Catálogo - Circuito Sesc de Artes 2014

Page 1


CrĂŠdito: Ricardo Ferreira

1


PRESENÇA AMPLIADA Abram Szajman

5

ROTEIRO 4

A EXEMPLO DAS BORBOLETAS Danilo Santo de Miranda

6

Expedições Espetáculos

68 70 78

ROTEIRO 5

84 86 94

QUANDO O RISCO É FICAR ENCANTADO Ligia Moreli

10

Expedições Espetáculos

CORETO DO SÉCULO 21 Valmir Santos

12

ROTEIRO 6

CONVÍVIO E AFETO TRANSFORMADORES Pedro Luis

14

Expedições Espetáculos

102 108

ROTEIRO 7

114

O EXERCÍCIO DEMOCRÁTICO DA ARTE NO ESPAÇO PÚBLICO Tom Lisboa

17

Expedições Espetáculos

116 120

O RETORNO DO CORPO À PRAÇA Vanilton Lakka

21

ROTEIRO 8

POLÍTICAS E CIRCULAÇÕES CULTURAIS Antonio Albino Canelas Rubin

22

Expedições Espetáculos

PARTITURA HERMETO PASCOAL

24

EXPEDIÇÕES: OUTRAS CARTOGRAFIAS

26

Expedições Espetáculos

O INTERIOR É FORA DA GENTE: SINGULARIDADES DO OUTRO Francele Cocco

28

ROTEIRO 10

ROTEIRO 1

32

Expedições Espetáculos

34 40

ROTEIRO 2 Expedições Espetáculos

Expedições Espetáculos

46 48 52

ROTEIRO 3

58

Expedições Espetáculos

60 62

2

ROTEIRO 9

ROTEIRO 11 Expedições Espetáculos

ROTEIRO 12

100

126 128 132

138 140 146

152 154 160

166 168 180

188

Expedições Espetáculos

190 198

Versão em Inglês

204

Ficha técnica Sesc

224 3


PRESENÇA AMPLIADA Abram Szajman, Presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo e dos conselhos regionais do Sesc e do Senac.

A atividade comercial e a prestação de serviços estão, em maior ou menor grau, presentes em todos os municípios do estado de São Paulo. É o resultado incontestável do trabalho empreendedor dos empresários desses setores da economia em prol do crescimento e desenvolvimento de toda a sociedade. Disposição semelhante se observa na distribuição e alcance das ações socioculturais e educativas das entidades fomentadas por esses mantenedores, seja por meio de uma crescente presença física, seja pela utilização de recursos tecnológicos, como as mídias sociais e a televisão, para levar adiante suas bandeiras. Um compromisso semelhante tem sido perseguido e reafirmado com o Circuito Sesc de Artes. Seu objetivo é estimular a circulação de ideias e manifestações artísticas para um número ampliado de pessoas, especialmente nas cidades onde 4

não há um equipamento instalado do Sesc. Nesse sentido, é estratégico o movimento de descentralização regional, priorizando a presença em comunidades que, porventura, ainda não tiveram oportunidade de se deparar com ações dessa natureza. Em 2014, o Circuito apresentou atividades em 102 cidades, contando com a participação de 370 artistas. Gratuita, a programação ocorreu em praças, parques, teatros, espaços de sindicatos e outros lugares públicos. Desse modo, o empresariado do comércio de bens, serviços e turismo busca ampliar a oferta de bens culturais no estado, adaptando um princípio da atividade comercial – a presença itinerante em locais públicos – para se aproximar do seu público prioritário e participar da transformação da qualidade de vida das pessoas por meio do contato com as manifestações artísticas. 5


A EXEMPLO DAS BORBOLETAS Danilo Santos de Miranda, Diretor regional do Sesc São Paulo

Todas as espécies são igualmente valiosas para o sentido de preservação da natureza. Para que se mantenha o equilíbrio natural, uma série de agentes desempenha seu papel em sintonia com os demais, já que coexistimos todos e somos interdependentes. Para ilustrar essa tese, podemos pensar no ciclo das plantas. Entre tantos fatores relevantes, dois se destacam como essenciais para o equilíbrio da flora: o vento e os insetos, que ajudam na distribuição das sementes e, consequentemente, na sobrevivência de inúmeras espécies. Dentre os insetos, observemos as borboletas. Para muitos, as borboletas são consideradas irrelevantes e pouco funcionais, a despeito de sua beleza estética. Tomemos de empréstimo seu ciclo anual de vida, no qual sofrem uma transformação radical: de ovo a lagarta, depositada em um casulo; depois, experimentam a liberdade migratória das asas de uma borboleta, que cumpre a 6

função efêmera de levar e combinar polens e sementes de diferentes espécies em um voo aparentemente aleatório. Talvez por acaso surjam híbridos; contudo, para a natureza, cumpre-se um propósito de preservação e equilíbrio para o planeta. No âmbito sociocultural, por vezes, a imitação das borboletas se faz necessária. Seja porque existe algum desequilíbrio na distribuição das possibilidades socioculturais, seja porque parece saudável que novas combinações e cruzamentos aconteçam para que outras visões possam se fortalecer e permanecer. Deve haver quem conteste a relevância da apreciação estética, do contato com o belo, o singular e o diverso no mundo contemporâneo, porque a maioria dos valores hegemônicos é de ordem econômica, vinculados ao consumismo e ao utilitarismo das coisas e das espécies. Nesse sentido, a proposta do Circuito Sesc de Artes se concentra nessa polinização,

nessa interconexão, nesse arejamento no contato com o diverso que as expressões artísticas estimulam e provocam. Uma forma, também, de incentivo a uma produção autêntica dos lugares por onde acontece. A despeito da efemeridade dessa presença, sobressai a capacidade de gerar sentidos e subjetividades criativas que ocupam lugar deflagrador de permanências. Num consistente propósito com sua missão, o Serviço Social do Comércio mantém a firme convicção da necessidade de frequentes revoadas de borboletas por meio de um comprometido envolvimento com a difusão, num intuito de abrir os caminhos dos que circulam e as percepções daqueles que, num sentido abrangente e positivo da hospedagem, os recebem. Uma ação descentralizadora que acompanha a história da instituição, desde sua fundação, numa tentativa de interferir no aprimoramento das dinâmicas socioculturais e na ampliação da cidadania. 7


CrĂŠdito: Marco Flavio

8 9


QUANDO O RISCO É FICAR ENCANTADO “Quanto menos acostumados com minha música, melhor.” Foi com esse espírito que Hermeto Pascoal partiu para uma turnê diferente. Acostumado a frequentar grandes palcos mundo afora, levando a sua “música universal”, dessa vez o “bruxo” tocaria para o público das praças. Um público que tem, sim, músicos e aficionados, daqueles que sabem diferenciar os compassos e os tons, e também ouvidos menos iniciados, porém curiosos. Gente de todas as idades, famílias, crianças, bancários, comerciários, profissionais liberais, donas de casa, gente de cidades do interior do estado de São Paulo que parou um pouquinho para, mais que ouvir, sentir e ver, encantar-se, sair da rotina, abrir os sentidos para o diferente. Reflexos do Circuito Sesc de Artes chegando ao interior, como vem acontecendo há alguns anos nas cidades em que o Sesc não possui unidades instaladas. Hermeto era uma das atrações de um dos 12 roteiros de programação que riscaram 102 cidades do interior do estado. Outros mais de 350 artistas estavam a postos para entrar em cena e arriscar-se, dar-se a públicos e lugares diferentes, localidades de 5 mil a 500 mil habitantes. Os 12 roteiros na verdade funcionaram como 12 grandes espetáculos com seus atos variados: circo, literatura, dança, teatro, cinema, artes visuais, artemídia e música, entre outros. Havia um plano. Havia marcações de cena, uma ordem de repertório. Algumas gags já ensaiadas. Mas conforme os dias se passaram, uma verdadeira contaminação criativa se fez: dança com música, música com circo, circo com teatro, com performance, com literatura, com cinema.

10

Tudo misturado. Em cima do palco, por todos os cantos das praças, dentro dos ônibus que levavam as caravanas de artistas de um lugar a outro. Daí nasceu espetáculo novo, música nova. Hermeto fez uma composição para cada lugar por onde passou. Escreveu as partituras improvisando em pratos, bandejas. Tirou som de tudo o que viu e sentiu, como é de seu feitio. Deu música de presente para as cidades. Houve gente que se fantasiasse de Frida Kahlo. Homem, mulher, criança, bebê de colo. Famílias de Frida. Houve gente que arriscasse uns solos de dança contemporânea, mesmo sem saber do que se tratava. Gente de cidade que nem tem sala de cinema dirigiu um grupo de atores-bailarinos em um set de filmagem configurado em plena praça. Um espetáculo de teatro aconteceu dentro de um ônibus escolar e um trailer se transformou numa tela de projeção. Houve quem fosse à praça ouvir rap – muita gente! Emicida juntou 8 mil pessoas em Limeira! Houve quem matasse saudades do Pink Floyd, com o Cidadão Instigado, ou dos Secos & Molhados, com a Karina Buhr. Teve até quem trocasse um causo por um conto. Outros preferiram ficar escondidinhos num banco de praça, observando tudo de longe. Alguns não tiveram tempo para assistir ao espetáculo todo, mas pararam por alguns segundos para ver os balões da Intervenção de Outono ganharem o céu. Ou espremeram-se para espiar, por um buraco de fechadura, cenas do primeiro cinema em que algumas crianças foram apresentadas ao “assustador” King Kong. As figuras típicas da praça também compareceram: o cachorro, o bêbado, o pipoqueiro. E tudo foi sendo incorporado.

O público aderiu, virou contrarregra, assistente. Torceu para a chuva parar em São Sebastião a fim de que pudessem terminar de assistir ao espetáculo Júlia. Afinal, foram só 15 minutos, e o que viria depois? Um teatro de bufão, duas figuras sujas e maltrapilhas atuando num cenário ambulante repleto de cacarecos. O texto não só flertava como namorava mesmo com o politicamente incorreto. E o público mostrou-se absorto, encantado. Do velho ao grupo de adolescentes, passando pelo bebezinho que, na praça de Carapicuíba, insistia em se soltar da mãe e engatinhar no meio da cena. Quando choveu em Caraguatatuba, o público gritava “Júlia!! Júlia!!”, apinhado embaixo de marquises. Alguns se arriscaram debaixo d´água para ajudar os atores a recolher os objetos cênicos.

Do lado de cá, mais do que levar arte e cultura, a busca foi por disseminar novas possibilidades de encantamento, de escuta, de pensamento, de sentido e, por que não, também trazer um pouco disso tudo conosco no plano das subjetividades cotidianas. O slogan “Conectando lugares, circulando ideias” dava conta das ambições do Circuito Sesc de Artes 2014. Mas, como não temos controle absoluto sobre tudo, as conexões foram muito além. Entrelaçaram-se pessoas, emoções, memórias e lugares.

É claro que uma verdadeira maratona como é o Circuito requer muito trabalho, infraestrutura e planejamento. Mas a marca maior dessa empreitada é o risco. O desafio maior de todos que já participaram e participam do projeto – da equipe técnica do Sesc aos artistas, de quem afina a luz a quem serve o sanduíche do camarim – é sempre abraçar o risco, dar-se com generosidade a ele. Alguns riscos são calculados, mas outros totalmente impensados. Graças aos sopros artísticos! Afinal, quem diria que de um projeto de circulação desdobrariam tantas novas parcerias, selariam tantos novos amigos, resultariam tantos bons rastros como uma música de Hermeto Pascoal feita especialmente para uma cidade?

Lígia Moreli é assistente técnica da Gerência de Ação Cultural e coordenadora da edição 2014 do Circuito Sesc de Artes. 11


CORETO DO SÉCULO 21 “Toda forma é um rosto que nos olha.” Sege Daney (1944-1992), crítico de cinema francês

A cidade não se deixa apreender de uma só vez e num primeiro olhar. Ela ora se esquiva, ora seduz. Entrementes, nos sussurros dos bancos da praça da igreja matriz, nos contornos do coreto, nos murmúrios do parque ou nos arredores de uma estação ferroviária desativada, para citar algumas paisagens, é por meio delas que o visitante pode entrever a fisionomia do lugar e de sua gente. O footing de outrora e o skate da vez foram emendados pela dúzia de roteiros do Circuito Sesc de Artes espraiados por municípios da Grande São Paulo e do interior paulista entre 25 de abril e 11 de maio de 2014. Uma pletora de expressões, temas e linguagens estimulou subjetividades e alteridades em cada uma das 102 paradas. O que está em jogo nessa caravana é a estética relacional advinda da fricção dos campos da arte (como território de liberdade e risco) e da cultura (fluxo organizado por instituições públicas ou privadas dispostas a fomentar a invenção artística ou pelo menos não atravancá-la).

caixa artesanal que homenageia os antigos fotógrafos lambe-lambe. Sem contar as ações enamoradas da arte contemporânea, como as performances, as intervenções urbanas e aquelas modalidades que manejam dispositivos tecnológicos e realinham novas sensações. Quando o estudante Wedsley, de 7 anos, saiu de casa com a família e rumou para o parque municipal Novo Anilinas, em Cubatão, jamais esperava findar a tarde como um desenvolto narrador de histórias em sua participação na apresentação de Conte a Sua, espetáculo da Cia. Ju Cata-Histórias (SP), no primeiro domingo de maio. Em determinado momento a trupe abre espaço para os espectadores contarem uma história conhecida ou simplesmente inventada. Aninhado em torno da lona colorida, Wedsley ergueu a mão, caminhou ao centro, postou-se ao lado dos artistas e deitou a falar sobre o dia em que o lobisomem escondeu-se embaixo de sua cama, conquistando no gogó a atenção do público e o orgulho do pai, o serralheiro Vanderlei Almeida.

Durante três finais de semana pelo menos uma das cidades desse percurso de fôlego teve uma sexta-feira, um sábado ou um domingo devidamente atravessados por atividades que transformaram o cotidiano da região central dessas localidades.

Em São Vicente, conforme relato da fotógrafa Claudia Mifano, esse momento de interação de Conte a Sua foi catalisado por moradores de rua. Eles deixaram a imaginação voar longe e contribuíram com relevância para a proposta da companhia que parte do acaso do jogo de amarelinhas para envolver o interlocutor com motes variados, não importa a idade.

Idosos, adultos, adolescentes ou crianças circunscreveram a roda e se viram mobilizados por números circenses, pela deixa dos comediantes do teatro de rua, pelo encantamento dos narradores de história, pelo embalo das músicas de cantores e instrumentistas dos mais variados ritmos, pelo inusitado das projeções audiovisuais ao ar livre ou mimetizadas pelo buraco de uma

Uma das evidências da passagem do Circuito pela cidade é corroborar por algumas horas a plataforma de uma comunidade artística e cultural provisória. Abrindo janelas ao público diante de múltiplas manifestações e ao mesmo tempo propiciando o ato de viver juntos, de co-habitar aquele instante e aquele lugar com os sentidos livres.

12

Nas chamadas cidades-dormitório, onde o trabalhador mora, mas passa o dia noutro município exercendo alguma atividade, é desafiante cativar a população para um dia de imersão artística como o aqui proposto. Em Tremembé, região do Vale do Paraíba, a secretária de Cultura, Turismo e Esportes Marcela Pereira Tupinambá enfrenta esse tipo de resistência. Foi a segunda adesão da prefeitura ao Circuito. “No ano anterior tinha menos gente ainda”, reconhece Marcela, estimando em cerca de 500 pessoas as que em 2014 gravitaram em torno das sete propostas artísticas realizadas na antiga estação ferroviária Doutor Paulo de Frontin, cuja fachada preservada dá um tom arquitetônico especial ao encontro. O roteiro 11 levou a Tremembé, entre outros, o monólogo de Celso Frateschi, Horácio, drama do alemão Heiner Müller que o ator representa há 25 anos e assim o fez num tablado sob uma árvore frondosa. Uma atuação apoiada na clareza do texto enunciado para desvelar as máscaras assassina ou heróica do personagem-título. A noite foi encerrada com a intervenção musical do bloco afro Ilú Obá De Min (SP), cujo canto e percussão femininos aludem à preservação de patrimônio imaterial e evocam a beleza das culturas tradicionais, como nos versos da cançãotítulo composta por Sossô Parma: “Ilú Obá as mulheres que tocam tambores / Ilú Obá salve a força da soma das cores”. As formações do olhar e da escuta orientam a prática e o pensamento do Sesc, afirma o coordenador do roteiro 7, William Vilar, responsável pelo núcleo de parcerias e ações externas da unidade de Sorocaba. E isso

independe das perspectivas popular ou erudita de cada programação. “Educar no sentido não formal e por meio do acesso à cultura e à arte”, sintetiza. Nessa ótica, a vivência do estudante Francisco, de 7 anos, pelo roteiro igualmente 7 simboliza à perfeição como as estratégias do Circuito Sesc de Artes podem ser singulares ao sensibilizarem o ser diante da vida. Sua família chegou a São Roque no meio da tarde, vinda do bairro do Butantã, zona oeste paulistana. Ao lado da mãe Maria Aparecida, professora, e do pai José de Souza Sobrinho, técnico de laboratório, o menino se permitiu o rito de maquilagem e adereços para posar diante das lentes da fotógrafa Camila Fontenele de Miranda, que concebeu a intervenção em artes visuais Todos Podem Ser Frida, alusão à pintora mexicana Frida Kahlo (1907-1954). E lá estavam, no rosto de Francisco, as “sobrancelhas” espessas e o “bigode” de Frida sublinhando a condição de albino, ausência total ou parcial da pigmentação da pele. Mas o rito mais singular dele foi sentar-se, horas depois, na primeira fila do show a céu aberto do também albino Hermeto Pascoal. Francisco costuma seguir os passos percussivos do “bruxo” dos sons alagoano. Foi assim há cerca de dois anos, quando visitou o seu camarim numa apresentação em São Paulo. Não por acaso, o empenhado deslocamento da capital até o interior denota o vínculo afetivo entre a criança e o cantor, compositor e instrumentista de 77 anos. São os laços possíveis, universais e vitais que a arte pode propiciar a cada cidadão, pondera o Circuito Sesc de Artes a cada edição.

Valmir Santos é jornalista, pesquisador e crítico teatral. Coordenador do site Teatrojornal – Leituras de Cena (teatrojornal.com.br) 13


CONVÍVIO E AFETO TRANSFORMADORES Não é de hoje que as ações do Sesc São Paulo encantam meu olhar, despertam meus desejos e acolhem meus delírios artísticos. Seja em configurações coletivas ou incursões solitárias, seja por mim propostas ou por ele, Sesc. Ou ainda outrem que teve o privilégio de ver suas intenções criativas convertidas em projetos ali incorporados. É objeto de desejo de um sem número de artistas reconhecidos ter essa casa e suas unidades como parceiros. Já tendo experimentado algumas dessas possibilidades supracitadas, neste ano me deparei com um formato para mim ainda inédito, o Circuito Sesc de Artes. Cinco trupes embarcavam em um ônibus e durante três semanas percorriam nove cidades, três a cada semana, onde se ocupava uma praça pública com estruturas que comportassem cada espetáculo proposto por uma dessas trupes. Pode isso dar certo? Digo agora com toda certeza: sim. E mais: pode ser ótimo. Durante cerca de 20 dias muita coisa aconteceu, desde uma acomodação inicial de possibilidades, entendimento de limites, observação do outro, respeito, exercício tanto da generosidade quanto do desapego e muito prazer de ver sendo construída uma história repleta de individualidades que desembocavam num coletivo. Este com certeza fundou encontros, inaugurou empatias, forjou “definitividades“, teceu afetos e marcou definitivamente a todos nós, artistas, técnicos, produtores e representantes dos Sesc. E ainda – aí eu imagino e torço – as audiências de cada território conquistado. Sim, porque há ingredientes de batalha, não daquelas sangrentas, em empreender desse tamanho e nesse formato. 14

Um mérito e um risco do projeto. Sobrevivemos e crescemos; emocionamo-nos e com certeza emocionamos. A semeadura é certa; por todos aqueles “alis “ deixamos rastros e possibilidades e colhemos as mais diversas receptividades: isso é bom, isso nos faz fortes e alimentados. Falei até agora do Roteiro 1, do qual fiz parte e, portanto, posso falar com conhecimento de causa. Mas fazendo uma conta rápida, considerando que éramos cerca de 30 e os roteiros em número de 12, e sem incluir na minha conta pessoal estrutura e logística, temos aí pouco mais de três centenas de pessoas com experiências que devem ter no mínimo um ingrediente de interseção. Isso multiplica a riqueza do acontecimento, creio que talvez potencialize numa escala exponencial. Atenho-me de novo a nossa experiência para discorrer sobre reencontros e estreias. Saber que encontraria Helder Vasconcelos, parceiro de longa data e de partilha de palcos entre seu Mestre Ambrósio e nosso Pedro Luís e A Parede, desta vez com o projeto Boi Marinho e seu espetáculo Na Pisada do Carnaval, já foi pra mim motivo de alegria antecipada. Tinha certeza de que dali viria inspiração; mas veio mais! Veio ouro e generosidade; deu-se a primeira interação, eu invadindo sua pisada e eles tomando o palco de meu projeto solo, onde havia um minimalismo proposto, onde só eu e Paulino Dias, com suas incríveis percussões, tratávamos de vestir uma série de canções minhas com uma intervenção que unia graça e vigor da minha parceira Bruna Caram, cantora e compositora já queridíssima.

Mas nosso bis se tornou uma avalanche de energia musical e lúdica, e de reciprocidade, e de aprendizados e ensinamentos. Uns começaram a invadir os espetáculos dos outros. E como meu show terminava a programação de nosso roteiro em cada localidade, não deu outra: todos vieram parar no palco, para minha alegria e para a de quem viu, desembocando num gran finale. Cine Olho, que com delicadeza encantou o público das cidades em que passamos com imagens clássicas do cinema, através de três olhos mágicos plantados em cada praça. Os já citados Helder Vasconcelos e o Boi Marinho que traziam vigor, encantamento e musicalidade pernambucanos, mas com olhos voltados para o mundo. A Famiglia Milan e o Gran Circo Guaraná com Rolha, do Circo Nosostros e sua belíssima coleção de possibilidades circenses tão vigorosas como líricas. O palhaço Teotônio de Ricardo Puccetti, do Lume Teatro, com sua ousada e emocionante La Scarpetta, tirando o público para uma contradança participativa que me surpreendeu e tirou o fôlego! Sim, sim: sou mais feliz depois dessa breve e intensa convivência. Eles me melhoraram e sou grato. Essa é a minha história desse Circuito. Quem quiser que conte outra. E que as há, com certeza as há.

Pedro Luís é poeta, cantor e compositor; fundador do grupo Pedro Luís e A Parede e um dos fundadores do Monobloco. 15


O EXERCÍCIO DEMOCRÁTICO DA ARTE NO ESPAÇO PÚBLICO

Crédito: Ricardo Ferreira

“Vou viajar, vou trabalhar, tô indo já, contigo no meu coração e dentro da minha cabeça”... Em 2014, em todas as praças das cidades visitadas pelo Roteiro 8, do Circuito Sesc de Artes, a música Vou Viajar, de Martinho da Vila, ecoava repetidamente durante a passagem de som. Era um prenúncio de que as coisas ainda não estavam prontas: o palco estava em processo de montagem, os camarins sendo preparados, os figurinos passados e, claro, o som precisando de vários ajustes. No entanto, para além das questões técnicas, essa letra que fala de despedida, com uma melodia que quase sempre nos fazia dançar, sintetizava um estado de espírito. Provenientes da capital paulista, Curitiba, Porto Alegre, Rio de Janeiro e Salvador, esses artistas desterritorializados tinham como desafio recriar suas poéticas nas praças do interior de São Paulo.

16

Do grupo de 2014, eu era o único que havia participado do Circuito. Como artista visual, em 2011, eu circulei no Roteiro 6 com a intervenção urbana polaroides (in)visíveis. Agora, eu havia sido convidado para refazer a Intervenção de Outono, um trabalho em que folhas secas recolhidas das ruas eram amarradas em balões a gás e ganhavam o céu, percorrendo o caminho contrário estipulado pela natureza. Como garrafas jogadas ao mar, cada uma das folhas levadas pelo vento tinha uma mensagem escrita: “É no outono que as folhas se despem de seus sonhos”. Nessa viagem aérea, de destino incerto, na estação que decreta o ocaso da exuberância, a busca por uma possibilidade (mesmo que remota) de diálogo com um espectador longínquo renovava a esperança por um recomeço.

De certo modo, meu trabalho com intervenções urbanas no Circuito Sesc sempre foi uma experiência que acontecia em paralelo a outra intervenção. Antes de qualquer artista entrar em cena, uma praça que servia de local de passagem e descanso dos transeuntes era convertida no centro convergente daquela comunidade. Fiações redistribuíam as luzes, barracas alteravam a circulação das pessoas e a edificação do palco anunciava que algo diferente estava para acontecer. Uma transformação que, quando estava finalizada, me lembrava muito a tentativa de recriar outra intervenção urbanística: a ágora. A ágora era a praça principal na constituição da pólis, a cidade grega da Antiguidade clássica, e onde aconteciam as transações comerciais e as discussões sobre a vida da cidade. Fundamental para o exercício da cidadania e do espírito democrático, aquele era o espaço público por excelência da vida cultural e política dos gregos. No contexto das artes visuais, as “ágoras” do Sesc vêm disseminando junto ao público um recorte curatorial que privilegia o que se convencionou chamar de arte contemporânea, um “movimento” cujo marco histórico é o período pós-Segunda Guerra Mundial. Além de uma mudança estética em relação ao Modernismo, um dos principais impactos recaiu sobre o deslocamento da arte. A tradicionalidade dos museus e galerias foi complementada pelo marginal, pelo fora do convencional, pela ocupação de parques, ruas, praças e inúmeras outras possibilidades espaciais onde os pólos emissor e receptor se fundiam, criando um novo tipo de interatividade. Realizada a céu aberto, a Intervenção de Outono subverte a ideia de arte concentrada em objetos finalizados e chama atenção para o processo, 17


para os fluxos, para os aspectos vivenciais e para os encontros envolvidos nos próprios espaços em que se dão essas práticas. No entanto, para além dos deslocamentos artísticos entre as esferas pública e privada, cada praça era também um templo, uma espécie de teatro invisível, sem paredes. Eliminadas as barreiras físicas, era inevitável a aproximação das mais diferentes linguagens. Com o passar dos dias e após horas de observação mútua, as modalidades circo, literatura, artemídia, música, dança, teatro e artes visuais começavam a exercitar uma busca por possíveis diálogos. Desse encontro, eu vi, por exemplo, a Intervenção de Outono servir de cenário para a coreografia do Piquenique Urbano, de João Saldanha; os dançarinos da companhia Discípulos do Ritmo se apresentarem no show de André Abujamra; o Grupo Matula de Teatro ensaiar uma participação especial no espetáculo musical/circense Poemas Esparadrápicos, dos Doutores da Alegria; e o manipulador de bonecos Virgílio Zago colocar sua dançarina do ventre para remexer ao som baiano de Mariene de Castro. Esse tipo de integração sempre foi tão espontânea quanto bem-vinda e dava a cada integrante a sensação de, apesar das diferenças, estarmos trabalhando em um estado de cooperação mútua. Por fim, a grande força-motriz do Circuito Sesc, e acredito que nesse quesito posso falar por todos os participantes, era o momento de encontrar o público. Não satisfeitos com a mera contemplação

dos espetáculos, a praça proporcionava um ambiente quase familiar que reunia o público com os artistas. Como se estivesse em uma sala de visitas, eu era interpelado diariamente por várias questões: “O que você está fazendo?”; “O que isso significa?”; “De onde você é?”. De todas elas, uma pergunta tocou-me de modo especial: “Você precisa de ajuda?”. Ela foi repetida, sem exceção, em todas as cidades que visitei em 2014. Nesses lugares eu não me senti exatamente um artista, mas me tornei um integrante de uma equipe voluntária que produzia uma intervenção urbana. Na hora de soltar os cem balões a gás com as folhas de outono, o espetáculo visual que contemplávamos não era apenas meu, mas de uma coletividade que havia construído aquele momento. Nessas ágoras temporárias que o Sesc tem colocado em circulação eu pude experimentar, através da arte, um dos mais plenos exercícios democráticos e de cidadania. Nessa viagem de três semanas pelo interior de São Paulo, 102 cidades se conectaram a 357 artistas e formaram uma grande rede de interação humana. A imaginação voltou a ocupar o espaço que a tão proclamada virtualidade e os efeitos especiais insistem em colocar em segundo plano. E assim transcorreram os dias e eles chegaram ao fim. Terminado mais um circuito, ainda hoje, quando me lembro das praças e dos encontros que vivenciei, só posso afirmar: é bom viajar, é bom trabalhar.

O RETORNO DO CORPO À PRAÇA Uma série de artistas colaborou na criação de Mono-blocos: Ação, Interação e Intervenção na Praça, projeto com o qual cumprimos o itinerário por nove cidades paulistas dentro do Circuito Sesc de Artes 2014. Essa proposta em dança toca diretamente a memória de participação em duas edições anteriores. Experiências que me levaram a confrontar a cidade e a pressionar meu corpo e minha história às texturas e volumes urbanos. Em 2006, apresentei a coreografia Escambo, com a Cia. Mário Nascimento. Concebido originalmente para teatro, o trabalho foi apresentado em palcos estruturados ao ar livre nas cidades do Circuito. Isso implicava lidar com diferentes pisos e seus reflexos sobre o corpo. Guardo na memória relatos dos companheiros de trabalho que reclamavam de frequentes dores corporais atribuídas às condições do piso improvisado como tablado. No entanto, eu não sentia os mesmos incômodos. Dessa forma, incomodavam-me não as dores, mas uma questão: “Por que eles sentem tanto e eu não?”. Intuía que a resposta apontava para minha formação, ligada diretamente às danças urbanas. Embrionária da cultura hip-hop, a dança B-boy me possibilitou um tipo de convivência muito específica com a cidade. Realizei peregrinações públicas procurando espaços onde era possível treinar, estudar, vivenciar o jeito B-boy de habitar a urbe. Foram vários treinos e períodos de estudo em locais como praças, ruas ou debaixo de viadutos.

Tom Lisboa é mestre em Comunicação e Linguagens e atua como artista visual, curador independente e professor de cinema e fotografia. 18

Entre a primeira participação no Circuito e a segunda, em 2011, andei um bocado. No hiato de cerca de seis anos passei por festivais na América Latina, África e Europa. A maioria tinha

programação relacionada à arte urbana e envolvia workshop e apresentações. No meio do caminho iniciei a pesquisa de mestrado na Universidade Federal de Uberlândia (MG), focada em pensar e prospectar a relação do espaço da cidade na formação do artista cênico. Além da dissertação, o resultado consistiu em elaborar uma série de procedimentos técnicos e corporais, os quais passei a socializar com artistas e estudantes de artes em cursos, encontros e residências. Retornei ao Circuito Sesc há três anos com um trabalho de minha autoria, O Corpo é a Mídia da Dança? Outras Partes, inicialmente criado para sala ou galpão. No entanto, sua forma de apresentação em circunferência e com a utilização de muitos movimentos da dança B-boy possibilitava um trânsito confortável na dureza do piso das praças. Rodou por 14 cidades e todas as apresentações aconteceram diretamente no chão das praças, ou seja, sem um palco para mediar a relação entre intérprete e área aberta. Na ocasião, lembro-me, não houve reclamações de dores ou qualquer desconforto. Tanto a técnica utilizada como a articulação com o espaço pareciam apontar para um bom acomodamento. As investigações prática e teórica no mestrado e as subsequentes experiências em programações como o Circuito levaram-me à concepção do projeto Mono-blocos – Ocupação, Interação e Ação na Praça. Ele foi dividido em duas etapas de igual importância: uma processual, denominada Cidade Habitada, e a outra referente aos frutos desta, chamada Mono-blocos. Em Cidade Habitada realizamos a pesquisa e a produção de uma proposta cênica resultante da interação com o ambiente. Foi aplicado 19


como estratégia o procedimento de ocupação itinerante de praças de Uberlândia por dez intérpretes-criadores. O treinamento, a elaboração e a construção da proposta cênica decorriam da prática de habitar a cidade. A intenção era criar uma intimidade com as praças por meio do uso, da experiência. A tentativa de uma proximidade perdida e de um corpo esquecido: um corpo que se jogava na praça na tentativa de criar divergências com o corpo da modernidade acomodado no conforto do sofá.

Questões como: 1) Que projeto de obra é possível expor na praça/cidade?; 2) Que tipo de relação é possível estabelecer?; 3) Quais recursos técnicos corporais ou de materiais, como vestimentas, pisos e proteções, são necessários para executar com segurança a proposta? Temos formação para ocupar a cidade? E que corpo resulta da interação com a cidade? Como um corpo treinado durante toda a sua vida em salas de aula simétricas, previsíveis e seguras se vê afetado pela fricção com a cidade?

A segunda etapa, Mono-blocos, resultou numa obra organizada em vários blocos de estruturas de jogos coreográficos que apresentam como características principais a constante interação com a cidade em seus aspectos físico-sociais; a presença de intérpretes com formações diversas, como danças urbanas, teatro e artes visuais; e por fim a mobilidade, a flexibilidade e a capacidade de permeabilidade sempre em diálogo com os locais em que são apresentadas.

A nossa participação no Circuito Sesc de Artes 2014 é assimilada como um expressivo presente com nove chances, nove possibilidades de testar as apostas elaboradas e projetadas durante anos de pesquisa, testando diferentes praças a cada dia em arquiteturas físicas e sociais distintas. Mas acima de tudo significou, mais uma vez, a oportunidade de imersão em um processo de convivência com artistas de múltiplas linguagens, experiências e personalidades.

Mono-blocos é resultado de uma reflexão que teve início no momento em que foi necessário dançar na cidade, rolar no piso duro, experimentar os volumes e texturas da praça, negociar com a horizontalidade e com a verticalidade da cidade. Mas também negociar as dimensões histórica, técnica, política e social presentes no corpo de cada um. E as possibilidades de interação e sobrevivência de um corpo na interação com a arquitetura física e social das praças ocupadas por festivais e programas artísticos.

Bem, e eu continuo pensando: a noção de ambiente parece ser cada vez mais útil. A pesquisa me levou a considerar como ambiente o espaço (físico e social), o sistema técnico corporal (hip-hop, parkour, skate, balé, não importa quais forem) e a biografia do sujeito (o seu histórico biopsicossocial). A resultante dessa viagem é a corporeidade, ou seja, não é possível passar ileso pela experiência da cidade, ou melhor, do espaço. Afinal, mais do que dança e cidade, a questão é corpo e espaço interpenetrados.

Vanilton Lakka é coreógrafo e intérprete independente, professor e pesquisador da Universidade Federal de Viçosa (UFV). 20

21


POLÍTICAS E CIRCULAÇÕES CULTURAIS Para início de conversa é preciso definir o que neste texto se entende por políticas culturais. Elas compreendem um conjunto de ações e formulações articuladas, contínuas e sistemáticas com finalidade de promover o desenvolvimento simbólico, atender a necessidades e demandas culturais da população, configurar valores sociais, construir identidades coletivas e individuais e conformar individualidades. Por certo, outras dimensões poderiam ser contempladas na noção de políticas culturais, mas essa breve delimitação se mostra suficiente para a análise a ser realizada neste artigo. As políticas culturais nasceram quando ocorreu uma reviravolta nos modos tradicionais de relacionamento entre política e cultura. Desde a antiguidade, a relação entre essas duas esferas sociais aconteceu sempre com o predomínio da política, tomada como um fim, sobre a cultura, assumida como meio, mero instrumento acionado para a consecução de objetivos políticos. O exemplo de Caio Mecenas nesse sentido é emblemático. Cidadão romano no século I a.C., ele aconselhou o imperador Augusto a manter um grupo de artistas e intelectuais como meio para promover seu poder, autoridade e imagem pública. Dele derivou o termo mecenato, tão utilizado para se referir a uma das modalidades possíveis desse enlace. Em meados do século XX, ao lado do velho modo de relação, emergiu uma nova maneira de interação entre a cultura e a política. Nela, a cultura se tornou finalidade, enquanto a política passou a ser meio. Ou seja, com a nova perspectiva, a política foi acionada como instrumento para o desenvolvimento da cultura, agora imaginada como finalidade. Com essa reviravolta nasceram 22

as políticas culturais. Elas instituem outra possibilidade de conceber a conexão entre cultura e política. Nessa perspectiva, pode-se afirmar que as políticas culturais são recentes, ainda que política e cultura tenham um relacionamento bastante antigo. No Brasil, como em muitos países, as políticas culturais tiveram início como conjunto de ações e formulações voltadas para conservação e preservação, em especial do patrimônio material edificado. O Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, depois Instituto (Iphan), se constitui como instituição exemplar dessa trajetória histórica. Décadas depois, as políticas culturais ampliaram sua abrangência com a incorporação das artes e dos artistas. Elas se orientaram então para a esfera da criação e da produção culturais. A Fundação Nacional das Artes (Funarte) expressa como ninguém esse movimento. Não por acaso uma das tradições das políticas culturais no País é a predominância quase absoluta de políticas dedicadas à conservação, preservação, criação e produção, em detrimento de inúmeras outras dimensões possíveis do fazer cultural, tais como circulação, distribuição, formação, estudos, crítica, fruição, gestão, consumo etc. Todas elas são, em geral, esquecidas. Desse modo, as políticas se concentraram tão somente em alguns elos da dinâmica cultural. Essa atitude distorce as políticas e termina por dificultar e até mesmo bloquear o desenvolvimento mais equilibrado, harmônico e complementar das esferas constitutivas da vida cultural. O problema da distribuição aparece como um dos mais vitais para dinamizar a cultura brasileira.

Cabe relembrar alguns exemplos que denunciam a gravidade da atual circunstância societária. A existência de aproximadamente 2.500 salas de exibição cinematográfica em um país com 5.570 municípios e quase 200 milhões de habitantes inibe a distribuição de boa parte dos filmes hoje produzidos no Brasil. Tal situação é agravada pela concentração da distribuição em mãos de poucas e grandes empresas multinacionais. Outro exemplo: a pequena quantidade de livrarias e a concentração da distribuição em algumas organizações dificultam a vida do livro e dos impressos no país. Pode-se afirmar, sem medo de errar, que a distribuição é hoje um dos mais cruciais problemas da cultura no Brasil, mas essa questão é quase sempre esquecida pelas políticas culturais ao não contemplarem a distribuição dentre os momentos do fazer cultural que priorizam. A circulação é outro movimento essencial para a dinâmica da cultura brasileira. Com todas essas dificuldades da distribuição, produtos e manifestações culturais, em geral, são levados ao público através das redes de mídias, que conectam o Brasil. Em grande medida elas funcionam não só como momento de produção, mas também como responsáveis por dar visibilidade à parte expressiva da produção e das manifestações culturais. Tal atitude gera uma forte dependência da dinâmica da cultura em relação às mídias, com destaque para a televisão e, em menor patamar, para o rádio. A reiterada rememoração do projeto Pixinguinha, desenvolvido pela Funarte a partir dos anos 1970, aparece como indício da quase ausência atual de mecanismos de circulação no país. Nesse difícil contexto, a inexistência de políticas de circulação cultural agrava sobremodo a frágil situação existente. A superação desse esquecimento tão prejudicial para a cultura brasileira torna-se urgente. Ela deve se tornar uma das prioridades das políticas culturais no país.

Nos encontros periódicos do Fórum Nacional dos Secretários e Dirigentes Estaduais de Cultura o tema tem sido bastante discutido, sem que até o momento resulte em programas mais efetivos. Mas a discussão sinaliza que a necessidade de políticas de circulação em âmbito nacional e estadual fica cada vez mais evidente para todos os interessados no desenvolvimento da cultura no país, em especial quando este é concebido, de modo contemporâneo, em sintonia fina com o atualíssimo tema da diversidade cultural. Aliás, a preservação e a promoção da diversidade cultural brasileira exigem amplas e complexas possibilidades de circulação da cultura, que estimulem diálogos interculturais, tão vitais para aprimorar, enriquecer e dar mais vitalidade a nossa cultura. O incentivo à circulação não implica em ficar circunscrito a essa esfera do fazer cultural, pois sua dinamização tem potentes impactos sobre os outros momentos da cultura. A circulação dinamiza a criação e a produção, forma públicos, amplia fruição e consumo, possibilita críticas e estudos, estimula a preservação e a conservação, impulsiona a gestão e o intercâmbio culturais. Ou seja, a existência, implantação e efetivação de políticas de circulação têm impactos consideráveis sobre todos os elos da teia da cultura. O panorama de inexistência de políticas efetivas de circulação cultural, entretanto, está sendo modificado, ainda que de modo paulatino, com surgimento e consolidação de programas de circulação cultural no país. Os exemplos ainda são poucos e não permitem dotar o país de políticas nessa área, mas são significativos e essenciais para reverter esse panorama. Eles apontam para a superação do esquecimento e para a possibilidade de alcançar um novo e vital patamar de desenvolvimento para a diversidade cultural brasileira.

Antonio Albino Canelas Rubim é pesquisador do CNPq e do Centro Multidisciplinar em Cultura (CULT); professor do Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade da Universidade Federal da Bahia (UFBA). 23


A ARTE DO ENCONTRO Partituras registradas em bandeja e prato, compostas durante encontros entre o artista e as cidades de Mogi Mirim e SĂŁo Caetano do Sul.

Hermeto Pascoal ĂŠ compositor, arranjador e multi-instrumentista.

24

25


EXPEDIÇÕES: OUTRAS CARTOGRAFIAS “a cartografia é um método com dupla função: detectar a paisagem, seus acidentes, suas mutações e, ao mesmo tempo, criar vias de passagem através deles.” Suely Rolnik, crítica de arte e curadora

Expedições artísticas e científicas, com a finalidade de se pesquisarem a flora, a fauna, a geografia e a vida social do país, tornaramse mais sistemáticas a partir do século XIX, potencializadas pela vinda da família real portuguesa ao Brasil. Dado seu extenso território, dotado das mais diversas paisagens e práticas sociais, essas circulações foram em muito responsáveis pelo início de uma apropriação concreta e simbólica do país, por meio da invenção de uma iconografia, aliada a um conjunto de relatos. Participaram dessas expedições os mais variados especialistas, entre botânicos, zoólogos, naturalistas e sobretudo desenhistas e pintores, entre eles os mais conhecidos Rugendas (1802-1858) e Debret (1768-1848). Para além do objetivo maior dessas expedições – a missão de gerar dados concretos sobre os locais visitados –, temos hoje a dimensão da subjetividade desses olhares, a marca do estilo de cada artista, a noção de um repertório inicial, dos valores e da parcialidade dessas visões, além dos paradigmas que guiavam a prática artística no período. 26

Registros mais recentes de expedições pelo interior do país são marcadamente datados da década de 30 do século XX, quando Mário de Andrade (1893-1945) construiu grupos de trabalhos para que “turistassem” coletando impressões, fazendo registros e ouvindo relatos sobre o folclore e as tradições populares. As incursões regidas pelo pensador modernista davam luz ao patrimônio imaterial e, alinhado ao contexto antropológico da época, tinham como principal objetivo reunir material para estudos sobre as manifestações artísticas, populares e brasileiras. Essas são as experiências inspiradoras que nortearam o desejo, em pleno início do século XXI, de fomentar o espírito da incursão de grupos de artistas como agentes sociais, políticos, inseridos em contextos singulares. As cidades escolhidas para o olhar desses sujeitos criadores foram objeto e inspiração para uma pesquisa sobre os lugares da arte em situações diversas, assim como dos cidadãos que se evidenciam como construtores de uma história do lugar, suas tradições e seus causos. Assim, as Expedições Circuito Sesc de Artes se propuseram a percorrer algumas das cidades participantes do projeto, partindo de um desejo inicial: realizar uma pesquisa a respeito dessas cidades, materializada em suportes como o desenho, o vídeo e a literatura, somada à vontade de intensificar o diálogo com elas.

Dessa forma, trios de artistas formados sempre por um(a) escritor(a), um(a) videoartista e um(a) artista visual visitaram cidades de diferentes regiões do estado, atualizando os suportes tradicionais da arte à medida que se apropriaram dos pertencentes a esse tempo, gerando uma espécie de diário de bordo virtual que pôde ser acompanhado ao longo das três semanas de realização do Circuito. O substrato dos trabalhos produzidos baseou-se em operações metodológicas definidas por artista-pesquisador individualmente, além de suas escolhas estéticas e particularidades advindas de sua relação com cada um dos lugares e pessoas que encontrou. O artista assim reafirma seu papel social, como construtor de modos de apresentação de discursos de outra ordem, no campo das sensações, a fim de gerar um presente poético para as cidades visitadas. Partindo da premissa que indica os modos de subjetivar como os modos de pensar, a atualização desse conceito de expedição artística nos leva a uma aproximação ao método cartográfico proposto pelos filósofos Gilles Deleuze (1925-1995) e Félix Guattari (1930-1992), que convoca um exercício cognitivo peculiar desses artistas-pesquisadores: uma capacidade muito maior de inventar o mundo do que simplesmente reconhecê-lo. São as “vias de passagem”, como coloca Suely Rolnik, que mais nos interessam aqui: o que se depreende do concreto e se transforma em matéria de trabalho do artista.

este se depara com experiências e provocações diferentes daquelas a que está acostumado? De que forma os artistas continuam a contribuir com a construção do imaginário de um lugar, de seu tempo e de seu povo? E ainda continuam atuando como as “antenas da raça”, como afirmava o poeta Ezra Pound (1885-1972)? As narrativas e imagens criadas por esse belo time de artistas-pesquisadores podem nos oferecer pistas para responder a essas questões. Para o Sesc, fomentar a criação artística, valorizar o processo criativo e olhar poeticamente para outros lugares, distanciados dos grandes centros urbanos, fortalece sua missão no campo das artes e da educação. Fica o importante legado proporcionado pela arte que reafirma o artista como pensador público que, nessas ações, mapeou espaços, agentes culturais, histórias e concebeu obras que apresentam poeticamente elementos culturais das cidades visitadas. Cidades visitadas: Tupã, Registro, Rio Claro, Ilha Solteira, Jaú, Itu, Mogi Guaçu, Mococa, Mogi das Cruzes, Guararema, Lorena e Votuporanga. Participaram do projeto: Videoartistas Clara Ianni, Diego da Costa, Henrique Cartaxo e Nordhal Neptune; Escritores Luciana Miranda Penna, Marcelo Maluf, Rodrigo Ciríaco e Samir Mesquita; Artistas visuais Christiana Moraes, Fabio Tremonte, Jonas Meirelles e Paula Éster. Produção: DB Produções Curadoria: Ana Luísa Sirota (GEAC), Juliana Okuda, Gustavo Torrezan e Melina Marson (GEAVT).

E nos cabem outras perguntas. Qual o lugar do processo criativo no campo das artes? Que potência dialógica temos ao inserir um artista em outro local? Quais os atravessamentos que são gerados na produção de um artista quando

27


O INTERIOR É FORA DA GENTE: SINGULARIDADES DO OUTRO Eu não conhecia o interior de São Paulo. Agora, conheço. Isso porque vivo há apenas cinco anos em São Paulo, depois de décadas em outro interior, o do Rio Grande do Sul. Mais presa à metrópole do que gostaria, mais paulistana que paulista, nunca pude conhecer de fato o interior – mesmo porque conhecer predispõe estar entre as pessoas e ouvi-las com atenção, entender o que cada lugar tem a nos dizer. A série RGs foi desenvolvida em paralelo à programação ambulante do Circuito Sesc de Artes e desvelou a identidade desses tantos lugares, não pela história oficial, mas pelo imaginário – dos seus moradores, dos seus temperos, dos seus mascotes e do seu cotidiano. Historiadora e jornalista, fui convidada pela equipe do Portal Sesc SP para coordenar os redatores e editar os conteúdos que comporiam a série. Assumi a função pensando que seria mais um trabalho técnico de tratar mais ou menos cem crônicas, algumas imagens, outras tantas notícias e o desdobramento disso tudo nas redes sociais. Mas logo vi que técnica não bastaria. Os RGs tratavam da vida – da minha própria vida também.

28

Nasci numa dessas cidades de interior, cujo imaginário coletivo em unanimidade retrata com uma praça, uma igreja, comida caseira e um jeito utopicamente mais simples de viver. Só que não é tão simples assim. A tal harmonia é na verdade composta por uma multiplicidade de vivências, perspectivas, saberes e desejos. Se cada praça tem uma igreja, qual a relação dela com a comunidade? Como foi constituída a paróquia? Quem são as pessoas que cuidam daquele terreno? Quem se transformou em padre? Entre mil descobertas deliciosas, os RGs me contaram a história de um padre que era na verdade um grande pianista, de um outro que demoliu o próprio altar e ainda de um terceiro, comunista e temente a Deus na mesma proporção. Em Mogi Mirim, imagine, editei uma entrevista com Jesus! Isso considerando apenas as histórias da religião católica, intrinsecamente ligada à fundação das primeiras vilas e agrupamentos urbanos do Brasil. Ao lado dessas tantas igrejas dos interiores estão praças com pipoqueiros, monumentos, museus, bancas de jornais e vinis, tamarindos, cerejeiras, cachorros, pavões e jacarés. Jales, Caçapava, Itapeva, Garça, Bebedouro, Poá, Mauá e tantas outras tiveram essa diversidade de suas praças centrais escancarada em textos desta série.

Vale a pena ler e conhecer cada um dos personagens humanos (é só entrar no site www.sescsp.org.br/circuitosescdeartes). Coriolando me chamou a atenção especialmente. O “Senhor das Mortes”. Em algum momento de sua vida, ele passou a divulgar previsões de óbitos e a chorar a dor da cidade cada vez que perdia um filho da sua terra. Jaú se tornou para mim uma cidade onde o humano tem valor, um lugar sensível que acolheu os devaneios daquele homem com um cavalo errante improvisado num cabo de vassoura – e que aqui na cidade grande estaria perdido entre o barulho e tantas outras fantasias. Conheci também e salivo pelos bolinhos com carne e queijo do Dito em Jundiaí, ou os centenários bolinhos de frango de Itapetininga. Já falei da manjubinha de Iguape? Tem ainda arroz vermelho direto de Cruzeiro e até o churrasco grego de Guarulhos. Sobremesa: pode ser uma bananinha feita em tacho de ferro como a de Ubatuba, um sorvete artesanal de Itapólis e – por que não? – uma pipoca doce e rosa feita de macarrão (tem lá em Bragança Paulista).

(Um parêntese para os causos assustadores – “O caso da abdução em Mirassol” encanta a ufologia há mais de 30 anos e joga um ar de mistério no norte paulista, bem como em Pindamonhangaba, cidade que se assusta até hoje com um barqueiro fantasma que em vez de se chamar Caronte e cruzar o rio Estinge, como no mito grego, é conhecido como Nhô Zé e faz suas travessias no rio Paraíba do Sul.) A quebra com a noção de unanimidade que gera tanto preconceito e meias verdades sobre o “interior” (uma palavra só para taaanta coisa) é o ponto nevrálgico em que a série RGs desejou tocar. Buscar as semelhanças entre todos nós ao parar para enxergar verdadeiramente o outro foi o que moveu o exercício de pesquisa e escrita de cada editor-web das 14 unidades do Sesc, que visitaram as cidades e me contaram suas impressões. Eu apenas embarquei, como se editasse os relatos de viagem de Marco Polo, e conheci um novo universo para além da cidade engolidora de São Paulo. Estou louca de vontade de chegar a cada uma dessas 102 cidades e dizer: “Vem cá, é verdade a história do fulano que...”?

Francele Cocco é historiadora, jornalista e produtora cultural. Diretora executiva do Estúdio Mezclador (mezclador.com.br). 29


CrĂŠdito: Dani Sandrini

30 31


Crédito: Nicola Labate

ROTEIRO 1 32

SESC THERMAS DE PRESIDENTE PRUDENTE

LUCÉLIA OSVALDO CRUZ PRESIDENTE VENCESLAU

25 de abril 26 de abril 27 de abril

SESC RIO PRETO

MIRASSOL TANABI VOTUPORANGA

2 de maio 3 de maio 4 de maio

SESC BAURU

OURINHOS AVARÉ BOTUCATU

9 de maio 10 de maio 11 de maio 33


EXPEDIÇÕES: VOTUPORANGA

VOTUPORANGA 5 ESTRELAS por Luciana Miranda Penna

Votuporanga, em tupi, significa brisa suave ou vento bonito. A escolha é do hóspede. Em geral ninguém sabe disso. Mas você já sabe. Aliás, brisa e vento não tem mais nada a ver com a cidade. Não conte com isso. Votuporanga é quente como o sertão. Ela é sertão, mas nem parece. Não se preocupe. A cidade inteira já se esqueceu disso. Seguem em frente. Sabemos que você não é do tipo que procura folclore. Como um sertão desenvolvidíssimo, Votuporanga tem bons hóteis. Excelentes hotéis. Super hotéis para que você aproveite a cidade e até decida ficar mais uns dias, semanas, meses, estender a temporada. Ideal seria que os hotéis fossem como os de Dubai. Votuporanga tem vocação para Dubai, como São Paulo. Mas vocação não basta. Vento não basta, ventilador não vinga, é preciso ar condicionado. E muita água sem gás, com gás, francesa. E cortinas blackout. Fique muito atenta a esses quesitos ao escolher seu hotel. Se você é daquelas que aprecia calor e conforto, um hotel em Votuporanga é o lugar certo. Você pode passar todo o dia na piscina e na sauna e no sol, da sauna para a piscina, da piscina para o sol, do sol para o quarto. E no hotel, pode se sentir em Dubai. Provavelmente, em Dubai, você não vai encontrar camareiras 34

de todos os estados do Brasil como em Votuporanga. Solícitas como elas, que falem um bom português como elas. Nem asseadas como elas. Nem tão inteligentes. Nem com tão pouco tempo de casa. Elas saltam de emprego em emprego, de hotel em hotel, ágeis. E magras. Estão sempre atualizadas em relação a novos produtos, novas maneiras, novos métodos de limpeza e, inclusive, de beleza. Como você também sabe, você que sabe tanta coisa, um hotel sem camareiras não é um hotel. A graça do hotel, além da piscina, da sauna e do quarto geladinho, é deixar de fazer a cama, comer sem lavar pratos, jogar as roupas para cima, ensopar o banheiro, trocar de toalha todo santo dia. A glória em um hotel, perceba, é ter a sua disposição uma boa camareira. Fica a dica: antes de dar uma olhada na piscina e na sauna e no quarto, confira o estafe de camareiras. Elas são o segredo de uma boa estadia. Se você gosta de gente, de gente de verdade, que a trate como uma rainha, mas humana, até mesmo com necessidades especiais, um hotel em Votuporanga é o lugar . As camareiras são da melhor qualidade. Elas conversam com você. Você sabe, num hotel nem sempre há gente para nos dar atenção, a solidão pode bater. Nada de ficar na sala de internet ou buscando sinal wi-fi no celular. O sinal não é o forte de Votuporanga.

Procure as camareiras de Votuporanga, elas suplantam qualquer rede, são excelentes em contar histórias, e discretíssimas. Só contam percalços da vida delas e apenas ouvem os seus. Não são muito opiniosas, sabem que tudo é passageiro como uma estrada. São leves, ainda que narrem passagens dramáticas, de sofrimento, de amores perdidos, de gente que saiu das suas cidades para Votuporanga. Afinal, Votuporanga é uma espécie de ímã para gente esforçada e desempregada de todo o Brasil. E bem apresentada.

Se você quiser, cara futura hóspede, podemos enviar-lhe, uma lista exclusiva e atualizada, semanalmente, dos melhores hotéis da cidade, é neles que se encontra a fina flor das camareiras de Votuporanga. Atenciosamente, Nazaré Oliveira e Britto Presidente do Sindicato das impecáveis camareiras de Votuporanga

As camareiras, típicas de Votuporanga, trazem a você narrativas boas não só de ouvir em hotéis, mas especialmente em hotéis, já que você sabe que poderá esquecer de todas elas. Das histórias e, sobretudo, das camareiras. Experimente aquela empatia fugaz e deliciosa de ter uma amiga que nunca mais irá ver. As camareiras não esperam que você lembre nem devolva nada, contar já está no pacote. Elas sabem. Você pode ir da piscina para sauna, da sauna para o quarto e, no quarto, conversar com uma boa camareira. Se você for uma pessoa sentimental, pode até se apegar a ela, mas não muito. Atente: você terá de partir e alguém precisa arrumar a sua cama, o seu banheiro, e ver quanto você deve ao hotel. Aproveite o que Votuporanga tem de melhor: as pessoas, mais especificamente, as camareiras. 35


Jonas Meirelles Ilustraçþes

36

37


Jonas Meirelles Ilustrações

38

Jonas Meirelles Ilustrações

39


DANÇA

Na Pisada do Carnaval Helder Vasconcelos e o Boi Marinho (PE) ver com os 22 anos de trajetória do cofundador da banda Mestre Ambrósio. Engenheiro mecânico diplomado cujo aprendizado artístico não formal vem do maracatu rural que o habita desde a infância. Crédito: Nicola Labate

A cultura dos brincantes de rua e de terreiro reina nessa criação que funde o Cavalo Marinho e o Bumba Meu Boi. O primeiro é um teatro popular que remete ao ciclo da cana de açúcar na zona da mata pernambucana, a partir do século 16. O segundo, uma dança folclórica atravessada por elementos tragicômicos, desponta no país no século 18 e resiste à subjugação de negros e índios. Esse caldo histórico permitiu ao músico, ator e dançarino Helder Vasconcelos elaborar junto ao grupo Boi Marinho as bases do boi de carnaval. O cortejo joga com as tradições sem abdicar da inventividade cênico-sonora. Tudo a

Ficha Técnica Criação e direção artística: Helder Vasconcelos / Com Helder Vasconcelos, Aguinaldo Roberto da Silva, Frank Sósthenes, Rodrigo Félix, Gustavo Vilar, Gleidson Rocha, Márcio Bá, Laura Tamiana, Anna Nova, Nice Teles e Renata Pires.

CINEMA

40

Crédito: Nicola Labate

Cine Olho Dentre os acontecimentos que determinam a era da imagem torna-se crucial o invento do cinematógrafo pelos irmãos franceses Lumière, 119 anos atrás. A natureza do olhar passa a ser modulada pela sétima arte e esta, por sua vez, projeta-se sobre a realidade. A intervenção lúdica concebida pela Gerência de Ação Cultural do Sesc SP sublinha a condição voyeur dos espectadores de qualquer época ou lugar, conduzindo-os aos primórdios das exibições em preto e branco, sem som sincronizado e à mercê da luz artificial. Por meio de um buraco, proporcional ao olho humano, afixado em três caixas dispostas no espaço público é possível

sentar e observar “secretamente” cenas em torno do beijo romântico, dos monstros míticos e dos efeitos especiais cometidos em escala artesanal naqueles primeiros passos do cinema, de 1896 a 1930. O resultado é uma incursão pelo legado de ações e gestos que calam fundo. Ficha Técnica Concepção: Sesc SP - Gerência de Ação Cultural (Cinema) / Direção de conteúdo: Angélica Valente / Montagem: Mariana Barioni / Trilha original: Fernando Chankas / Produção: Farinha Produções / Design: Estúdio Kiwi / Cenografia: Valter Mendes e Dani Abreu

41


Crédito: Nicola Labate

CIRCO

Famiglia Milan e O Gran Circo Guaraná com Rolha Circo Nosotros (SP)

42

Eles são hábeis na confecção de figurinos e na relação como um baú, um cesto ou uma escada em que as pernas de um servem como base para sustentar a subida do outro. E quem fica em suspenso é a plateia tocada pela precisão dos movimentos e pelo cancioneiro típico das trupes itinerantes e universais. Ficha Técnica Com Marcelo Milan e Sandra Saraiva / Direção: Marcelo Milan / Pesquisa musical: Leonardo Gallo / Figurinos: Sandra Saraiva e Dina Deolindo / Cenografia: Tomi Sato, Marcelo Milan e Sandra Saraiva

Crédito: Nicola Labate

O tapete com um quê de persa, ou seja, aparentemente luxuoso, tem seu uso subvertido pelos atores e acrobatas Marcelo Milan e Sandra Saraiva. A dupla faz daquele diminuto quadrado o seu picadeiro ao ar livre. A trilha sonora evoca a magia dos números circenses mais remotos e que seguem encantando a audiência das metrópoles ou do interior. Apesar das sofisticadas técnicas de equilíbrio, destreza e força física, o casal é despojado em sua presença. A mímica e o contorcionismo emanam uma aura poética que remonta às famílias mambembes, foco da pesquisa de linguagem do núcleo criado em 1999.

43


TEATRO

MÚSICA

La Scarpetta

Pedro Luís (RJ)

Lume Teatro (SP)

Participação Especial de Bruna Caram

Teotônio é o esfuziante palhaço do introvertido ator e pesquisador Ricardo Puccetti, integrante do Lume Teatro, de Campinas. A figura do clown constitui uma das linhas de estudos do grupo fundado em 1985. Em suma, o protagonista empenha-se em cumprir algumas tarefas sem prejuízo de brincar, sua razão de existir. A montagem concentra-se na superação de toda e qualquer forma de obstáculos. Comédia de erros de um homem só tentando transformar o que lhe atravanca o caminho. Para tanto, lança mão de um “spettacolo artistico” recheado de números circenses. A acrobacia com ovos é um deles. A direção dessa obra aparentemente caótica é assinada pelo italiano Nani Colombaioni, que já colaborou com o cineasta Federico Fellini. O Teotônio de Puccetti sintetiza como ele lapidou uma metodologia própria para esse ofício.

As ideias e sonoridades plurais do compositor e cofundador das bandas Monobloco e Pedro Luís e a Parede em simbiose com a intérprete neta de uma cantora de rádio dos anos 1950 e de um violinista devotado às sete cordas. Inventivo na fusão samba, rap, rock, hip-hop, maracatu e funk, o carioca Pedro Luís revisita criações de sua lavra na voz da cantora paulista Bruna Caram. O encontro prospecta singularidades em suas biografias musicais, já que ele também é cantor entusiasta. São letras e vozes em busca de novas escutas. Ela é convidada a recriar canções já

gravadas por colegas como Elba Ramalho (Noite Severina e Os Beijos), Maria Rita (A Medida do Meu Coração), Roberta Sá (Janeiros e Braseiro), Adriana Calcanhotto (Mão e Luva) e Zélia Duncan (Braços Cruzados), entre outras. Afinidades eletivas como as que agora aproximam os dois artistas da MPB. Ficha Técnica Concepção e roteiro: Pedro Luís / Com: Pedro Luís (violão, cavaco e voz), Paulino Dias (percussões), Bruna Caram (voz).

Ficha Técnica

Crédito: Nicola Labate

44

Crédito: Nicola Labate

Concepção e criação: Ricardo Puccetti e Nani Colombaioni / Com Ricardo Puccetti

45


Crédito: Fabio Andrade

ROTEIRO 2 46

SESC THERMAS DE PRESIDENTE PRUDENTE

TUPÃ PRESIDENTE EPITÁCIO ADAMANTINA

25 de abril 26 de abril 27 de abril

SESC RIO PRETO

SANTA FÉ DO SUL JALES FERNANDÓPOLIS

2 de maio 3 de maio 4 de maio

SESC BAURU

PEDERNEIRAS GARÇA MARÍLIA

9 de maio 10 de maio 11 de maio 47


EXPEDIÇÕES: TUPÃ

TROVÃO

por Luciana Miranda Penna

Tupã tem nome indígena, dizem que significa trovão. No tempo de um dia que o cronista esteve nessa cidade, não ouviu uma manifestação sequer desse fenômeno da natureza. O trovão estava mudo, ou quieto ou indisposto ou irascível ou de algum modo que o cronista não soube adivinhar. Talvez o trovão não tenha modo. Os índios devem estar mais perto do trovão do que o cronista. O trovão deve se manifestar para eles. Suposição. O trovão deve preferir falar aos dizimados, aos sobreviventes, aos remanescentes. O trovão deve falar a quem acredita nele. Certeza. O trovão lembra aos índios o que eles ainda podem. Os índios querem ser antes e depois. Os índios são. O trovão embala a vinda deles. O trovão garante a volta deles. O trovão traz o começo dos tempos e o futuro deles. O trovão instaura o presente. Os índios experimentam o trovão e buscam o que ainda resta deles, nele. O trovão escolhe a quem fala. O trovão escolhe a quem continua falando. É quase

48

certo. O trovão fala aos índios. Alguns índios falam o trovão. Os Kaingang de Tupã estão reaprendendo a falar o trovão com Kaigangs do Sul, do Paraná; os Krenak com outros Krenak. O trovão é independente da vontade do cronista. O trovão não está nem aí para o cronista. Não se pega um trovão como se bate no ombro ou se pergunta algo. O trovão não fala como a moça simpática, Uiara Potira, do Museu Histórico e Pedagógico Índia Vanuíre. O trovão não é prestativo. O trovão não é educativo. O trovão não é pedagógico. E não é porque troveja que seja um mistério passível de revelação. O trovão fala outra língua. Quem barateia o trovão não chega a ele. Os Kaigang e os Krenak não barateiam o trovão. O trovão é o trovão. O trovão troveja no céu, acima do cronista. O trovão é falado pelos Kaigang e Krenak, mesmo que eles tenham desaprendido a falar kaingang e krenak. O trovão não pode ser contido. O trovão não manda avisar. O homem branco está muito longe daquele

trovão original que ainda assoma a cidade, quando quer. Os índios estão em busca desse princípio de trovão. O homem branco quis fazê-los esquecer do trovão. O homem branco repreendia o índio que falasse trovão em Kaingang e em Krenak. O homem branco forçou o índio a esquecer o trovão e prender português. Hoje, o homem branco estranha que o índio fale português. Hoje, o homem branco não acredita no índio que só fale português ou fale muito bem o português. Hoje, o homem branco quer que o índio fale trovão em Kaikang e Krenak para ser índio. O índio fala o que quiser. Hoje, os índios reaprendem a falar trovão em Kaigang e Krenak porque querem. Os índios resgatam os índios, e não é para agradar ninguém. O índio não veio ao mundo para agradar, como o trovão também não. O homem branco vestia o índio nu diante do trovão. Hoje, o homem branco quer que o índio fique pelado diante do trovão para ser índio. O índio fica pelado se quiser. O índio é como

o índio é. Os índios não entendem o branco. Quando o índio vira outra coisa índia pelo contato com o homem branco, ele quer que o índio volte a ser aquele índio da descoberta do Brasil, sem esconder as vergonhas. O índio esconde o que quiser. As vergonhas do índio são do índio. As vergonhas dos índio não são vergonhas para o índio. Não se controla o índio. O índio não se deixa exterminar. O índio escapa. O índio entra no Museu do Índio e desarruma o Museu, só por entrar. O trovão não precisa combinar com o trovão. O trovão não marca entrevista. O cronista não esteve com o trovão, só ouviu dizer. Os índios têm direitos autorais. O trovão também. Quem quiser saber do índio que pague. O índio não se barateia. O índio não quer espelho. Nem o índio nem o trovão estão na vitrine. O trovão é a língua materna. A língua materna volta a trovejar na boca do índio. O índio não dá entrevista, ele está muito ocupado com o trovão. Trovão tem nome branco, dizem que significa Tupã.

49


Jonas Meirelles Ilustraçþes

50

51


LITERATURA

Poema de Uma Linha Só Coletivo Unsquepensa (SP) o sopro da primeira infância. Nessa proposta despojada, adultos e crianças aproximam o ato da escrita de uma experiência sensorial. Em 14 anos de parceria, os artistas plásticos Mazzon Gil e Nanda Ribeiro investem em criações que suscitam ideias em suas formas e conteúdos em escala artesanal.

Crédito: Fabio Andrade

Quem conta um conto, aumenta um ponto. A intervenção leva ao pé da letra essa imagem em espiral. Uma frase ou um verso estampam uma faixa de tecido desenrolada de um grande carretel. As pessoas são estimuladas a dar continuidade a esses enunciados. Cada nova palavra ou frase acresce um sentido à narrativa voluntária e involuntária que vai ganhando corpo. Constrói-se, assim, um poema colaborativo. Os integrantes do Coletivo Unsquepensa tomam como inspiração a obra do matogrossense Manoel de Barros, mestre em desdobrar os signos com

Ficha Técnica Criação: Nanda Ribeiro e Mazzon Gil / Com: Mazzon Gil e Will Andrade / Figurino: Nanda Ribeiro e Mazzon Gil.

INTERVENÇÃO TEATRAL

Espiando Pequenas Histórias – Trilogia Eiró em Caixas

52

Crédito: Fabio Andrade

Ciclistas Bonequeiros (SP) Mobilidade também é arte. Consciência urbana e meio ambiente têm lugar cativo nesse projeto em que o teatro de formas animadas é adaptado para o espaço de uma caixa de papelão afixada à garupa de uma bicicleta estacionada em praça ou parque. São três veículos. Em cada um deles o espectador, sentado, espia por um buraco breves roteiros em torno do poeta Paulo Eiró (1836-1871), paulistano do bairro de Santo Amaro e autor de textos a favor da abolição da escravatura no país. São histórias independentes com bonecos ou objetos em miniatura. Podem tratar da liberdade de expressão ou promover um encontro fictício

de um rapper com um quadro de Eiró. A trilha musical é acompanhada por meio de fone de ouvido em meio à voz dos manipuladores. Tudo é confeccionado a partir de material reciclado ou reutilizável. Já a estética remete às tradições dos fotógrafos lambe-lambe e do teatro de brinquedo. Ficha Técnica Direção, roteiro, iluminação, direção, trilha e orientação geral: Gustavo Guimarães Gonçalves / Orientação cenográfica: Raquel Pavanelli / Confecção das caixas: Raquel Pavanelli, Gabriela Fiorentino e Lucciano Franco / Voz: Gustavo Guimarães, Gildete Alves e Lucciano Franco 53


ARTEMÍDIA

Suaveciclo VJ Suave (SP) Crédito: Fabio Andrade

A unidade audiovisual de 12 quadros por segundo serve ao dispositivo das projeções de curtas animados sobre fachadas de prédios, muros, árvores e outros suportes urbanos. Não são raras as ocasiões em que as imagens fundem-se aos corpos e dão visibilidade ao cidadão na paisagem urbana. A dupla de criadores lançou esse projeto em 2011 e vem celebrando a junção do aparato tecnológico básico com procedimentos artesanais. A começar pela bicicleta triciclo adaptada para transportar projetor, bateria, caixa de som e computador com programa de VJ (denominação que abarca práticas com a videoperformance em tempo real). Esse sistema portátil transmite poesias e mensagens na escala do que poderia ser um grafite visual. A dupla despontou como protagonista do movimento Mais Amor, Por Favor, que circulou por várias cidades do Brasil e já foi visto em outros países, como a Rússia.

TEATRO

Um Fusca em Con(s)certo Cia. Rodamoinho (SP)

54

Criação e concepção: Ygor Marotta (VJ Suave) e Cecilia Soloaga

ao lado de outros instrumentos, embalar o público para um concerto cômico musical à maneira do improviso jazzístico e com direito a sapateado. A companhia conta 13 anos de atividades integrando diferentes linguagens para pesquisar a cultura popular, como a circense aqui evidenciada. Ficha Técnica Concepção, produção e dramaturgia: Fabiano Assis e Renata Flaiban / Direção: Fabiano Assis / Direção musical: Fabiano Assis, Renata Flaiban, Fernando Sardo e Guilherme Maximiano / Com: Fabiano Assis, Renata Flaiban e Paulo Dantas

Crédito: Fabio Andrade

Se o grupo mineiro Galpão fez de um carro, uma Veraneio, suporte para o memorável espetáculo de rua Romeu e Julieta (1982), porque a trupe de São Paulo não pode transformar uma charanga balzaquiana em “personagem-título” de sua obra? Um fusca branco, de faixas vermelhas, ano 1983, equivale a palco, cenário e tema principal da aventura de três amigos que decidem rodar o país. Mas o carro enguiça na hora da partida e é preciso consertá-lo. Não demora, o trio de artistas passa a explorar sonoridades a partir dessa situação. Lataria, motor e vários objetos e bugigangas dão margem para extrair som e,

Ficha Técnica

55


Concerto da Lona Preta

Crédito: Fabio Andrade

Crédito: Fabio Andrade

CIRCO

Trupe Lona Preta (SP) Um quinteto formado por músicos que também se orgulham de serem palhaços surge em cena empenhando-se animadamente na execução de um concerto. O repertório é amplo e variado, abrangendo arranjos de cunho popular e erudito. A mediá-los, a sofisticada cultura do picadeiro, um divertido jogo de tentativa, erro e bons achados que desconstroem as convenções do universo clássico. A regência a cargo de um palhaço, que não perdoa nem os sucessos descartáveis da indústria de massa, dá a medida da situação hilária. O núcleo capricha na atuação aprofundando processos de composição, estudos teóricos e praticas de conjunto. Atitude de apropriação que também imprimiu em criações anteriores afeitas aos campos das artes plásticas e do cinema. Nascida em 2005, na zona sul paulistana, a Trupe Lona Preta ganhou solidez participando de saraus e intervenções. Ficha Técnica Direção: Sergio Carozzi / Com: Alexandre Matos, Elias Costa, Joel Carozzi, Sergio Carozzi e Wellington Bernado

56

MÚSICA

Sandália de Prata canta Jorge Ben (SP) No show Sandálias de Jorge a banda de samba-rock homenageia um dos principais representantes desse estilo genuinamente suburbano e brasileiro, o cantor e compositor Jorge Ben Jor, projetado na década de 1960. Clássicos do repertório do artista dono de sonoridade híbrida são revisitados com o devido suingue, como Alcohol, Menina Mulher da Pele Preta, Umbabaraúma, Teresa e W/Brasil. O estilo sambarock é fruto dos bailes que aconteciam em casas de família e salões da periferia de São Paulo entre o final da década de 1960 e o início da seguinte. Mescla ao samba ritmos e passos do rock and roll ou rockabilly, reafirmando a força da

música negra no país. O grupo Sandália de Prata toca há 14 anos. Seu berço é o Capão Redondo, bairro da zona sul paulistana. A formação continuada aos poucos incorporou outros integrantes e passou a equilibrar percussão e naipe de metais, daí a veia jazzística. Ficha Técnica Com: Ully Costa (voz), Sandro Lima (guitarra), Carlinhos Creck (baixo), Paulinho Sorriso (bateria), Tito Amorim (percussão), Dado Tristão (teclado), Marcelo Valezi (sax), Jorginho Neto (trombone) e João Lenhari (trompete)

57


Crédito: Dani Sandrini

ROTEIRO 3 58

SESC CATANDUVA

BEBEDOURO ITÁPOLIS NOVO HORIZONTE

25 de abril 26 de abril 27 de abril

SESC SANTOS

ELDORADO IGUAPE REGISTRO

2 de maio 3 de maio 4 de maio

SESC PIRACICABA

CAPIVARI GARÇA LIMEIRA

9 de maio 10 de maio 11 de maio 59


EXPEDIÇÕES: REGISTRO

LIMITE 1

por Marcelo Maluf

ESTANDO O POETA NO QUARTO 09, A TELEVISÃO DESLIGADA, TENTANDO ENTENDER O MOTIVO PELO QUAL A PIA FICAVA AO LADO DA CAMA, VIU PELA JANELA A PISTA DE SKATE E O RIO.

o rio nunca é o mesmo nem mesmo Heráclito nem mesmo a rua nem mesmo a cidade é a mesma história nem mesmo a memória nem mesmo o imigrante, o exilado, o afogado, o recém-nascido, o falecido, o índio, o quilombola o que era útil agora é arte nem mesmo a árvore, nem mesmo a casa, nem mesmo o templo, nem mesmo o Sidarta, nem mesmo o segredo, nem mesmo a gaveta, nem mesmo o telhado, nem mesmo o cabelo, a unha, o músculo, os ossos, nem mesmo o elevador,

60

a aldeia, o quilombo, a senzala, a favela, nem mesmo o horror, a miséria, a festa, a passeata contra a barragem, nem mesmo é a mesma água que fica parada. nem mesmo você, nem mesmo eu, nem mesmo Deus, nem mesmo o ateu, nem mesmo Dante, Buda ou Marx. nem mesmo a casa da família Feliciano, nem mesmo os passos pisam o mesmo chão, nem mesmo a terra respira os mesmos homens se calam, nem mesmo as mulheres caladas, nem mesmo os cães, os gatos, os porcos, os cavalos, as galinhas e os vermes. nem mesmo nós caminhando juntos à procura de uma história que não se sabe nem mesmo esse quarto, esse caderno, essa caneta, nem mesmo a minha mão esquerda nem mesmo as palavras: nada. nunca. não. será. nem mesmo.

61


LITERATURA

ARTES VISUAIS

Troco um Causo por um Conto

Trajetos Urbanos

Guardanapos Poéticos (SP)

Raphael Escobar (SP)

Uma mesa, duas cadeiras e uma máquina de escrever portátil. É neste pequeno cenário, montado em espaço público, que o escritor Daniel Viana exerce a escuta do outro. O cartaz discreto vai direto ao ponto: “Troco um causo por um conto”. A pessoa senta, narra uma história pessoal e o autor a captura na forma de prosa (microconto) ou verso (poesia à lá haicai). Os textos culminam datilografados em guardanapo oferecidos aos contadores desse encontro ao acaso. Ao fim da troca poética entre escrevinhador e participante, os trabalhos são

Toda cidade é dotada de um sistema de sinalização para controlar pedestres e motoristas. Subverter essas marcas, símbolos ou legendas em vias públicas pode implicar infração de trânsito. No caso da arte, subjaz o território libertário da linguagem para desestabilizar as regras de convívio e instigar a reflexão seminal do como viver junto. A intervenção urbana singra o asfalto com o traçado de tinta branca gerada de um skate adaptado com um compartimento e um rolo em sua base inferior. Deslizando nessa prancha-pincel o artista Raphael Escobar percorre caminhos aleatórios, ziguezagueia ou segue em linha reta. A performance concebida em 2011 propõe um olhar sobre a rua e suas possibilidades de trajetos. Os novos rastros podem levar o público a redescobrir com olhos livres o que antes era pré-determinado.

expostos em varal ou painel, coroando o tempo da ação que materializa a memória compartilhada. A proposta de Viana faz parte do projeto 100 contos por 10 contos trocados, que realiza há mais de dez anos e conflui intervenção urbana e literatura. Já rendeu um livro de mesmo título com os causos de Sebastião, personagem que sintetiza todas as vozes. Ficha Técnica Criação e execução: Daniel Viana.

Ficha Técnica

Crédito: Dani Sandrini

Crédito: Dani Sandrini

Performer: Raphael Escobar

62

63


TEATRO

CIRCO

Mira

Flamingos de Fuego

Grupo De Pernas Pro Ar (RS)

The Pambazos Bros (SP) O cenário traz cores exclamativas no simulacro de coqueiro, das bandeirolas, da plaqueta com o aviso de cuidado para não escorregar e dos figurinos do quinteto de músicos-atores. Mas o cancioneiro embala a audiência com muita harmonia, entremeando humor circense e teatral. O mote é uma festa dançante comandada por artistas incansáveis e passionais na execução de clássicos de ritmos latino-americanos, como o bolero, a cumbia e o chachachá. As versões incluem instrumentos como contrabaixo, bongo, sax, clarinete, acordeom, maracás e até um serrote. O repertório traz à luz manifestações

Ficha Técnica Direção e criação: Raquel Durigon e Luciano Wieser / Com: Diego Kurtz, Lenon Kurtz, Raquel Durigon, Txai D. Wieser, Vitor Brasil, Arthur Fernandes Côrtes, Odair Fonseca de Souza / Trilha sonora: Jackson Zambelli e Sergio Olive

Crédito: Dani Sandrini

64

seus manipuladores começam a lhes dar vida. A metáfora brota em cor, luz e poesia. O grupo foi fundado em 1988 e ao longo desses 26 anos consolidou uma linguagem própria que borra as fronteiras da arte, conjurando teatro de rua, animação, circo e música.

Crédito: Dani Sandrini

Alguns quadros do escultor e pintor espanhol Juan Miró são compostos por gestos ou movimentos que podem lembrar garatujas infantis ou rabiscos pré-históricos. Povoada de símbolos, sua obra foi associada ao surrealismo. Apreender o observador pela sensibilidade e não pela razão é a premissa que leva os criadores gaúchos a evocar o universo do artista barcelonês nesse espetáculo de rua com bonecos gigantes, colocando uma lente de aumento sobre a delicadeza e o espírito lúdico. Alegorias coloridas, estilizadas em mais de metro de altura, ocupam o espaço público com fortes imagens. As figuras irradiam energia quando

populares embrionárias dos espaços públicos. Uma atmosfera romântica quanto ao âmbito comunitário da arte e da cultura. Aqui dirigido por Ricardo Puccetti, do Lume Teatro, o grupo The Pambazos Bros possui criadores de distintas nacionalidades e radicados em São Paulo desde 2004. Ficha Técnica Direção: Ricardo Puccetti / Roteiro: The Pambazos Bros / Com: Jorge Zagarzazu, Diego Martínez. Paulo Kishimoto, Fernando Vicencio, Francisco Valle / Concepção musical: Paulo Kishimoto

65


MÚSICA

Emicida (SP)

Crédito: Dani Sandrini

Entre o primeiro single, Triunfo, de 2008, e o álbum O Glorioso Retorno de Quem Nunca Esteve Aqui, lançado em 2013, o rapper Emicida lapida a arte que semeou nas batalhas de rimas improvisadas na zona norte de São Paulo, onde cresce e vive. Foi lá que Leandro Roque de Oliveira ganhou o apelido, trocadilho para “homicida de MC’s” (mestres de cerimônias da cultura hip-hop), por suas constantes vitórias sobre os colegas do movimento. O show é centrado nesse novo disco, que busca novas formas de vocalizar a contundência política das letras. Como em “Crisântemo”, gravada com participação de sua mãe, Jacira, em torno da morte do pai assassinado quando criança. Outras participações femininas inspiraram o projeto, como Pitty, Fabiana Cozza e Tulipa Ruiz, além do sambista, baterista, cantor e compositor carioca Wilson das Neves e do grupo de samba Quinteto em Branco e Preto.

DANÇA

Onde o Horizonte se Move

Ficha Técnica Emicida (MC e voz) / Mônica Agena (guitarra, cavaquinho, berimbau e voz) / Samuel Bueno (baixo e percussão) / DJ NVACK (dj, voz e percussão) / Carlos Café (percussão e voz) / Doni Jr. (guitarra, percussão e voz)

Gustavo Ciríaco (RJ)

66

certas figuras. Os projetos de Gustavo Ciríaco envolvem arquitetura, artes visuais e espetáculo. Suas obras se orientam pelo contexto onde acontecem e pela poesia das materialidades de cada situação. Já levou criações para países da América Latina, Europa, Ásia e Oriente Médio. Ficha Técnica Direção e concepção: Gustavo Ciríaco / Com: Isabel Martins, João Victor Cavalcanti, Priscila Maia, Antonio Pedro Lopes, Leo Nabuco, Luciana Froes e Tiago Cadete.

Crédito: Dani Sandrini

Uma paisagem pode conjugar homens e mulheres, natureza e cidade, história e fantasmagoria. Algo de inominável, de sublime e de banal a atravessa. Fugaz, ela é geradora de narrativas, biografias e fábulas. Nos filmes de faroeste, era comum o momento em que se avistava algo no horizonte, por vezes borrado pela poeira ou pelo sol abrasador. Distantes, essas figuras pouco a pouco iam se revelando, ganhavam corpo e concretude. Hoje, tal dimensão foi perdida. Ninguém mais parece chegar de longe. Nesta criação, os espectadores, como os vigias do passado, vasculham seu campo de visibilidade para decifrar

67


Crédito: Claudia Mifano

ROTEIRO 4 68

SESC CATANDUVA

OLÍMPIA MONTE ALTO IBIRÁ

25 de abril 26 de abril 27 de abril

SESC SANTOS

SÃO VICENTE GUARUJÁ CUBATÃO

2 de maio 3 de maio 4 de maio

SESC PIRACICABA

RIO DAS PEDRAS SÃO PEDRO RIO CLARO

9 de maio 10 de maio 11 de maio

ROTEIRO 4 69


EXPEDIÇÕES: RIO CLARO

DIÁRIO DE BORDO – EXPEDIÇÕES CIRCUITO SESC DE ARTES por Rodrigo Ciríaco

CONTO – RIO CLARO VENCIDOS Somos escravos brancos. Muitas vezes tratados como os negros são. Certa vez, o funcionário da fazenda que nos visitam nas nossas áreas demarcadas e a quem os negros chamam de capataz ameaçou bater em meu filho por achar que estava fazendo corpo mole. Não entendemos a cena. Começou a gritar com Giovanni, dedo em riste, mão no chicote. Minha esposa e meus filhos mais velhos apenas pararam e olharam aquela cena insólita enquanto eu corri e coloquei Giovanni por detrás de minhas pernas. Ele tinha apenas quatro anos e após ver a pequena poça formando embaixo de meus pés vi que tinha feito xixi nas calças. Olhei firme nos olhos deste funcionário. Ele voltou-se para trás. Saiu proferindo palavrões que não merecem ser repetidos para não manchar a folha deste registro. A vida no campo é muito distinta das propagandas que os agentes do governo brasileiro fazem pela terras italianas. Prometem um paraíso de oportunidades, em que teremos uma terra livre para trabalhar, produzir e sobreviver, em que os lucros serão repartidos de maneira iguais. Mas chegamos endividados pelo compra da passagem, transporte da família, 70

alimentação e outras tantas sortes de despesas que eles inventam que, por mais que trabalhemos, parece que nunca saldamos nossas dívidas. Muitas famílias estão insatisfeitas com a situação. Ameaçam partir e romper os contratos. Dezenas de cartas foram escritas e enviadas para nosso governo, afim de observar e interferir nesta situação. Passaram-se dois anos que algumas foram emitidas. Tenho dúvidas se chegaram ao seu destino. Ou talvez o governo de nosso país esteja também tirando proveito desta enganosa empreitada. Não sei o que pensar. O fazendeiro não nos atende mais. Alguns dizem que ele nos acha pior do que animais. Quando chegamos houve festa. Recebeu-nos com sorriso, mataram alguns bichos, os negros serviram-nos. Agora ele não mais nos recebe. Todas as conversas são diretamente com o seu “capataz”. Já escutei dizer que prefere almoçar no estábulo ao lado de seus cavalos do que ficar um quarto da batida de hora do sino do relógio ao lado dos escravos. E pelo contrato enganoso, pelas promessas não cumpridas e pela maneira que nos tratam sinto um pouco que também somos escravos. É preciso fazer algo sobre isso.

CRÔNICAS – RIO CLARO CONVERSA GRIÔ Dona Angela não está mais entre nós. Mas suas histórias ficaram, nas lembranças de parentes e amigos. Contava ela que, quando criança, tinha muito ciúmes da mãe, pois ela era ama-de-leite. Tinha ciúmes porque sempre havia alguém batendo na porta da sua casa, procurando a mãe, e esta tinha que sair para dar o leite, amamentar outras crianças.

Teve uma vez que dona Ângela chorou muito, ficou muito triste por ter que dividir aquele alimento sagrado. Para confortá-la, sua mãe fez um combinado: “esse lado aqui ó, é o lado do tetê que a mamãe vai dar para as crianças de fora, sempre. E esse lado aqui é o lado que a mamãe vai dar pra você, o lado do coração. O seu leite é só este: que vem direto do coração”.

CRÔNICAS – RIO CLARO UMA VERDADEIRA DIVA Dona Diva é destas pessoas que deveriam ser consideradas parte do patrimônio imaterial das cidades. Quando a conheci, logo veio a mente o refrão da música “Gentileza”, cantada por Marisa Monte: “Por isso eu pergunto / A você no mundo / Se é mais inteligente: / O livro ou a sabedoria”. Dona Diva é memória viva e sabedoria pura. Neta de negros que foram escravizados nas antigas fazendas de café de Rio Claro e região, a história de sua família ali começa pela bisa, trazida do Ceará. E é motivo de orgulho para ela, pois apesar de todas as adversidades, sua família cresceu. Em suas palavras: prosperou. Dona Diva é griô. Responsável pela transmissão e contação das histórias e conhecimentos de seu povo, tradição que vem desde a África. Sua bisavó contava histórias no rádio e conseguia reunir pessoas em praça pública para ouvir. Sua mãe, as falava enquanto

trançava seus cabelos. E ela também seguiu no caminho de contar histórias. As suas e a de seu povo, intimamente ligadas ao desenvolvimento da cidade. Aprendeu a ler com cinco anos, sem nunca ter ido para a escola, apenas com a bíblia. Trabalhou e aposentou-se como cozinheira – “merendeira é quem vai lá, pega a merenda e prepara. Eu cozinhava mesmo para as crianças”, diz com orgulho. Hoje, é presidente do Conselho Municipal da Comunidade Negra. Faz atividades em escolas, participa de projetos de resgate da cultura negra. E tem um carinho especial pelas figueiras. Figueiras são árvores lindas, frondosas, que formam uma grande copa e dão uma sombra maravilhosa para quem foi criado na cidade ou sabe olhar com respeito e atenção a força da natureza quando se manifesta. Possuem um tronco muito grande e largo, que podem chegar a seis, dez

71


metros de diâmetros. E assemelhamse muito às árvores ancestrais africanas: o baobá. Aliás, foi debaixo de uma figueira do Largo São Benedito que surgiu em Rio Claro o primeiro clube social dos negros, conta. Ali se reuniam, conversavam e tomavam grandes decisões. Segundo Dona Diva, podemos contar doze figueiras importantes na cidade e entorno para a história do negro. Boa parte delas preservada. Com exceção de uma, da Boa Morte, executada (cortada) sem consentimento da comunidade negra e que provocou grande pesar, e a do Largo São Benedito, que cumpriu o seu dever, cedeu, caiu. Mas de sua raiz, há brotos surgindo. Assim como a raiz negra é preservada com resistência, apesar de todos os cortes. Dona Diva, como Griô, participa de conversas em escolas sobre história, cultura e identidade negra. Diz que é muito importante. A criança negra se reconhece. A criança branca passa a respeitar. Fala o caso de uma

escola em que, a primeira pergunta que fez quando chegou é: “quem aqui é negro?”, e ninguém levantou o braço. E após as histórias, conversas, antes de partir fez a mesma pergunta: “quem aqui é negro?”, mais da metade da sala levantou. Revolta-se apenas com o fato de que a lei que institui o ensino da história e cultura afro-brasileira ainda não seja respeitada. Muitas escolas não querem, é o que ouve. E responde: mas se é lei, não tem que querer. É um direito. Dona Diva tem muitas histórias. Nem todas ela conta para as crianças, pois muitas viu e ouviu ainda quando criança, e a chocou muito. Emociona-se. Os olhos marejam, a voz embarga. E ela segue. Com humildade, consciência e dignidade de quem carrega o “fardo” da história, sabendo muitas vezes que carrega o fardo do mundo. Apesar de este muitas vezes não fazer questão ou menção de (re)conhecê-lo.

Rodrigo Ciríaco Rio Claro Fotopoesia

72

73


Chris Moraes

Semente, 2014 caneta hidrocor sobre papel 29,7 x 21cm

74

Chris Moraes

Baobรก apud 12 Figueiras, 2014 caneta hidrocor e guache sobre papel 29,7 x 21cm

75


Chris Moraes Moto-contínuo, 2014 Impressão fotográfica e guache sobre papel 21 x 29,7cm

76

77


TEATRO

CIRCO

Uma Jornada

Sanduba Delivery

Ubus Théâtre (Canadá) O interior de um ônibus escolar de janelas vedadas é convertido em palco para uma história narrada por bonecos e atores. Eis o espaço cênico peculiar que a companhia canadense Ubus Théâtre encontrou para vir ao mundo em 2004 com Le Périple, ou Uma Jornada. No veículo adaptado, o público senta e mira o minitablado erguido na área do motorista. Pierre Robitaille e Agnès Zacharie manipulam marionetes e objetos além de operarem som e luz. A fábula de cunho alegórico e filosófico versa sobre um grão de areia desgarrado de uma estrela. Ele viaja por milhares de anos até a Terra. Aqui, encontra um velho cujo último desejo é dispor de um ônibus amarelo para levar as pessoas a lugares onde possam descobrir o quão a natureza oferece de maravilhoso. A obra é inspirada na biografia do pai da atriz, o libanês Antonios Youssef Zacharia (1956-2013), espirituoso professor da área de ciências. Ficha Técnica Texto: Agnès Zacharie / Direção: Martin Genest / Interpretação e manipulação: Pierre Robitaille e Agnès Zacharie

Cia. Suno (SP) Apinhados em semicírculo, os espectadores atentam às evoluções do palhaço Duba Becker e seu cardápio de gags e números de acrobacia, equilibrismo e malabares. Ele chega montado em sua bicicleta. Nas costas, a bolsa térmica típica dos entregadores de comida em domicílio. Todo faceiro, promete atender aos pedidos com direito a deliciosas subversões bem humoradas. Escolhe a dedo a sonoplastia, um rock’n’roll atrás do outro, embalado pela geração de Chuck Berry, Bill Halley e Elvis Presley. E o artista dança conforme o ritmo de cada performance com chapéus, bolas ou aros, passando por desafios como equilibrar no queixo uma escada retrátil ou, o ápice, uma barraca de feira. As especialidades dessa fictícia lanchonete circense provêm do repertório da Cia. Suno de Arte, que Becker compõe com Helena Figueira. A trupe nasce em 1998, em Santos, fruto da reunião com outros profissionais. Ficha Técnica

79

Crédito: Claudia Mifano

78

Crédito: Claudia Mifano

Roteiro e direção: Helena Figueira / Com Duda Becker / Figurinos: Maria Eugênia Ramos / Cenografia: Cia. Suno / Sonoplastia: Leo Mologni


LITERATURA

Conte a Sua Cia. Ju Cata-Histórias (SP) quicar num dos temas. A interação frui na roda como reza a oralidade ancestral. Para esse núcleo de artistas fundado em 2008, catar histórias e brincar com elas tem a ver com o mesmo princípio do cata-vento, ou seja, transformar vento em movimento!

Crédito: Claudia Mifano

As quadras desenhadas na lona disposta no chão confirmam o Jogo de Amarelinhas como dispositivo seminal da experiência criativa que a companhia paulistana Ju Cata-Histórias proporciona aos espectadores de todas as idades. As crianças costumam aninhar-se no território simbólico do acaso e dos casos inventados e contados. Os instrumentos de corda e percussão mais a voz da palavra cantada e falada são os estímulos dosados sob medida para enredar “medo”, “amor”, “amizade”, “filhos”, “mentira” e “sonhos”, vocábulos que substituem os números em cada casa e servem como senha para soltar a imaginação na hora em que a pedrinha jogada

Ficha Técnica Narração, pandeiro e canto: Juliana Mado / Percussão e canto: Rafaella Nepomuceno / Rabeca e canto: Rafa da Rabeca

DANÇA

SE7 Aberto

80

Crédito: Claudia Mifano

Coletivo Movasse (MG) A vida é uma edição. Ainda mais sob a mediação ostensiva das telinhas. Os criadores do Coletivo Movasse, de Belo Horizonte, apropriam-se dos mecanismos audiovisuais para problematizar essas molduras que atravessam o cotidiano. Os espaços públicos viram sets abertos de filmagem em que os intérpretes e os espectadores revezam o controle das câmeras que captam as imagens ao vivo. Os movimentos corporais externos ou afeitos aos vídeos são reorganizados e transformados em ideias. Há uma voz de comando em parte dessa vivência, mas depois ela também sai de foco. Ao cabo, esse material pode vir a ser

postado na web, estendendo o campo de ação. O núcleo formado em 2006 trabalha com pesquisa em dança visando a preservar e estimular o trânsito livre de pessoas, informações e ideias. Esquiva-se de uma linguagem específica e ambiciona a reflexão e a realização de propostas inusitadas. Ficha Técnica Com: Andrea Anhaia, Carlos Arão, Cibele Maia, Ester França, Fábio Dornas / Vídeo: Chico de Paula / Edição: Cibele Maia, Júnio Nery / Registro da intervenção: Na Lata

81


Crédito: Claudia Mifano

MÚSICA

Cidadão Instigado toca Pink Floyd (CE)

Isolamento Shima (SP)

de proa da cena musical cearense desde 1994, como Fernando Catatau, Regis Damasceno e Dustan Gallas, parceiros contumazes de outros pares pelo Brasil. Eles assumem desbragadamente as influências do som psicodélico: rara combinação de arranjos instrumentais épicos e melodias sofisticadas. Ficha Técnica Com: Fernando Catatau (guitarra e vocal), Regis Damasceno (guitarra e vocal), Clayton Martins (bateria e vocal), Rian (baixo e vocal), Dustan (teclado e vocal), Dharma Samu (saxofone) e Nayra Costa (backing vocal)

Crédito: Claudia Mifano

Se o espectador fechar os olhos durante o show dessa banda de Fortaleza corre o risco de ser transportado para o anfiteatro de Pompeia, na Itália, onde o conjunto britânico evocado registrou, em 1971, uma de suas apresentações antológicas. Detalhe: o público não pôde testemunhar aquela gravação. O sexteto e a backing vocal do Cidadão Instigado imprimem devoção e reinvenção sonora e performativa ao interpretar na íntegra o álbum The Dark Side of the Moon (1973), clássico do rock progressivo. O pulso autoral fica latente nos ecletismos formal e temático de alguns dos integrantes

ARTES VISUAIS

Em tempos de exacerbação do “eu”, Shima, pseudônimo de Márcio Shimabukuro, prefere a contramão. É difícil localizá-lo nas cidades do Circuito. Ele se abstém de aparecer, anacronismo para os tempos que correm. O lugar desse performer é a margem, a anticelebração. Em sua percepção, o sentido da arte é estimular a experiência sensorial e estética. Para tanto, utiliza o cotidiano como fonte de pesquisa de novos sistemas cognitivos para se ver, sentir e pensar a atualidade. A troca. Trajando roupa social, ele utiliza uma fita zebrada – daquelas plásticas, listradas de amarelo e preto – para provocar reflexões sobre o dia a dia nas cidades. O corpo é suporte. O isolamento desta figura simboliza as situações de solidão, dificuldade de se movimentar e demais sintomas típicos da vida moderna. Shima tem lastros criativos em fotografia, dança e teatro. É nascido em São Paulo e radicado em Belo Horizonte. Ficha Técnica Concepção: Shima.

82

83


Crédito: Pedro Abude

ROTEIRO 5 84

SESC RIBEIRÃO PRETO

BARRETOS GUAÍRA MORRO AGUDO

25 de abril 26 de abril 27 de abril

SESC BIRIGUI

ILHA SOLTEIRA PENÁPOLIS BIRIGUI

2 de maio 3 de maio 4 de maio

SESC ARARAQUARA

TAQUARITINGA DOIS CÓRREGOS MATÃO

9 de maio 10 de maio 11 de maio 85


EXPEDIÇÕES: ILHA SOLTEIRA

ILHA SOLTEIRA

por Luciana Miranda Penna

1 Para se chegar a uma Ilha é preciso um barco, uma ponte, um avião, um helicóptero, alguma coisa suspensa ou que se mova sobre as águas. O cronista chegou de van. 2 O nome da Ilha não é o nome dela. Ela é continente e seu nome vem da Ilha à sua frente. A cidade de Ilha Solteira poderia se chamar: Terra Solteira. 3 A cidade poderia se chamar Brasília, por ser da década de 60, por ser planejada, por apontar para um projeto de Brasil grande, para dentro de um Brasil-longe, no meio do Brasil. Mas Ilha Solteira é outra coisa. Em vez de superquadras, ela tem clubes. 4 A cidade tem muita música, até um Festival de MPB, como nos anos 60. Mas diferente dos anos 60, como quase tudo meio anos 60 da cidade. 5 Os moradores da Ilha quase não veem o rio, só pescadores ou aqueles que vão para beira do Rio. São poucas as beiras, em algumas mora gente, numa das casas vivem também morcegos. Tudo bem, a moradora não paga aluguel.

86

6 As pessoas com casa com morcego são nível 6, as pessoas com casa sem morcego e muitos eletrodomésticos e piscina são nível 1. Entre o 1 e o 6, há os níveis 2, 3, 4 e 5, mas em pouco tempo não dá para ver degradê. Eles existem. O cronista é muito preto no branco. Leviano, segundo ele. 7 A cidade foi planejada e construída em castas ou níveis. Em ordem decrescente as pessoas vão ficando mais claras. Há exceções, sempre há. O cronista não viu a planta da cidade no papel, só na boca das pessoas. 8 A cidade é a Avenida Brasil da cidade, o resto é paralelo a ela. Os paralelos parecem poucos, em pouco tempo de cidade. 9 Muitas pessoas fazem jogging na avenida todo fim de tarde. Parecem muito mais saudáveis do que um paulistano médio. O cronista não sabe precisar o que seja um paulistano médio. 10 Segundo o cronista, só se chega a uma cidade sem cruzamentos e esquinas andando reto e olhando para os lados. Uma bicicleta ajuda muito. Há muitas na cidade. O cronista não andou de bicicleta.

11 A praça é só uma, e a catedral não está no meio da praça como em outras cidades do interior do estado, visitadas pelo cronista. A catedral é a secretaria de cultura, o que é muito moderno. 12 A Ilha é laica e ecumênica. A catedral fica ao lado da biblioteca. Os terreiros ficam na mata, onde é o lugar deles. 13 As pessoas da Ilha são muito prestativas. Talvez porque tenham vindo de todos os lugares para construção de algo fosse novo e comum, mesmo com castas. As pessoas da Ilha gostam muito de receber o novo. Mesmo que o novo seja o cronista de um único dia na vida delas. E, segundo o cronista, velho. 14 Uma usina hidrelétrica em geral nasce para uma cidade, Ilha Solteira nasceu para uma usina. A inversão se deve a uma ideia de Brasil. 15 A catedral é a usina. 16 A catedral é uma zona de risco. E é uma zona estratégica. Se bombardearem a catedral, o país apaga, assim como o coração de Cristo.

17 A catedral tem 75 metros de fundura. O cronista desceu 45 metros. Passa bem. 18 A catedral é tão faraônica quanto uma pirâmide, só que com 20 reatores. O cronista não conhece o Egito. 19 O barrageiro é aquele que vive em barragens construindo usinas, se ele quiser ficar numa cidade, tem que comprar seu terreno como todos os outros que nem sabem o que é barragem. 20 O refrão ‘Uma vez barrageiro, sempre barrageiro’, não é verso do hino da cidade, mas bem poderia, segundo o cronista. Há controvérsias. 21 Tem os que compram rancho, uma espécie de casa de campo do ilhado. Ele diz que o chão que some dos seus pés é obra da Usina que assoreia as terras; a Usina diz que a culpa é do rancheiro que come com os pés a terra da Ilha. A Usina diz também que há o impacto, mas sem impacto o Brasil não iria para frente. Aqueles rancheiros também não.

87


22 A Ilha já foi fechada por uma guarda particular. Mesmo que os ilhados fossem outros de outros lugares, ainda havia gente considerada ainda mais outro do que eles. Saber quem era mais que eles era uma questão de segurança não só local, mas nacional. E particular. 23 A cidade fica numa divisa entre estados, mas o outro lado é muito longe e, segundo depoimentos, pouco bom. As crianças de um lado frequentam o zoológico de outro. Não se sabe em que idade as crianças criam lados. 24 Como a cidade e as pessoas da cidade nasceram juntas, não há muito como não gostar da cidade. 25 As nuvens da cidade são soltas. E há música, e festival de música, e orquestra sertaneja, e aulas de música nas escolas, e há teatro climatizado, e há dois cinemas climatizados, e festival de cinema. As nuvens não são climatizadas.

88

26 Seu João pesca pacu, curumbatá, porquinho, lambari, cascudo, piapara, piapau, tucunaré, curvina, armado, surubim, curimatã-pioa, tambaqui, todos já adultos. 27 Segundo o cronista a água da cidade não é gasosa, é elétrica. Ele achou muita graça disso. E riu. 28 Dá pra ver a cidade de qualquer lugar da cidade, os prédios e casas são baixos e a Avenida Brasil, larga. Os dois irmãos violeiros e cadeirantes podem morar sozinhos e passear e ir ao banco sem ninguém empurrando. Se eles se perderem, a cidade toda sabe onde eles estão. A cidade toda sabe de tudo. 30 O estrangeiro gosta de nuvens. É como ter a casa de infância em todo lugar, mas sem ser a casa da infância. Como uma Ilha que não é uma Ilha.

31 Os motivos pessoais e arquitetônicos e institucionais e espirituais se cruzam, se alimentam e retroalimentam e crescem. E a experiência não se sabe de que ordem é, mas é. Boa e ruim, como a cidade. 32 A intuição é definitivamente a grande ferramenta da expedição, segundo o cronista. A intuição às vezes falha.

35 Na cidade, as mulheres têm altos cargos, são homenageadas e mandam. Característica a ser investigada por outras expedições. 36 O cronista jamais se esquecerá de um Tatu que conheceu, quase o levou embora. Mas isso seria levar a casa, a casca, a couraça do Tatu, a Ilha dele.

33 A abertura da gente da Ilha atravessa o cronista feito a água do rio encharcando a sua roupa. 34 Tudo que o cronista viu na cidade e maldisse dissolveu-se ao primeiro mergulho numa praia de rio da cidade. Uma praia suja sempre vai ter a aura da praia e os moradores de uma cidade de praia, mesmo com a praia fora de vista (e do corpo), sempre serão mais aquáticos e sagrados do que qualquer cronista que gosta de nuvens.

89


Jonas Meirelles Ilustraçþes

90

91


Jonas Meirelles Ilustrações

92

Jonas Meirelles Ilustrações

93


DANÇA

Cardápio de Dança Liga da Dança Dura (SP) as presenças e escolhas de adultos e crianças despertam. A combinação do que virá corresponde às percepções de cada um. A companhia Liga da Dança Dura foi fundada em 2009 durante processo formativo em dança contemporânea na Escola Livre de Dança Santo André. Ficha Técnica

Crédito: Pedro Abude

À sauté, à dorê, poché ou “fritê”? É só escolher o estilo de prato que os dançarinos vão como que traduzi-los em movimentos corporais. Em suma, é a proposta do espetáculo que usa a metáfora do restaurante. Trata-se de obra de improviso cênico livremente inspirada nos pedidos dos transeuntes no local não convencional em que acontece a apresentação. O menu especial inclui ingredientes como “memória”, “frase”, “espaço” e “pedestre”, além dos modos de preparo citados anteriormente. Eles equivalem a células coreográficas criadas na interação direta. O ponto de partida dos artistas são as sensações que

Idealização: Fabiana Bueno de Castro, Evandro Gonçalves e Larissa Pretti / Com: Evandro Gonçalves, Larissa Pretti e Tatiana Cotrim / Concepção de Figurino: Fabiana Bueno de Castro e Juliana Nunes

Crédito: Pedro Abude

INTERVENÇÃO TEATRAL

O Pequeno Grande Teatro Cia. Mala Caixeta de Teatro Surpresa (SP) Um teatro em miniatura com direito a orquestra, iluminação, trilha sonora e lugar para o espectador. Um por vez, o público se posiciona em frente a uma das três caixas cenográficas em que são apresentadas peças curtas livremente inspiradas em clássicos da literatura universal. Em Os Lusos, um navio parte rumo às Índias e, no percurso, enfrenta monstros marinhos e outros perigos até chegar à cidade de Calicute. Em A Selva, o índio Peri luta com onças bravas e perigosos bandeirantes e, em meio a vários desafios, encontra finalmente a jovem e bela

94

Ceci. Em O Seco, uma família do sertão parte em busca de uma vida melhor na cidade grande. Há dois anos a Cia. Mala Caixeta de Teatro aperfeiçoa suportes de atuação como o teatro lambe-lambe, cujas bonequeiras baianas Ismine Lima e Denise dos Santos são precursoras, desde 1989, e inspiram núcleos de diversas regiões do Brasil. Ficha Técnica Direção: P. H. Alves / Com: Verônica Giordano. Elvira Cardeal e Rosana Borges

95


CIRCO

O Pintor

Crédito: Pedro Abude

Barracão Teatro (SP)

CINEMA

Brinquedos Óticos Coletivo Unsquepensa (SP)

96

Ficha Técnica Direção, criação e atuação: Esio Magalhães

diferentes, distribuídos por uma placa circular lisa. Quando esta gira defronte um espelho, criase a ilusão de uma imagem em deslocamento. O grupo joga com essas simpáticas engenhocas na relação com os amantes da sétima arte, não importa a idade. Ficha Técnica Direção: Nanda Ribeiro e Mazzon Gil / Atores-artistas: Fernanda Ribeiro e Carlitos Tostes. Projeto dos brinquedos ópticos: Mazzon Gil / Figurino: Melissa Peixoto de Vargas

97

Crédito: Pedro Abude

Na intervenção, os artistas aparecem vestidos como personagens do século XIX a demonstrarem a funcionalidade de dois aparelhos de nomes que soam esquisitos e estão na gênese da história do cinema mundial. Eles recriam o zootrópio, máquina inventada em 1834, pelo matemático inglês William George Horner, composta por um tambor circular com pequenas janelas recortadas. Através delas o espectador olha para desenhos dispostos em tiras. Ao girar, o tambor cria uma ilusão de movimento. Já o fenacistoscópio, dispositivo revelado em 1829, pelo físico belga Joseph Plateau, consiste em vários desenhos de um mesmo objeto, em posições ligeiramente

O espetáculo mostra as desventuras de um palhaço tão prestativo quanto atabalhoado na tarefa de pintar uma bandeira. Mas nem tudo é como parece e o simples ato se revela mais complicado e perigoso do que um duelo a mão armada. Zabobrim é obrigado a seguir um modelo de que não gosta. Eis o conflito dramático de um palhaço e sua missão: combinar cores sobre uma bandeira e aos olhos do público. Zabobrim, pois, é como o ator Ésio Magalhães teve seu palhaço batizado, presença constante em boa parte das criações do grupo Barracão Teatro, radicado em Campinas. O rolo de lã sintética e a escada são alguns dos objetivos revirados de ponta-cabeça pela destrambelhada e carismática ação dessa figura tributária de Benjamin de Oliveira, de Piolin e de Arrelia, para citar um respeitável trio que fez história nos picadeiros nacionais. Zabobrim pinta o sete na roda de espectadores.


O Romance do Vaqueiro Benedito

Crédito: Pedro Abude

TEATRO

Mamulengo Presepada (DF) Alguns personagens desse clássico da cultura popular, de extração nordestina, guardam parentesco formal e temático com seus pares da Comédia Dell’Arte, o teatro de rua que percorreu cidades da Itália no século 15 e depois se espalhou pela Europa. Estamos falando de “gente” como Zé da Sanfona, Rosinha do Bole-Bole e Palhaço da Vitória. Seres mitológicos como Alma da Defunta Sem Vergonha, José Lusbel Tufá e Jaraguá. Ou animais simbólicos como a cobra grande Carpina, o bumba-meu-boi Estrela, o urubu Limpa Mundo e o passarinho Boa Nova.

Em 29 anos de estrada e de apuro na técnica de manipulação do fantoche que vem com seu nome, o grupo Mamulengo Presepada, de Taquatinga, no Distrito Federal, bola um roteiro variado de brincadeiras que atinam sobre questões particulares e se universalizam por identificação com qualquer plateia. Ficha Técnica Com: Chico Simões / Músicos: Flávia Felipe Inácio, Cristiane Brandão Peres, Joaley Almeida Lemos.

MÚSICA

Crédito: Pedro Abude

Karina Buhr canta Secos & Molhados (PE) A cantora e compositora pernambucana rende homenagem ao antológico álbum do grupo homônimo gravado em 1973 no estúdio paulistano Prova e prensado pela Continental. Sete meses antes, um show realizado na Casa de Badalação & Tédio, espécie de anexo do Teatro Ruth Escobar, revelava a performance musical singular de João Ricardo, Gerson Conrad e Ney Matogrosso, este o vocalista que requebrava provocante e emanava voz incomum. Na capa do primeiro disco, o fotógrafo Antônio Carlos Rodrigues cria uma mesa de jantar com produtos perecíveis normalmente vendidos em um armazém. Porém, o prato principal do banquete era a cabeça dos músicos. 98

Karina Buhr e banda passeiam pelas 13 faixas do vinil, um dos marcos da história da música brasileira com canções como Sangue Latino, O Vira, Assim Assado e Rosa de Hiroshima. Letras e comportamentos transgressivos em plena ditadura militar (1964-1985). Ficha Técnica Com: Karina Buhr (voz), Mau (baixo), Guizado (trompete), Caetano Malta (violão), Davi Bernardo (guitarra) e Samuel Fraga (bateria)

99


Crédito: Tatit Brandão

ROTEIRO 6 100

SESC RIBEIRÃO PRETO

SERTÃOZINHO JABOTICABAL FRANCA

25 de abril 26 de abril 27 de abril

SESC BIRIGUI

ARAÇATUBA ANDRADINA LINS

2 de maio 3 de maio 4 de maio

SESC ARARAQUARA

IBITINGA JAÚ BOA ESPERANÇA DO SUL

9 de maio 10 de maio 11 de maio 101


EXPEDIÇÕES: JAÚ

DIÁRIO DE BORDO – EXPEDIÇÕES CIRCUITO SESC DE ARTES por Rodrigo Ciríaco

CRÔNICAS - JAÚ A VIDA, AINDA QUE TARDIA: CEMITÉRIO “CRIOLANO” Por mais contraditório que pareça, o cemitério de Jaú transborda vida. E histórias. Muitas delas possíveis de serem observadas no olhar atento sobre os túmulos. Nos sujeitos – hoje personagens – que habitam suas quadras: o aviador João Ribeiro de Barros, pioneiro na travessia aérea do Atlântico, Caveirinha e seus pedidos; Coriolano (ou Criolano) e seus cavalos de paus, os bebes “gêmeos”. O cemitério é um museu vivo, a céu aberto. Para alguns, muitas vezes interativo. Passível de visitação a noite: uma das poucas que faz o famoso passeio cemiterial noturno, com saraus, apresentações de teatro dentro do cemitério. Com público de até 400 pessoas, segundo nossas fontes pessoais, e com direito até a entrega de pizza. Corrijo-me: esfihas. Umas das coisas mais interessantes para se observar é algo que é visto como comum: em determinada parte do cemitério, não há muros que separam o jardim do descanso

102

dos mortos das casas dos vivos. Sim, o cemitério é vizinho de casas residências que começam – ou terminam – dentro dele. Como se este fosse o quintal e prolongamento das casas. Ou como se as casas fossem a extensão do cemitério. Ou seja: é possível observar um enterro da cozinha, quando se está lavando a louça, ou do quarto, pouco antes de rezar para dormir. Penso que é bom não esquecer de fazer uma prece para os mortos. A arte cemiterial é algo interessante de ser observado. Assim como a diferença que muitas vezes existem entre os túmulos. Se em alguns deles é possível descobrir toda a opulência, toda a influência e riqueza das famílias antes de a terra igualar a todos, em outros é possível enxergar a miséria da condição humana. E o desrespeito, mesmo após a morte – em uma tumba, coberta apenas por tijolos, uma mensagem grita: “FAVOR NÃO JOGAR LIXO”.

CRÔNICAS – JAÚ O CISNE NEGRO Todas as idades, todas as formas. Todas as cores, todos os tamanhos. Uma orquestra corporal, movimentando-se ao som – e orientações – de um único regente. Negro. Com asas e um enorme sorriso. Clayton não precisa de sobrenome. Se perguntar sobre o Hip Hop Núcleo ou o professor da aula de ritmos verá que ele é conhecido em todos os cantos da cidade de Jaú. “Pense em lugar da cidade. Qualquer lugar. Eu entro e saio a qualquer hora”. E fala isso com uma humildade natural, de quem transmite a verdade não por convicção, mas por conhecimento. E pra quem circula nas quebradas do mundaréu, sabe que isso não é pouco. Suas aulas semanais, as terças e quintas-feiras no ginásio de esportes Dr. Neves ou no parque do rio Jaú reúnem duzentas, trezentas pessoas. Já deu uma aula pública no parque citado para mais de 800 (oitocentas) pessoas. Em um evento de música da cidade em que ia se apresentar um grupo de fora e ele teve que segurar o palco por quase uma hora, por conta do atraso do grupo convidado, foram quase 5.000 (cinco) mil alunos. E isso que começou com apenas seis alunos, em fevereiro de 2013, há pouco mais de um ano. Na platéia: jovens, adolescentes, senhoras, crianças. Mulheres, muitas mulheres. A dança é comunitária, e contagia. Faz você ter coragem de perder a vergonha. Querer dançar,

compartilhar. Ainda que em passos não tão sincronizados, ainda que não acompanhe com perfeição o movimento. O mais importante é que cada um esteja ali, desenvolvendo o seu próprio ritmo. Cada integrante é uma peça, movendo-se ao seu passo. E cada pessoa, fazendo o seu trabalho, faz a máquina “dança comunitária” girar por inteiro. O que o faz ser tão popular não é mistério. Em primeiro lugar: um educador nato. Forjado no asfalto, na insistência de quem acredita do suor, na batalha; estuda, corre atrás e não usa a adversidade como desculpa. Em segundo lugar, a competência, traduzida na sua didática de trabalho, que faz com que jovens, adolescentes, que nunca tenham dançado break, street dance, possam acompanhá-lo em uma música com pouco mais de vinte minutos de orientação, instrução e ensaio. Ninguém me contou essa mágica: eu vi. E por fim, para ficar por aqui, sua filosofia de vida: sorria, sorria sempre. Ainda que não haja motivos para sorrir. Pois como disse o poeta Sérgio Vaz e Clayton executa isso na prática: “sorrir enquanto luta é uma ótima forma de confundir os inimigos”. Não tenho dúvidas em dizer que Clayton é um vencedor, um ser humano admirável. Não apenas pelo trabalho em si, que já é espetacular: dar aulas públicas, gratuitas, de dança de ritmos, em parques ou ginásios,

103


reunindo centenas de pessoas não é para qualquer um. Mas o que destaca ainda ao conversar com ele é sua filosofia de vida: a dança pela paz. Algo que começou lá atrás, quando as gangues de rua resolveram trocar a disputa física pelo break, batalha no chão. Passos largos, ensaiados ou não, para elevar a autoestima e o espírito. Clayton é isso. Quebrando barreiras, fronteiras. Inclusive quando o assunto é o mo(vi)mento: “você é do

hip hop não pelo seu jeito de vestir, andar, falar. Você é do hip hop se você trabalha pelo movimento”. Clayton é: puro hip hop cultura de rua. Em uma cidade do interior de São Paulo, um homem negro permanentemente armado com sorriso no rosto, dotado de asas, sobrevoando conservadorismos e preconceitos de quem não aceita o próximo vencer muitas vezes apenas por não respeitar e conhecer.

CONTOS - JAÚ O CAVALEIRO DE JAHU Criolano passeia pelas ruas com seu cavalo de pau: dois bambus amarrados com trapos. Parece feliz. Imponente como um cavalheiro sobre o seu cavalo branco das crinas douradas. Cruza o rio Jaú, faz uma pausa no cano torto para matar a sede. Antes de colocar a boca sobre a palma da mão que recebia a água, para. Contemplativo. A cabeça abaixa. O semblante muda, agora está triste. Lentamente se vira, monta nos seus bambus e sai. O galope não é mais o mesmo. A alegria não mais faísca em seu peito. Ele apenas caminha com o cavalo. Nos ombros, o peso do fardo. Encontra um grupo de crianças saindo da escola. Elas passam, caçoam aquele senhor sobre o cavalo de pau. Chutam o rabo do cavalo. Criolano grita, defende-se como pode. Corre atrás das crianças. Quando volta: não encontra seu animal. Chora. Seu João pega na mão de Criolano, leva-o até atrás do poste. Mostra o esconderijo do 104

cavalo. Brevemente ele sorri, escorre o nariz no antebraço, com a manga da camisa enxuga as lágrimas. Agradece e vai. Caminhando paralelo ao rio. Colhendo flores da beira. Recolhendo flores do quintal, no jardim das casas. Formando um buquê. As pessoas sabem o que isso quer dizer: alguém cruzou a linha de partida. A hora foi chegada. Criolano não tem o endereço, mas sabe para onde ir. Sabe onde fica a casa. Algumas pessoas cruzam com ele montando em seu cavalo de pau, levando flores. É o sinal. Param em respeito. Seu Arnaldo tira o chapéu, aperta contra o peito. “Deus abençoe esta alma”. Tec-Tec-Tec-Tec-Tec-TecTec-Tec, vinte minutos caminhando, o cavalo para. Criolano desce. Toca a campainha. A viúva abre a porta. Ele é o primeiro a chegar. Ela o recebe, terço nas mãos, o véu sobre o rosto. Criolano chora: “Meu irmãozim...”. Ele entra. A porta encerra.

Rodrigo Ciríaco Jaú Fotopoesia

105


Chris Moraes

Clayton, 2014 lápis grafite e guache sobre papel com impressão 21 x 29,7cm

Chris Moraes

Criolando – IBICA RE IG, 2014 lápis grafite, caneta hidrocor e guache sobre papel 21 x 29,7cm

106

107


Crédito: Tatit Brandão

LITERATURA

Liberte a Poesia Cia. Clara Rosa (SP) A ancestral arte de contar histórias culmina na contemporaneidade com o uso de técnicas da arte da narração. Esta encontra sua outra face, a da recitação de poemas, em atividade da companhia paulistana em que os participantes são acolhidos e conduzidos a explorar suas percepções corporais e vocais para externar o imaginário por meio das palavras. Eles têm a chance de declamar, cantar, contar e destrancar os vocábulos e versos engaiolados, por assim dizer. Os artistas acreditam que esses são os verbos-chave para a missão de libertar a poesia

que fica presa às pessoas e não as permitem expressar o pensamento e a subjetividade do eu lírico. Todos seriam mensageiros e o projeto os incentiva a sentir-se em casa. O ambiente é envolvido pelos sons instrumentais do triângulo, alfaia, violão e percussão, além do canto compartilhado por meio do qual o trio enreda o público em clima de festejo. Ficha Técnica Direção Artística: Susana Diniz / Direção musical: Renato / Com: Gisélia Lima, Noel Francisco e Susana Diniz.

CINEMA Crédito: Tatit Brandão

Brinquedos Óticos Coletivo Unsquepensa (SP) Na intervenção, os artistas aparecem vestidos como personagens do século XIX a demonstrarem a funcionalidade de dois aparelhos de nomes que soam esquisitos e estão na gênese da história do cinema mundial. Eles recriam o zootrópio, máquina inventada em 1834, pelo matemático inglês William George Horner, composta por um tambor circular com pequenas janelas recortadas. Através delas o espectador olha para desenhos dispostos em tiras. Ao girar, o tambor cria uma ilusão de movimento. Já o fenacistoscópio, dispositivo revelado em 1829, pelo físico belga Joseph Plateau, consiste em vários desenhos de um mesmo objeto, em posições ligeiramente diferentes, distribuídos por uma placa circular 108

lisa. Quando esta gira defronte um espelho, criase a ilusão de uma imagem em deslocamento. O grupo joga com essas simpáticas engenhocas na relação com os amantes da sétima arte, não importa a idade. Ficha Técnica Direção: Nanda Ribeiro e Mazzon Gil / Atores-artistas: Fernanda Ribeiro e Carlitos Tostes. Projeto dos brinquedos ópticos: Mazzon Gil / Figurino: Melissa Peixoto de Vargas

109


DANÇA

TEATRO

Jam 1mm

O Vendedor de Palavras

Cristian Duarte / The Collective Jazz and Guests (SP)

Teatro Mototóti (RS) Milho é o nome do menino do interior que sonha em ir para a capital e encontrar sua “amiga” Espiga. Ela o aguarda para, juntos, encherem o mundo de pensamentos, sonhos e palavras. Já os avós dele, Odete, uma impertinente senhora alemã, e Adam, um grande inventor Inglês, não vão poupar vocábulos nem artimanhas para mantê-lo sob suas asas, garantindo o humor próprio do teatro popular. O enredo campestre tem tudo a ver com a identidade do grupo gaúcho de teatro de rua. O nome Mototóti vem da expressão que a atriz Fernanda Beppler usava em criança, ainda aprendendo a falar, para pedir à mãe, em pleno pomar, pela fruta bergamota, como a tangerina também é chamada no sul do país.

A performance criada em 2012 toma como objeto o jazz, modalidade da dança. Está em jogo a improvisação. O contexto é um “passeio emocionado” que coloca em relevo a plasticidade de um passo, de uma presença e de um olhar. A música, bem ao estilo vintage proposto pelo diretor, Cristian Duarte, é On Broadway, popularizada em 1978 pelo guitarrista norte-americano George Benson. Dançarinos e público pode propor seus passos para compor esse encontro aberto e descontraído, com a intenção de resgatar as festas de antigamente. O grupo leva figurinos para a plateia se caracterizar com estilo. Duarte foi colaborador do Estúdio e Cia. Nova Dança entre os anos de 1994 e 2000. Suas criações e produções em dança contemporânea promovem o trânsito por diversas áreas do conhecimento, pautando-se por parcerias e colaborações em formatos mutantes.

O núcleo nasceu em 2007 junto com essa obra contracenada com Carlos Alexandre. Máscara, boneco e música ao vivo realçam a poesia da história de amor à palavra e aos livros, por extensão. E aos leitores, claro! Ficha Técnica Dramaturgia: Rodrigo Monteiro, a partir de crônica de Fábio Reynol / Direção: Arlete Cunha / Com: Carlos Alexandre, Fernanda Beppler / Figurinos: Coca Serpa / Cenário: Carlos Alexandre, Zoé Degani / Trilha Sonora Original: Fernanda Beppler / Máscaras e bonecos: Paulo Fontes, Eduardo

Ficha Técnica

110

Crédito: Tatit Brandão

Crédito: Tatit Brandão

Direção e performance: Cristian Duarte / Com: Alice Bonamin, Alexandre Magno, Carolina Mendonça, Clarice Lima, Felipe Stocco, Isis Carolina, Leandro Berton, Natasha Vergilio, Patrícia Árabe, Maurício Flores, Rodrigo Andreolli e Natália Mendonça / DJ: Bruno Levorin

111


CIRCO

Pelada na Rua Alexandre Roit (SP) entusiastas com os quais divide a roda. Todos podem ser cúmplice da brincadeira ciceroneada pelo artista que soma mais de 20 anos de lida com o improviso. Espetáculo solo para a rua que faz do riso um ato coletivo. Ficha Técnica Concepção e atuação: Alexandre Roit / Figurino: Luciana Bueno / Adereço de futebol: Inês Sacai / Confecção do laço: Mateus Bonassa

Crédito: Tatit Brandão

A bola, as embaixadinhas, o apito do juiz, a trave, o gol, mas também as facas, os malabares e um número musical como gran finale. O fraque e a cartola, ambos de fachada, logo cedem lugar ao calção frouxo que acentua os cambitos do atleta, mais para palhaço de picadeiro do que jogador de futebol que interage divertidamente com os espectadores. Sob o pretexto de que qualquer cidadão comum pode se transformar num fenômeno do futebol, o ator e palhaço Alexandre Roit encontra na plateia os pares dessa pelada. Faz da precariedade o seu mote de sofisticação ao pinçar da audiência “atletas” voluntários e

MÚSICA

Crédito: Tatit Brandão

Mundo Livre S/A (PE) O show da banda pernambucana concentra faixas de seu sexto álbum, Novas Lendas da Etnia Toshi Babaa, de 2011, sob bases eletrônicas inventivas e declarada influência da obra do cantor e compositor Jorge Ben Jor. Os temas passeiam por figuras que habitam o imaginário popular, questões políticas, trocadilhos, sarcasmo, metáforas maliciosas e batuques modernos. O resultado é singular e inclui canções como Constelação Carinhosa, O Velho James Browse Já Dizia, Cabôcocopylefte e A Fumaça do Pajé MitiSubtixxiii. A formação liderada por Fred Zero Quatro despontou em 1984, em Recife, dentro do movimento Manguebeat, ao lado 112

de Nação Zumbi, leia-se Chico Science, e outros criadores que misturavam maracatu, samba, hip-hop, sons eletrônicos e guitarras pesadas. O nome Mundo Livre S/A foi retirado de discurso do ex-presidente norte-americano Ronald Reagan, ícone do neoliberalismo. Ficha Técnica Com: Fred Zeroquatro (vocal, cavaquinho, violão e guitarra), Walter Areia (baixo), Xef Tony (bateria), Léo D. (teclado e efeitos) e Pedro Santana (Percussão).ópticos: Mazzon Gil / Figurino: Melissa Peixoto de Vargas

113


Crédito: Marco Flávio

ROTEIRO 7 114

SESC SOROCABA

SÃO ROQUE ITU VOTORANTIM

25 de abril 26 de abril 27 de abril

SESC SÃO CAETANO / SESC BERTIOGA

GUARULHOS MAUÁ SÃO CAETANO DO SUL

2 de maio 3 de maio 4 de maio

SESC CAMPINAS

MOGI MIRIM AMERICANA JUNDIAÍ

9 de maio 10 de maio 11 de maio 115


EXPEDIÇÕES: ITÚ

LIMITE 1

por Marcelo Maluf

ESTANDO O POETA SENTADO DEBAIXO DE UM ORELHÃO GIGANTE BEBENDO TRANQUILO UM CAFÉ, FOI TOMADO DE SÚBITO POR UMA GRANDE QUEDA D’ÁGUA. foi a grande queda d’água misturando-se ao melado da cana o silêncio espesso de um movimento confabulando desatinos foi a rachadura nos olhos daquela árvore gigante jorrando memórias proibidas de renascer onde tudo deve ser maior

de inventar amores engaiolados a receita é fácil do it yourself:

foi a grande queda d’água as ondas inabitadas de não caber em si o riso do caipira num programa de tevê me diz Nossa Senhora da Candelária qual é o tamanho exato que me serve se já não posso com vestes resumidas enxugar o sangue do rosto do teu filho? se já não vejo Amansio, Jacob e Marciano carregando a mesma cruz no cativeiro se agora vivem entregues aos séculos que forjaram suas vozes no moinho da cana no lombo do cavalo ou no chicote das palavras

é no grilhão que se aprende como se imagina uma cidade

30 gramas de amêndoas e nozes 30 gramas de açúcar e seis gemas são capazes

basta criar uma calda ao ponto de ajuntar-se mexer até desapegar do fundo a língua dos escravos

foi a grande queda d´água que inundou aquele rio de sangue aquele poço de leite e me trouxe na bagagem uma queda de imigrantes italianos, jesuítas sonâmbulos jogando bola com cabeças de índios alfabetizando selvagens foi a grande queda d’água que me banhou de certeza. A vida já foi menor, hoje aqui tudo é grande: o desejo do soldado a cabeça da serpente ou o umbigo daquele bandeirante foi a grande queda d’água que me trouxe até aqui. agora já não sou um, me divido em três artistas errantes.

Fabio Tremonte

116

117


Fabio Tremonte

118

119


ARTES VISUAIS

INTERVENÇÃO TEATRAL

Todos Podem Ser Frida

Do Fundo do Mar

Camila Fontenele de Miranda (SP)

Cia. Fios de Sombra (SP)

120

cotidiano de cidadãos de todas as classes, raças ou gêneros. Na paleta, temas como “amor”, “dor”, “inteiro”, “cores” e “aborto”. Bacharel em publicidade e propaganda, a paulistana Camila desenvolve trabalhos autorais desde 2007 nas interfaces fotografia, vídeo e artes plásticas.

Através de uma fresta o olhar do espectador descortina um oceano de possibilidades imaginárias ao acompanhar uma breve aventura marítima. O suporte dessa experiência – uma caixa diante da qual o espectador senta, coloca um fone de ouvidos e observa o que acontece dentro dela – evoca a arte dos lambe-lambe, os fotógrafos ambulantes que percorriam praças e feiras registrando as pessoas por meio de seu equipamento coberto por um pano preto e que soltava fumaça a cada clique. A um só tempo visual e sonora, a narrativa ancora figuras milimétricas que viram personagens, objetos e paisagens. A visão idílica de uma embarcação, de

Ficha Técnica Concepção e criação: Camila Fontenele de Miranda / Fotografia: Camila Fontenele de Miranda, Érika de Faria Alves, Lilian Tsurue Chinen Higa / Maquiagem: Paula Segalla Borges Pinto, Ester de Souza Gavev e Adriana Alves Aranha.

Crédito: Marco Divulgação Flávio

Crédito: Marco Flávio

Colocar-se no lugar do outro. Maquiar-se, paramentar-se com as cores e as sobrancelhas da pintora mexicana Frida Kahlo (1907-1954). A alteridade é o mote da fotógrafa Camila Fontenele de Miranda nesse projeto em que adapta uma tenda como estúdio ou camarim. Uma equipe de profissionais da imagem e maquiadoras convida homens e mulheres a se deixarem fotografar sob a inspiração do enigmático e penetrante rosto daquela que, a despeito dos sofrimentos físicos decorridos de um grave acidente, não recuou da lida permanente com as artes visuais. A proposta humaniza a introspecção do olhar da homenageada. Um instantâneo poético no

repente, é sacudida por um resgate no fundo do mar. A criação da Cia. Fios de Sombra, na estrada desde 2011, tem colaboração do uruguaio Rafael Curci, radicado na Argentina e referência latinoamericana no teatro de formas animadas. Ficha Técnica Dramaturgia, direção e concepção visual: Lucas Rodrigues / Estrutura dramatúrgica: Rafael Curci / Manipulação de figuras e operação de luz: Paloma Barreto, Bruno Cardoso, Elaine Vilela, Thabata Carvalho, Wagner Wakka/ Realização de títeres de sombras e cenografias: Rafael Curci / Trilha Sonora: Lucas Rodrigues / Sonoplastia: Paloma Barreto

121


CIRCO

Apalhassadamuzikada... Uma Sinphonia Engrassada! Cia. Teatral Turma do Biribinha (AL) Crédito: Marco Flávio

O espetáculo de rua é inspirado na palhaçaria, como a arte do palhaço costuma ser definida na perspectiva das manifestações populares arraigadas no nordeste do país. A dupla Biribinha (Teófanes Silveira) e Pipoca (Seliana Silva) emenda números musicais executados com instrumentos convencionais ou inusitados, quando não imaginados, sempre bebendo da interação e direta com os espectadores. Por trás do enredo de gags, deseja-se expor a necessidade de vínculo com o outro em todos os planos da vida. O ator, diretor e produtor Silveira nasceu sob a lona de um circo em Jequié, no sudeste baiano.

INTERVENÇÃO TEATRAL

Contava 6 anos quando seus pais já o incluía nas intervenções sobre o picadeiro. Eis o artista por trás do nariz vermelho do Palhaço Biribinha, mais de meio século na bagagem, além da herança familiar. Vivendo em Arapiraca, no interior alagoano, ele é um dos discípulos da tradição do circo no nordeste do país. Ficha Técnica Direção: Teófanes Silveira / Com: Seliana Silva, Teófanes Silveira / Concepção musical: Coré Valente / Sonoplastia: Vera Silveira

Corpos de Passagem Vestidos de preto, oito bailarinos vão ao espaço público sem a preocupação de dançar. Antes, buscam um estado permanente de disponibilidade para interagir, comprometer-se com as situações que encontram no meio do caminho, feito a pedra de Carlos Drummond de Andrade. Há que lapidá-las ou crispá-las nesse ambiente não familiar tanto para quem está em cena como para quem a frui. Há que cavar deslocamentos. Propiciar sensações desestabilizadoras na performance urbana em que público e artistas se retroalimentam. Sem ameaçar, sem se impor. Um trabalho diferenciado no conceito de intervenção, como pontua a crítica Helena Katz, de O Estado de S.Paulo. Conjugar 122

Crédito: Marco Flávio

Grua – Gentlemen de Rua (SP) mobilidade e improvisação é o desafio do grupo formado há 12 anos. Alguns dos seus integrantes foram ligados ao Balé da Cidade de São Paulo. Portanto, treinados sob as técnicas clássica e moderna, ora plantando poemas no asfalto. Ficha Técnica Direção: Osmar Zampieri, Jorge Garcia e Willy Helm / Com: André Graça, Bruno Peixoto, Fernando Lee, Fernando Martins, Flávio Lima, Henrique Lima, Joaquim Tomé, Jorge Garcia, Osmar Zampieri, Sérgio Rocha, Willy Helm, Vitor Basi e Marcelo Bucoff / Figurinos: João Pimenta

123


Crédito: Marco Flávio

TEATRO

Fausto

Homem vende a alma ao diabo em troca de determinados privilégios material, amoroso e intelectual que a vida lhe proporcionaria. A lenda alemã desse herói às avessas que teria vivido no século 15 foi dramatizada, entre outros, por Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832). Eis a fonte para a demonstração de processo que o público do interior paulista tem o privilégio de compartilhar. A obra que está sendo gestada adapta o clássico à luz da contemporaneidade brasileira. Uma geração perplexa, hipnotizada e indignada diante do lixo da sociedade traduzido no que ela come, bebe, pensa. O desejo de superar limites e o amortecimento da sensibilidade (física, mental, emocional e social) balizam a pesquisa. A paulistana Cia. São Jorge de Variedades nasce em 1998 com a junção de estudantes da USP. É movida pela lapidação da cena bruta recorrendo a artifícios e procedimentos simples e artesanais. Ficha Técnica Dramaturgia: Georgette Faddel, Claudia Schapira e Alexandre Krug sobre a obra de Goethe / Direção: Georgette Faddel e Claudia Schapira / Com: Patrícia Gifford, Paula Klein, Alexandre Krug, Marcelo Reis, Edgar Castro e Pedro Felício / Direção musical: Lincoln Antônio e Luiz Gayotto

124

Crédito: Marco Flávio

Cia. São Jorge de Variedades (SP)

MÚSICA

Hermeto Pascoal e Grupo (AL) Aos 77 anos, o cantor, compositor e instrumentista Hermeto Pascoal segue explorando as sonoridades da natureza pelas quais é fascinado desde que pisava descalço o chão de terra batida em Lagoa da Canoa, então município de Arapiraca. A partir do talo de jerimum (abóbora), ele fazia um pífano e ficava tocando para os passarinhos. Ao ir para a lagoa, passava horas tocando com a água. O que sobrava de material do seu avô ferreiro, ele pendurava num varal e ficava tirando sons. Esse espírito lúdico e inventivo transparece no show mais recente, ao lado de quinteto e da voz de Aline Morena. Teclado, chaleira e copo de água,

por exemplo, viram matéria-prima para jogar e improvisar no palco com os parceiros da banda sob a cumplicidade incontida do público de 8 a 80 anos. Essa experiência única resulta tão universal como o jazz. Ficha Técnica Com: Hermeto Pascoal (teclado, chaleira, escaleta, berrante, copo com água, oito baixos, flauta-baixo...), Itiberê Zwarg (contrabaixo), Márcio Bahia (bateria), Fábio Pascoal (percussão), Vinicius Dorin (saxes e flautas), André Marques (piano) e Aline Morena (voz e viola caipira)

125


Crédito: Ricardo Ferreira

ROTEIRO 8 126

SESC SOROCABA

ITAPETININGA ITAPEVA ITARARÉ

25 de abril 26 de abril 27 de abril

SESC SÃO CAETANO / SESC BERTIOGA

BERTIOGA ITAQUAQUECETUBA DIADEMA

2 de maio 3 de maio 4 de maio

SESC CAMPINAS

SANTA BÁRBARA D’OESTE BRAGANÇA PAULISTA MOGI GUAÇU

9 de maio 10 de maio 11 de maio

ROTEIRO 4 127


EXPEDIÇÕES: Mogi Guaçu

Fabio Tremonte

LIMITE 2

por Marcelo Maluf

ESTANDO O POETA DENTRO DE UMA PEQUENA CAPELA COM TODOS OS SANTOS, VISLUMBROU A FIGURA DO CRISTO NOS BRAÇOS DE UM ÍNDIO.

estava boiando sobre o grande rio que serpenteia como uma rachadura sonha dentro de uma Igaçaba. no fluxo das águas eu vi tupã sendo crucificado e uma flecha cravada no osso esquecido de uma baleia. conheci um xavante metroviário fazendo a mimese dos gestos de um tatu como se empalha uma memória no corpo de um marimbondo com gravata. li os segredos dos pescadores na líquida travessia entre as margens e vesti uma pele de cobra abandonada a fim de compreender a kundalini enroscada na base da coluna vertebral. estava boiando sobre o grande rio que serpenteia enquanto um grupo de índios dançava para escapar das balas dos bandeirantes. é no fundo das águas que moram os sonhos, disse o pajé. o resto é vestígio de uma vida que rasteja. estava boiando sobre o grande rio que serpenteia e deixei de ser homem para me tornar serpente. submerso escoar no oceano.

128

129


Fabio Tremonte

130

Fabio Tremonte

131


LITERATURA

Microrroteiros da Cidade Laura Guimarães (SP)

Crédito: Ricardo Ferreira

pessoas, grava seus relatos e cria microrroteiros que são impressos e colocados em um painel. Enquanto monta o material fruto de sua incursão, outro painel em branco é disponibilizado ao público para que componha frases, poemas, desenhos, enfim, alimente subsídios para outras historietas que virão. Ficha Técnica Criação e execução: Laura Guimarães / Cenografia: Mônica Rodrigues Fernandes

Crédito: Ricardo Ferreira

Escrever cenas inspiradas no cotidiano, na arte do outro, como ela diz. Imprimir esses lampejos literários em papeis coloridos. Colar esses “lambelambes” em postes, pontos de ônibus, passagens públicas e outros lugares. Como naquela vez em que um menino a acompanhou na hora de afixar a frase “Canta no ouvido dele, dança na fila do cinema” e viajou nas entrelinhas para narrar o que ele entendeu do que leu. São esses pequenos momentos que a roteirista Laura Guimarães busca revelar nos arredores das praças que percorre dentro deste Circuito. Ela conversa com as

DANÇA

Piquenique Urbano Atelier de Coreografia (RJ) A coprodução do Panorama Festival 2013 e da Cidade das Artes nutre-se da perspectiva de levar o público pelo espaço e fazê-lo percorrer as diferentes expressões que o movimento dançado é capaz de proporcionar. Num primeiro momento dois dançarinos prepararam e dividem o ambiente aberto à observação. Células de movimento e gesto ganham expressão pela circularidade horária de um passeio que se dá pela proporção e distanciamento entre ambos. Num segundo momento, estimulam a ocupação de outro espaço e desenvolvem dois solos, alternadamente. Súbito, um terceiro momento introduz estruturas e

132

imagens simbólicas que os intérpretes imprimem em suas ações e intenções. É quando a figura humana em desconstrução possibilita a leitura de um corpo-sensação sustentado pelo alimento e pela arte de dançar. Criação assinada pelo coreógrafo João Saldanha, 27 anos de ofício com seu núcleo. Ficha Técnica Coreografia, argumento, figurinos, direção: João Saldanha / Com: Ana Paula Marques e Thiago Sancho.

133


ARTES VISUAIS

TEATRO

Intervenção de Outono

O Teatro de Caixa

Tom Lisboa (PR)

Teatro de figuras na rua. É nessa modalidade que o grupo de Porto Alegre se encaixa. A narrativa de tom lúdico traz a figura do contador de histórias Valentin, sempre transformada pela arte do encontro. O roteiro maneja três movimentos. No primeiro, a abertura, o público é convidado a embarcar na aventura. Na segunda, transcorre a teatralização adaptada do conto Os músicos de Bremen, dos Irmãos Grimm, adaptada para o espaço diminuto de uma caixa que mais parece um brinquedo. Os criadores intentam aproximar o conto secular da realidade contemporânea. Até cinco espectadores por vez acompanham a

encenação de apenas cinco minutos. Todos são acomodados em pequenos bancos e portam fones de ouvido. As minisessões cumprem um ciclo de uma hora revezando o público em praças, parques e outros espaços não convencionais. Os artistas envolvidos somam mais de 30 décadas de dedicação às artes cênicas. Ficha Técnica Direção e figurino: Liane Venturella / Textos e atuação: Rudinei Morales / Trilha sonora: Álvaro Rosacosta

Crédito: Ricardo Ferreira

Na intervenção do artista visual paranaense o mote advém da estação que rima com renovação. Dentro da percepção de que o outono simboliza o término e, ao mesmo tempo, o início de um ciclo, a intenção é dialogar com essa simetria. A matéria-prima são as folhas de árvores que trocam a “pele” verde pela marrom, evidenciando a passagem de tempo. Sobre esse delicado suporte, veias e sulcos de lâmina vegetal, Tom Lisboa inscreve a frase lapidar, na cor branca e grafada por meio da técnica do estêncil: “É no outono que as folhas se despem de seus sonhos”. Ao cabo, a folhagem é amarrada a balões de gás brancos, uma a uma, e soltas na praça para que ganhem o céu. Elas representam o caminho contrário estipulado para suas vidas. O eterno retorno. Há 14 anos o autor mantém o site sinTOMnizado, plataforma para estimular a reflexão artística.

Rudinei Morales Teatro de Animação (RS)

Ficha Técnica

Crédito: Ricardo Ferreira

Criação e performance: Tom Lisboa

134

135


Crédito: Crédito:Ricardo Divulgação Ferreira

CIRCO

Trixmix Cabaré Trixmix (SP) Inspirado na atmosfera esfumaçada e em preto e branco do filme noir, gênero miscigenado que tomou de assalto a produção norte-americana após a Segunda Guerra Mundial (1914-1945), o espetáculo desfila estripulias circenses, humor, dança e poesia. Soma números musicais cômicos, dublagens e sátiras. E o elenco desdobra-se ainda em evoluções de rua, acrobacias em dupla, mágica e manipulação de bonecos. Essa dinâmica mutante é desenhada pelo diretor convidado Mark Bromilow, australiano de 35 anos de profissão e responsável pela turnê internacional de Varekai, obra do canadense Cirque du Soleil que percorreu Inglaterra e Rússia entre 2008 e 2010. O grupo Trixmix é ancorado pela dupla de acrobatas Raquel Rosmaninho e Emiliano Pedro, que atuou em Londres e retornou para São Paulo em 2007, abrindo novo ciclo em suas carreiras.

MÚSICA

Mariene de Castro (BA)

Ficha Técnica

136

Crédito: Ricardo Ferreira

Direção: Mark Bromilow. Com: Alejandro Muniz, Doug Style, Virgilio Zago, Ricardo Cavadas, Eduardo Mantovani, Carola Costa, Paulo Maeda, Natália Furlan e Gonçalo Caraballo.

Tamboroinha (2012), Seres de Luz – Uma homenagem a Clara Nunes (2013) e Colheita (2014) conformam o repertório do show da sambista e intérprete baiana. Apesar de despontada na recente geração de cantoras no cenário brasileiro, Mariene de Castro já conta mais de 15 anos de experiência por trás de microfone, quer como backing vocal, quer na linha de frente. Entre os três álbuns, encontram-se canções do quarto lançamento dela, como Conto de Areia, Guerreira, A Deusa dos Orixás, O Mar Serenou, entre outros sucessos imortalizados pela da saudosa mineira Clara Nunes (1942-1983). O set list inclui Pureza da

Flor, Filha do Mar e Amuleto da Sorte, do terceiro trabalho. E compartilha ainda canções de seu disco mais recente, o quinto. A intimidade com o palco, latente para quem a assiste em cena, vem desde 5 anos, quando participava de coreografias do Teatro Castro Alves em Salvador. Ficha Técnica Com: Mariene de Castro (vocal), Dudu Reis (cavaquinho), Marcos Bezerra (violão e viola caipira), Israel Ramos (baixolão), Cicinho e Marcelo Costa (sanfona), Iuri Passos, Fábio Cunha, Jaime Nascimento, Marcelo Pinho e André Souza (percussões).

137


Crédito: Mario Miranda Filho

ROTEIRO 9 138

SESC SÃO CARLOS

CASA BRANCA MOCOCA SÃO JOÃO DA BOA VISTA

25 de abril 26 de abril 27 de abril

SESC SANTO ANDRÉ

POÁ SUZANO SÃO BERNARDO DO CAMPO

2 de maio 3 de maio 4 de maio

139


EXPEDIÇÕES: MOCOCA

DIÁRIO DE BORDO – EXPEDIÇÕES CIRCUITO SESC DE ARTES por Rodrigo Ciríaco

PRÓLOGO Observar o extraordinário que habita em nosso cotidiano. Construir e prosseguir além do discurso comum. Quando apontarem para um lado, mirar também o outro. Quando contarem uma história, ouvir as que não foram contadas. Este foi o olhar pessoal a ser levado e construído nestas “Expedições”. Tendo ainda como fundo a voz de uma das crônicas da escritora Eliane Brum: olhar para as coisas com os olhos do estrangeiro, não do turista. O estrangeiro tem o olhar de espanto, estranha: vai além

do óbvio. O turista filtra seus olhos pelos preconceitos, fantasias, busca apenas aquilo que quer ver e confirma a sua realidade, muitas vezes a partir de convicções e esteriótipos. Como diz ainda a autora: “o olhar do turista antecipa a violência e a miséria”, quando olha, por exemplo, para a periferia. Meu olhar de turista, no interior paulista, anteciparia a “o café, a casa-grande, as fazendas”. Tentei não ser superficial: além do olhar “turístico”, tentei sentir. Está aí.

JAÚ – MOCOCA – RIO CLARO Como dito, as cidades escolhidas para o circuito de visitas, tem ainda hoje uma grande influência em sua história e cultura do ciclo do café. Nas visitas que realizamos, muitas orientadas por representantes dos órgãos oficiais da cidade, é nítida a valorização desta história, ao falar da preservação – ou tentativa – do patrimônio arquitetônico dos casarões, de antigas fazendas, histórias dos barões – e dos brasões assinalados e apontados -, das antigas estações ferroviárias – abandonadas após o fim do ciclo do café, o que se configura um verdadeiro crime contra a ideia de formação e desenvolvimento de um 140

país, nação: optar por um meio de transporte (rodoviário) em detrimento de outro (ferroviário), quando se poderia ter trabalhado e desenvolvido ambos, enfim: da imigração italiana (majoritária, mas não única), valorizando sempre os imigrantes das famílias vencedoras, que “chegaram lá”. É preciso ainda descobrir – no sentido não de achar, mas de deixar a mostra o que está escondido – a história dos negros e dos imigrantes que não conquistaram a “grande história”, não se inseriram no grande comércio. É preciso deixar a mostra, principalmente no patrimônio

imaterial e no imaginário simbólico destes locais a existência, a influência e participação destes sujeitos na formação destas cidades. É preciso ir além do discurso oficial, heroico, vitorioso – não tanto pela glória, mais por ter sido dominante – e mostrar todos os lados. Ainda que muitas vezes doa, ainda que muitas vezes nos envergonhe, pois a nossa história como muitas outras, choca. Mas ainda assim é nossa. E ir além e deixar nítido aos olhos de qualquer pessoa que habite ou visite estas e outras cidades do ciclo do café é obrigação – e reparação. É preciso sentir não apenas o doce gosto do açúcar que fica no final da xícara, mas experimentar também o amargo dos braços que colheram e carregaram as sacas. Sentir o salgado do suor que escorreram as faces negras e brancas. Comover e

respeitar o sangue derramado para irrigar os campos que deram vida aos cafezais. Feito as observações, traço abaixo breves crônicas e contos, sobre as nossas expedições. Reintero: é um registro pessoal, poético, sensível. Talvez não traduza fielmente o que foram e são as cidades para muitas pessoas, mas não se procura aqui – apenas - relatar ou retratar a história oficial, fazer uma propaganda cultural e turística dos espaços visitados. São “diários” contados a partir de escolhas (e quando se escolhe algo, outro se abandona) são formados a partir de nossas ideias, convicções particulares. Mas nem por isso deixa de ser um registro legítimo, assim como foram os registros feitos por nossos viajantes “expedicionários” do século XIX. Bom passeio.

CONTOS – MOCOCA MEMÓRIAS Mococa. 14 de maio de 1888. Nessa noite, Malika sussurrou que a lei foi assinada. Alvoroço na senzala. Desde ontem, pela lei dos homens brancos, estamos livres. O capataz veio cedo destrancar a porta. A expectativa era grande. Acordou a gente gritando e cantando alto com o chicote, pois disse que era a última vez. Mandou a gente se levantar e pegar estrada. Com a roupa do corpo partir. Éramos livres. “Partir para onde?” – alguém perguntou. Com arma na mão, o capataz procurou quem fez a pergunta. Como não achou, deu uma coronhada na nuca, socos, chutes, no primeiro que viu. “Pra puta negra

que te pariu, preto desgraçado. Agora saiam daqui”. Abdul fez menção de querer ficar, ser contratado pelo senhor. Tinha experiência, conhecia todo o trabalho da roça, da lavoura. Ouviu-se uma grande risada. Alta, com gosto. “Quer dizer que o preto-velho quer ter salário?” – alguém caçoou. “Leva logo sua anca daqui, seu preto de merda. Devia agradecer por ter a sua liberdade assim de graça, e ainda sair com vida. Vai. Some. Emprego vai ter pra quem merece. Pros europeus que já chegaram as cargas. Vão ocupar suas vagas. Vocês a gente quer que morra. Que sumam. Desapareçam. 141


Como se jamais houvessem manchado a nossa história. Como se jamais alguém se interessasse em saber para onde vocês foram quando assinaram essas leis malditas que decretaram o fim de nossos dias de glória. Vá-te. Anda”. E assim partimos, incertos. Apenas com a roupa do corpo, cobertos. Longa estrada. Antes faço

uma última parada, debaixo desta árvore ancestral. Com minhas próprias mãos eu cavo, enterro e cubro com pedras este registro. Diário. Deixo aqui, junto com o meu passado de escravo. Minhas memórias dentro da história. Que alguém quem sabe um dia a descubra. E liberte.

um livro. Causos de inveja e preguiça, avareza e enganação e os melhores, de assombração, capaz de deixar até carecas de cabelos em pé. Mas a grande preocupação de Mineirinho é a natureza. Ele, tal qual o Curupira, trabalha pela defesa e salvação da mata. Não assustando as pessoas, mas surpreendendo com as suas invencionices, das coisas e dos

causos. Conta que o progresso chegou para ele vindo do rio. Em formato de garrafa pet. E desde então ficou a preocupação com a garrafa e as crianças, com a produção de lixo e a reciclagem. E resolveu trabalhar assim, mineiramente falando, para ajudar na mudança do causo e das coisas. Para quem sabe as histórias terem, assim como em muitos causos, um final feliz.

CRÔNICAS - MOCOCA MINEIRINHO: CRIADOR DE COISAS E CAUSOS PROIBIDO NADAR. RISCO DE AFOGAMENTO, COBRAS E JACARÉS. A entrada do parque de exposição ecológico José Andre de Lima já parece um causo, conto que alguém aumentou os pontos. Mas Valbert Carlos Salgado, mais conhecido como Mineirinho garante que não. Vindo de Cana Verde, Minas Gerais, morando há 20 (vinte) anos em Mococa, Mineirinho fez da sua casa um jardim educativo em que recebe crianças da cidade, da zona rural, visitantes e turistas em geral com o objetivo de trabalhar as questões da natureza e reciclagem de duas formas: modificando causos e coisas. Sua casa já é um causo, desses bem inventivos e antigos. A entrada, ainda que térrea, lembra uma casa da árvore, da imaginação de muitas crianças e dos desenhos animados. A campainha, manual: você puxa um arame e toca um sino. No jardim, muitas cores e animais: reciclados e vivos. Pneus em forma de galos, tucanos e araras, vacas feitas a partir de arames e pedras. Gansos, pavões, peru, além dos vários cruzamentos e experimentos 142

– naturais – entre os animais que Mineirinho, conta ter experimentado e resultado bichos diferentes, de dar inveja a muitos laboratórios. Mineirinho tem uma capacidade criativa além do normal: inventa casas usando latas de alumínio com areia como tijolos, criou uma casa de gatos com técnicas não mais comuns, como barro e bambu, utiliza botas, sapatos e sandálias e até bolas furadas como vaso para um jardim suspenso, tem o seu próprio moinho de pedra, onde faz fubá da melhor qualidade, “sem conservantes”; faz ainda cachaça “mineira” na panela de pressão e, ainda por cima, tem um espaço de forja artesanal onde consegue fabricar peças e utensílios manualmente, e criar facas tão afiadas que, se não chegam a dividir o fio de cabelo em dois, cortam facilmente as folhas de papel. E se não bastasse tudo isso, e o fascínio que consegue despertar em crianças – e adultos – pela sua capacidade inventiva, Mineirinho é um inventor de causos. Diz saber mais de cinquenta – sem nunca ter lido 143


Rodrigo Ciríaco

Fotopoema “Copa sobre copa” Jardim Mineirinho

Chris Moraes

O que é meu vai vir no meio das pernas, 2014 lápis grafite e guache sobre papel 21 x 29,7cm

Chris Moraes

BasTião, 2014 lápis grafite e guache sobre papel 29,7 x 21cm

Chris Moraes

Terra Mea Paulistana Generosa, 2014 lápis grafite e guache sobre papel 21 x 29,7cm

144

Chris Moraes

Mulherzona dobrada, 2014 lápis grafite e guache sobre papel 29,7 x 21cm

145


Crédito: Mario Miranda Filho

CINEMA

Cine Olho do beijo romântico, dos monstros míticos e dos efeitos especiais cometidos em escala artesanal naqueles primeiros passos do cinema, de 1896 a 1930. O resultado é uma incursão pelo legado de ações e gestos que calam fundo. Ficha Técnica Concepção: Sesc SP - Gerência de Ação Cultural (Cinema) / Direção de conteúdo: Angélica Valente / Montagem: Mariana Barioni / Trilha original: Fernando Chankas / Produção: Farinha Produções / Design: Estúdio Kiwi / Cenografia: Valter Mendes e Dani Abreu

Crédito: Mario Miranda Filho

Dentre os acontecimentos que determinam a era da imagem torna-se crucial o invento do cinematógrafo pelos irmãos franceses Lumière, 119 anos atrás. A natureza do olhar passa a ser modulada pela sétima arte e esta, por sua vez, projeta-se sobre a realidade. A intervenção lúdica concebida pela Gerência de Ação Cultural do Sesc SP sublinha a condição voyeur dos espectadores de qualquer época ou lugar, conduzindo-os aos primórdios das exibições em preto e branco, sem som sincronizado e à mercê da luz artificial. Por meio de um buraco proporcional ao olho humano afixado em três caixas dispostas no espaço público é possível sentar e observar “secretamente” cenas em torno

INTERVENÇÃO MUSICAL

Os Menestréis Sem Rima Luís Aranha e Luciana Sonck (SP) Os benefícios ou rumores do ato de compor versos motivam os criadores desse projeto cênico e sonoro. A intervenção diz respeito a dois cantores que viajam pelo mundo em busca da canção perfeita, apresentando sua leitura para tudo e qualquer coisa: cadeiras, mesas, quadros e pessoas. O único senão da dupla é a impossibilidade de alcançar tal objetivo: eles jamais conseguem encontrar a rima final para suas letras e, por isso, são conhecidos como os Menestréis Sem Rima. Para conseguir reverter essa situação, eles excitam a imaginação do

146

público em um exercício de criação coletiva. Luis aranha é formado em música pela Unicamp e toca violão, guitarra, canta, compõe e arranja. Já assinou direção musical de espetáculo do grupo paulistano Redimunho de Investigação Teatral e agora está priorizando seu trabalho em parceria com Luciana Andreotti Sonck, voltada à arte-educação. Ficha Técnica Criação e concepção: Luís Aranha e Luciana Andreotti Sonck. 147


TEATRO

Corsários Inversos - Uma Incrível Aventura Pirata Cia. Mosaico Cultural (RS) Um encontro da música e da poesia com o teatro de formas animadas, o espetáculo convida a embarcar nessa nau que singra o oceano da imaginação por diferentes histórias. A narrativa épica, o jogo de improviso e a musicalidade contribuem para ressignificar o cotidiano. Materializar o poema, achar o segredo escondido nas entrelinhas dos versos e falas, buscar a cumplicidade por meio da troca e do olhar são alguns dos tesouros que movem os corsários inversos na aventura pelo mundo das artes cênicas. Os piratas-poetas propõem uma encenação onde a palavra é cerne de uma sutil ponte estendida entre os personagens e a roda de espectadores, procurando em cada um deles o porto seguro para um escambo de sentimentos. Criado em 2010, o Mosaico Cultural é um coletivo de artistas plásticos, cenógrafos, atrizes, bonequeiros, músicos, um videasta e uma produtora que atuam há anos em Porto Alegre. Ficha Técnica

Crédito: Mario Miranda Filho

Direção geral: Liane Venturella / Direção de atores: Larissa Sanguiné / Com: Nando Rossa, Juliano Rossi e Rafa Cambará / Figurinos e cenografia: Margarida Rache / Cenotécnica, adereços e objetos: Juliano Rossi e Rafa Cambará

148

149


CIRCO

No Pocket Coletivo Nopok (RJ)

Crédito: Mario Miranda Filho

Dois amigos querem deslizar pelo mundo das coisas. Levam sua bicicleta debaixo do braço, seu banquinho de rodinhas na cabeça e os pedaços de uma mesa que um dia será montada. Eles são irmãos. Eles são amigos. Eles nunca se viram antes. Eles se reconhecem de andar pela rua. Um lança o outro e nasce uma bananeira. O outro tenta derrubar o um da bicicleta. Eles se provocam, brincam de brigar e de voar. Um muda a rota do outro. Colisão. O outro muda o destino de um. Eles vão andar e tropeçar no que aparecer ela frente como se da rua fossem, ao final, um mapa para ele terão inventado. E assim é este espetáculo de circo, de rua, para todos que por aqui passarem. Linguagem do picadeiro embebida em dança, música e o improviso na construção singular. Com diferentes histórias e bagagens, os integrantes do Coletivo Nopok estão juntos desde 2007.

MÚSICA

BNegão & Seletores de Frequência (RJ)

Ficha Técnica

150

Crédito: Mario Miranda Filho

Concepção: Coletivo Nopok / Direção: Sergio Machado / Com: Daniel Poittevin e Fernando Nicolini / Figurino: K. P. Ta da Silva / Cenografia: André Bethlem

Após nove anos de hiato, o lançamento de Sintoniza lá (2012) delineia a nova banda encabeçada pelo ex-integrante do Planet Hemp, Bernardo Santos, o BNegão, legítimo representante da black music. As 11 faixas trazem influências de estilos como reggae, rock e funk. Foi o melhor álbum do ano no VMB MTV. O show valoriza as músicas do disco que segue o conceito da música negra universal, defendido ao longo das trajetórias individuais e coletivas dos integrantes aficionados por ritmos jamaicanos, africanos e brasileiros, sempre cooptados pelo rap e funk dos anos 70 e pelo hardcore logo depois. A

maioria das músicas foi composta e arranjada colaborativamente. Daí a unidade do trabalho. Destacam-se as execuções ao vivo, além da faixatítulo, estão Alteração, O Mundo (Na Panela de Pressão), Vamo!, Na Tranquila e Subcosciente. Ficha Técnica Com: BNegão (vocal), Fábio Kalunga (baixo), Fabiano Moreno (guitarra), Riva (bateria), Pedro Selector (trompete), Marco Serragrande (trombone), Paulão (vocal), Sandro Lustosa (percussão)

151


Crédito: Adauto Perin

ROTEIRO 10 152

SESC SÃO CARLOS

TAMBAÚ LEME ITIRAPINA

25 de abril 26 de abril 27 de abril

SESC SANTO ANDRÉ

SANTA ISABEL MOGI DAS CRUZES RIO GRANDE DA SERRA

2 de maio 3 de maio 4 de maio

153


EXPEDIÇÕES: MOGI DAS CRUZES

FOTOPOEMA

por Samir Mesquita

Há ruas aqui tão estreitas por onde não passam carros. Foram feitas apenas para carroças. Estamos em Mogi das Cruzes. Mas nessas ruas já não passam carroças, só pessoas, centenas delas, um turbilhão delas. Trombam-se, mas seus olhares não se cruzem. Passar por essas ruas ainda exige tapa-olhos.

Um senhor dirige-se à praça da igreja para descansar das pernas. Senta-se em um banco, retira as próteses e observa estático o movimento da cidade.

O sofrimento como forma de lição. Uns chamam isso de Fé. Outros de História. 154

155


Paula Éster

Largo do Carmo

Paula Éster

Igreja de São Benedito

Paula Éster

Largo do Rosário

Paula Éster

Capela Nossa Senhora dos Remédios

156

157


Paula Éster

Serra do Itapety

158

159


INTERVENÇÃO MUSICAL

Música à Manivela Prana Teatro de Animação (SP)

Crédito: Ana Fuccia

Formas animadas e sonoridades antigas são simbióticas nessa intervenção. Dois atores e músicos criam pequenas cenas com objetos e bonecos. Eles também cantam e tocam canções acompanhados de instrumentos como violino, acordeom e o “orgue debarbarie”, variação de um realejo. A apresentação celebra a simplicidade da vida, em meio às alegrias e tristezas que ela encerra. As atmosferas cênicas e sonoras remetem à itinerância pelas ruas da Europa do século XVIII. Com sede e atelier em São Paulo, o Grupo Prana Teatro de Animação iniciou suas atividades em 2005, embrionário da extinta

Companhia Andarilhos (1997-2005). Mantém a meta de pesquisar a técnica de manipulação direta de bonecos e objetos aliada à criação musical e a uma narrativa imagética. A atriz Vanessa Valente e o músico Marcel de Oliveira são os fundadores. Ficha Técnica Direção, texto, manipulação de bonecos e objetos, orgue de barbarie: Vanessa Valente / Violino, acordeom, pandeirola, manipulação de bonecos: Marcel de Oliveira.

ARTES VISUAIS

Sericleta Mônica Schoenacker (SP)

160

livremente distribuídas no local e podem ser levadas para casa. O projeto aporta pensamento sobre a arte e a cidade, propiciando uma relação delicada. A artista plástica Mônica Schoenacker trabalha desde meados da década de 1990 na interface das imagens impressa e digital, com ênfase na serigrafia sobre papéis e têxteis. Ficha Técnica Concecpção e criação: Mônica Schoenacker / Assistência: Marietta Vital

Crédito: Ana Fuccia

Esta ação lida com a perspectiva artesã da serigrafia, técnica de impressão de desenhos de cores planas através de uma moldura de tela vazada. Um rodo espalha a tinta sobre ela formando desenho em papel, metal, tecido e outras bases. Para ter uma noção da diversidade de materiais, métodos e técnicas aplicados nos dias que correm, a Sericleta inova e valoriza a dimensão artesã. Trata-se de bicicleta adaptada como uma oficina, unidade móvel dessas estampas. O público é convidado a criar cartões poéticos. Todas as peças impressas são

161


CIRCO

Clake Circo Amarillo (SP) Crédito: Ana Fuccia

Alinhada em figurinos aparentemente bem comportados, a dupla chega deslizado em sua engenhoca movida com rodas e pedal. Esta “nave” é o epicentro do espetáculo. Sua base é um piano que agrega todo tipo de objetos reaproveitáveis e instrumentos musicais propriamente ditos (percussão e aparelhagem de som). Nada é o que parece, até revelar-se aos poucos. Os palhaços, malabaristas e instrumentistas Marcelo Lujan e Pablo Nordio emendam gags clássicas e sutis. Jogam pingue-pongue usando panelas como raquetes e andam em pedaços de bicicleta, para citar números que ganham a claque e subvertem a expressão que designa, sobretudo, o auditório televisivo aliciado para aplaudir ou vaiar. O grupo Circo Amarillo foi criado em 1997 e tem como foco a criação de espetáculos que apresentam técnicas tradicionais de circo combinadas com linguagens artísticas contemporâneas. Ficha Técnica Direção: Domingos Montagner / Com: Marcelo Lujan e Pablo Nordio / Figurino: Dani Garcia / Contrarregragem: Maximiliano Villamayor

162

163


O Casamento de Tabarim Cia. Dona Zefinha (CE) Um dos títulos cotados para o espetáculo era “o conquistador de araque’, mas os criadores optaram por destacar o nome dessa figura arquetípica da arte da enganação tão esmerada na comicidade universal. É a partir dela que o palhaço mambembe deita e rola. Tabarim vive de inventar trapaças para ganhar dinheiro de modo fácil. De quebra, ele está em busca de uma noiva. Como todo bom malandro que se preza, ele engana até os mais espertos e ambiciosos, como Górgibus, um velho avarento da estirpe de Molière, que troca com Tabarim sua valiosa aliança por um saco de feijões mágicos. Se estes eram

Crédito: Adauto Perin

TEATRO

de fato uma fortuna, pouco importa. Isso não diminui a ânsia do velhote pela riqueza, a ponto de vender a alma de sua filha Angélica. Tabarim apaixona-se pela moça. Para casar, porém, será preciso enfrentar ainda o diabo. O coletivo cênico e musical Dona Zefinha atua em Fortaleza desde os anos 1990. Ficha Técnica Texto e direção: Orlângelo Leal / Adereços e figurino: Joélia Braga / Com: Orlângelo Leal, Ângelo Márcio, Paulo Orlando e Joélia Braga

MÚSICA

O Samba que Vem Lá de São Mateus

Crédito: Ana Fuccia

Berço do Samba de São Mateus (SP) O show é estruturado sob o espírito da roda de samba que acontece há mais de duas décadas no bairro de São Mateus, zona leste paulistana. Do álbum homônimo lançado em 2007 firmou-se a produção continuada desse reduto conjugado por compositores e músicos ali nascidos ou criados no entorno. A proposta é mostrar, revelar e trazer ao público suas composições e seus interpretes, cantando suas crônicas, poesias e exaltações em forma de samba de terreiro, partido-alto, calango, jongo, samba de roda, sincopado e outros. A formação inclui artistas de longa estrada e jovens como os três irmãos Pessoa, vinculados ao Quinteto em Branco e Preto. No repertório, composições tradicionais e inéditas. 164

Valorizam-se o compositor, a presença feminina através do canto e da dança, bem como a memória do bairro de geração a geração, integrando os membros da comunidade. Ficha Técnica Diretor musical: Everson Pessoa / Com: Altair Donizete (voz), Tia Cida (voz), Oscar Novaes (violão 7 cordas), Sandoval Luzia (cavaquinho), Marcelo Ercílio (banjo), Anderson Candido (percussão), Fernando Blasques (pandeiros), Jorge Cruz (percussão e efeitos), Yvison Pessoa (percussão), Gerson Martins (percussão), Vitor Pessoa (surdo), Edson Oliveira (coro), Dulce Monteiro (coro) e Ronny (coro).

165


Crédito: Roberto Assem

ROTEIRO 11 166

SESC TAUBATÉ

CRUZEIRO PINDAMONHANGABA TREMEMBÉ

25 de abril 26 de abril 27 de abril

SESC OSASCO

FRANCO DA ROCHA ITAPEVI BARUERI

2 de maio 3 de maio 4 de maio

SESC SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

CAÇAPAVA GUARAREMA IGARATÁ

9 de maio 10 de maio 11 de maio 167


EXPEDIÇÕES: GUARAREMA

FOTOPOEMA

por Samir Mesquita

Por que nunca se fala sobre esse assunto? Isso é passado. Mas não lhe vem à memória vez ou outra? Vem à memória, mas não à boca. Nunca? Quanto vem, é só cerrar os dentes. E desde quando dentes são cadeados? Desde que se tem algo para guardar. E quando os dentes começam a cair? Talvez seja hora então de se cortar a língua. Acredito mesmo que nunca virá à tona? Se não acreditasse, não conseguiria viver aqui. Os dias nada mais são do que uma série de esquecimentos. Neste caso, um esquecimento coletivo. Neste caso, como queira chamar. E o que te garante essa certeza quanto ao silêncio dos outros? Colocamos uma pedra sobre isso. Uma não, duas. Bem grandes. 168

Aonde vai minha amiga toda remendada?, ela perguntou da porta da igreja para a senhora que terminava de subir as escadas. Tinha tantos curativos pelo corpo que era possível avistá-los mesmo a mais de 50 metros de distância. Mas não eram curativos, repara, eram remendos. Uma emília, não fosse sua idade avançada, ou se estivesse em outro sítio. Aqui as pessoas não se curam, são cerzidas com retalhos, com um tecido extra, não necessariamente com a mesma textura, a mesma estampa da pele original. Normalmente se dão pontos para o tecido ferido se reaproximar e regenerar sozinho. Mas aqui não, aqui se unem os tecidos separados com um novo tecido, um remendo. um tecido com uma outra história, um passado diferente do tecido original. Um tecido que vem somar e curar um tecido rompido.

169


BREU – série fotográfica

170

171


ACHADOS – série fotográfica

172

173


Paula Éster

Capela de Nossa Senhora D’Ajuda

Paula Éster

Estação Ferroviária Guararema

Paula Éster

Recanto do Américo (Pau d’Alho)

174

175


Paula Éster

Capela de Nossa Senhora D’Ajuda

Paula Éster

Igreja Nossa Senhora da Escada

Paula Éster

Igreja Nossa Senhora da Escada

Paula Éster

Igreja Nossa Senhora da Escada

176

177


Paula Éster

Pedra do Tubarão

Paula Éster

Pedra Montada

Paula Éster

Pedra Montada

178

179


CINEMA

LITERATURA

Cine Olho

Retrato Poético Com a paleta numa mão e o pincel noutra, ele se apresenta ao interlocutor da vez, embalado pelo som do violino executado ao vivo. Um espectador por vez contracena com o boneco, o Pintorzinho, figurino a caráter. Ele se propõe a desenhar uma tela influenciado pelo olhar, pela fisionomia e pelo talento que intui nas crianças, mulheres e homens com quem se encontra. Trata-se de um gesto de poesia em forma de retrato capaz de surpreender não só a quem se destina como também àqueles que contemplam a ação em seus poucos minutos. O trabalho despojado acontece

Ficha Técnica Concepção: Sesc SP - Gerência de Ação Cultural (Cinema) / Direção de conteúdo: Angélica Valente / Montagem: Mariana Barioni / Trilha original: Fernando Chankas / Produção: Farinha Produções / Design: Estúdio Kiwi / Cenografia: Valter Mendes e Dani Abreu

Crédito: Roberto Assem

180

Cia. Patética (SP)

sentar e observar “secretamente” cenas em torno do beijo romântico, dos monstros míticos e dos efeitos especiais cometidos em escala artesanal naqueles primeiros passos do cinema, de 1896 a 1930. O resultado é uma incursão pelo legado de ações e gestos que calam fundo.

Crédito: Roberto Assem

Dentre os acontecimentos que determinam a era da imagem torna-se crucial o invento do cinematógrafo pelos irmãos franceses Lumière, 119 anos atrás. A natureza do olhar passa a ser modulada pela sétima arte e esta, por sua vez, projeta-se sobre a realidade. A intervenção lúdica concebida pela Gerência de Ação Cultural do Sesc SP sublinha a condição voyeur dos espectadores de qualquer época ou lugar, conduzindo-os aos primórdios das exibições em preto e branco, sem som sincronizado e à mercê da luz artificial. Por meio de um buraco proporcional ao olho humano afixado em três caixas dispostas no espaço público é possível

ao ar livre e intenta resgatar a singeleza cotidiana das relações, sentimento que também transita a arte. Aos 14 anos, a Cia. Peleja mantém traços fundamentais em sua formação de teatro para criança e de formas animadas. A simbiose de expressões é um deles, absorvendo dança, mímica e artes visuais em suas peças. Ficha Técnica Com: Fábio Parpinelli, Liz Moura e Neto Medeiros.

181


Crédito: Roberto Assem

ARTES VISUAIS

Projeto Volante Cleiri Cardoso (SP) Arte dá trabalho. Pedi mão na massa, pensamento crítico, insights produtivos. O Projeto Volante montar uma espécie de ateliê com mesa, cadeira e toda sorte de material para que o público sintase estimulado a se expressar sobre qualquer tema. Desde que o faça utilizando-se do que lhe é artesanalmente oferecido. Como papel, tesoura, cola, régua, lápis, caneta e outras ferramentas sutis para criar conforme as variantes das artes visuais em meio impresso. As manifestações indignadas ou francamente poéticas são estruturadas pelos participantes incentivados

à autonomia de voo nessa plataforma de afetos e contestações contra o estado de coisa na sociedade ou nas relações interpessoais. Os artistas coordenadores dessa intervenção sugerem aos artífices que levem sua obra para casa. Antes, as mesmas são reproduzidas em processo similar ao do carimbo ou do mimeógrafo. Ficha Técnica Coordenação e intervenção: Cleiri Cardoso, Marcelo Heleno e Paula Ordonhes.

TEATRO

Horácio

182

Crédito: Roberto Assem

Ágora Teatro (SP) Herói de guerra ou assassino sem honra? É a questão norteadora do monólogo. Na linha de frente do exército de seu país, o personagemtítulo é glorificado por ter assassinado o noivo de sua irmã, tido como inimigo. Ela chora muito e o homem, revoltado com essa atitude, decide que lhe dará o mesmo fim, independente dos laços consanguíneos. E a atravessa com uma espada, tal o método aplicado ao rival. Mas termina preso e vai a julgamento. Entre as ruminações sobre seu destino e os argumentos para cometer atos violentos, a plateia é permanentemente solicitada a refletir sobre questões éticas que, apesar de formuladas a partir de um mito romano antigo,

continuam atuais. A atuação realça ainda mais a técnica do ator e o seu cuidado com o uso das palavras. Frateschi defende esse texto do alemão Heiner Müller há 25 anos, cinco a menos do que o seu período de dedicação às artes do tablado. Ficha Técnica Autor: Heiner Muller / Tradução: Ingrid Dourmien Koudela / Adaptação, concepção, direção e interpretação: Celso Frateschi 40 min.

183


MÚSICA

Zarak Show

Ilú Obá De Min (SP)

Circo Dux (RJ) O humor circense é a tônica do espetáculo que saúda e parodia a tradição do picadeiro e busca trazer ao público os truques e virtudes sem descuidar do apuro artístico. Convergem o espírito lúdico e um quê de cabaré na apresentação da dupla que interpreta os irmãos Darius e Ygor Kidrick, gêmeos idênticos e siameses. No roteiro, ambos são incumbidos de uma missão nem tão impossível assim: protagonizar a turnê mundial do “Zarak Show”. A aventura é permeada por números de mágica, faquirismo e malabares. A habilidade técnica aparece junto com as brincadeiras na

Crédito: Roberto Assem

CIRCO

Misto de show musical e espetáculo ritual cênico, o trabalho reverencia as culturas africanas e afrobrasileiras através dos cantos dos terreiros de candomblé, da dança e da percussão. No roteiro, o bloco afro germinado em São Paulo há dez anos apresenta performances percussivas e coreográficas com ênfase no coletivo de mulheres e inspirado na arte e na voz da baiana Nega Duda, legítima representante do samba de roda do Recôncavo Baiano. Trata-se de intervenção cultural baseada na preservação de patrimônio imaterial, valorizando a diversidade cultural e rítmica da música brasileira advindas do legado deixado por ancestrais africanos. Sob coordenação da arte-educadora e musicista Beth Beli, que pesquisa matrizes africanas e afro-brasileiras há mais de 20 anos, o núcleo persevera a inserção de mulheres, crianças e adolescentes numa das principais manifestações populares do país, o Carnaval.

interação direta. Um biombo ao fundo, acessado por meio de cortina, faz às vezes de uma coxia. É de lá que os comediantes entram e saem caracterizados como figuras hilárias. Elas são estratégicas no repertório da companhia carioca Circo Dux, formada em 2005. Ficha Técnica Texto: Larissa Câmara / Direção: Marcio Libar / Direção de arte: Raquel Theo / Com: Lucas Moreira e Fabrício Dorneles

Crédito: Roberto Assem

Ficha Técnica

184

Direção Musical: Beth Beli / Percussionistas: Letícia Cruz, Baby Amorim, Wanda Martins, Tati Mohr, Sossô Parma, Mazé Cintra, Ana Célia Martins, Roberta Viana, Lenita Sena, Cintia Ferreira e Cris Blue / Voz: Tamara David e Nega Duda / Dançarinas: Chris Gomes, Rubia Braga e Andréia Alves.

185


DANÇA

Mono-blocos Vanilton Lakka e Artistas (MG) O corpo devolvido à praça. Esse projeto de ocupação, ação e intervenção é assentado sob as ideias da dança em paisagens urbanas com camadas de teatro, música e artes visuais. A pesquisa dos artistas colaboradores mineiros considera o ambiente como espaço a um só tempo físico e social. Adota sistema técnico que transita hip hop, parkour, skate, balé e demais variantes. E pondera a biografia dos sujeitos envolvidos. A corporeidade aflora daí, afirma o coreógrafo Vanilton Lakka, 23 anos de dedicação ao ofício. Ele não concebe passar ileso à experiência da cidade, da rua. A reflexão de cohabitar equivale a rolar no piso duro. Experimentar volumes e texturas do lugar. Negociar com horizontalidades e verticalidades. Preservar ou abrir as frestas das possibilidades de interação com o cidadão e com a noção de sobrevivência de um corpo imbricado na arquitetura física e social.

Crédito: Roberto Assem

Ficha Técnica Direção/Coreografia: Vanilton Lakka / Com: Alex Luis de Ramos, Cláudio Henrique Euripedes de Oliveira, Lidiane da Silva Jacinto, Lucas Borges Oliveira, Lucas Dilan Martins Corrêa, Maria Júlia Kaiser Mesquita Campos Guimarães, Mariane Araujo Vieira, Nádia Yoshi Ribeiro Higa, Raphaela Barboza Lima da Silva, Samuel Antônio Santana, Vanilton Lakka, Vinícius Monteiro Lopes e Marcelo Silvio Santos. 186

187


Crédito: Kazuo Kajihara

ROTEIRO 12 188

SESC TAUBATÉ

LORENA SÃO LUIZ DO PARAITINGA GUARATINGUETÁ

25 de abril 26 de abril 27 de abril

SESC OSASCO

CARAPICUÍBA JANDIRA COTIA

2 de maio 3 de maio 4 de maio

SESC SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

UBATUBA SÃO SEBASTIÃO CARAGUATATUBA

9 de maio 10 de maio 11 de maio

ROTEIRO 4 189


EXPEDIÇÕES: LORENA

FOTOPOEMA

por Samir Mesquita

Uma cidade plana exige menos do corpo. Mesmo assim, uns ainda precisam de quatro rodas, outro de duas. Para muitos, basta a inércia.

Reparo em um senhor sentado no banco da igreja. Estamos em Lorena. Uma hora e não se move. Duas horas e não se move. Três horas e não se move. Que questão traz na cabeça? É capaz de estar ali há tanto tempo, antes mesmo de os seus cabelos terem se tornado brancos.

190

Há um quadro nesse casarão que parece observar você. Não é você que observa o quadro, mas o contrário. Para onde você vai, parece que a senhora retratada está te olhando. Para você que é de fora, de uma cidade grande, isso pode parecer estranho. Nós aqui já estamos acostumados: em uma cidade pequena como esta, há sempre olhos observando você. 191


Paula Éster Horizonte

Paula Éster

Basílica de São Benedito

192

Paula Éster

Basílica de São Benedito

193


Paula Éster

Paula Éster

Paula Éster

Paula Éster

Horizonte

Catedral de Nossa Senhora da Piedade

Paula Éster Basílica de São Benedito

194

Basílica de São Benedito

Palacete Veneziano

Paula Éster Capela de São José

195


Paula Éster Mercado Municipal

Paula Éster

Capela de São José

Paula Éster Mercado Municipal

Paula Éster

Capela de São José

Paula Éster

Catedral de Nossa Senhora da Piedade (hotel: vista noturna)

196

197


Crédito: Kazuo Kajihara

Crédito: Kazuo Kajihara

DANÇA

ARTEMÍDIA

Faça Algum Barulho

Fab Trailer

Rui Moreira Cia de Danças (MG)

Marcio Ambrosio (SP)

Um encontro desafiador entre os lundus ancestrais e as danças urbanas do hip-hop. A aproximação, o estranhamento e o espelhamento do b-boy da cultura de rua (calça e camiseta básicas, tênis e aparelho a tiracolo) com o estilizado palhaço da folia de Reis (máscara e figurino coloridos) movem a criação a confrontá-los e encarná-los em suas diferenças de expressão. Para tanto, lança-se o neologismo “andançarinos”, contração desses dançarinos andantes. Um assume traços da personalidade do outro. A cohabitação gera uma trama inusitada. Suas diferenças e semelhanças são a fonte básica

198

do diretor Rui Moreira. Os intérpretes encenam os limites entre esses mundos imaginários, tempos e histórias. A companhia mineira desenvolve pesquisas e criações coletivas e individuais. Seu criador e coreógrafo é nome emblemático da dança brasileira contemporânea, reconhecimento nacional e internacional. Ficha Técnica Concepção e coreografia: Rodrigo Peres, Rui Moreira / Concepção de luz: Edimar Pinto / Com: Rodrigo Peres, Rui Moreira / Trilha sonora (sons incidentais de rua): Rui Moreira / Direção: Rodrigo Siqueira, Pedro Alexina / Figurino: Elvira Matilde.

O projeto experimental de múltiplas linguagens estimula os participantes a criar sob igual ímpeto desbravador que o artista se dispõe a vir a público. Um vagão daqueles que serve de moradia e é rebocado por automóvel surge adaptado e equipado como plataforma móvel de criação artística, coletiva e participativa. Misto de oficina, ateliê, estúdio, palco e estrutura de projeção, ele desperta atenção pelos aparatos, dispositivos e possibilidades que oferece. O objetivo é ampliar a percepção sobre a expressão e a difusão do cinema de animação. A interação pensa os suportes sem descuidar do conteúdo. Tudo é processado no interior do trailer cujo exterior, ao

cabo, ganha texturas ou suporta o vídeo mapping gestado colaborativamente. Marcio Ambrosio é formado em desenho industrial, design gráfico e animação. Viveu na Bélgica por alguns anos e bolou no Brasil, em 2004, o coletivo Zzzmutations. Ficha Técnica Criação: Marcio Ambrosio e Sophie Klecker / Cenografia: Kosmo / Desenvolvimento de Software: Yacine Sebti e Marcio Ambrosio / Assistentes Artísticos: Luis Felipe e Mateus Pereira

199


Refresco de Rimas

Crédito: Kazuo Kajihara

LITERATURA

Cia. Circo de Trapo (SP) A mediação ou o ato da leitura demandam mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia, como diria Shakespeare. Dois artistas caracterizados como sorveteiros circulam pela praça com suas caixas de isopor nas quais se lê: “Palavras refrescantes”. Há de tudo um pouco em termos de propostas poéticas: poemas prontos, inacabados, trágicos, líricos ou engraçados. As palavras surgem dos palitos de sorvete ou são pescadas em meio aos passantes. Tais escritos coletivos são musicados pelos artistas que os

interpreta em parceria. O objetivo é circunscrever um convívio temporário que estabeleça trocas afetivas por meio dos textos, rimas e brincadeiras. A Companhia Circo de Trapo existe desde 2002. Seus integrantes são atores, palhaços, mediadores de leitura e contadores de histórias que desenvolvem prioritariamente trabalhos voltados para a infância e a juventude. Ficha Técnica Com: Marco Ponce e Fabiana Alves.

CIRCO

Cabaré de Números Raros

Crédito: Kazuo Kajihara

Artistas da Cooperativa Brasileira de Circo (SP) Em contraponto ao chamado novo circo, cujos criadores se pautam pela inovação, a natureza desse projeto é justamente rememorar ou apresentar às novas gerações o legado essencial da tradição do picadeiro em todos os quadrantes. Em cena, números cada vez mais escassos sob as lonas contemporâneas ou mesmo ao ar livre, como aqui. Entre os artistas estão os pratos bailarinos e as performances de Bruno Edson. A destreza de Junior nos monociclos e na roda única. A habilidade de Marjury no equilíbrio sobre cilindro. A irreverência dos palhaços Bacalhau e Mingau. A dança com os bambolês da bailarina Barbara 200

Francisquini. E a contorcionismo de Alessandra Fleury. O cabaré colaborativo emana nostalgia dos grandes circos e suas famílias fundamentais, sejam consanguíneas ou não, ao mesmo tempo em que espelha o talento e o preparo dos jovens protagonistas aqui reunidos. Ficha Técnica Com: Alessandra Fleury, Joelma dos Santos, Bruno Edson, Barbara Francisquini, Marjury Nunes, Odair Bacalhau, Mingau, Vitor Santiago / Som: Daniele Souza Ribeiro

201


MÚSICA

Júlia

Cordão Carnavalesco Ziriguidum (SP)

Grupo de Teatro Cirquinho do Revirado (SC)

Ficha Técnica

Ficha Técnica

Direção: Pépe Sedrez e Fabiano Peruchi/ Com: Reveraldo Joaquim e Yonara Marques / Roteiro: Fabiano Percuhi, Pépe Sedrez, Reveraldo Joaquim e Yonara Marques / Direção de arte e figurinos: Maíra Coelho e Alexandre Antunes / Cenografia: Luciano Wieser, Maíra Coelho, Reveraldo Joaquin e Yonara Marques / Maquiagem e caracterização: Carlos Eduardo Silva

Com: Osvaldinho da Cuíca (voz e ritmo), Rodrigo Nogueira (cavaco), Koke (violão), Marcelo Barro (percussão), Cassiano Andrade (percussão), Alan Salgado (Percussão), Balto da Silva (percussão), Marcos Stoppa (trompete), Allan Abadia (trombone), Soraia Iotti (porta-estandarte) e Tereza Gama (voz).

202

Crédito: Kazuo Kajihara

O teatro de rua é naturalmente o palco do povo da rua. Este às vezes catalisa a roda ou intervenção cênica no espaço público. Por vezes, os criadores invertem o jogo e se voltam para essa gente como tema e estética. O espetáculo catarinense é exemplar da lapidação às avessas. Júlia e seu fiel escudeiro, Palheta, são seres quixotescos na superação de toda ordem de obstáculos. Eles chegam para assentar sonhos e desejos. Riscam seu território. Ela é a mulher das ruas. Ele, seu cicerone. Numa carroça-casa, empilham as bagagens e bugigangas, coisas da vida e do mundo que valem muito para um desvalido. O grupo nasceu em 1997, quando o casal Yonara Marques e Reveraldo Joaquim mandou confeccionar uma pequena lona de circo para apresentar teatro de fantoches. O boneco mestre de cerimônias chamava-se Revirado.

O show foi concebido para brincar, revolver e retomar a tradição dos cordões que traziam instrumentos de sopro e metais, além da percussão, baliza, porta-estandarte e a Corte Negra, como era chamado o grupo que percorria o desfile de Carnaval trajando roupas da corte portuguesa. A apresentação é ciceroneada por Osvaldo Barros, o Osvaldinho da Cuíca, ele mesmo nascido em pleno Carnaval de 1940, no bairro paulistano de Bom Retiro e referência do samba na terra da garoa. Em 2000, tornou-se um dos fundadores do Cordão Carnavalesco Ziriguidum, inspirado pelo resgate de antigas marchinhas e canções de folia. Osvaldinho da Cuíca é cantor, compositor, sambista, ritmista, passista e agitador cultural a mancheia. Já tocou com Adoniran Barbosa (1910-1982) e foi intérprete de samba-enredo do então bloco Gaviões da Fiel.

203

Crédito: Kazuo Kajihara

TEATRO


Textos em Inglês / English Version INCREASED PRESENCE

THE EXAMPLE OF THE BUTTERFLY

The commercial activity and the provision of services are, to a greater or lesser extent, present in every town in the state of São Paulo. It is the undeniable result of the entrepreneurial activity of the business executives from the sectors of the economy that support the growth and development of society at large. A similar effort can be observed in the distribution and the outreach of the socio-cultural and educational activities of the entities that are backed by these sponsors, be it via their physical presence, or alternatively as a result of the use of technological resources, such as social media and TV, by using their brands for advertising purposes.

All species are equally precious when it comes to the conservation of nature. In order to maintain the natural balance, a series of agents carry out their respective roles in a kind of synchrony with others, as we all live together and are interdependent. To illustrate this theory, we can take the plant cycle as an example. Among many other important factors, there are two major phenomena that are essential for the balance of flora: wind and insects, which help to disseminate seeds and, consequently, contribute towards the survival of an infinite number of species.

A similar kind of dedication has been sought after and achieved with the Sesc Arts Circuit. Its objective is to encourage the circulation of ideas and artistic activities for a wide range of people, especially in cities where there are no Sesc installations. In this sense, it constitutes a strategic movement of regional decentralization, prioritizing communities that have not yet had the opportunity to experience activities of this kind. In 2014, the Arts Circuit held activities in 102 cities, with the participation of 370 artists. Everything in the program was free, and it all took place in town squares, parks, theatres, trade union buildings and other public places. In this way, the business executives in goods, services and tourism seek to increase the quantity of cultural works within the state, adapting a principle of commercial activity - the presence of traveling shows in public places - so that they can get closer to their target public and participate in the transformation of people’s quality of life by bringing them into contact with art. Abram Szajman, president of the Federation of Goods, Services and Tourism Trading of the State of São Paulo (FecomercioSP) and the Regional Councils of Sesc and Senac.

204

Out of all these insects, let us take the butterfly as an example. For many, butterflies are irrelevant insects, with no particular function, despite their beauty. But let us take a closer look at their annual life cycle, in which they undergo a radical transformation: from an egg to caterpillar, which then grows inside a chrysalis; and subsequently they are transformed once again and given the wings that provide the butterfy with its freedom of movement, fulfilling its ephemeral role of spreading and mixing pollen and seeds from different species with its seemingly random flight path. Hybrids might appear in this process; but in the grand scheme of nature, they contribute to the conservation and balance of the planet. In the sociocultural sphere, at times, imitating butterflies is necessary. Be it because there is a degree of imbalance when it comes to sociocultural possibilities, or be it because it seems healthy that new combinations and fusions should take place in order for alternative perspectives to take root. It is necessary that we question the importance of esthetic appreciation, of contact with beauty, within the unique and diverse elements of the contemporary world because most hegemonic values are of an economic nature, and are bound up with consumerism and a utilitarian vision of objects and species. In this sense, the proposal of the Sesc Arts Circuit adopts this pollination model, based on this need for interconnection, for this airing process, whereby diverse phenomena come

into contact with each other as a result of artistic expression. It is also a way of providing incentive for authentic production in the places where this fusion takes place. Despite the ephemeral nature of this presence, we should highlight its real capacity to create meaning and creative individuality, which contributes to a level of permanence. Never losing sight of this mission, the Social Service of Commerce maintains a firm conviction surrounding the need for the frequent flights of butterflies, based on a commitment to disseminating experiences, with the aim of opening up new paths and new perceptions of those who, in the broad and positive sense of the word “hosting”, receive them. It is an act of decentralization that marks the history of the institution, from its very founding, in the attempt to improve sociocultural dynamics and promote citizenship. Danilo Santos de Miranda, Regional director of Sesc São Paulo WHEN THE ONLY RISK IS BEING CAPTIVATED ”The less familiar you are with my music, the better”. This was the attitude with which the musician, Hermeto Pascoal, faced his new tour. Accustomed to playing on big stages abroad, with his “universal music”, this time the “warlock” played for audiences in town squares. An audience that does indeed include musicians and some enthusiasts - those who know the difference between tempo and pitch - alongside audiences with less experienced ears, but curious nonetheless. Families, children, bank employees, trade workers, shopkeepers, the self employed, housewives and people from São Paulo’s countryside stopped for a little while to listen to his music. But more than listening, they stopped to feel and see, to be captivated, to step outside their daily routines, to open up their senses to something different. These are reflections of the Sesc Arts Circuit arriving in greater São Paulo, a scheme that has been going on for the past few years in the cities that do not have their own Sesc center. Hermeto was one of the attractions at one of

the 12 shows that passed through 102 cities in São Paulo’s countryside. Another 350 artists were about to walk on stage and take the risk, to expose themselves to new audiences and new places, in towns with a population of anything between 5 thousand to 500 thousand people. In fact, the 12 line-ups worked individually as 12 big shows, each with a variety of acts: circus, literature, dance, theater, cinema, visual arts, audiovisual art and music, to name but a few.

watch the whole show, but they came over for a few seconds to watch the gas balloons from Intervenção de Outono (Autumn Art Intervention) rise up into the air. Others would squeeze together, looking through a keyhole, to watch scenes from the first showing in which children were introduced to the “terrifying” King Kong. There were also some of the typical characters from the town square: the dog, the drunk, the popcorn seller. Everything and everyone played a part.

There was an underlying plan. There were stage directions, and an order for the acts. Some gags had been rehearsed. And yet as the days went by, a truly creative dialogue arose: dance with music, music with circus, circus with theater, with performance art, with literature, with cinema. Everything was mixed together. And it all happened everywhere: on the stage, all over the squares, in the buses which transported the performers from one place to the next. That is how new shows were born, how new music was created. Hermeto created a composition for every place he passed through. He wrote his scores by improvising with plates and trays. He managed to get sound out of everything he saw and touched, which is just his style. He gave these cities music as a gift.

The public got involved, became prop assistants, and helpers. They hoped for the rain to stop in Caraguatatuba so that they could finish watching the show Júlia. After all, they had only got to see 15 minutes, and everyone wanted to know what would happen next. Júlia is a comic theater, with two shabby and tattered figures acting on a traveling stage full of junk. The script was knee-deep in political incorrectness. And so the audience was completely absorbed and captivated. From the elderly to the groups of teenagers, including the little baby who, in the square at Carapicuíba, insisted on leaving his mother and crawling right to the middle of the stage. Therefore, when it rained in Caraguatatuba, the audience would shout “Júlia!! Júlia!!”, while crowded under shelters. Some braved the rain to help the actors retrieve their props.

There were people dressed up as Frida Kahlo. Men, women, children, toddlers. There were entire families dressed up as Frida. There were people who had a go at contemporary dance solos, without even knowing anything about contemporary dance. People from cities that don’t even have a movie theater directed a group of actors/dancers on a film set that was improvised in the town square. The theater show took place on a school bus and a motor home was transformed into a projection screen. There were people who went to the square to listen to rap - a huge amount of people in fact! Emicida attracted an audience of 8 thousand people in the city of Limeira! There were people who were desperately nostalgic for Pink Floyd, performed by Cidadão Instigado, or Secos & Molhados, performed by Karina Buhr. Others preferred to remain sat on a bench in the town square, watching everything from a distance. Some didn’t have time to

It is obvious that such events like the Sesc Arts Circuit require a lot of work, infrastructure and planning. But the crowning characteristic of this venture was the risk. The greatest challenge for everyone who participated and continues to participate in the project – from the technical Sesc team to the artists, from the lighting technicians to the people who serve sandwiches in the dressing rooms - it is all about facing the risk, and generously embracing that risk. Some of these risks are calculated, but others are completely unplanned for. Thanks to artistic improvisation! After all, who would have thought that a traveling project of this kind would bring so many new partnerships, friendships, and would leave so many great things behind it, such as Hermeto Pascoal’s songs, which were specially composed for each city?

For our part, our aim was about much more than taking art and culture to people, it was about opening up new possibilities for captivating people, for listening, for thinking, for opening up the senses, and why not, bringing a little of this with us at the level of everyday subjectivities. The slogan “Conectando lugares, circulando ideias” (Connecting places, circulating ideas), implies these objectives of the 2014 Sesc Arts Circuit. But, since we don’t have full control over everything, the connections went way beyond our expectations. They brought together people, emotions, memories, and places. And as Hermeto would say “let’s not plan anything”! Lígia Moreli is a Cultural Action Management technical assistant and coordinator of the 2014 Sesc Art Circuit. 21ST CENTURY BANDSTAND Every form is a face that watches us. Serge Daney (1944-1992), French cinema critic The city cannot be taken in through a single glance. It is both elusive and seductive. Yet, among the whispers of the benches in the church square, around the bandstand, in the murmurs from the park or the surroundings of an abandoned train station, to name just a few landscapes, the visitor can glimpse the physiognomy of the place and its people. The jogging tracks of yesteryear and today’s skate parks were all connected by the dozen Sesc Arts Circuit line-ups, which set out to perform in towns in São Paulo’s countryside between April 25th and May 11th 2014. They brought a huge diversity of expressions, subjects and disciplines, which stimulated subjectivities and otherness in each of the 102 destinations. What was at stake in this traveling show was the esthetic that arose as a result of the fusion of the fields of art (as a territory of freedom and risk) and culture (a flow of ideas organized by public or private institutions that are prepared to encourage artistic intervention or at least not hinder it). For three weekends in a row, at least one of these towns on this lively route experienced a Friday, Saturday

205


and Sunday that were brimming with activities that transformed the daily routine of the central squares of these places. Elderly people, adults, adolescents and children gathered round and were moved by circus acts, by the cues of the actors of street theater, by the enchantment of the storytellers, by the rocking music of the singers and musicians of a huge range of rhythms, by the unusual open air projections, or the images that could be glimpsed through a hole in a homemade box, in a homage to the old-fashioned ‘lambe-lambe’ photographers. Not to mention the passionate activities of contemporary art, including performances, urban interventions and modalities that control technological devices and create new sensations. When the 7-year-old school boy Wedsley left his house with his family on his way to the local park Novo Anilinas, in Cubatão, he never expected to end the evening as a skillful storyteller through his participation in the presentation Conte a Sua (Tell your one), from Cia. Ju Cata-Histórias (São Paulo), on the first Sunday of May. The group creates a space for the audience to tell a well-known story or to simply invent one. Nestled in the colored tent, Wedsley put up his hand and walked into the center. He stood next to the artists and he began to talk about the day there was a werewolf hidden under his bed, immediately capturing the attention of the audience and the beaming pride of his father, the carpenter Vanderlei Almeida. In São Vicente, according to the account of the photographer Claudia Mifano, this moment of interaction of Conte a Sua got started with the participation of homeless people. They let their imagination run wild and they made relevant contributions to the act, which is based on the chance aspect of hopscotch, to involve the participants with a range of subjects, regardless of their age. One of the results of the Arts Circuit was that when it passed through the towns, it set aside a few hours for the building of a platform for a temporary artistic and cultural community. It opened the minds of the audience on multiple cultural manifestations and at the same time offered the possibility of living together, of sharing that moment in a space that frees the senses.

206

In the so-called bedroom suburbs, where the workers live but spend the day working in a different town, it is more challenging to captivate the attention of the population for a day of artistic immersion like that of the current proposal. In Tremembé, located in Vale do Paraíba, the secretary for Culture, Tourism and Sports Marcela Pereira Tupinambá – who outside of this role is an office accountant – faces this kind of resistance on a daily basis. It was the second time the local council had participated in the Arts Circuit. “Last year there were even fewer people”, remarks Marcela, estimating that around 500 people came to see the seven artistic acts that took place in the old train station Doutor Paulo de Frontin. The old façade of the building, which has been preserved, provides a special atmosphere for the performances. Line-up 11 brought to Tremembé, among other things, Celso Frateschi’s monologue, Horácio, the drama of the German Heiner Müller that the actor has played for the last 25 years, on a platform under a leafy tree. It was a performance that was made more accessible by the straightforward nature of the text, which unveils the sometimes murderous and sometimes heroic masks of the character of the title. The night ended with the musical performance of the afro band Ilú Obá De Min (São Paulo). Their female singers and percussionists communicate the need for preserving intangible heritage and they evoke the beauty of traditional cultures, like in the verses of the title song written by Sossô Parma: “Ilú Obá as mulheres que tocam tambores / Ilú Obá salve a força da soma das cores” (Ilú Obá the women that play drums / Ilú Obá save the strength of all the colors). Teaching and creating ways of seeing and listening is the principle that guides the practice and objectives of Sesc, claims the coordinator of Line-up 7, William Vilar, who is responsible for the group of partnerships and external activities for the Sorocaba branch. Regardless of popular or high culture perspectives on each program, “we are talking about educating in the nonformal sense and through access to culture and art,” he concludes. In this sense, the experience of the 7-year-old school boy Francisco, in the show by Line-up 7, perfectly symbolizes the way in which the strategies of the Sesc Arts Circuit can be a unique

experience for awakening the sensitivity of an individual. His family arrived at São Roque in the afternoon, traveling from the Butantã neighborhood, which is in the west of São Paulo. Accompanied by his mother, Maria Aparecida, a teacher, and his father, José de Souza Sobrinho, a laboratory technician, the little boy had makeup applied and donned some accessories in order to pose for the photographer Camila Fontenele de Miranda, who came up with the visual arts idea Todos Podem Ser Frida (Everyone Can Be Frida), a reference to the Mexican painter Frida Kahlo (1907-1954). And there they were, painted on Francisco’s face, Frida’s characteristically thick eyebrows and moustache, which underlined Francisco’s albino condition (a total or partial lack of pigmentation in the skin). But the most peculiar behavior from this little fellow was to see him sitting in the front row in the open air show of a fellow albino Hermeto Pascoal. Francisco is fond of listening to the Alagoas-born beats of the “warlock”. That was how he ended up visiting him in his dressing room around two years ago in a show in São Paulo. This movement from the capital to the smaller town in a certain sense denotes an emotional tie between the young boy and the enthusiastic 77-year-old singer-songwriter and musician. These are the possible, universal and vital bonds that art can provide for every citizen, in every single edition of the Sesc Arts Circuit. Valmir Santos is a journalist, researcher and theater critic. He coordinates the website Teatrojornal – Leituras de Cena (www. teatrojornal.com.br) THE TRANSFORMATIVE POTENTIAL OF WORKING TOGETHER AND MUTUAL AFFECTION It’s not just recently that the activities of Sesc São Paulo have caught my attention, stirred my desires and entertained my artistic fantasies. Be it with groups or with one-man projects, be it through my own proposals or through Sesc’s projects. Or even through other people who have had the privilege of seeing their creative ideas transformed into real projects. Inumerable well-known artists would jump at the chance to work with this institution. Having heard of and participated in some of these projects, this year,

however, I came across a format that was somewhat unfamiliar; the Sesc Arts Circuit. Five groups of artists set out in a bus for three weeks, traveling through nine cities (three per week), where they occupied the town square with the structures for their respective shows. Can this work? I can now say with all conviction: yes. What is more: it has the potential to be brilliant. For about 20 days there was a lot going on, from the initial organization of ideas, understanding our limits, observing others, respect, generosity, letting go, and a great deal of pleasure to see a story being woven, made up of individualities that form a group. It was an experience that led to meetings, mutual understanding, it forged “definitive” relationships, it sowed affection and beyond any shadow of a doubt, it touched all of us: the artists, the technical team, the producers and Sesc representatives. And hopefully the audiences in each town we passed through. Indeed, there are ingredients for a battle here (not one of the gory ones) on taking on something of this shape and size. The project was both risky and yet worthy of merit. We survived and we grew; we got emotional and we undoubtedly made others emotional. The seeds were sown; we left our mark and opened up possibilities on all those “places out there” and in return, we reaped the most diverse receptions and welcomes: that’s the great part; it’s what makes us stronger. Up until now I have been referring to line-up 1, which was the cast I belonged to. Therefore, I can speak from first-hand experience in this respect. But if we do a quick calculation, considering that there were around 30 of us and that there were 12 different line-ups, without including the staff for mounting structures and organizing logistics, then there you are talking about more than three hundred people, who all had, to a degree, shared experiences. This enriches the experience, and I think it probably does so on a visible scale. And I return to our experience in order to describe some meetings and first performances. Knowing that I would meet Helder Vasconcelos again, a colleague who I shared the stage with some years back, with his band Mestre Ambrósio and our band Pedro Luís e A Parede, at this time with the Boi Marinho project and his show Na Pisada do Carnaval, - was cause for excitement for me. I was sure that it was where I would get my inspiration

from; although I got much more than that! It was all about fun and generosity. Our first interaction took place, with me crashing the stage during his show and then them coming on stage during my one-man show. There, our goal was minimalist, where only myself and Paulinho Dias, with his incredible percussion, attempted to dress up a few of my songs with an intervention that showed the grace and vigor of my partner Bruna Caram, a beloved singer-songwriter. Our encore became an avalanche of musical and playful energy, based on reciprocity, with learning and teaching all mixed up together. Some of us started crashing the stage during the shows of others. And since my show was the final act in each town, there was nothing else for it: everyone came up on stage, and to both my delight and the public’s, it all finished with a great finale. Cine Olho enchanted audiences in the towns we passed through with classical movie scenes, with three spy holes set up in each town square. The aforementioned Helder Vasconcelos and Boi Marinho brought energy, enchantment and music from Pernambuco, with international overtones. A Famiglia Milan and Gran Circo Guaraná com Rolha, the shows from Circo Nosostros and their wonderful collection of circus acts, were as lively as they were lyrical. The clown Teotônio performed by Ricardo Puccetti, from Lume Teatro, with his daring and emotional La Scarpetta, got the public up from their seats for a participatory dance, which surprised me and even got me out of breath! Yes, indeed, I’m much happier after this brief and intense shared experience. The people made me a better person and I’m grateful for that. This is my version of the Arts Circuit. Anyone else is welcome to tell their version. And there are certainly a few of them to be heard, there is no doubt about that. Pedro Luís is a poet, singer and composer, founder of the band Pedro Luís e A Parede and one of the founders of Mono-bloco. THE DEMOCRATIC PRACTICE OF ART IN PUBLIC SPACE “Vou viajar, vou trabalhar, tô indo já, contigo no meu coração e dentro da minha cabeça...” (I’m heading on my travels, I’m heading out to work, I’m on my way, my heart and my head are with you...). In 2014, in all the town

squares of the cities visited by Line-up 8, from the Sesc Arts Circuit, the song Vou viajar (I’m heading on my travels), by Martinho da Vila, was played over and over again in the sound tests. It was a sign that things were not quite ready yet: the stage was still being set up, the dressing rooms were being prepared, the costumes ironed, and, of course, the sound needed a few adjustments. However, despite technical matters, this song about goodbyes, with a melody that almost always got us dancing, summed up a state of mind. These traveling artists, from São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, Rio de Janeiro and Salvador, faced the challenge of recreating their art in the town squares of São Paulo’s countryside. In the 2014 tour group, I was the only one who had already taken part in the Arts Circuit before. As a visual artist, in 2011, I toured in Line-up 6 with the urban art project Polaroides (in)visíveis ((In)visible polaroids). This time I was invited back to carry out Intervenção de Outono (Autumn Art Intervention). In this project, dry leaves, which were picked up from the street, were tied to gas balloons that soared up into the skies, going against the direction they would normally take in nature. Like messages in bottles thrown into the sea, each of the leaves carried by the wind had a message written on it: “É no outono que as folhas se despem de seus sonhos” (It’s in autumn when the leaves give up on their dreams). In this aerial flight, with no fixed destination, in the season that denotes the end of exuberance, arose the search for a possibility (even being a remote one) of a dialogue with a distant spectator, and the hope for a new beginning. In a certain sense, my work with urban art in the Sesc Arts Circuit was always an experience that took place alongside another artistic project. Before any artist could come on stage, the square, which was normally the place for strolling and resting for passersby, became the focal point of the local community. There were cables set up to change the lighting, stalls altered the pathways of the public around the square, and the stage structure suggested something different was about to happen. It was a transformation that, when finally finished, reminded me a lot of another attempt at urban intervention – the Agora. The Agora was the main square in the polis (the ancient Greek city) constitution, where commercial transactions and discussions on city life used to take place. It was

207


fundamental for the practice of citizenship and for the spirit of democracy, and it was a public space par excellence for the cultural and political life of the Ancient Greeks. In the context of visual arts, the Sesc Agoras have been sharing with the public a selection from curators that highlights what is commonly known as contemporary art, a “movement” that dates back to the end of the Second World War. As well as an esthetic change in comparison to Modernism, one of its main impacts was the relocation of art. The traditional spaces of museums and galleries were complemented by the marginal, the unconventional, by the occupation of parks, streets, squares and an infinite number of spatial possibilities, whereby the lines between the sender and receiver were blurred, creating a new kind of interactivity. Held in the open air, Intervenção de Outono questions the notion of art being limited to single, completed objects and calls into question the artistic process, instead emphasizing mobility, fleeting experiences and meetings that occur in the very spaces where these projects take place. However, another factor besides the artistic relocation between public and private spheres, was that each town square became a temple, a kind of invisible theater, without walls. Since the physical boundaries disappeared, the fusion of different artistic disciplines became inevitable. As the days went by and after hours of mutual observation, the groups of circus, literature, audiovisual arts, music, dance, theater and the arts were looking for possible dialogues. From this point on, I saw, for example, Intervenção de Outono being used as a stage for the choreography of João Saldanha’s Piquenique Urbano (Urban Picnic); the dancers from the dance company Discípulos do Ritmo performed in André Abujamra’s show; Grupo Matula de Teatro rehearsing a special performance in the musical/ circus show Poemas Esparadrápicos (Bandage Poems) from Doutores da Alegria; and the puppeteer Virgílio Zago, working his belly dancer in order to bring something new to the Bahian beats of Mariene de Castro. This kind of interaction was as spontaneous as it was welcome by everyone and it provided every performer with the sense that, despite differences, we were working in a state of mutual cooperation.

208

Finally, the greatest motivation behind the Sesc Arts Circuit, - and I believe that in this respect I can speak on behalf of everyone involved - was the moment we came into contact with the public. Not only was the square a place that allowed for the contemplation of shows, but it also provided a kind of family atmosphere that brought together the public and the artists. It was as if I was in someone’s living room, where I was asked on a daily basis: “What are you doing?”; “What does this mean?”; “Where are you from?”. Of all these questions, I found one of them the most touching of all: “Do you need any help?”. It was a question that was repeated, without exception, in all the towns I visited in 2014. I didn’t really feel like an artist in these places, I felt like I had become a member of a voluntary team that carried out an urban art project. When it came to the time we had to release the gas balloons with the autumnal leaves, the visual spectacle that we all contemplated was not just mine, but the work of an entire group that had built that moment. In these temporary Agoras provided by Sesc, I was able to experience, through the art, one of the most fulfilling democratic exercises regarding citizenship. In this three-week trip around São Paulo’s countryside, 102 towns brought together 357 artists and they formed a vast network of human interaction. Imagination was able to regain the importance that virtual worlds and special effects insist on relegating to second place. And that is how the days went by until it all came to an end. And as another Arts Circuit came to a close, I still fondly remember the squares and the people I met and I can only conclude: it is great to travel, it is great to work.

of the Arts Circuit. These experiences have forced me to face off against the city, pitting my body and my personal stories against the hard urban surfaces and chapters of the city’s history. In 2006, I presented the dance show Escambo (Barter), with the dance company Mário Nascimento. Originally thought up for theater, the show was presented on outdoor stages in the cities of the Arts Circuit. This meant having to perform on a range of different floors, each with their own distinct effects on the body. I remember my colleagues’ complaints about their pains due to the conditions of the surfaces being used as stages. However, I didn’t seem to feel any discomfort. Rather than being in any pain, I was more bothered by the question: “Why are they in pain and I’m not?” I began to suspect that the answer lay in my background, having been trained in street dance. As one of the products of the hip hop culture, B-boy dance allowed me to build a very particular relationship with the city. I traveled all over the city searching for places to train, study and experience the B-boy lifestyle in urban spaces. I spent a lot of time training in squares, streets or under overpasses.

THE BODY RETURNS TO THE TOWN SQUARE

In the time between the two Art Circuits in which I participated (the latest being in 2011), I traveled a whole lot. In this almost six-year gap, I participated in dance festivals in Latin America, Africa and Europe. In general, they were focused on urban art and there were workshops and performances. On this journey, I began to study an MA at the Federal University of Uberlândia (Minas Gerais), which was focused looking at and analyzing the relationship between urban space and the training of a performance artist. Besides the thesis I wrote, the experience also resulted in the development of a series of technical and physical practices, which I began to share with artists and art students in courses, meetings and residencies.

A group of artists worked together on the creation of Mono-blocos: Ação, Interação e Intervenção na Praça (Mono-blocos: Action, Interaction and Intervention in the Square), a project which took us to nine cities in São Paulo’s countryside, as part of the 2014 Sesc Arts Circuit. This dance project brought to mind my participation in two previous editions

I returned to the Sesc Arts Circuit three years later with my own project, O Corpo é a Mídia da Dança? Outras Partes (Is the Body the Media of Dance? Other Parts), which was initially created for a studio or a warehouse. However, its circular format and the use of a lot of B-boy movements allowed for a comfortable transition to the hard paving of the

Tom Lisboa has a Masters in Communications and Languages and works as an artist, an independent curator and a cinema and photography teacher.

squares. We traveled to 14 cities and every performance took place on the paving of the squares. In other words, there was no stage to hinder or restrict the relationship between the performer and the surrounding area. At the time there were no complaints of any kind of pain or discomfort. Not only the techniques but also the use of the space seemed to put me at ease in these surroundings. Both the practical and theoretical research I did for my Masters and the subsequent experiences in programs such as the Arts Circuit contributed to my idea for Mono-blocos – Ocupação, Interação e Ação na Praça. It was divided into two stages of equal importance: the first, a process called Cidade Habitada (The Lived-in City), and the second, which came as a result of the former, was called Monoblocos. In Cidade Habitada, we researched and produced a proposal for a performance that would arise from interactions with the environment. In practice, our strategy consisted of the temporary occupation of town squares in Uberlândia by ten performers. The training, the development and the construction of the proposal were the results of the practice of living in the city. The intention was to establish a degree of intimacy with the squares through their “use” and the experience of being in them. An attempt to recover a lost proximity and a forgotten body: a body that would explore the square so as to break free from the constraints of the modern body, which has become all too accustomed to the comfort of the sofa. The second stage, Mono-blocos, culminated in a performance that was divided into several structured blocks of choreographic games which had as their main features; the constant interaction with urban space, with regard to both its social and physical characteristics; the participation of performers from a diverse range of backgrounds, such as street dance, theater and the arts; and finally mobility, flexibility and the capacity for interplay, forming a constant dialogue with the surroundings. Mono-blocos is the result of an idea that sprung from the need to dance in the city, to roll around on the hard paving, to experience the textures and history of the square, to explore the horizontal and vertical elements of the city. But it is also about negotiating the historical, technical, political and social

dimensions manifested in each of our bodies. And it is about the possibilities of interaction and survival of the body while experiencing the physical and social architecture of town squares when they are occupied by festivals and artistic programs. Questions like; 1) What kind of project is it possible to perform in the town square/ city?; 2) What kind of relationship is it possible to establish?; 3) What are the physical capabilities or the materials, such as clothing, flooring and protection, necessary to ensure the safety of the performance? Do we have sufficient training to be able to occupy the city? And what kind of performer emerges from the interaction with the city? How can a performer that has trained entirely in symmetrical, predictable and safe studios be affected by coming into contact with the city? Our participation in the 2014 Sesc Arts Circuit was a gift, an event where we had nine chances, nine opportunities to test the proposals that we conceived and were developed over years of research, testing different squares every day, each with a different physical and social architecture. But above all it granted, once more, the opportunity of living and working alongside artists with a range of disciplines, experiences and personalities. And well, I continue to believe that the concept of environment is becoming increasingly useful. The research led me to consider the physical and social space, the physical techniques (hip-hop, parkour, skate, ballet, no matter what the style) and the history of the subject (their personal and social background) as an environment in itself. The result of this journey is corporality. In other words, it is impossible not to be affected in some way by the experience of the city, or rather, by the space itself. After all, more than dance and the city, the heart of the matter is the interconnection of body and space. Vanilton Lakka is a choreographer and independent performer, professor and researcher at the Federal University of Viçosa (UFV). CULTURAL POLITICS AND CIRCULATION First of all, it is necessary to define what we mean by cultural politics in the present text. They include a

sum of actions and formulations that are expressed, carried out and systematized with the objective of promoting symbolic development, meeting the cultural demands and needs of the population, creating social values, constructing collective and individual identities and consolidating individualities. There are, of course, other dimensions that can be comprised within the notion of cultural politics but this brief definition will be sufficient for the analysis of the current article. Cultural politics arose from the turnaround in the traditional relationship between politics and culture. From antiquity onwards, the relation between these two social spheres always took place with the privilege of politics, which was considered as an end, over culture, which was considered as a means, a mere instrument to be employed in the pursuit of political objectives. The example of Caio Mecenas is emblematic in this sense. He was a Roman citizen in the first century B.C., and he advised Emperor Augustus to finance a group of artists and intellectuals as a means of promoting his power, authority and public image. It was from him that the term ‘arts patronage’ arose, a term that is widely used to refer to one of the possible meanings of this concept in question. In the mid 20th century, alongside this old model of relationship, a new means of interaction between culture and politics began to emerge. It consisted of a vision in which culture became an objective in itself, while politics began to be considered as a means. In other words, from this new perspective, politics was used as an instrument for the development of culture, which was now conceived as an end in itself. With this inversion of roles came the rise of cultural politics. It is a concept that introduces a different way of thinking about the connection between culture and politics. From this point of view, it is possible to claim that cultural politics is a recent concept, despite the long standing historical relationship between the two areas. In Brazil, as in many other countries, cultural politics took root as a sum of actions and formulations aimed at conservation and preservation, especially when it came to tangible heritage and buildings. The National Council of Historic and Artistic Heritage , later named “Institute” (IPHAN), constituted itself as an exemplary institution of this historical context.

209


Decades later, cultural politics increased their influence with the incorporation of arts and artists. They were aimed at the field of creativity and cultural production. The National Arts Foundation (Funarte) expresses this movement like no other organization. However, one of the traditions of cultural politics in Brazil is the almost complete predominance of politics aimed at conservation, preservation, creation and production of culture, which is detrimental to an infinite number of other possible dimensions of cultural production, such as circulation, distribution, training, studying, criticism, fruition, management, consumption, etc. These aspects are generally brushed to one side. In this sense, cultural politics address a limited view of the possible ramifications of culture. This attitude distorts politics and makes it difficult and sometimes even proves an obstacle for achieving a more balanced, harmonious and complementary development of the constituting fields of the cultural sector. The problem of distribution is one of the most urgent questions for the stimulation of Brazilian culture. Let us take some examples that reveal the seriousness of this current situation in society. The existence of around 2500 movie theaters in a country with 5570 towns and around 200 million inhabitants limits the distribution of a significant number of films that are currently produced in Brazil. This situation is exacerbated by the concentration of distribution rights in the hands of a small number of multinational companies. To take another example: the limited number of book stores and the concentration of book distribution rights to a few organizations, means the book and printing industry suffer. We can conclude that, beyond any shadow of a doubt, the question of distribution is one of the most urgent questions in any debate on Brazilian culture today. And yet, this matter is almost always neglected by cultural politics and policies, which fail to consider distribution as one of their priorities. Circulation is another essential movement for the dynamics of Brazilian culture. As a result of the difficulties of distribution, cultural products and manifestations in general are received by the public through media networks, which basically connect Brazil. Broadly speaking, these media networks not only operate as an

210

instance of production, but they are also responsible for giving visibility to the more expressive parts of cultural productions and manifestations. This attitude creates a strong dependence of culture on the media, namely television, and, to a lesser extent, radio. The constant reference to the project ‘Pixinguinha’ that was developed by Funarte from the 1970s onwards, shows the almost complete absence of circulation mechanisms in Brazil today. In this challenging context, the inexistence of policies for cultural circulation makes the already fragile situation even worse. The need to overcome the harmful neglect of this question in Brazilian culture is becoming urgent. It needs to be made one of the country’s priorities. In the regular meetings of the National Forum of Cultural Ministers and Cultural State Leaders, this matter has been widely discussed, despite not having any concrete effects up until now. But the existence of the debate signals the need for circulation policies at a national and state level. This is becoming increasingly apparent for all parties when it comes to the development of culture in Brazil, especially when the latter goes hand in hand with the extremely relevant topic of cultural diversity. In other words, the preservation and the promotion of cultural diversity in Brazil depends on a wide range of complex possibilities for the circulation of culture, which stimulate intercultural dialogues and are so essential to improve, enrich and give more vitality to our culture. The incentive for cultural circulation does not mean limiting this concept to the sphere of cultural practice as such, since it also has impacts on other aspects of culture. Broadly speaking, the circulation of culture stimulates creativity and production, creates audiences, increases the possibility of carrying out projects as well as encouraging their consumption, allows for criticisms and studies, strengthens possibilities for preservation and conservation, and encourages cultural management and exchange. In other words, the existence, implantation and practice of circulation politics has considerable impact on all aspects of the cultural sphere. However, the current situation, of a fundamental lack of effective policies regarding cultural circulation, is beginning to change, albeit gradually, with the introduction and consolidation

of cultural circulation programs in Brazil. There are still few examples, and they are yet to provide the country with concrete policies in this area, but they are significant and essential for changing the current state of affairs. They signal the progressive overcoming of the abandonment of these topics and are highlighting the possibility of reaching a vital new model for the development of Brazilian cultural diversity. Antonio Albino Canelas Rubim is a researcher at CNPq and at the Multidisciplinary Cultural Center (CULT); he is a professor at the Multidisciplinary Program for Graduate Courses in Culture and Society at the Federal University of Bahia (UFBA). EXPEDITIONS: NEW CARTOGRAPHIES “Cartography is a method with a double function: to plot the terrain, its landforms, its mutations, and, at the same time, to create trajectories through these landscapes” Suely Rolnik Artistic and scientific expeditions, with the objective of researching the flora, fauna, geography and social life of the country, became more systematic from the 19th century onwards, boosted by the arrival of the Portuguese Royal Family in Brazil. As a result of the country’s extensive territory, with a vast diversity of landscapes and social practices, these journeys were largely responsible for the first attempts at the concrete and symbolic appropriation of the country, via the invention of an iconography, combined with a set of narratives. A wide range of specialists took part in these expeditions, including botanists, zoologists, naturalists, and above all artists and painters, the most famous of them being Rugendas (1802-1858) and Debret (1768-1848). As well as the main objective of these expeditions (the mission of collecting concrete information on the places that were visited), today we can also appreciate the dimension of subjectivity of these perspectives, the style of each artist, the notion of an initial repertoire, the values and the biased nature of these visions, as well as the paradigms that defined the techniques of the artist at that time. More recent documents of expeditions to the more rural parts of Brazil mainly date back to the 1930s, when Mário

de Andrade (1893-1945) created study groups that would travel as tourists, recording their impressions, documenting what they saw and listening to stories about the local folklore and popular traditions. These trips led by this well-known modernist thinker were the first signs of an intangible heritage. They were also related to the anthropological context at the time, their main objective being to collect material on popular artistic manifestations in Brazil. These are the inspiring experiences that guided the desire, in the 21st century, to encourage an expeditionary spirit in groups of artists as social and political agents that are placed in unusual contexts. The towns that were chosen for these creative subjects were the object and inspiration for an investigation into the development of art in diverse situations, as well as into the role of local citizens as creators of the history, traditions and narratives of the region. As such, the Sesc Arts Circuit Expeditions decided to visit some of the participating cities of the project, with a defining objective: to carry out an investigation on these cities, which manifested itself in drawing, videos and literature, accompanied by a desire to increase the dialogue with these cities. In this way, groups of three artists, always made up of a writer, video artist and visual artist, visited a range of cities within São Paulo’s countryside, revitalizing traditional artistic media, while appropriating materials that are specific to our time, creating a kind of virtual log that could be followed for the three weeks that the Circuit took place. The underlying factors that characterized all the works produced were the individual methodologies defined by each artist-researcher, regardless of their esthetic choices and their unique results, as a result of their relationship with the places they went and the people that they met. Thus, the artist reaffirms their social role, as an agent that creates new ways of presenting discourses, in the field of sensations, in order to generate a poetic presence in the cities they visited. Based on the contemporary idea of the subjective nature of thought, the contemporary version of the paradigm of the ‘artistic expedition’ leads us

to a reflection on the cartography method proposed by the philosophers Gilles Deleuze (1925-1995) and Félix Guattari (1930-1992), who invited artist-researchers to participate in a peculiar cognitive exercise: developing a greater capacity to create the world around them rather than just recognizing it. These “trajectories”, to which Suely Rolnik refers, are what most interest us here: those manifestations that can free themselves from reality and materialize themselves in the artist’s work. And this leads us to formulate further questions. What is the place of the creative process in the arts? What potential do we have for dialogue on placing the artist in a different space? What are the consequences when the artist’s work confronts new experiences and different provocations from those to which it is accustomed? In what ways can artists continue to contribute to the construction of the imagination of a place, of its time and its people? Do they continue to act like “antennae of the race”, as Ezra Pound (18851972) once said? The narratives and images created by this wonderful team of artist-researchers can offer us some clues as to the answers of these questions. For Sesc, encouraging artistic creation, placing value on the creative process and considering these places from a poetic perspective, distanced from large urban centers, strengthens the mission in the field of arts and education. The important legacy remains, provided by art that was strengthened by artists who acted as public thinkers, and, who through this role mapped spaces, cultural agents, histories and creations and presented cultural elements in a poetic light for the cities they visited. Cities visited: Tupã, Registro, Rio Claro, Ilha Solteira, Jaú, Itu, Mogi Guaçu, Mococa, Mogi das Cruzes, Guararema, Lorena and Votuporanga. Participants in the project: Video artists: Clara Ianni, Diego da Costa, Henrique Cartaxo and Nordhal Neptune; Writers: Luciana Miranda Penna, Marcelo Maluf, Rodrigo Ciríaco and Samir Mesquita; Visual Artists: Christiana Moraes, Fabio Tremonte, Jonas Meirelles and Paula Éster. Production: DB Produções Assistants: Ana Luísa Sirota (GEAC), Juliana Okuda, Gustavo Torrezan and Melina Marson (GEAVT).

THE HIDDEN FACE OF THE COUNTRYSIDE: IDIOSYNCRASIES OF THE ‘OTHER’ I didn’t really know São Paulo’s countryside before. I do now. The reason being that I’ve been living in São Paulo for only five years, after several decades in the countryside of Rio Grande do Sul. More prisoner of the big city than I would like to be, more paulistana than paulista1, I never really had the opportunity to get to properly know São Paulo’s countryside – especially since ‘knowing’, in the true sense of the word, implies being among the people, listening to them carefully, and understanding what each place has to say to us. The “RGs series”2 was developed in parallel with the traveling program of the Sesc Arts Circuit and it revealed the identity of each of these places, not through an official history, but through an imaginary one – one of its local inhabitants, of its flavors, of its mascots and of its inhabitant’s daily lifestyle. As a historian and journalist, I was invited by the ‘Portal Sesc SP’ team to organize the writers and edit the content that would make up the series. I accepted the role, thinking that it would be yet another technical job to deal with around a hundred stories, a few images and other bits of news, and the result of all this in social media. But I soon realized that a purely technical approach would not be enough in this case. The “RGs series” was about real lives – and in some sense about my own life too. I was born in one of those small rural towns, which we all imagine as an idyllic place, with a town square, a church, homemade food and a more utopian, simple way of life. Only it’s not all that simple. This apparent harmony is in fact made up of a multiplicity of experiences, perspectives, skills and desires. If each square has a church, what is its relation with the community? How was the local parish set up? Who looks after the land? Who became the priest?

1 The term “paulistano(a)” refers to someone that is from the city of São Paulo, while “paulista” denotes someone who lives in the state of São Paulo (i.e. the city and the surrounding countryside). 2 “Série RGs” is the name of an artistic venture by Sesc. ‘RG’ literally refers to the name of the Brazilian ID card.

211


Among many delightful discoveries, the “RGs series” introduced me to the story of a priest who was in fact a great pianist, and another one who demolished his own altar, and a third who was both a communist and a Godfearer in equal measure. In Mogi Mirim, believe it or not, I actually edited an interview with Jesus! And that is just considering the stories of the Catholic Church, which are intrinsically linked to the founding of the first small villages and towns in Brazil. Alongside the infinite number of churches in the Brazilian countryside are the town squares, with the popcorn sellers, the monuments, the museums, the newspaper and record stands, tamarind and cherry trees, dogs, peacocks and alligators. Jales, Caçapava, Itapeva, Garça, Bebedouro, Poá, Mauá and many other towns had the diversity of their town squares opened up by texts from this series. It is worth reading about each of the human characters on the circuit (all you need to do is go on the website www.sescsp.org.br/ circuitosescdeartes). Coriolando particularly grabbed my attention; the so-called “Lord of the Deaths”. At a certain point in his life, he began to announce people’s deaths and to mourn for the town each time someone passed away. For me, Jaú seemed to be a city where people are particularly important. It seemed to be a sensitive place that welcomed the daydreams of the man with the wandering horse, improvised using a broomstick – while here in the big city he would be lost among the noise and the sea of other fantasies. I also got to know about the delicious meat and cheese “bolinhos” from Dito3 in Jundiaí, and the hundreds of chicken bolinhos4 from Itapetininga. Did I mention the manjubinha (fried whitebait) from Iguape? And then there’s the red rice from Cruzeiro and the churrasco grego5 from Guarulhos. Dessert: perhaps some dried banana served in a metal pan like in Ubatuba, or the homemade ice cream from Itapólis, and why not, the sweet pink popcorn-like snack made of macaroni (served in Bragança Paulista). 3 This is a type of snack which is a ball made of meat, stuffed with cheese, and then fried.

(A parenthesis for the scary stories – “The Abduction in Mirassol” has been a favorite with UFO fans for the past 30 years. It gives a mysterious feel to the north of the region, such as the city of Pindamonhangaba, which is feared right up to the present because of its haunted ship that, instead of being called Charon and crossing the river Styx, like in the Greek myth, is known as Nhô Zé and crosses the river Paraíba do Sul.) Breaking with this sense of unanimity that generates so many prejudices and half-truths about the countryside, known in Brazil as the “interior”, (a single word which masks so much diversity) is the central point that the “RGs series” sought to capture. This experiment was driven by a desire to look for the similarities we all share by stopping to truly look at the ‘other’, and this was the impression I got when each web-editor of the 14 Sesc branches that visited the cities shared their experiences with me. I merely embarked on this journey, as if I were editing the narrative of the journey of Marco Polo, and I got to know a whole new universe that goes beyond the overwhelming city of São Paulo. I’m just itching to be able visit each of these 102 cities and ask: “Hey, is the story about so-and-so true….?” Francele Cocco is a historian, journalist and cultural producer. Executive director of the Estúdio Mezclador (mezclador.com.br). LINE-UP 1 DANCE Na Pisada do Carnaval Helder Vasconcelos and Boi Marinho (Pernambuco) The culture of playing in streets and “terreiros”6 is the central feature of this creation, which combines Cavalo Marinho and Bumba Meu Boi.7 The former consists of popular theater that centers around the sugar cane cycle in the countryside of Pernambuco, from the 16th century onwards. The latter is a folkloric dance that includes tragicomic elements. It arose in Brazil, in the 18th century as a form of resistance to the oppression of black slaves and indigenous people. This historical melting pot of influences allowed the musician, actor and

dancer Helder Vasconcelos, together with the group Boi Marinho, to create the basis for Boi de Carnaval8. The procession plays with tradition, yet retains innovation and originality when it comes to the stage and the sounds. It reflects the 22 years of professional experience held by the co-founder of the band Mestre Ambrósio. The artistic education of this mechanical engineer originates from rural maracatu9, which has been a strong influence on him since he was a child. CINEMA Cine Olho Among the events that led to the advent of the Age of the Image, one of the fundamental factors was the invention of the cinematograph by the French Lumière brothers, 119 years ago. Our concept of seeing began to be conditioned by the seventh art and the latter, in turn, began to project itself onto reality. The ludic intervention conceived by the Sesc SP Cultural Action Management team highlights the voyeur position adopted by viewers, regardless of time or place, showing them the earliest black-and-white films, with unsynchronized sound, bathed in artificial light. Positioned around the square were a series of three boxes each with a hole (which was about the size of the human eye) where people could sit and “secretly” watch scenes such as a romantic kiss, mythical monsters and the more rudimentary special effects from early cinema, dating from 1896 to 1930. The result is a journey through the legacy of silent actions and gestures that left the viewer speechless. CIRCUS Famiglia Milan e O Gran Circo Guaraná com Rolha Circo Nosotros (São Paulo) We see what would appear to most as nothing more than a Persian rug. Yet the normal use of this luxurious item is completely subverted by the actors and acrobats Marcelo Milan and Sandra Saraiva. The duo converts the tiny rectangle into their own open air circus ring. The music evokes the magic of the circus acts of the distant past, which continue to seduce audiences in big cities and small towns alike. Despite their breathtaking skills, such as balancing acts, acrobatics and feats of physical strength, the duo

4 This is a type of snack which is a cornflower ball, stuffed with chicken, and then fried.

6 A terreiro is an outside area of a house or building where religious ceremonies or other performances traditionally take place.

8 Boi de Carnaval refers to a procession in which the bull (not a real one, but a model) is the central figure and the procession is based around the bull.

5 Churrasco grego refers to a kebab, which is cooked on a vertical rotisserie.

7 Types of regional dances and popular theater from Pernambuco.

9 Maracatu is a type of performance which takes place in Pernambuco, in Northeastern Brazil.

212

has a minimalist style. The mime and contortion acts have a poetic aura about them, which harks back to the mambembes10 families, while there is a focus on experimentation using the different disciplines of the members of the group, which was founded back in 1999. They are skillful when it comes to the costumes, and also when it comes to their relationship, in which the legs of one of them serves as a base to help the other climb up something, such as a simple trunk, a basket or a ladder. The audience is left in suspense as a result of the precision of the movements and the distinctive music of the traveling, universal troupes. THEATER La Scarpetta Lume Teatro (São Paulo) Teotônio is the animated clown played by the introvert actor and researcher Ricardo Puccetti, member of Lume Teatro, based in Campinas. The character of the clown is the result of the prolonged dramatic studies of the group, founded in 1985. To sum up, the protagonist attempts to carry out various tasks, in a playful manner, for playing is his true raison d’être. The show focuses on overcoming every form of obstacle. It is a comedy of errors about a man who is trying to transform things that block his path, which results in a “spettacolo artistico” (artistic spectacle) full of circus acts. Acrobatics with eggs constitutes just one of these acts. This ostensibly chaotic show is directed by the Italian director, Nani Colombaioni, who has previously worked with the film director Federico Fellini. Puccetti’s Teotônio is the visual result of how he has sculpted his own style for his art. MUSIC Pedro Luís (Rio de Janeiro) Special participation of Bruna Caram The many ideas and sounds of the composer and co-founder of the bands Mono-bloco and Pedro Luís e a Parede, together with the granddaughter of a radio singer from the 1950’s and a violinist who plays with seven strings. An innovator in samba, rap, hip-hop, maracatu and funk11 fusion, the Rio de Janeiro born Pedro Luís revisits the works in his repertoire using the voice 10 A mambembe is a type of travelling theater group which puts on performances, often considered low quality or amateur. 11 Funk is a music genre that originated in the mid to late 1960s when African-American musicians created a rhythmic, danceable new form of music through a mixture of soul music, jazz, and R&B.

of the São Paulo born singer Bruna Caram. The collaboration highlights the unique aspects of their respective musical careers, since Pedro Luís is also an enthusiastic singer. Their voices and lyrics are constantly searching for new sounds. Bruna is invited to rework recorded songs by colleagues such as Elba Ramalho (Noite Severina and Os Beijos), Maria Rita (A Medida do Meu Coração), Roberta Sá (Janeiros and Braseiro), Adriana Calcanhotto (Mão e Luva) and Zélia Duncan (Braços Cruzados), among others. It is precisely these similar tastes in music that bring the two MPB12 artists together. LINE-UP 2 LITERATURE Poema de Uma Linha Só (One-line poem) Coletivo Unsquepensa (São Paulo) Whoever tells a tale leaves their own mark on the story. This art intervention makes use of a spiraling concept both metaphorically and literally. A sentence or a verse is written on a piece of fabric that is in turn wound up onto a reel. The public is encouraged to continue the passage by adding to it. Each new word or sentence adds meaning to the voluntary and involuntary narrative that starts taking form. In this way, a collective poem emerges. The members of Coletivo Unsquepensa use the works of the poet Manoel de Barros, a native of Mato Grosso and a true master of infusing signs with an air of childhood memories. Through this simple concept, adults and children approach the act of writing to a sensory experience. For the past 14 years, the artists Mazzon Gil and Nanda Ribeiro have been collaborating and investing their time in creations that develop ideas in both form and content, using manual crafting techniques. THEATRICAL INTERVENTION Espiando Pequenas Histórias – Trilogia Eiró em Caixas (Spying on Brief Stories – Eiró Trilogy in Boxes) Ciclistas Bonequeiros (São Paulo) Movement is also art. Urban consciousness and the environment have a guaranteed role in this project where a lively play is adapted to the limited space of a cardboard box, which is attached to the back of a bicycle parked in a town square or a park. There are three bicycles. The spectator, who is seated in front of 12 ‘MPB’ refers to ‘Popular Brazilian Music’, a post bossa nova popular urban music trend that arose in the 1960s, which revisited popular Brazilian styles of music such as samba and mixed them with foreign influences such as jazz and rock.

each of the bicycles, peers through a hole where they can watch the brief plays about the São Paulo-born poet, Paulo Eiró (1836-1871), who lived in the Santo Amaro neighborhood, and who wrote texts in support of the abolition of slavery in the country. They are independent stories acted out by miniature dolls or objects. They are about anything from freedom of expression to the story of a fictional rapper who comes across one of Eiró’s paintings. Headphones are used so the spectator can follow the voices of the puppeteers in the midst of the show’s music. Everything is made from recycled and reusable material. The visual esthetic of the show harks back to the traditions of the ‘lambe-lambe’ photographers13 and toy theaters. THEATER Um Fusca em Con(s)certo (A VW Beetle in Concert)14 Cia. Rodamoinho (São Paulo) If the group from Minas Gerais, Galpão, were able to make a car, - a Chevrolet Suburban to be precise, - into a prop for their memorable street show Romeo and Juliet (1982), why couldn’t this São Paulo-based group transform a 30-year old car into the eponymous characters of their show? A white 1983 edition Beetle with red stripes becomes the stage and scenario where the adventure of three friends who want to tour the country takes place. However, the car breaks down as they’re about to leave and they need to get it repaired. Before long, the trio of artists begins to explore sounds, by “playing” the objects that are available to them. The bodywork, the engine and various other bits and pieces offer possibilities for producing sound, and together with other instruments, they envelop the audience in a comic concert with an improvised jazz style, which even features a bit of tap dancing. The company has been around for 13 years, creating shows that use a range disciplines in order to experiment with popular culture, which in this case is circus. CIRCUS Concerto da Lona Preta (The Black Canvas Concert) Trupe Lona Preta (São Paulo) A quintet made up of musicians who 13 A lambe-lambe photographer was a photographer who carried out his work by traveling and taking pictures in public places such as gardens and squares. 14 There is a play on words here in the original Portuguese. “Concerto” means concert and “conserto” means repairs.

213


proudly double up as clowns, rush on stage in an enthusiastic fashion to perform the concert. Their repertoire is diverse and varied, including arrangements from both popular and classical music. The sophisticated culture of the circus ring provides the backdrop for these musicians to perform, creating an entertaining game of trial and error, resulting in spontaneous creations that break down the conventions of the traditional circus. Everything is directed by an unforgiving clown, who shuns even the temporary fame of mass culture, thus providing a great deal of comedy. The group improvises constantly, focusing on the processes of composition, theoretical studies and other practices. It is this same attitude of free appropriation that characterized their previous creations with elements from visual arts and cinema. Founded in 2005, in the southern part of the City of São Paulo, Trupe Lona Preta started up in artistic gatherings and projects. ART AND MEDIA Suaveciclo VJ Suave (São Paulo) This audiovisual device, which runs at 12 frames per second, is used for the projections of short animations on the facades of buildings, on walls, trees and other urban surfaces. The images often merge into bodies and provide visibility for the citizen in the urban landscape. The two creators of the project launched it in 2011 and have been celebrating the coming together of this basic technological apparatus and more traditional techniques ever since. The contraption consists of a tricycle that has been modified to transport the projector, the battery, the amps, and the computer with the VJ software (which includes video performances in real time). This portable system displays poetry and messages on a scale that could be considered as visual graffiti. The duo started out as the central performers in the movement Mais Amor, Por Favor (More Love Please), that traveled around several cities in Brazil and even traveled to other countries such as Russia. MUSIC Sandália de Prata performs covers of Jorge Ben (São Paulo) In the show Sandálias de Jorge, this samba-rock band pays homage to one of the main representatives of this authentically suburban and Brazilian style; the singer and songwriter Jorge Ben Jor, who is active since the 1960s. The classics from the artist’s repertoire,

214

with his typically hybrid sounds such as Alcohol, Menina Mulher da Pele Preta, Umbabaraúma, Teresa and W/Brasil, were revisited with all the necessary swing. The samba-rock style is the result of the dances that took place in family homes and dance halls in the periphery of São Paulo from the end of the 1960s and the beginning of the 1970s. It is a fusion of samba rhythms and rock’n’roll or rockabilly beats, reaffirming the popularity of black music in Brazil. The band Sandália de Prata has been playing for the past 14 years. They are from Capão Redondo, one of the southern neighborhoods in São Paulo. The group added new members to its original line-up and began to balance percussion and wind instruments, a development from which their new jazzy sound sprung. LINE-UP 3 LITERATURE Troco um Causo por um Conto (Your story for another story) Guardanapos Poéticos (São Paulo) One table, two chairs and a portable typewriter. Sat among this minimal scenery, arranged in a public space, the writer Daniel Viana listens to people. The unobtrusive poster goes straight to the point: “Your story for another story”. The person sits down, narrates a personal anecdote and the author develops this in the form of prose (a micro-story) or verses (haiku poetry). The texts are typed onto a napkin and are offered to the storytellers in this chance meeting. At the end of this exchange between the writer and the participant, the works are exhibited, hung on a string or pinned to boards, celebrating this moment which materializes this shared memory. Viana’s idea is part of the project 100 contos por 10 contos trocados, which has been ongoing for the past 10 years and which combines urban intervention and literature. It has already led to the publication of the book of the same title, where the character Sebastião, synthesizes all the voices. VISUAL ARTS Trajetos Urbanos (Urban Routes) Raphael Escobar (São Paulo) Every city has its system of signs in order to direct pedestrians and drivers. Subverting these signs, symbols and wording on public highways can lead to a traffic violation. When it comes to art however, there is the underlying territory of freedom that destabilizes these rules of living together and instigates an influential reflection

about communal living. This urban intervention navigates the pavement with a line of white paint that is created by a skateboard adapted with a compartment and a paint reel on the underside. Gliding along on this “paintbrush-board”, the artist Raphael Escobar follows random paths, in a zigzag or in a straight line. The performance, which was conceived in 2011, offers a new vision of the street and its possible paths. The new traces can lead the public to rediscover space, renewing a pre-determined way of seeing things. THEATER Mira Grupo De Pernas Pro Ar (Rio Grande do Sul) Many of the paintings of the Spanish sculptor and painter Juan Miró portray gestures and movements that are reminiscent of children’s scribbles or pre-historic etchings. His work, which is full of symbols, was associated with the surrealist movement. Capturing the observer’s attention through sensibility and not reason is the premise that leads these Rio Grande do Sul born creators to evoke the universe of the Barcelona born artist in this street show with giant puppets, with a focus on a certain delicateness and an essentially playful spirit. Colorful allegorical figures, reaching over a meter high, occupied public spaces with these strong images. The figures irradiated energy when the puppeteers started to bring them to life. Metaphors began to sprout from color, light and poetry. The group was founded in 1988 and during the course of the past 26 years they have forged a unique language, which blurs the boundaries of art, blending street theater, puppeteering, circus and music. CIRCUS Flamingos de Fuego (Fire Flamingos) The Pambazos Bros (São Paulo) The scenery is brimming with bright colors from an artificial coconut palm, from banners, from warning signs (warning people to be careful not to slip) and from the bright costumes of the quintet of musicians-cum-actors. But the music seduces the audience with distinct harmony, mixed with circus and theatrical comedy. The idea is a dance show led by tireless and passionate artists in the execution of classic Latin American rhythms, such as bolero, cumbia and the chachachá. The performances include instruments such as the double bass, the bongos, the sax, the clarinet, the accordion, the maracas and even a saw. The

repertoire brings to light popular artistic manifestations conceived in public spaces. A romantic atmosphere was created in this community space of art and culture. Directed by Ricardo Puccetti, from Lume Teatro, The Pambazos Bros is made up of artists of different nationalities that have been living in São Paulo since 2004. DANCE Onde o Horizonte se Move (Where the Horizon Moves) Gustavo Ciríaco (Rio de Janeiro) A landscape can bring together men and women, nature and city, history and phantasmagoria. Something unnamable, sublime and banal is happening. With its fleeting nature, the landscape is the generator of narratives, biographies and fables. In Western movies, there were often moments when something was spotted on the horizon, sometimes made hazy through the dust or the blazing sun. These distant figures would gradually begin to come into view, taking on a concrete form. Nowadays, we seem to have lost this perspective. No one seems to arrive from a distance anymore. In this project, the spectators, like the vigils of the past, search their field of vision in order to make out certain figures. The projects of Gustavo Ciríaco involve architecture, visual arts and spectacle. His work is conditioned by the context in which it takes place and by the poetry created from the materiality of each situation. His work has taken him to countries in Latin America, Europe, Asia and the Middle East. MUSIC Emicida (São Paulo) In the interval between the release of his first single, Triunfo, in 2008, and his album O Glorioso Retorno de Quem Nunca Esteve Aqui, launched in 2013, the rapper Emicida has been perfecting the art he created in rapping battles in the northern region of the City of São Paulo, where he grew up and still lives. It was there where Leandro Roque de Oliveira got his nickname, - a pun for “homicida de MCs” (homicide of MCs15), - as a result of his constant victories over his colleagues of the movement. The show features tracks from this new album, which seeks new ways of vocalizing the political content of the lyrics, with tracks like “Crisântemo”, which was recorded with the participation of his mother, Jacira, and is about the death of his father who was murdered when he was a child. Other collaborations with female artists, like Pitty, Fabiana Cozza and 15 The masters of ceremony of hip-hop culture.

Tulipa Ruiz, provided inspiration for the project, as well as the Rio de Janeiro born samba musician, drummer, singer-songwriter Wilson das Neves and the samba group Quinteto em Branco e Preto. LINE-UP 4 THEATER Uma Jornada (The Big Day Out) Ubus Théâtre (Canada) The inside of a school bus with sealed windows is transformed into a stage for a story narrated by puppets and actors. This is the unusual scenery that the Canadian company Ubus Théâtre created in order to make their debut in 2004 with Le Périple, or Uma Jornada. Sat inside the adapted vehicle, the public watches the mini-stage that is set up in the driver’s area. Pierre Robitaille and Agnès Zacharie control the puppets and the objects as well as the lighting and sound. The allegorical and philosophical bedtime story tells the tale of a grain of sand that has fallen from a star, which travels for thousands of years before reaching Earth. Here, the grain of sand comes across an old man whose last wish is to have a yellow bus to take people to places where they can discover the wonders of nature. The play is inspired by the biography of the actress’s Lebanese father, Antonios Youssef Zacharia (1956-2013), who was a spirited professor of science.

CIRCUS Sanduba Delivery Cia. Suno (São Paulo) Sitting in a semicircle, the audience watches the maneuvers of Duba Becker the clown and his select menu of gags and acrobatics, balancing and juggling acts. He arrives riding his bicycle. He is carrying one of those thermos bags that food delivery workers typically carry on their backs. In a cheerful way, he promises to attend to the orders with good humored jokes. He handpicks the music, one rock’n’roll song after the next, from the generation of Chuck Berry, Bill Halley and Elvis Presley. The artist dances to the rhythms of each performance with hats, balls and hoops, facing challenges such as balancing a folding ladder on his chin, or at the climax, a market stand. The specials on offer at this fictitious circus diner come from the repertoire of Cia. Suno de Arte, which Becker created alongside Helena Figueira. The group was founded in 1998, in Santos, as

the result of an encounter with other professionals. LITERATURE Conte a Sua (Tell your one) Cia. Ju Cata-Histórias (São Paulo) The squares painted on the tarpaulin laid out on the ground mean that hopscotch is the central motif for the creative experience that the São Paulo based company, Ju CataHistórias, offers to spectators of all ages. Children tend to flourish in this symbolic territory of chance and invented plots and tales. The string instruments and the percussion, as well both sung and spoken words, are the prompts that are in just the right dose to combine “fear”, “love”, “friendship”, “children”, “lies” and “dreams”, words that replace the numbers of each box and which act as a signal to free the imagination when the stone is thrown and lands on one of the subjects. The level of interaction thrives in the circle, recalling ancestral oral rites and traditions. For this group of artists founded in 2008, capturing stories and playing with them can be compared to the windmill principle, which transforms wind into movement! DANCE SE7 Aberto Coletivo Movasse (Minas Gerais) Life is like an edit, and even more so considering the current mediation of television. The creators of Coletivo Movasse, from Belo Horizonte, have appropriated audiovisual mechanisms in order to call into question these screens that populate our daily existence. Public spaces have become film sets in which the roles of actors and spectators are constantly interchanging, as are these subjects that are controlling the cameras, which capture images in real time. External bodily movements or those captured on video are reorganized and transformed into ideas. There is a voice that directs this experience, but that too later fades out of focus. Ultimately, this material can be posted on the web, extending its field of influence. The group, founded in 2006, experiments with dance, seeking to preserve and stimulate the freedom of people’s movement, information and ideas. It avoids one specific language and seeks to provoke reflections and to carry out unusual proposals. MUSIC Cidadão Instigado performs covers of Pink Floyd (Ceará) If the audience were to close their eyes during the gig of this band from

215


Fortaleza, they would run the risk of being transported to the amphitheater of Pompeii, in Italy 1971, where the aforementioned British band recorded one of their anthologies live. The public, by the way, wasn’t allowed to attend the recording. The sextet and the backing singer that make up Cidadão Instigado show devotion and originality in their music and their performance of The Dark Side of the Moon (1973) album in full, one of the all-time classics of progressive rock. Their personality shines through in the formal and thematic eclecticism of some of the leading members of the musical scene in Ceará since 1994, such as Fernando Catatau, Regis Damasceno and Dustan Gallas, old time partners of other Brazilian musical counterparts. They freely adopt the influences of psychedelic rock: a strange combination of epic instrumental arrangements and sophisticated melodies. VISUAL ARTS Isolamento (Isolation) Shima (São Paulo) In the age of the hyper-exhibition of the “self”, Shima, pseudonym for Márcio Shimabukuro, prefers to go against the grain. It is difficult to find him in the cities of the Arts Circuit. He rarely appears, which is somewhat of an anachronism in present times. This performer positions himself in the periphery, the place of the anti-celebration. In his opinion, the meaning of art is to stimulate sensorial and esthetic experiences. In order to achieve this, he uses everyday objects and occurrences as a constant source for experimenting with new cognitive systems to see, feel and think in current times. For him, it’s all about exchange. Wearing a suit, he uses a barricade tape – the plastic kind with yellow and black stripes – in order to provoke reflections on everyday life in the cities. The body is the material support for this reflection. The isolation of this figure symbolizes situations of loneliness, the difficulty of movement and other symptoms that are typical of modern life. Shima has a creative capacity for photography, dance and theater. He was born in São Paulo and currently lives in Belo Horizonte. LINE-UP 5 DANCE Cardápio de Dança (Dance Menu) Liga da Dança Dura (São Paulo) Sauteed, breaded, boiled or fried? Just choose the style of the dish and the dancers will translate it

216

into movement. Basically, the idea behind the performance is to use the metaphor of the restaurant. It is a show based on improvisation, which is freely inspired by the orders of the passers-by in the non-conventional settings where the show takes place. The special menu includes ingredients such as “memory”, “sentence”, “space”, and “pedestrian”, as well as the aforementioned cooking methods. They make up choreographic segments that spring from direct interaction. The starting point for the artists is the sensations that the presence and the choices of adults and children awaken in them. The combination of results depends on the perceptions of each one of them. The company Liga da Dança Dura was founded in 2009 during a training course in contemporary dance at the Escola Livre de Dança Santo André. THEATRICAL INTERVENTION O Pequeno Grande Teatro (The Great Small Theater) Cia. Mala Caixeta de Teatro Surpresa (São Paulo) A mini theater complete with an orchestra, lighting, sound and a place for the spectator to watch. One by one, the spectators positioned themselves in front of one of the three boxes that become the stages on which the short plays, loosely based on the classics of universal literature, are performed. In Os Lusos (The Lusus), a ship sets sail to the Indies and, en route, it faces sea monsters and other dangers before it arrives at the city of Calicut. In A Selva (The Jungle), the Indian hero fights with fierce jaguars and dangerous bandeirantes16 and must overcome several challenges before he finally finds the young and beautiful Ceci. In O Seco (The Drought) a family from the Sertão17 set out in search of a better life in the big city. For the past two years, Cia. Mala Caixeta de Teatro Surpresa has been perfecting their techniques in formats such as ‘lambe-lambe’ theater18. The Bahia-born puppeteers, Ismine Lima and Denise dos Santos, are the precursors of this venture. Since 1989 they have been a source of inspiration for groups in a range of regions in Brazil. 16 ‘The term Bandeirantes’ refers to the Portuguese Brazilian slavers, fortune hunters and adventurers from the 17th century. 17 The ‘sertão’ is one of the four sub-regions of Northeastern Brazil. 18 Lambe-lambe theater refers to a type of theater which takes place on a miniscule scale, in a small black box. Very short plays are performed using puppets, for one spectator at a time.

CINEMA Brinquedos Óticos (Optic Toys) Coletivo Unsquepensa (São Paulo) In this intervention, the artists appear dressed as characters from the 19th century to demonstrate the workings of two devices with strange sounding names, which form part of the history of world cinema. They recreate the zoetrope, a device invented in 1834, by the English mathematician William George Horner, which is made up of a circular chamber with small openings through which the spectator looks at drawings that are laid out on reels. When the cylindrical chamber is turned, it creates the illusion of movement. The phenakistoscope, a device invented in 1829, by the Belgian physicist Joseph Plateau, consists of various drawings of the same object, in subtly different positions, which are arranged on a circular plaque. When the latter turns in front of a mirror, it creates the illusion of a moving image. The group plays with these charming contraptions, captivating those who are lovers of the seventh art, regardless of age. CIRCUS O Pintor (The Painter) Barracão Teatro (São Paulo) The show portrays the hardships of a clown who is as willing as he is chaotic in his task of painting a flag. But not everything is as it seems and the simple act becomes more complicated and dangerous than an armed duel. Zabobrim is obliged to paint a design that he doesn’t like. This leads to the dramatic conflict between a clown and his mission: combining colors on a flag before the very eyes of the audience. Zabobrim, as the actor Ésio Magalhães names his clown, is a constant presence in most of the creations of Barracão Teatro, which is based in Campinas. The ball of wool and the ladder are just some of the objects that are turned upside down by the clumsy and charismatic activity of this character, who pays homage to Benjamin de Oliveira, to Piolin and to Arrelia, to name the respectable trio who made history in Brazilian circus rings. Zabobrim creates havoc in the circle of spectators. THEATER O Romance do Vaqueiro Benedito (The Romance of Cowboy Benedito) Mamulengo Presepada (Federal District - Brasília). Some of the characters of this classic play from popular culture, from the Northeastern Brazil, have formal

and thematic similarities with their counterparts from Comédia Dell’Arte, the street theater that traveled from city to city in 15th century Italy, and later spread throughout Europe. We are talking about characters such as Zé da Sanfona, Rosinha do Bole-Bole and Palhaço da Vitória. Mythological beings such as Alma da Defunta Sem Vergonha, José Lusbel Tufá and Jaraguá. The symbolic animals such as the large snake Carpina, the bumba-meu-boi Estrela19, the vulture Limpa Mundo and the little bird Boa Nova. With 29 years on the road and the technical precision in puppeteering that comes with their name, Mamulengo Presepada, from Taguatinga, in the Federal District of Brazil, have created a varied show with games that focus on particular themes that become universal, gaining the identification of any audience. MUSIC Karina Buhr sings Secos & Molhados (Pernambuco) The singer-songwriter from Pernambuco pays homage to the anthology of the album carrying the same name of the aforementioned band that was recorded in 1973 in the São Paulo based studio Prova, produced by Continental. Seven months before, the gig they put on in Casa de Badalação & Tédio, which was a kind of annex to the Teatro Ruth Escobar, revealed the unique musical performance of João Ricardo, Gerson Conrad and Ney Matogrosso, the provocative vocalist who got audiences grooving with his unusual voice. On the cover of the first disk, the photographer Antônio Carlos Rodrigues, captures a table laid with perishable products. However, the main course of the feast is the heads of the musicians. Karina Buhr and her band recreate the 13 tracks of the vinyl, one of the historic landmarks of Brazilian music, with songs such as Sangue Latino, O Vira, Assim Assado and Rosa de Hiroshima. The lyrics and behavior of the band were pretty transgressive, considering the background of the military dictatorship (1964-1985). LINE-UP 6 LITERATURE Liberte a Poesia (Free the Poetry) Cia. Clara Rosa (São Paulo) The ancestral art of storytelling culminates in the present with the 19 Bumba-meu-boi Estrela is a Brazilian folk theater tradition about a story which involves a bull dying and being brought back to life. The story is usually told through the music and costumes.

use of various techniques in the art of narration. One of the aspects of this art is the recital of poetry, an activity that is led by this São Paulo-based company in which the participants are invited to explore their physical and vocal perceptions in order to vocalize their imagination. They get the chance to recite, sing, speak and unleash the words and verse that are trapped within them, so to speak. The artists believe that these are the key verbs in the mission of freeing the poetry that is ‘trapped inside’ people, and which prevents them from expressing the thoughts and subjectivity of a lyrical self. Everyone becomes messengers and the activity encourages people to feel at home. The sounds of the triangle, the ‘alfaia’ (a Brazilian wooden drum from the membranophone family), the violin and percussion fill the air, as well as the songs through which the trio manage to get the audience into a festive mood. Brinquedos Óticos (Optic Toys) Coletivo Unsquepensa (São Paulo) In this intervention, the artists appear dressed as characters from the 19th century to demonstrate the workings of two devices with strange sounding names, which form part of the history of world cinema. They recreate the zoetrope, a device invented in 1834, by the English mathematician William George Horner, which is made up of a circular chamber with small openings through which the spectator looks at drawings that are laid out on reels. When the cylindrical chamber is turned, it creates the illusion of movement. The phenakistoscope, a device invented in 1829, by the Belgian physicist Joseph Plateau, consists of various drawings of the same object, in subtly different positions, which are arranged on a circular plaque. When the latter turns in front of a mirror, it creates the illusion of a moving image. The group plays with these charming contraptions, captivating those who are lovers of the seventh art, regardless of age. THEATER O Vendedor de Palavras (The Word Seller) Teatro Mototóti (Rio Grande do Sul) Milho is the name of a little boy from the countryside who dreams about visiting the capital and finding his “friend” Espiga. She waits for him so together they can fill the world with thoughts, dreams and words. The little boy’s grandparents, Odete, a grumpy German lady, and Adam,

a great English inventor, use all the tricks in the book to keep the little boy under their wing, which provides the basis for the unique humor of popular theater. This countryside tale is highly bound up with the identity of the street theater group from Rio Grande do Sul. The name Mototóti comes from the expression that the actress Fernanda Beppler used when she was a child and was still learning to talk, on asking her mother, in the orchard for a bergamota, which is another word for tangerine in the south of Brazil. The group was founded in 2007 together with this play and co-starred with Carlos Alexandre. Masks, puppets and live music provide the poetic feel to this story about the love for words and books. And for readers, of course! DANCE Jam 1mm Cristian Duarte / The Collective Jazz and Guests (São Paulo) This show, created in 2012, takes jazz as its main dance style. It plays with improvisation. The context is an “emotional walk”, which places the focus on the plasticity of the steps, presence and gaze. The music, in the vintage style proposed by the director, Cristian Duarte, is On Broadway, which became a hit in 1978, played by the American guitarist George Benson. The dancers and the public are able to invent their steps in this open and relaxed encounter, with the intention of recovering the memory of old-fashioned dance hall parties. The group provides costumes for the audience to get into character in style. Duarte collaborated with Estúdio e Cia. Nova Dança from 1994 to 2000. His creations and productions in contemporary dance promote an exploration of diverse areas of knowledge, achieved through partnerships and collaborations in ever-changing formats. CIRCUS Pelada na Rua (Street Soccer) Alexandre Roit (São Paulo) The ball, the keepie-uppie, the referee’s whistle, the crossbar, the goal posts, but also the knives, the juggling clubs and the musical act at the grand finale. The tailcoat and the top hat, both just for appearance’s sake, are later replaced by the baggy shorts that accentuate the skinny legs of the athlete, more suited to a circus clown than a soccer player that interacts comically with the audience. Under the pretext that any normal person can be transformed into a soccer phenomenon, the actor and

217


clown, Alexandre Roit, picks volunteers from the audience for this match. He finds a kind of sophistication in the precariousness of the situation, by picking voluntary ‘athletes’ and enthusiasts from the audience, who take part in the match. The entire audience becomes absorbed in the game that is led by the performer, who has over 20 years of experience working with improvisation. This street show turns laughter into a collective, shared experience. MUSIC Mundo Livre S/A (Pernambuco) This show from the Pernambuco-based band focuses on the tracks from their sixth album Novas Lendas da Etnia Toshi Babaa, from 2011, with creative electronic beats and open influence from the singer-songwriter Jorge Ben Jor. The songs include characters that form part of the popular imagination, political questions, puns, sarcasm, malicious metaphors and modern drumming styles. The result is highly original and it includes songs such as Constelação Carinhosa, O Velho James Browse Já Dizia, Cabôcocopylefte and A Fumaça do Pajé MitiSubtixxiii. The band, headed by Fred Zero Quatro, got together in 1984, in Recife, as part of the Manguebeat20 movement, together with Nação Zumbi, otherwise known as Chico Science, and other creative musicians that mixed maracatu21, samba, hip-hop, electronic and heavy guitar sounds. The name Mundo Livre S/A (literally meaning “Free World Co.”) was taken from a speech of the ex-US president Ronald Reagan, the icon of neoliberalism. LINE-UP 7 VISUAL ARTS Todos Podem Ser Frida (Everyone Can be Frida) Camila Fontenele de Miranda (São Paulo) Put yourself in someone else’s shoes. Put some makeup on, adorn yourself with the colors and eyebrows of the Mexican painter Frida Kahlo (19071954). Otherness is the central motif in this project from the photographer Camila Fontenele de Miranda, in which she converts a tent into a studio or dressing room. A team of stylists and 20 Manguebeat is a countercultural movement which began in Recife in Brazil. It combines various types of regional music such as maracatu with other music such as rock, hip-hop, funk, funk-rock and electronic. 21 Maracatu is a type of performance which takes place in Pernambuco, in Northeastern Brazil.

218

professional makeup artists invite men and women to be photographed, inspired by the enigmatic and penetrating face of the artist that, despite her physical suffering in a serious accident, never abandoned her permanent dedication to art. The proposal humanizes the introspective gaze of the artist being paid homage to, creating a poetic photograph of the everyday life of citizens of all classes, races and genders. On the color palette words like “love”, “pain”, “complete”, “colors” and “abortion” are written. With a background career in adverts and commercials, the São Paulo-born artist Camila has been working on personal projects since 2007, in the mediums of photography, video and the arts. THEATRICAL INTERVENTION Do Fundo do Mar (From the Bottom of the Sea) Cia. Fios de Sombra (São Paulo) The spectator is offered an ocean of possibilities for the imagination in this show, watching a brief underwater adventure through a tiny opening. The physical props for this experience – a box in front of which the audience sits and dons some headphones to listen to what happens inside it – is reminiscent of lambe-lambe art; the traveling pinhole photographers that visited squares and markets, taking pictures of people with their equipment covered with a black cloth that let off smoke at each click. In this brief visual and musical performance, the narrative is acted out by tiny millimeter-sized figures that become people, objects and landscapes. The idyllic vision of a boat is suddenly shaken by a rescue scene on the high seas. This creation from the Cia. Fios de Sombra, which has been on the road since 2011, works alongside the Uruguayan Rafael Curci, who lives in Argentina and is somewhat of an emblematic figure in Latin America when it comes to puppet theater. THEATRICAL INTERVENTION Corpos de Passagem (Bodies of Passage) Grua – Gentlemen de Rua (São Paulo) Eight dancers, dressed in black, move through public spaces with no particular concern for ‘dancing’ as such. Their preparation for these performances involves the search for a state of permanent availability, in order to interact with and immerse themselves in the situations that they encounter along their paths; paths, incidentally, that are paved through their inspiration from the poet Carlos

Drummond de Andrade. It becomes imperative to carve out and chisel away at this unfamiliar environment, not only for the performers, but also for the spectators. We witness their quest to sculpt movements in space, to disorientate the senses in this urban performance in which both the public and artists mutually feed off each other, without appearing as intimidating, without imposing themselves in any way. This is an entirely unique work when it comes to the concept of intervention, as indicated by the critic Helena Katz, from the ‘O Estado de São Paulo’ newspaper. The group, who got together 12 years ago, set themselves the challenge of attempting to stimulate mobility and improvisation. Some of its members were previously part of the ‘Balé da Cidade de São Paulo’ ballet company. The dancers make the most of their double-sided classical and contemporary backgrounds to ‘plant poems on the tarmac.’ CIRCUS Apalhassadamuzikada... Uma Sinphonia Engrassada! (Apalhassadamuzikada... A Komic Symfony!) Cia. Teatral Turma do Biribinha (Alagoas) This street show is inspired by clownery, particularly the popular manifestations of clowning in Northeastern Brazil. The duo is made up of Biribinha (Teófanes Silveira) and Pipoca (Seliana Silva), who play music with both conventional and unusual instruments, and sometimes even imaginary ones, constantly feeding off the interaction with the audience. Behind the gag-ridden plot, there is a desire to demonstrate the need for a connection with the ‘other’ in all walks of life. The actor, director and producer Silveira was born into a circus family in Jequié, in Southeastern Bahia. He began to participate in the acts when he was just six years old. The artist behind the red nose of Biribinha the clown has half a century of experience behind him, as well as a family history in circus. He currently lives in Arapiraca, Alagoas’ countryside, and he is one of the disciples of traditional circus in Northeastern Brazil. THEATER Faustus Cia. São Jorge de Variedades (São Paulo) A man sells his soul to the devil in exchange for certain material, amorous and intellectual privileges in life. The German legend about this hero that

supposedly lived in the 15th century was made into a play by various authors, including Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832). This is the source text for the performance that audiences in São Paulo’s countryside were lucky enough to experience. The classic play has been adapted to the context of contemporary Brazil. It confronts a generation that is confused, hypnotized and angry about the debris of society translated into what they eat, drink and think. The constant desire to push the limits and a general desensitizing (physical, mental, emotional and social) of the subject, define this experiment. The São Paulo-based Cia. São Jorge de Variedades was founded in 1998, when a group of students from Universidade de São Paulo got together. It is characterized by a minimalist scenery, using simple, artisanal techniques for props and scenery. MUSIC Hermeto Pascoal and his Group (Alagoas) At 77, the singer-songwriter and musician Hermeto Pascoal continues to explore the sounds of nature, which have fascinated him since he first stepped barefooted onto the rough ground of Lagoa da Canoa, which was then a small town in Arapiraca. Using the stem of a squash plant, he would make fifes to play to the birds. He would spend hours by the lake, making sounds using the water. He used what was left over from his grandfather’s ironworks, hanging the metal shards from bits of string and creating sounds. This playful and inventive spirit is present in the most recent show, alongside his group and the voice of Aline Morena. A keyboard, kettle and glass of water become the raw materials for playing and improvising on stage, alongside his colleagues in the band, gaining the boundless appreciation of the audience members from 8 to 80 years old. This unique musical experience is as universal as jazz. LINE-UP 8 LITERATURE Microrroteiros da Cidade (Micro-scripts in the City) Laura Guimarães (São Paulo) The project involved writing scenes inspired by the day-to-day, by the art of the ‘other’, as the artist says. It consists of printing these little literary gems onto colored paper, and sticking these

“lambe-lambes”22 onto sign posts, bus stops, public alleys and other places. There was a time when a little boy accompanied Guimarães as she was sticking up “Canta no ouvido dele, dança na fila do cinema” (Sing into his ear, dance in the line for the movies) and he read between the lines to narrate what he understood from what he had read. It is these little moments that the script-writer Laura Guimarães seeks to recreate throughout the squares that she walks around during the Arts Circuit. She talks to people, records their stories and creates micro-scripts that are printed off and mounted on a board. While she mounts the material, another blank board is put up so the public can share their sentences, poems, pictures, and generally contribute to the stories that will be created. DANCE Piquenique Urbano (Urban Picnic) Atelier de Coreografia (Rio de Janeiro) This co-production of Panorama Festival 2013 and Cidade das Artes is based on the idea of leading the public around and inviting them to explore the different expressions that this dance and its movements are able to provide. Initially, two dancers prepare and divide up the space as they are watched by the audience. Cells of movement and motion become expressive through the clockwise circular path that is created by the proportion and distance between the dancers. In the second part of the act, the dancers invite the audience to fill other spaces and they create two solo dances at a time. Suddenly, a third act introduces structures and symbolic images that the performers take on through their actions and intentions. And it is in this sense that the deconstruction of the human form allows for the interpretation of a bodily sensation that is fuelled by nourishment and the art of dance. This creation is the work of the choreographer João Saldanha, who has been working with his group for the past 27 years. VISUAL ARTS Intervenção de Outono (Autumn Art Intervention) Tom Lisboa (Paraná) The idea behind the intervention of this visual artist from Paraná is inspired by the season of renovation. According to 22 A lambe-lambe poster is one which is stuck up in public places, normally using wheat-paste.

the perception that autumn symbolizes the end and, at the same time, the beginning of a cycle, the intention of the project is to form a dialogue based on this symmetry. The raw materials are the leaves from the trees that shed their green “skin” for a brown color, showing the passage of time. On this delicate leaf, with veins and furrows of vegetable lamina, Tom Lisboa inscribes the saying, in white, using a stencil method: “É no outono que as folhas se despem de seus sonhos” (It’s in autumn when the leaves give up on their dreams). The leaves are then tied to white gas balloons, one by one, and they are released in the square, soaring up into the sky, in the opposite direction to that which they normally take in nature, a symbol of the eternal cycle. For the past 14 years, the author has kept up the website sinTOMnizado, a platform he uses to encourage artistic reflections. THEATER O Teatro de Caixa (Box Theater) Rudinei Morales Teatro de Animação (Rio Grande do Sul) The work of this group from Porto Alegre is based on Street Puppet Theater. The ludic narrative is led by the storytelling figure Valentin, who is constantly transformed through his various encounters. The performance is made up of three parts. In the first, the opening, the audience is invited to embark on an adventure. In the second, there is a theatrical performance of the story of The Musicians of Bremen, from the Grimm Brothers, which has been adapted for the tiny space of a box, which seems like a kind of toy. The creators seek to bring the age-old story up to the present. Up to five spectators at a time can follow the five minute play. The audience sits on small benches and uses headphones. The mini sessions add up to create an hour-long show, by rotating the audience in the square, park or other unconventional spaces. The artists involved have a total of 30 decades of experience working in performing arts. CIRCUS Trixmix Cabaré Trixmix (São Paulo) Inspired by the smoky and black and white atmosphere of film noir, the mixed genre that dominated US film production after the Second World War (1939-1945), this show is a parade of mischievous circus acts, comedy, dance and poetry. There are comic music acts, dubbing and satire. The

219


cast put on street performances, duo acrobatics, magic and puppeteering. This varying dynamic is designed by the guest director Mark Bromilow, a 35-year-old Australian who was responsible for the world tour of Varekai, a production from the Canadian company Cirque du Soleil that toured England and Russia between 2008 and 2010. The Trixmix group is led by the acrobats Raquel Rosmaninho and Emiliano Pedro, who worked in London and returned to São Paulo in 2007, beginning a new cycle in their careers. MUSIC Mariene de Castro (Bahia) Tamboroinha (2012), Seres de Luz – Uma homenagem a Clara Nunes (2013) and Colheita (2014) make up the repertoire of the show of this Bahia-born samba musician. Despite rising to prominence as part of a new generation of female vocalists on the Brazilian scene, Mariene de Castro already has 15 years of experience, as both a backing and a lead singer. As well as songs from her first three albums, she also performed tracks from her fourth release, such as Conto de Areia, Guerreira, A Deusa dos Orixás, O Mar Serenou, among other hits immortalized by the melancholy voice of the singer from Minas Gerais, Clara Nunes (1942-1983). Her set list includes Pureza da Flor, Filha do Mar and Amuleto da Sorte, from her third album. And she even gave us a glimpse of material from her most recent fifth album. The intimate mood she establishes with the audience, which is instantly apparent in her performances, dates back to when she was just five years old, when she participated in the choreographies of the Teatro Castro Alves in Salvador. LINE-UP 9 CINEMA Cine Olho Among the events that led to the advent of the Age of the Image, one of the fundamental factors was the invention of the cinematograph by the French Lumière brothers 119 years ago. Our concept of seeing began to be conditioned by the seventh art and the latter, in turn, began to project itself onto reality. The ludic intervention conceived by the Sesc SP Cultural Action Management team highlights the voyeur position adopted by viewers, regardless of time or place, showing them the earliest black-andwhite films, with unsynchronized sound, bathed in artificial light. Positioned

220

around the square were a series of three boxes each with a hole (which was about the size of the human eye) where people could sit and “secretly” watch scenes such as a romantic kiss, mythical monsters and the more rudimentary special effects from early cinema, dating from 1896 to 1930. The result is a journey through the legacy of silent actions and gestures that left the viewer speechless. MUSICAL INTERVENTION Os Menestréis Sem Rima (The Minstrels with no Rhyme) Luís Aranha & Luciana Sonck (São Paulo) The benefits or the rumors surrounding the act of writing verse are the motives that inspire the creators of this musical performance project. The intervention involves two singers that travel around the world in search of the perfect song, deciphering and interpreting this song to any and everything: chairs, tables, paintings and people. The only drawback for the duo is the impossibility of reaching such an objective: they never manage to find a rhyme for their lyrics, and that is why they are known as ‘Menestréis Sem Rima’. In order to rectify this situation, they awaken the imagination of the audience using creative group exercises. Luís Aranha studied music at Unicamp, plays the classical guitar, the electric guitar, and sings, composes and writes arrangements. He has directed the São Paulo-based group Redimunho de Investigação Teatral and he is currently prioritizing his work in partnership with Luciana Andreotti Sonck, which is focused on art education. CIRCUS No Pocket Coletivo Nopok (Rio de Janeiro) Two friends want to explore the world of objects. They have their bicycles under their arms, their benches with little wheels on their heads and the parts of a table that will be put together one day. They are brothers. They are friends. They have never seen each other before. They recognize each other from walking in the street. One looks at the other and a comedic scene is born. The other friend attempts to push the first one off his bicycle. They provoke each other, and pretend to fight and fly. One cuts up the path of the other, resulting in a collision. One changes the destination of the other. They walk and trip over anything you put in front of them, as if they were from the street; and by the end they will have created a map for it. And that is the essence

of this street circus act. The language of the circus tent, mixed with dance, music and improvisation, result in a unique performance. With different stories and backgrounds, the members of Coletivo Nopok have been together since 2007.

from. The outstanding tracks performed live, besides the title track, are Alteração, O Mundo (Na Panela de Pressão), Vamo!, Na Tranquila and Subconsciente.

THEATER Corsários Inversos – Uma Incrível Aventura Pirata (Inverted Corsairs – An Incredible Pirate Adventure) Cia. Mosaico Cultural (Rio Grande do Sul) An encounter between music and poetry with the puppet theater, the show invites the audience to get onto this ship that sales the ocean of the imagination through different stories. The epic narrative, the improvisational games and the music manage to provide new meanings for day-to-day experiences. Performing and acting out poems, finding the hidden secret between the lines of the verse and speeches, and creating a degree of complicity through eye contact are some of the treasures that move the inverted corsairs in this adventure through the performing arts. The piratepoets propose a mise-en-scène where the word is the core of a subtle bridge that runs between the characters and the surrounding spectators, each of them seeking the door that will unleash emotions. Created in 2010, Mosaico Cultural is made up of a group of artists, scenographers, actresses, puppeteers, musicians, a video artist and a producer that have been working in Porto Alegre for a number of years.

VISUAL ARTS Sericleta Mônica Schoenacker (São Paulo) This project focuses on the arts and crafts activity of serigraphy (screen printing), a printing technique employing designs of a single matte color using a permeable woven mesh. A fill blade spreads the ink over the mesh, creating a design on paper, metal, fabric and other bases. To get an idea of the diversity of materials, methods and techniques applied nowadays, ‘Sericleta’ is particularly innovative and the project places value on arts and crafts. It consists of a bicycle that has been adapted into an office, or a kind of mobile gallery for these prints. The public is invited to create poetic cards. All the pieces that are printed are freely distributed in the area and can be taken home. The project contributes towards a reflection on art and the city, highlighting a subtle relationship between the two. The artist, Mônica Schoenacker, has been working on the interface between printed and digital images since the mid-1990s, with a special interest in serigraphy on paper and textiles.

MUSIC BNegão & Seletores de Frequência (Rio de Janeiro) After a nine-year break, the launch of Sintoniza lá (2012) marks a new image for the band, whose lead singer is an ex-member of Planet Hemp, Bernardo Santos or BNegão, an emblematic representative of black music. The 11 tracks have influences from reggae, rock and funk styles. It won ‘Album of the Year’ at the MTV Video Music Brazil awards. The show focuses on the tracks from the album and adopts the concept of a universal black music, which they have defended for the entirety of their careers, both as individuals and as a band. They are fans of Jamaican, African and Brazilian rhythms, and are constantly influenced by rap and funk from the 1970s, and by the hardcore that followed later. The majority of their music was composed and arranged collectively. And that is where the unity in their work comes

LINE-UP 10

MUSICAL INTERVENTION Música à Manivela Prana Teatro de Animação (São Paulo) Puppet theater and ancient sounds go hand in hand during this intervention. Two actors and musicians create short scenes with objects and puppets. They also sing and play songs that are accompanied by instruments such as the violin, the accordion, and the “orgue de barbarie”, which is a kind of barrel organ. The presentation celebrates the simplicity of life, fraught with both joy and sadness. The atmosphere of the scenery and sounds harks back to the streets of Europe in the 18th century. With their studio in São Paulo, Prana Teatro de Animação began their activities in 2005, which was the result of the former group Companhia Andarilhos (1997-2005). They constantly attempt to experiment with puppeteering techniques by using dolls and objects together with musical creations and narratives that are bursting with images. The company was founded by the actress Vanessa Valente and the musician Marcel de Oliveira.

CIRCUS Clake (Studio applause) Circo Amarillo (São Paulo) Dressed in their best attire, the duo arrives, sliding along on their contraption, which moves through a system of wheels and pedals. This “ship” is the epicenter of the show. Its base is made from a piano, on which a number of recycled objects and musical instruments are incorporated (percussion and sound apparatus). Nothing is what it seems, until these objects gradually begin to reveal their true identity. The clowns, jugglers and musicians Marcelo Lujan and Pablo Nordio perform classical and subtle gags. They play ping-pong using frying pans as rackets and they move around using bicycle parts, to name just two of the acts that win applause and that give a whole new meaning to the expression ‘claque’, which refers mainly to a studio audience that are told when to applaud and when to boo. Circo Amarillo was created in 1997 and it focuses on the creation of shows that present the traditional techniques of circus combined with contemporary artistic languages. THEATER O Casamento de Tabarim (Tabarim’s Wedding) Cia. Dona Zefinha (Ceará) One of the possible titles for the show was “o conquistador de araque” (The Self-Proclaimed Womanizer), but the creators decided to discard the name of this archetypal figure who provides the skillful deceit for universal humor. The mambembe23 clown revels in this context. Tabarim earns an easy living by tricking and deceiving people. But, he is on the lookout for his future bride. Like all scoundrels who put their mind to it, he deceives even the most wily and ambitious of characters, such as Górgibus, a greedy old man, reminiscent of Molière’s characters, who exchanges his expensive wedding ring with Tabarim for a sack of magic beans. Whether or not these beans were magic or not is not so important in this case. This does not diminish the old rascal’s anxiety for riches, and he is about to sell the soul of his daughter Angélica. Tabarim then falls in love with the girl. In order to get married, however, he will still need to face the devil. The theatrical and musical cast, Dona Zefinha, have been performing in Fortaleza since the 1990s. 23 A mambembe is a type of travelling theater group which puts on performances, often considered low quality or amateur.

MUSIC O Samba que Vem Lá de São Mateus (Samba that comes from São Mateus) Berço do Samba de São Mateus (São Paulo) The show is based on the ‘roda de samba’24 sessions that have been taking place for the past two decades in the São Mateus neighborhood, which is located in the east of the city of São Paulo. From the band’s selftitled album, which was launched in 2007, comes the production of this group made up of songwriters and musicians that were born and raised in the area. The proposal is to show, reveal and share their music with the public, singing stories, poetry and general cheers, in the form of various musical styles: ‘samba de terreiro’, ‘partido-alto’, ‘calango’, ‘jongo’, ‘samba de roda’, ‘sincopado’; among others. The group includes artists with a long musical career, as well as younger members, such as the three Pessoa brothers, who are associated with Quinteto em Branco e Preto. There are both traditional and original compositions in their repertoire. They place value on the songwriter, the feminine presence through song and dance, as well as the collective memories of the neighborhood, passed down from generation to generation, which incorporate members of the community. LINE-UP 11 CINEMA Cine Olho (SP) Among the events that led to advent of the Age of the Image, one of the fundamental factors was the invention of the cinematograph by the French Lumière brothers 119 years ago. Our concept of seeing began to be conditioned by the seventh art and the latter, in turn, began to project itself onto reality. The ludic intervention conceived by the Sesc SP Cultural Action Management team highlights the voyeur position adopted by viewers, regardless of time or place, showing them the earliest black-and-white films, with unsynchronized sound, bathed in artificial light. Positioned around the square were a series of three boxes each with a hole (which was about the size of the human eye) where people could sit and “secretly” watch scenes such as a romantic kiss, mythical monsters and the more rudimentary special effects from early 24 Roda de samba refers to a group of people sat playing samba in a circle.

221


cinema, dating from 1896 to 1930. The result is a journey through the legacy of silent actions and gestures that left the viewer speechless. LITERATURE Retrato Poético (Poetic Portrait) Cia. Patética (São Paulo) With a palette in one hand and a paintbrush in the other, this artist introduces himself to the audience, accompanied by live violin music. One by one, the spectators take to the stage with the puppet, Pintorzinho, dressed in his artist’s attire. He draws the gaze, physiognomy and talent that he discerns in the children, women and men that he comes across. The intervention offers a poetic gesture in the form of a portrait that has the capacity to surprise not only who is being drawn, but also those who are watching the brief encounter. This simple activity takes place in the open air and seeks to portray the unique nature of day-to-day relations; a sentiment that is also present in art. With 14 years of experience, the Cia. Patética retains basic characteristics from their training in children’s and puppet theatre. The symbiosis of expressions is one of these characteristics, incorporating dance, mime and visual arts in their shows. VISUAL ARTS Projeto Volante (The Flying Project) Cleiri Cardoso (São Paulo) Art isn’t easy. It requires hard work, critical thinking, and productive insights. Projeto Volante sets up a kind of studio with a table, chair and all sorts of material for the public to find inspiration to express any kind of idea. All they have to do is use the arts and crafts materials on offer, such as paper, scissors, glue, rulers, pencils, pens and other subtle tools to create forms of visual art through printing techniques. The non-conformist or openly poetic creations are made by the participants, who are encouraged to embark on this independent flight of the imagination from this platform of emotions and questions about society and interpersonal relations. The artists who organize this intervention suggest that the creators take their work home. But, before leaving, their works are reproduced using stamping or mimeograph techniques. THEATER Horácio Ágora Teatro (São Paulo) A war hero or a disgraced murderer? That is the central question in this monologue. Fighting on the front line

222

of the army for his country, the titular character of the monologue is glorified for having murdered his sister’s fiancé, who was a presumed enemy. His sister bursts into tears, and Horácio, disgusted at this attitude, decides that he will kill her too, despite their family ties. And he slays her with a sword, in the same way he killed his rival. Yet he is taken prisoner and he must face judgment. Reflecting on his destiny and his reasons for committing these violent acts, the character’s speech constantly induces the audience to think about questions of ethics that, despite being based on an Ancient Roman myth, continue to be relevant in the present. The acting further underlines the actor’s technique and his careful use of words. Frateschi has been reciting this text, from the German author Heiner Müller for the past 25 years, only 5 years less than his total career on stage. CIRCUS Zarak Show Circo Dux (Rio de Janeiro) Circus humor is the central feature of this show that is both nostalgic and parodic about the traditions of the circus ring and seeks to provide the public with tricks and virtuoso acts with no shortage of artistic technique on display. The show combines a playful spirit with an air of cabaret in the presentation of the brothers Darius and Ygor Kidrick, who are identical Siamese twins. They are set with the not so difficult task of headlining the world tour of the ‘Zarak Show’. The adventure is full of magic, knife and juggling acts. The technical skills are accompanied by a playful interaction with the audience. A screen at the back, which is accessed via a curtain, is where the actors change into their comical outfits. These are the strategies of the repertoire of the Rio de Janeiro-based company, Circo Dux, founded in 2005. DANCE Mono-blocos Vanilton Lakka and other Artists (Minas Gerais) The body returns to the town square. This project is about occupation, action and intervention using dance themes in urban cityscapes, with elements of theater, music, and visual arts. The research of the artists, from Minas Gerais, who participate in this project, is based on the idea of the environment as space that is both a physical and a social phenomenon. They adopt a method that includes hip hop, parkour, skate, ballet and other

elements. The project is based on the biography of two of the subjects that are involved. Corporeality emerges from this context, claims the choreographer Vanilton Lakka, with 23 years of experience in the dance industry. He believes that one cannot experience the city or the street and come out unscathed. Living in the same space is expressed by rolling around on the hard paving. The performance involves experimenting with the history and textures of a given space, playing with horizontal and vertical planes, maintaining or opening possibilities of interaction with the public, and considering the notion of the survival of the body in relation to physical and social architecture. MUSIC Ilú Obá De Min (São Paulo) This show is based on the fusion of a musical and a theatrical ritual. It pays homage to African and Afro-Brazilian culture through the popular songs from candomblé25, dance and percussion. In this performance, the Afro percussion band, that started up in São Paulo ten years ago, produces percussion and choreographic performances, with an emphasis on the group of female performers. It is inspired by the art and voice of the Bahia-born singer Nega Duda, an emblematic representative of samba de roda26 from Recôncavo Baiano. It is a cultural intervention based on the preservation of intangible heritage, placing value on the cultural and rhythmic diversity of Brazilian music handed down from the legacy of African ancestors. Coordinated by the art teacher and musician Beth Beli, who has been researching aspects of African and Afro-Brazilian culture for the past 20 years, the group attempts to encourage the inclusion of women, children and adolescents in one of the main manifestations of popular culture in Brazil, Carnaval. LINE-UP 12 DANCE Faça Algum Barulho (Make some noise) Rui Moreira Cia. de Danças (Minas Gerais) This performance is made up of the challenging encounter between ancestral lundus (an early form of samba) and types of street dance 25 African-originated religion practiced mainly in Brazil. 26 Samba de roda is a traditional Afro-Brazilian dance originally performed as informal fun after a Candomblé ceremony

inspired by hip hop. An approach, a reinvention and a mirroring of B-boy street culture (basic pants and T-shirt, sneakers and always with a music player) meet the highly stylized Folia de Reis clown (known for its colorful masks and costumes). It is a sense of duality that lies at the heart of this show, with these two styles that come head-to-head, highlighting their contrasting modes of artistic expression. It is through this process that the neologism “andançarinos” (formed from the words “andante” (walking) and “dançarino” (dancer)) emerged. Each style begins to adopt the characteristics and personality of the other. This blurring of styles generates an unusual result. These differences and similarities are the basic source of inspiration for the director Rui Moreira. The performers play with the limits between imaginary worlds, times and stories. The company, from Minas Gerais, experiments with collective and individual creations. The creator and choreographer, an emblematic figure in Brazilian contemporary dance, has gained national and international recognition. ART & MEDIA Fab Trailer Marcio Ambrosio (São Paulo) This experimental multilingual project encourages the participants to get creative, adopting the same passion as that of a pioneering artist sharing their work with the public. A kind of wagon-turned-mobile home is adapted and equipped with a mobile platform for artistic, collective and participative creation. This mix of office, studio, stage and projection structure invites attention as a result of the apparatus, devices and possibilities that it offers. The aim is to widen perceptions on the expression and distribution of animated cinema. The level of interaction is expressed in the media, without detracting from the content. It all takes place inside the trailer, the outside surfaces of which begin to acquire textures and become the surface onto which the video mapping is projected. Marcio Ambrosio is an Industrial Design, Graphic Design and Animation graduate. He lived in Belgium for a number of years and he founded the Zzzmutations group in Brazil in 2004. LITERATURE Refresco de Rimas (Refreshing Rhymes) Cia. Circo de Trapo (São Paulo) The act of reading requires more things between heaven and earth than are

dreamt of in our vain philosophy, as Shakespeare would have said. Two artists dressed as ice cream sellers walk around the square with their polystyrene boxes, daubed with the message: “Refreshing words”. They contain all kinds of poetic proposals: poems which are finished, unfinished, tragic, lyrical and comic. The words appear written on ice lolly sticks, so that they can be fished out by passersby. These collective texts are set to music by the artists that collectively perform their interpretations of them. The aim is to create a temporary shared experience that establishes emotional exchanges via texts, rhymes and games. Cia. Circo de Trapo has been around since 2002. The members are actors, clowns, reading assistants and storytellers that mostly work on projects aimed at children and young people. CIRCUS Cabaré de Números Raros (Cabaret of Rare Acts) Artists from Cooperativa Brasileira de Circo (São Paulo) In contrast to so-called contemporary circus, whose creators base their work on innovation, the nature of this project is precisely to pay homage to the legacy of traditional circus and introduce it to new generations. These kinds of acts are increasingly scarce in contemporary circus rings or even in open air shows like this one. Among the acts are the spinning plates and the performances of Bruno Edson, the skills of Junior on the unicycle and the roda única (Cyr Wheel), the amazing dexterity of Marjury as she balances on a cylinder, the mischievous behavior of the clowns Bacalhau and Mingau, the hula hoop performance from the dancer Bárbara Francisquini, and the contortion act of Alessandra Fleury. The collective cabaret is full of nostalgia for the great circuses of the past and their traditional families, whether through blood relations or symbolic ties, while at the same time it showcases the talent and training of these young, upand-coming stars. THEATER Júlia Grupo de Teatro Cirquinho do Revirado (Santa Catarina) Street theater creates a stage for people in the street. This sometimes leads to a circle of spectators or a theatrical performance in public space. Sometimes, the creators invert the rules of the game and they use the audience as a source of inspiration for themes and styles. This show from the

Santa Catarina-based company is an example of this inverting technique. Júlia and her loyal squire, Palheta, are characters inspired by the legend of Don Quixote, and the theme is the need to overcome all kinds of obstacles. They are on the quest to fulfill their dreams and desires. They mark their territory. She lives on the streets. He is her cicerone. In a cart-turned-home, they pile up their baggage and trinkets, belongings that are worth a lot for someone with nothing at all. The group was founded in 1997, when the couple Yonara Marques and Reveraldo Joaquim decided to construct a small circus tent to hold puppet theater shows. The puppet that acts as the master of ceremonies is called Revirado. MUSIC Cordão Carnavalesco Ziriguidum (São Paulo) The show was conceived in order to experiment with, rework and rethink the tradition of cordões27 performed with wind instruments and percussion, as well as other characteristic icons such as the majorettes, the portaestandarte (standard-bearer) and the Corte Negra, as the group that paraded during Carnival wearing clothes from the Portuguese court was known. The presentation is led by Osvaldo Barros, otherwise known as Osvaldinho da Cuíca, who was born during Carnival in 1940, in São Paulo, in the neighborhood of Bom Retiro and is an emblematic figure in the ‘land of the drizzle’ (as São Paulo is commonly nicknamed). In 2000, he became one of the founders of Cordão Carnavalesco Ziriguidum, inspired by the old ‘marchinhas’ and ‘canções de folia’ (typical songs from Brazilian Carnival). Osvaldinho da Cuíca is a singer, songwriter, sambista, percussionist, carnival dancer and dedicated cultural leader. He has played with Adoniran Barbosa (19101982) and he was a samba performer for Gaviões da Fiel.

27 Cordões Carnavalescos are carnival dance groups that existed in the first half of the 20th century before waning in popularity and being replaced by modern 'escolas de samba' (samba schools) and blocos carnavalescos (carnival blocks) from the 1960s onwards.

223


SESC – SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO Administração Regional no Estado de São Paulo PRESIDENTE DO CONSELHO REGIONAL Abram Szajman DIRETOR DO DEPARTAMENTO REGIONAL Danilo Santos de Miranda SUPERINTENDÊNCIAS Técnico Social Joel Naimayer Padula Comunicação Social Ivan Giannini Administração Luiz Deoclécio Massaro Galina Assessoria Técnica e de Planejamento Sérgio José Battistelli GERÊNCIAS Ação Cultural Rosana Paulo da Cunha Adjunta Kelly Adriano de Oliveira Artes Visuais e Tecnologia Juliana Braga de Mattos Adjunta Nilva Luz Artes Gráficas Hélcio Magalhães Adjunta Karina C. L. Musumeci Assistente Marilu Vecchio e Rogério Ianelli Equipe Ana Paula Fraay, Cauê Silvério e Gabriela Borsoi Produção Audiovisual Silvana Morales Nunes Adjunta Sandra Regina S. Karaoglan Assistentes Taís Barato, Joana Eça de Queiroz Equipe André Queiroz Contratações e Logística Jackson Andrade de Matos Adjunto William Moraes Desenvolvimento de Produtos Évelim Moraes Adjunta Andressa de Gois e Silva Assistente Francisco Santinho Difusão e Promoção Marcos Carvalho Adjunto Fernando Fialho Assistentes Aline Ribenboim, Daniel Tonus e Eduardo Ribeiro Equipe Luciano Domingos Estudos e Desenvolvimento Marta Colabone Adjunto Iã Paulo Ribeiro Patrimônio e Serviços Jair Moreira da Silva Júnior Adjunto Gilberto de Almeida Assistente Fabio Mattos Relações com o Público Milton Soares de Souza Adjunto Carlos Tinoco Cabral Assistente Malu Maia Equipe Naiara Candido da Silva, Leandro Nunes, Paco Sampaio, Rafael Munduruca e Rogéria Gonçalves Cunha Saúde e Alimentação Maria Odete F. M. Salles Adjunta Maria Fabiana Ferro Guerra Assistente Marcia Drabek GERÊNCIAS DAS UNIDADES DO SESC – GRANDE SÃO PAULO, INTERIOR E LITORAL Sesc Araraquara Daniel Eiji Hanai Adjunto Rafael Barcot Tintor Sesc Bauru Celina Kunie Tamashiro Adjunto Jorge Luís Moreira Sesc Bertioga Marcos Roberto Laurenti Adjunta Débora Rodrigues Teixeira Sesc Birigui Silvio Luis França Sesc Campinas Evandro Marcus Ceneviva Adjunta Vilma Aparecida de Marchi Sesc Catanduva Luiz Roberto Kuschnaroff Adjunto Marcos Roberto Martins Sesc Osasco Ana Paula Malteze Adjunta Patrícia Dini Sesc Piracicaba José Roberto Ramos Adjunto Jonadabe Ferreira da Silva Sesc Ribeirão Preto Hideki Milton Yoshimoto Adjunta Thomas Veras Castro Sesc Santo André Jayme Paez Adjunto Robson Aparecido Silva Sesc Santos Luiz Ernesto Figueiredo Adjunto Maracelia Ramos Teixeira Sesc São Caetano Ricardo Gentil de Oliveira Adjunta Claudia Maria da Silva Righetti Sesc São Carlos Mauro César Jensen Adjunto Fábio José Rodrigues Lopes Sesc São José dos Campos Oswaldo Ferreira Almeida Junior Adjunto José Omar Gambini Sesc Rio Preto Sebastião Eduardo Costa Martins Adjunta Fabíola Gaspar das Dores Sesc Sorocaba Claudia de Figueiredo Adjunta Nidia Regina Araújo Sesc Taubaté Eliana Ribeiro de Lima Rahal Adjunto Bruno Bolini Tadeucci Sesc Thermas de Presidente Prudente Renata Cristina Salvador Adjunto José Roberto Vicentini

224

CIRCUITO SESC DE ARTES 2014 Coordenação Lígia Moreira Moreli Equipe Adriana Macedo e Thaís Emília Teixeira Marques Comunicação Silvio de Assis Gomes Basilio Secretaria Renata Barros Silva e Valquíria Aparecida de Oliveira Curadoria Alessandra Galvão, Ana Flávia da Cruz Sousa, Ana Luísa Sirota, Antonio Carlos Bucater Bitram, Armando Fernandes, Camila Renata Machado Antônio, Camila Onofre Silva, Carina Silva Donaires Figueira, Carol Garcez, Cláudia Maria da Silva Righetti, Clovis Ribeiro de Carvalho, Daniela Savastano, Denise Mariano, Dino Moura, Edimeire Maria Girelli Piovezam, Emerson Pirola, Fabíola Gaspar das Dores, Flávia Marques, Francis Manzoni, Gabriela Zumiani Navarro, Gisela Ribeiro, Gustavo Torrezan, Heloísa Pisani, Henrique Rubin, Jorge Luís Moreira, Julieta Machado, Juliana Okuda, Juliano Azevedo, Kátia Pensa Barelli, Kelly Teixeira, Laudo Bonifácio Junior, Lizandra Magalhães, Lúcia Helena Santos, Luiz Fernando Silva, Maria Denise Ferreira Leite, Maria de Fátima Cordeiro Pedrazzi, Maristella Bottas Langhi, Maurício Ricci, Mauro Cesar Loureiro Raposo Junior, Melina Marson, Patrícia Grecco, Paula Cicogna Faggioni, Ricardo de Paula Ribeiro, Rodrigo Elói, Rodrigo Gerace, Rosângela Barbalacco, Rosângela Ferreira da Silva, Sandra Leibovici, Sérgio Luiz de Oliveira, Silvana Ambrósio Corrêa, Sílvio Luiz da Silva, Sonoe Juliana Ono Fonseca, Susana Coutinho, Thaisa Novaes de Senne, Thomas Veras Castro, Valquíria Aparecida Pinheiro Santos, Vanessa de Cássia Piazza, Wanner Mussato Rodrigues e William Villar Coordenação dos roteiros: Roteiro 1 Edimeire Maria Girelli Piovezam e Pedro Horta Roteiro 2 Gabriela Zumiani Navarro e Sílvio Carlos de Oliveira Roteiro 3 Marcos Antonio de Farias e Vanessa de Cássia Piazza Roteiro 4 Cássio Murilo Fialho e Rosângela Barbalacco Roteiro 5 Nailton Macedo Ferreira e Simone da Silva Aranha Roteiro 6 Camila Onofre Silva e Carlos Batista Lavrador Roteiro 7 José Eduardo da Silva Ruiz e Sérgio Waldemar Belucci Roteiro 8 Ana Carolina Massagardi e Hamilton Côrrea Roteiro 9 Anselmo Alberto Ogata, Diego Ulacco Moreno e Fábio Rogério Manchini Roteiro 10 Marcelo José Zacarin e Thaísa Novaes de Senne Roteiro 11 Lucas da Rosa Júnior e Sabrina dos Santos Ruiz Roteiro 12 Ricardo Guedes e Zeno Lúcio dos Santos Prazeres Filho Edição e produção textual Valmir Santos Edição de conteúdo online Francele Cocco Fotografia: Roteiro 1 Nicola Labate Roteiro 2 Fábio Andrade Roteiro 3 Dani Sandrini Roteiro 4 Cláudia Mifano Roteiro 5 Pedro Abude Roteiro 6 Tatit Brandão Roteiro 7 Marco Flávio Roteiro 8 Ricardo Ferreira Roteiro 9 Mario Miranda Filho Roteiro 10 Ana Fuccia e Adauto Perin Roteiro 11 Roberto Assem Roteiro 12 Kazuo Kajihara Assessoria de Imprensa Sylvio Novelli Identidade Visual e design gráfico Eduardo Foresti e Carolina Gonçalo Versão Inglês Global Translations Site Tribo Interactive

225


Baixe grátis essa e outras publicações do Sesc São Paulo disponíveis em

226

227


Crédito: Divulgação

228


REALIZAÇÃO

APOIO

PREFEITURAS MUNICIPAIS


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.