Universidade de São Paulo Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Trabalho Final de Graduação
GRAJAÚ: CARTOGRAFIAS E IDENTIDADE Mapeamento dos movimentos culturais do Grajaú e proposta de oficinas de cartografia coletiva.
Marla Fernanda dos Santos Rodrigues Orientador: Profº Dr. Jorge Bassani Co-orientadora: Profº Dra. Karina Leitão
São Paulo 2017
Parque Linear Cantinho do Céu. Fonte:http://www.archdaily.com.br Consultado em: 20/01/2017.
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“É como se você fosse andando, muito decidido, por um caminho reto e, aos poucos, fosse percebendo que ele ia se estreitando, mudando de características virando um beco. Aí você acabava dando de cara com uma parede. As suas opções seriam: 1) ficar parado, olhando para o obstáculo sem entender nada, desesperado e desanimado; 2) esmurrá-lo na esperança de derrubá-lo a socos; 3) declarar que só continuaria a andar quando chegasse o dia certo em que todas as barreiras cairiam e todos os caminhos passariam a ser livres e sem empecilhos e consolar-se com a ideia; finalmente, você poderia 4) dar meia-volta, olhar na direção oposta e pensar – aqui começa tudo de novo. A última alternativa parece a mais simples, de fato não o é. Todos os fins trazem, implícito e embutido, um começo. Só que, para reconhece-lo, é preciso dar uma virada completa com a cabeça.” Carlos Nelson Ferreira dos Santos. Como e quando pode um arquiteto virar antropólogo?
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Dedico este trabalho às pessoas que têm sede de novos olhares.
Parque Linear do Cantinho do Céu. Fonte: Entre o Céu e a Água, 2012.
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Agradecimentos Agradeço a Deus pela graça da vida, pela força e pelas oportunidades. Este trabalho não seria possível sem o apoio dos meus pais, Marli e Claudio, que além de todo o suporte necessário para ingressar nesta faculdade e fazer esta graduação, me apoiaram emocionalmente. Obrigada pai por me presentear a mesa que tem sido tão útil pra mim, ela não poderia ter vindo em melhor hora. Obrigada pela herança genética e espiritual de ser apaixonada pelas artes. Obrigada mãe, por me incentivar a sonhar e a seguir, pelas conversas e reflexões do fim da noite sobre a cidade e a vida. Obrigada por todo o carinho e liberdade com que você nos criou. Agradeço a minha irmã Natasha que de longe esteve perto. Como doeu quando você foi estudar em Campinas, eu não tinha ideia do quanto esta separação seria importante para nós. Obrigada por acreditar em mim mais do que eu acreditei em muitos momentos, por me incentivar, pelos profundos aprendizados, por compartilhar seu crescimento comigo e contribuir para minha formação como mulher e como pessoa. Obrigada por me acompanhar desde que surgi e por ser minha melhor amiga. Agradeço aos meus tios, que desde que nasci me acompanharam e me ajudaram na trajetória da vida escolar. Obrigada por me ajudarem nas lições de casa e por dançarem comigo desde pequena, dançar alegra a vida. Obrigada especial à vó Efigênia e à vó Santa por ensinarem com suas vidas. Agradeço aos meus avós e aos seus antepassados, que trilharam caminhos para que andássemos por outros. Obrigada pela força e resistência. Linita, obrigada por ser minha amiga de descobertas 8
na FAU e na vida. Agradeço por todo o apoio durante os trabalhos, os preparativos para o intercâmbio, pelos conselhos e por participar da minha construção como mulher. Agradeço à Lilian e à Cíntia, que em alguns dos muitos momentos de apuros na FAU, me socorreram com muito bom humor e amizade orientais. Obrigada à Ágata e ao Bruno Mano pelo companheirismo e por compartilhar os conflitos vividos neste momento tão sensível de conclusão da FAU. Agradeço à amiga distante Tamires, por me apresentar o Centro Cultural do Grajaú, quando eu ainda não via o bairro com os olhos que vejo hoje. Obrigada Rafito, pelo carinho e pelo incentivo a terminar este ciclo. Obrigada por me ensinar o amor pela natureza e pela família, a calma nos momentos difíceis e a leveza pra viver a vida. Agradeço a todos os artistas e participantes do movimento cultural do Grajaú e de outras periferias, (músicos, educadores, grafiteiros, dançarinos, produtores, jornalistas, secundaristas, etc), pois pelo trabalho de vocês eu e outras pessoas aprendemos a olhar o Grajaú com mais carinho e desejo de participar. Agradeço especialmente: à Valéria Ribeiro do Expressão Cultural Periférica, pela entrevista e pelo ânimo natural em conhecer e divulgar a cultura; ao Tim (Wellington Neri), pelos ensinamentos que transmite em uma conversa de dois minutos, é bonito ver a sua onipresença e carinho pelos lugares do Grajaú; ao pessoal da Casa Ecoativa (Jai, Robert, Quimberly, Tim, Edson e os outros integrantes) pela abertura, vocês fazem um trabalho muito bonito, com uma enorme interdisciplinaridade; e ao pessoal do Imargem que, com um trabalho “silencioso” que é o graffiti, transformam a paisagem da cidade com profunda sensibilidade. 9
Agradeço à Ana Takeda, a Leandro Okamoto (Kakanha) e a Juliana Tiemi pela oportunidade de aprender e trabalhar com vocês no projeto de extensão da Ciranda, as conversas e o trabalho coletivo me trouxeram ensinamentos para a vida toda. Obrigada ao professor Jorge Bassani por aceitar me orientar e por todo o apoio e incentivo, mesmo quando não fui presente. Agradeço pelas conversas, principalmente aquela do dia 23 de novembro de 2016, foi muito importante escutar aquelas palavras, me ajudaram a avançar um pouco mais no meu processo de auto-compreensão. Muito obrigada à professora Karina Leitão, uma mulher maravilhosa. Pode parecer demagogo, mas não existem palavras para expressar a doçura, o carinho e a leveza da sua presença na FAU. Você é uma professora que ensina com muita competência não só arquitetura e urbanismo, mas ensina a ser pessoa. Muito obrigada por deixar os anos na FAU mais leves e bonitos. A todas as pessoas que agradeço aqui e àquelas que me esqueci de agradecer, mas que fizeram parte destes sete anos, desejo muita luz.
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Parque Linear do Cantinho do Céu. Fonte: Entre o Céu e a Água, 2012.
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Graffiti na entrada do Grajaú. Fonte: http://mapio.net/s/29924393/. Consultado em: 21/01/17
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Sumário Introdução 15 Grajaú Periferia e cultura
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Grajaú Mapeamento dos espaços e atividades culturais
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Roteiro Oficinas de cartografia e reconhecimento do bairro
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Cartografia do Grajaú Oficina piloto
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Anexos Árvore genealógica
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Vista do Grajaú a partir do Terminal Grajaú. Foto da autora, 2016.
Introdução O que se entende por cultura na periferia, por vezes está vulnerável às construções históricas e midiáticas. Esta compreensão é por vezes podem equivocada ou generalista quando aborda a periferia apenas como lugar de carências sociais e violência. A partir da necessidade de reconhecimento e representatividade da cultura periférica, o Grajaú, neste caso, apresenta-se como um bairro a ser investigado pelo reconhecimento de sua intensa vida cultural. Apesar da existência de algumas bases de dados e mapeamentos, como o Santo Amaro em Rede, um mapeamento das práticas culturais da zona Sul de São Paulo realizado pelo SESC Santo Amaro, ou o mapeamento da Prefeitura de São Paulo, SP Cultura, cuja plataforma interativa constrói sua base de dados, este trabalho é fruto de um processo pessoal de percepção e construção da realidade. A proposta das oficinas de cartografia pretende, com vistas ao passado, ser um olhar sensível ao presente abordando o olhar das pessoas do Grajaú sobre a paisagem e a realidade do bairro.
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Avenida Dona Belmira Marin. Foto da autora, 2016.
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Objetivos Este trabalho tem como objetivo compreender e mapear os aspectos culturais do distrito de Grajaú. Tratando-se de um contexto periférico da cidade, a cultura é movimento de resistência, luta e formação. Falar da cultura periférica é uma forma de abordar a realidade a partir de elementos próprios do lugar constituintes de sua identidade, de uma resiliência às ausências do território e de negação à cultura massificadora oferecida principalmente às populações periféricas. Busca-se, com isso, refletir sobre a importância do conhecimento e sensibilização das manifestações culturais na periferia, questionando e trazendo novos elementos para pensar a arquitetura e o urbanismo na cidade. O desenvolvimento do trabalho trouxe algumas transformações em sua concepção, de modo que a este mapeamento soma-se um roteiro de oficinas que abordam temas relacionados à cartografia do lugar. O roteiro surge do desejo de desenvolver um trabalho que escute e reflita o olhar dos próprios moradores sobre o lugar onde vivem de forma participativa e formativa, propondo uma construção coletiva de sabres.
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Avenida Dona Belmira Marin. Foto da autora, 2016.
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Motivações Quando era adolescente, tinha o hábito de ir ao centro de São Paulo para assistir apresentações de dança, teatro, música e exposições. Pegava um ônibus para ir até o Terminal Grajaú, do terminal, quando ainda não existia a linha 4 Amarela de metrô, ia de trem até a estação da CPTM Presidente Altino e de lá, até a estação Barra Funda para pegar o metrô até o centro. Outra opção era pegar um ônibus até a Avenida Senador Teotônio Vilela e de lá, o ônibus Terminal Bandeira ou Metrô Brás para chegar até o centro. Depois de alguns anos fazendo isso, comecei a me perguntar por que eu tinha que ir tão longe para ter acesso ao que eu pensava ser cultura. Além disso, me sentia estranha em assistir e assistir apresentações e não me sentir realmente parte daquilo, era sempre a espectadora. A partir desse momento, comecei a diminuir minhas idas ao centro. Com isso não quero dizer que as apresentações que via no centro perderam o valor, pois assisti-las fez parte de um processo de construção que começou desde quando minha mãe nos levava a alguns museus quando éramos crianças até quando começamos, eu e minha irmã, a frequentar o centro para estudar música depois de participar de um projeto de ensino de cordas no CEU Cidade Dutra. O momento em que diminui minhas idas ao centro é resultado de um processo de auto-reconhecimento. Não lembro bem quando foi, acho que mais ou menos em 2011, uma amiga com quem costumava fazer caminhadas pelo bairro, Tamires, me levou ao Centro Cultural Palhaço Carequinha ou Centro Cultural do Grajaú, fiquei muito surpresa com aquele lugar. Com 21 anos de idade, não sabia que no distrito onde moro 19
havia um centro cultural. Conhecia alguns lugares de apresentações culturais distantes a quase duas horas do Grajaú, entretanto o meu próprio bairro eu não conhecia por falta de informação e por uma visão distorcida do que era o acesso à cultura. Notei nesse dia, que o edifício do centro cultural estava um pouco vazio, mas que a praça em frente, também chamada de Calçadão Cultural, estava cheia. Isso me fez refletir sobre o que é cultura na periferia, o que é fazer cultura, como a cultura integra a vida das pessoas na periferia e de que modo ela alcança e influencia a vida dos moradores. Me perguntei se eu me sentia parte daquilo. A princípio pensei que não, logo em seguida percebi que me identificava com o aquele espaço cheio, espontâneo, natural, autêntico, e por isso, de alguma forma fazia parte daquilo. Esta história faz parte de algumas das razões que me motivaram a fazer este trabalho para conhecer e refletir sobre o bairro com o qual passei a me identificar ao longo do tempo . Outras três questões me motivaram a trabalhar este tema: a primeira delas é a ausência e o desconhecimento da periferia nas discussões do ambiente acadêmico, quando a periferia constitui uma parte extensa da cidade e importante em diversos aspectos; a segunda questão é a existência de uma intensa vida cultural no Grajaú, quando essa região quase não abriga equipamentos de cultura e lazer se comparada à rede de equipamentos em outras partes da cidade; e a terceira delas, é o desejo de conhecer esta realidade cultural do lugar onde vivo.
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Por que falar de cultura na periferia? “...nossa identidade é moldada em parte pelo reconhecimento ou por sua ausência, frequentemente pelo reconhecimento ‘errôneo’ por parte dos outros, de modo que uma pessoa ou grupo de pessoas pode sofrer reais danos, uma real distorção, se as pessoas ou sociedades ao redor deles lhe devolverem um quadro de si mesmo redutor, desmerecedor ou desprezível. Não reconhecimento ou reconhecimento errôneo pode causar danos, pode ser uma forma de opressão, aprisionando alguém numa modalidade de ser falsa, distorcida ou redutora. (...) O devido reconhecimento não é uma mera cortesia que devemos conceder às pessoas. É uma necessidade humana vital”. (Charles Taylor, 2000 apud PALLAMIN, 2015, 73)
Falar de cultura periférica é buscar reconhecer a diversidade identitária e renovar o discurso sobre estes lugares. Quando falamos da periferia considerando os trabalhos de seus agentes culturais abrimos espaço para novas formas de compreensão do espaço e dos sujeitos periféricos. Conforme Tiaraju D’Andrea (2013, 37), a própria atuação dos coletivos artísticos na periferia contribui para a mudança de compreensão do termo periférico. Por isso, é fundamental visitar aspectos que contribuam para a significação em constante transformação da periferia.
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Terminal Grajaú. Foto da autora, 2016.
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Grajaú Periferia e cultura
Imagem aérea da região do Grajaú Fonte: Google Earth. Consultado em: 20/10/2016.
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Avenida Dona Belmira Marin. Foto da autora, 2016.
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Grajaú O Grajaú é um distrito da Subprefeitura Capela do Socorro, situado no extremo sul da cidade, em área de mananciais. A ocupação da região, iniciada desde os anos 1910, mais intensamente nos anos 1950, provém da instalação de uma zona industrial na região do Jurubatuba. Atualmente, o bairro é habitado por cerca de 450 mil pessoas.
Conflitos do território A região localizada entre a represa Guarapiranga, inundada em 1908, e a represa Billings, em 1927, chamada de Interlagos, passaria a ser ocupada já desde a primeira década do século XX. No período, a área pertencia ao município de Santo Amaro, o qual foi anexado a São Paulo em 1935. Sendo vista como uma região com grande potencial econômico de recreação e lazer, com a presença das duas represas, em 1938 ocorre o parcelamento do solo nos padrões da cidade-jardim, o Balneário Satélite Interlagos, e em 1939, o Autódromo de Interlagos. No ano de 1959, atrelado ao polo industrial da região de Santo Amaro são feitos novos parcelamentos para a população trabalhadora, como o bairro Cidade Dutra. “Relacionado ao desenvolvimento econômico de base industrial nas décadas de 1950 e 1960, o rápido crescimento populacional urbano – passando de pouco mais de 500 mil habitantes em 1920 para quase 4 milhões de habitantes em 1960 – associado à ausência de uma política pública habitacional eficiente, fortaleceram o movimento em direção às áreas periféricas –
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processo de crescimento urbano conhecido a partir do trinômio ‘loteamento periférico – casa popular – autoconstrução’.“ (BONDUKI, 1998 apud MATSUNAGA, 2015, p 45).
O padrão periférico de urbanização do poder público nos anos de 1970, promoveu a instalação de grandes conjuntos habitacionais sociais na periferia de São Paulo desprovidos de qualquer equipamento de transporte, educação, saúde, cultura e lazer, um processo precário e excludente de urbanização periférica da metrópole. O ordenamento jurídico ambiental estabelecido entre 1975 e 1977 (Leis Estaduais nº 898/75, nº 1.172/74 e Decreto 9.714/77) acentua a precariedade urbanística da região, estabelecendo um padrão de ocupação completamente desvinculado da realidade existente. Se por um lado, uma grande quantidade de pessoas foi em direção às bordas da cidades para morar, diante da inexistânia de uma política habitacional e econômica que promovesse o acesso à moradia, por outro, este mesmo lugar passou a ser legalmente reconhecido como área de proteção de mananciais, medida que estabeleceu a condição de ilegalidade dos bairros que se estendiam neste território. “Ainda que se reconheça atualmente que a qualidade da água como bem coletivo primordial à vida e que os assentamentos precários, pela falta de infraestrutura instalada, contribuem para sua poluição -, no senso comum, a dualidade expressa pela setorialização reforçou a polarização de que, de um lado, quem mora na área de mananciais é contra a preservação da qualidade da água e de outro, quem defende o manancial é contra a população residente” (MATSUNGA, 2015, p 42).
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O Grajaú e São Paulo Os mapas a seguir são apresentados com o objetivo de contrapor alguns dados sobre a realidade social do Grajaú em relação às outras regiões de São Paulo. Mapa de garantia dos direitos humanos em São Paulo.
Mapa 01. Direitos Humanos segundo dimensão socioeconômica: trabalho, renda, moradia, saúde e educação, 2005. Fonte: Comissão Municipal dos Direitos Humanos (CMDH).
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A partir do mapa dos Direitos Humanos das subprefeituras de São Paulo, observa-se que a Capela do Socorro, apresenta precária garantia dos direitos humanos segundo a dimensão socioeconômica, que inclui: trabalho, renda, moradia, saúde e habitação. Mapa de mortalidade por homicídio de jovens entre 15 e 19 anos em São Paulo.
Mapa 02. Mortalidade por homicídio de jovens entre 15 e 19 anos. Fonte: Fundação Seade – Índice de Vulnerabilidade Infantil, 2000.
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O mapa acima apresenta a mortalidade por homicídio de jovens por distritos de São Paulo. Segundo o mapa, o Grajaú é um dos distritos onde estão os maiores índices de mortalidade da população masculina por homicídio. Mapa de distribuição dos esquipamentos culturais em São Paulo.
Mapa 03. Equipamentos culturais de São Paulo por distritos. Fonte: Mapa Digital da Cidade, 2016.
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O mapeamento dos equipamentos culturais de São Paulo mostra a desigual distribuição de infraestrutura de cultura na cidade. A área central e os distritos ao redor, principalmente as imediações oeste, sul e leste, possuem grande concentração de equipamentos culturais, enquanto os extremos periféricos, principalmente o sul e o norte, não apresentam ou apresentam pouquíssimos equipamentos. O cruzamento das informações mapeadas sobre Direitos Humanos, mortalidade de jovens por homicídio e distribuição de equipamentos culturais, tem a intenção de refletir sobre a desigualdade na garantia de direitos em São Paulo segundo sua dimensão territorial. A rápida visualização dos três mapas evidencia o quanto os extremos periféricos da cidade estão prejudicados por essa desigualdade, pois além de seu isolamento territorial, a população está também isolada de melhores condições de trabalho, renda, moradia, saúde e acesso à cultura. A violência e a perda de centenas de jovens ao ano é uma das mais tristes consequências decorrentes da desigualdade na cidade. Esta comparação nos permite questionar sobre qual tem sido a presença do Estado nas periferias e serve também como objeto de apresentação da contradição entre estatísticas sociais do Grajaú e a realidade cultural do bairro. O resultado do levantamento das atividades culturais no Grajaú em contraposição ao mapeamento dos equipamentos culturais pelo Mapa Digital da Cidade, demonstra que o desenvolvimento da cultura no distrito não depende apenas da presença do poder público na forma de infraestrutura física, já que as atividades culturais mapeadas superam em grande quantidade os equipamentos culturais existentes.
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Periferia, cultura e contracultura “A palavra ‘periferia’ era um termo mais utilizado pela academia, tentando definir uma situação sociológica e geográfica. O termo ‘periferia’ vira uma arma política e uma forma de organização na década de 1990, principalmente por força do movimento hip hop (...). Quem fez essa passagem, de termo da sociologia urbana para enfrentamento político, foram principalmente as expressões artísticas dessa periferia” (D’ANDREA, 28, 2013).
Neste trabalho, o termo periferia possui a conotação mencionada por Tiaraju D’Andrea, referindose a uma condição geográfica e também atribuída de um significado político que reconhece suas manifestações e lutas por direito à cidade. A reivindicação pelo direito à cidade surge da própria cidade, pelos movimentos sociais urbanos (HARVEY, 2012). Estes movimentos coexistem com outros grupos sociais e com isso, possuem ação sistêmica, representativa e revolucionária. É neste sentido que a cidade se transforma em um território de movimentos diversos por direitos diversos. A cultura reivindica o direito à cidade pela presença e ocupação do espaço, pela promoção do diálogo, pela sensibilização e transformação da realidade. Estudar os grupos e atividades culturais no Grajaú é compreendê-los como instrumentos legítimos de luta e como forma de afirmação de uma identidade. “Se a lógica da globalização econômica e cultural tem atuado para o achatamento e a superficialidade da cultura e da educação nos diferentes países, em contrapartida o papel dos atores sociais e
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dos realizadores em geral tem sido apresentar questões de relevância local que possam discutir ou se contrapor ao processo de homogeneização e empobrecimento das culturas e das identidades urbanas no mundo. É inquestionável que a riqueza da vida urbana está na heterogeneidade, nas possibilidades de convivência e trocas culturais entre diferentes grupos sociais com estilos de vida e modos de pensar diferenciados. (SESC Santo Amaro, 2011)
A autenticidade da cultura produzida na periferia exerce também o papel de uma contracultura, quando se contrapõe e expressa os desejos próprios das pessoas e propõe um modelo de convivência de encontro e de produçao cultural coletiva. A cultura como promotora de interações humanas, de trocas de experiências e criadora de identidades compartilhadas, é um movimento de reação à cultura globalizada do consumo de massa, com padrões de lazer, de prazer, de relação, de alimentação e de uso do espaço. Quando um grupo de pessoas realiza um sarau em um boteco, Como o Sarau Sobrenome Liberdade, estas pessoas estão manifestando outro desejo de existência e de relação. O sarau é um dentre tantas outras manifestações culturais, que revelam formas de vida e, por isso, de cultura, autênticas, oriundas de contextos particulares com carências comuns.
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Sarau no CEU Parelheiros. Foto da autora, 2016.
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Algumas palavras a mais Até mais ou menos o terceiro ou quarto ano da graduação, tinha vergonha de contar em alguns lugares, inclusive na faculdade, o lugar onde moro. Eu falava que moro no Grajaú apenas para os amigos mais próximos, inclusive, no currículo, não mencionava Grajaú, mas sim, Interlagos ou Santo Amaro. “...práticas segregacionistas presentes na maioria das metrópoles mostram-se como forças brutais no confinamento das juventudes pobres, moradoras de bairros ligados socialmente a contextos de violência. Os efeitos imediatos da segregação podem ser percebidos no fato de jovens assimilados ao perfil “morador de bairro violento” serem reiteradamente preteridos quando pleiteiam ingresso em instituições de trabalho, além de serem alvo, em outras instituições, de discriminação, desconfiança e temor ao revelarem seus locais de residência”. (Wagner Santos in Niggaz – Graffiti, Memória e Juventude, 128, 2016)
Descobrir a cultura no bairro onde vivo me possibilitou transformar minha visão sobre mim mesma e sobre a cidade, entender que a periferia é resultado de processos políticos, sociais e econômicos e que ocupar os espaços e instituições é também um ato político. Quando passei a conectar minha história e a trajetória de minha família ao passado do bairro, deixei de ter vergonha de dizer que vivo no Grajaú. Quando saía da escola com minha irmã, no Grajaú (2004), víamos um graffiti em uma caixa de telefone que nos chamava muito a atenção, era a imagem de uma moça 40
olhando para cima. Ao longo dos anos, começamos a ver em vários lugares essa imagem e palavras como ‘ver a cidade’, grafitadas em outras partes do bairro e da cidade. Eu gostava dos graffitis, gostava como as frases do ‘ver a cidade’ eram trocadilhos que nos faziam pensar sobre o que queremos ou escolhemos ver na cidade, era poesia no espaço público. A mensagem que víamos já eram intervenções feitas pelo Coletivo Imargem, que dentre diversas ações, promove intervenções de graffiti nos espaços públicos como forma de ocupar a cidade. “(...) o sujeito político não é aquele que simplesmente toma consciência de si; ele é um agente do dissenso, advindo do dano político. O conceito de dano, nestes termos, não se liga ‘a nenhuma dramaturgia da vitimização’ [...], é simplesmente o modo de subjetivação no qual a verificação da igualdade assume figura política (...). Este dano, em sua natureza, é imensurável, infinito, persistente, porque sempre reposto, sob outras formas, pela ordem social” (PALLAMIN, 2015, 29).
É comum a discussão da periferia nos meios de comunicação de massa e mesmo no espaço acadêmico a partir de aspectos relacionados a problemas sociais, há um intenso debate em torno dos “danos políticos”. Este debate é importante, pois reconhece o território como consequência de processos políticos e históricos. É justamente dos danos políticos de onde surgem os sujeitos políticos, pessoas conscientes de sua condição de desigualdade, que reagem contra a estrutura estabelecida. As manifestações culturais periféricas são uma forma de reação a estes danos persistentes impostos pela ordem social. 41
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Graffiti “ver a cidade’. Fonte: http://besidecolors.com/tag/ver-a-cidade/. Consultado: 19/01/ 2016.
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Editais e os movimentos culturais na periferia “A questão estrutural aqui passa por um conceito de democratização das oportunidades. O ideário dos movimentos culturais não é propriamente consumir o que lhes é imposto pela chamada indústria cultural, mas fazer prevalecer o seu direito de acesso à cultura, à produção e expressão de criações e representações que lhes façam sentido, mesmo que suas necessidades sejam diferentes” (SESC Santo Amaro, 2011).
A promoção e o incentivo à produção de cultura nas periferias da cidade foram impulsionados pelos editais, comenta em uma conversa Wellington Neri (Tim), integrante do Coletivo Imargem e da Casa Ecoativa. Segundo Tim, sempre houve um movimento cultural muito rico no Grajaú e adjacências, entretanto o lançamento de editais de apoio às atividades culturais incentivou a continuidade de trabalhos que já existiam e a criação de novos coletivos. Em uma conversa com Valéria Ribeiro, integrante do Coletivo Expressão Cultural Periférica, a partir dos editais, a construção de cultura passou a ser encarada como uma possibilidade de atuação social e profissional e garantiu a continuidade de iniciativas que anteriormente sem incentivo, eram conduzidas com recursos dos próprios agentes. Os editais, de certa forma, contribuíram para o fortalecimento de uma cultura autônoma, feita pelos próprios moradores da periferia, atendendo às demandas dos coletivos e outros movimentos locais. Políticas culturais que incentivaram o lançamento destes editais vieram como forma de atender a uma demanda existente por apoio e como forma de compensação à ausência de estruturas 44
físicas e de gestão para o desenvolvimento da cultura em todo o território da cidade. Entretanto, apesar do apoio às manifestações culturais periféricas pelo lançamento de editais, ainda é desigual e insuficiente no território a distribuição de recursos que financiem as ações culturais.
Lei de Fomento às Periferias Em 2013, pessoas de diversas partes da cidade se reuniram para discutir a democratização da distribuição da verba municipal destinada às manifestações culturais e artísticas, originando o Movimento Cultural das Periferias. O que o movimento almeja é a distribuição democrática da verba destinada à cultura e o reconhecimento territorial desta produção, já que alguns setores da arte e da cultura são priorizados em detrimento da cultura feita na periferia. Ao longo destes três anos, o movimento, que conta com agentes culturais das periferias de São Paulo, elaborou a Lei de Fomento às Periferias, apoiada por demais coletividades e moradores das periferias da cidade. O processo de elaboração da lei aconteceu em diálogo com a Câmara e a Secretaria Municipal de Cultura. O avanço da lei é o reconhecimento da dimensão territorial da cultura na cidade, afirma a urbanista Raquel Rolnik. “A Secretaria Municipal de Cultura já realiza editais de fomento desde 2002. Estes editais foram responsáveis por apoiar uma produção cultural importante e nova. A potente cena cultural independente que ferve a cidade hoje, certamente, deve bastante à existência e permanência desta prática ao longo desses 14 anos e várias gestões. Mas o projeto agora aprovado é o primeiro que reconhece a dimensão territorial da cultura e a
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desigualdade na distribuição de recursos públicos, ao introduzir um critério que concede mais recursos às regiões culturais que historicamente tiveram menos acesso a eles. O óbvio, como afirmam os produtores culturais que demandaram a lei e a formularam durante os últimos três anos, em diálogo com o poder público.” (ROLNIK, 2016).
O território é o espaço socialmente construído, segundo o geógrafo Milton Santos, é fundamental que as leis de fomento à cultura reconheçam as diferenças sociais do território e as demandas decorrentes desta diversidade. Cabe ao poder público reconhecer e apoiar as manifestações culturais periféricas, já que estas são movimentos de resistência às consequências do abandono a que este próprio poder relegou as bordas da cidade. Quando o Movimento de Cultura das Periferias reivindica o reconhecimento das diferentes e urgentes demandas culturais, ele denuncia uma condição de desigualdade social histórica presente nos territórios da cidade.
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Graffiti no Grajaú. Fonte: http://www.brasilpost.com.br/2015/08/17/ grafite-pichacao-grajau_n_8001398.html Consultado: 19/01/ 2016.
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Grajaú Mapeamento dos espaços e atividades culturais
Graffiti do Imargem. Obra e foto Mauro Neri. Fonte: http:// imagemdamargem.blogspot.com.br/p/arte.html Consultado: 19/01/ 2016.
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“(...) o estético e o político são mutuamente constituintes, de modo que uma ação política é ao mesmo tempo uma intervenção e luta sobre o sensível, no modo com que é configurado, percebido, dividido e compartilhado.” Vera Pallamin. Cidade e Cultura. Esfera Pública e Transformação Urbana.
Mapeamento das atividades e espaços culturais A proposta de fazer um mapeamento das atividades culturais no Grajaú tem o objetivo de conhecer e trazer para a universidade o que acontece no bairro em termos de cultura. A construção do mapeamento das atividades culturais no Grajaú consistiu na consulta a mapas, sites de coletivos, produções gráficas feitas principalmente por agentes do próprio bairro, pela participação em alguns eventos e pela consulta à rede social Facebook. Sobre as fontes de pesquisa: - “Grajaú, território de artistas”: Mapeamento feito pelo coletivo Periferia em Movimento e jovens do bairro, na oficina de Multimídia realizada no Centro Cultural do Grajaú em 2016. O projeto produziu um zine, um mapa digital e um trabalho audiovisual sobre a produção dos artistas e coletivos, espaços livres, públicos e comunitários de lazer, festas e articulações culturais da região. O trabalho também mapeia espaços que, segundo os participantes, possuem potencial de intervenção para outros usos. A oficina reflete, além do que já existe no bairro, o olhar e os desejos dos participantes, segundo a vivência e o conhecimento que possuem do bairro. A consulta a este trabalho foi fundamental para a identificação dos projetos culturais, já que foi um processo coletivo de trabalho. - SESC em Redes – Culturas de convivência: Trabalho realizado pelo SESC Santo Amaro entre os anos de 2008 e 2010. Neste projeto, o SESC reuniu agentes da Zona Sul, da região do Santo Amaro e Capela do Socorro para mapear as manifestações culturais e artísticas da região com o objetivo de divulgar as informações e estabelecer conexões entre o SESC e as iniciativas vizinhas. 52
O mapeamento SESC em Redes categorizou as atividades em: educação não formal, esportes, linguagens artísticas, meio ambiente e tradição. Parte do estudo deste mapeamento consistiu na verificação da continuidade das atividades registradas por consultas online a blogs, eventos e publicações e contatos por Facebook. - SP Cultura: Plataforma livre e colaborativa da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo de mapeamento sobre o cenário cultural paulistano. A plataforma se divide em duas categorias principais: os agentes de cultura, que podem ser artistas individuais ou coletivos, e espaços culturais, públicos, privados ou comunitários. - Revista/Coletivo Expressão Cultural Periférica: A revista, produzida pelo próprio coletivo, realiza a divulgação das atividades culturais da periferia de São Paulo, com ênfase no extremo sul da cidade, disponibilizando seu conteúdo online e impresso. Uma das integrantes do coletivo, Valéria Ribeiro se dispôs a uma conversa sobre o trabalho desenvolvido pelo grupo e um pouco da visão sobre o cenário cultural da região. - Periferia em Movimento: Coletivo de comunicação que tem o objetivo de identificar e informar o que acontece no cenário cultural e as lutas sociais na periferia, a partir da publicação de diversas matérias e eventos em uma plataforma online. As reportagens do coletivo foram muito importantes nas reflexões e registros do trabalho, pois apresentam conteúdo de qualidade, diverso e atualizado. - Facebook: A rede social é uma ferramenta útil para o acompanhamento da articulação entre os coletivos de cultura, principalmente pela divulgação de eventos. A rede permite acessar projetos que existiram no passado e que continuam ou não em andamento, já que é comum 53
a utilização do Facebook como plataforma de divulgação constante de trabalhos e parcerias entre os grupos. Por meio do Facebook, alguns agentes de cultura foram contatados para pedir informações sobre os projetos realizados. - Boca a boca: Boa e velha forma de descobrir o que as pessoas sabem que está acontecendo. Além da própria experiência afetiva, o contato com as pessoas nos permite estabelecer vínculos e perceber na realidade como se articulam e acontecem as relações entre as pessoas participantes da produção cultural no bairro.
Movimentos de cultura O levantamento das atividades e espaços de cultura no Grajaú baseia-se em uma divisão elaborada a partir do caráter do trabalho, o local onde se realizam as atividades e os grupos que as organizam. As categorias estabelecidas são as seguintes: ateliê, associação, biblioteca pública, centro de assistência social comunitário, centro de assistência social municipal, centro educacionalcultural público, companhia de teatro, coletivo, espaço para eventos, espaço iniciativa cultural, espaços cultural comunitário, espaço cultural privado, espaço cultural público, instituição cultural privada, praça pública, parque público, projetos, resgate da cultura afro-brasileira, roda e escola de samba e sarau/ encontro. As atividades foram classificadas entre categorias para fins de organização e visualização do caráter e dos espaços que integram a cultura no Grajaú. Há uma breve descrição de cada ação ou espaço identificado, pois não se trata apenas de mapear mas de informar em alguma medida o que são estas atividades. O ano de início das 54
atividades é informado para que se tenha uma perspectiva temporal do movimento cultural no bairro. Associação A categoria associação foi criada para identificar os grupos de ajuda mútua e assistência social que se sustentam pela participação da comunidade e não dependem da ajuda de ONGs e partidos políticos. A associação defende o poder e a união popular como forma de ação no enfrentamento das necessidades comuns ao bairro. Ateliê Os ateliês são organizados com o objetivo de desenvolver atividades artísticas e culturais abertas à visitação e à participação da comunidade. São exposições, oficinas, projetos culturais associados a outros grupos, intervenções artísticas, etc. Estes espaços se constituem local de produção dos trabalhos comercializados e contribuem para a transformação da visão dos moradores sobre o bairro. Os ateliês identificados foram idealizados por jovens do bairro que já desenvolviam atividades artísticas, entre elas o Graffiti. Um aspecto comum em ambos os ateliês é o desejo de compartilhar a prática de suas atividades, realizando-as por meio do coletivo e da abertura do espaço à comunidade. Biblioteca pública As bibliotecas existentes na região do Grajaú estão associadas a um equipamento público, entre elas estão as bibliotecas dos CEUs e a biblioteca do Centro Cultural do Grajaú. A instalação dos CEUs nas periferias tem como 55
parte de seu projeto, reunir em um único complexo equipamentos educacionais, esportivos e culturais. Há também, o Ônibus-biblioteca, um projeto municipal que leva uma biblioteca móvel uma vez por semana para diversos bairros de São Paulo. O fato de que o equipamento biblioteca esteja sempre agregado a uma outra estrutura na periferia, reforça a desigualdade na distribuição de equipamentos públicos culturais na cidade, quando em áreas mais centralizadas da cidade a população está servida de diversas bibliotecas entre outros serviços culturais e educacionais. Centro de assistência social comunitário Os centros de assistência social comunitários, são organizações atuantes em bairros da região, que promovem atividades educativas, recreativas e culturais. Segundo os centros identificados, boa parte deles foi fundada e/ou recebe apoio de instituições religiosas católicas, a Igreja está bastante presente na região pelas paróquias e por estas instituições de assistência social. Alguns centros recebem doações da comunidade e outros, ainda, são financiados por organizações internacionais, principalmente europeias. Os grupos levantados foram criados nos anos 1990 e no início dos anos 2000. Estes grupos são importantes no bairro, pois são espaços de convívio social para crianças e adolescentes no contraturno escolar, considerando a insuficiência de infraestruturas de lazer, esporte e cultura. Centro de assistência social municipal O Centro de Cidadania da Mulher no Grajaú, identificado como centro de assistência social municipal, foi selecionado no mapeamento, pois abriga diversas atividades e oficinas. O espaço apresenta-se como um lugar 56
de convívio, estabelece conexão com o Calçadão Cultural e o Centro Cultural do Grajaú e recebe mensalmente o Sarau das Mina. Centro educacional-cultural público Os centros educacionais-culturais são espaços municipais que, além da programação escolar, realizam atividades culturais e artísticas abertas aos alunos e à comunidade. Os principais identificados foram os CEUs. Há também um centro para educação de jovens e adultos que se propõe a um trabalho de educação e conscientização social. Companhia de teatro As companhias de teatro identificadas na região do Grajaú realizam apresentações teatrais voltadas à reflexão das condições sociais e morais do homem. As companhias, que fazem apresentações gratuitas, apresentam suas peças em espaços não convencionais, como na rua, em pontos de ônibus, às margens da represa e em escolas públicas. São apresentações abertas à comunidade que propõem a reflexão sobre a cidade e sobre o bairro. Conforme o levantamento, o Programa Vocacional de teatro impulsionou o surgimento de diversos grupos de teatro na região. Coletivos Os coletivos mapeados são apenas uma parte dos coletivos existentes no bairro. Estes foram identificados durante as buscas em sites como o Periferia em Movimento, em grupos e eventos divulgados pelo Facebook e em produções gráficas, como a Revista Expressão Cultural Periférica ou a Giro Cultural. 57
Os coletivos atuam constantemente junto a outros coletivos, instituições e iniciativas. A formação e a atuação destes grupos, acontece em espaços públicos ao ar livre, como a praça onde o Xemalami Xeque Mate La Misión promove suas atividades, em espaços institucionais públicos, como o Centro Cultural do Grajaú, ou em locais organizados pelo próprio coletivo. Conforme a pesquisa online e conversas com agentes de cultura do bairro, parte da verba que mantem a atividade dos grupos provem de editais municipais e estaduais de fomento à cultura. Entretanto, ressalta-se que a criação dos coletivos parte de iniciativas autônomas, de interesses convergentes e da vontade de atuar sobre a realidade do bairro. A promoção e continuidade de algumas atividades tem, de fato, sido incentivadas nos últimos anos pelos editais públicos de fomento à cultura. Apenas com uma exceção, os coletivos levantados atuam desde meados de 2010. Espaço para eventos Os espaços para eventos são lugares públicos ou privados, onde acontecem atividades culturais, como oficinas, saraus e eventos voltados para o resgate e a permanência de culturas, como a nordestina. Estes espaços se caracterizam por receberem atividades promovidas por pessoas do bairro. Espaço-iniciativa cultural Na categoria espaço-iniciativa cultural encaixam-se projetos culturais que, além das propostas de atuação, são também espaços onde estas iniciativas acontecem. Assim como os ateliês, que transformam a perspectiva do lugar onde estão inseridos, os espaços-iniciativas culturais estão abertos à participação da comunidade e possuem 58
projetos contínuos em parcerias com coletivos, escolas e instituições. Dentre as parcerias estabelecidas, pode-se destacar o projeto Conexão Sul do SESC Interlagos, junto à Casa Ecoativa e o Espaço Meninos da Billings. Nesta parceria, o SESC Interlagos promove uma rota náutica pela represa Billings que é conduzida por representantes dos coletivos. Os espaços onde acontecem as atividades são privados e estão abertos à comunidade como espaços culturais e de aprendizado, com exceção somente da Casa Ecoativa, que ocupa um lugar não utilizado pertencente à EMAE. Atualmente, o grupo busca meios legais de conseguir a concessão municipal de uso do espaço para dar continuidade às atividades. Espaço cultural comunitário Os espaços culturais comunitários surgiram da organização da sociedade civil a partir de grupos de pessoas que já realizavam ações sociais na região e que tinham o desejo de fazer na comunidade trabalhos de fortalecimento e participação popular em defesa dos direitos humanos. Nestes espaços ocorrem diversas atividades de formação e debate, como o Curso de Fotografia em Direitos Humanos, no CEDECA, e as rodas de discussão realizadas quase semanalmente no CAPS Grajaú. Espaço cultural privado A categoria espaço cultural privado foi criada para enquadrar espaços que realizam atividades culturais em caráter privado. No caso, foram levantados espaços onde acontece o ensino e a prática de capoeira, com o objetivo de resgatar e preservar um elemento da cultura brasileira, símbolo de resistência e identidade. Espaço cultural público 59
Os espaços culturais públicos são locais criados e geridos pelo poder público municipal com uma agenda de atividades culturais e artísticas abertas à população local. Estes espaços abrigam atividades de coletivos, tornandose também, referenciais na paisagem. Instituição cultural privada Nesta categoria enquadra-se a única instituição cultural de caráter privado identificada na região, o SESC Interlagos. Além das atividades multidisciplinares organizadas pelo SESC, a instituição estabelece conexões com coletivos da região, principalmente por meio do projeto Conexão Sul. Praça pública Algumas praças públicas foram levantadas a partir dos mapeamentos consultados e de algumas experiências no bairro, já que a existência destes espaços na região e sua apropriação para atividades esportivas e de lazer também são expressões culturais. Parque público O mesmo ocorre com os parques públicos, locais de preservação ambiental, atividades recreativas, culturais e ambientais. Projetos Na categoria Projetos, enquadram-se iniciativas a longo prazo, organizadas pelos agentes culturais do bairro. Estas ações envolvem a linguagem da arte como meio para a promoção da reflexão sobre o direito à cidade, o meio ambiente e a ocupação dos espaços públicos. As ações destes projetos foram destacadas no mapeamento, pois 60
são expressões marcantes em diversos lugares da região do Grajaú, ressignificando a dimensão simbólica dos espaços. Resgate da cultura religiosa afro-brasileira A categoria ‘resgate de religiosa afro-brasileira’ foi criada para enquadrar o único terreiro de candomblé identificado como atividade cultural, já que não é apenas um espaço de culto religioso, mas estabelece relações com o entorno que visam a melhoria da vida na comunidade, além da responsabilidade em edificar a cultura religiosa de matriz africana. Roda e escola de samba A categoria ‘Roda e escola de samba’ foi criada com o objetivo de identificar as atividades tradicionais ligadas à cultura do samba na região, reconhecendo-as como movimentos de resistência cultural, de resgate da memória do bairro e de ocupação do espaço público. As escolas de samba surgiram do desejo de alguns moradores de poder praticar e escutar o ritmo no próprio bairro e originar uma escola que pertencesse ao bairro. As rodas de samba foram criadas para preservar a produção de cantores e compositores tradicionais do samba, apresentar novos talentos da região e promover tardes de encontros entre os moradores dos bairros. Sarau/ Encontro Registrar os saraus neste mapeamento é indispensável, pois possuem fundamental importância no desenvolvimento da cena cultural que pulsa no Grajaú. Além de promover reflexões sobre o próprio bairro e a condição de sujeito periférico, os saraus acontecem em espaços abertos, bares, espaços comunitários, onde 61
qualquer pessoa pode chegar e participar. São organizados por artistas, educadores e integrantes de coletivos culturais da região e tem o objetivo de promover espaços de encontros e reflexão.
O que não foi registrado Apesar do esforço em abarcar o máximo de iniciativas culturais, escolas públicas, artistas individuais, grupos musicais (rap, forró), graffitis e associações de moradores não foram mapeados. As escolas da rede pública de ensino, apesar de não aparecerem na lista de espaços mapeados, são lugares onde acontecem diversas manifestações culturais, algumas delas, inclusive, em parceria com coletivos da região. A Escola Estadual Professor Carlos Ayres, por exemplo, recebe apresentações de companhias de teatro e exibições de documentários sobre o bairro, todos abertos ao público. Estas, dentre outras iniciativas, possibilitam maior envolvimento da comunidade com a escola, ressignificando o espaço escolar como um lugar de construção de conhecimento coletivo. O Graffiti é um elemento extremamente importante na movimentação do cenário cultural no Grajaú. Integrante da cultura Hip Hop, o Graffiti é um instrumento de crítica social e de ocupação do espaço não só da periferia, mas de outros espaços da cidade, pela arte. Uma forma de incluir esta cultura no mapeamento foi o registro do projeto Niggaz, um encontro de grafiteiros que acontece anualmente no Grajaú. Devido ao tempo para a realização do trabalho e à metodologia de investigação, não foi possível identificar as associações de moradores existentes na região. Houve a 62
tentativa de levantá-las por buscas em grupos e publicações na internet, entretanto, não foram encontradas muitas informações sobre os grupos e sua atuação. As associações de moradores são mencionadas, porém, devido a sua importância no histórico de lutas e conquistas sociais no Grajaú, manifestando e visibilizando as urgências do bairro. Artistas individuais e grupos musicais certamente integram a efervescência cultural do bairro, entretanto, pela quantidade e dificuldade em encontrar registros de todos eles, não foram inclusos no mapeamento. Além disso, trabalhos culturais que já aconteceram e que já não estão em andamento não foram registrados, porém são mencionados aqui pelo reconhecimento a sua participação na construção do cenário cultural hoje vivenciado pela região do Grajaú. A autora reconhece que, apesar do esforço de busca, o mapeamento não conseguiu identificar todos os gruoos e atividades existentes enquadrados nas categorias mencionadas acima.
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Bibliografia BARDA, Marisa e FRANÇA, Elisabete. (org). Entre o Céu e a Água: O Cantinho do Céu. São Paulo: HABI – Superintendência de Habitação Popular, 2012. BOTELHO, Isaura. As Dimensões da Cultura e o Lugar das Políticas Públicas. São Paulo: São Paulo em Perspectiva, 15 (2), 2001. Disponível em: www.centrodametropole.org.br/pdf/ Isaura.pdf. D’ANDREA, Tiarajú Pablo. A formação dos sujeitos periféricos: Cultura e Política na Periferia de São Paulo. São Paulo: Tese de doutoramento em Sociologia, Universidade de São Paulo, 2013. HARVEY, David. Cidades Rebeldes. Do Direito à Cidade à Revolução Urbana. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2012. MATSUNAGA, Melissa Kikumi. Cantinhos do Céu. São Paulo: Dissertação de mestrado em Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, 2015. NELSON, Carlos Ferreira dos. Como e quando pode um arquiteto virar antropólogo. In: VELHO, Gilberto (org). Rio de Janeiro: Editora, Campos, 1980. PALLAMIN, Vera (org). Cidade e Cultura. Esfera Pública e Transformação Urbana. São Paulo: Editora Liberdade, 2002. ROLNIK, Suely. Cartografia sentimental, transformações contemporâneas do desejo. São Paulo: Ed. Estação Liberdade, 1989. SANTOS, Milton. Espaço e Método. São Paulo: EDUSP, 2014. SESC Santo Amaro. Santo Amaro em Redes: culturas de convivência / Serviço Social do Comércio; Instituto Pólis;
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coordenação geral Hamilton Faria. São Paulo: SESC SP, 2011. ____Relatório Técnico: Pesquisa de Mapeamento Sociocultural – Santo Amaro em Rede: culturas de convivência. SESC SP, 2011. SILVA, Mauro Sergio Neri da (org). Niggaz, graffiti, memória e juventude. São Paulo: M.S.N. da Silva, 2016. ____Cartograffiti. São Paulo: Prefeitura de São Paulo e Imargem, 2014. SILVA, Regina Helena Alves. Cartografias urbanas: construindo uma metodologia de apreensão dos usos e apropriações dos espaços da cidade. In: Visões urbanas – Cadernos. PPG-AU/ UFBA, v. 1, número especial, 2008.
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Graffiti do Enivo no Jardim Lago Azul. Fonte: http://www.brasilpost.com.br/2015/08/17/grafite-pichacaograjau_n_8001398.html Consultado: 19/01/ 2016.
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Associação
Espaço cultural comunitário
Ateliê
Espaço cultural privado
Biblioteca pública
Espaço cultural público
Centro de assistência social comunitário
Instituição cultural privada
Centro de assistência social municipal
Praça pública
Centro educacionalcultural publico
Parque público
Companhia de teatro
Projetos
Coletivo
Resgate da cultura religiosa afrobrasileira
Espaço para eventos
Roda e escola de samba
Espaço-iniciativa cultural
Sarau/ Encontro
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Grajaú: Atividades e Espaços Culturais Associação
Casinha das Mães: Cultura e Resistência Popular Local onde senhoras ajudam de maneira autônoma, mães solteiras que trabalham e não tem condições de pagar uma escola particular ou não encontram vagas nas públicas e não tem com quem deixar as crianças. O objetivo é criar um local que mantenha suas atividades pela união popular, sem o auxílio de ONGs ou partidos políticos que se utilizem das necessidades sociais do bairro. Grajaú, 2010.
Ateliê
Ateliê DAKI A idéia do Ateliê surgiu quando os artistas Ricardo Negro, Harry Borges, Ayco, Recássio Silva, Gelson Salvador, Will Mangraff e Dimas, se uniram em busca de um lugar onde pudessem produzir arte e convidar as pessoas para conhecer seus trabalhos. Alugaram uma residência no Jd. Reimberg, onde surgiu o ateliê, um espaço efervescente culturalmente, que abriga exposições, oficinas, debates e saraus dentre outras ações, abrindo espaço para que outros artistas da região possam expor seus trabalhos e trocar experiências. Grajaú, 2014. Ateliê da Margem É um espaço de soluções em inovação cultural, social e artística, localizado no bairro do Grajaú, extremo sul de São Paulo, que atua por meio de troca de conhecimento, sustentabilidade, articulação e produção compartilhada. Grajaú, 2006. Biblioteca pública Ônibus-Biblioteca Roteiro Grajaú O Ônibus-biblioteca, projeto municipal, possibilita que pessoas de bairros mais distantes tenham acesso a livros, periódicos e gibis. São 72 roteiros estabelecidos de acordo com a ausência de bibliotecas públicas na região e também por sugestão da população local. Grajaú, 2008.
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Ateliê DAKI. Fonte: https://www.facebook.com/1195662057163071/photos/ pcb.1299450723450870/1299448446784431/?type=3&theater Consultado: 19/01/ 2016.
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Ponto de Leitura Graciliano Ramos Este ponto de leitura é uma pequena biblioteca localizada no Centro Cultural do Grajaú., Grajaú, 2008. Biblioeca dos CEUs As bibliotecas dos CEUs são unidades multidisciplinares, destinadas tanto ao público escolar quanto à comunidade em geral. Grajaú. Centro de assistência social comunitário CCA - Centro Para Crianças e Adolescentes Frei Leonel Faz o atendimento e acompanhamento de famílias em vulnerabilidade social e acolhimento de crianças e adolescentes.Grajaú, 2001. Aldeia SOS de São Paulo-Rio Bonito Os projetos tem como objetivo viabilizar o desenvolvimento de atividades lúdicas, de arte e cultura, de esporte e movimento e de preservação ambiental por meio de oficinas de mediação de leitura, contação de histórias, teatro, dança, percussão, stencil, grafitti, artesanato, artes visuais e multimeios, comunicação social, inclusão digital, marcenaria, capoeira, ginástica artística, jogos cooperativos, futebol, rugby, vôlei, handebol, horticultura, jardinagem, compostagem e reciclagem. Cidade Dutra, 1999. Instituto Anchieta Grajaú A ideia original do projeto era construir casas para moradias e uma escola. A estrutura atual, ainda provisória, mescla construções em madeira e alvenaria para o desenvolvimento das diversas atividades oferecidas diariamente, relacionadas à arte, comunicação, expressão corporal e meio ambiente. Grajaú, 1990. Programa Comunitário da Reconciliação O Programa Comunitário da Reconciliação atende e apoia mais de 1000 moradores, entre crianças, jovens e adultos, da Vila São José. Realiza tividades pedagógicas, recreativas e culturais, oficinas, cursos, e eventos. Cidade Dutra, 1986. Centro de Convivência Santa Doroteia O centro, financiado pela igreja católica, foi formado pelas Irmãs
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Doroteas e algumas mulheres da comunidade. A entidade tem o objetivo de promover um espaço educativo e cultural, onde os jovens tenham convivência saudável e desenvolvam atividades com que se identificam. O centro oferece aulas de ginástica, capoeira, bola ao cesto, basquete, pintura, informática, teatro, música e reforço escolar. Grajaú, 1995. Centro de Promoção Social Bororé Entidade Social fundada por padres da Igreja católica, que atualmente vive de doações e aprcerias. O centro funciona como: lar, para onde crianças e adolescentes, por determinação do Poder Judiciário, são encaminhadas; creche para crianças em período integral; e espaço educativo no contra-turno escolar, com atividades de música, arte, educação física, escrita, etc. Grajaú, 1988. Comunidade Cidadã A Comunidade Cidadã, formado desde seu início por jovens da região, tem como proposta discutir o direito da juventude no território e mostrar que a cidade é um espaço de aprendizado, baseado na Educação Integral. Por meio de parcerias com o projeto Jovens Urbanos, o Fundação Itaú Social e escolas públicas, o grupo promove ações junto à comunidade com o objetivo de reforçar a identidade local. Grajaú, 2004. Centro Profissionalizante Girassol A missão da ONG Centro Profissionalizante Girassol é propiciar o desenvolvimento de habilidades, atitudes e conhecimentos que contribuam para a empregabilidade e a inclusão social de jovens. O centro oferece aos jovens cursos de capacitação profissional com ênfase no desenvolvimento de um ser integral. Grajaú. Centro de assistência social municipal Centro de Cidadania da Mulher Grajaú Os Centros de Cidadania da Mulher são espaços de qualificação e formação de mulheres de diferentes idades, raças e crenças que se organizam para defender direitos sociais, econômicos e culturais, propondo ações que estimulem a implementação de políticas de igualdade. O CCM Grajaú, oferece oficinas corporais e de
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artesanato, abriga o Sarau das Minas e está integrado ao Calçadão Cultural do Grajaú. Grajaú, 2007. Centro educacional-cultural público CEU Vila Rubi / CEU Três Lagos / CEU Navegantes / CEU Parelheiros Integra a rede de equipamentos públicos do município de São Paulo, os Centro Educacionais Unificados, localizados nas periferias da cidade. Possui atividades voltados para a educação, práticas esportivas, recreativas e culturais cotidianas. Cidade Dutra, 2007. Grajaú, 2003. Grajaú, 2003. Parelheiros, 2008. CIEJA- Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos de Parelheiros Espaço municipal de convívio, lazer e cultura, que promove discussões sobre o mundo do trabalho e cidadania. É uma alternativa de inclusão de jovens e adultos no mundo sócio-escolar, proporcionando-lhes condições necessárias para construção coletiva do conhecimento e considerando as dimensões sociais, éticas e políticas que essa modalidade educativa acarreta. Parelheiros, 2004. Companhia de teatro Galpão Cultural Humbalada - Cia. Humbalada de Teatro A Cia. Humbalada de Teatro é um grupo formado por artistas que tem a comédia como forma de expressão. a Cia. tem feito diversos projetos de pesquisa que questionam nossas estruturas sociais para a composição de peças teatrais. A Cia. Humabalada está no Galpão Cultural Humbalada, gerido pelo próprio grupo. Além das apresentações teatrais, o galpão abriga encontros de estudo sobre sexualidade e gênero. Grajaú, 2004. Trupe de Choque A II TRUPE DE CHOQUE é um grupo de teatro que ocupa espaços não convencionais com seus espetáculos e que atuamente é sediado no Grajaú. Grajaú, 2000. Identidade Oculta Em 2005 a partir da junção dos grupos Comarte, Calados que Falam e Turma de Iniciantes, nasceu a Identidade Oculta Cia. Teatral (hoje nomeado Grupo Identidade Oculta). Grajaú, 2005.
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Cia. Humbalada de Teatro. Foto de Alessa Melo. Fonte: https://www.facebook.com/teatrohumbalada/photos/a.2633 81417041280.61450.263367600375995/1257513007628111/?type =3&theater. Consultado: 19/01/ 2016.
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Cia. De Teatro As Furiosas O grupo de teatro faz um trabalho que questiona questões de gênero e estruturas morais estabelecidas na sociedade, como a estrutura familiar. Grajaú, 2013. Grupo 011 Grupo de teatro originado do Programa Vocacional no CEU Via Rubi. Cidade Dutra. Enchendo Laje & Soltando Pipa O grupo de teatro Enchendo a Laje & Soltando Pipa surgiu do projeto Escola da Família, no Jardim Mirna, Grajaú. O popósito do grupo, desde seu início, era possibilitar o contato de jovens com a linguagem teatral e discutir a inserção do sujeito na sociedade. Portanto,o grupo possui um caráter social, na medida em que se propõe a problematizar o contexto do qual é fruto. Grajaú, 2004. Núcleo Pele O núcleo nasceu no CEU Navegantes cmo parte do Projeto Vocacional de Teatro.Em seu primeiro trabalho utilizou a linguagem do teatro de rua e tratou de temas do cotidiano do trabalhador. Grajaú, 2014. Coletivo Expressão Cultural Periférica O Expressão Cultural Periférica é um coletivo de comunicação e articulação sociocultural que tem o objetivo de documentar e divulgar ações culturais e sociais que acontecem especialmente na região onde se localiza, e em outras periferias da cidade, como forma de registrar principalmente a cultura produzida nos territórios afastados do centro e ampliar o público que aprecia toda essa efervescência cultural. Grajaú, 2012. Gráfica Comunitária Expressão Cultural Periférica A gráfica comunitária realiza serviços sem foco no lucro, viabilizando formas de impressão que sejam mais acessíveis aos coletivos de cultura e coletivos de lutas sociais, principalmente na região do Grajaú e Parelheiros. Grjaú, 2016.
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OsRetirante Osretirante é um projeto de resgate cultural, histórico e social que utiliza a linguagem poética para reviver a saga do povo nordestino na sua jornada de construção e povoamento do território brasileiro. Grajaú, 2015. Quebramundo O coletivo Quebramundo surgiu do interesse e da necessidade de compartilhar o que está contecendo artísitca e culturalmente na Zona Sul. O grupo divulga as atividades dos artistas, amigos, coletivos e eventos da “quebrada” do Grajaú para São Paulo e para o mundo, pela rede social Facebook. Grajaú, 2016. Xemalami - Xeque Mate La Misión É um grupo que tem faz a junção entre o Xadrez e a cultura Hip Hop como ferramenta de convivência e transformação social. Suas atividades são desenvolvidas na rua com apresentações de grupos de rap, discotecagem, oficina e torneios de xadrez, rodução de graffitis e ocupação pacífica de espaços públicos. Grajaú, 2000. Periferia em Movimento O Periferia em Movimento é um coletivo de comunicação sobre, para e a partir das periferias composto por jornalistas do Extremo Sul de São Paulo. O coletivo produz e dissemina conteúdo cultural e social na “quebrada”, especialmente onde estão localizados, Zona Sul, por meio de um site de notícias, publicações e formações que dá em diversos espaços. Grajaú, 2009. Espaço para eventos Ponto Comunitário de Cultura Espaço para eventos da comunidade. Grajaú. Bar Hawai FC Bar do time de várzea Hawai FC do Grajaú, com mais de 30 anos, que também sedia o Sarau do Grajaú, um encontro de poetas e músicos que acontece sempre no último sábado de cada mês. Grajaú.
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Cartaz do Projeto Navegando nas Artes. Consultado: 19/01/ 2016.
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Memórias Nordestinas O espaço e projeto Memórias Nordestinas, tem o propósito de resgate e fortalecimento do cultura nordestina, trabalhando com o objetivo de diminuir a discriminação contra a cultura nordestina e valorizar seus saberes populares pela promoção de encontros mensais, dos quais participam grupos convidados que trabalham com a tradição popular. Grajaú. Risca Faca Bares com comidas e shows mais voltados para a cultura nordestina. Grajaú. Espaço-iniciativa cultural Casa Rizoma A Casa Rizoma, uma residência familiar cedida, surgiu da necessidade de um espaço onde os coletivos da região pudessem se reunir para realizar atividades e discussões. Destinada à promoção de arte, vegetarianismo, anarquismo, feminismo, autoconhecimento, ecologia e ancestralidade, a casa promove estudos em permacultura urbana, exibição de filmes e encontros mensais com pizza ou feijoada vegana. Cidade Dutra, 2015. Espaço Meninos da Billings - Projeto Remana na Quebrada Espaço que ensina práticas náuticas, como canoagem, educação ambiental e resgate da identidade local, pelo projeto Remada na Quebrada, que também aplica reforço escolar em matemática, física, história e sociologia. A ideia é desenvolver a educação por meio da náutica. Grajaú, 2014. Casa Ecoativa Iniciativa criada por moradores da região, em um terreno abandonado pertencente à EMAE. O projeto tem a finalidade de promover agroecologia, atividades culturais e desenvolver a comunidade através da preservação da biodiversidade local. O projeto realiza oficinas, saraus, multirões de plantio entre outras atividades para crianças, jovens e adultos interessados em ampliar o desenvolvimento da região. Grajaú, 2014. Espaço cultural comunitário
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Casa Ecoativa. Foto da autora, 2016.
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Espaço cultural comunitário Cedeca- Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente de Interlagos Trabalha no potencial da infância e da juventude, buscando dignidade humana a partir da defesa dos direitos da criança, do adolescente e do jovem, construindo experiências de resistência dentro de três eixos: Promoção de direitos, Defesa de direitos e Controle Social. Cidade Dutra, 1999. CAPS - Centro de Arte e Promoção Social Grajaú Espaço-encontro de cultura, inciado pela dona Maria Vilani, que atua nas áreas de cinema e vídeo, fotografia, produção e gestão cultural, no formato de oficinas, palestras, workshops e ciclos de debates. Abriga rodas de conversa sobre literatura, poesia, arte afro, oficinas literárias, saraus e eventos, como a Carreata Poética. Grajaú, 1990. Espaço cultural privado SOU CAPOEIRA O grupo “Sou Capoeira” existe com o intuito de preservar a luta, a música, o esporte e a cultura brasileira representada pela Capoeira. Grajaú, 2012. Espaço Cultural Cazuá (Grupo Semenete do Jongo de Angola) O espaço é um núcleo de prática e estudo da Capoeira Angola com vivências constantes de percussão, pesquisas sobre africanidade, corpo feminino, samba de roda, produção de instrumentos de percussão, gravações em home stúdio, atendimento terapêutico, etc. “O Espaço Cultural Cazuá é uma casa voltada para a produção, difusão, divulgação e realização de atividades culturais no Grajaú”. Grajaú, 2008 (1990). Espaço cultural público Centro Cultural Grajaú Antiga Casa de Cultura Palahaço Carequinha, o Centro Cultural do Grajaú teve início em 1992 na Casa de Cultura Interlagos, na Cidade Dutra. Em 2008, administrada pela Subprefeitura Capela do Socorro, a casa passa a funcionar no antigo sacolão municipal do Grajaú.
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O equipamento público de cultura abriga mais de 30 oficinas em diversas modalidades, abrangendo todas as faixas etárias, uma pequena biblioteca e uma sala de cinema. Grajaú, 1992/ 2008. Circo Escola Grajaú Espaço municipal do Circo Escola Grajaú tem como objetivo oferecer proteção social básica a crianças, adolescentes e jovens em situação de vulnerabilização de seus direitos fundamentais, por meio do desenvolvimento de oficinas culturais de Arte, Corpo e Movimento, Cultura Popular e Artes Circenses, para crianças e adolescentes e espaço aberto para a comunidade. Grajaú, 2000. Instituição cultural privada SESC Interlagos Instituição privada, mantida pelos empresários do comércio. Atua nas áreas da Educação, Saúde, Lazer, Cultura e Assistência. Este centro, em especial realiza atividades de educação ambiental e cultura em parceria com alguns coletivos da região. Cidade Dutra, 1975. Praça pública Praça João Beiçola - WiFi Livre SP. Cidade Dutra. Praça Parque das Árvores. Grajaú Calçadão Cultural do Grajaú - WiFi Livre SP Localizado em frente ao Centro Cultural do Grajaú, o Calçadão Cultural abriga atividades externas do CCG e é um espaço de encontro e eventos. Grajaú. Praça do Trabalhador Praça ao lado do Terminal Varginha, utilizada como espaço de lazer, recebeu uma peça teatral do Núcleo Vermelho. Varginha. Praça do Mirna Praça grande ponto de encontro e espaço de lazer para as pessoas do bairro. Grajaú. Praça do BNH - Caixa d´água Espaço de convivência, com atividades culturais e esportivas. Grajaú
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Feirinha da Madrugada - Cantinho do Céu Barracas de frutas, artesanatos, roupas, dvds, brechó, bares, lanches em geral, etc. Grajaú. Parque público Parque Linear Cantinho do Céu - Lago Azul Parque linear, fruto de um projeto de reurbanização do Cantinho do Céu, que abriu uma parte da margem da represa pela desapropriação de algumas casa. Hoje, o espaço se tornou um local de lazer, ponto de encontro, festas, caminhadas e atividades culturais. A apropriação dos moradores e grupos culturais da região é fundamental para o sucesso do projeto. Grajaú, 2008. Pracinha e Parque Jd Prainha Parque municipal de convivência com atividades de educação ambiental, trilha e mirante para Represa Billings. Grajaú. Parque Shangrilá Localizado dentro da Área de Proteção Ambiental Bororé-Colônia, o projeto tem como objetivo preservar o patrimônio ambiental da cidade a partir da aquisição de áreas verdes potenciais e estratégicas às margens da represa. Oferece atividades de educação ambiental e é um espçao de lazer. Grajaú. Parque Linear do Ribeirão Cocaia A criação do parque tem como objetivo a revitalização de um córrego, o aumento e a preservação vegetal da área e a importante e necessária implantação de um equipamentos de lazer na região. Grajaú. Projetos Imargem: imagem da margem Trata-se de uma iniciativa multidisciplinar, que propõe um olhar cuidadoso para a paisagem povoada da periferia,utilizando a arte, a convivência e o meio ambiente como eixos de ação. Na potência da arte é delineada a metodologia de intervenção, por meio de ações como: murais, esculturas, oficinas e debates articulados nos eixos: arte, meio ambiente e convivência, apresentando uma arte acessível e politizada ressignificando lixo, espaço e fronteiras. Grajaú, 2006.
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Parque Linear do Cantinho do Céu. Foto da autora, 2016.
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Encontro Niggaz O Encontro Niggaz é um projeto que tem como objetivo explicitar diálogos sobre a ressiginificação de espaço por meio do graffiti, uma expressão artísticia participativa. A iniciativa, uma série de encontros em que grafiteiros realizam intervenções em espaços da região, faz referência a um jovem artista falecido do bairro, o Niggaz, e é um evento bastante representaivo no cenário do hiohop nacional. Atualmente, o projeto desenvolveu uma publicação e um documentpario que vem sendo transmitido em diversos espaços de debate no bairro. Grajaú, 2004-2016. Projeto Raiz Cursinho Popular Movimento Social, autônoma e liberal que promove a democratização de acesso à Universidade Pública funcionando como um cursinho popular, na E.E. Miguel Vieira. Cidade Dutra, 1998. Projeto Soul Samba Rock O Projeto Soul Samba Rock tem o objetivo de divulgar e fortalecer a cultura do Samba Rock em São Paulo através de nossas aulas, bailes e campanhas realizadas na região Grajaú. Grajaú. Resgate da cultura religiosa afro-brasileira Sociedade Ilé Alákétu Asé Ibùálamo Terreiro de camdomblé estreitamente ligado com a comunidade que o circunda, mantendo diversas ações sociais que visam a melhoria de vida na comunidade e a edificação da cultura religiosa africana. Grajaú, 1987. Roda e escola de samba Samba da Praça Grajaú Roda de samba na praça Yvone dos santos Rattis,com canções de músicos da Velha Guarda Paulistana e de compositores da região. Todos os sábados, às 16h. Grajaú, 2012. Pagode da 27 Roda de samba, hoje tradicional no bairro, que começou na calçada da Rua 27. O pagode surgiu quando um grupo de amigos que se reunia para tocar samba em outros pagodes nos boteecos do bairro,
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teve a ideia de fazer algo parecido com o que acontecia na Casa de Cultura do Santo Amaro, no Samba da Vela. Além de preservar as raízes do samba e apresentar novos compositores do bairro, a roda arrecada alimentos para instituições sociais locais, reunindo cultura e trabaho social em um só projeto. Todos os domingos, às 16h. Grajaú, 2005. G.R.C.E.S. Estrela do 3º Milênio Escola de samba do Grajaú foi mentalizada e concretizada por um grupo de amigos do bairro. Os ensaios aconteciam na casa de show Corujão, por isso a escola tem o símbolo de uma coruja. Seu primeiro desfile na rua aconteceu em 1999 e foi campeã do grupo 2 no Carnaval de 2008. Grajaú, 1998. G.R.C.B.E.S. Em Cima da Hora Paulistana A escola de samba mantém suas atividades carnavalescas e atua diretamente como uma ONG sócio-educativa cultural realizando diversas atividades culturais direcionadas a crianças, jovens, idosos e famÍlias carentes da região onde está sediada. Grajaú, 1998. Oficina do Samba A Oficina do Samba é um projeto Sócio Cultural que realiza uma Roda de Samba todo primeiro sábado de cada mês na Praça João Beiçola da Silva. O grupo realiza campanhas para doação de alimentos e tem o objetivo de proporcionar um espçao de lazer e para a família, assim como era o espaço do samba antigamente. Cidade Dutra, 2009. Sarau/ Encontro Sarau do Grajaú Organizado desde 2014, pelo casal Alexandrino e Edilene, que moram no Grajaú há seis anos, o sarau acontece no Bar do Hawaí e é promovido por alguns artistas e os integrantes do grupo OsRetirante. A ideia é alcançar artistas da região e pessoas que não estão envolvidas na cena cultural do bairro, apliando o acesso à informação, à história do bairro e à vida. Grajaú, 2014.
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Sarau de Cordas Sarau organizado pela Casa Ecoativa, com a recepção de músicos, grupos teatrais, escritores e o público em geral, com música ao vivo, comida, feira de produtos artesanais e fogueira. Grajaú, 2015. Rodas de Construção de Conhecimento - CAPS Organizada pelo CAPS no Centro Cultural do Grajaú, as Rodas de Construção de Conhecimento são um grupo de atividades que acontecem uma vez por mês, reunindo: a Roda de Estudos Jurídicos, o Pingado Filosófico, a Roda de Poesia, a Roda de Estudos de Arte, Roda de Ciência da Religião e a Roda de Estudos Afro-brasileiros, Roda de Educação e Café Filosófico. Grjaú, 2014. Sarau Sobrenome Liberdade O sarau Sobrenome Liberdade acontece no Relicário Rock Bar toda primeira quinta-feira do mês e é organizado por escritores, músicos, poetas e artistas em geral. Cidade Dutra, 2012. Sarau das Mina Promovido pelo Coletivo Mulheres na Luta, o Sarau das mina tem objetivo de ecoar a voz da luta feminina. Além do microfone aberto a manifestações e protestos, o carau conta com venda de artesanatos, alimentação vegana e exibição de documentários. Grajaú, 2015.
Conclusões A análise das atividades mapeadas permite perceber que as manifestações culturais da periferia tem em comum o exercício da coletividade. Direta ou indiretamente, tais atividades possuem um caráter crítico, quando abordam temas relacionados à inserção do homem no espaço em que vive, resgatam a prática de ritmos afrobrasileiros ou trabalham pela preservação ambiental, estabelecendo vínculos afetivos com as pessoas e com o lugar. A cultura, para além do papel político que desempenha, tem despertado outros olhares sobre o bairro e aberto novas possibilidades de atuação profissional e de relações com a economia local.
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Ateliê da Margem. Fonte: http://periferiaemmovimento.com.br/grajau-territorio-deartistas/. Consultado em: 13/01/2017.
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“... é muito mais interessante você co-criar junto com as pessoas. Você perceber... Sabe quando você percebe que um mais um não é dois, é três?!” Tim (Wellington Neri) Grajaú - Território de Artistas (vídeo).
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Reggae no Calçadão Cultural do Grajaú. Foto da autora, 2016.
Mês do Hip Hop no Calçadão Cultural do Grajaú. Foto da autora, 2016.
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OsRetirante na Casa Ecoativa. Foto da autora, 2016.
Passeio do projeto Conexão Sul, pelo SESC Interlagos. Foto da autora, 2016.
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Passeio do projeto Conexão Sul, pelo SESC Interlagos. Foto da autora, 2016.
Samba da Praça Grajaú. Foto da autora, 2016.
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Roteiro Oficinas de cartografia e reconhecimento do bairro
Vista da região do Grajaú a partir do trem. Foto da autora, 2016.
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Projeto de oficinas – Cartografia do lugar Início do processo Elaborar um projeto de oficinas a serem realizadas a longo prazo resulta do desenvolvimento de um trabalho que teve como objetivo inicial conhecer os movimentos culturais do Grajaú. Durante o processo de estudo e de reflexão sobre o que seria a cultura na periferia, surgiram alguns questionamentos que conduziram à elaboração de oficinas que propõem um trabalho participativo relacionado à identidade, cartografia e reconhecimento do espaço urbano.
Por que cartografia? Pensando em que aspecto da cultura gostaria de abordar, já que considerei a cultura ligadas às manifestações artísticas e aos hábitos de uma comunidade, decidi propor possibilidades de diálogo e troca de experiências sobre o espaço a partir de oficinas de cartografia. A cartografia é um pretexto para pensar a cidade e pensar o bairro onde se vive. Pela cartografia, podemos pensar coletivamente elementos que compõem o território e que de alguma maneira influenciam a construção de nossa identidade. Onde estou na cidade de São Paulo? O que era este lugar antes de chegarmos aqui? Por que viemos morar aqui? Quem mais veio morar aqui? O que aconteceu com a paisagem depois que chegamos? Estas e outras questões permeiam o processo de construção de uma cartografia que será construída pelos participantes durante as atividades. 101
“Compreender a formação de jovens como meio para fortalecer o sentido de pertencimento ao mundo público e o compromisso com o bem coletivo é abrir a formação das juventudes para questões e problemáticas do contexto histórico presente e para o envolvimento direto dos jovens com problemáticas das regiões onde moram, de modo que questões individuais sejam implicadas com a vida urbana. Nessa perspectiva, a atuação com jovens abandonaria finalidades e objetivos concentrados em um “ideal remoto de futuro e sujeito” para aspirar produções sócias e transformações subjetivas de jovens no tempo presente de suas vidas.” (Wagner Santos, 2016 in Niggaz – Graffiti, Memória e Juventude, 128, 2016)
As oficinas A elaboração do projeto de oficinas de mapeamento e cartografia teve início com a reflexão sobre os movimentos de cultura no Grajaú, por isso, inicialmente, foi pensada para ser aplicada no bairro, entretanto, as seguintes atividades podem ser desenvolvidas com um grupo de pessoas (os vivenciadores do bairro) em qualquer contexto urbano periférico, pois tem como objetivo principal promover a reflexão sobre o próprio bairro a partir de uma perspectiva afetiva e simbólica. O projeto busca também abordar aspectos do cotidiano por meio da participação e da troca de experiências, estimulando questionamentos sobre a vida urbana na periferia de São Paulo, além de trabalhar recursos da linguagem cartográfica para a interpretação do espaço. Para tanto, será proposto um mapeamento coletivo, que consistirá no desenvolvimento de algumas atividades conectadas entre si e que tem a 102
intenção de provocar as pessoas a pensarem sua presença e sua perspectiva do território. Algumas atividades foram extraídas de trabalhos de grupos que desenvolvem dinâmicas de mapeamento e diagnóstico urbano com a perspectiva da participação. Durante o processo, serão apresentadas referências escritas e audiovisuais que tratem sobre a temática abordada, servindo como material de apoio didático.
Realização das oficinas Etapa 1 O projeto das oficinas será proposto em uma escola da rede pública de ensino, com a intenção de aplicar as atividades a um mesmo grupo de alunos para que haja continuidade no processo pedagógico. Será apresentado o programa contendo a proposta de cada atividade, seus objetivos e temas a serem abordados, o que se espera como resultado e possibilidades de exposição do material gerado. Caso a oficina seja aplicada em outros locais, será elaborado um cartaz de divulgação que contenha a temática do trabalho, uma breve explicação sobre o tema, quem pode participar (esclarecer que não há prérequisitos), data, horário e local. O cartaz será exposto em espaços públicos, próximo a escolas, em espaços culturais, em pontos de ônibus, postes e outros locais. Quanto à divulgação online, será criada uma página no Facebook para chamar as pessoas e ser um canal de comunicação e acompanhamento do trabalho. Lugares possíveis: Escolas da rede pública, centros culturais e instituições com projetos educativos. 103
Etapa 2 O início de cada dia de atividade será marcado por uma dinâmica de grupo para despertar a atenção do corpo e da mente e animar o grupo (ARES e RISLER, 2013). As atividades terão início com uma explicação de seus objetivos para que os participantes compreendam o que estão fazendo e o que representam no processo, reforçando o caráter reflexivo e interativo do trabalho. Ao fim das atividades, os participantes serão perguntados sobre o que acharam do processo e questionados sobre críticas e sugestões de melhora para que as pessoas se sintam mais envolvidas e estimuladas a participar. Quanto ao registro do trabalho, todo o processo será fotografado e, quando possível, haverá gravações, anotações de comentários, dúvidas e reflexões em um mural como memória do processo. Ao final de cada atividade, será montado um varal expositivo dos trabalhos e no início de cada dia de oficina o assunto da atividade anterior será retomado para conectá-lo ao seguinte por meio da “lição de casa”, proposta de atividade existente em cada oficina, que propõe a continuidade da atividade trabalhada em grupo. Os participantes também serão estimulados a falarem e escreverem relatos sobre o que acham do processo ou mesmo a produzirem desenhos, fotografias ou outras manifestações, ao longo da semana. A proposta das oficinas poderá ser alterada ou complementada de acordo com seu desenvolvimento junto aos alunos, este processo será continuamente analisado pelos participantes responsáveis. Faremos uma roda a cada final de oficina para conversarmos sobre as impressões do grupo, sugestões e o que construímos juntos. 104
Oficina-piloto: Cartografia do Grajaú. Foto da autora, 2016.
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Proposta de atividades -Identidade: Cartografia das origens e Árvore genealógica Etapa 1 Esta atividade foi extraída do trabalho Cartografias da Memória, do coletivo Margens Clínicas. A ideia é construir uma árvore genealógica a partir do desenho dos traços do rosto de cada um. Nesta atividade, cada pessoa irá tatear o próprio rosto e desenhar a si mesma em uma folha de sulfite. Feito o desenho, cada um irá demarcar na própria folha de onde acha que vieram os traços de seu rosto: a forma do nariz, o tamanho dos olhos, a cor da pele. Os participantes serão estimulados a refletir sobre: Quais as origens dos meus traços? Eu ou meus colegas somos tratados de maneiras diferentes pelos traços que temos? Por quê? Essa é uma questão individual ou deve ser tratada coletivamente? Após a execução dos desenhos-mapa faremos uma conversa sobre identidade e a construção histórica e social do Brasil. “Se somos nossa história, permitir sua expressão é caminhar no sentido de sustentarmos socialmente as diferentes possibilidades de ser. E assim, discutir ou fortalecer laços que sustentem diferentes pontos de vista, afetações, opiniões, multiplicidade essa que é própria da condição humana.” (Cartografias da Memória, coletivo Margens Clínicas, 2016, 62)
Etapa 2 Esta parte da atividade se propõe à construção de uma árvore genealógica pessoal e do traçado das origens do Grajaú em um mapa do Brasil. Nesta atividade cada participante irá preencher sua árvore genealógica, 106
destacando os nomes dos parentes e os lugares de onde vieram, a ideia é tentar relembrar as origens da própria família. Cada um falará sobre sua árvore genealógica, sinalizando os lugares de origem e comentando o que quiserem sobre a sua história. Os participantes mais velhos serão estimulados a falarem sobre a paisagem do bairro no período em que chegaram, para falarmos sobre as transformações da paisagem que acompanharam a chegada das pessoas. Haverá um esboço do mapa do Brasil, para que os participantes sinalizem com alfinetes e linhas, os locais onde nasceram e de onde vieram seus antepassados. Esta atividade se propõe a observar o histórico de formação do bairro, com base na história das pessoas. Além disso, busca refletir o quanto cada um sabe sobre a própria história, de modo que a reflexão sobre a própria identidade se conecte a reflexão sobre a identidade do bairro. Ao final da construção do mapa, faremos uma conversa sobre os elementos da cultura desses lugares que estão presentes no cotidiano dos participantes, como músicas, comidas, roupas, palavras. Materiais: -folhas de sulfite -mapa do Brasil com a divisão dos estados - árvores genealógicas - marcadores: lápis, canetas, alfinetes ou pregos, linhas coloridas de tricô ou crochê - fita adesiva - varal de barbante para exposição das árvores e prendedores
Lição de casa Os participantes
tentarão 107
conseguir
as
informações que não souberem de suas árvores genealógicas conversando com outros parentes. As datas são importantes, pois nos fornecerão uma dimensão temporal sobre a formação do Grajaú. Além disso, trarão acontecimentos ou personagens importantes para o bairro (exemplos: inauguração do terminal de ônibus, construção de uma ponte), que podem estar representados em frases, desenhos, fotografias, etc, para compor a linha do tempo que faremos a partir das datas. As árvores genealógicas também estarão expostas em um ‘varal da genealogia’. Materiais: -mural com a linha do tempo -marcadores: lápis, canetas, post its -informações
-Representatividade: A imagem do Grajaú Os participantes serão estimulados a falar sobre experiências pessoais e a refletir sobre as seguintes questões: O que as pessoas dizem ou esboçam quando eu digo que moro no Grajaú? O que eu já escutei sobre o bairro? Que tipo de informações sobre o bairro tem visibilidade? Por que a mídia convencional apresenta somente este tipo de informação? Estas questões estarão em um mural para serem recordadas pelos alunos durante o trabalho. Nesta atividade, haverá notícias impressas sobre o Grajaú veiculadas pela televisão, revistas e jornais, para que os participantes reunidos em grupos, escolham algumas e discutam sobre os temas predominantes entre elas. Os alunos poderão fazer buscas na internet e citar notícias que escutam de vizinhos ou em rodas de conversas para complementar a discussão. O grupo montará um mural 108
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que servirá como base para discutir a representatividade do Grajaú e as possíveis razões para que sua apresentação midiática seja tal como é. Em seguida, a proposta é conversar sobre a visão que os próprios vivenciadores tem do bairro. Nesta etapa, os participantes irão compor um mapa afetivo a partir de elementos que lhes sejam simbólicos no bairro. As seguintes perguntas nortearão a reflexão: O que me vem à mente quando penso no meu bairro? Minha visão sobre o bairro é a mesma desde sempre? Por quê? O que é importante para mim no meu bairro? O que é marcante para mim na paisagem? A ideia é que cada um reflita, escreva ou desenhe elementos que representem para si o bairro onde moram. Os participantes terão um tempo individual para refletir sobre estas questões. Logo em seguida, reunidos em grupo, irão compartilhar e montar um mural afetivo do bairro a partir de suas reflexões. Os recursos para montagem do mural poderão ser escritos, fotografias, recortes de revistas, desenhos, post-its, graffitis, pichações, o que quiserem. Ao final desta etapa, os grupos apresentarão seus trabalhos e faremos uma discussão coletiva sobre as perspectivas das pessoas sobre o bairro e quais outros aspectos podem construir a representatividade do Grajaú diferentes dos apresentados pela mídia convencional, como a diversidade cultural, os músicos, o graffiti, a paisagem e experiências afetivas no espaço. O mural estará aberto a intervenções de qualquer pessoa. Ao final desta etapa, serão apresentados mapeamentos, vídeos, coletivos, fotografias, entre outras referências que apresentem o Grajaú a partir de aspectos culturais, artísticos, paisagísticos, entre outros. O objetivo 110
é estimular a crítica sobre as informações que constroem a representatividade do bairro e a possibilidade de pensar o lugar a partir de outras perspectivas. Lição de casa: Os participantes terão a incumbência de perguntar a uma ou mais pessoas de fora do bairro o que lhes vem à mente quando ouvem falar do Grajaú, além disso, poderão levantar notícias ou mais comentários da mídia convencional para complementar o mural de frases. Os participantes perguntarão também a uma pessoa do bairro, o que sentem ou pensam sobre o Grajaú e estarão livres para fazerem registros escritos, desenhos, áudios ou vídeos, para complementar o mural afetivo. Materiais: -papeis para murais -fotografia aérea (impressa ou projetada) para nos localizarmos no território -revistas, jornais e outros suportes para recortes -tesoura, cola -marcadores: lápis, post-its, canetas hidrocores, lápis de cor, canetas, alfinetes -fita adesiva
- Linguagem cartográfica e reconhecimento dos espaços cotidianos 1ª etapa Esta atividade consiste na proposta de um mapeamento coletivo do território a partir de aspectos que fazem parte do cotidiano dos participantes. Inicialmente, será feita uma aproximação cartográfica do Grajaú, com a apresentação de mapas 111
com informações sobre a rede hidrográfica, topográfica, o uso e a ocupação do solo, distribuição de equipamentos culturais, entre outros. Esta aproximação inicial tem o objetivo trabalhar a interpretação da linguagem de mapas, uma representação nem sempre acessível à compreensão de todos, refletir sobre as informações dos mapas e discutir outras possibilidades de representação. Questionaremos que outros tipos de mapeamentos poderiam ser feitos, a partir de uma leitura mais humanizada que aborde aspectos do cotidiano na cidade. Serão expostos mapas que tragam outras abordagens do território, mapas feitos pelas pessoas, sinalizando o potencial de cada um como vivenciador da cidade em transmitir suas próprias impressões sobre o espaço. Discutiremos a ideia de mapeamento, demonstrando que um mapeamento não necessariamente precisa transmitir informações georreferenciadas, dados estatísticos ou aspectos morfológicos do território, mas pode ser a representação de diversos outros aspectos a partir de diferentes perspectivas. As referências serão: um mapa participativo feito pelo coletivo Cartografias On Line, para observarmos exemplos de representações cartográficas afetivas; mapeamentos coletivos realizados nos trabalhos do Col.lectiu Punt 6, com o objetivo de visualizar métodos participativos de investigação e registro do território urbano; e mapeamentos dos aspectos culturais do Grajaú realizados pelo SESC Santo Amaro e pelo coletivo Periferia em Movimento. De modo geral, esta etapa visa apresentar outras possibilidades de representações cartográficas e temas a serem abordados sobre o bairro em um mapeamento.
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Col.lectiu Punt 6. Fonte: http://www.punt6.org/. Consultado em: 30/11/2016.
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2ª etapa Esta atividade tem o objetivo de refletir sobre as experiências, trajetos e hábitos cotidianos individuais. Os participantes serão estimulados com as seguintes questões: Quais os meus trajetos diários? Como são as ruas por onde passo? Quais são os estabelecimentos que costumo frequentar? Falo com algumas pessoas ao longo do meu dia? Tenho necessidades não atendidas quando estou no espaço público ou sinto algum incômodo? Como me sinto ao caminhar pelos lugares? Para onde vou quando quero descansar ou fazer alguma atividade de lazer? “A cadeia de itinerários cotidianos serve para reconhecer, descrever e dar valor a todas as nossas tarefas diárias, detectar as que nos criam relações de dependência, explicar como são os deslocamentos para fazer com que elas aconteçam e para distinguir as características dos espaços onde as realizamos” (Col.lectou Punt 6, 2014, 40).
Nesta atividade, os participantes montarão uma tabela de suas atividades cotidianas, estes dados irão contribuir para a reflexão dos usos dos espaços públicos na cidade. Primeiramente, cada aluno fará uma lista das atividades que realizam e seus respectivos horários, em seguida, anotarão as pessoas com quem se relacionam durante estas tarefas, como se locomovem para chegar até elas (a pé, ônibus, bicicleta) e os espaços por onde passam (ruas, vielas, praças, equipamentos). Após a montagem da tabela, os participantes receberão individualmente um mapa do bairro, no qual demarcarão suas casas, seus trajetos, espaços por onde passam diariamente, e quaisquer comentários sobre suas percepções do lugar e sensações que tem nos espaços 114
cotidianos, tendo como referência as informações da tabela. Neste mapa, os participantes irão refletir sobre a qualidade dos espaços por onde circulam, podem escrever frases ou palavras que expressem suas perspectivas sobre o lugar, sensações quando estão na rua, necessidades e lugares que gostam e que não gostam. Será importante registrar as diferentes atividades, classificando-as entre zonas de descanso, locais de encontro, comércios, equipamentos de saúde, educação, esporte, entre outros aspectos, para tentarmos observar as diversas camadas que compõem o território. Os meios de locomoção também devem ser recordados e registrados, mensurando a qualidade de sua utilização no bairro para uma reflexão sobre a mobilidade. Como mencionado, é de fundamental importância que as pessoas descrevam o modo como se sentem no espaço público, já que a ideia é construir uma cartografia do cotidiano, de dimensões que em geral não são visibilizadas. Em seguida, faremos uma conversa para que cada um exponha um pouco do que registrou no trabalho e montaremos coletivamente um único mapa contendo todas as informações expressas pelo grupo, gerando um mapa com informações qualitativas relacionadas às experiências cotidianas no espaço urbano. Vamos discutir como a cidade se apresenta para as atividades e necessidades cotidianas das pessoas que vivem na periferia e quais são os grupos de pessoas favorecidos em relação ao bem estar no espaço público e por quê. A atividade é uma referência extraída da publicação Mujeres Trabajando- Guía de reconocimiento urbano con perspectiva de género, publicação do Col. lectiu Punt 6, um coletivo de mulheres em Barcelona que trabalha com urbanismo a partir da perspectiva de gênero.
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Lição de casa Após a discussão sobre as atividades e os espaços do cotidiano, faremos um caderno (com folhas de sulfite, a folha do mapa individual já como registro e capa de papelão) que servirá como um diário de relatos. Neste diário, os alunos registrarão suas experiências cotidianas na cidade: lugares por onde passam, situações que vivenciam na rua ou no transporte, lugares que gostam e que não gostam, pessoas com quem falam. O objetivo é estimular a reflexão e o registro do cotidiano. Os alunos levarão seus cadernos para casa e terão a tarefa de fazer registros durante a semana. Os registros podem ser anotações escritas, desenhos, esboços de mapas, colagens, etc. Os registros serão discutidos no encontro seguinte. A ideia é que tomem o caderno como um objeto de registro pessoal e ao final do processo das oficinas apresentem uns aos outros. Materiais: -sequência de itinerários cotidianos -mapa do bairro: um para cada participante -mapa grande do setor a trabalhar: um para a oficina -marcadores coloridos, adesivos e post-its
- Observação direta do espaço público – Saída, registro e mapeamento O objetivo desta atividade é observar o espaço em uma saída coletiva tendo em mente as reflexões feitas durante o mapeamento das atividades cotidianas, observar elementos para complementar o mapa elaborado, captar o que lhes chame a atenção e refletir sobre possibilidades de intervenções no espaço. Cada um terá consigo um mapa do espaço que pode ou não ser utilizado para a anotação 116
de comentários e um breve roteiro com algumas perguntas guia. Como possibilidades de registros, sugerem-se a observação e captação de comentários, sons, sensações, cenas, objetos, topografia, escrevendo, desenhando ou fotografando. Estes registros irão compor um mural. Os participantes também serão estimulados a falar com os vizinhos sobre suas memórias, aspectos marcantes da rua, se gostam do bairro, do que não gostam, por que. De volta ao espaço da oficina, vamos nos reunir para falar sobre as principais impressões do grupo, traçaremos os percursos feitos e adicionaremos novas informações ao mapa coletivo. Lição de casa Os participantes irão selecionar algumas fotografias e desenhos feitos durante a saída para que na atividade seguinte montemos um mural fotográfico do percurso. A ideia do esboço do trajeto e da colagem de fotos e desenhos é a construção de um relato visual da deriva, que faz parte de um processo de reflexão sobre o espaço. -Somos todos arquitetos: observação e intervenção no espaço público Durante a saída, os participantes serão estimulados a pensarem sobre possibilidades de intervenções no espaço e demarcar estes lugares nos mapas. A partir dos aspectos levantados, trabalharemos possibilidades de intervenção no espaço público, considerando: as necessidades observadas; recursos disponíveis para atuação; a opinião dos vizinhos; articulação com coletivos no bairro que fazem intervenções no espaço público; e tempo. A possibilidade de intervir coletivamente no espaço público parte da 117
proposta de repensar nossa atuação e nosso papel perante a cidade e o direito a ela. A partir do cruzamento das informações do mapeamento individual, sobre o que gostam e o que não gostam em seus trajetos cotidianos, e os locais de possível intervenção, identificados durante a saída, pensaremos em propostas que poderiam marcar e/ou melhorar estes espaços, conversaremos com os vizinhos sobre o que acham das propostas e nos organizaremos para a ação coletiva. Sugestões de intervenção: colagens de desenhos, mapas, fotografias (postais do Grajaú), frases e lambes, murais com papeis coloridos, inserção de plantas e montagem de jardins, tecidos nos postes, bancos, estantes de livros, pic nic, comes e bebes, música, tinta azul pelos córregos tamponados do bairro a partir de mapa hidrográfico e memória dos moradores, colagem de mapas do território para que as pessoas escrevam o que sentem no lugar, espaços que conheçam, algum aspecto que queiram sinalizar, por exemplo: um graffiti em uma parede, uma praça, zonas de descanso. Os exemplos mencionados são apenas sugestões. - Construção do território – Maquete física A construção de uma maquete é um instrumento didático de estudo do território e de linguagens da cartografia. Sua elaboração e montagem envolvem o contato com alguns conceitos e linguagens (escala, curvas de nível, arruamentos, materiais) utilizados principalmente pela Geografia e pela Arquitetura e Urbanismo. Feita por camadas, a maquete pode ser uma representação física e/ou simbólica do bairro, apresentando elementos 118
como: topografia, hidrografia, vegetação, arruamentos, construções, infraestruturas, etc. Podem ser destacados na maquete equipamentos públicos como as escolas, centros culturais, hospitais, a infraestrutura de mobilidade, como a rede viária de carros, linhas de trem, terminais de ônibus, avenidas principais, entre outros. Desta forma, decidiremos coletivamente o que queremos transmitir pela maquete, como vamos fazê-la e quais materiais serão empregados. Dentro de uma abordagem ambiental, teremos como proposta a construção da maquete com materiais de resíduo e com materiais que temos em casa (papelão, linhas, papeis coloridos). As reflexões feitas durante as oficinas de cartografia serão relembradas para pensarmos o território que vamos entender e construir fisicamente. A maquete será um instrumento para discussões sobre o território. A questão da utilização de materiais de resíduo para a construção da maquete, servirá como ponto de partida para tratar sobre a inserção do Grajaú em área de mananciais e a questão ambiental em São Paulo. Falaremos sobre as características naturais do bairro, as transformações no espaço ao longo do tempo e as atividades econômicas e de lazer da região, pela presença dos elementos naturais na paisagem, como a pesca, o turismo ecológico, esportes aquáticos, a agricultura e a própria coleta seletiva. Tratando-se dos temas mencionados acima, propomos a organização de passeios a lugares como: o SESC Interlagos, que possui um programa didático de atividades relacionadas ao meio ambiente; a Casa Ecoativa, que possui diversos nichos de atuação relacionados à cultura e à permacultura; a produtores orgânicos da região, para falar 119
sobre a agricultura orgânica, agrotóxicos e alimentação; a cooperativas de materiais recicláveis, para apresentar seu trabalho e falar sobre a geração do que chamamos de ‘lixo’ e suas consequências ambientais e sanitárias; e a espaços culturais, para que s participantes tomem contato ou mesmo nos apresentem os lugares onde acontecem as atividades artísticas e culturais do bairro. A ideia das visitas é promover o reconhecimento do território e suas atividades potenciais, já que se trata de área de manancial, refletir sobre temas como a alimentação, a geração de resíduos e a poluição ambiental e analisar como a cidade se relaciona com estas questões.
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Bibliografia FONSECA, Cacá. Cartografia em jogo: artifícios para uma construção metodológica. Bahia: Redobra nº 9 ano 3, 2012. ARES, Pablo e RISLER, Julia. Manual de mapeo colectivo: recursos cartográficos críticos para processor territoriales de creación colaborativa. 1 ª ed. Buenos Aires: Tinta Limón, 2013. CASANOVAS, Roser; CIOCOLETTO, Adriana; ESCARLANTE, Sara; MUXÍ, Zaida; SALINAS, Marta; VALDÍVIA, Blanca [Col.lectiu Punt 6]. Mujeres Trabajando- Guía de reconocimiento urbano con perspectiva de género. Barcelona: Comanegra, 2014. TURRIANI, Anna; URBANO, Gabriela; LEMOS, Isabela; VAZ, Anita; VILALTA, Lucas [Coletivo Margens Clínicas]. Cartografias da Memória. São Paulo: Margens Clínicas, 2016. FRAGA, Javier; GIMBER, Suzana; LÓPEZ, Carlos; DE LA RIVA Martínez; ZANDIGIACOMI, Lucia [Raons Publiques]. Participación ciudadana en proyectos de transformación urbaban. Barcelona, 2013. LEIRIAS, Gabirela. Descartógrafos/ Recartógrafos. [ Cartografias On Line]. Disponível em: https://cartografiasonline.wordpress. com/2011/10/20/descartografos-recartografos/. Consultado em: 15/11/2016. Periódicos Online Periferia em Movimento – Grajaú, território de artistas. Disponível em: http://periferiaemmovimento.com.br/grajauterritorio-de-artistas/. Consultado em: 15/11/2016. Vitruvius - Breve histórico da Internacional Situacionistas (IS). Disponível em: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/ arquitextos/03.035/696. Consultado em: 07/09/2016.
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Publicações Institucionais Publicação do SESC Santo Amaro, relatório técnico “Santo Amaro em Rede – Culturas de Convivência”, 2015. Disponível em: http://www.mostrasescdeartes.com.br/stoamaroemrede/. Consultado em 02/04/2016. Vídeos Documentário desenvolvido pelos alunos da EMEF Padre José Pegoraro coordenado pelo Professor Carlos Amorim em parceria com Design For Change Brasil .Grajaú, onde minha história começa. Disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=KWiNpp1yfOw&index=1&list=WL. Consultado em: 08/09/2016. Luta do Transporte no Extremo Sul. Terminal Grajaú: Humilhação coletiva. Disponível em: https://www.youtube. com/watch?v=cuXKJvLHUgM. Consultado em: 08/09/2016. Monogaleria, por João Cláudio de Sena. Grajaú, onde São Paulo começa. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=KuxVrY3FeDY. Consultado em: 08/09/2016. Periferia em Movimento e participantes da oficina Multimídia no Centro Cultural do Grajaú. Grajaú, território de artistas. Disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=yTFgsj6QnZA. Consultado em: 08/09/2016.
Mapa do Grajaú. Fonte: CESAD.
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Cartografia do Grajaú Oficina piloto
Oficina-piloto - I Mostra Cultural Adrião Escola Aberta A Mostra Cultural na E.E. Adrião Bernardes, que aconteceu no dia 22 de outubro de 2016, recebeu diversas oficinas que aconteceram simultaneamente em salas diferentes. Além da Cartografia do Grajaú, houve atividade de música, expressão corporal, capoeira, tintura ecológica, entre outros. Devido às diversas opções de oficinas, houve intenso trânsito de alunos durante o período, de modo que em alguns momentos a sala teve mais participantes e em outros, menos. Entre os participantes havia alguns professores, funcionários e, principalmente, alunos. A oficina de Cartografia do Grajaú, dividida em três etapas, foi um trabalho conjunto entre Flávia Massimeti, a professora Karina Leitão e eu, Marla Rodrigues, sob a orientação do professor Jorjge Bassani, e teve como proposta a realização de uma aproximação cartográfica e a investigação da identidade dos moradores da região da Ilha do Bororé pela construção de um trabalho coletivo. A segunda atividade faz parte do Trabalho Final de Graduação da Flávia e a terceira, está direcionada para o meu. Inicialmente, as duas últimas partes da oficina, de caráteres diferentes, seriam realizadas simultaneamente, pois imaginamos que ambas tomariam bastante tempo e que não seria possível concluí-las. Entretanto, foi possível realizá-las em momentos separados, de modo que quem quis pode participar das duas. Participação A oficina foi realizada durante a Mostra Cultural Adrião Escola Aberta. Neste dia, a escola recebeu diversas oficinas que aconteceram simultaneamente, houve 126
grande rotatividade de pessoas entre uma sala e outra, de modo que algumas apenas entravam para saber do que falava a oficina e outras ficavam a participavam. No início foi necessário chamarmos pela escola pessoas que quisessem paricipar. Por se tratar de uma oficina-piloto acontecendo em uma mostra cultural, não havia espaço para uma pré-apresentação sobre a proposta da oficina e tampouco, o tempo para a continuidade da atividade. A partir desta experiência, reafirmamos a necessidade do desenvolvimento de um trabalho com uma proposta pedagógica de caráter contínuo vinculado a uma instituição educacional. Primeiramente, se apresenta o projeto aos gestores da escola para consultar a dosponibilidade em receber o trabalho, posteriormente, aos professores, para que, além de saberem qual a proposta do projeto, pensem na possibilidade de unir o conteúdo do projeto ao trabalho que já realizam em sala de aula, e logo em seguido realizar uma apresentação geral aos alunos, chamando aqueles que tenham interesse em participar. Quanto ao número de participantes, entendemos também, que não é possível propor a oficina para um número específico de pessoas, pois a participação acontece na medida em que as pessoas tem interesse. Porém, a falta de interesse precisa ser tratada como uma informação e adotada como base para outras estratégias de atuação. A predominância de pré-adolescentes e adolescentes nas atividades sinaliza a ausência de adultos, mais especificamente dos pais dos alunos e dos vizinhos, sendo que a escola estava aberta neste dia à presença da comunidade. Este dado pode sinalizar algumas questões referentes à: divulgação do evento e ao modo como a escola é vista pelos pais e pelas pessoas de modo geral. Como foi feita a divulgação da Mostra Adrião Escola Aberta? 127
Em quais canais de comunicação? Os pais e os vizinhos participam destes canais ou espaços onde aconteceu a divulgação? Como o evento foi apresentado? Caso a ausência dos pais e de outras pessoas da comunidade na oficina não se deva unicamente à divulgação, por que essas pessoas não apareceram? A maioria estava trabalhando no sábado? Ou podemos nos questionar sobre o modo como a escola é entendida e está presente na sociedade? E não unicamente naquele bairro, mas como uma expressão generalizada do modo como a escola tem sido compreendida e tratada pelo Estado. Sinalizo todas estas questões com a intenção de pensar criticamente fatores que podem expressar significados de maior dimensão e como podemos enfrentar os problemas de modo que sirvam para a elaboração de estratégias de mudanças. Atividade 1 – Localização no território Proposta Esta primeira parte tem o objetivo propor uma aproximação ao mapa da região e criar um momento de apresentação dos participantes. A atividade consiste na localização por cada participante do lugar onde mora em uma imagem aérea do bairro. Procedimento Na primeira atividade, cada participante localizou o lugar onde mora na foto aérea da região, demarcando o local com o próprio nome escrito em um post it. Inicialmente, encontramos um pouco de dificuldade em localizar os espaços, por isso a escola onde estávamos foi demarcada para que servisse como referência na ilha.
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Participantes Participaram da oficina principalmente alunos, dois professores e uma funcionária da escola. Ao todo foram mais ou menos 20 participantes, a maioria préadolescentes. Tempo de duração 30 minutos. O processo Como mencionado, a princípio foi necessário sair pela escola chamando alguns alunos. Para dar início à atividade nos apresentamos e explicamos o que faríamos nas etapas seguintes. A maior parte dos alunos foi receptiva para participar da atividade e interagiram entre si reconhecendo espaços, ruas e avenidas. Logo de início houve dificuldade em se localizar no território, por isso demarcamos o colégio onde estávamos e a balsa para que servissem como referência. Durante a atividade seguinte, novas pessoas adicionaram seus nomes ao mapa. Quase todos aqueles que chegavam durante a atividade seguinte se interessavam em localizar o lugar onde moram. Conclusão da atividade Na elaboração do material para a oficina, supomos que alguns estudantes morassem na área mais adensada próxima à balsa (Jd. Noronha, Jd. São Pedro e Jd. Ellus), por isso, na imagem aérea abarcamos uma parte da ilha e uma parte dessa região. Entretanto, quase todos os estudantes que participaram da oficina moram na ilha, por isso constatamos que a imagem aérea deveria ter abrangido principalmente o território da Ilha do Bororé. Os professores, Camila e Ubiratã, e a funcionária Dona Ivanilda, 130
que participaram, moram todos fora da ilha. Apesar de suas casas não aparecerem na imagem, percebemos que este fato estimulou os participantes a discutirem mais sobre o mapa, buscando localizar os bairros, as ruas e a direção de suas casas, pela localização de referências na paisagem, como uma determinada rotatória ou a vista que possuem de um bairro. O processo foi de grande aprendizado para nós, pois conhecemos o território a partir da perspectiva daqueles que vivenciam o lugar. Também aprendemos sobre o desenvolvimento da atividade, pois entendemos que já ter conhecido algumas referências do bairro contribuiria para um diálogo com maior compreensão do que diziam os participantes. Atividade 2 – Cartografia do lugar Proposta Nesta atividade, os participantes farão uma leitura do território onde vivem pelo mapeamento dos espaços que utilizam em suas atividades cotidianas. A identificação dos espaços vai acontecer pela colagem de pictogramas que identificarão os espaços entre: esportes, praças, cultura, comércio, religião, festas e pontos de encontro. Além disso, os participantes classificarão os lugares entre muito, pouco e regularmente utilizados e falarão de espaços que gostariam que existissem no lugar onde vivem. A proposta tem o objetivo de promover o debate e a reflexão sobre o direito à cidade, o território do próprio bairro e a cidade que desejam. Procedimento Para a realização desta atividade, colamos um mapa da região contendo as ruas e avenidas, utilizando a 131
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mesma escala da imagem aérea para que os participantes se localizassem melhor. Foram organizados pictogramas para cada tema e uma legenda destes para a identificação dos espaços e proposição dos desejos. Utilizamos três cores de giz de cera para a identificação da regularidade do uso dos espaços. Participantes Nesta atividade, assim como na anterior, houve rotatividade entre os participantes, de modo que houve variado número de pessoas em diferentes momentos. Participaram aproximadamente 20 pessoas no total. Tempo de duração 1h. O processo A leitura do território se deu pela fala dos alunos divida pelos temas: esportes, praças, cultura, comércio, religião, festas e pontos de encontro. Os alunos sinalizavam os lugares que costumam frequentar, como mercados e casas de parentes, por meio dos pictogramas, debatemos se estes espaços eram suficientes e por quem eram utilizados alguns deles, identificando as diferenças de gênero e idade no uso dos espaços. Além disso, discutimos o que eles consideravam ser o direito à cidade, o que pensavam do lugar onde moram e se gostariam que houvesse outros espaços no bairro. Diagnóstico Durante o diagnóstico coletivo, anotamos os comentários ditos pelos participantes. Destacamos algumas necessidades mencionadas em diversas falas: 133
- Infraestrutura de transporte capilarizada no interior da ilha, passando pelas ruas que entram nos bairros e não apenas na avenida principal; -Qualificação do serviço da balsa, que sofre diversas avarias e atrasos de uma hora ou mais, devido à, por exemplo, moitas no trajeto da balsa trazidas pelo vento.; - Estruturas de lazer e esporte, como praças, já que a única prática de esporte é o futebol (quase unicamente praticado pelos menino) e a opção de atividade noturna, um barzinho na ilha citado pelos jovens; - Comércios mais diversificados na ilha, como açougue, farmácia, mercadinhos, já que para fazer compras de mercado, por exemplo, as pessoas precisam se distanciar bastante do lugar onde moram, chegando a ter que atravessar a balsa. Comentários “Muitas pessoas vivem da pesca.” “A minha casa é rodeada de mato.” “A rua já é parque.” “Somos esquecidos.” “O centro deveria ser tudo.” “Aqui vemos sagui, cobra, tucano...” “A Casa Ecoativa é tudo.” “Aqui sempre tem gente nova.” “As opções de cinema mais próximas estão em Interlagos.” “Minha mãe não me deixa brincar na rua.” “Sempre tem gente nova aqui.” “Atravessamos a balsa para ir a um mercado maior.” “Falta iluminação pública, mais ônibus, wifi dentro dos ônibus, segurança.” “Devia ter mais praças.” “Festa tem do outro lado da balsa.”
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“- O que tem muito na Ilha do Bororé? - Nada!” “-Faltam açougues, farmácias, mercadinhos...”
Conclusão da atividade A imagem aérea utilizada para a leitura do bairro foi a mesma base cartográfica onde cada um sinalizou o lugar onde mora. Os alunos já estavam familiarizados com esta linguagem de representação e podiam visualizar elementos da paisagem que não aparecem no mapa que apresenta apenas as ruas e a represa Billings. Deste modo, concluímos que para uma aproximação inicial do território, a fotografia aérea é o instrumento mais acessível de discussão e visualização do território. Para uma leitura mais detalhada do território, identificando a localização dos espaços mais especificamente, seria necessário um mapa com uma escala maior, para que os lotes e ruas aparecessem. Nesta atividade, a escala estava adequada, pois pudemos fazer um diagnóstico geral da percepção das pessoas sobre os espaços de uso cotidiano na região. Mencionamos esta constatação, pois a realização da oficina-piloto foi útil para a remodelação do projeto de oficinas, neste caso no que diz respeito à escala de abordagem. Inicialmente, haveria a proposição de uma atividade em que os alunos sinalizassem em um mapa do Grajaú espaços que fossem simbólicos para eles, entretanto, a proposta estava equivocada, já que a escala cotidiana dos espaços de convivência diz respeito aos bairros, a regiões menos extensas, sendo que o Grajaú possui a dimensão territorial de um distrito.
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Atividade 3 – Árvore genealógica e identidade Proposta Esta terceira atividade tem como objetivo identificar as origens das pessoas que moram no Grajaú, no caso na Ilha do Bororé, a partir da construção de uma árvore genealógica por cada participante. A árvore busca estimular o questionamento sobre o quanto sabemos de nossa própria história e com isso, reforçar o valor à própria identidade, enquanto a montagem do mapa, tenta expressar graficamente quem são as famílias que formam o bairro, neste caso a Ilha do Bororé, suas trajetórias e busca trabalhar com os alunos a questão da identidade do bairr, além de criar alguma aproximação com o mapa do Brasil. Procedimento Exlpicamos aos alunos a proposta da atividade em montar um mapa das origens das pessoas do bairro, pelo preenchimento de uma árvore genealógica. Desenhamos a árvore na lousa e explicamos passo a passo como preenchê-la. Como foram chegando algumas pessoas durante a atividade, explicamos também individualmente como funcionavam a árvore e o mapa. Esclarecemos o que era a árvore genealógica e como ela deveria ser preenchida. O desenho da árvore genealógica não especificava onde deveriam estar os dados do pai ou da mãe, por exemplo, pois consideramos que nem todas as pessoas foram criadas ou tem informações de algum membro da família, de modo que não queríamos criar nenhum tipo de constrangimento. Para o preenchimento do mapa do Brasil, escrevemos uma legenda na lousa referente ao significado de cada cor de alfinete. Montamos também um cartaz 137
com algumas perguntas que estimulassem o caráter questionador da atividade sobre o quanto sabemos sobre nossas origens. Na lousa, foi colado um mural com algumas perguntas que estimulassem o questionamento dos alunos sobre o que sabiam de suas famílias: “O que você sabe sobre seus antepassados?”, “De onde veio a sua avó materna?”, “Qual o nome do seu bisavô paterno?”, “Quando a sua família chegou em São Paulo?”. Participantes Participaram da oficina nove pessoas, a maioria deles eram pré-adolescentes entre 10 e 15 anos de idade. Posteriormente, algumas outras quiseram preencher a árvore e colocar suas infromações no mapa, totalizando mais ou menos 14 pessoas. Tempo de duração 40 minutos. O processo Nesta terceira parte da oficina, chamamos pessoas pela escola e pedimos aos alunos que já estavam participando que continuassem somente para finalizar o processo. Alguns alunos continuaram, outros, foram participar de outras oficinas devido ao já mencionado caráter simultâneo em que elas aconteceram, ressaltamos também que a primeira parte já havia durado mais ou menos 1h40. Sentados em círculo, os alunos receberam as orientações sobre como funciona uma árvore genealógica. Após o preenchimento inidivual da árvore, cada aluno sinalizou o lugar onde nasceu em um mapa do Brasil e em seguida, localizou com alfinetes de diferentes cores, 138
onde nasceram as pessoas de sua família utilizando sua árvore genealógica como referência. Cada cor do alfinete representava uma geração específica da família. A seguir a legenda: - branco: o participante - amarelo: irmãos - vermelho: pais - verde: avós - azul: bisavós Os alfinetes correspondentes aos antepassados do particpante foram conectadas por uma única linha, de modo que cada linha no mapa, representa as trajetórias das famílias de um aluno até chegar ao Grajaú, considerada desde os bisavós paternos e maternos. As linhas evidenciam a representação dos fluxos migratórios das famílias daqueles que hoje vivem no bairro, sinalizando que o fluxo de pessoas do Nordeste se destina principalmente à região Sudeste do Barsil. Durante a localização dos antepassados no mapa, falamos sobre a divisão do país em estados e regiões, perguntamos também sobre elementos da cultura dos estados de onde vieram seus pais, como a música e a comida, entre outros temas que surgiram. A ideia era que os alunos observassem a trajetória de seus antepassados pelo país introduzindo indiretamente a questão dos fluxos migratórios na história e construção do Brasil, e que falássemos de temas espontâneos que surgissem ao longo do trabalho. Parte da atividade tinha como proposta que os alunos apresentassem sua própria árvore genealógica ao restante da sala, para que pudéssemos escutar e conversar sobre as origens das pessoas do bairro. Esta conversa 139
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aconteceu inicialmente, quando havia mais ou menos nove pessoas na sala, entretanto, conforme preenchiam suas árvores genealógicas e localizam seus ancestrais no mapa do Brasil, a maioria dos participantes deixava a atividade, de modo que o caráter coletivo da proposta se expressou mais graficamente sobre o mapa do que como processo. Inclusive, esta terceira e última parte da atividade teve início quase no horário do almoço fornecido pela escola, o que estimulou os alunos a saírem da sala quando terminassem “suas partes” do trabalho. Devido a isso, não foi possível fazermos um momento em que todos falássemos sobre os resultados do mapa, atribuindo coletivamente um título ao mapa que eles mesmo montaram. Também não montamos um varal com as árvores genealógicas para a visualização do processo da atividade. Durante a atividade, foi possível perceber a importância que os alunos sentiram ao verem a si mesmos e a suas famílias representados no mapa do Brasil. Conversando sobre suas próprias ‘linhas’ no mapa e os lugares de onde vieram, houve um momento em que alguns alunos fizeram piadas um do outro quando este nasci ame São Paulo, ressaltando o a presença forte de pessoas de outros estados no bairro. Acasos Após a realização da oficina, voltei à sala para terminar de fazer alguns ajustes no mapa do Brasil, enquanto isso apareceram três alunas que quiseram fazer suas árvores genealógicas e localizarem seus ancestrais no mapa. Foi possível perceber que o mapa do Brasil cheio de alfinetes e linhas despertava a curiosidade de algumas pessoas, inclusive algumas levavam um tempo diante do mapa perguntando e interpretando as informações. 141
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Enquanto estive no estacionamento da escola conversando com alguns colegas, mais algumas crianças se aproximaram curiosas com o mapa, duas delas quiseram colocar os alfinetes que representavam seus ancestrais. Inclusive, alguns funcionários da escola também manifestaram interesse no mapa e gostaram da ideia, manifestando abertura em realizar atividades do tipo na escola. Diagnóstico Os resultados foram graficamente expressivos. Os vazios restantes nas árvores genealógicas, principalmente nas informações correspondentes aos bisavós, e com isso uma menor quantidade de alfinetes azuis no mapa, revelou que muitos participantes, tinha mais informações além da geração de seus avós. Os alunos que mencionaram ter ancestrais indígenas não souberam dizer em qual estado nesceu esta pessoa, o mesmo aconteceu quando mencionaram terem parentes que vieram da África, por isso, no mapa gráfico construído, a localização dos ancestrais indígenas aparece em regiões de fronteira, já que os participantes não expressavam o estado de origem do parente e sim , o fato de ser indígena. Esta é uma informação que pode ser compreendida a partir de dois aspectos. O primeiro deles expressa a ausência de informações existentes e/ou acessíveis sobre a presença indígena e africana no Brasil, pois não conhecemos os países da África de onde vieram nossos ancestrais e tampouco sabemos a história das tribos indígenas no Brasil, inclusive existentes até hoje. O segundo aspecto, é o fato de jovens de mais ou menos 10 anos saberem que possuem em seu passado a presença indígena e africana, o que demonstra consciência de identidade e conhecimento 143
sobre a história do Brasil, quando falamos de um país onde é desigual o estímulo à preservação da memória da cultura europeia em detrimento à memória das culturas indígenas e de matriz africana. Observando o mapa, percebemos que a maior parte dos participantes e pais nasceram em São Paulo, nesse sentido é válido ressaltar que os participantes eram em sua maioria pré-adolescentes. Ainda assim, há alunos que nasceram em outros estados, como Bahia e Minas Gerais, o que demonstra que o bairro continua recebendo pessoas de outros estados e que o fluxo migratório NordesteSudeste continua existindo no Brasil. Como experiência pessoal, a rua onde vivo nos últimos oito anos aumentou expressivamente o número de habitantes, sendo a maioria deles nordestinos e alguns, de Minas Gerais. Conclusão da atividade Esta ‘oficina-piloto’ foi uma primeira experiência que serviu como aprendizado para pensar o desenvolvimento de novas oficinas relacionadas à cartografiae identidade. Um aspecto percebido logo de início, é que a oficina precisa ser aplicada a um grupo de pessoas que já esteja direcionado a trabalhar o tema. Neste caso, aproveitamos a oportunidade oferecida pela escola em abrir sua mostra cultural para receber oficinas, de modo que várias temáticas foram trabalhados ao mesmo tempo. Observação O diagnóstico mais detalhado dos resultados da última atividade deve-se ao fato de ser esta a ‘oficinapiloto’ do roteiro de atividades planejadas no TFG.
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Anexos Árvore genealógica
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