(-se): Sete Peças Para Deslocar-se de Dentro pra Fora [Sound Pieces | Cards – Moving: Seven Plays To Move From Inside to Outside]
138
Podcast
Um Rádio na Paisagem [A Radio Station in the Landscape] Gustavo Ciríaco Brasil, 12 anos [Brazil, 12 years old] Site do projeto [Project website]: www.umradionapaisagem.com.br; Concepção, direção artística e entrevistas [Conception, artistic direction, and interviews]: Gustavo Ciríaco; Artistas entrevistados [Interviewed artists]: Ana Pi, Bruno Levorin, João Saldanha, Laura Lima, Luciana Lara, Marcelo Evelin, Maya Da-rin e Michelle Moura; Comunicação, produção executiva e redação [Communication, executive production, and wording]: Priscila Maia; Edição de som e música [Sound and music editing]: Fabiano Araruna; Web Design e programação visual [Web Design and visual programming]: Marina Lufti; Desenhos [Drawings]: Gonçalo Lopes; Administração – Mídias Sociais [Administration – Social Media]: Mariana Marques; Produção [Production]: Dos Voos – Soluções em Arte e Design; Apoio [Support]: THIRD – Amsterdam University of the Arts; Realização [Achievement]: Sesc São Paulo.
O podcast inédito Uma Rádio na Paisagem convida artistas dos mais diversos campos para falar sobre paisagem, suas experiências biográficas e referências artísticas. Concebido e dirigido pelo coreógrafo Gustavo Ciríaco, tem publicação semanal e percorre, em duas séries, os universos e a poética espacial de artistas como Ana Pi (dança), Bruno Levorin (performance), João Saldanha (dança), Laura Lima (artes visuais), Luciana Lara (dança e projetos site specific), Marcelo Evelin (dança), Maya Da-rin (cinema) e Michelle Moura (dança). Em meio a um diálogo em torno da influência da paisagem em suas obras, a conversa é alimentada por referências vindas da literatura, do cinema, do paisagismo, da arquitetura, das artes visuais, das artes cênicas e da própria experiência com a natureza. O primeiro episódio, A Cidade dos Penetras, versa sobre o livro A invenção da Paisagem, da escritora e crítica de arte francesa Anne Cauquelin, que chama especial atenção para a ilusão de assumir a paisagem como equivalente à natureza, embora sua construção e conceito sejam artificiais. “Nós vemos apenas o que já foi visto, e vemos como deve ser visto. No cerne de sua abordagem, está a influência inevitável da história da arte na construção multicamadas de nossas perspectivas espaciais”, afirma Ciríaco, artista contextual carioca baseado entre Lisboa e Rio.
The unreleased podcast A Radio Station in the Landscape (Uma Rádio na Paisagem) invites artists from different fields to talk about landscape, their biographical experiences and artistic references. Designed and directed by choreographer Gustavo Ciríaco, it is published weekly and covers, in two series, the universes and spatial poetics of artists such as Ana Pi (dance), Bruno Levorin (performance), João Saldanha (dance), Laura Lima (visual arts), Luciana Lara (dance and site-specific projects), Marcelo Evelin (dance), Maya Da-rin (cinema), and Michelle Moura (dance). In the midst of a dialogue about the influence of landscape in his works, the conversation is fostered by references coming from literature, cinema, landscape design, architecture, visual arts, performing arts, and his own experience with nature. The first episode, The City of Party Crashers (A cidade dos penetras), discusses the book The Invention of Landscape, by French writer and art critic Anne Cauquelin, who draws special attention to the illusion of assuming landscape as equivalent to nature, although its construction and concept are artificial. “We only see what has already been seen, and we see it as it should be seen. At the core of her approach is the inevitable influence of art history on the multi-layered construction of our spatial perspectives,” says Ciríaco, a contextual artist from Rio de Janeiro based between Lisbon and Rio.
139
140
2/10
9/10
Luciana Lara é uma coreógrafa brasiliense conhecida por suas obras que revelam a arquitetura efêmera produzida por habitarmos, circularmos e nos conectarmos socialmente em uma cidade onde todos somos penetras.
João Saldanha é um coreógrafo carioca cujo trabalho é caracterizado pela fluência do movimento e uma rica composição espacial remanescente das linhas e tensões da arquitetura de Oscar Niemeyer, em seu diálogo com a sensualidade, a irregularidade e os padrões abruptos da geografia do seu Rio de Janeiro natal.
10/2 Luciana Lara is a choreographer from Brasília known for her works that reveal the ephemeral architecture we produce for living, circulating, and socially connecting in a city where we are all crashers.
10/9
16/10
23/10
Michele Moura é coreógrafa e bailarina curitibana, atualmente residente em Berlim, interessada em performances mínimas e detalhadas, em que cria restrições cinéticas para explorar mudanças psicológicas e físicas.
Laura Lima é uma artista visual mineira com uma obra marcada pela variedade de suportes e formatos, em que o conceito abre um diálogo com experts e executores de outras áreas para a criação de universos singulares.
10/16
10/23
Michele Moura is a choreographer and dancer from Curitiba, currently living in Berlin. She is interested in minimum and detailed performances where she creates kinetics restrictions to explore psychological and physical changes.
Laura Lima is a visual artist from Minas Gerais. Her work is marked by the variety of supports and formats where the concept opens a dialogue with experts and executers of other areas to create singular universes.
João Saldanha is a choreographer from Rio de Janeiro. His work is characterized by the movement flow and a rich spatial composition remnant of the lines and tensions of Oscar Niemeyer’s architecture in his dialogue with the sensuality, irregularity, and abrupt patterns of Rio de Janeiro’s geography.
141
30/10
6/11
Marcelo Evelin, nascido em Teresina, é um artista congregador de presenças, de fluxos, de sensações na criação de paisagens humanas em vertigem de desejo e vida.
Maya Da Rin é uma cineasta e artista visual carioca interessada nas densidades que envolvem cultura e natureza na ameríndia brasileira. Seus filmes nos colocam nos olhos daqueles que não conhecemos, e nos lançam na vertigem das diferenças culturais e da leitura de nossos arredores.
10/30 Marcelo Evelin was born in Teresina. He is a congregator artist of presences, flows, and sensations, creating human landscapes in a vertigo of desire and life.
11/6
13/11
20/11
Bruno Levorin é um coreógrafo e filósofo de formação nascido em Campinas. Interessa-lhe como o gesto, sua insistência, seu desenrolar no tempo, produz dramaturgias de empatia e instala um presente compartilhado.
Ana Pi é coreógrafa, artista visual, pesquisadora de danças urbanas, dançarina extemporânea e pedagoga. Sua prática situa-se entre as noções de trânsito, deslocamento, pertencimento, sobreposição, memória, cores e gestos ordinários.
11/13
11/20
Bruno Levorin is a choreographer and philosopher born in Campinas. His interest is in how the gesture, its insistency, unfolding over time produces empathy dramaturgy and creates a shared present.
Ana Pi is a choreographer, visual artist, researcher of urban dances, extemporaneous dancer, and educator. Her practice flows around traffic notions, displacement, sense of belonging, overlapping, memory, colors, and ordinary gestures.
Maya Da Rin is a filmmaker and visual artist from Rio de Janeiro, interested in the densities that involve the culture and nature of the Brazilian Amerindian. Her movies put us in the eyes of those we don’t know and throw us in the vertigo of the cultural differences and the reading of our surroundings.
142
143
Peças Sonoras | Cards [Sound Pieces | Cards]
Mover(-se): Sete Peças Para Deslocar-se de Dentro pra Fora [Moving: Seven Plays to Move From Inside to Outside] Coletivo Teatro Dodecafônico Brasil/SP, Livre [Brazil/SP, all ages] Concepção geral [Overall conception]: Coletivo Teatro Dodecafônico; Roteiro e vozes [Script and voices]: Beatriz Cruz, Hideo Kushiyama, Ierê Papá, Monica Galvão, Olívia Niculitcheff, Paulina Caon, Verônica Veloso; Edição [Editing]: Ierê Papá; Gravação [Recording]: Sandra-X; Masterização [Mastering]: Felipe Julian; Design cards: Vânia Medeiros
Flanador assumido em lugares públicos ou salas multiúso, por vezes subvertendo modos convencionais de navegar em redes sociais, o Coletivo Teatro Dodecafônico combina duas plataformas de interação em Mover(-se): Sete Peças Para Deslocar-se de Dentro pra Fora. Seja convidando o público a deambular por meio de peças sonoras, seja de programas performativos (cards compartilhados pelo Instagram) que poderão ser acionados no tempo e no espaço conforme a disponibilidade de cada pessoa. Deslocar-se, descentrar(-se), caminhar de volta pra rua, mover(-se) da casa à cidade, das memórias íntimas às ancestrais. Mover a própria pele, ossos, carne e mover(-se) em direção aos outros. Deslocar para modificar a ordem, provocar desordem, perturbar, desorganizar. Transpor, transportar ideias, matérias, cidades e imaginar outros futuros possíveis. São algumas das ambições formais desses artistas da capital paulista, que desde 2008, colocam no radar de pesquisa provocações e estímulos transdisciplinares. Na presente proposta, sete peças convidam as pessoas a se moverem e criarem pontes com a programação da Bienal Sesc de Dança. São diálogos transversais, entrelaçamentos possíveis entre diferentes campos, vozes e criações dos coletivos e artistas presentes.
Assuming strolling down in public places or multi-purpose rooms, sometimes subverting conventional ways of surfing social networks, Coletivo Teatro Dodecafônico combines two platforms of interaction in Moving: seven plays to move from inside to outside. Whether inviting the audience to wander through sound plays, or through performance programs (cards shared through Instagram) that can be activated in time and space according to each person’s availability. Getting around, de-centering oneself, walking back to the street, moving from the house to the city, from intimate memories to ancestral ones. Moving one’s own skin, bones, flesh, and moving toward others. Moving to modify the order, to cause disorder, to disturb, to disorganize. Transposing, carrying ideas, materials, cities, and imagining other possible futures. These are some of the formal ambitions of these artists from São Paulo, who, since 2008, have placed cross-disciplinary provocations and stimuli on the research radar. In the present initiative, seven plays invite people to move and create bridges with Sesc Dance Biennial’s program. They are transversal dialogues, possible interweaving between different fields, voices and creations of the collectives and artists present.
144
3/10 [peça sonora] Peça pele | entre corpo e casa 10/3 [sound piece] Skin piece – between body and home
4/10 [card] Peça Mapa 10/4 [card] Map piece
A peça propõe um percurso pela casa, experimentando deslocamentos do corpo, dos sabores e da voz. É um convite à explosão em tempos de distanciamento social, polarização política e barbárie. Duas ou mais pessoas tocando suas peles, cada uma em sua casa, cada uma em seu tempo, poderiam formar um coletivo? – é a pergunta inspiradora da poeta Ana Martins Marques. Uma evocação às marchas, um ensaio para uma revolta por vir – é o convite de Paulo Freire que ainda ressoa em nós. Música: April Kisses, de Eddie Lang
Primeiro de três programas performativos em formato de card, compartilhado via instagram (@sescspcampinas), que pode ser acionado no tempo e no espaço conforme a disponibilidade de cada pessoa.
This work proposes a ride through the house to experience the displacement of the body, flavors, and voice. It is an invitation to an explosion in times of social distancing, political polarization, and barbarism. Two or more people touching their skin, each in its own house, each in its time, could they form a collective? – This is an inspiring question from the poet Ana Martins Marques. An evocation to marching, a rehearsal of a coming uprising – it is Paulo Freire’s invitation that still resonates in us. Music: April Kisses, by Eddie Lang
First of three performance programs in card format, shared via Instagram (@sescspcampinas), which can be activated in time and space according to each person’s availability.
145
5/10 [peça sonora] Peça espaço | ensaio para lembrar 10/5 [sound piece] Space act – rehearsal to remember
6/10 [card] Peça para Plantar-se
A peça nos convida a observar o espaço da casa e da cidade, escavando memórias, propondo movimentos possíveis a partir dos objetos, da arquitetura e do entorno do lugar que cada um habita. Articula pensamentos do geógrafo Milton Santos, do arquiteto Juhani Pallasmaa e da bióloga Donna Haraway, enquanto propõe pequenas doses de reflexão, entrelaçando-nos ao mundo enquanto conversamos com ele. Músicas: Papaloko, de Axial, e Awful, de Josh Pan.
Segunda proposta performativa em formato de card, compartilhado via instagram (@sescspcampinas), que pode ser acionada no tempo e no espaço conforme a disponibilidade de cada pessoa.
This play invites us to observe the space of the house and city, digging memories and proposing possible movements from the objects, architecture, and surroundings of the place we inhabit. It articulates the thoughts of the geographer Milton Santos, the architect Juhani Pallasmaa, and the biologist Donna Haraway while proposing small doses of reflection, intertwining us to the world while we talk to it. Music: Papaloko, by Axial and Awful, by Josh Pan.
10/6 [card] To Get Planted Piece
Second performance proposal in card format, shared via Instagram (@sescspcampinas), which can be activated in time and space according to each person’s availability.
146
7/10 [peça sonora] Peça pergunta | desvio para o outro 10/7 [sound piece] Question act – deviation towards the other
8/10 [card] Peça para Sonhar
A peça invoca um desvio do eu para o outro, um mergulho em si para em seguida ir ao encontro das alteridades que nos constituem e que nos diferenciam, entre os corpos que nos habitam e aqueles que transitam pela cidade. Uma coleção de perguntas para propor deslocamentos do pensamento e ideias fixas, um jogo de errância, o avesso da assertividade das afirmações, uma evocação do que se mantém em trânsito. (Re)conhecimentos de Judith Butler se articulam às práticas de reimaginação do mundo instigadas por Jota Mombaça.
Terceira proposta performativa em formato de card, compartilhado via instagram (@sescspcampinas), que pode ser acionada no tempo e no espaço conforme a disponibilidade de cada pessoa.
The play invites a deviation from oneself towards the other, an inner dive to shortly thereafter meet the alterities that shape us and make us different among the bodies that inhabit us and those that walk through the city. A set of questions to propose displacements of the thought and fixed ideas, a game of wandering, the reverse of the assertiveness of statements, an evocation of what remains in transit. (Re)knowledge by Judith Butler articulate with the practices of reimagination of the world instigated by Jota Mombaça.
10/8 [card] Dream piece
Third performance proposal via Instagram (@sescspcampinas), which can be ac in card format, shared tivated in time and space according to each person’s availability.
147
10/10 [peça sonora] Peça chão | ouvir os fluxos da terra 10/10 [sound piece] Floor act – listening to the earth flows A peça parte da escuta do fluxo das águas e da busca pela terra, convidando quem escuta para um percurso entre corpo, casa e cidade. O corpo como possibilidade de entrelaçamento entre águas e terras na casa. Observar porções de terra, desde esse espaço íntimo até as ruas da cidade, propondo um deslocamento de terras no espaço urbano, como uma reelaboração simbólica dos territórios em constante disputa. Um trecho do Manifesto da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas, reflexões de Walter Benjamin e Uýra Sodoma são vozes que se cruzam para revolver, transmutar e reflorestar territórios. Músicas: Squamata e Thoracica, de Craca Beat. The play starts with the listening of the water flows and the search for the earth, inviting those who listen to travel through the body, the house, and the city. The body as a possibility of interlacing between waters and earth in the house. Observe portions of earth from this intimate space until the streets of the town, proposing a displacement of earth in the urban space as a symbolic re-elaboration of the territories in constant dispute. As an excerpt from the Manifest of National Articulation of Indigenous Women, reflections of Walter Benjamin and Uýra Sodoma are the intersecting voices to revolve, transmute and reforest territories. Music: Squamata and Thoracica, by Craca Beat.
[Formative Learning]
Ações Formativas
148
4
149
A leitura do mundo a partir da leitura do corpo. Essa premissa aparece nas entrelinhas da programação das Ações Formativas. Consciência emprestada do educador Paulo Freire (1927-1997), para quem devemos aprender uns com os outros. “Ninguém educa ninguém, ninguém se educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”, anota o pernambucano no livro Pedagogia do Oprimido. Mesmo com a prevalência da mediação remota, conforme orienta a Organização Mundial da Saúde, a Bienal Sesc de Dança não abre mão da transversalidade proporcionada em edições anteriores. Assim como faz ao desenhar as Ações Cênicas de 2021, a organização lança mão de adaptações para estimular a troca de saberes e fazeres entre público, artistas, companhias, pensadores e demais corpos dessa ciranda. As formativas convidam a navegar pelo prazer do conhecimento em aulas abertas, cursos, mesas reflexivas, podcasts, peças sonoras, mostras de filmes e videodança, enfim, uma paleta de sentidos complementares ou mesmo dissonantes às formas ou aos conteúdos de espetáculos ou performances gravados ou transmitidos direto de uma de nossas unidades. Nunca é demais lembrar que há opções para todas as faixas etárias. The world’s reading from the body’s reading. This premise appears in between the lines of the Formative Actions program. A conscience borrowed from educator Paulo Freire (1927-1997), to who we should learn from each other. “One does not educate anybody, nobody educates themselves, men educate themselves, disseminated by the world,” he notes in the book Pedagogy of the Oppressed. Even with the prevalence of remote mediation, as oriented by the World Health Organization, the Sesc Dance Biennial does not give up on the transversality provided in the previous editions. As when designing the 2021 Scenic Actions, the organization made use of adaptations to encourage the exchange of knowledge and actions between the audience, artists, companies, thinkers, and other bodies from this circle. The Formative invite to navigate through the pleasure of knowledge in open classes, courses, reflection tables, podcasts, sound plays, films, and video dance exhibits, anyway, a palette of senses complementary or even dissonant to the forms or contents of shows or performances recorded or broadcast directly from one of our units. It is always worth reminding that there are options for all age groups.
150
Ateliê de Dança para Crianças [Dance Atelier for Children] 152 Entre Telas e Praças [Between Screens and Squares] AULA ABERTA [Open Class] 153
Strike a Pose Aula Magistral [Master Class]
154 Dança e Corporeidade [Dance and Corporeality] 156 Música no Corpo, Corpo na Música [Music in the Body, Body in the Music] 157 Para uma Timeline a Haver [For a Timeline to Exist] CICLO DE ESTUDOS [Studies Cycle] 158 Conversas Alafiadas [Sharpened talks] Conversa [Talk] 160
Lia Rodrigues
Laboratório [Laboratory] 161 Dança para Todas as Telas: partilhas [Dance for All the Screens: sharing]
151
Mesa de discussão [Discussion Table] 162 Arquivos e Processos [Archives and Processes] 164
Deslocamentos como Coreografia [Shifting as Choreography]
166 Ismael Ivo: Frente e Verso [Ismael Ivo: Inside Out] 169 Memórias Negras – Quando o Cinema Dança [Black Memories – When the Cinema Dances] 171
Telas e Palcos [Screens and Stages]
173
Viver Isolado, Pensar Coletivo [Live Isolated, Think Collectivelly]
174 Sala de Encontro de Programadores [Programmers’ Meeting Room] Workshop [Workshop] 175 O Corpo como Lugar de Escuta [The Body as a Place of Listening]
152
Ateliê de Dança para Crianças [Dance Atelier for Children]
Entre Telas e Praças [Between Screens and Squares] Brasil/SP [Brazil/SP], Livre [All Ages] Convidada [Guest]: Melina Sanchez
Para quem está com crianças em casa, a rotina durante a pandemia tem sido ainda mais puxada. Por isso, a proposta desta atividade é que as crianças curtam junto com adultos, cuidadores ou responsáveis e explorem o corpo, o espaço e suas possibilidades de movimento dentro de casa. Serão momentos prazerosos que valorizam a interação de forma criativa. Inspirada na natureza e nos movimentos dos animais, Melina Sanchez conduz exercícios de alongamento, contração, relaxamento e salto, todos fundamentais para a dança. Ao final, práticas de ritmo e improvisação culminam em uma divertida brincadeira de esconde-esconde. Melina Sanchez | @melina_ateliededanca Pedagoga, terapeuta ocupacional e mestra em Educação pela UFSCar. Especializou-se em dança-educação pelo Trinity Laban (Londres, 2002) e Laban e didática da dança no Caleidos Arte e Ensino (São Paulo, 2003-2008). Possui experiência como professora de dança para bebês, crianças, adolescentes adultos e pessoas com deficiência.
For those who are at home with children, the routine during the pandemic has been even toughest. That is why this activity’s proposal is for children to enjoy together with adults, caregivers, or people in charge, and explore the body, space, and its possibilities for movement inside the home. There will be pleasurable moments that value interaction creatively. Inspired by nature and animals’ movements, Melina Sanchez guides stretching, contraction, relaxation, and jump exercises, all essential to dance. In the end, rhythm and improvisation practices culminate into a fun game of hide-and-seek. Melina Sanchez | @melina_ateliededanca Pedagogue, occupational therapist, and master of Education by UFScar. She specialized in Dance-Education from Trinity Laban (London, 2002) and Laban and Didactics of Dance at Caleidos Arte e Ensino (São Paulo, 2003-2008). She has experience as a dance teacher for babies, children, adolescents, adults, and people with disabilities.
153
AULA ABERTA [Open Class]
Strike a Pose Brasil/SP [Brazil/SP], 16 anos [16 years old] Convidada [Guest]: Danna Lisboa
Com a proposta de abordar as influências das danças waacking e voguing, duas técnicas que muito contribuíram para as culturas de salão, clubes e cultura pop, Danna Lisboa compartilha ambas, ícones das pistas, para fazer o corpo mover com o que considera classe, elegância, fluidez e muita energia. Waacking surgiu nos clubs underground de Nova York, em 1971, mas a cultura da dança nasceu em Los Angeles. Seus movimentos são típicos das pistas clubs no estilo soul train. Voguing tem como princípio as poses, movimentos angulares das pernas, troncos e braços, tendência surgida em Nova York nas festas chamadas ballroom, no bairro do Harlem. Toda essa cultura é de criação dos afro-americanos no início dos anos 1960. Tanto waacking como voguing estão inseridas na cultura pop atual através de videoclipes e até mesmo em séries e programas de reality show.
With the proposal of approaching the influences of the waacking and voguing dances, two techniques that contributed a lot to the ballroom, clubs, and pop cultures, Danna Lisboa shares both icons of the dance floors to make the body move with what she considers class, elegance, fluidity, and a lot of energy. Waacking was born in New York underground clubs in 1971, but the dance culture was born in Los Angeles. Its movements are typical of the soul train-style club dance floors. Voguing has as its principle the poses, angular movements of the legs, chest, and arms, a trend that emerged in New York in the parties called ballroom, in Harlem neighborhood. All this culture is the creation of the African-Americans in the early 60s. Both waacking and voguing are inserted into the current pop culture through video clips and even in series and reality shows.
Danna Lisboa | instagram.com/dannalisboa Iniciou seus estudos nas dança em 2003. De lá para cá, participou de grandes festivais de dança como Meeting Hip Hop, integrando grupos como Ritmos B.A.S.E., Identidade em Movimento, entre outras contribuições. Danna também percorre vários lugares de São Paulo com seus workshops direcionados às danças com essências dos clubes e danças urbanas.
Danna Lisboa | instagram.com/dannalisboa Started her dance studies in 2003. From then on, she participated in major dance festivals like Meeting Hip Hop, integrating groups such as Ritmos B.A.S.E., Identidade em Movimento, among other contributions. Danna also goes through many places in São Paulo with her workshops targeted at dances with the essence of the clubs and urban dances.
154
Aula Magistral [Master Class]
Dança e Corporeidade [Dance and Corporeality] Brasil/RJ [Brazil/RJ], Livre [All ages] Apresentação [Presentation]: Fabiano Maranhão (Sesc São Paulo). Convidado [Guest]: Muniz Sodré
Em A Sociedade Incivil – Mídia, Iliberalismo e Finanças, livro lançado este ano pela editora Vozes, o professor emérito Muniz Sodré, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, analisa o esvaziamento de valores que sustentam as instituições e a perda de força da democracia e da representação parlamentar que puseram a sociedade civil de cabeça para baixo. Na primeira tarde desta bienal, o intelectual baiano faz um deslocamento de seus campos recorrentes de análise – as ciências jurídicas, as letras, a sociologia e a antropologia – para elaborar acerca do tópico Dança e Corporeidade, título de sua aula magistral. Segundo Muniz, corporeidade é a condição própria do sensível, tal como na experiência afro, em que o sentir é a comunicação original com o mundo, é o ser no mundo como corpo vivo. O sentir é o modo de presença na totalidade simultânea das coisas e dos seres, é o corpo humano enquanto compreensão primordial do mundo. Por sua vez, sustenta o autor de 36 livros, a dança como integração rítmica do movimento no espaço e tempo cria ou “inventa” as ações a partir do fluxo temporal do imaginário coletivo e, deste modo, produz um agir autônomo do dançarino. Não se traduz nem se explica a dança – ou seja, ela não é um duplo do teatro, da mímica, da literatura ou da história –, pois a ação do dançarino é projetiva, induzindo a uma experiência não redutível ao conceito. São infinitas as possibilidades criativas da dança.
In A Sociedade Incivil – Mídia, Iliberalismo e Finanças (The uncivil society – media, illiberalism and finance, in free translation), a book released this year by the publisher Vozes, emeritus professor Muniz Sodré, from the Federal University of Rio de Janeiro, analyzes the voiding of values that sustain institutions and the loss of strength of democracy and parliamentary representation that have turned civil society upside down. On the first afternoon of this biennial, the intellectual from Bahia moves away from his recurring fields of analysis – the legal sciences, literature, sociology and anthropology – to devise on the topic of Dance and Corporeality, the title of his master class. According to Muniz, corporeality is the condition of the sensitive, as in the Afro experience, in which feeling is the original communication with the world, it is being in the world as a living body. Feeling is the mode of presence in the simultaneous totality of things and beings, it is the human body as a primordial understanding of the world. In turn, the author of 36 books argues that dance as a rhythmic integration of movement with space and time creates or “invents” actions from the temporal flow of the collective imaginary and, hence, produces an autonomous action of the dancer. Dance cannot be translated or explained – which means, it is not a double of the theater, mime, literature or history – because the action of the dancer is projective, inducing an experience that cannot be reducible to the concept. The creative possibilities of dance are endless.
155
Muniz Sodré Estudou ciências jurídicas e sociais na Universidade Federal da Bahia, da qual recebeu o título de doutor honoris causa. Tem mestrado em sociologia da informação (Paris-II, Sorbonne), doutorado em letras (UFRJ) e pós-doutorado em sociologia e antropologia (École Pratique des Hautes Études en Sciences Sociales – Paris). Em 2012, tornou-se professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro. É pesquisador 1-A do Conselho Nacional de Pesquisas Científicas (CNPq). Tem 36 livros publicados sobre comunicação, cultura e ficção, entre eles Samba o Dono do Corpo, A Sociedade Incivil - Mídia, Iliberalismo e Finanças e O Terreiro e a Cidade: a Forma Social Negro-Brasileira. Muniz Sodré He studied Legal and Social Sciences at the Federal University of Bahia, from which he received the title of Doctor Honoris Causa. He has a Master’s Degree in Sociology of Information (Paris-II, Sorbonne), a Doctorate in Letters (UFRJ) and a PostDoctorate in Sociology and Anthropology (École Pratique des Hautes Études en Sciences Sociales – Paris). In 2012, he became Professor Emeritus at the Federal University of Rio de Janeiro. He is an A-1 researcher at the National Council for Scientific Research (CNPq). He has published 36 books on communication, culture and fiction, including Samba o Dono do Corpo, A Sociedade Incivil - Mídia, Iliberalismo e Finanças e O Terreiro e a Cidade: a Forma Social Negro-Brasileira.
156
Música no Corpo, Corpo na Música [Music in the Body, Body in the Music] Brasil/SP [Brazil/SP]. 16 anos [16 years old] Apresentação [Presentation]: Marcos Villas Boas (Sesc São Paulo). Convidados [Guests]: Rubens Oliveira e Pamela Amy
Integrantes da Cia Gumboot Dance Brasil (SP), o bailarino e coreógrafo Rubens Oliveira e a bailarina e performer Pamela Amy propõem investigar, brincar e dialogar com os movimentos junto à música. Quais texturas sonoras atravessam nossos gestos? Que instrumentos nos levam a diferentes sensações vibratórias? Uma oficina de experimentação para construção de diálogos com as diversas sonoridades em nossas danças.
Members of the Cia Gumboot Dance Brasil (SP), dancer and choreographer Rubens Oliveira and dancer and performer Pamela Amy propose investigating, playing, and dialoguing with the movements and the music. Which sound textures traverses our gestures? Which instruments lead us to different vibrating sensations? A workshop of experimentation for the construction of dialogs with the various sonorities in our dances.
Rubens Oliveira | @rubensmovimento É bailarino e coreógrafo, atua há 15 anos em trabalhos que envolvem criação, montagem de espetáculos e direção artística. Dirige a Cia Gumboot Dance Brasil desde 2009. Em 2018, seu espetáculo Subterrâneo foi premiado como melhor coreografia/criação pela APCA.
Rubens Oliveira | @rubensmovimento Is a dancer and choreographer; he has been acting for 15 years in works involving the creation, assembly of performances, and artistic direction. He has been directing Cia Gumboot Dance Brasil since 2009. In 2018, his performance Subterrâneo (Underground) was awarded as the best choreography/creation by APCA.
Pamela Amy | @pamela.amyy É bailarina, trancista, produtora e fotógrafa. Iniciou no Núcleo de Dança Pélagos e em seguida entrou na companhia de dança africana Gumboot Dance Brasil, presente nos espetáculos Yebo e Subterrâneo. No grupo de estudos Gesto Circular e a Força do Útero, criado na pandemia, volta-se ao sagrado feminino.
Pamela Amy | @pamela.amyy Is a dancer, hair braider, producer, and photographer. She started in the Núcleo de Dança Pélagos and then joined the African dance company Gumboot Dance Brasil, present in the shows Yebo and Subterrâneo. In the studies group Gesto Circular and Força do Útero, created in the pandemic, targeted at the sacred feminine.
157
Para uma Timeline a Haver [For a Timeline to Exist] Portugal, 16 anos [16 years old] Convidados [Guests]: Ana Bigotte Vieira e João dos Santos Martins
A dupla propõe uma partilha metodológica do projeto Para uma Timeline a Haver – Genealogias da Dança Enquanto Prática Artística presentemente em exposição
no Museu de Serralves. O projeto é um exercício coletivo de sinalização de marcos relativos ao desenvolvimento e disseminação da prática coreográfica em Portugal nos séculos XX e XXI. Levado a cabo intermitentemente desde 2016 e assumindo o presente como lugar de enunciação, cada edição desta timeline é uma nova exposição com mutações, reconfigurações físicas e metodológicas. Combina fontes bibliográficas com escuta de testemunhos, recolhe de documentos originais com pesquisa iconográfica, desenho de narrativas e relações, procurando criar um lugar múltiplo para a compreensão do que é ou pode ser a dança, e propondo uma familiaridade com obras, autores, “cânones”, corporalidades, épocas e mundividências. Ana Bigotte Vieira | www.buala.org/pt/autor/ana-bigotte-vieira Faz parte da equipe do Teatro do Bairro Alto como programadora de discurso. Licenciou-se em história moderna e contemporânea (ISCTE), especializando-se em cultura e filosofia contemporâneas (FCSH-UNL), e em estudos de teatro (UL). Entre 2009 e 2012 foi visiting scholar no Departamento de Performance Studies da New York University. João dos Santos Martins | https://parasita.eu/joao-dos-santos-martins É um artista cujo trabalho abrange formas como a coreografia, a exposição e a edição. Começou por estudar na Escola Superior de Dança, em Lisboa, e na P.A.R.T.S., em Bruxelas, e fez um mestrado entre o e.x.er.c.e, em Montpellier, e o Instituto para Estudos Aplicados ao Teatro, em Giessen. Desde 2008, articula sua prática entre a produção de peças e a colaboração como bailarino.
The duo proposes a methodological sharing of the project Para uma Timeline a Haver [For a Timeline to Exist]- Genealogies of Dance As an Artistic Practice, seeking to start articulating the dance in the 90s in Portugal and Brazil from a crossed and comparative point of view, to locate relations, synergies, and aesthetic movements. The project is a joint exercise of signaling milestones related to the development and dissemination of the choreography practice in Portugal in the XX and XXI centuries. Carried out interruptedly since 2016, and assuming the present as a place for enunciation, each edition of this timeline is a new exhibit with mutations, physical and methodological reconfigurations. It combines bibliographical sources to the listening of testimonies, collection of original documents with iconographic research, drawing of narratives and relations, seeking to create multiple places for the understanding of what the dance is or can be, and proposing a familiarity with the works, authors, “models,” corporalities, and world views. Ana Bigotte Vieira | www.buala.org/pt/autor/ana-bigotte-vieira Is part of the Teatro do Bairro Alto’s theater team as a speech planner. She has a degree in Modern and Contemporary History (ISCTE) and specializes in Contemporary Culture and Philosophy (FCSH-UNL) and Theater Studies (UL). From 2009 to 2012, she was a visiting scholar in the Performance Studies Department at New York University. João dos Santos Martins | https://parasita.eu/joao-dos-santos-martins Is an artist whose work encompasses forms like choreography, exhibition, and edition. He started by studying at the Escola Superior de Dança, in Lisbon, and P.A.R.T.S., in Brussels, and studied a master’s in e.x.er.c.e, in Montpellier, and the Institute for Applied Studies in Theater, in Giessen. Since 2008, he articulates his practice between play productions and collaboration as a dancer.
158
CICLO DE ESTUDOS [Studies Cycle]
Conversas Alafiadas [Sharpened Talks] Brasil, 16 anos [Brazil], 16 years old] Convidados [Guests]: Zona Tórrida – Ana Rizek Sheldon, Flávia Couto, Rafael Rebouças, Thulio Guzman e Victor Bastos. Artistas convidados – Danilo Lima e Casa de Maniva
Criada por artistas-pesquisadores das artes do corpo em Salvador, a plataforma coletiva e colaborativa Zona Tórrida desenvolve um ciclo de estudos com quatro encontros, ou lâminas, como preferem seus integrantes, pessoas dedicadas às relações possíveis entre corpo e cultura, arte e sociedade e crítica. Resultante da pesquisa artística para criação em dança em diferentes configurações, a principal característica da plataforma é a inventividade aplicada aos conteúdos produzidos. A partir de textos, vídeos, imagens, ilustrações e fotografias, são experimentados modos possíveis de fazer dança e propor reflexões diversas visando o desenvolvimento do campo crítico. “Enquanto sujeitos agentes, investimos na produção do conhecimento em dança a partir de perspectivas interseccionais, valorizando as práticas de colaboração e respeito entre diferentes, sem a necessidade do consenso, mas comprometidos com a crítica, pois vemos no nosso horizonte a construção de um campo mais diverso e plural em termos de acesso aos espaços de visibilidade e aos meios de produção”, anota a equipe ministrante que também convidou dois artistas para a jornada de estudos. Ana R. Sheldon | http://lattes.cnpq.br/7032215448844538 Nascida em São Paulo no fim da década de 1980. Estuda dança e performance em suas maneiras de acontecer, reunir pessoas e outros seres. Graduada no curso de comunicação das artes do corpo (PUC-SP), em dança e performance, especialista em estudos contemporâneos da cena, mestre em dança pelo PPGDança-UFBA e doutoranda em ciências sociais pelo PPGCS-UFBA.
Created by artists-researchers of the arts of the body in Salvador, the collective and collaborative platform Zona Tórrida develops a studies cycle with four meetings, or blades, as its members prefer, people dedicated to the possible relations between body and culture, art, society, and critique. Resulting from the artistic research for creating dance in different configurations, the platform’s main characteristic is the inventiveness applied to the content produced. From texts, videos, images, illustrations, and photographs, possible forms of doing dance are experienced, proposing several reflections targeted at developing the critique field. “While agent subjects, we invest in the production of the dance knowledge from intersectional perspectives, valuing the practices of collaboration and respect among the different, without a need for consensus, but committed to the critique because we see in our horizon the construction of a more diverse and plural field in terms of access to visibility spaces and production means,” the team in charge affirms, which also invited two artists for the studies journey. Ana Rizek Sheldon | http://lattes.cnpq.br/7032215448844538 She was born in São Paulo in the late 80s. She studies dance and performance in its ways of happening, reuniting people and other beings. Graduated in the body arts communication course (PUC-SP), in dance and performance, a specialist in contemporary studies of the scene, master of dance from PPGDança-UFBA, and doctor of Social Sciences from PPGCS-UFBA.
Casa de Maniva (Belém-PA) | @houseofmaniva Responsáveis: Juan A. Silva (Mother Juani Maniva), Hian Denys (Father Denys Maniva) e Monique Amaral (Princess Babe Maniva). Casa de Maniva ou ainda Kiki House of Maniva, é um coletivo artístico de protagonismo LGBTQIA+, fundado em 2019 a partir do contato com a Cultura Ballroom/Vogue, uma cultura LGBTQIA+ e negra originária da cidade de Nova York. Formada por artistas de diversas linguagens “imbuídes” de desejo de vivenciar as artes por um caminho mais descentralizador e político, a Casa de Maniva dedica-se à criação, pesquisa e fruição de artes de enfrentamento que, por conta do protagonismo dos corpos dissidentes que a compõe, dialogam com questões de gênero e sexualidade, interseccionalizadas às perspectivas de raça, classe e território. Hian Denys (Pai), Juan A. Silva (Mãe) e Monique Amaral (Princesa).
Casa de Maniva (Belém-PA) | @houseofmaniva Responsible: Juan A. Silva (Mother Juani Maniva), Hian Denys ( Father Denys Maniva) e Monique Amaral (Princess Babe Maniva). Casa de Maniva or also Kiki House of Maniva is an artistic collective of LGBTQIA+ protagonism founded in 2019 after contact with the Ballroom/Vogue Culture, an LGBTQIA+ and black culture from New York City. Formed by artists of many languages, infused with a desire to live the arts through a more decentralized and political path, House of Maniva dedicates itself to the creation, research, and enjoyment of the confrontation arts that, due to the protagonism of the dissident bodies forming it, dialoguing with the questions of gender and sexuality, intercrossed to the perspectives of race, class, and territory. Hian Denys (Father), Juan A. Silva (Mother), and Monique Amaral (Princess)
Danilo Lima (Barreiras-BA) | www.teatromultimidia.com.br Bacharel em artes cênicas – interpretação teatral e especialista em estudos contemporâneos em dança (UFBA). Pesquisa procedimentos corporais para a cena multimídia, com indicação ao Prêmio Braskem de Teatro pela preparação corporal de Maçã – Um Acontecimento Cênico (2016). Atua como mediador cultural em artes cênicas e no ensino de crítica de artes para artistas do interior.
Danilo Lima (Barreiras-BA) | www.teatromultimidia.com.br Bachelor of Performing Arts – Theatrical Interpretation and specialist in Contemporary Studies of Dance (UFBA). Researches body procedures for the multimedia scene and was nominated to the Braskem Theater Award for the body preparation of Maçã – Um Acontecimento Cênico [Apple – A Performing Event] (2016). He acts as a cultural mediator in Performing Arts and teaches Arts Critique for artists in the countryside.
Flávia Couto | https://linktr.ee/pombasheeva Indígena da etnia Maraká (Bahia). É crítica de dança, escritora, jornalista, curadora de dança, artista do corpo e educadora. Como crítica, já escreveu para o jornal Folha de S.Paulo e para o extinto site idanca.net. Tem textos recentes publicados na revista OMenelick 2°Ato e Revista Barril. Em 2020, lecionou no Centro Cultural Bom Jardim (CCBJ) em Fortaleza.
Flávia Couto | https://linktr.ee/pombasheeva Indigenous from the Maraká ethnicity (Bahia). She is a dance critic, writer, journalist, dance curator, body artist, and educator. As a critic, she has written for the newspaper Folha de S. Paulo and the extinguished website idanca.net. She has recent texts published in the magazines OMenelick 2°Ato and Revista Barril. In 2020, she taught at the Centro Cultural Bom Jardim (CCBJ), in Fortaleza.
Rafael Rebouças | @opiorartistadomundo Artista, pesquisador e produtor cultural, tem se dedicado às práticas da dança em suas diferentes possibilidades. Tem interessa pelos temas em torno das relações entre arte, corpo, mercado e consumo na contemporaneidade. Atualmente faz doutorado em arte cênicas/UFBA. Mestre em dança e especialista em estudos contemporâneos em dança, ambos pelo PPGDANÇA/UFBA. Thulio Guzman | https://bityli.com/TvJspK Artista graduado e mestre em dança, atualmente doutorando em artes cênicas na UFBA. Com criações em dança, performance, vídeos, textos, entre outras. Nascido em Belém do Pará, crescido na Bolívia, com família em São Domingos do Araguaia e morador de Salvador. Coordenador da Plataforma ACASAS de investigações artísticas em espaços domiciliares. Victor Bastos | @bastosvctr A dance intellectual, teacher, from the periphery. Born in Bahia in 1992. Studies dance and its relations between body and city, art and politics, public and private, urban popular culture, university, and society. He has a teaching degree in Dance (UFBA), a specialist in Contemporary Studies of Dance (PPGDança/ UFBA), and a master’s student in Dance (PPGDança/UFBA). Zona Tórrida | www.zonatorrida.com.br Plataforma colaborativa de artistas pesquisadores na cidade de Salvador, que se dedicam a estudar corpo, cultura, arte e sociedade. Sua característica principal é a inventividade aplicada aos conteúdos e às reflexões críticas produzidas em dança.
Rafael Rebouças | @opiorartistadomundo Artist, researcher, and cultural producer, he has dedicated himself to the dance practices in their different possibilities. He is interested in the themes concerning art, body, market, and consumption relation in contemporaneity. He is currently a doctorate student of Performing Arts/UFBA. Master of Dance and specialist in Contemporary Studies in Dance, both from PPGDANÇA/UFBA. Thulio Guzman | https://bityli.com/TvJspK A graduated artist and master of dance, he is currently a doctorate student in Performing Arts at Universidade Federal da Bahia. With creations in dance, performance, videos, texts, among others. Born in Belém do Pará and raised in Bolivia, he has family in São Domingos do Araguaia and lives in Salvador. Coordinator of the ACASAS Platform for artistic investigations in household spaces. Victor Bastos Vitoria | @bastosvctr Intelectual da dança, professor, periférico. Nascido na Bahia em 1992. Estuda dança e suas relações entre corpo e cidade, arte e política, público e privado, cultura popular urbana, universidade e sociedade. Graduado em licenciatura em Dança (UFBA), especialista em estudos contemporâneos da dança (PPGDança/UFBA) e mestrando em dança (PPGDança/UFBA). Zona Tórrida | www.zonatorrida.com.br Collaborative platform of artist researchers in the city of Salvador, dedicated to studying the body, culture, art and society. Its main characteristic is the inventiveness applied to the contents and critical reflections produced in dance.
159
160
Conversa [Talk]
Lia Rodrigues Brasil [Brazil], Livre [All ages] Apresentação [Presentation]: Talita Rebizzi (Sesc São Paulo). Convidadas [Guests]: Lia Rodrigues e Christine Greiner
Nesta conversa, a coreógrafa Lia Rodrigues narra a trajetória de sua companhia, que em 2020 completou 30 anos de atuação, juntamente com a pesquisadora Christine Greiner. A partir do trabalho desenvolvido no Centro de Artes da Maré, Lia reflete sobre os Cadernos de Criação, produzidos durante a pandemia da covid-19, que apresentam os processos criativos dos espetáculos Aquilo que somos feitos, Formas Breves, Pindorama, Para que o Céu não Caia e Fúria. A interlocução e mediação é da professora Christine Greiner.
In this talk, choreographer Lia Rodrigues narrates her Company’s trajectory, which completed 30 years of actuation in 2020. From work developed at Centro de Artes da Maré, Lia reflects on the Notebooks of Creation, produced during the covid-19 pandemic, presenting the creative processes of the performances Aquilo Que Somos Feitos [What We Are Made Of], Formas Breves [Brief Forms], Pindorama, Para Que o Céu não Caia [So The Sky Won’t Fall], and Fúria [Fury]. Interlocution and mediation is by Christine Greiner, professor at the Department of Body Languages at PUC/SP.
Christine Greiner | @christinegreiner1995 Professora do Departamento de Linguagens do Corpo da PUC-SP.
Christine Greiner | @christinegreiner1995 Professor at the Department of Body Languages at PUC-SP.
Lia Rodrigues | http://liarodrigues.com Nasceu em 1956 em São Paulo onde se formou em balé clássico e estudou história na Universidade de São Paulo. Após ter participado do movimento de dança contemporânea em São Paulo nos anos 1970, integrou a Compagnie Maguy Marin/França entre 1980 e 1982, onde participou da criação de ”May b”. De volta ao Brasil, fundou a Lia Rodrigues Companhia de Danças em 1990, no Rio de Janeiro. São 30 anos de trabalho contínuo com criação e pedagogia. Criadora e diretora artística por 14 anos do festival Panorama de Dança. Desde 2004 desenvolve projetos artísticos e pedagógicos na favela da Maré no Rio de Janeiro em parceria com a Redes da Maré. Dessa parceria nasceu em 2009 o Centro de Artes da Maré e em 2012 a Escola Livre de Dança da Maré.
Lia Rodrigues | http://liarodrigues.com Born in 1956 in São Paulo, where she graduated in classical ballet and studied History at the University of São Paulo. After having participated in the contemporary dance movement in São Paulo in the 70s, she joined the Compagnie Maguy Marin/France between 1980 and 1982 where she participated in the creation of “May b”. Back in Brazil, she founded Lia Rodrigues Companhia de Danças in 1990 , in Rio de Janeiro. There are 30 years of continuous work with creation and pedagogy. Creator and artistic director for 14 years of the Panorama de Dança festival. Since 2004 she has been developing artistic and educational projects in the Maré favela in Rio de Janeiro in partnership with Redes da Maré. From this partnership, the Maré Arts Center was born in 2009, and in 2012 the Maré Free Dance School.
161
Laboratório [Laboratory]
Danças para Todas as Telas: Partilhas [Dances for All the Screens: Sharing] Brasil/SP/ PR/ PA, 16 anos [Brazil/SP/ PR/ PA, 16 years old] Convidados [Guests]: Isis Gasparini, Rodrigo Gontijo e Vanessa Hassegawa
Laboratório prático de acompanhamento de projetos já iniciados que relacione a dança às imagens em movimento e voltado aos mais diversos suportes. Danças para Todas as Telas: Partilhas propõe reflexões sobre possíveis desdobramentos dos projetos selecionados em diálogo com as obras que compõem a mostra de mesmo tema. A curadoria recomenda que as/os artistas tragam recortes de seus processos criativos para uma partilha coletiva. Ao longo dos encontros, a curadoria vai sugerir possibilidades para desenvolver seus projetos a partir da exploração prática do movimento dançado e da orientação das diversas maneiras de registros poéticos mediados pelo audiovisual.
A practical laboratory to follow up on projects that have already started relating dance to the images in motion and targeted at the most different supports. Danças para Todas as Telas: Partilhas [Dances for All Screens: Sharing] propose reflections on possible unfoldings of the selected projects in dialog with the works forming the exhibit with the same theme. The curatorship recommends the artists bring cutouts of their creative processes for collective sharing. Throughout the meetings, the curatorship will suggest possibilities to develop its projects from the practical exploitation of the danced movement and guidance of the several forms of poetic registries mediated by the audiovisual.
Isis Gasparini | www.isisgasparini.com.br É artista e pesquisadora atuante na área da dança e artes Visuais. Investiga corpo, imagem, coreografia e espaços expositivos. É mestra em poéticas visuais pela ECA-USP, graduada em artes plásticas e especialista em fotografia. Bailarina com atuação em companhias independentes.
Isis Gasparini | www.isisgasparini.com.br Is an artist and researcher working in the field of Dance and Visual Arts. She investigates body, image, choreography and exhibition spaces. She holds a master’s degree in Visual Poetics from ECA-USP, a degree in Fine Arts and is a specialist in Photography. She is a dancer with performance in independent companies.
Rodrigo Gontijo | www.rodrigogontijo.com É artista, pesquisador, curador e professor na Universidade Estadual de Maringá. Atua no campo do cinema experimental e expandido, danças para telas, filme-ensaio, cinema ao vivo, performances audiovisuais e cinema de exposição.
Rodrigo Gontijo | www.rodrigogontijo.com Is an artist, researcher, curator and professor at the State University of Maringá. He works in the fields of experimental and expanded cinema, dances for screens, essay-film, live cinema, audiovisual performances, and exhibition cinema.
Vanessa Hassegawa | vanessahassegawa.com.br É pesquisadora de dança da Amazônia paraense, curadora, artista do campo da videodança|dança para a tela e relações públicas atuante. É mestranda em artes da cena pela Unicamp, onde investiga as mídias “da palma da mão”.
Vanessa Hassegawa | vanessahassegawa.com.br Is a dance researcher born in the Amazon region of the State of Pará, curator, artist in the field of video dance|dance for the screens and an acting public relations practitioner. She is a Master’s student in Performing Arts at the State University of Campinas (Unicamp), where she is researching the media “of the palm of our hand”.
162
Mesa de discussão [Discussion Table]
Arquivos e Processos [Archives and Processes] Brasil [Brazil], Livre [All ages] Apresentação [Presentation]: Maitê Lacerda (Sesc São Paulo). Convidados [Guests]: Adnã Ionara, Beatriz Sano e João dos Santos Martins. Mediação [Mediation]: Holly Cavrell. Arquivos e Processos reúne artistas que integram a
programação da bienal para discutir a interferência e participação de arquivos, acervos e memórias na criação e práticas de dança. Os artistas são convidados a articularem o tema com seus processos de pesquisa, trazendo à tona diversos modos de transmissão de saberes tanto no aprendizado de técnicas, como na contribuição para a criação de obras coreográficas. Adnã Ionara | @adna_ionara É pesquisadora e artista das artes do corpo. Graduada em dança e mestranda em arte da cena pela Unicamp, iniciou estudos na dança e outras linguagens quando criança no terreiro de sua avó. Sua pesquisa aborda as “danças de cordão umbilical”, uma tentativa de refletir as sabenças do corpo em movimento a partir das escrevivências de sua avó, considerando a mobilização de sua experiência e sua jornada mítica ancestral. Sua formação inclui balé clássico, jazz dance, dança contemporânea, educação somática, dança moderna e danças negras da diáspora, sobretudo técnicas de danças afro-brasileiras. Beatriz Sano | biasano.com É professora, coreógrafa e dançarina. Faz parte da Key Zetta e Cia. Desde 2011, pratica o seitai-ho, educação corporal japonesa, com Toshi Tanaka e Ciça Ohno. Seus trabalhos autorais são: SOLO (2014) e Estudo de Ficção (2017). Graduou-se em dança pela Unicamp, atualmente é professora da Escola Livre de Dança de Santo André e cursa o mestrado em artes da cena na Unicamp.
Archives and Processesgathers artists that integrate Biennial’s program to discuss the interference and participation of archives, collections, and memories in dance’s creation and practices. The artists are invited to articulate the theme with their research processes, bringing to light several forms of conveying knowledge, both in learning techniques and the contribution for the choreography works’ creation. Adnã Ionara | @adna_ionara Is an artist and researcher of body arts. With a degree in dance and a student of a Master’s degree in performing arts at Unicamp, she started her studies in dance and other languages as a child in her grandmother’s candomblé yard (terreiro). Her research focuses on the “dances of umbilical cord”, an attempt to reflect the wisdom of the moving body based on her grandmother’s writings, considering the mobilization of her experience and her ancestral mythical journey. Her background includes classical ballet, jazz dance, contemporary dance, somatic education, modern dance and diaspora’s black dances, especially Afro-Brazilian dance techniques. Beatriz Sano | biasano.com Is a teacher, choreographer, and dancer. She is part of Key Zetta e Cia. Since 2011, she has been practicing seitai-ho, Japanese body education, with Toshi Tanaka and Ciça Ohno. Her authorial works include: SOLO (2014) and Estudo de Ficção (Fiction Study) (2017). She has a degree in dance from Unicamp, is currently a teacher at Santo André’s Escola Livre de Dança and is a student of a Master’s degree in performing arts at Unicamp.
163
Holly Cavrell | @cavrell É coreógrafa, bailarina e professora. A norte-americana. Holly Cavrell veio para o Brasil trabalhar no Departamento de Artes Corporais da Unicamp em 1989. Sua formação artística inclui dança moderna, balé clássico, jazz e treinamento vocal. Trabalhou na Suécia, México, Venezuela, França, Finlândia, Dinamarca, além da América Central. Atuou como bailarina em várias companhias internacionais de dança, podendo-se destacar Martha Graham, Paul Sanasardo Company e 5 X 2 Plus Dance Company. No Brasil trabalhou como coreógrafa e professora de dança moderna com diversas companhias, como Ballet Opera Paulista, Balé da Cidade de São Paulo, Primeiro Ato, Cisne Negro, Cia de Dança Lina Penteado, entre outras. Foi diretora e coreógrafa da Cia Domínio Publico desde 1995, venceu o Prêmio Governador do Estado/2014 pelo voto popular na categoria Dança. Atualmente é diretora do grupo Cia. Domínio Público, grupo de pesquisa certificada pelo CNPq com estudos em dança contemporânea pós-doutorado na NYU Gallatin School for Individualized Study, doutorado em artes na área de dança pelo Instituto de Artes Unicamp e graduação em comunicação e artes do corpo pela PUC-SP (2006). Foi chefe do Departamento de Artes Corporais da Unicamp (20122016), e coordenadora associada do Curso de Dança da Unicamp (1993 – 2003), É professora concursada atuando tanto na Graduação quanto no programa da Pós-Graduação Artes da Cena principalmente nas áreas de Dança moderna e contemporânea, composição coreográfica, improvisação e história da dança.
Holly Cavrell | @cavrell Is choreographer, dancer and professor. The north American Holly Cavrell came to Brazil to work in the Department of Body Arts at Unicamp in 1989. Her artistic background includes Modern Dance, Classical Ballet, Jazz, and vocal training. She has worked in Sweden, Mexico, Venezuela, France, Finland, Denmark, and Central America. She has performed as a dancer with several international dance companies, including Martha Graham, Paul Sanasardo Company and 5 X 2 Plus Dance Company. In Brazil, she worked as a choreographer and modern dance teacher with several companies, including, but not limited to, Ballet Opera Paulista, Balé da Cidade de São Paulo (Ballet of the City of São Paulo), Primeiro Ato, Cisne Negro, Cia de Dança Lina Penteado. She has been director and choreographer of Cia Domínio Publico since 1995, and won the State Governor’s Award/2014 by popular vote in the Dance category. She is currently the director of Cia. Domínio Público, a research group certified by CNPq with studies in Contemporary Dance Post-doctorate at NYU at the Gallatin School for Individualized Study, with the project “Developing Intimacy through Artistic Interventions in Non-Conventional Spaces.” PhD in Arts in the field of Dance from the Arts Institute of the State University of Campinas, degree in Communication and Body Arts from the Pontifical Catholic University of São Paulo (2006). She was Head of the Department of Body Arts at Unicamp (2012-2016), and associate coordinator of the Dance Course at Unicamp (1993-2003). She is a certified professor both at the Undergraduate and at the Graduate Arts of the Scene program, especially in the fields of Modern and Contemporary Dance, Choreographic Composition, Improvisation and History of Dance.
João dos Santos Martins | https://parasita.eu/joao-dos-santos-martins É um artista cujo trabalho abrange formas como a coreografia, a exposição e a edição. Começou por estudar na Escola Superior de Dança, em Lisboa, e na P.A.R.T.S., em Bruxelas, e fez um mestrado entre o e.x.er.c.e, em Montpellier, e o Instituto para Estudos Aplicados ao Teatro, em Giessen. Desde 2008, articula sua prática entre a produção de peças e a colaboração como bailarino.
João dos Santos Martins https://parasita.eu/joao-dos-santos-martins Is an artist whose work encompasses forms like choreography, exhibition, and edition. He started by studying at the Escola Superior de Dança, in Lisbon, and P.A.R.T.S., in Brussels, and studied a master’s in e.x.er.c.e, in Montpellier, and the Institute for Applied Studies in Theater, in Giessen. Since 2008, he articulates his practice between play productions and collaboration as a dancer.
164
Deslocamentos como Coreografia [Shifting as Choreography] Alemanha, Brasil, Chile, Finlândia, França e Uruguai, 12 anos [Germany, Brazil, Chile, Finland, France e Uruguay, 12 years old] Apresentação [Presentation]: Talita Rebizzi (Sesc São Paulo). Convidados [Guests]: Mário Lopes, Malu Avelar, Eliara Queiroz, Thaís Ushirobira e Marcela Olate
O encontro articulado pela equipe curatorial da veiculoSUR – plataforma itinerante transregional, transdisciplinar e colaborativa, fundada em 2014 e gerida por criadores latino-americanos e europeus em dança e artes visuais – e artistas residentes da edição 202021-22 se propõe a gerar uma conversa horizontal entre “todes”, que traga experiências e reflexões acerca desse exercício que requer atenção especial para reproduzir no deslocamento um pensamento coreográfico, isto é, coreografar movimentos como formas de aprender a se mover em outras direções. Deslocamento como coreografia é uma tecnologia criada pelo desejo ou necessidade de mudanças e transformações de cenários (out), estados (in) e ativações de sonhos. Para tanto, a mesa toca em questões como: Quais dispositivos e práticas presentes na residência o materializam? É possível falar de uma gestão, produção, curadoria e criação em constante deslocamento? O que se coreografa? O que se cartografa? O que significa uma coreografia que parta do “Sul” para o “Norte”? Como seguir nos deslocando num contexto em que pouco pudemos nos mover fisicamente? Como existências são deslocadoras? A plataforma veiculoSUR instiga encontros artísticos em torno de conflitos de normas e corpos estranhos, e é atenta às questões político-econômico-sociais que a permeiam. Parte, assim, de urgências que perpassam a prática artística no imbricamento com seus aspectos mercadológicos, sociais e econômicos a moverem participantes da residência internacional.
The meeting articulated by the curatorship team of the veiculoSUR – an itinerant, transregional, transdisciplinary, and collaborative platform founded in 2014 and managed by Latin American and European dance and visual arts creators – and resident artists of the 2020-21-22 edition proposes to generate a horizontal conversation among all, bringing experiences and reflections around this exercise, that requires special attention to reproduce a choreography thinking in the shifting, that is, to choreograph movements as a way of learning to move in other directions. The shifting as choreography is a technology created by the desire or necessity of changes and transformations of scenarios (out), states (in), and activations of dreams. For such, the table brings up questions like: Which devices and practices existing in the home materialize it? Is it possible to talk about management, curatorship, and creation under a constant shifting? What can be choreographed? What can be mapped? What does a choreography that goes from “South” to “North” mean? How can we continue to move ourselves within a context in which we can barely move physically? How existences are shifters? The veiculoSUR platform instigates artistic gatherings concerning conflicts of rules and foreign bodies, and it is attentive to the political-economical-social matters surrounding it. So, it sets off from urgencies that go through the artistic practice overlapping with its market, social, and economic aspects, moving the participants of the international residence.
165
veiculosur.org |@veiculosur Eliara Queiroz (Brasil/Brazil) – atua como artista da performance, articuladora e produtora sociocultural independente [acts as a performance artist, articulator and independent sociocultural producer]. Malu Avelar (Brasil/Brazil) – artista interdisciplinar e arte-educadora [interdisciplinary artist and art educator]. Maëlys Meyer (França/France) – cineasta e articuladora cultural [filmmaker and cultural articulator] Marcela Olate (Chile) – artista do movimento e articuladora cultural [artist of the movement and cultural articulator]. Mario Lopes (Alemanha/Brasil/Finlândia | Germany/Brazil/ Finland) – coreógrafo e articulador cultural [choreographer and cultural articulator]. Thais Ushirobira (Brasil/Brazil) – artista da dança e terapeuta corporal [dance artist and body therapist].
166
Ismael Ivo: Frente e Verso [Ismael Ivo: Inside Out] Brasil [Brazil], Livre [All ages] Apresentação [Presentation]: Fabrício Floro (Sesc São Paulo). Convidados [Guests]: Cláudia Nwabasili, Cleide Queiroz, Fabio Mazzoni, Fernanda Bueno, Marcio Aurélio e Roges Doglas. Mediação [Mediation]: Cássia Navas
Esta mesa é um celebrar-em-ação da obra e vida de Ismael Ivo, um dos grandes brasileiros da dança do planeta, que nos deixou em 2021. Celebração que se faz a partir de depoimentos de algumas e alguns que partilharam sua arte, construída de múltiplas ações a apontar para o futuro da dança. Seu legado se encarna também nestes profissionais, como a dança se encarna nos corpos de quem a tem como profissão, mas também nas plateias que experienciam cada espetáculo. Falar de Ismael Ivo é falar de suas obras, mas também de processos artísticos, formativos, técnicos e estéticos que desaguaram em cada uma delas. É falar de frente e verso: o fazer cotidiano em dança. Falar de Ivo é falar da memória e do futuro duma obra que viva está, em cada uma e cada um que foram tocados por sua energia, força, criatividade e sorriso. Como uma águia negra, de imensas asas-braços, suas trajetórias se estenderam por sobre tantas e tantos. Neste encontro, parte de sua memória, como uma “identidade em ação”, é convocada, reconstituindo-se para além da fixidez e da imutabilidade.
This table is a celebrate-in-action of the work and life of Ismael Ivo, one of the great dance Brazilians on the planet, who left us in 2021. A celebration that takes place from the testimonies of some people who have shared his art, built over multiple actions pointing to the future of dance. His legacy is also reincarnated in these professionals like dance incarnates in the bodies of those who have it as a profession and the audiences experiencing each act. Talking about Ismael Ivo is to talk about his works and the artistic, formative, technical, and aesthetic processes that pour into each of them. It is to talk about the front and back: the daily making in dance. Talking about Ivo is to talk about the memory and future of a work that is alive, in each one that has been touched by his energy, strength, creativity, and smile. His trajectories have extended over so many women and men like a black eagle of huge wings-arms. In this reunion, part of this memory, like an “identity in action,” is called upon, reconstituting itself to beyond the fixity and immutability.
Cássia Navas | www.cassianavas.com.br Especialista em gestão/políticas culturais (Unesco/Université de Dijon/Ministère de la Culture/France), é graduada em direito (USP), professora-colaboradora do Programa de PósGraduação em Artes da Cena/Instituto de Artes/Unicamp e doutora em dança/semiótica (PUC-SP). Colaboradora de Ismael Ivo nos programas “Biblioteca do Corpo” (Sesc São Paulo, ImPulsTanz/Viena, Secretaria de Estado da Cultura/SP/ Edições 2012-2015) e no “Programa Qualificação em Dança” (Edições 2015-2018 Oficinas Culturais/Secretaria de Estado da Cultura-SP). São de sua autoria os textos do livro Balé da Cidade de São Paulo – 50 Anos (2019), editado na gestão de Ismael Ivo à frente do BCSP, companhia pública-municipal de São Paulo (Secretaria Municipal da Cultura/PMSP).
Cássia Navas | www.cassianavas.com.br A specialist in cultural management/policies (Unesco/ Université de Dijon/Ministère de la Culture/France), she is a Bachelor of Law (USP), teacher-collaborator of the Graduate Program in Performing Arts/Arts Institute/Unicamp, and doctor of dance/semiotics (PUC-SP). Ismael Ivo’s collaborator in the programs “Biblioteca do Corpo” [Body Library] (Sesc São Paulo, ImPulsTanz/Viena, Culture State Department/ SP/2012-2015 Editions) and the “Qualification Program in Dance” (2015-2018 Editions/Cultural Workshops/Culture State Department/-SP). She wrote the texts in the book Balé da Cidade de São Paulo – 50 Anos [São Paulo City Ballet – 50 Years] (2019), edited under Ismael Ivo’s BCSP management, a São Paulo public-municipal company (Culture State Department/PMSP).
167
Cláudia Nwabasili e Roges Doglas | https://ciapenomundo.com Fundadores, diretores, coreógrafos e intérpretes da Cia Pé no Mundo (SP), que tem como proposta a pesquisa em arte pautada pelo diálogo entre manifestações afro-brasileiras e dança contemporânea. Participaram da edição do programa “Biblioteca do Corpo” (Sesc São Paulo, ImPulsTanz/Viena, Secretaria de Estado da Cultura/SP/Edição 2013), com o espetáculo No Sacre (Viena e São Paulo, 2013), sob direção/ coreografia de Ismael Ivo.
Cláudia Nwabasili e Roges Doglas | https://ciapenomundo.com Are founders, choreographers, and interpreters of Cia Pé no Mundo (SP), whose proposal is the art research guided by the dialog between African-Brazilian manifestations and contemporary dance. They participated in the edition of the program “Biblioteca do Corpo” [Body Library ] (Sesc São Paulo, ImPulsTanz/Viena, State Culture Department/SP/Edition 2013), with the performance No Sacre [In the Sacre] (Vienna and São Paulo, 2013), under Ismael Ivo’s direction/choreography.
Cleide Queiroz Com mais de cinco décadas de atuação na cena brasileira, Cleide Queiroz, nascida em Santos (SP), é atriz e professora de expressão vocal, tendo histórica atuação no cinema, televisão e teatro. Atuou nos filmes Pixote (1980/Hector Babenco) e A Hora da Estrela (1985/Suzana Amaral); na série televisiva Castelo Rá-Tim-Bum (1990-1994, TV Cultura) e nos espetáculos teatrais Gota d´Água (2001/Gabriel Vilella), pelo qual recebeu a indicação ao Prêmio Shell, e Palavra de Stela (2017/Elias Andreato), monólogo em que foi indicada como melhor atriz ao Prêmio APCA. Protagonizou Erêndira, (Viena e São Paulo/2014), de Ismael Ivo, dentro do programa Biblioteca do Corpo (Sesc São Paulo, ImPulsTanz/Viena, Secretaria de Estado da Cultura/SP/Edição 2014).
Cleide Queiroz Acting in the Brazilian scene for more than five decades, Cleide Queiroz, born in Santos (SP), is an actress and teacher of vocal expression, with a historical actuation in cinema, television, and theater. She acted in the movies Pixote (1980/Hector Babenco) and A Hora da Estrela [The Hour of the Star] (1985/Suzana Amaral); the television show Castelo Rá-Tim-Bum [Rá-TimBum Castle] (1990-1994, TV Cultura) and theater performances Gota d´Água [Drop of Water] (2001/Gabriel Vilella), for which she was nominated to the Shell Award, and Palavra de Stela [Word of Stela] (2017/Elias Andreato), a monologue for which she was nominated to the APCA Award for best actress. She was the protagonist of Erêndira, (Vienna and São Paulo/2014), by Ismael Ivo, within the program Biblioteca do Corpo [Body Library] (Sesc São Paulo, ImPulsTanz/Viena, Culture State Department/SP/2014 Edition).
Fabio Mazzoni | www.facebook.com/Famazzoni É diretor cênico e gestor cultural. Foi discípulo de Antunes Filho e assistente de direção do encenador Gabriel Villela. Realizou uma série de produções artísticas autorais, culminando em 2008 no Prêmio APCA de Melhor Concepção de Dança pelo espetáculo Hagoromo, o Manto de Plumas. Teve seu trabalho reconhecido pela mídia especializada, principalmente pela maior pesquisadora e crítica de dança do Brasil, Helena Katz. Em 2016, Mazzoni se tornou empresário e parceiro artístico do coreógrafo Ismael Ivo, tendo produzido as últimas três edições do projeto Biblioteca do Corpo e também ocupando o cargo de diretor artístico assistente do Balé da Cidade até 2020. Desde 2018, ao lado de Ivo, esteve responsável pelo desenho e pelas parcerias do projeto da SP Escola de Dança. Seu mais recente trabalho foi a consultoria artística do documentário Ismael Vivo, dirigido por Alberto Pereira Jr. e produzido pela TV Cultura.
Fabio Mazzoni | www.facebook.com/Famazzoni He is a scenic director and cultural manager. He was a disciple of Antunes Filho and assistant director of director Gabriel Villela. He carried out a series of artistic productions, culminating in the 2008 APCA Award for Best Dance Conception for the show “Hagoromo, o Manto de Plumas”. His work was recognized by the specialized media, mainly by the greatest researcher and dance critic in Brazil, Helena Katz. In 2016, Mazzoni became the manager and artistic partner of choreographer Ismael Ivo, having produced the last three editions of the Biblioteca do Corpo project and also occupying the position of assistant artistic director of Balé da Cidade until 2020. Since 2018, alongside Ivo, he was responsible for the design and partnerships of the SP Escola de Dança project. His most recent work was the artistic consultancy for the documentary Ismael Vivo, directed by Alberto Pereira Jr. and produced by TV Cultura.
168
Fernanda Bueno Bailarina, intérprete, coreógrafa, professora e atualmente graduanda em jornalismo. Estudou na Escola Municipal de Bailados, atual Escola de Dança (Fundação Theatro Municipal de São Paulo), tendo atuado no Corpo de Dança do Amazonas, Cia. de Danças de Diadema Núcleo Omstrab, Projeto Mov’iola e, desde 2008, no Balé da Cidade de São Paulo. Desde 2018, em colaboração com seu companheiro Kleber Pagú, artivista, curador e urbanista, idealiza e produz projetos no campo da arte pública. Cofundadora do Nós Artivistas, movimento civil, transitório e pontual responsável por manifestações artísticas na cidade, como a inscrição no asfalto da Avenida Paulista #VIDASPRETASIMPORTAM, e a idealização e produção da intervenção #TODOSPELASVACINAS, no asfalto do Sambódromo de São Paulo ante o contexto da covid-19.
Fernanda Bueno Dancer, interpreter, choreographer, teacher, and currently a journalism student. She studied at Escola Municipal de Bailados, current Escola de Dança (Fundação Theatro Municipal de São Paulo), acting in the Corpo de Dança do Amazonas, Cia. de Danças de Diadema Núcleo Omstrab, Projeto Mov’iola and, since 2008, in the Balé da Cidade de São Paulo. Since 2018, in collaboration with her partner Kleber Pagú, an activist for the arts, curator, and urban planner, she idealizes and produces projects in the public art field. Co-founder of Nós Artivistas, a civil, transient, and sporadic movement responsible for artistic manifestations in the city, like the writing in Avenida Paulista’s asphalt “BLACKLIVESMATTER, and the idealization and production of the intervention #EVERYONEFORVACCINES, in the asphalt of São Paulo’s Sambodrome, within Covid-19 context.
Marcio Aurélio Cenógrafo, figurinista e diretor de obras de referência em teatro e dança-teatro, desenvolveu experiências inovadoras, imprimindo delicado e rigoroso acabamento à cena. Professor na ECA-USP e livre-docente no Instituto de Artes-Unicamp, com a pesquisa “LAZZO – ACTIO: Nelson Rodrigues e Goethe em Weimar, uma ação poética/2002”, montou espetáculos no Brasil e no exterior, a partir de textos de Sófocles, Shakespeare, Bertolt Brecht, Nelson Rodrigues e Alcides Nogueira, entre outros. Em 1990, cria a Companhia Razões Inversas com formandos da primeira turma do curso de artes cênicas da Unicamp, nela dirigindo espetáculos premiados como A Bilha Quebrada, de Kleist, e Agreste, de Newton Moreno. Em 2009, dirigiu Ballo, para a São Paulo Companhia de Dança. Sua primeira colaboração em dança se deu com Marilena Ansaldi em Hamletmachine (1987). Premiado por várias de suas obras, entre 1997 e 2000 dirigiu junto ao bailarino e coreógrafo Ismael Ivo, no Deutsches National Theater/Weimar/Alemanha, as obras O Beijo no Asfalto (1998), Aura (2000), Tristão e Isolda (Marcia Haydée e Ismael Ivo/2000), Babel (2000) e Mephisto (2000).
Marcio Aurélio Set designer, costume designer, and director of reference works in theater and dance-theater, he developed innovative experiences, imprinting a delicate and thorough finishing to the scene. Teacher at ECA-USP and tenured professor at Unicamp’s Arts Institute, with the research “LAZZO – ACTIO: Nelson Rodrigues and Goethe in Weimar, a poetic action/2002,”. He organized shows in Brazil and abroad based on texts from Sophocles, Shakespeare, Bertolt Brecht, Nelson Rodrigues, and Alcides Nogueira, among others. In 1990, he created the Companhia Razões Inversas with graduate students from Unicamp’s first performing arts course class, directing awarded performances like The Broken Jug by Kleist, and Agreste, by Newton Moreno. In 2009, he directed Ballo for São Paulo Companhia de Dança. His first dance collaboration was with Marilena Ansaldi in Hamletmachine (1987). Awarded for many of his works, from 1997 to 2000, he directed, along with dancer and choreographer Ismael Ivo, at Deutsches National Theater/Weimar/Germany, the works The Asphalt Kiss (1998), Aura (2000), Tristan and Iseult (Marcia Haydée and Ismael Ivo/2000), Babel (2000), and Mephisto (2000).
169
Memórias Negras – Quando o Cinema Dança [Black Memories – When the Cinema Dances] Brasil, Livre [Brazil, all ages] Apresentação [Presentation]: Marcos Villas Boas (Sesc São Paulo). Convidados [Guests]: Bethania Gomes, Hernani Heffner, Luciane Ramos-Silva e Sabrina Fidalgo. Mediação [Mediation]: Carmen Luz
Questões sobre o ato de dançar histórias próprias, a imagem de corpos negros no audiovisual brasileiro, a presença negra na história da dança e as relações entre dança e cinema serão debatidas pelo gerente da Cinemateca do Museu de Arte Moderna (MAM-RJ), Hernani Heffner; pela bailarina e professora do Harlem Dance Theatre (EUA) Bethania Gomes; pela pesquisadora e artista da dança Luciane Ramos-Silva (SP); e pela cineasta, produtora e roteirista Sabrina Fidalgo (RJ). A mediação e concepção da mesa é da cineasta, coreógrafa e roteirista Carmen Luz, a convite desta bienal. Ela é fundadora da Cia Étnica de Dança e Teatro (RJ) e diretora do prestigiado documentário de longa-metragem Um Filme de Dança (2013).
Questions about the act of dancing their own stories, the image of the black bodies in the Brazilian audiovisual, the black presence in dance history, and relations between dance and cinema will be debated by the manager of the Modern Art Museum’s (MAM-RJ) Film Library, Hernani Heffner; by dancer and teacher of the Harlem Dance Theatre (USA) Bethania Gomes; by researcher and dance artist Luciane Ramos-Silva (SP); and by filmmaker, producer, and screenwriter Sabrina Fidalgo (RJ). The table’s mediation and conception are by the filmmaker, choreographer, and screenwriter Carmen Luz, invited by this biennial. She is the founder of the Cia Étnica de Dança e Teatro (RJ), and director of the prestigious feature length documentary Um Filme de Dança [A Film of Dance] (2013).
Bethania Gomes Primeira bailarina afro-brasileira do Harlem Dance Theatre e atual instrutora de dança da instituição nova-iorquina. Nascida no Rio de Janeiro, seguiu carreira no balé clássico. Atualmente, é professora, coach e coreógrafa na mesma companhia e escola profissional, além de colaborar em instituições afro-americanas como Collage Dance Collective e Alvin Ailey. É curadora das obras de sua mãe, Beatriz Nascimento (1942-1995), historiadora, professora, roteirista, poeta e ativista sergipana pelos direitos humanos dos negros e mulheres brasileiras.
Bethania Gomes First African-Brazilian dancer at the Harlem Dance Theatre and current dance instructor for the New Yorker institution. Born in Rio de Janeiro, she pursued a career in classical ballet. She is currently a teacher, coach, and choreographer at the same company and professional school, besides collaborating in African-American Institutions like Collage Dance Collective and Alvin Ailey. She is the curator of her mother’s works, Beatriz Nascimento (1942-1995), a historian, teacher, screenwriter, poet, and activist from Sergipe for the human rights of black people and Brazilian women.
Carmen Luz | @carmenfilmdance Bailarina, coreógrafa, diretora, dramaturga, curadora e professora com trânsito por literatura, artes visuais e cinema. É cofundadora da Cia Étnica de Dança e Teatro (1994), no bairro do Andaraí, onde articula ambição artística e projetos socioculturais de formação em dança contemporânea. Autora do documentário Um Filme de Dança (2013). Autodidata nos primeiros passos profissionais, pesquisa e reflete sobre gestos, movimentos e narrativas que envolvem corpos negrxs e memórias de africanes e afrodescendentes. bacharel em letras e pós-graduada em teatro pela UFRJ e em Cinema-Documentário pela FGV-RJ; mestra em Arte e Cultura pela Unirio.
Carmen Luz | @carmenfilmdance Dancer, choreographer, director, playwright, curator, and teacher that has been through literature, visual arts, and cinema. She is the co-founder of Cia Étnica de Dança e Teatro (1994), in the Andaraí neighborhood, where she articulates artistic ambition and social-cultural projects of qualification in contemporary dance. Author of the documentary Um Filme de Dança [A Film of Dance] (2013). Self-taught in the first professional steps, she researches and reflects on gestures, movements, and narratives that involve black bodies and memories from African people and their descendants. Bachelor of Languages and graduate of Theater from UFRJ and in Cinema-Documentary from FGV-RJ; master of Art and Culture from UNIRIO.
170
Hernani Haeffner Gerente da Cinemateca do MAM-RJ, onde ingressou em 1983, como voluntário, atuando depois na Curadoria de Documentação e Pesquisa e na função de conservadorchefe. Pesquisador e professor licenciado, é autor do roteiro do vídeo A Lógica do Silêncio, acerca da atuação da censura na ditadura civil-militar (1964-1985). Escreveu mais de 100 verbetes para a Enciclopédia do Cinema Brasileiro. Idealizador da série/lost+found, sobre preservação audiovisual, a ser veiculada no Canal Curta! no fim de 2021.
Hernani Haeffner Manager of MAM-RJ Film Library, where he entered in 1983 as a volunteer, working later in the Documentation and Research Curatorship and the position of the head conservator. Researcher and licensed teacher, he wrote the script for the video A Lógica do Silêncio [The Logic of Silence] regarding the censorship actuation in the civil-military. He wrote more than 100 entries for the Brazilian Cinema Encyclopedia. Idealizer of the series /lost+found about audiovisual preservation, to be broadcast in the channel Canal Curta! at the end of 2021.
Luciane Ramos-Silva | @luciane.corpoemdiaspora É artista da dança, antropóloga e educadora. Fundamentando-se em corporeidades afro-diaspóricas e africanas, articula as ideias de pluralidade, movimento e transformação em seus trabalhos. Reflete sobre as modernidades e contemporaneidades negras e as articula com os saberes ancestrais estruturantes da experiência brasileira. Dedica-se também a elaborar pensamentos críticos sobre o impacto da experiência colonial nas formas de pensar corpo, cultura e dança. A formação transdisciplinar abarca artes do corpo, antropologia e educação.
Luciane Ramos-Silva | @luciane.corpoemdiaspora Is a dance artist, anthropologist and educator. Based on Afrodiasporic and African corporealities, she articulates the ideas of plurality, movement, and transformation in her work. She reflects on black modernities and contemporary times, and articulates them with the ancestral knowledge that structures the Brazilian experience. She is also dedicated to devising critical thoughts about the impact of the colonial experience on the ways of thinking about the body, culture and dance. The transdisciplinary background includes the arts of the body, anthropology and education.
Sabrina Fidalgo | https://sabrinafidalgo.com A cineasta, roteirista, atriz e produtora carioca estudou na Escola de TV e Cinema de Munique (Alemanha) e na Universidade de Córdoba (Espanha). Seu média-metragem Rainha (2016) participou da mostra Perspectives do Festival de Rotterdam. O curta Alfazema (2019) foi premiado no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro e no Festival Internacional de Curtas do Rio de Janeiro – Curta Cinema. É filha do dramaturgo Ubirajara Fidalgo e da produtora teatral Alzira Fidalgo, criadores do T.E.P.R.O.N. – Teatro Profissional do Negro (1970).
Sabrina Fidalgo | https://sabrinafidalgo.com A filmmaker, playwright, actress, and producer from Rio de Janeiro, she studied in the Munich School of TV and Cinema (Germany) and Córdoba University (Spain). Her medium-length film Rainha [Queen] (2016) was part of the Perspectives exhibit at Rotterdam’s Festival. The short-film Alfazema [Lavender] (2019) was awarded in the Festival de Brasília do Cinema Brasileiro and Festival Internacional de Curtas do Rio de Janeiro – Curta Cinema. She is the daughter of the playwright Ubirajara Fidalgo and theater producer Alzira Fidalgo, creators of the T.E.P.R.O.N. – Teatro Profissional do Negro (1970).
171
Telas e Palcos [Screens and Stages] Brasil [Brazil], Livre [All ages] Apresentação [Presentation]: Maitê Lacerda (Sesc São Paulo). Convidados [Guests]: Davi Pontes, Wallace Ferreira, Daniela Pinheiro (Coletivo Mexa) e João Paulo Lima. Mediação [Mediation]: Juliana Moraes
Com o isolamento social, as telas, que já ocupavam muito de nosso cotidiano, ganharam ainda mais espaço e se fizeram necessárias para compor novos trabalhos. Se por um lado a videodança já explorava a relação entre corpo e imagem há décadas, por outro muitos artistas tiveram que encarar, pela primeira vez, a criação voltada para a câmera. Artistas com diferentes experiências se encontram para conversar sobre as relações entre dança e tela, novas mídias e isolamento social. Daniela Pinheiro É bacharel e licenciada em letras pela Universidade de São Paulo. Atua em projetos relacionados à educação, performance, dança, escritura, vulnerabilidade e marginalidade. Atua desde 2002 como editora e elaboradora de livros didáticos de língua portuguesa e linguagens e suas tecnologias. Integrante do Coletivo Mexa, formado por membros da comunidade LGBTT e que realiza, desde 2015, ações que transitam entre a arte e a política.
With social isolation, the screens that already occupied a lot of our daily lives have earned even more space and became necessary to compose new works. If, on the one side, the video dance was already exploring the body-image relationship for decades, on the other, many artists had to face, for the first time, a camera-oriented creation. Artists with different experiences gather to talk about the relationships between dance and screen, new media, and social isolation. Daniela Pinheiro She holds a bachelor’s degree in arts from the University of São Paulo. She works on projects related to education, performance, dance, writing, vulnerability and marginality. It has been working since 2002 as an editor and producer of textbooks on portuguese language and languages and their Technologies. Member of Coletivo Mexa, formed by members of the LGBTT community and who has been carrying out, since 2015, actions that move between art and politics.
Davi Pontes | @davipontttes É artista, coreógrafo e pesquisador. Formado em artes pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e mestrando no Programa de Pós-Graduação em Artes da mesma instituição. Estudou na Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo (Esmae), em Porto, Portugal.
Davi Pontes | @davipontttes Is an artist, choreographer and researcher. He has a degree in arts from Fluminense Federal University (Universidade Federal Fluminense) – UFF and is a student of a master’s degree in the Graduate Program of Arts at the same institution. He studied at Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo (Esmae), in Porto, Portugal.
João Paulo Lima | producaojplima.wixsite.com/jplima É doutorando em dança pela Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa. Formado pelo curso técnico para intérpretes-criadores em dança contemporânea da Escola Porto Iracema das Artes (CE, 2012). Idealizador e produtor da Plataforma de Dança e Acessibilidade da Bienal Internacional de Dança do Ceará. Ministra disciplinas como pesquisa de corpo para cena e performance na Universidade Federal do Ceará (UFC).
João Paulo Lima | producaojplima.wixsite.com/jplima Is a doctoral student in dance at the School of Human Kinetics at the University of Lisbon. Graduated from the vocational course to interpreters-creators in contemporary dance at the Porto Iracema School of Arts (CE, 2012) Creator and producer of the Dance and Accessibility Platform of the International Biennial of Dance of Ceará. He teaches disciplines such as body research to scene and performance at the Federal University of Ceará (UFC).
172
Juliana Moraes | www.julianamoraes.art.br Bailarina e coreógrafa. Professora e pesquisadora do Departamento de Artes Corporais da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Doutora em artes e bacharela em dança pela Unicamp. Mestra em dança pelo Conservatório Trinity Laban for Movement and Dance (Londres). Atualmente, é responsável pela criação e coordenação do Núcleo de Práticas Experimentais em Coreografia, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de S. Paulo (Fapesp). Recebeu o prêmio APCA, Bolsa da Fundação Vitae, Bolsa para Artistas da Unesco-Aschberg e três edições do Cultura Inglesa Festival. Wallace Ferreira |@patfudyda É artista da dança, performer e artista visual. Nascido em Vigário Geral, Rio de Janeiro, sua primeira referência artística surge na infância com sua família, em que todos dançam e constroem relações através do afeto e movimento. É graduando em dança pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Juliana Moraes | www.julianamoraes.art.br Dancer and choreographer. Professor and researcher at the Department of Body Arts at the State University of Campinas (UNICAMP). She holds a PhD degree in Arts and a bachelor’s degree in dance from UNICAMP. Master’s degree in Dance from the Trinity Laban Conservatory for Movement and Dance (London). She is currently responsible for the creation and coordination of Center for Experimental Choreographic Practice (Núcleo de Práticas Experimentais em Coreografia), funded by The State of São Paulo Research Foundation (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de S. Paulo, FAPESP). She has been awarded the APCA prize, the Vitae Foundation Scholarship, the UNESCO-Aschberg Bursaries for Artists, and three editions of Cultura Inglesa Festival. Wallace Ferreira |@patfudyda Is a dance artist, performer and visual artist. Born in Vigário Geral, Rio de Janeiro, his first artistic reference comes from his childhood with his family, where everyone dances and builds relationships through affection and movement. He has a degree in dance from the Federal University of Rio de Janeiro (UFRJ).
173
Viver Isolado, Pensar Coletivo [Live Isolated, Think Collectivelly] Brasil [Brazil], Livre [All ages] Apresentação [Presentation]: Maitê Lacerda (Sesc São Paulo). Convidados [Guests]: Renan Martins e Núcleo Ajeum. Mediação [Mediation]: Ricard@ Alvarenga
A pandemia de covid-19 criou uma nova configuração de se estar no mundo, como é criar um trabalho físico coletivo sem estarmos juntos? Nessa mesa, artistas acostumados com criações de grupo pensam no impacto do isolamento social no corpo coletivo e na criação artística. Núcleo Ajeum | https://nucleoajeum.com/ É formado por artistas que pesquisam em suas danças contemporâneas narrativas africanas e afro-brasileiras. Criado em 2014, inicialmente era conhecido como Núcleo Djalma Moura, fundador e diretor, e depois se permitiu o nome que traz o conceito de comer junto para refletir a prática coletiva. O núcleo tem se interessado nas transformações corporais e emocionais que espaços de celebração e resistência negra dão às incorporações, aos transes e ao corpo que ali se manifesta, numa conexão para as obras coreográficas. Djalma Moura do Núcleo Ajeum é artista da dança e performer. Pesquisa as cosmogonias africanas e afro-brasileiras em diálogo com a contemporaneidade. Formado em história é terapeuta corporal holístico, arte-educador, diretor, coreógrafo e bailarino do núcleo ajeum. Renan Martins | @renanmartinsworks É coreógrafo e performer brasileiro que reside entre o Porto e Heidelberg (Alemanha). Iniciou os estudos em dança aos 16 anos. Um ano depois entrou na SEAD (Salzburg Experimental Academy of Dance), Áustria. Em 2010 foi admitido na P.A.R.T.S., em Bruxelas, onde começou a desenvolver seu próprio trabalho enquanto coreógrafo. Em sua carreira trabalhou junto a coreógrafos e coreógrafas como Anne Teresa de Keersmaeker, Daniel Linehan e Meg Stuart. Ricard@ Alvarenga | www.ricardoalvarenga.com Artista do corpo e da imagem. É nativa do Triângulo Mineiro onde hoje atua como professora no curso de dança da Universidade Federal de Uberlândia. É graduada em biologia pela UFU e mestra pelo Programa de Pós-graduação em Dança da Universidade Federal da Bahia. Em seu percurso artístico-acadêmico, agencia questões e composições que perpassam saberes das artes e da filosofia, das práticas de sensorialidade e das políticas de insurgência que se levantam contra o projeto patriarcal hétero/cis/branco/ normativo. Seus trabalhos se realizam no trânsito entre dança contemporânea, performance, fotografia, vídeo e instalação. Nos últimos cinco anos, tem dirigido o Provisório Corpo Grupo de Dança, configurado como projeto contínuo de extensão do Curso de Dança da UFU.
The Covid-19 pandemic created a new setting for being in the world; how to create a collective physical world without us being together? In this table, artists used to group creations think about the social isolation impact on the collective body and artistic creation. Núcleo Ajeum | https://nucleoajeum.com/ Is made of artists that in their contemporary dances, search for African and Afro-Brazilian narratives. Created in 2014, it was initially known as Núcleo Djalma Moura, founder and director, and then the name that brings the concept of eating together to reflect the collective practice was chosen. The Núcleo is interested in bodily and emotional transformations that spaces of black celebration and resistance give to incorporations, trances, and that body that manifests there, in a connection for the choreographic work. Djalma Moura from the Núcleo Ajeum is a dance artist and performer. Researches African and Afro-Brazilian cosmogonies in dialogue with contemporaneity. Graduated in history, he is holistic body therapist, art educator, director, choreographer and dancer at Núcleo Ajeum. Renan Martins | @renanmartinsworks Is a Brazilian choreographer and performer that lives between Porto (Portugal) and Heidelberg (Germany). He started to study dance at the age of 16. One year later he joined SEAD (Salzburg Experimental Academy of Dance, Austria. In 2010 he was admitted at P.A.R.T.S., in Brussels, where he started to develop his own choreographic work. Throughout his career, he worked with choreographers, namely Anne Teresa de Keersmaeker, Daniel Linehan and Meg Stuart. Ricard@ Alvarenga | www.ricardoalvarenga.com Artist of body and image. She is a native of Triângulo Mineiro where she currently works as a professor in the Dance Course at the Federal University of Uberlândia (UFU). She holds a degree in Biology from the UFU and a master’s degree from the Postgraduate Program in Dance at the Federal University of Bahia. In her artistic-academic career, she addresses issues and compositions that permeate knowledge of the arts and philosophy, the sensory practices and insurgent politics that rise up against the normative white hetero-cis patriarchal project. Her works take place in the transit between contemporary dance, performance, photography, video and installation. For the last 5 years, she has been directing Provisório Corpo Grupo de Dança (Provisional Body Dance Group), configured as a continuous extension project of the Dance Course at UFU.
174
Sala de Encontro de Programadores [Programmers’ Meeting Room]
Livre [All ages] Espaço virtual de troca entre programadores, artistas, produtores e demais agentes da dança, que propõe debates sobre os desafios da dança e a promoção de festivais em meio à pandemia de covid-19.
A virtual space for exchange between programmers, artists, producers and other dance agents, which proposes debates about the challenges of dance and the promotion of festivals in the midst of Covid-19 pandemic.
Dia 4/10, segunda
October 4th, Monday
Conversa com Danilo Santos de Miranda (Diretor do Sesc São Paulo) e Helena Katz (PUC/SP). Mediação de Fabrício Floro (Sesc São Paulo).
Conversatio with Danilo Santos de Miranda (Director of Sesc São Paulo) and Helena Katz (PUC SP). Mediation by Fabrício Floro (Sesc SP).
Dia 6/10, quarta
October 6th, Wednesday
Conversa com Tiago Guedes (Festival DDD/Portugal), Cristina Leitão (Festival DDD/Portugal), Janaina Lobo (Junta Festival/ Brasil, PI). Mediação de Talita Rebizzi (Sesc São Paulo).
Conversation with Tiago Guedes (DDD Festival/ Portugal), Cristina Leitão (DDD Festival/Portugal), Janaina Lobo (Junta Festival/ Brazil, PI). Mediation by Talita Rebizzi (Sesc São Paulo).
Dia 7/10, quinta
October 7th, Thursday
Conversa com Alexandre Américo (Cia. Giradança/ Brasil, RN), Uýra Sodoma (Brasil, AM), Iris Raffetseder (Wiener Festwochen/Áustria). Mediação de Fabrício Floro (Sesc São Paulo) e Talita Rebizzi (Sesc São Paulo).
Conversation with Alexandre Américo (Cia. Giradança/ Brazil, RN), Uýra Sodoma (Brazil, AM), Iris Raffetseder (Wiener Festwochen/Austria). Mediation by Fabrício Floro (Sesc São Paulo) and Talita Rebizzi (Sesc São Paulo).
Dia 8/10, sexta
October 8th, Friday
Conversa com Vera Garat (FIDCU/Uruguai), Jaqueline Elesbão (Brasil/BA). Mediação de Christine Villa (Sesc São Paulo).
Conversation with Vera Garat (FIDCU/Uruguay), Jaqueline Elesbão (Brazil/BA). Mediation by Christine Villa (Sesc São Paulo).
175
Workshop [Workshop]
O Corpo como Lugar de Escuta [The Body as a Place of Listening] Portugal, Livre [All ages] Convidada [Guest]: Luísa Saraiva
Os participantes deste workshop irão explorar diferentes perspectivas do corpo enquanto instrumento sonoro e de ressonância. Especialmente num contexto on-line, a ideia é tomar a voz como ponto de partida e abordar diferentes modos de ouvir e escutar – entendendo a escuta enquanto processo ativo de conhecimento. Através de uma prática de movimento, vamos explorar os processos físicos envolvidos na criação e sustentação do som. Som que habita diferentes espaços do corpo e emana dos ossos e articulações, revelando as especificidades anatômicas especialmente da faringe, tórax, diafragma e músculos do piso pélvico.
These workshop participants will explore different perspectives of the body as a sound and resonance instrument. Especially within an online context, the idea is using the voice as the starting point and approaching different ways of hearing and listening – understanding the listening as an active process of knowledge. Through a movement practice, we will explore the physical processes involved in the creation and support of the sound. A sound that inhabits different body spaces and emanates from the bones and joints, revealing the anatomic specificities, especially from the pharynges, thorax, diaphragm, and muscles of the pelvic floor.
Luísa Saraiva | https://luisasaraiva.com Nasceu no Porto, é coreógrafa e intérprete. Estudou psicologia na Universidade do Porto e dança na Universidade de Artes Folkwang em Essen. Na sua prática coreográfica utiliza uma abordagem transdisciplinar da investigação do movimento, da linguagem e do som.
Luísa Saraiva | https://luisasaraiva.com Was born in Porto; she is a choreographer and interpreter. She studied psychology at Universidade do Porto and dance at Folkwang Arts University, in Essen. She uses a transdisciplinary approach of the movement, language, and audio investigation in her choreography practice.
176
5
177
Informações [Information]
178
179
+ Dança
+ Dance
Além de assistir aos trabalhos artísticos e de participar das ações formativas durante os dias da Bienal Sesc de Dança, públicos de todos os cantos também podem fruir e refletir sobre o universo da dança contemporânea no meio digital. Com entrevistas, reportagens, crônicas e críticas, o site da bienal busca expressar as vozes dos curadores, pensadores, artistas e diversos públicos que constroem o festival. Uma oportunidade de estender a experiência do evento e ouvir as histórias, conhecer os processos criativos e descobrir os encontros, as surpresas e as transformações que acontecem entre os espetáculos. Nesta edição on-line da Bienal Sesc de Dança, o site se coloca como um ponto de confluência de informações sobre todas as atividades, além de organizar os links diretos para as ações que acontecem nas redes do Sesc São Paulo, do Sesc Campinas e no Sesc Digital. Um espaço de informação, reflexão e fruição.
In addition to watching the artistic works and participating in the formative actions during the days of the Sesc Dance Biennale, audiences from all corners can also enjoy and reflect on the universe of contemporary dance in the digital media. With interviews, stories, chronicles, and criticisms, the Biennale website tries to express the voices of curators, thinkers, artists, and several audiences that make the festival. An opportunity to expand the experience of the event and listen to stories, get in touch with creative processes, and find out the encounters, surprises, and transformations that happen between the shows. In this online edition of the Sesc Dance Biennale, the website is an information confluence point about all the activities, also organizing the direct links to the actions that happen at Sesc São Paulo, Sesc Campinas, and Sesc Digital. A space of information, reflection, and enjoyment.
Acesse: bienaldedanca.sescsp.org.br e acompanhe todas as novidades e conteúdos exclusivos!
Go to: bienaldedanca.sescsp.org.br and check all the activities and exclusive content!
Compartilhe também suas experiências e registros nas redes sociais com a hashtag #BienaldeDanca2021.
Share your experiences on social networks with the hashtag #BienaldeDanca2021.
180
Sesc Digital
[Sesc Digital]
A presença digital do Sesc São Paulo vem sendo construída desde 1996, de forma sempre pautada pela distribuição diária de informações sobre programas, projetos e atividades da instituição. Lançada em 2020, a plataforma Sesc Digital dialoga com o propósito institucional de experimentar as possibilidades do meio on-line e expandir o alcance de suas iniciativas socioculturais, incluindo públicos que não têm contato com as ações presenciais oferecidas nas mais de 40 unidades operacionais espalhadas pelo estado. Em 2021, ano ainda marcado pelas restrições impostas pela covid-19, a plataforma Sesc Digital se torna um dos espaços de experimentação curatorial da Bienal de Dança e recebe uma parcela expressiva de sua programação, composta de espetáculos, filmes, podcasts, peças sonoras e mostras especiais. Dentre os destaques desta ocupação está a homenagem prestada a Ismael Ivo, coreógrafo e bailarino morto em abril, vítima da covid-19, cujas obras e espetáculos selecionados para exibição nesta bienal seguirão disponíveis ao público permanentemente para consulta.
Sesc São Paulo’s digital presence is being built since 1996, always guided by the daily distribution of information about the institution’s programs, projects, and activities. Sesc Digital platform, launched in 2020, talks with the institutional purpose of experimenting the online possibilities and expanding its socio-cultural initiatives’ reach, including audiences having no in-person contact with the actions offered by more than 40 operational units over the state. In 2021, a year still marked by the restrictions imposed by Covid-19, the Sesc Digital platform becomes one of the spaces for curatorial experimentation of the Dance Biennale, receiving an expressive part of its program made of shows, movies, podcasts, sound pieces, and special exhibitions. Among the highlights is the tribute to Ismael Ivo, choreographer and dancer who died in April from Covid-19, whose selected works and performances to be exhibited in this biennale will be available to the audience consultation.
Acesse: sesc.digital e acompanhe todas as novidades e conteúdos exclusivos!
Go to: sesc.digital check all the activities and exclusive content!
SescTV
[SescTV]
O SescTV é o canal cultural do Sesc, disponível 24 horas por dia, gratuitamente, na internet e em operadoras de TV por assinatura. O canal produz, licencia e exibe obras dedicadas à difusão artística e cultural. Composta de musicais, documentários e debates nas áreas de teatro, música, dança, literatura, cinema, artes visuais e arquitetura, a programação oferece acesso à fruição e à reflexão sobre manifestações culturais diversas. Além da programação ao vivo, o SescTV disponibiliza um acervo sob demanda com seus programas, séries e documentários, no site sesctv.org.br. O acesso ao conteúdo é gratuito e não precisa de cadastro para assistir.
SescTV is the Sesc São Paulo cultural TT channel, available 24 hours, for free, on the internet and cable TV. It produces, license and broadcasts work dedicated to spreading art and culture. Composed by musicals, documentaries, and debates on theatre, music, dance, literature, cinema, visual arts, and architecture, the programming offers access to the fruition and reflection on many cultural manifestations. Besides live shows, SescTV also makes available on-demand an archive of its shows, series, and documentaries at the website sesctv.org.br. The content is free, and it is not required to sign up to have access.
181
Sobre o Sesc
[About Sesc]
O Serviço Social do Comércio (Sesc) é uma instituição privada que tem como objetivo promover o bem-estar e a qualidade de vida das pessoas que trabalham nos setores do comércio, serviços, turismo, assim como da comunidade em geral. No estado de São Paulo são mais de 40 unidades, onde é possível praticar atividades esportivas, desenvolver hábitos para uma vida mais saudável, participar de excursões e passeios turísticos, adquirir novos conhecimentos e habilidades, frequentar teatros, cinemas, bibliotecas, salas de exposição e outros espaços culturais, além de desfrutar de momentos de lazer com a família e os amigos. São espaços e atividades pensados para propiciar convivência, reflexão e bem-estar.
Sesc – Social Service for Commerce is a private institution that aims to promote the well-being and quality of life of people working in the sectors of commerce, services, tourism, as well as the community in general. There are more than 40 units in the state of São Paulo, where it is possible to practice sports activities, develop habits for a healthier life, participate in excursions and tours, acquire new knowledge and skills, attend theaters, cinemas, libraries, exhibition halls and other cultural spaces, in addition to enjoying leisure time with family and friends. They are spaces and activities designed to promote coexistence, reflection and well-being.
Credencial Plena
[Full Credential]
Pessoas que trabalham com registro em carteira profissional, temporários, jovens aprendizes, estagiários, desempregados há até 24 meses e as pessoas que se aposentaram enquanto trabalhavam em empresas do ramo de comércio de bens, serviços e turismo podem fazer gratuitamente a Credencial Plena do Sesc e ter acesso a muitos benefícios!
People who work with professional registration, temporary workers, young apprentices, interns, unemployed for up to 24 months, and people who retired while working in companies in the trade of commerce, services and tourism, can take the Sesc Full Credential free of charge and have access to many benefits!
A Credencial Plena é o acesso para trabalhadores e dependentes ao uso dos serviços e programações nas unidades do Sesc. Sobre ela: · É gratuita · Tem validade de até dois anos · Pode ser utilizada nas unidades do Sesc em todo território nacional · Prioriza os acessos às atividades do Sesc · Oferece descontos nas atividades e serviços pagos Para fazer a Credencial Plena, acesse o app Credencial Sesc SP ou o site centralrelacionamento.sescsp.org.br para agendar atendimento e ir presencialmente em uma de nossas unidades. Mais informações sobre documentos necessários, dias e horários de atendimento, acesse: sescsp.org.br/credencialplena.
The Full Credential is access for workers and dependents to the use of services and schedules at Sesc Units. About her: · It’s free · Valid for up to two years · It can be used in Sesc units throughout the country · Prioritizes access to Sesc activities · Offers discounts on paid activities and services To take the Full Credential, access the “Credencial Sesc SP” app or the centralrelacionamento.sescsp.org.br website to schedule service and go in person at one of our Units. More information about necessary documents, days and hours of service, go to: sescsp.org.br/credencialplena.
Programação 02/out
03/out
04/out
05/out
Sábado
Domingo
Segunda
Terça
Mostras Especiais
On-line 24h Homenagem Lia Rodrigues | Cadernos de Criação
On-line 24h Homenagem Lia Rodrigues | Cadernos de Criação
On-line 24h Homenagem Lia Rodrigues | Cadernos de Criação
On-line 24h Homenagem Lia Rodrigues | Cadernos de Criação
Mostras Especiais
On-line 24h Homenagem Ismael Ivo
On-line 24h Homenagem Ismael Ivo
On-line 24h Homenagem Ismael Ivo
On-line 24h Homenagem Ismael Ivo
Mostras Especiais
On-line 24h Mostra Coreografias de Cabeceira
On-line 24h Mostra Coreografias de Cabeceira
On-line 24h Mostra Coreografias de Cabeceira
On-line 24h Mostra Coreografias de Cabeceira
Mostras Especiais
On-line 24h Mostra de Filmes Ó, Meu Corpo! Uma coleção de filmes incorporados
On-line 24h Mostra de Filmes Ó, Meu Corpo! Uma coleção de filmes incorporados
On-line 24h Mostra de Filmes Ó, Meu Corpo! Uma coleção de filmes incorporados
On-line 24h Mostra de Filmes Ó, Meu Corpo! Uma coleção de filmes incorporados
Mostras Especiais
On-line 24h Mostra de Videodança Danças para Todas as Telas
On-line 24h Mostra de Videodança Danças para Todas as Telas
On-line 24h Mostra de Videodança Danças para Todas as Telas
On-line 24h Mostra de Videodança Danças para Todas as Telas
Podcast Peça Sonora
On-line 24h Podcast Um Rádio na Paisagem
On-line 24h Peça Sonora Mover(-se): Sete Peças para Deslocar-se de Dentro pra Fora
On-line 24h CARDS Mover(-se): Sete Peças para Deslocar-se de Dentro pra Fora
On-line 24h Peça Sonora Mover(-se): Sete Peças para Deslocar-se de Dentro pra Fora
10h | Ciclo de Estudos Conversas Alafiadas
10h Ciclo de Estudos Conversas Alafiadas
Ações Formativas
Ações Formativas
12h | Aula Aberta Strike a Pose
Ações Formativas
Ações Formativas
14h | Workshop O Corpo como Lugar de Escuta
Espetáculos
15h | Exibição Para Crianças Bichos Soltos em Casa
Ações Formativas
16h | Aula Magistral Dança e Corporeidade
12h | Sala de Encontro de Programadores Danilo Santos de Miranda + Helena Katz
14h | Workshop O Corpo como Lugar de Escuta
16h | Mesa de Discussão Memórias Negras – Quando o Cinema Dança 17h30 | Conversa Lia Rodrigues
Ações Formativas
17h30 Mesa de Discussão Ismael Ivo: Frente e Verso
Espetáculos
19h | Ao Vivo Matéria Escura
19h | Estreia Ao Vivo Despacho Deferido
19h | Estreia Ao Vivo Conversa pra Boy Dormir
Espetáculos
21h | Exibição Multiple-S
21h | Exibição Darktraces
21h | Exibição NO HACER NADA pulverizar
Espetáculos
21h30 | Exibição 131 OUT
16h | Mesa de Discussão Viver Isolado, Pensar Coletivo
19h | Ao Vivo Yebo Musical 21h | Exibição Abismo
06/out
07/out
08/out
09/out
10/out
Quarta
Quinta
Sexta
Sábado
Domingo
On-line 24h Homenagem Lia Rodrigues | Cadernos de Criação
On-line 24h Homenagem Lia Rodrigues | Cadernos de Criação
On-line 24h Homenagem Lia Rodrigues | Cadernos de Criação
On-line 24h Homenagem Lia Rodrigues | Cadernos de Criação
On-line 24h Homenagem Lia Rodrigues | Cadernos de Criação
On-line 24h Homenagem Ismael Ivo
On-line 24h Homenagem Ismael Ivo
On-line 24h Homenagem Ismael Ivo
On-line 24h Homenagem Ismael Ivo
On-line 24h Homenagem Ismael Ivo
On-line 24h Mostra Coreografias de Cabeceira
On-line 24h Mostra Coreografias de Cabeceira
On-line 24h Mostra Coreografias de Cabeceira
On-line 24h Mostra Coreografias de Cabeceira
On-line 24h Mostra Coreografias de Cabeceira
On-line 24h Mostra de Filmes Ó, Meu Corpo! Uma coleção de filmes incorporados
On-line 24h Mostra de Filmes Ó, Meu Corpo! Uma coleção de filmes incorporados
On-line 24h Mostra de Filmes Ó, Meu Corpo! Uma coleção de filmes incorporados
On-line 24h Mostra de Filmes Ó, Meu Corpo! Uma coleção de filmes incorporados
On-line 24h Mostra de Filmes Ó, Meu Corpo! Uma coleção de filmes incorporados
On-line 24h Mostra de Videodança Danças para Todas as Telas
On-line 24h Mostra de Videodança Danças para Todas as Telas
On-line 24h Mostra de Videodança Danças para Todas as Telas
On-line 24h Mostra de Videodança Danças para Todas as Telas
On-line 24h Mostra de Videodança Danças para Todas as Telas
On-line 24h CARDS Mover(-se): Sete Peças para Deslocar-se de Dentro pra Fora
On-line 24h Peça Sonora Mover(-se): Sete Peças para Deslocar-se de Dentro pra Fora
On-line 24h CARDS Mover(-se): Sete Peças para Deslocar-se de Dentro pra Fora
On-line 24h Podcast Um Rádio na Paisagem
On-line 24h Peça Sonora Mover(-se): Sete Peças para Deslocar-se de Dentro pra Fora
10h | Ciclo de Estudos Conversas Alafiadas
10h | Ciclo de Estudos Conversas Alafiadas
10h | Laboratório Danças para Todas as Telas: Partilhas
10h | Laboratório Danças para Todas as Telas: Partilhas
10h | Laboratório Danças para Todas as Telas: Partilhas
12h Sala de Encontro de Programadores Alexandre Américo + Uýra Sodoma + Iris Raffetseder
12h | Sala de Encontro de Programadores Vera Garat + Jaqueline Elesbão
12h e 13h | Ateliê Para Crianças Entre Telas e Praças
11h | Aula Magistral Para uma Timeline a Haver 12h | Sala de Encontro de Programadores Tiago Guedes + Cristina Leitão + Janaina Lobo
15h | Exibição Para Crianças Buraco 16h | Mesa de Discussão Telas e Palcos
16h | Mesa de Discussão Arquivos e Processos
16h | Mesa de Discussão Deslocamento como Coreografia
19h | Estreia Ao Vivo Imalẹ̀ Inú Ìyágba
19h | Estreia Ao Vivo Na Fresta da Certeza, o Vermelho Escuro
19h | Ao Vivo Goldfish
21h | Exibição Viaduto
21h | Exibição N’oTro Corpo | Devotees
21h | Exibição Delirar o Racial
16h | Aula Magistral Música no Corpo, Corpo na Música
19h | Estreia Ao Vivo IKU
19h | Ao Vivo O que Mancha
21h | Exibição Taoca
21h | Exibição esse corpo tão impermanente...
21h30 | Ao Vivo Ponto de Encontro NoPorn
Sesc – SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO Administração Regional no Estado de São Paulo [Regional Administration of São Paulo State]
Presidente do Conselho Regional [Chairman of The Regional board] Abram Szajman Diretor Do Departamento Regional [Regional Department Director] Danilo Santos de Miranda
Superintendentes [Assistant Directors] Técnico-social [Social Technician] Joel Naimayer Padula Comunicação Social [Social Communication] Ivan Giannini Administração [Administration] Luiz Deoclécio Massaro Galina Assessoria Técnica e de Planejamento [Technical and Planning Advisory] Sérgio José Battistelli Gerentes [Managers] Ação Cultural [Cultural Action] Rosana Paulo da Cunha Estudos e Desenvolvimento [Studies and Development] Marta Raquel Colabone Artes Gráficas [Graphic Design] Hélcio Magalhães Atendimento e Relacionamento com Públicos [Public Relations] Milton Soares de Souza Centro de Produção Audiovisual [Audiovisual Production Center] Silvana Morales Nunes Desenvolvimento de Produtos [Products Development] Évelim Moraes Difusão e Promoção [Publicity and Promotion] Marcos Ribeiro de Carvalho Sesc Digital Fernando Amodeo Tuacek Desenvolvimento de Pessoas [People Development] Cecília Camargo Maman Pasteur Tecnologia da Informação [Technology and Computing] Elias Cesco Assessoria Jurídica [Legal Advisor] Carla Bertucci Barbieri Assessoria de Relações Internacionais [International Affairs] Áurea Leszczynski Vieira Gonçalves Assessoria de Imprensa [Press Relations] Ana Lúcia de La Vega Unidades [Units] Campinas Hideki Yoshimoto, Consolação Mariangela Abbatepaulo Guarulhos Oswaldo Almeida Junior Pompeia Mônica Carnieto Vila Mariana Erika Mourão T. Dutra 24 de Maio Paulo Sérgio Casale Bienal Sesc de Dança 2021 Coordenação Geral [General Coordination] Hideki Yoshimoto Coordenação Executiva [Executive Coordination] Christine Villa dos Santos, Fabricio Floro e Talita Rebizzi Curadoria [Curatorship] Ana Dias, Christine Villa dos Santos, Fabiano Maranhão, Fabricio Floro, Felipe Diniz, Maite N. Lacerda Soares, Maurício Ricci, Marcos Villas Boas, Natalia Martins, Natalia Nolli, Priscila Sayuri O. Fukuda, Rani Bacil Fuzetto, Talita Rebizzi, Tatiana Busto Garcia e Thiago Aoki
Equipe [team] Alcimar Frazão, Alexandre Porto, Aline Ribenboim, Ana Carolina Rios Gomes, Ana Dias, André Queiroz, Andreia Dorta, Ariane Magalhães Campos, Camila Machado, Carlos Rodolpho T. Cabral, Carolina Reis Silveira, Cássio Quitério, Célia Cassiano, Cristiane de Freitas Gil, Cristiane Komesu, Cynthia Petnys, Daniel Tonus, Denise Andrade Ventura, Erica Georgino, Fabiana de Paula, Fernanda Borges, Fernando Almeida Bisan, Fernando Hugo da Cruz Fialho, Filipe Augusto de Miranda, Flavia Lopes Marques, Francisco Santinho, Frederico Zarnauskas, Gabriela Borsoi, Gabriella Rancan, Heloisa Pisani, João Paulo Leite Guadanucci, Johnny Queiroz Abila, José Eduardo Ruiz, José Gonçalves Junior, Juliana Ramos, Julio Pompeu, Julieta dos Reis Machado, Leonardo Nicoletti, Karina C. L. Musumeci, Kelly Adriano de Oliveira, Mara Rita Oriolo de Almeida, Marcio Rogerio Rocha, Marcos Henrique da Silva, Marina Gomes, Naianne L. Araújo Conceição, Nóbrega Arimateia Salles, Patricia Dini, Patrícia Piazzo, Patricia Piquera Vianna, Priscila Sayuri Fukuda, Renato Perez, Renato Shigueru Yoshinaga, Ricardo Tacioli, Rogerio Ianelli, Sara Centofante, Sérgio Pinto, Sérgio Segal, Suamit Marques Barreiro, Tatiana Fukuhara Borges, Thiago Freire, Tiago Marchesano, Valéria Taveiros, Valquiria Pinheiro, Vânia Rangel e Willians Mota Foto e video [Photo & video] Lara Dias Produção de texto [Writing Process] Valmir Santos e Graziela Delalibera Revisão de texto [Proofreading] Samantha Arana Tradução [Translation] Afonso Dal Bó Assessoria de imprensa [Press Office] Adriana Balsanelli e Renato Fernandes Transmissão [Broadcasting] Wellington Medeiros Barbezan Editoria Web [Web publishing] Maria Luisa Barsanelli Diagramação de anúncios [AD LAYOUT] Aline Soares e Ricardo Mendes PROJETO GRÁFICO DO CATÁLOGO [CATALOG GRAPHIC DESIGN] Cláudia Gil Bailarinos [Dancers] Diogo Granato, Douglas Iesus, Eliana Santana, Estela Lapponi, Luís Arrieta, Rosângela Silva Tradutores [Translators] Antonella Cordio, Cecilia Frei, Cristiano Borges, Georgia Rodriguez Turano, Leslie Benzakein, Maria Aparecida Vieira, Mariane Comparato e Sandra de Angeli Intérpretes de libras [Libras (Brazilian Sign Language) Interpreter] Crislaine Silva, Elder Chagas e Flávia Chagas
B4767 Bienal Sesc de Dança, 2021 / Serviço Social do Comércio. – São Paulo: Sesc São Paulo, 2021. – 219 p. il.: fotografias. Bilíngue (português/inglês). Sesc Campinas: 2 a 10 de outubro, 9 dias, 8 países. ISBN 978-65-89239-08-6. 1. Dança. 2. Dança contemporânea. 3. Bienal Sesc de Dança. 4. Bienal Sesc de Dança, 2021. 5. Pandemia do Coronavírus (Covid-19). 6. Confinameto social. 7. Desconfinamento. I. Título. II. Serviço Social do Comércio. III. Sesc. IV. Sesc Campinas. CDD 792
6
7
9 786589 239086
Sesc Campinas Rua Dom José I, 270/333, Bonfim 13070-741 . Campinas, SP tel [55] 19 3737 1500 bienaldedanca.sescsp.org.br