Manuais Sesc Memórias | História oral

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Manuais Sesc Memórias

Práticas de preservação e guarda da documentação institucional

Procedimentos e tratamentos de entrevistas em história oral

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Serviço Social do Comércio

Administração Regional no Estado de São Paulo

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Apresentação

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História Oral

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As Etapas de Trabalho Escolha do Tema Elaboração do Projeto Seleção dos entrevistados Agendamento Entrevistas

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Tratamento da Entrevista Transcrição Textualização Transcriação

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Edição e Cessão da Entrevista Conferência Cessão e Disponibilização

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Descrição e Notação

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Guarda

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Recursos Tecnológicos

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Anexo: Glossário

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Apresentação

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Implantado e coordenado pela Gerência de Estudos e Desenvolvimento (GEDES), o Sesc Memórias foi criado, em 2006, para reunir, sistematizar e disponibilizar a documentação produzida e/ou acumulada pelo Sesc, com o propósito de preservar o seu patrimônio histórico e disseminar sua memória institucional. Assim, o processo de salvaguarda dos materiais – tanto os de conteúdo programático quanto os vinculados à própria existência das Unidades e órgãos da Administração Central – busca contribuir para a reflexão acerca do trabalho desenvolvido pelo Sesc, nos programas Educação, Saúde, Cultura, Lazer e Assistência. Volta-se, também, à promoção de pesquisas e de produção de conhecimentos, na medida em que oferece ao público interno e externo informações qualificadas, reforçando a memória como um valor a ser cultivado. O conjunto dos Manuais Sesc Memórias: práticas de preservação e guarda da documentação institucional contém orientações acerca dos procedimentos adotados em relação à transferência, tratamento técnico, organização, guarda e formas de acesso ao acervo. Elencando várias etapas envolvidas na administração e gestão documental – “Diagnóstico e Recolhimento”, “Acervo Gráfico-textual”, “Acervo Fotográfico”, “Acervo Audiovisual” e “Procedimentos e Tratamentos de Entrevistas em História Oral” – os manuais dão relevo para um adequado e constante aproveitamento dos recursos informacionais.

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História Oral

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Assentando-se no protagonismo do(s) entrevistado(s) ao longo de todo o processo de recolha das narrativas, o banco de História Oral do Sesc Memórias reúne o registro de relatos de funcionários e ex-funcionários que atuaram nos mais diversos programas ligados ao Sesc São Paulo. Tenta-se, na medida do possível, amplificar vozes, fazendo ressoar histórias de vida, pensamentos, práticas e percepções que desenharam determinadas trajetórias profissionais. Desse modo, pretende-se expandir o conhecimento acerca da história da instituição, sob a perspectiva daqueles que contribuíram para o fortalecimento de suas ações. Para a realização das entrevistas de história oral executa-se o seguinte fluxo de trabalho.

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As etapas de trabalho

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Escolha do Tema

O tema para a realização das entrevistas origina-se a partir da necessidade do aprofundamento de um dado período ou a uma ação que compõe a história do Sesc São Paulo. Dessa forma, pretende-se objetivar o registro das memórias que contribuem para percepção do processo de construção da identidade da instituição, servindo como um instrumento de análise e compreensão dos seus desafios cotidianos.

Elaboração do Projeto

1 Para maiores esclarecimentos, consultar glossário.

Para a escrita de um projeto de história oral, realiza-se uma pesquisa prévia sobre o assunto, com o levantamento da documentação junto a diferentes acervos. No projeto encontram-se os referenciais para o andamento e a conclusão das entrevistas, além de um conjunto de orientações que definem: • Objetivos e justificativas • Definição da metodologia de trabalho (História Oral de Vida ou História Oral Temática)1 • Seleção dos entrevistados • Tratamento dos textos gerados após as entrevistas • Cessão das entrevistas • Disponibilização do texto cedido e autorizado pelo entrevistado ao público

Seleção dos entrevistados

A seleção dos entrevistados dá-se em função do vínculo estabelecido ao objeto da pesquisa proposta, ou seja, aqueles cujas narrativas de experiências possam oferecer elementos de análise e colaborar com a leitura de representações contidas na história da instituição.

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Agendamento

Após a seleção dos entrevistados, entra-se em contato com os indicados, agendando a data e definição do local da entrevista. Durante esse processo, realiza-se uma conversa preliminar na qual explicita-se o projeto, além de esclarecer as demandas relacionadas ao processo de trabalho com o texto, destacando a necessidade de autorização prévia para a cessão e disponibilização do texto final ao público.

Entrevistas

Realizadas com gravador de voz e microfone de lapela, nas entrevistas intencionam-se captar as experiências das pessoas em relação ao tema proposto em projeto. Dessa forma, intenta-se que o entrevistado tenha liberdade de não responder às perguntas que não queira, bem como para pausar ou encerrar a entrevista no momento que assim o desejar. Ao entrevistado atribui-se o protagonismo na exposição de suas lembranças, buscando criar uma atmosfera de acolhimento, confiança e respeito durante o processo de registro de suas memórias. O produto final das entrevistas em história oral disponibilizado ao público são os textos conferidos e cedidos pelos entrevistados. Por serem de caráter sigiloso, os áudios mantêm-se preservados no acervo. Com o trabalho de edição do texto (transcrição, textualização e transcriação), busca-se que o entrevistado se reconheça no texto produzido, pois este somente terá validação por meio da aprovação do entrevistado.

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Tratamento da entrevista

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Transcrição

Caracteriza-se pela passagem do código oral para o escrito, de maneira literal, preservando ao máximo as peculiaridades do momento da fala. A partir do texto transcrito, faz-se a revisão da transcrição e inicia-se a edição do texto nas etapas subsequentes – textualização e transcriação.

Textualização

Consiste na retirada dos vícios de linguagem, erros gramaticais e de sintaxe, frases ou palavras repetidas, preservando-se o tom narrativo dado pelo entrevistado no momento da gravação do áudio. Nessa etapa, as perguntas são suprimidas ou fundidas ao texto em construção. Escolhe-se, também, o “tom vital” e a epígrafe que abre o texto, uma frase ou um parágrafo que busca sintetizar a essência daquele momento, oferecendo ao leitor um referencial para a leitura. Nos projetos de história oral temática, os conteúdos passam somente pelo processo de textualização. Por admitir a utilização de roteiros previamente elaborados, as perguntas não são suprimidas. Como esses projetos tratam de uma temática muito precisa, complementa-se as informações por meio dessas perguntas realizadas durante a gravação da entrevista.

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ENTREVISTADORA: Era o café e o almoço que já tavam pagos! (risos) ENTREVISTADO: (...) Mas nunca deixei de ir ao teatro, fiquei muito amigo do cara do... do porteiro do Teatro Municipal, né. (risos) E eu conseguia entrar. Eu passava em tudo que era concurso, né. Aí chegava e pediam experiência, eu não tinha, né. E eu “ih, meu Deus como é que eu vou por nessa carteira profissional um emprego, se ninguém me dá um emprego, né.” Aí um banco aceitou pra eu trabalhar na compensação. Banco francês-brasileiro. Ali na XV de Novembro, né. Eu entrei trabalhando, entrava à uma, né, e saía a hora que batia a compensação. Não, entrava acho que quatro. Das quatro à meia noite (...).

Trecho de entrevista transcrita cedida (...) Mas eu nunca deixei de ir ao teatro, fiquei muito amigo lá do porteiro do Teatro Municipal, e conseguia entrar. Passava em todos os concursos, mas quando pedia experiência, não tinha. Pensava: “Meu Deus como vou por nessa carteira profissional um emprego, se ninguém me dá um emprego”. Um banco me aceitou para trabalhar na compensação. Banco francês-brasileiro. Ali na XV de Novembro. Entrei trabalhando, entrava a uma e saia à hora que batia a compensação. Não, entrava acho que quatro. Das quatro à meia-noite. Mas se a compensação do banco batesse antes, a gente podia sair. Então a gente trabalhava todo mundo louco naquilo, para sair mais cedo (...)

Trecho de entrevista textualizada e cedida na modalidade História Oral de Vida

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ENTREVISTADOR: Do público que chegava lá para fazer a matrícula, quais eram os pedidos mais interessantes? ENTREVISTADA: Colônia de férias. As pessoas faziam a matrícula, antes de fazer a inscrição para a Colônia. A pessoa ia no setor e fazia a inscrição. Se tivesse vaga, pagava, se não, ficava na dependência, que só tinha validade se houvesse alguma desistência. Então, as desistências eram por ordem cronológica, de acordo com o período. A gente chamava a família que coubesse naquele cancelamento. Era assim que a gente fazia. Você sabe que quando começou a Colônia - abriam às 6 horas da manhã as inscrições para o pessoal. E durante o dia, tinha a fila na Rua Florêncio de Abreu, de tanto que eles adoravam a colônia. Trecho de entrevista final textualizada e cedida na modalidade História Oral Temática

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Transcriação

Recurso utilizado nos projetos de história oral de vida, consiste em elaborar a entrevista em áudio em um texto de estilo narrativo. Nesse texto as memórias do entrevistado e as contribuições do entrevistador formam um único texto. Durante esse processo, além da edição do texto, realizam-se pesquisas sobre as informações apresentadas pelo entrevistado, principalmente àqueles referentes a nomes, locais e datas, com o intuito de torná-lo claro e reforçar o comprometimento com o tema proposto em projeto.

Sempre pegava o segundo programa do Municipal! Como trabalhava em banco, tinha que usar terno. Então fui aos poucos ficando amigo daquele pessoal. Fui conhecer os Consulados de São Paulo, para descobrir quando vinha um espetáculo bom. Ia com a maior cara de pau pedir ingressos em todos os locais interessantes. E descobria também tudo que era gratuito na cidade, para poder participar. Trabalhei nove meses em um banco e nunca deixei de participar de nada. Comecei a trabalhar no banco em julho e em outubro um amigo do seminário me disse: “Tem uma empresa que está aceitando pessoas para fazer um trabalho com grupos, com jovens, você viaja e ganha bem – para os padrões do banco – e essa empresa está abrindo concurso. Fique atento que deve ter nos jornais” (....) Trecho de entrevista transcriada e cedida na modalidade História Oral de Vida

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Edição e cessão da entrevista

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Conferência

Nessa etapa, encaminha-se o texto ao entrevistado para a conferência e validação. Caso não seja possível a realização de uma leitura conjunta, a conferência ocorre por meio da postagem do texto de maneira física ou eletrônica. O entrevistado tem a liberdade de fazer as alterações que considerar necessárias, sinalizando-as para que o documento possa ser finalizado. Efetivadas as alterações sugeridas, realiza-se a última leitura com o texto impresso para que o entrevistado possa rubricar as suas folhas, sinalizando que essa versão poderá ser disponibilizada ao público.

Cessão e Disponibilização

O documento final disponibilizado ao público são os textos conferidos, rubricados e cedidos pelos entrevistados. A cessão ocorre mediante a assinatura da carta de cessão, reconhecendo-se a sua autenticidade em cartório, de maneira a conferir legalidade ao texto.

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Descrição e notação

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As entrevistas de história oral são descritas de acordo com suas especificações. As informações são registradas em planilha de acordo com os seguintes campos descritivos: 2 Nos registros dos documentos de história oral, utiliza-se o título do projeto e nome do entrevistado

• Unidade e Ano: descreve a Unidade e ano de produção do documento. • Data: dia e mês da ocorrência da atividade. • Nome da atividade: nome atribuído ao documento.2 • Tipologia: descreve o tipo documental. Na documentação de história oral, a tipologia é denominada por entrevista • Descritores Onomásticos: nomes de pessoas, locais e instituições citados pelo entrevistado ao longo da entrevista. • Quantidade de exemplares: informa quantos exemplares do documento existem no acervo. • Observações gerais: apresenta o resumo da entrevista • Caixa e Envelope: descreve o número da caixa onde estão guardados os envelopes e a posição que ocupam dentro da caixa-arquivo. • Notação: numeração utilizada para indicar a localização do documento dentro do acervo.

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Guarda

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Em cada entrevista, obtêm-se os seguintes documentos: • Áudio original • • • •

Transcrição literal Textos editados Texto impresso cedido e rubricado pelo entrevistado Texto digitalizado cedido e rubricado pelo entrevistado em arquivo PDF e JPEG • Carta de cessão A guarda desse conjunto documental, em âmbito físico e digital, obedece aos seguintes critérios: • Texto impresso, cedido e rubricado pelo entrevistado e carta de cessão: armazenam-se em envelopes e caixas poliondas. Cada envelope possui identificação: da tipologia documental, o nome do entrevistado e do projeto, a data de realização da entrevista e o número de notação. • Arquivos digitais: os arquivos das entrevistas são reunidos e organizados de maneira individualizada nas pastas dos entrevistados e dos respectivos projetos. Realiza-se periodicamente backup desse material

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Exemplo de documentação proveniente do trabalho de História Oral (Da esquerda para direita, de cima para baixo): 1  Roteiro de Entrevista na modalidade História Oral Temática; 2  Entrevista transcrita; 3  Entrevista final textualizada e cedida na modalidade História Oral Temática; 4  Carta de Cessão; 5  Invólucro identificado de guarda no acervo: envelope de guarda da entrevista final textualizada e cedida, e carta de cessão

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Recursos tecnológicos

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Na realização das entrevistas, utilizam-se as seguintes tecnologias:

Gravador de Voz

Microfone de Lapela

Embora os áudios não sejam disponibilizados ao público, prima-se pela qualidade dos equipamentos utilizados na captação de voz, de maneira garantir a diminuição de possíveis ruídos e consequentemente agilidade no trabalho com o texto. 27


Anexo: Glossário

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Carta de Cessão

Documento validado pela Assessoria Jurídica do Departamento Regional Sesc São Paulo, no qual o entrevistado cede à entidade o direito de uso da entrevista realizada para a disponibilização ao público.

Conferência

Momento em que o entrevistado tem acesso ao documento transcriado ou textualizado. Nessa etapa, realiza-se uma leitura conjunta para que o entrevistado colabore com a edição do texto, acrescendo dados, suprimindo informações ou alterando nomes, datas e localidades.

História Oral

Campo de atuação e produção de conhecimentos composto por um conjunto normativas, teóricas e metodologias, que busca compreender um dado período da história recente, em função do registro das memórias de um sujeito por meio da captação de entrevistas.

História Oral de Vida

Narrativa biográfica constituída pela reunião das experiências de vida de um dado sujeito. Nesse tipo de relato, o entrevistado é livre para recordar as suas memórias, independente da cronologia dos acontecimentos, apresentando, assim, a sua versão individual. Não há necessidade de roteiros e nem confrontação das informações apresentadas.

História Oral Temática

Metodologia que consiste em entrevistar um grupo de pessoas para a obtenção de informações mais precisas acerca de um dado contexto histórico. Utiliza-se um roteiro com perguntas, cuja função é a de balizar o andamento da entrevista, de acordo com os objetivos contidos no projeto.

Projeto de História Oral

Texto que reúne, em linhas gerais, o motivo da realização do conjunto das entrevistas – devidamente justificado e teoricamente fundamentado –, os detalhes acerca do trabalho, as

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ações empreendidas para a realização dos registros das narrativas, dentre outras informações. Transcrição

Técnica que consiste na passagem de uma entrevista oral para o código escrito, de forma a manter-se todos os detalhes pertinentes ao campo de compreensão da fala.

Textualização

Consiste na retirada dos vícios de linguagens e nas correções gramaticais e de sintaxe, com o intuito de proporcionar maior clareza ao texto. Dependendo do tipo de entrevista definido no Projeto de História Oral, suprimem-se as perguntas.

Transcriação

Edição completa do documento textualizado, com a supressão das perguntas e remanejamentos de trechos, de maneira a transformá-lo numa narrativa contínua e fluida.

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