mostra
o cinema de um paĂs
De 1 de junho a 29 de julho de 2014
ÍNDICE HISTÓRIA FEITA POR HOMENS, LIVROS E IMAGENS 05 A VIDA NA ESTRADA DE NELSON PEREIRA DOS SANTOS 06 NELSON PEREIRA DOS SANTOS: TRAJETÓRIA NO CINEMA BRASILEIRO 08 FILMOGRAFIA 14 LONGAS 17 MÉDIAS 63 CURTAS 69 TV 81 NELSON - UM RELATO DE RODOLFO NANNI 88 PROGRAMAÇÃO 91
NELSON PEREIRA DOS SANTOS. foto: DARyAN DORNELLES.
HIStÓRIA fEItA PoR HoMENS, LIVRoS E IMAGENS SeSc São Paulo As ciências humanas têm sido, frequentemente, o lugar privilegiado para investigação da identidade dos povos. Todavia, a arte pode também propiciar o enriquecimento da experiência humana, por meio de vivências e apropriações simbólicas, e ampliar a percepção de mundo e de sociedade. Por vezes, pode ser um veículo de estímulo à reflexão sobre temas essenciais. Ao longo do século XX, inúmeras obras em diferentes áreas do conhecimento formularam interpretações do Brasil. A produção literária, ao lado do cinema e do teatro, foram campos destacados nessas tentativas, oferecendo subsídios para a consolidação de determinadas imagens. É nessa perspectiva que se coloca a Mostra Nelson Pereira dos Santos – O cinema de um país, ícone para criadores das mais diferentes linguagens artísticas, seja pela capacidade de transpor para o cinema parte das principais interpretações socioculturais sobre o país, seja também por ter estado engajado (mas não aprisionado) nos movimentos criativos que chacoalharam os ambientes do pensamento nacional. O Sesc reafirma sua crença no caráter educativo da cultura ao propiciar ao público a oportunidade de se (re)encontrar com parte significativa das obras do diretor, bem como de ações formativas e encontros com sua presença. A circulação e a permanência do legado de Nelson Pereira dos Santos colaboram para a construção de uma sociedade com mais consciência crítica e respeito, aberta ao diverso e impulsionada pela esperança de plena cidadania.
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A VIDA NA EStRADA DE NELSoN PEREIRA DoS SANtoS NEuSA BARBoSA Jornalista, crítica e pesquisadora de cinema
Cinematográfico desde o primeiro nome, que deve ao personagem de um filme assistido pelo pai cinéfilo, Nelson Pereira dos Santos sintetiza, em sua longa carreira, boa parte da história do cinema brasileiro, participando ativamente de suas tendências, paixões e incertezas desde os anos 1950. Em 65 anos de carreira, o paulistano do Brás, nascido em outubro de 1928, inscreveu sua marca numa época decisiva do cinema nacional, quando partia em sua mais drástica busca de identidade, proclamando uma vocação irredutível para retratar o povo brasileiro, sua diversidade cultural, social e racial, a partir de sua estreia, Rio, 40 graus (1955). Nelson foi um dos diretores que mais buscou a inspiração da literatura, amparado na obra de autores como Jorge Amado, Graciliano Ramos, Machado de Assis e Guimarães Rosa. Um dos pais incontestáveis do Cinema Novo, que contribuiu, com Vidas secas (1963), para fixar a identidade cinematográfica brasileira no exterior de forma mais nítida, o cineasta colecionou prêmios e consagrações, mas nunca se esquivou dos desafios. Permanecendo no Brasil durante a ditadura militar, manteve-se à tona fazendo malabarismos para contornar a censura, sem deixar de conjugar a experimentação formal com a busca da discussão de temas e personagens relevantes. Lançando-se a diversos gêneros e abordagens, nunca desistiu de investigar esse imenso enigma chamado Brasil. Primeiro cineasta eleito para a Academia Brasileira de Letras, ergueu, com sua própria trajetória, uma ponte entre as artes que se estende para a beleza e o diálogo, e idealiza o melhor de todos os mundos.
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NELSoN PEREIRA DoS SANtoS: tRAJEtÓRIA No CINEMA BRASILEIRo arthur autran Professor no Depto. de Artes e Comunicação da Universidade Federal de São Carlos. Pesquisador de história e sociologia do cinema
Nascido em 1928 na cidade de São Paulo, Nelson Pereira dos Santos ainda bem jovem começa a militar no PCB (Partido Comunista Brasileiro), o qual, com o final da II Guerra Mundial e o fim da ditadura do Estado Novo, granjeou grande prestígio entre os jovens intelectuais. Em 1947, entra para a tradicional Faculdade de Direito da USP, embora nunca tenha trabalhado na área, e na universidade participa ativamente da vida política, integrando o Centro Acadêmico XI de Agosto. Além do interesse pela política, já nos anos 1940 se torna cinéfilo, escrevendo críticas para “Hoje” e “Notícias de hoje”, jornais ligados ao PCB em São Paulo. Em decorrência da militância política surge o primeiro filme dirigido pelo cineasta: Juventude. Realizado em 1950, em co-direção com Mendel Charatz, tratava-se de um documentário de média-metragem sobre os trabalhadores jovens de São Paulo e que foi enviado a Berlim para participar de um evento ligado ao movimento comunista internacional. Infelizmente não existe mais cópia dessa primeira experiência de Nelson Pereira dos Santos na prática cinematográfica. No ano anterior, 1949, havia sido criada a Cia. Cinematográfica Vera Cruz, capitaneada por Franco Zampari e Ciccillo Matarazzo, industriais de sucesso que representavam a pujança da burguesia paulista e que também apoiavam as artes. A Vera Cruz foi a principal tentativa de industrializar o cinema brasileiro seguindo o modelo de Hollywood, a qual rachou o meio cinematográfico entre aqueles que a apoiavam apaixonadamente e os que a atacavam – entre esses últimos com destaque para os cineastas ligados ao PCB, tais como Nelson Pereira dos Santos, Alex Viany, Rodolfo Nanni e Carlos Ortiz. A postura de Nelson Pereira dos Santos nas suas críticas à Vera Cruz era de um marxismo de viés stalinista. Em poucos anos ele não apenas abandonou tal perspectiva ideológica, como ainda em 1956 se desligou do PCB. Entretanto, essa postura contém o germe das preocupações que marcam a obra desse diretor: como representar nas telas o povo brasileiro. É sob o impacto dos filmes do Neo-realismo italiano, tais como Roma, cidade aberta (Roma, città aperta, Roberto Rossellini, 1945) e Ladrões de bicicleta (Ladri di biciclette, Vittorio de Sica, 1948), que os jovens cineastas ligados ao PCB buscavam respostas para a forma de representar adequadamente no cinema o povo brasileiro, problema que em graus diferentes era comum a todos. Da experiência do Neo-realismo destacava-se a filmagem em locação e a tematização dos problemas cotidianos do homem do povo. Ademais, esses filmes foram produzidos com grandes dificuldades, sem o aparato do sistema de estúdios. Em 1952, muda-se para o Rio de Janeiro, a fim de continuar o seu trabalho no cinema, e lá participa como assistente de direção de Agulha no palheiro (Alex Viany), filme importante pelo seu pioneirismo na busca de um tratamento cinematográfico realista.
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Com pouquíssimos recursos financeiros e de produção, Nelson Pereira dos Santos partiu para o seu primeiro longa-metragem de ficção: Rio, 40 graus (1955). Trata-se de um filmechave do cinema brasileiro, pois deflagrou uma nova forma de representar o popular por meio da observação atenta do seu cotidiano e de uma nítida simpatia para com a cultura produzida pelo povo. O filme busca traçar um quadro da vida no Rio de Janeiro por meio das desventuras de cinco meninos moradores de uma favela que descem do morro no domingo para vender amendoins nos pontos turísticos da grande cidade. Rio, 40 graus teve forte repercussão crítica quando da sua estreia pelo significado inovador que possuía para o cinema brasileiro da época em decorrência de seu apelo estético eminentemente realista. A seguir, Nelson realizou Rio, Zona Norte (1957), que narra a vida do compositor Espírito da Luz Soares, interpretado por Grande Otelo. O filme foi mal recebido pela crítica e pelo público, mas essa história pungente sobre as dificuldades de o artista popular sobreviver de sua arte merece uma reavaliação, em especial pelo modo que articula a representação do povo com a produção cultural. Com a eclosão do Cinema Novo, no início dos anos 1960, Nelson Pereira dos Santos não apenas é alçado à condição de precursor do movimento, como se torna um dos seus integrantes mais importantes ao lado de Glauber Rocha, Joaquim Pedro de Andrade e Leon Hirszman. Após dirigir uma boa adaptação de Nelson Rodrigues, Boca de ouro (1962), realiza um marco não apenas do Cinema Novo, mas de toda a filmografia brasileira: Vidas secas (1963). Essa adaptação do romance de Graciliano Ramos revolucionou o cinema brasileiro com sua luz estourada, que buscava representar a intensidade da luz do sertão nordestino. Destaca-se também o realismo crítico do filme, que foi exibido no Festival de Cannes de 1964 e chamou a atenção da crítica internacional para o Cinema Novo brasileiro. Com o golpe militar de 1964, Nelson Pereira dos Santos, como boa parte da esquerda brasileira da época, tem de repensar as relações entre intelectual e povo, pois a crença esquerdista na conscientização política dos dominados entrara em crise. Surgem daí dois filmes de valor artístico bem diferente: Fome de amor (1968) e Azyllo muito louco (1969). O primeiro é bem superior ao segundo e narra o isolamento em uma ilha de dois casais de classe média; desse grupo faz parte um revolucionário cego, surdo e mudo. Já o segundo é uma adaptação de O alienista, de Machado de Assis, possuindo uma influência Tropicalista evidente, mas mal assimilada. Em 1970, Nelson dirige outro filme fundamental do nosso cinema: Como era gostoso o meu francês. A película transcorre no início do período colonial e reconta a captura do francês 10
Jean por um grupo indígena e as vivências que se estabelecem a partir daí até o europeu ser devorado em um ritual antropofágico. Reflexão aguda sobre a dicotomia nacional versus estrangeiro, colonizador versus colonizado, europeu versus ameríndio, o filme analisa como não existe apenas oposição, mas uma complexa relação cultural, na qual “devoramos” o que vem de fora transformando a influência externa. Ao longo dos anos 1970, Nelson Pereira dos Santos realiza três filmes com a proposta de rediscutir e modernizar a representação do povo no cinema brasileiro, revendo posições dos anos 1950 e 1960. O amuleto de Ogum (1974), Tenda dos milagres (1977) e Estrada da vida (1979) são obras que, ao invés de construírem um olhar sobre o povo a partir de um esquema intelectual pré-elaborado de inspiração esquerdista, buscam uma representação mais próxima das experiências concretas do povo. Nesse sentido, o primeiro filme narra a vida violenta de um bandido que tem o corpo fechado por uma entidade da umbanda; o segundo – adaptação do romance homônimo de Jorge Amado – aborda os conflitos entre o intelectual de origem popular e os acadêmicos burgueses; e o terceiro trata de forma ficcionalizada a carreira dos músicos sertanejos Milionário e José Rico. Em meados da década de 1970, Nelson Pereira dos Santos também participa ativamente da política cinematográfica, tendo integrado a comissão nomeada pelo Ministério da Educação e Cultura que propôs diversas modificações nos órgãos federais de cinema e como o primeiro presidente da ABRACI (Associação Brasileira de Cineastas). Com o processo de abertura democrática do País, volta a adaptar uma obra de Graciliano Ramos: Memórias do cárcere (1984). Filme que conta com Carlos Vereza interpretando brilhantemente o papel do escritor, trata-se de uma narrativa sobre a resistência política e ética dos intelectuais durante os tempos terríveis de uma ditadura. Embora o filme, como o livro, se passe no Estado Novo, a metáfora com o regime militar implantado em 1964 e então em vias de enfim terminar é evidente. Com o fim da Embrafilme em 1990 e a crise do cinema brasileiro, Nelson Pereira dos Santos teve importante papel como articulador político visando recompor as formas de apoio do Estado à produção. Mais uma vez, apontando rumos para o nosso cinema, volta-se para a literatura e faz uma bela adaptação de Guimarães Rosa em A terceira margem do rio (1993). Em 1995, a convite do British Film Institute, dirige Cinema de lágrimas, documentário sobre os 100 anos do cinema centrado no gênero do melodrama, tal como ele se desenvolveu na América Latina. Aos 84 anos dirige o belíssimo documentário A música segundo Tom Jobim (2012), filme que se assenta em grande pesquisa de material de arquivo e que articula esse 11
material de maneira magistral a fim de recontar a carreira do músico. A essa obra, se seguiu a continuação A luz do Tom (2013). Foi eleito em 2006 para a Academia Brasileira de Letras, sendo até o momento o único cineasta a integrar a centenária instituição. A obra de Nelson Pereira dos Santos, a qual ainda se encontra em processo, pois, felizmente, ele não para de produzir, é talvez a mais representativa do cinema brasileiro. Ela atravessou diferentes fases e muitas vezes seus filmes foram a sinalização de caminhos pelos quais nossa produção deveria seguir.
BIBLIoGRAfIA: AUTRAN, Arthur. Cineastas comunistas no Brasil. In: ROXO, Marco. SACRAMENTO, Igor (org.). Intelectuais partidos: os comunistas e a mídia no Brasil. Rio de Janeiro: E-Papers, 2012. P. 297-324. FABRIS, Mariarosaria. Nelson Pereira dos Santos: um olhar neo-realista? São Paulo: Edusp, 1994. SALEM, Helena. Nelson Pereira dos Santos – o sonho possível do cinema brasileiro. Rio de Janeiro: Record, 1996. 12
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fILMoGRAfIA
MéDIAS Juventude (1949) Cidade laboratório de Humboldt 73 (1973) Nosso mundo (1979) Insônia (O ladrão) (1982)
CuRtAS LoNGAS Rio, 40 graus (1955) Rio, Zona Norte (1957) Mandacaru vermelho (1961) Vidas secas (1963) Boca de ouro (1962) El justicero (1967) Fome de amor (1968) Azyllo muito louco (1969/71) Como era gostoso o meu francês (1970) Quem é Beta? (1972/3) O amuleto de Ogum (1974) Tenda dos milagres (1977) Estrada da vida (1979/81) Memórias do cárcere (1984) Jubiabá (1985/7) A terceira margem do rio (1993/4) Cinema de lágrimas (1995) Raízes do Brasil – Uma cinebiografia de Sérgio Buarque de Holanda (2003) Brasília 18% (2006) Português – a língua do Brasil (2007) A música segundo Tom Jobim (2012) A luz do Tom (2013) 14
Soldados do fogo (1958) Ballet do Brasil (1962) Um moço de 74 Anos (1964) O Rio de Machado de Assis (1965) Fala Brasília (1966) Cruzada ABC (1966) Abastecimento, nova política (1968) Alfabetização (1970) O jornalismo e a independência (1973) Missa do galo (1981) A arte fantástica de Mário Gruber (1982) La drôle de guerre (1986) Meu compadre Zé Keti (2003)
tELEVISão Cinema Rio (1980) – produtor (TVE – Rio) Mundo mágico (1983) – diretor (TV Manchete) Na passarela do samba (1984) – diretor (TV Manchete) A música segundo Tom Jobim (1984) – diretor (TV Manchete) Capiba (1984) – diretor (TV Manchete) Eu sou o samba (1985) – diretor (TV Manchete) Bahia de todos os santos (1985) – diretor (TV Bahia) Uma tarde com Gregório (1987) – diretor Casa grande e senzala (2000) – diretor (GNT) 15
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1955, PB, 97’, ficção. Direção, produção, argumento e roteiro: Nelson Pereira dos Santos. fotografia: Hélio Silva. Direção de som: Amedeo Riva. Montagem: Rafael Justo Valverde. Cenografia: Julio Romito e Adrian Samailoff. trilha sonora: Radamés Gnatalli.
Elenco: Jece Valadão, Ana Beatriz, Glauce Rocha, Zé Keti, Renato Consorte, Mauro Mendonça, José Carlos Araújo, Cláudia Moreno, Antônio Novais, Marlene Silva, Sadi Cabral, Modesto de Souza, Al Ghiu, Roberto Batalin, Haroldo de Oliveira, e as Escolas de Samba da Portela e Unidos do Cabuçu.
Num domingo de verão em que a temperatura carioca bate recordes, cinco meninos, moradores do morro do Cabuçu, Zona Norte do Rio de Janeiro, cumprem sua rotina e saem de casa para vender amendoim. Seu destino: alguns dos pontos turísticos mais movimentados da cidade, como o Pão de Açúcar, o estádio do Maracanã, a praia de Copacabana, a Quinta da Boa Vista e o Corcovado. Suas histórias se misturam às de outros moradores da cidade, cujo cotidiano se desenrola entre os cenários de cartão postal. Na Quinta da Boa Vista, uma empregada doméstica, Rosa (Glauce Rocha), está em conflito com o noivo, fuzileiro naval (Roberto Batalin), que não quer assumir o filho que ela está esperando. Em Copacabana, uma mocinha mimada (Ana Beatriz), filha de um político, derruba no mar a lata de um dos vendedores de amendoim, que reclama do prejuízo – mas o namorado da garota ameaça chamar a polícia. No morro, a cabrocha Alice (Cláudia Moreno) desperta paixões, dividindo seu coração com o noivo (Antônio Novaes) e um malandro valentão (Jece Valadão). No estádio do Maracanã, em dia de jogo, a preocupação é o craque e herói da torcida, Daniel (Al Ghiu), que está machucado e começa a ser preterido pelos cartolas, em favor de um inseguro novato. No Pão de Açúcar, o controlador do ponto dos vendedores de amendoim (Sadi Cabral) encara a rebeldia de um deles (Haroldo de Oliveira), que não quer mais ser explorado. Anoitece e os moradores do morro se preparam para uma noite de ensaio da escola de samba Unidos do Cabuçu, que recebe a visita da Portela. Em destaque: Estreia do diretor, foi um dos primeiros filmes brasileiros a ser rodado inteiramente em locações. Sofreu veto da censura e só foi liberado quase um ano após sua realização, depois de uma campanha que teve o apoio até de yves Montand e Jacques Prévert. Lançou o compositor Zé Keti, autor do tema principal da trilha, “A voz do morro”.
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1957, PB, 86’, ficção. 10 anos. Direção, produção, argumento e roteiro: Nelson Pereira dos Santos. fotografia: Hélio Silva. Direção de som: Silvio Rabelo. Montagem: Rafael Justo Valverde. Música: Alexandre Gnatalli, Zé Keti.
Elenco: Grande Otelo, Jece Valadão, Paulo Goulart, Maria Petar, Malu Maia, Haroldo de Oliveira, Zé Keti, Ângela Maria, Laurita dos Santos, José Carlos Araújo, Ivan de Souza. O talento do sambista e compositor Espírito da Luz Soares (Grande Otelo) nunca lhe serviu para levar uma existência digna. Ele não consegue nem mesmo realizar um sonho simples, como comprar uma casinha no subúrbio para a mulher, Adelaide (Malu Maia), e o filho, Norival (Haroldo de Oliveira). Para que suas composições sejam gravadas, ele se envolve em parcerias duvidosas ou então tem os créditos de sua autoria roubados por pessoas inescrupulosas, como o radialista Maurício (Jece Valadão). Para sobreviver, o compositor trabalha na mercearia de Figueiredo (Washington Fernandes). Entre os poucos amigos, estão o fiel compadre Honório (Vargas Júnior) e um violinista clássico, Moacir (Paulo Goulart), um dos poucos a admirar e reconhecer o talento natural de Espírito. É Moacir quem o ajuda num dos raros lances em que a sorte pareceu lhe sorrir, quando uma cantora famosa (Ângela Maria, vivendo o próprio papel) se interessa em gravar uma de suas criações. Morador da Zona Norte do Rio, o músico cai do trem da Central do Brasil, ficando gravemente ferido. Pela consciência oscilante do ferido sambista, passam imagens de suas grandes dores. Em destaque: Na época de seu lançamento, o filme foi severamente recebido pela crítica, que tinha celebrado a estreia do diretor, Rio, 40 Graus. A obra recebeu, no entanto, prêmios, como o Especial do Júri do Festival de Montevidéu, em 1958. Foi aqui a primeira vez em que Nelson experimentou a montagem, o que se tornou uma constante.
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1960, PB, 76’, ficção. 14 anos. Direção, argumento e roteiro: Nelson Pereira dos Santos. Produção: Nelson Pereira dos Santos e Danilo Trelles. fotografia: Hélio Silva. Montagem: Nelo Melli. Música: Remo Usai.
Elenco: Nelson Pereira dos Santos, Sônia Pereira, Ivan de Souza, Luiz Paulino dos Santos, Miguel Torres, José Telles, Mozart Cintra, Enéias Miriz, João Duarte, Jurema Penna.
No sertão nordestino, uma jovem órfã (Sônia Pereira) vive com a tia (Jurema Penna) e os primos (Luiz Paulino dos Santos e Ivan de Souza). Ela está prometida em casamento, mas se apaixona por um vaqueiro (Nelson Pereira dos Santos), empregado da fazenda da tia. A moça passa a noite com seu amado, desencadeando uma saga de vingança, em que vêm à tona algumas revelações chocantes – como a descoberta de que foi sua própria tia quem encomendou a morte de seus pais, numa emboscada traiçoeira, por acreditar que seu marido namorava a cunhada. Ao tomar conhecimento dessa tragédia familiar, a garota resolve fugir com o vaqueiro, escondendo-se pelo mato rumo à cidade, em busca do padre que poderá casá-los. No mesmo monte dominado por um mandacaru vermelho, que fora o cenário do assassinato dos pais da garota, uma outra emboscada comandada pela tia e os primos é preparada para os fugitivos. Segue-se um enfrentamento que culmina em várias mortes. 22
Em destaque: Nelson Pereira dos Santos preparava-se para filmar Vidas secas, em Juazeiro (BA), ao ser surpreendido pela chuva, que tornou o sertão verdejante. Adiou aquele projeto e criou rapidamente essa história. A limitação de recursos o fez também improvisar-se como ator. A artista plástica Lygia Pape criou os letreiros e o cartaz do filme. 23
1962, PB, 101’, ficção. 14 anos. Direção e roteiro: Nelson Pereira dos Santos, baseado na peça teatral Boca de ouro, de Nelson Rodrigues. Produção: Jarbas Barbosa e Gilberto Perrone. fotografia: Amleto Daissé. Direção de som: Jorge dos Santos Felício e Nelson Ribeiro. Montagem: Rafael Justo Valverde. Cenografia: Cajado Filho.
Elenco: Jece Valadão, Odete Lara, Daniel Filho, Maria Lúcia Monteiro, Ivan Cândido, Adriano Lisboa, Geórgia Quental, Maria Pompeu, Sulamith yaari, Rodolfo Arena, Wilson Grey, Pérola Negra, Maurício do Vale, Josué de Castro.
Um famoso bicheiro, Boca de ouro (Jece Valadão) – assim conhecido por ter mandado trocar seus dentes por uma dentadura feita do valioso metal -, o “dono” do subúrbio de Madureira, amanhece morto, com 29 facadas. Toda a comunidade para a fim de homenagear a figura dúbia do morto, que ao mesmo tempo distribuía favores, esmolas e também executava vinganças e assassinatos. O jornalista Caveirinha (Ivan Cândido) decide investigar as causas de sua morte, a partir de uma entrevista com sua ex-amante, Guiomar (Odete Lara), que mudou de vida, agora casada e mãe de duas filhas. Sem saber ainda que Boca morreu, ela pinta um retrato impiedoso do ex-amor, descrevendo-o como um homem cruel, que matou friamente o jovem Leleco (Daniel Filho) porque este desejava sua mulher, Celeste (Maria Lúcia Monteiro). Quando sabe pelo jornalista da morte de Boca, Guiomar desespera-se e muda completamente sua história. Ouvindo o relato de Guiomar, seu marido (Adriano Lisboa) enfurece-se e ameaça abandoná-la. Aflita, ela muda mais uma vez suas declarações. Em destaque: O filme representou a primeira adaptação de um trabalho do dramaturgo Nelson Rodrigues para o cinema. O ator Jece Valadão convidou Nelson Pereira dos Santos a dirigir o projeto. Foi o primeiro sucesso de público de um filme do cineasta. 24
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1963, PB, 103’, ficção. 10 anos. Direção e roteiro: Nelson Pereira dos Santos, baseado no romance homônimo de Graciliano Ramos. Produção: Luiz Carlos Barreto, Herbert Richers, Danilo Trelles. fotografia: Luiz Carlos Barreto e José Rosa. Montagem: Rafael Justo Valverde. técnico de som: Geraldo José.
Elenco: Átila Iório, Maria Ribeiro, Gilvan Lima, Genivaldo Lima, Orlando Macedo, Jofre Soares, Arnaldo Chagas, Oscar de Souza, José Leite, Gilvan Leite, Gileno Sampaio, Inácio Costa, Pedro dos Santos, Maria Rosa, Maria de Vanje, população de Minador do Negrão e a cachorra Baleia.
Nos idos de 1940, uma família de retirantes nordestinos, formada pelo vaqueiro Fabiano (Átila Iório), sua mulher, sinhá Vitória (Maria Ribeiro), os dois filhos (Genivaldo Lima e Gilvan Lima), acompanhados pela cachorra Baleia, enfrentam a miséria e a fome, durante uma grande seca no sertão. Chegam a uma casinha abandonada e ali se instalam, mas logo o dono das terras (Jofre Soares) vem expulsá-los. Fabiano o convence de que é um bom vaqueiro e que pode cuidar dos seus bois. Por algum tempo, a família tem algum conforto, podendo comer direito, comprar roupas para os meninos e assistir à procissão na cidade. Mas a exploração continua, com o fazendeiro pagando a Fabiano muito menos do que lhe deve. O vaqueiro tenta vender um pedaço de carne, mas logo é advertido por um funcionário da prefeitura, que pretende cobrar-lhe impostos, apoiado pelo Soldado Amarelo (Orlando Macedo). No dia da procissão, Fabiano e o soldado jogam e o vaqueiro perde o pouco dinheiro que ganhou. Quando tenta ir embora, o soldado o manda para a prisão. Ali, Fabiano é açoitado e mantido numa cela com um cangaceiro, enquanto sua família se angustia, sem saber do seu paradeiro. Na manhã seguinte, o fazendeiro vem soltar o cangaceiro e, surpreendido ao ver Fabiano, manda libertá-lo também. De volta à sua casa, sem dinheiro, a sina trágica de Fabiano prossegue. Em destaque: Convidado a competir no 17º Festival de Cannes, Vidas secas venceu o prêmio de Melhor Filme de Arte e Ensaio, além de vários outros troféus internacionais. A fotografia inovadora, sem filtros, reproduzindo da maneira mais crua e natural a intensa luz do Nordeste, foi idealizada por Luiz Carlos Barreto, então fotógrafo da revista “O Cruzeiro”.
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1967, PB, 80’, ficção. 12 anos. Direção, produção e roteiro: Nelson Pereira dos Santos, baseado na novela As Vidas de El justicero, de João Bethencourt. fotografia: Hélio Silva. Montagem: Nello Melli. Cenografia e figurinos: Luiz Carlos Ripper. Música: Carlos Alberto Monteiro de Souza. Som: Luiz Carlos Carneiro, Geraldo José, Sidney Paiva Lopes.
Elenco: Arduíno Colasanti, Adriana Prieto, Márcia Rodrigues, Emmanuel Cavalcanti, Álvaro Aguiar, Rosita Tomás Lopes, Helmício Fróes, Thelma Reston, Zózimo Bulbul, Hugo Bidet, José Wilker.
Filho de um general, El Jus (Arduíno Colasanti) é um playboy da Zona Sul do Rio de Janeiro. Simpatizante das classes populares, vai às delegacias para ajudar a libertar alguns presos injustamente. Mas não dispensa uma vida amorosa intensa, sempre bancando o maioral entre as mulheres. Entre seus flertes, está Araci (Márcia Rodrigues), uma militante esquerdista que não tem nada em comum com ele. Mas El Jus, que se gaba de não se apaixonar por ninguém, finalmente cai de amores por Ana Maria (Adriana Prieto), uma grã-fina que gosta dele, mas se diverte em esnobá-lo. Ela engravida e o pai dela vai tirar satisfações com o pai dele. Mas é Ana Maria quem não quer se casar. Lenine (Emmanuel Cavalcanti), que foi contratado por El Jus para escrever a sua autobiografia em seu lugar, mas tinha sido dispensado da missão, resolve então partir para a realização de um filme sobre o personagem, que seria “um tipo James Bond com cérebro de Jean-Paul Sartre”. Em destaque: Comédia experimental, precursora do besteirol, foi proibida pela ditadura militar. Apesar de ser um título incomum dentro da filmografia do diretor, alguns críticos o consideraram como a terceira parte informal da trilogia, idealizada, mas nunca realizada, que completaria Rio, 40 graus e Rio, Zona Norte. 28
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1968, PB, 73’, ficção. 14 anos. Direção: Nelson Pereira dos Santos. Roteiro: Nelson Pereira dos Santos e Luiz Carlos Ripper, baseados no livro História para se ouvir de noite, de Guilherme Figueiredo. Produção executiva: Paulo Porto. fotografia: Dib Lutfi. Montagem: Rafael Justo Valverde. Direção de arte, cenografia e figurino: Luiz Carlos Ripper. Som: Aloísio Viana. Música original: Guilherme Magalhães Vaz.
Elenco: Leila Diniz, Irene Stefânia, Arduíno Colasanti, Paulo Porto, Manfredo Colasanti, Lia Rossi, Olga Danitch, Neville Duarte, Roberto de Castro. Em Nova york, a pianista Mariana (Irene Stefânia), interessada em música experimental e teoria marxista, conhece Felipe (Arduíno Colasanti), um aventureiro, pintor medíocre que sobrevive trabalhando como garçom. Os dois se apaixonam, casam-se e voltam ao Brasil. Vão morar numa ilha em Angra dos Reis, habitada por um casal, a bela Ula (Leila Diniz) e o marido Alfredo (Paulo Porto), que ficou cego, surdo e mudo num acidente e tem por companhia inseparável um pastor alemão. Felipe afirma que Alfredo está ligado à causa da revolução internacional e, em nome disso, consegue uma procuração de Mariana, apropriando-se de seu dinheiro. Na ilha, a musicista passa os dias recolhida, lendo. Enquanto isso, Ula adora o sol e o mar. Ula e Felipe saem sempre juntos para pescar. Três novos personagens aparecem na ilha para uma festa: um psiquiatra de cachorros (Manfredo Colasanti) e duas moças (Olga Danitch e Lia Rossi). Aos poucos, fica claro o envolvimento de Felipe e de Ula – e também a manobra de Felipe para tirar o dinheiro de Mariana. Em destaque: Modificando radicalmente a trama do livro que originou o roteiro, Nelson Pereira dos Santos, que aceitou dirigir sob encomenda, transformou a história numa espécie de antecipação crítica do movimento da luta armada. Menção honrosa no 4º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.
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1969/71, cor, 100’, ficção. 12 anos. Direção e roteiro: Nelson Pereira dos Santos, baseado no conto O alienista, de Machado de Assis. Produção: Nelson Pereira dos Santos, Luiz Carlos Barreto, Roberto Farias e César Thedim. fotografia: Dib Lutfi. Montagem: Rafael Justo Valverde. Cenografia e figurinos: Luiz Carlos Ripper. Música: Guilherme Magalhães Vaz. Som: Arduíno Colasanti e Nelson Pereira dos Santos.
Elenco: Nildo Parente, Isabel Ribeiro, Arduíno Colasanti, Irene Stefânia, Leila Diniz, Manfredo Colasanti, Nelson Dantas, José Kléber, Ana Maria Magalhães, Luiz Carlos Lacerda, população de Parati.
No século XIX, chega à cidade de Serafim um padre-médico, Simão Bacamarte (Nildo Parente), que traz na bagagem uma série de novas ideias para lidar com os problemas espirituais dos paroquianos. Patrocinado por uma rica senhora local, dona Evarista (Isabel Ribeiro), manda construir um hospital de alienados, a Casa Verde. O radical projeto do padre é extirpar do pensamento dos habitantes todo traço colonizado. Mas, ao invés de libertação, o que ele provoca é tirania, já que recolhe ao estabelecimento quase toda a população da cidade, loucos ou sãos, inclusive, finalmente, a própria dona Evarista. Apreensiva com esse estado de coisas, a elite dirigente, liderada pelo senhor de escravos Porfírio (Arduíno Colasanti), tenta retirar os poderes do padre. A luta pelo poder acirra-se, com uma sucessão de golpes e contragolpes. Em destaque: Primeiro filme colorido do diretor. Venceu o prêmio Luis Buñuel no 23º Festival de Cannes, em 1970.
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1970, cor, 79’, ficção. 14 anos. Direção, argumento e roteiro: Nelson Pereira dos Santos. Produção: Klaus Manfred Eckstein, Nelson Pereira dos Santos, Luiz Carlos Barreto e César Thedim. fotografia e câmera: Dib Lutfi. Montagem: Carlos Alberto Camuyrano. Cenografia: Regys Monteiro. figurinos: Mara Chaves. Som: Nelson Ribeiro. Música: José Rodrix. Narração: Célio Moreira. Pesquisa etnográfica: Luiz Carlos Ripper. Diálogos em tupi: Humberto Mauro.
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Elenco: Arduíno Colasanti, Ana Maria Magalhães, Eduardo Imbassahy Filho, Manfredo Colasanti, José Kléber, Gabriel Arcanjo, Luiz Carlos Lacerda, Ana Maria Miranda, Janira Santiago, Marlete Ribeiro Barbosa e Maria de Souza Lima.
No Brasil colonial, em 1594, um aventureiro francês, Jean (Arduíno Colasanti), escapa de uma condenação à morte, determinada pelo comandante Villegaignon, por sua participação numa “conspiração por cupidez carnal”. Entretanto, logo é capturado pelos índios Tupinambás, que combatem os portugueses e acreditam que ele seja um deles. Inflexível, o cacique Cunhambebe (Eduardo Imbassahy), ordena que ele seja morto dentro de oito luas. Também segundo o costume da tribo, Seboipep (Ana Maria Magalhães), viúva do irmão do cacique, deverá cuidar do forasteiro até sua execução, tornando-se sua mulher. Chega um mercador francês (Manfredo Colasanti) que sugere que Jean armazene pau-brasil e se integre à comunidade indígena, prometendo voltar em breve. Jean segue seu conselho. Aprende com Seboipep as lendas locais, corta seu cabelo, depila-se. O mercador volta, mas irrita Cunhambebe, por trazer-lhe colares e não a pólvora pretendida para guerrear contra os portugueses e as tribos rivais. Jean, por sua vez, tenta ganhar tempo, dizendo ao cacique que pode fazer pólvora e luta na guerra, ao lado dos Tupinambás. Em destaque: O roteiro foi livremente inspirado nas memórias do aventureiro alemão Hans Staden, descritas no livro Viagem ao Brasil. O filme ganhou diversos prêmios, como o Air France (melhor diretor) e Associação Paulista dos Críticos de Arte (troféu Carlitos de revelação, para Ana Maria Magalhães). Teve problemas com a censura, por causa da nudez dos personagens indígenas. 35
1972/3, cor, 85’, ficção. 12 anos. Direção e roteiro: Nelson Pereira dos Santos. Argumento: Nelson Pereira dos Santos e Gerald Lévy-Clerc. fotografia: Dib Lutfi. Montagem: André Delage. Cenografia: Luiz Carlos Lacerda e José Zanini. figurinos: Luiz Carlos Lacerda e Cipó. Sonografia: Nelson Ribeiro. Diretor musical: Maestro Cipó. Música: Cláudio, Paulo & Maurício.
Elenco: Frédéric de Pasquale, Sylvie Fennec, Regina Rosemburgo, Jean-Dominique Ruhle, Noëlle Adam, Luiz Carlos Lacerda, Isabel Ribeiro, Nildo Parente, José Kléber, Manfredo Colasanti, Ana Maria Miranda, Arduíno Colasanti.
Após uma catástrofe nuclear que destruiu a natureza e a civilização, num país não identificado, uma mulher, Regina (Regina Rosemburgo), chega ao abrigo construído por Maurice (Frédéric de Pasquale). Inicialmente, ele rejeita a estranha, mas termina por aceitá-la e os dois passam a viver um relacionamento. Sua rotina é perturbada pela chegada dos “contaminados”, os seres afetados pela radiação que vagam pelos campos, implorando por ajuda e comida. Mas a minoria que dispõe de alimentos e armas, como o casal, defende-se eliminando os “contaminados”. Regina e Maurice passam parte do tempo assistindo a uma estranha máquina de projeção de memórias, criada por ele. Rompe seu isolamento a chegada de uma mulher bela e carismática, Beta (Sylvie Fennec), que se torna um elemento dissonante, mas também imprescindível na vida do casal. Um dia, sem apresentar qualquer razão, Beta decide partir, deixando um vazio. A lembrança de Beta continua pairando sobre eles. Em destaque: Esta fantasia de ficção científica, realizada em coprodução com a França, de sentido aberto a muitas leituras, foi considerada por alguns críticos como uma espécie de alegoria do Brasil do milagre econômico, em que a sobrevivência ditava as regras, acima da moral ou da psicologia.
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1974, cor, 112’, ficção. 14 anos. Direção, adaptação, produção, roteiro e diálogos: Nelson Pereira dos Santos. Argumento: Francisco Santos. fotografia: Hélio Silva, José Cavalcanti e Nelson Pereira dos Santos. Efeitos especiais de fotografia: Célio Gonçalves. Sonografia: Geraldo José. Som direto: Albertinho Nogueira da Fonseca e Ricardo Moreira. Montagem: Severino Dadá e Paulo Pessoa. Cenografia e figurino: Luiz Carlos Lacerda. Música: Jards Macalé.
Elenco: Jofre Soares, Anecy Rocha, Ney Sant’Anna, Maria Ribeiro, Emmanuel Cavalcanti, José Marinho, Antonio Carneiro, Francisco Santos, Erley José, Washington Fernandes, Jards Macalé, Luiz Carlos Lacerda, Ilya São Paulo e Olney São Paulo.
O cantador cego Firmino (Jards Macalé), de Caxias (RJ), é cercado por três bandidos, que exigem que ele conte uma história. Esta se passa na Bahia, onde o pai do menino Gabriel (Ney Sant’Anna) é assassinado. A mãe (Maria Ribeiro) leva o garoto a um terreiro de umbanda, para que seu corpo seja “fechado”. Protegido pelo amuleto de Ogum, Gabriel cresce e viaja a Caxias, com uma carta de recomendação para Severiano (Jofre Soares), poderoso bicheiro local. O rapaz é introduzido no bando do bicheiro, comandado por Chico Assis (Francisco Santos), provando sua valentia. Numa desavença, Chico o criva de balas, mas o amuleto protege Gabriel, que sai ileso, para espanto geral. Tudo muda para o jovem, que passa a ser respeitado, inclusive no bordel, chefiado por madame Moustache (Luiz Carlos Lacerda). Mas Gabriel contraria Severiano ao aproximar-se de sua amante, Eneida (Anecy Rocha). Gabriel é ajudado por madame Moustache, que o convida a liderar um bando de pivetes. A partir daí, sua gangue rivaliza com a de Severiano. Em destaque: O interesse pela cultura popular, despertado no diretor desde Rio, 40 graus, materializou-se mais uma vez neste filme, que foi quase inteiramente rodado em Caxias (RJ), na fortaleza do deputado Tenório Cavalcanti. Nelson assumiu pessoalmente a maior parte do trabalho de câmera. Vencedor do prêmio de melhor filme no Festival de Gramado 1975.
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1977, cor, 148’, ficção. 14 anos. Direção, produção e roteiro: Nelson Pereira dos Santos, baseado no romance homônimo de Jorge Amado. Adaptação e diálogos: Jorge Amado e Nelson Pereira dos Santos. Produção executiva: Ney Sant’Anna. fotografia: Hélio Silva. Direção de som: Roberto Melo Leite. Montagem: Raimundo Higino e Severino Dadá. Cenografia: Tizuka yamasaki. figurinos: yurika yamasaki. trilha sonora: Jards Macalé. Música: Gilberto Gil.
Elenco: Hugo Carvana, Anecy Rocha, Sônia Dias, Wilson Mello, Geraldo Freire, Laurence R. Wilson, Severino Dadá, Jards Macalé, Juarez Paraíso, Jurema Penna, Washington Fernandes, Nildo Parente, Menininha do Gantois, Bogum, Filhos do Terreiro de Gantois, Filhos do Terreiro de Mirinha do Portão, Mestre Pastinha, Teixeira, Cid Teixeira, Jofre Soares, Mirabeau Sampaio, Caribé, Jenner Augusto, Calazans Neto, Bob Lao.
O jornalista e cineasta Fausto Pena (Hugo Carvana) prepara um filme sobre um desconhecido e autodidata intelectual baiano do início do século XX, Pedro Arcanjo, cujo trabalho fora desconsiderado em sua época devido ao racismo. Quase oitenta anos depois, a obra de Arcanjo vem sendo redescoberta, inclusive por influência de um brasilianista e Prêmio Nobel, James Livingston (Laurence R. Wilson). A narrativa se desenrola em vários tempos que se intercalam. No passado, o Pedro Arcanjo jovem (Jards Macalé), bedel mulato da Faculdade de Medicina, além de capoeirista, defende a grandeza da cultura dos ancestrais africanos e é combatido pelos catedráticos racistas, como Nilo Argolo (Nildo Parente). Ainda assim, ele consegue imprimir seus livros na tipografia precária de um amigo, na Tenda dos Milagres, lugar frequentado por artesãos, artistas populares, capoeiristas e outros marginalizados da época. Mais velho, Arcanjo (agora, Juarez Paraíso) aprofunda suas pesquisas sobre a mestiçagem na Bahia, mas assiste à violenta repressão policial ao candomblé, que ele frequenta, apesar de ser materialista. No tempo presente, Fausto Pena viaja à Bahia e aprofunda sua investigação sobre Arcanjo. Em destaque: Este foi o primeiro filme em que Jorge Amado participou diretamente da adaptação de uma obra sua para o cinema. Venceu quatro prêmios no 10º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro: melhor filme, direção, trilha sonora e atriz coadjuvante (Sônia Dias). Último filme da atriz Anecy Rocha (1942-1977).
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1979/81, cor, 103’, ficção. Livre. Direção: Nelson Pereira dos Santos. Produção: Dora Sverner e Luiz Carlos Villas Boas. Argumento e roteiro: Chico de Assis. fotografia: Botelho Jr. e Francisco Cassiano Direção de som e som direto: Juarez Dagoberto da Costa. Montagem: Carlos Alberto Camuyrano. Música: Dooby Ghizzi.
Elenco: Romeu J. Mattos, José A. Santos, Nadia Lippi, Silvia Leblon, Raimundo Silva, José Raimundo, Turíbio Ruiz, Marthus Mathias, José Marinho, José Reynaldo Cezaretto, Nestor Lima, Manfredo Bahia. Dois migrantes, Romeu (Milionário) e José (Zé Rico), chegam a São Paulo. Seu sonho secreto é firmar-se na carreira de cantores. Sem dinheiro nem documentos, hospedam-se num hotel, firmemente decididos a um dia formarem uma dupla. Começam a ensaiar para o primeiro show e conseguem um empresário, Malaquias (Raimundo Silva), um homem sem nenhum caráter. Enquanto o sucesso não vem, eles se empregam como pintores de paredes, cantando nas obras em que trabalham, vendo a cidade grande de cima do andaime e lembrando da vida no campo, que deixaram para trás. De tanto cantar, acabam despedidos da obra, segundo o patrão, porque a música distrai os outros peões. A duras penas, conseguem gravar o primeiro disco. Mas nada acontece. Aflitos, eles decidem recorrer a Nossa Senhora Aparecida, fazendo uma promessa e deixando um disco em seu altar. O elepê é descoberto, levado a uma rádio local, e finalmente a dupla estoura nas paradas de sucesso. Em destaque: Vencedora do prêmio de melhor filme para o júri popular e de uma menção especial do júri oficial no 13º. Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, a obra consolida uma proposta de cinema popular que foi amplamente consagrada pelo sucesso de público, embora muitos críticos na época não tenham compartilhado esse entusiasmo.
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1984, cor, 173’, ficção. 14 anos. Direção e roteiro: Nelson Pereira dos Santos, baseado no romance homônimo de Graciliano Ramos. Produção: Lucy Barreto, Luiz Carlos Barreto e Nelson Pereira dos Santos. fotografia: José Medeiros e Antonio Luiz Soares. Sonografia: Jorge Saldanha. Montagem: Carlos Alberto Camuyrano. Montagem de som: Hercília Cardillo. Direção de arte: Irênio Maia. Cenografia: Adílio Athos e Emily Pirmez. figurinos: Ligia Medeiros. Música: Louis Moreau Gottschalk.
Elenco: Carlos Vereza, Glória Pires, Jofre Soares, José Dumont, Nildo Parente, Wilson Grey, Tonico Pereira, Jorge Cherques, Jackson de Souza, Waldyr Onofre, Ney Sant’Anna, Arduíno Colasanti, Fábio Barreto, Marcos Palmeira, Cássia Kiss, André Villon, Paulo Porto, Monique Lafond, Nelson Dantas, Fábio Sabag, Silvio de Abreu.
Em 1936, o diretor de instrução pública em Alagoas, o escritor Graciliano Ramos (Carlos Vereza), é preso pela polícia política de Getúlio Vargas e enviado, sem processo, à prisão no Rio de Janeiro. O pretexto é uma vaga acusação de sua ligação com a Aliança Libertadora Nacional, frente ampla de oposição ao governo federal. É preso num quartel, depois enviado ao pavilhão dos presos primários, ao lado de dezenas de outros prisioneiros políticos, intelectuais, estrangeiros, jovens militantes e um operário, Desidério (Tinoco Pereira). Na prisão, fica deprimido, quase não come. Não quer que a mulher, Heloísa (Glória Pires), o visite, já que a considera uma criatura frágil. Mas ela insiste e vai vê-lo, mudando sua imagem diante dele. Graciliano acaba doente e é transferido para o hospital. Sua única distração é escrever, anotar tudo que pode sobre as pessoas e as situações que o cercam, cogitando escrever um livro. Chega a pensar que será libertado. Mas, ao invés disso, é enviado para a Colônia Correcional da Ilha Grande, onde reencontra companheiros do porão, como o militante comunista Mário Pinto (José Dumont), além do ladrão Gaúcho (Wilson Grey) e gente muito simples, como Cubano (Waldyr Onofre), que, solidário com o escritor, preocupa-se com sua fraca saúde e arranja-lhe comida escondido. Em destaque: Esta segunda adaptação de uma obra de Graciliano Ramos (a primeira foi Vidas secas) consumiu dois anos de trabalho, para condensar em 100 os cerca de 300 personagens do livro. A obra foi descrita pelo diretor como uma metáfora da sociedade brasileira, já no fim da ditadura militar. O filme foi premiado na França, Cuba, União Soviética, Índia e Itália.
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1985/7, cor, 100’, ficção. 12 anos. Direção: Nelson Pereira dos Santos. Produtor associado: Nelson Pereira dos Santos, Alain Martinez e Betty Faria. Roteiro: Nelson Pereira dos Santos, Henry Raillard e Ney Sant’Anna, baseado no romance homônimo, de Jorge Amado. fotografia: José Medeiros. Som direto: Juarez Dagoberto da Costa e Jorge Saldanha. Montagem: yvon Lemière, yves Charoy, Catherine Gabrielidis, Sylvie Lhermenier e Alain Fresnot. Direção de arte: Juarez Paraíso. figurinos: Juan Carlos Berardi, Márcia de Azevedo e Edsoleda dos Santos. Criação e produção musical: Gilberto Gil e Serginho.
Elenco: Grande Otelo, Antônio José Santana, Luís Santana, Françoise Goussard, Charles Baiano, Catherine Rouvel, Julien Guiomar, Betty Faria, Henri Raillard, Zezé Motta, Tatiana Issa, Jofre Soares, Romeu Evaristo, Alexandra Marzo, Eliana Pittman, Raymond Pellegrin, Ruth de Souza. O órfão Balduíno (Antônio José Santana), protegido do pai de santo Jubiabá (Grande Otelo), é levado para viver na casa do comendador Ferreira (Raymond Pellegrin), depois que sua tia, Luiza (Ruth de Souza), enlouquece. Ele cresce junto da filha do comendador, Lindinalva (Tatiana Issa), a quem se liga desde a infância. A empregada da casa, Amélia (Catherine Rouvel), começa a persegui-lo, entendendo que “não dará boa coisa” essa convivência do menino negro com a menina branca. O comendador, porém, trata-o como filho. Adolescente, apelidado de Baldo (Luís Santana), ele vive apaixonado por Lindinalva (Françoise Goussard), mantendo a liberdade inclusive de sair com ela. Numa noite, vão ao cinema e, na volta, a empregada intriga o rapaz junto ao comendador, dizendo que ele está assediando sua filha. Indignado, o pai espanca-o e expulsa-o da casa. A vida de Baldo agora será nas ruas, primeiro esmolando, depois como assaltante, levando à sua prisão. Solto, ele procura a orientação de Jubiabá. Numa briga de rua, conhece Luigi (Julien Guiomar), que o convida para lutar boxe. Já adulto, Baldo (Charles Baiano) torna-se campeão de boxe na Bahia. Tem uma luta marcada contra um campeão alemão quando sabe, pelo jornal, que Lindinalva está noiva. Em destaque: Coprodução entre o Brasil e a França, o filme foi exibido “hors concours” no Festival de Veneza, em que Nelson integrava, naquele ano de 1986, o júri do festival. Desta vez, Jorge Amado não participou nem da adaptação nem das filmagens, como fizera em Tenda dos milagres.
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1993/4, cor, 96’, ficção. 14 anos. Direção e roteiro: Nelson Pereira dos Santos, baseado nos contos “A menina de lá”, “Os irmãos Dagobé”, “fatalidade”, “Sequência” e “A terceira margem do rio”, reunidos no livro Primeiras estórias, de João Guimarães Rosa. Produção executiva: Dora Sverner e Ney Sant’Anna. fotografia: Gilberto Azevedo e Fernando Duarte. Som direto: Chico Bororo. Montagem: Carlos Alberto Camuyrano e Luelane Corrêa. Cenografia: Jurandir Oliveira. figurinos: Ivelise Tass e Siron Franco. Música: Milton Nascimento.
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Elenco: Ilya São Paulo, Maria Ribeiro, Sonjia Saurin, Barbara Brandt, Mariane Vicentini, Chico Diaz, Henrique Rovira, Mariane Vicentine, Waldyr Onofre, Gilson Moura, Mário Lute, Aliomar Macedo, Lavoisier Albernaz, Anna Maria Nascimento e Silva, Jofre Soares, Vanja Orico e Laura Lustosa.
Um homem abandona a casa, a mulher (Maria Ribeiro) e os filhos, decidido a viver dali em diante isolado, numa canoa, no meio de um rio, sem jamais voltar a pisar em terra firme. A mulher toca a vida em frente, cuidando dos filhos, sempre olhando o rio. Anos mais tarde, a filha, Rosário (Mariane Vicentini), casa-se com um jovem da região, Rigério (Chico Diaz), e muda-se para Brasília. O filho, Liojorge (Ilya São Paulo), fica com a mãe e, todos os dias, deixa um prato de comida na beira do rio para o pai, nunca mais visto. Um dia, Liojorge cruza o rio e conhece Alva (Sonjia Saurin). Apaixona-se por ela e se casa, tendo uma filha, Nhinhinha (Barbara Brandt). De vez em quando, Liojorge leva a família à beira do rio, para mostrá-la ao pai invisível, cuja presença, no entanto, paira sobre eles. De surpresa, a menininha revela ter poderes mágicos, realizando seus desejos, fazendo aparecer coisas e até salvando a vida da mãe. Uma ameaça surge com a chegada dos irmãos Dagobé (Henrique Rovira, Waldyr Onofre, Mário Lute e Gilson Moura), que levam um preso para a cidade. Herculinão (Henrique Rovira) encanta-se com a beleza de Alva e intimida a família, passando a noite nas imediações da casa. Liojorge decide fugir, levando todos para a casa da irmã, que mora numa cidade satélite de Brasília. Em destaque: A adaptação da obra de Guimarães Rosa, acalentada por décadas, consumiu cerca de cinco anos na vida do diretor – que também viu o plano da filmagem adiado, devido à extinção repentina da Embrafilme, em 1990, no governo Collor. O filme foi selecionado para o Festival de Berlim 1994 e convidado a diversos outros festivais internacionais. 49
1995, cor, 95’, ficção. 12 anos. Direção e argumento: Nelson Pereira dos Santos. Produção: Roberto Feith, Laura Imperiale, Alejandro Clancy e Nene Lovera. Produção executiva: Hilton Kauffmann, Colin MacCabe e Bob Last. Roteiro: Nelson Pereira dos Santos e Silvia Oroz, baseados no livro Melodrama: o cinema de lágrimas da América Latina, de Silvia Oroz. fotografia: Walter Carvalho. Direção de som: Juarez Dagoberto da Costa. Som direto: Miguel Sandoval. Montagem: Luelane Correa. Montagem de som: Carlos Cox. Direção de arte, cenografia e figurino: Silvana Gontijo. Música: Paulo Jobim.
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Elenco: Raul Cortez, André Barros, Christiane Torloni, Patrick Tannus, Cosme Alves Netto, Silvia Oroz e Ivan Trujillo.
Conhecido dramaturgo e diretor de teatro, Rodrigo Ferreira (Raul Cortez) sofre um abalo após o fracasso de sua peça mais recente. Angustiado também por sonhos recorrentes com a mãe (Christiane Torloni), que se suicidou quando ele ainda era criança, decide sair em busca de seu passado. Contrata um jovem estudante de cinema, yves (André Barros), para ajudá-lo a encontrar o filme a que sua mãe teria assistido antes de morrer. Os dois viajam juntos ao México, percorrendo diversas cinematecas, e também pesquisam no Brasil. Assistem a vários trechos de filmes, produzidos entre as décadas de 1930 e 1950, discutem seus temas trágicos e emotivos, e ensaiam uma relação afetiva mais próxima que não se consuma. yves, especialmente, mostra-se ambíguo em suas intenções, desaparecendo sem explicações, enquanto Rodrigo envolve-se completamente com o jovem. Tempos depois, Rodrigo vai à Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio, onde recebe de seu curador, Cosme Alves Netto (interpretando seu próprio papel), uma fita de vídeo contendo o filme que ele procurou todo esse tempo, acompanhado de uma carta de yves, que explica os motivos de seu desaparecimento. Em destaque: O filme integra o projeto “O Centenário do Cinema”, com 18 produções internacionais coordenadas pelo British Film Institute e exibe trechos de vários filmes latino-americanos, produzidos entre 1931 e 1954. O final homenageia Glauber Rocha, mostrando um cartaz de Terra em Transe e excertos da trilha de Deus e o Diabo na Terra do Sol. 51
uMA CINEBIoGRAfIA DE SéRGIo BuARQuE DE HoLANDA
2003, cor, 146’, documentário. 10 anos. Direção: Nelson Pereira dos Santos. Direção de produção: Marcia Pereira dos Santos. Produção executiva: Marcia Pereira dos Santos e Maurício Andrade Ramos. Argumento: Ana de Holanda. Roteiro: Miúcha e Nelson Pereira dos Santos. fotografia: Reynaldo Zangrandi. Som direto: Bruno Fernandes. Montagem: Júlio Souto. Cenografia: Isabel Wagner. figurinos: Thalita Lippi.
Entrevistados: Paulo Vanzolini, Chico Buarque de Holanda, Carlinhos Brown, Bebel Gilberto, Clara Buarque de Freitas, Álvaro Buarque de Freitas, Francisco Buarque de Freitas, Maria Amélia Alvim Buarque de Holanda (Memélia), Heloísa Maria Buarque de Holanda (Miúcha), Ana de Holanda, Sérgio Buarque de Holanda Filho, Zeca Buarque Ferreira e Antonio Cândido.
O documentário retrata um dos maiores pensadores e intelectuais brasileiros, o jornalista e historiador paulistano Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982), autor de livros fundamentais para explicar o país, como Raízes do Brasil, a primeira e mais famosa de suas obras, publicada em 1936 e que empresta o nome ao filme, dividido em duas partes. Na primeira parte, explora-se o aspecto pessoal e familiar do protagonista, pai de sete filhos - entre os quais Chico Buarque de Holanda -, que se orgulhava de ver o filho compositor tornar-se mais famoso do que ele próprio. Reúnem-se depoimentos de parentes, colegas e amigos que descrevem uma pessoa que gostava de conversar, contar histórias. Dono de uma vasta erudição, Sérgio era capaz de discorrer sobre os temas mais variados com graça e humor, lendo tudo que lhe caía às mãos, de Liev Tolstói ao gibi Luluzinha. Na segunda parte, detalha-se a fecunda trajetória profissional do historiador, que passou pela faculdade de Direito e pelo jornalismo, dirigiu o Museu Paulista, tornou-se reitor da cátedra de História da Civilização Brasileira na USP e escreveu vários livros, como os não menos brilhantes Monções e Visão do Paraíso, que era, aliás, o seu trabalho preferido. Em destaque: Contando com o envolvimento de toda a família do historiador, o filme foi valorizado não só pelo acesso a diversos valiosos materiais de arquivo como por uma cuidadosa pesquisa musical, a cargo de Cristina Buarque de Holanda.
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2006, cor, 102’, ficção. 14 anos. Direção e roteiro: Nelson Pereira dos Santos. Produção executiva: Maurício Andrade Ramos. fotografia: Edgar Moura. Montagem: Alexandre Saggese. Direção de arte: Arturo Uranga. Edição de som: Carlos Cox. figurinos: Beth Filipecki e Renaldo Machado. Música: Paulo Jobim.
Elenco: Carlos Alberto Riccelli, Othon Bastos, Otávio Augusto, Tonico Pereira, Bruna Lombardi, Evandro Mesquita, Ilya São Paulo, Malu Mader, Karine Carvalho, Michel Melamed e Carlos Vereza.
Um renomado médico legista brasileiro, radicado nos EUA, o dr. Olavo Bilac (Carlos Alberto Riccelli), é convidado pelo Instituto Médico Legal de Brasília a participar de uma investigação para esclarecer se um corpo não identificado pertence ou não a uma assessora parlamentar desaparecida, Eugênia Câmara (Karine Carvalho). Por mais que Bilac deseje manter-se neutro e independente, ele está no centro de uma acirrada disputa de interesses. De seu parecer depende, por exemplo, o destino do cineasta Augusto dos Anjos (Miguel Melamed), namorado de Eugênia e supostamente o último a vê-la viva, por isso acusado de seu assassinato. O rapaz, por sua vez, acusa os políticos para os quais Eugênia trabalhava, cujos escândalos ela teria descoberto e, por isso, sentiu-se forçada a sumir. Dentro da própria família do legista, seu cunhado, Martins Fontes (Othon Bastos), pressiona-o para que assine logo o laudo confirmando a identidade de Eugênia. O médico é levado a festas e adulado pela bela deputada Georgesand Romero (Malu Mader), sendo atraído a um restrito círculo de poder. Em destaque: O diretor usou de sua fina ironia para batizar com nomes de escritores do passado os personagens deste thriller político. Um duplo sentido está no título do filme, que se refere à baixa umidade atmosférica da capital federal e também sugere uma porcentagem financeira.
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2007, cor, 72’, documentário. 10 anos. Direção: Nelson Pereira dos Santos. Argumento original e consultoria de conteúdo: Domício Proença Filho. Produção: Paulo Dantas. Coordenação geral de realização: Maria Eugênia Stein. fotografia: Ricardo Stein. Direção de arte: Hector Sápia.
A rotina do casarão que é a sede da Academia Brasileira de Letras, na avenida Presidente Wilson, no Castelo, no Rio de Janeiro, é rompida para abrigar uma discussão entre os acadêmicos, aí incluído o diretor Nelson Pereira dos Santos – primeiro cineasta ali admitido, em 2006 – sobre o estado atual do idioma falado no Brasil. Escritores como Ana Maria Machado, Nélida Piñon, João Ubaldo Ribeiro, Ledo Ivo, Ivan Junqueira, Moacyr Scliar, Ariano Suassuna e outros levantam questões candentes, como a importância da língua no contexto de um país, o impacto da internet, a influência da mídia na uniformização - que tanto leva à compreensão ampla de todas as camadas sociais quanto ao sufocamento de expressões regionais -, a defesa do ensino da norma culta, tanto como da busca de recursos populares, como a oralidade, para expandir o universo da própria literatura. E, como quase tudo numa nação que foi unificada dentro de uma grande extensão geográfica também pela questão linguística, o debate acaba em samba – aliás, no festivo samba enredo da Mangueira no Carnaval de 2007, “Minha pátria é minha língua, Mangueira meu grande amor. Meu samba vai ao Lácio, colhe a última flor”, de Lequinho, Júnior Fionda, Aníbal e Amendoim, explodindo no sambódromo da Marquês de Sapucaí. Em destaque: Filme realizado em comemoração aos 110 anos da Academia Brasileira de Letras. É a primeira vez que Nelson Pereira dos Santos aparece diante das câmeras de um filme seu.
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2012, cor e PB, 90’, documentário. Livre. Direção: Nelson Pereira dos Santos e Dora Jobim. Roteiro: Miúcha e Nelson Pereira dos Santos. Montagem: Luelane Corrêa. Sonografia: Jorge Saldanha e yan Saldanha. Pesquisa: Antônio Venâncio. Direção musical: Paulo Jobim.
Dispensando entrevistas, depoimentos e comentários, inclusive do próprio biografado, os diretores Nelson Pereira dos Santos e Dora Jobim permitiram que a própria música sublime de Antônio Carlos Brasileiro Jobim (1927-1994) falasse por si mesma. Amparados na exaustiva pesquisa de Antônio Venâncio e na montagem de Luelane Correa, reuniram diversas vozes, inclusive a dele próprio, para expressar, cada uma à sua maneira e língua, a obra do compositor. Ao enfileirar participações de Nara Leão, Maysa, Silvia Telles, Elizeth Cardoso, Ella Fitzgerald, Sarah Vaughn, Dizzy Gillespie, Oscar Peterson e Frank Sinatra - um dos maiores divulgadores mundiais de Jobim – e vários outros, assinala-se tanto a brasilidade quanto a universalidade de suas criações. Atravessando a barreira temporal ao juntar registros de várias épocas, o filme evidencia a versatilidade do maestro, que transitava à vontade entre o erudito e o popular, da “Sinfonia da Alvorada” que celebrou a fundação de Brasília às parcerias com Newton Mendonça, como “Desafinado” e “Samba de uma nota só”, marcos da Bossa Nova que inscreveu o país e o nome de Jobim no mapa internacional dos gêneros musicais com uma força até agora sem comparação. Em destaque: Uma das imagens raríssimas garimpadas no filme é da atriz e cantora norte-americana Judy Garland, interpretando “How Insensitive” (versão em inglês de “Insensatez”), encontrada no youtube. A codiretora Dora Jobim, neta do compositor, aqui estreia no cinema.
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2013, cor e PB, 88’, documentário. Livre. Direção: Nelson Pereira dos Santos. Roteiro: Miúcha e Nelson Pereira dos Santos. Produção: César Cavalcanti. fotografia: Maritza Caneca. trilha sonora: Paulo Jobim.
Entrevistadas: Helena Jobim, Tereza Hermanny e Ana Lontra Jobim.
Baseado na biografia Antonio Carlos Jobim – Um homem iluminado, escrita pela irmã do compositor Tom Jobim, Helena Jobim, o documentário traça um retrato intimista do artista, através dos depoimentos das três principais mulheres de sua vida, a própria irmã e suas duas esposas, Thereza Hermanny e Ana Lontra Jobim. Helena abre o filme, usando um conhecido chapéu do irmão, e recorda momentos da infância e juventude deles, vividos entre os bairros da Lagoa e Ipanema. Ela revela a força da vocação de Tom, que até começou a estudar arquitetura, mas viu-se compelido a abandonar tudo em nome da música. Casada com o músico de 1949 a 1985, Thereza Hermanny fala do difícil começo da carreira musical do ex-marido, quando ele corria de um canto a outro do Rio de Janeiro, trabalhando nos bares e boates, à noite, sem deixar de se dedicar profundamente às composições. É ela quem detalha a aproximação com Vinicius de Moraes, uma das mais celebradas parcerias de Tom, e a viagem aos Estados Unidos, lançando sua carreira internacional. Segunda mulher de Tom, a fotógrafa Ana Lontra Jobim lembra-o na maturidade e descreve sua parceria profissional, quando produziu com ele alguns livros, em que ele assinava os textos, ela, as imagens. Em destaque: Fazendo referência ao grande amor de Tom Jobim pela natureza, o diretor Nelson Pereira dos Santos situa os depoimentos em praias de Santa Catarina, na região serrana do Rio e no Jardim Botânico carioca – ao qual Tom se referia como “o jardim de sua casa”.
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1949, PB, 40’, documentário. Direção e produção: Nelson Pereira dos Santos e Mendel Charatz. Narração: Carlos Alberto de Souza Barros. Realizado para participar do Festival da Juventude de Berlim, que reunia comunistas de todo o mundo, o filme visava retratar a situação dos jovens no campo, na cidade, na escola e no trabalho em São Paulo. Foi a primeira experiência cinematográfica do diretor, executada de maneira bastante precária e artesanal, ao lado de um amigo, Mendel Charatz, então estudante de engenharia. A montagem, por exemplo, não contava com moviola. O filme ia sendo projetado por fotograma na parede e, quando se queria cortar, segurava-se no ponto pretendido. Depois da exibição, a cópia nunca mais retornou da Europa. O negativo teria sido reaproveitado, em pedaços, para filmes de propaganda do Partido Comunista.
1973, cor, documentário. Direção: Nelson Pereira dos Santos. Direção de produção: Cacá Diniz. Gerente de produção: Pedro Paulo Lomba. Assistente de câmera: Ricardo Miranda. Som direto: Sandoval Teixeira Dória. Assistente de montagem: Severino Dadá. Narração: Samantha Lomba. Música: George André Tavares, Aloysio Aguiar e Heitor Villa-Lobos. Produzido pela Universidade Federal do Mato Grosso, relata a experiência de criação de uma base científica na Floresta Amazônica. O projeto foi instalado na cidade de Aripuanã, norte do Mato Grosso, a cerca de 700 km de Cuiabá, com o intuito de estudar a região e orientar iniciativas de desenvolvimento socioeconômico, reduzindo o impacto negativo sobre o meio ambiente. O próprio Nelson Pereira dos Santos empunhou a câmera, realizando tomadas na mata e entrevistas. Também conhecido como Projeto Aripuanã.
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1979, ficção. Direção: Nelson Pereira dos Santos. Roteiro e diálogos: Nelly Moreira. fotografia: Antonio Luís Mendes Soares. Assistente de câmera: Ricardo Miranda.
Elenco: Nildo Parente, Helber Rangel, Waldyr Onofre, Washington Fernandes, Marília Barbosa, Tamara Taxman.
Dois meninos saem para brincar na floresta. É o tipo de passeio a que estão acostumados, conhecendo o lugar e dando asas à imaginação. No entanto, suas família erroneamente creem que estão perdidos. Avisam a imprensa e começam as buscas. O equívoco alimenta uma competição entre os repórteres, acreditando que estão diante de um grande furo de reportagem.
1982, cor, 125’, ficção. Episódio: Um Ladrão (36’). 10 anos. Direção e roteiro: Nelson Pereira do Santos (Um Ladrão), Emmanuel Cavalcanti e Luís Paulino dos Santos, baseados no livro de contos Insônia, de Graciliano Ramos. Produção executiva: Pedro Aurélio Gentil e José Carlos Escalero. fotografia: Edson Batista, José Almeida e Jorge Monclar. técnico de som: José Carlos Barbosa, Juarez Dagoberto da Costa e Joaquim Santana.
Montagem: Severino Dadá, Mário Murakami, Carlos Alberto Camuyrano, Maria Neli Costa Neves e Jussara Queiroz. Cenografia e figurinos: Emily Combecau, Adílio Athos, Ademir Gonçalo, Carmélio Cruz e Sandra Suely de Souza.
Um jovem ladrão de pouca habilidade (Ney Sant’Anna) tenta aprender os macetes com seu experiente mentor, Gaúcho (Wilson Grey). Vive dando mancadas e o mais velho o ridiculariza. Passando-se por técnico de fogão, o jovem visita uma casa, a fim de observar o ambiente e roubá-la à noite. Assim o faz, conseguindo reunir diversos objetos de valor. Mas, ao invés de fugir rapidamente, distrai-se olhando uma moça (Nadia Lippi), que dorme em sua cama. Apaixonado, tenta beijá-la, o que a acorda e atrai a polícia.
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1958, documentário.
1964, PB, 11’12’’, documentário. Livre.
Direção, produção e argumento: Nelson Pereira dos Santos.
Direção e produção: Nelson Pereira dos Santos. fotografia: Luiz Carlos Saldanha e Hans Bantel. Realização: Leon Hirszman e Waldyr Surtan. Som: Estúdio Hélio Barroso. Narração: Alberto Cury.
Coproduzido pelo Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo, mostra o cotidiano desses profissionais.
Especialmente realizado para as comemorações do 4º Centenário do Rio de Janeiro, o filme retrata os bastidores do processo de produção do “Jornal do Brasil”, em cuja redação Nelson Pereira dos Santos trabalhara como copidesque. Mostram-se os ambientes do jornal, da redação à gráfica até a distribuição. Testemunham-se os últimos tempos do linotipo na grande imprensa, numa época em que os repórteres escreviam suas matérias em máquinas de escrever e produziam suas cópias com papel carbono.
1962, PB. Direção e roteiro: Nelson Pereira dos Santos. Produção: Mário D. Costa. Música: Heitor Villa-Lobos. 70
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1966, PB, 13’, documentário. 10 anos. Direção: Nelson Pereira dos Santos. Pesquisa e realização: Alunos da Universidade de Brasília. fotografia: Dib Lutfi. Montagem: Nelson Pereira dos Santos e Alberto Salvá. Amparado numa pesquisa dialectológica do professor Nelson Rossi, o filme focaliza os diferentes sotaques regionais reunidos na novíssima capital federal, fundada poucos anos antes, que constituem naquele momento uma espécie de síntese das falas do país. Ouvem-se entrevistados do Pará, Amazonas, Alagoas, Ceará, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná, Mato Grosso, Santa Catarina, São Paulo, Rio Grande do Sul, Goiás, Minas Gerais e Bahia. Cinco deles, um de cada região, ilustram essa diversidade, descrevendo diferentes nomes para os mesmos objetos ou fenômenos, além de comentarem sua participação no filme.
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1965, 12’, documentário. Direção, argumento e roteiro: Nelson Pereira dos Santos. fotografia: : Hélio Silva e Roberto Mirilli. Som: Hélio Barrozo Netto. trucagens: Lygia Pape & Romiti. Narração: Paulo Mendes Campos. Utilizando rico material iconográfico, intercalado por tomadas ao vivo, evoca-se o Rio de Janeiro oitocentista a partir de uma seleção de extratos das obras do escritor Machado de Assis (1839-1908). Assim, reconstitui-se parte do ambiente e da época em que ali viveu o escritor, conhecido como “bruxo do Cosme Velho”.
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1966, cor, 9’, documentário. Direção: Nelson Pereira dos Santos. fotografia: Dib Lutfi. Narração: Jofre Soares. Produção realizada sob encomenda da Aliança para o Progresso, organismo criado pelo então presidente norte-americano John Kennedy. Retrata a miséria do Nordeste e a atuação dos americanos, que levavam latas de leite em pó para populações que sofriam com a seca e a fome. A crueza das imagens era tão evidente que o objetivo propagandístico dos patrocinadores se perdeu, permanecendo a força de uma denúncia social.
1968, cor. Direção e argumento: Nelson Pereira dos Santos. Produção: Jean Manzon.
1970, documentário. Direção e argumento: Nelson Pereira dos Santos.
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1981, cor, 24’, ficção. 10 anos.
1973, cor, 11’, documentário. Direção: Nelson Pereira dos Santos. Produção: Alberto R. Cavalcanti e Antonio Carlos da Silva. Narração: Jofre Soares. Assistência de direção: Nuno César de Abreu e Zeca Nobre Porto. fotografia: Roberto Duate. Montagem: Mário Carneiro. Som direto: Elber Rangel.
Direção e roteiro: Nelson Pereira dos Santos, baseado no conto homônimo de Machado de Assis. fotografia: Hélio Silva e Walter Carvalho. Montagem: Carlos Alberto Camuyrano. Som direto: Juarez Dagoberto da Costa e Zezé D’Alice.
Cenografia e figurinos: Lúcia Maria Gutierrez. Música: Glauco Velásquez. Elenco: Isabel Ribeiro, Nildo Parente, Olney São Paulo, Elza Gomes, Sérgio Otero, Rachel Casimiro, Maria Martha dos Santos.
Um grupo de universitários procura reconstituir as condições em que eram produzidos os jornais na época da Independência do Brasil. Analisam as principais publicações do período, seu alinhamento ideológico e a postura por elas assumida diante do movimento de emancipação do país de Portugal.
Numa noite de Natal no Rio de Janeiro, no final do século XIX, uma mulher madura (Isabel Ribeiro) vive a frustração no casamento. Enquanto o marido sai em busca de aventuras, ela sublima suas fantasias nas conversas e olhares que troca com o sobrinho (Ilya São Paulo), uma relação platônica que preenche seu vazio emocional. 76
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1982, cor, 8’, documentário. Direção e roteiro: Nelson Pereira dos Santos. Produção: Luce Duarte e Pedro Paulo Mendes e Silva. Direção de produção: Aurora Duarte. Equipe de produção: Arlindo de Souza e José Flávio.
2001, cor, 12’, documentário. Livre. fotografia: G. Arjones Abril. Consultor de cor: Wilson Antonio Brunca. Som direto: Artur Bandeira Neto. Montagem: Carlos Alberto Camuyrano. Narração: Drausio de Oliveira.
Velho amigo de juventude e militância política do pintor, escultor, gravador e muralista Mário Gruber, o cineasta Nelson Pereira dos Santos dá-lhe a palavra, para que o próprio artista discorra sobre suas obras, espalhadas por museus, galerias e residências de colecionadores e admiradores.
1986, cor, 25’, documentário.
Entrevistados: Colombo, Délcio Carvalho, Elton Medeiros, Guilherme de Brito, Jair do Cavaquinho, Monarco, Nelson Sargento, Noca da Portela, Walter Alfaiate, Wilson Moreira e Zé Cruz.
Direção e roteiro: Nelson Pereira dos Santos.
O filme retraça o percurso do escritor francês Raymond Queneau (1903-1976) a partir do seu diário de guerra, escrito entre 1939 e 1940, cobrindo com imagens atuais seus deslocamentos e descrições. Coprodução entre Brasil e França, realizada para o Centro Georges Pompidou. 78
Direção e roteiro: Nelson Pereira dos Santos. Produção executiva: Maurício Andrade Ramos. fotografia: Flávio Zangrandi e Reynaldo Zangrandi. Som direto: Juarez Dagoberto da Costa. Edição de som: Denílson Campos. Montagem: Júlio Souto. Música: Zé Keti.
Uma roda de samba em torno de uma feijoada, na casa do sambista Zé Keti (1921-1999), no subúrbio carioca de Inhaúma, reúne vários de seus amigos e ex-parceiros, consolidando uma homenagem musical ao inesquecível compositor de sambas como “A Voz do Morro”, “Acender as Velas”, “Máscara Negra”, “Opinião” e “Diz que fui por aí”. 79
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1980. Produtor: Nelson Pereira dos Santos. Programa realizado para a TV Educativa (TVE).
1984. Direção: Nelson Pereira dos Santos.
1983, 180’. Direção: Nelson Pereira dos Santos. Criação: Nelson Rubens Furtado. Programa de inauguração da TV Manchete, reunindo números musicais e reportagens, que contou com a participação de Milton Nascimento, Paulinho da Viola, Alceu Valença, Elba Ramalho, Arthur Moreira Lima, Ivone Lara, Sergio Mendes, Fernando Bujones, Ana Botafogo, Balé Nacional de Marselha, Zizi Possi, Lucinha Lins, Cláudio Tovar, Kleiton e Kledir e banda Blitz, entre outros. O programa atingiu o segundo lugar em audiência e teve faturamento comercial recorde para a época. Sua abertura tornou-se a vinheta da emissora até o encerramento de suas atividades, em 1999.
1984. Direção: Nelson Pereira dos Santos. Série de quatro programas sobre o maestro e compositor Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, realizada para a TV Manchete.
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1984. Direção: Nelson Pereira dos Santos. Programa sobre o compositor e músico pernambucano Lourenço da Fonseca Barbosa, o Capiba, realizado para a TV Manchete.
1987, documentário. Direção: Nelson Pereira dos Santos. Produção para a TV sobre a obra do artista paulista Gregório Gruber, pintor, escultor, gravador, cenógrafo e fotógrafo, nascido em Santos, em 1951.
1985. Direção: Nelson Pereira dos Santos. 1985. Direção: Nelson Pereira dos Santos. Programa de inauguração da TV Bahia.
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2000, 205’, cor, minissérie/docudrama. 10 anos. Direção e roteiro: Nelson Pereira dos Santos, baseado no livro homônimo de Gilberto Freyre. Produção: Marcelo Pietsch. Narração: Edson Nery da Fonseca. Elenco: Vânia Terra, Gheuza Sena, Ellyne Peixoto e Helena Menezes.
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A minissérie em quatro capítulos reconstitui a essência do livro homônimo do antropólogo Gilberto Freyre, publicado em 1933 e uma das obras basilares sobre a identidade brasileira e a mestiçagem racial e cultural do país. O narrador, Edson Nery da Fonseca, é biógrafo e amigo de Freyre, e fornece um fio condutor para um misto de imagens de arquivo e reencenações de passagens de sua vida, levadas a cabo por atores da Companhia de Teatro de Seraphim, de Recife. No primeiro episódio,”Gilberto Freyre, o Cabral moderno”, fala-se do autor, descrevendo sua formação, viagens aos EUA e Portugal e exílio. O segundo, “A cunhã de família brasileira”, analisa o encontro do colonizador português com o indígena, o papel dos jesuítas na colonização e a importância da mulher indígena. O terceiro, “O português, colonizador dos trópicos”, compara nossos colonizadores a outros europeus no manejo da terra e na relação com as populações aborígenes. O quarto e último,”O escravo negro na vida sexual e de família do brasileiro”, repercute o papel africano na formação nacional.
NELSoN uM RELAto DE RoDoLfo NANNI Cineasta, roteirista e produtor brasileiro.
Para falar sobre Nelson, tenho que fazer um flash-back de 64 anos, quando nos conhecemos e entramos juntos na grande aventura do cinema, do nosso primeiro filme, do primeiro filme brasileiro voltado para crianças, idealizado por Arthur Neves, da Brasiliense, editora dos livros de Lobato. Em 1950, quando preparávamos a produção de O saci, convidei Nelson, recém-saído da Faculdade de Direito, mas cujo verdadeiro sonho e talento apontavam para o fascinante mundo do cinema. Tivemos nosso primeiro encontro em minha casa, na rua Oscar Freire. Lá havia um grande barracão onde eu ensaiava as crianças escolhidas para os personagens de Pedrinho, Narizinho e Emília. Alguns adultos também passaram pela reveladora experiência no barracão, como nosso amigo, o artista plástico Otávio Araujo, que faria o personagem do tio Barnabé, e a senhora Benedita Rodrigues, cozinheira de Lobato, para encarnar tia Nastácia. Foi um trabalho exaustivo, mas emocionante, durante cerca de três meses. Esse aprendizado fez com que as crianças, mais Otávio e Aparecida, chegassem às filmagens com seus papéis praticamente resolvidos. Foi naquela época que se iniciou o formidável entrosamento entre Nelson e eu. Pensávamos quase sempre, e coincididamente, nas mesmas soluções para cada cena. Em Ribeirão Bonito, onde filmamos, saíamos à procura de locações. Descobrimos um simpático sítio onde seria filmada grande parte das externas. Nos embrenhávamos pelas matas da região para estabelecer muitas das sequências do filme, inclusive um local ideal para rodarmos a caverna da Cuca. Para todo esse trabalho formamos um trio, com a presença constante do diretor de fotografia Ruy Santos, que supervisionou a construção de um carrinho com rodas de automóveis 88 88
para rodarmos a primeira cena do filme, um travelling longo, quando se abria a porteira do sítio. Foi também a abertura definitiva da nossa porteira para a aventura do cinema. Durante todas as semanas de filmagem, Nelson foi sempre um grande companheiro de trabalho e certamente contribuiu eficazmente para o excelente resultado que conseguimos. O saci ganhou o Prêmio Governador do Estado, o Prêmio Saci, do jornal “O Estado de São Paulo”, o Prêmio Calunga, do “Diário de Notícias do Rio de Janeiro”, mas considero o maior prêmio o fascínio que as crianças têm, até hoje, por esse filme em branco e preto. Nelson organizou uma projeção para 200 crianças, no auditório da Academia Brasileira de Letras, onde ocupa a cadeira que foi de Castro Alves. No final da projeção, as crianças gritavam e nos abraçavam. E assim tem sido em outras ocasiões, como no Teatro Amazonas, durante o festival de cinema, ou na Cinemateca Brasileira, durante três dias consecutivos, nas comemorações dos 60 anos do filme. Depois dessa primeira experiência, Nelson alçou voo e se tornou, merecidamente, um dos nossos mais importantes cineastas, com mais de 30 filmes realizados. Seu primeiro grande sucesso foi o contagiante Rio, 40 graus, mas, para mim, suas obras primas foram Vidas secas e Memórias do cárcere, dois dos melhores filmes brasileiros de todos os tempos. Mais recentemente, Nelson realizou o importante documentário Raízes do Brasil, sobre Sérgio Buarque de Holanda, e o delicioso A música segundo Tom Jobim. Sua mágoa: não ter conseguido filmar o projeto tão desejado sobre Castro Alves. Neste momento, prepara um longa sobre D. Pedro II. A importância de Nelson é reconhecida mundialmente, tendo tido homenagens, como esta, do Sesc, em inúmeros países que o têm como o importante diretor que é. Tive oportunidade de presenciar uma dessas muitas homenagens, no Festival de San Sebastián, na Espanha. Mas a imagem de Nelson que persiste em minha memória é a daquele jovem de 22 anos, de bermudas, botinas e boina na cabeça, com sua agilidade física e mental e sua dedicação para que O saci fosse realizado da forma mais perfeita possível. Apesar da falta de recursos técnicos da época, estes foram substituídos pela criatividade, fazendo com que encontrássemos, juntos, soluções empíricas para problemas cruciais do filme. Fazer parte desta homenagem ao Nelson é um orgulho para mim e a confirmação de nossa amizade, em todos esses anos. 89 89
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BELENZINHo
São CARLoS
3/6 (ter)
20h
“Missa do galo” (curta-metragem) Bate-papo com o cineasta Nelson Pereira dos Santos
1/6 (dom)
17h 19h
10/6 (ter)
18h 20h
Rio Zona Norte Boca de ouro
8/6 (dom)
24/6 (ter)
18h 20h
Vidas secas Fome de amor
15h30 17h 19h
10/6 (ter)
1/7 (ter)
18h 20h
Azyllo muito louco Raízes do Brasil
16h 18h 20h
A terceira margem do rio Azyllo muito louco Rio, Zona Norte
15/7 (ter)
18h 20h
A terceira margem do rio Tenda dos milagres
11/6 (qua)
19h
Memórias do cárcere
18/6 (qua)
18h 20h
Como era gostoso meu francês Memórias do cárcere
16h 18h 20h
Brasília 18% A luz do Tom Boca de ouro
22/7 (ter)
29/7 (ter)
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29/6 (dom) 18h 20h
A música segundo Tom Jobim A luz do Tom
Vidas secas A música segundo Tom Jobim Como era gostoso o meu francês Jubiabá O amuleto de Ogum
16h30 Missa do galo 17h Quem é Beta? 19h El justiceiro
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PIRACICABA 4/6 (qua)
8/6 (dom) 10/6 (ter)
15/6 (dom)
20h
11h 19h30 21h 11h
“Missa do galo” (curta-metragem) Bate-papo com o cineasta Nelson Pereira dos Santos Memórias do cárcere Mandacaru vermelho Vidas secas Casa grande e senzala
19h30 21h
Fome de amor El justiceiro
18/6 (qua)
19h30 21h
Rio Zona Norte Brasília 18%
19/6 (qui)
14h 15h30
Como era gostoso o meu francês Quem é beta?
17/6 (ter)
22/6 (dom)
14h 19h30 21h30
Jubiabá O amuleto de Ogum
27/6 (sex)
19h30 21h30
A terceira margem do rio Boca de ouro
11h
A oficina tem como objetivo analisar de forma panorâmica os destaques das várias fases da obra de Nelson Pereira dos Santos e de como esse cineasta buscou representar nas telas o povo brasileiro desde o seu primeiro longa-metragem de ficção Rio, 40 graus (1955) até o recente documentário A música segundo Tom Jobim (2012). O professor de cinema da UFSCar, Arthur Autran, aborda o que entende ser a chave estética fundamental do cinema de Nelson Pereira dos Santos, o realismo, não como algo imutável, mas, ao contrário, como proposta estética que se altera ao longo do tempo. 7 e 8/6, sábado e domingo, 10h às 13h. Sala de Internet. Grátis. Inscrições na central de atendimento ou pelo email inscricao@piracicaba.sescsp.org.br informando nome do curso, nome completo do participante, idade e telefone.
Tenda dos milagres
1/7 (ter)
19h30 21h15
A música segundo Tom Jobim A luz do Tom
3/7 (qui)
19h30
Azyllo muito louco
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SESC PIRACICABA
Raízes do Brasil I e II
24/6 (ter)
29/6 (dom)
ofICINA POVO E REALISMO NO CINEMA DE NELSON PEREIRA DOS SANTOS
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SESC - SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO Administração Regional no Estado de São Paulo PRESIDENTE DO CONSELHO REGIONAL Abram Szajman DIRETOR DO DEPARTAMENTO REGIONAL Danilo Santos de Miranda SuPERINTENDêNCIAS Técnico Social Joel Naimayer Padula Comunicação Social Ivan Giannini Administração Luiz Deoclécio Massaro Galina Assessoria Técnica e de Planejamento Sergio José Battistelli GERêNCIAS Ação Cultural Rosana Paulo da Cunha Adjunta Kelly Adriano de Oliveira Assistente Rodrigo Gerace Artes Gráficas Hélcio Magalhães Adjunta Karina Camargo Leal Musumeci Assistentes Rogério Ianelli e Gabriela Borsoi Estudos e Desenvolvimentos Marta Colabone Adjunto Iã Paulo Ribeiro Sesc Piracicaba José Roberto Ramos Adjunto Jonadabe Ferreira da Silva Sesc Belenzinho Marina Avilez Adjunta Patrícia Piquera Sesc São Carlos Mauro César Jensen Adjunto Fábio José Rodrigues MOSTRA NELSON PEREIRA DOS SANTOS – O CINEMA DE uM PAÍS Concepção Francisco Galvão de França Produção Escamilla Soluções Culturais Imagens Acervo Regina Filmes e Daryan Dornelles Textos Neusa Barbosa, Arthur Altran e Rodolfo Nanni Design gráfico Carla Garofalo
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SESC BELENZINHo
SESC PIRACICABA
SESC São CARLoS
Rua Padre Adelino, 1.000, Belém, São Paulo (11) 2076 9700
Rua Ipiranga, 155, Centro (19) 3437 9292
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