Transbordar_educativo_cort.pdf

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TRANSGRESSÕES DO BORDADO NA ARTE

26 NOVEMBRO 2020 — 8 MAIO 2021 curadoria

Ana Paula Cavalcanti Simioni

assistência de curadoria

Jordana Braz


TRANSGRESSÕES DO BORDADO NA ARTE

26 NOVEMBRO 2020 — 8 MAIO 2021 curadoria

Ana Paula Cavalcanti Simioni

assistência de curadoria

Jordana Braz


BordAdo A coNtrApeLo

O ambiente doméstico é habitado por uma série de trabalhos invisíveis, cujo grau de ocultamento é proporcional ao seu nível de exigência. Basta evocar, nesse sentido, os afazeres relacionados à alimentação dos que vivem em uma casa, os cuidados dedicados às suas crianças e idosos, a organização e limpeza de seus cômodos e a manutenção dos sistemas que os abastecem. Tradicionalmente relegada à invisibilidade, essa gama de práticas essenciais à vida cotidiana padece de sistemática desvalorização, associada à assimetria vigente entre as tarefas privadas e as atividades públicas, estas sim investidas de atenção e importância. Soma-se a isso ainda o fato de que, num país de passado escravista como o Brasil, as ocupações manuais seguem sendo notadamente depreciadas, ecoando os estigmas infligidos à atividade laboral ao longo do período colonial, e para muito além dele, infelizmente. Desprovidas de reconhecimento, as diligências alimentares, assistivas, higiênicas e técnicas têm no domínio privado uma atribulada rotina, a qual é delegada, sobretudo, às figuras sociais desprivilegiadas, a quem o acesso ao âmbito público e às suas plataformas de manifestação e participação é obliterado. Mas, a despeito do encobrimento e menosprezo comumente dispensados às funções caseiras, sua silenciosa execução guarda potências expressivas, abrangendo gestos e soluções carregados de sentidos existenciais – algo que parece exigir sua inserção na esfera pública, onde possam repercutir, atravessando as paredes.


BordAdo A coNtrApeLo

O ambiente doméstico é habitado por uma série de trabalhos invisíveis, cujo grau de ocultamento é proporcional ao seu nível de exigência. Basta evocar, nesse sentido, os afazeres relacionados à alimentação dos que vivem em uma casa, os cuidados dedicados às suas crianças e idosos, a organização e limpeza de seus cômodos e a manutenção dos sistemas que os abastecem. Tradicionalmente relegada à invisibilidade, essa gama de práticas essenciais à vida cotidiana padece de sistemática desvalorização, associada à assimetria vigente entre as tarefas privadas e as atividades públicas, estas sim investidas de atenção e importância. Soma-se a isso ainda o fato de que, num país de passado escravista como o Brasil, as ocupações manuais seguem sendo notadamente depreciadas, ecoando os estigmas infligidos à atividade laboral ao longo do período colonial, e para muito além dele, infelizmente. Desprovidas de reconhecimento, as diligências alimentares, assistivas, higiênicas e técnicas têm no domínio privado uma atribulada rotina, a qual é delegada, sobretudo, às figuras sociais desprivilegiadas, a quem o acesso ao âmbito público e às suas plataformas de manifestação e participação é obliterado. Mas, a despeito do encobrimento e menosprezo comumente dispensados às funções caseiras, sua silenciosa execução guarda potências expressivas, abrangendo gestos e soluções carregados de sentidos existenciais – algo que parece exigir sua inserção na esfera pública, onde possam repercutir, atravessando as paredes.


A acurada realização de atos e itens ligados ao zelo pelo outro e

com as prementes abordagens críticas acerca da história e

por si contraria, de longe, a ideia de uma reprodução puramente

das instituições da arte ocidental. Ler essa trajetória e seus

mecânica de providências desgastantes e repetitivas, ainda que

mecanismos a contrapelo é condição indispensável para a

essas condições se imponham a quem tem o cuidado por obrigação.

emergência de agentes e fazeres mantidos ocultos sob os mantos

É quando os afazeres são transformados em fazeres. Ou

do anonimato e do esquecimento. Isso tudo em um momento

seja, quando aquilo que é demandado como ação funcional

delicado da civilização humana, marcado pela pandemia

(e imprescindível) se vê ressignificado e complexificado como

de Covid-19, ocasião em que o ato de cuidar adquiriu uma

ensejo para a invenção de universos simbólicos que extrapolam

centralidade sem precedentes.

o cumprimento de responsabilidades compulsórias. O bordado, enquanto fazer representativo da experiência doméstica, é um pródigo exemplo desse perspicaz movimento que articula a

Danilo Santos de Miranda,

disposição para o cuidado com a vontade de expressão estética,

Diretor do Sesc São Paulo

através de formas que combinam utilidade e gratuidade. A arte é um campo de visibilidade por excelência, embora suas instituições não deixem de reproduzir injustiças e invisibilidades. Em função das fronteiras e hierarquias estipuladas, ao longo de séculos, pela Escola, pelo Museu e pela História da Arte, as criações oriundas de núcleos desprestigiados da vida social e cultural – como a produção têxtil engendrada no recôndito dos lares comuns – eram tidas como meros índices de práticas menores, destituídas de valor estético e interesse artístico. Por sua vez, artistas vinculados a setores das vanguardas modernas e, mais recentemente, a vertentes da arte contemporânea viriam se insurgir, cada qual a seu modo, contra esse apagamento institucional, incorporando o bordado (e o imaginário que ele traz consigo) às suas experimentações plásticas e conceituais. De maioria feminina, tais agentes são responsáveis por alargar limites e categorias no terreno da arte, fazendo desse campo uma plataforma de visibilização de práticas simbólicas historicamente desprezadas. Ao realizar a exposição Transbordar: transgressões do bordado na arte, com curadoria de Ana Paula Simioni, o Sesc contribui


A acurada realização de atos e itens ligados ao zelo pelo outro e

com as prementes abordagens críticas acerca da história e

por si contraria, de longe, a ideia de uma reprodução puramente

das instituições da arte ocidental. Ler essa trajetória e seus

mecânica de providências desgastantes e repetitivas, ainda que

mecanismos a contrapelo é condição indispensável para a

essas condições se imponham a quem tem o cuidado por obrigação.

emergência de agentes e fazeres mantidos ocultos sob os mantos

É quando os afazeres são transformados em fazeres. Ou

do anonimato e do esquecimento. Isso tudo em um momento

seja, quando aquilo que é demandado como ação funcional

delicado da civilização humana, marcado pela pandemia

(e imprescindível) se vê ressignificado e complexificado como

de Covid-19, ocasião em que o ato de cuidar adquiriu uma

ensejo para a invenção de universos simbólicos que extrapolam

centralidade sem precedentes.

o cumprimento de responsabilidades compulsórias. O bordado, enquanto fazer representativo da experiência doméstica, é um pródigo exemplo desse perspicaz movimento que articula a

Danilo Santos de Miranda,

disposição para o cuidado com a vontade de expressão estética,

Diretor do Sesc São Paulo

através de formas que combinam utilidade e gratuidade. A arte é um campo de visibilidade por excelência, embora suas instituições não deixem de reproduzir injustiças e invisibilidades. Em função das fronteiras e hierarquias estipuladas, ao longo de séculos, pela Escola, pelo Museu e pela História da Arte, as criações oriundas de núcleos desprestigiados da vida social e cultural – como a produção têxtil engendrada no recôndito dos lares comuns – eram tidas como meros índices de práticas menores, destituídas de valor estético e interesse artístico. Por sua vez, artistas vinculados a setores das vanguardas modernas e, mais recentemente, a vertentes da arte contemporânea viriam se insurgir, cada qual a seu modo, contra esse apagamento institucional, incorporando o bordado (e o imaginário que ele traz consigo) às suas experimentações plásticas e conceituais. De maioria feminina, tais agentes são responsáveis por alargar limites e categorias no terreno da arte, fazendo desse campo uma plataforma de visibilização de práticas simbólicas historicamente desprezadas. Ao realizar a exposição Transbordar: transgressões do bordado na arte, com curadoria de Ana Paula Simioni, o Sesc contribui


E

sta publicação tem como

técnica arpillera aludem

objetivo apresentar e

a uma projeção e mesmo

comentar alguns temas e obras presentes na

“força” feminina, ao mesmo tempo que a presença de

exposição Transbordar:

vários homens no ofício de

Transgressões do bordado

bordadeiros e tecelões, assim

na arte, com curadoria de

como roupas masculinas

Ana Paula Cavalcanti Simioni

adornadas com ornamentos,

e assistência de Jordana Braz.

podem estimular um rico

Os assuntos aqui tratados

debate sobre artes têxteis e

apontarão relações possíveis

masculinidades.

entre as obras exibidas e as

Este material permite

memórias de cada leitor, a

contextualizar temas presentes

partir de seu repertório pessoal.

na exposição, em diálogo

Alguns temas importantes

com o cotidiano de cada

na exposição foram aqui

um, podendo ser utilizado

destacados para propiciar

para obter informações

uma experiência/reflexão

complementares à exposição

pessoal. Um deles diz respeito

e, também, para pesquisas

ao diálogo entre fotografia

independentes e autônomas

e bordado, que aparece ao

em relação a ela. A intenção é

menos de dois modos: a

de que ele transborde e alcance

fotografia enquanto registro

muitas pessoas e lugares.

e a imagem fotográfica como

Boa leitura!

espaço fértil para reinvenção de narrativas. Outro tema relevante diz respeito à relação entre bordado e gênero. Assim, a presença de mulheres no bordado e a utilização da

Jordana Braz


E

sta publicação tem como

técnica arpillera aludem

objetivo apresentar e

a uma projeção e mesmo

comentar alguns temas e obras presentes na

“força” feminina, ao mesmo tempo que a presença de

exposição Transbordar:

vários homens no ofício de

Transgressões do bordado

bordadeiros e tecelões, assim

na arte, com curadoria de

como roupas masculinas

Ana Paula Cavalcanti Simioni

adornadas com ornamentos,

e assistência de Jordana Braz.

podem estimular um rico

Os assuntos aqui tratados

debate sobre artes têxteis e

apontarão relações possíveis

masculinidades.

entre as obras exibidas e as

Este material permite

memórias de cada leitor, a

contextualizar temas presentes

partir de seu repertório pessoal.

na exposição, em diálogo

Alguns temas importantes

com o cotidiano de cada

na exposição foram aqui

um, podendo ser utilizado

destacados para propiciar

para obter informações

uma experiência/reflexão

complementares à exposição

pessoal. Um deles diz respeito

e, também, para pesquisas

ao diálogo entre fotografia

independentes e autônomas

e bordado, que aparece ao

em relação a ela. A intenção é

menos de dois modos: a

de que ele transborde e alcance

fotografia enquanto registro

muitas pessoas e lugares.

e a imagem fotográfica como

Boa leitura!

espaço fértil para reinvenção de narrativas. Outro tema relevante diz respeito à relação entre bordado e gênero. Assim, a presença de mulheres no bordado e a utilização da

Jordana Braz


Re A eXposição

oãçosipXe A eR

tRANsbordAr: transgressões DO bordado Na ARTe

O bordado é uma prática artística fortemente semantizada. Frequentemente encontra-se associado a uma produção vista como feminina, doméstica e/ou artesanal. Mas essas associações não são naturais, e sim fruto de uma história da arte e da cultura que se construiu a partir de divisões e hierarquias hoje profundamente questionáveis. A presente exposição pretende contribuir para tais questionamentos. Nesse sentido, estrutura-se em torno de dois módulos, “Artificando o Bordado” e “Transbordamentos”. Neles estão dispostas obras realizadas por mulheres e homens artistas que se apropriaram do bordado como um meio expressivo particularmente estimulante para a contestação de hierarquias estéticas e sociais. As fronteiras existentes entre arte e artesanato, entre artista e artesão, entre belo e abjeto, entre masculino e feminino, entre íntimo e público, são propositalmente borradas e transgredidas. A partir de poéticas e técnicas diversas, temos um conjunto de obras que evidenciam o quanto o bordado, antes um meio visto como dócil e docilizador, foi apropriado, politizado, ressemantizado. O bordado transbordou as hierarquias, identidades e fronteiras que lhe foram impostas histórica e socialmente. Ana Paula Cavalcanti Simioni

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Re A eXposição

oãçosipXe A eR

tRANsbordAr: transgressões DO bordado Na ARTe

O bordado é uma prática artística fortemente semantizada. Frequentemente encontra-se associado a uma produção vista como feminina, doméstica e/ou artesanal. Mas essas associações não são naturais, e sim fruto de uma história da arte e da cultura que se construiu a partir de divisões e hierarquias hoje profundamente questionáveis. A presente exposição pretende contribuir para tais questionamentos. Nesse sentido, estrutura-se em torno de dois módulos, “Artificando o Bordado” e “Transbordamentos”. Neles estão dispostas obras realizadas por mulheres e homens artistas que se apropriaram do bordado como um meio expressivo particularmente estimulante para a contestação de hierarquias estéticas e sociais. As fronteiras existentes entre arte e artesanato, entre artista e artesão, entre belo e abjeto, entre masculino e feminino, entre íntimo e público, são propositalmente borradas e transgredidas. A partir de poéticas e técnicas diversas, temos um conjunto de obras que evidenciam o quanto o bordado, antes um meio visto como dócil e docilizador, foi apropriado, politizado, ressemantizado. O bordado transbordou as hierarquias, identidades e fronteiras que lhe foram impostas histórica e socialmente. Ana Paula Cavalcanti Simioni

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MeMóriA e bordAdo Você já observou que muitas pessoas aprenderam bordado com seus familiares ou outras pessoas com as quais convivem, das quais gostam muito? Existe um lugar de afeto vinculado ao ato de bordar, geralmente associado a uma vivência doméstica envolvendo carinho e aconchego no seu processo de ensino e aprendizagem. Muitos aprendem a bordar ou desenvolvem o gosto por outras artes têxteis ainda na infância, como é o caso da artista mineira Sonia Gomes. Sua cidade natal, Caetanópolis, abrigou a primeira fábrica de tecidos de Minas Gerais e a segunda do Brasil, e o fazer manual de sua produção artística tem origem na família: as amarrações, trançados e rodilhas, técnicas têxteis que aprendeu com sua avó materna. A artista ficou órfã de mãe muito cedo e foi criada até os 5 anos pela avó materna, que conhecia as tradições populares de matriz africana. Anos depois, Sonia foi morar com a família do pai e lá adquiriu conhecimentos sobre bordados portugueses – parte de sua origem paterna é de Portugal. A memória e o afeto estão, assim, presentes na produção artística de Sonia Gomes pelo conhecimento adquirido ao longo de sua história pessoal, mas também pelos materiais que ela escolhe

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MeMóriA e bordAdo Você já observou que muitas pessoas aprenderam bordado com seus familiares ou outras pessoas com as quais convivem, das quais gostam muito? Existe um lugar de afeto vinculado ao ato de bordar, geralmente associado a uma vivência doméstica envolvendo carinho e aconchego no seu processo de ensino e aprendizagem. Muitos aprendem a bordar ou desenvolvem o gosto por outras artes têxteis ainda na infância, como é o caso da artista mineira Sonia Gomes. Sua cidade natal, Caetanópolis, abrigou a primeira fábrica de tecidos de Minas Gerais e a segunda do Brasil, e o fazer manual de sua produção artística tem origem na família: as amarrações, trançados e rodilhas, técnicas têxteis que aprendeu com sua avó materna. A artista ficou órfã de mãe muito cedo e foi criada até os 5 anos pela avó materna, que conhecia as tradições populares de matriz africana. Anos depois, Sonia foi morar com a família do pai e lá adquiriu conhecimentos sobre bordados portugueses – parte de sua origem paterna é de Portugal. A memória e o afeto estão, assim, presentes na produção artística de Sonia Gomes pelo conhecimento adquirido ao longo de sua história pessoal, mas também pelos materiais que ela escolhe

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SONIA GOMES. Memória, 2004. Costura, amarrações, tecidos, rendas e fragmentos diversos, 140 × 270 cm. Cortesia da artista e Mendes Wood DM, São Paulo, Nova York e Bruxelas. foto Eduardo Ortega


SONIA GOMES. Memória, 2004. Costura, amarrações, tecidos, rendas e fragmentos diversos, 140 × 270 cm. Cortesia da artista e Mendes Wood DM, São Paulo, Nova York e Bruxelas. foto Eduardo Ortega


para sua criação: a artista utiliza roupas doadas por outras JUCÉLIA DA SILVA. Cabeças, 2017. Desenho inspirado na renda renascença, 47 × 32,5 cm. Coleção da artista foto Ana Pigosso

pessoas. A obra Memória (2004) é construída com peças que já foram vestimentas de alguém. Sonia Gomes une vários tecidos e reconfigura a memória de tantas pessoas que já habitaram cada peça. A artista pernambucana Jucélia da Silva adquiriu seus primeiros conhecimentos sobre bordado de pedraria e sobre a maioria dos trabalhos manuais com a mãe, Maria Ferreira da Silva. Sua produção artística envolve uma investigação das artes têxteis relacionadas às questões de gênero, ao contexto social e ao fazer manual. Jucélia também incorpora elementos autobiográficos em seu trabalho. Na exposição Transbordar encontramos desenhos de Jucélia que resultaram de sua pesquisa em rendas. Em Cabeças (2017) a artista inicia os desenhos de estudos da renda renascença. Sua produção em desenho envolve também as rendas frivolités e peças em crochê doadas para ela e também utilizadas como objeto de pesquisa para seus desenhos.

RefLexões/propostAs pArA o púbLico Onde é possível encontrar memória no lugar em que habitamos? Do que podem ser feitas as memórias dos objetos? Escolha uma peça de roupa favorita do seu vestuário. Olhe para ela e observe como foi feita: verifique suas costuras, investigue os materiais utilizados. Depois, procure relembrar uma situação marcante vivenciada por você enquanto vestia a peça escolhida.


para sua criação: a artista utiliza roupas doadas por outras JUCÉLIA DA SILVA. Cabeças, 2017. Desenho inspirado na renda renascença, 47 × 32,5 cm. Coleção da artista foto Ana Pigosso

pessoas. A obra Memória (2004) é construída com peças que já foram vestimentas de alguém. Sonia Gomes une vários tecidos e reconfigura a memória de tantas pessoas que já habitaram cada peça. A artista pernambucana Jucélia da Silva adquiriu seus primeiros conhecimentos sobre bordado de pedraria e sobre a maioria dos trabalhos manuais com a mãe, Maria Ferreira da Silva. Sua produção artística envolve uma investigação das artes têxteis relacionadas às questões de gênero, ao contexto social e ao fazer manual. Jucélia também incorpora elementos autobiográficos em seu trabalho. Na exposição Transbordar encontramos desenhos de Jucélia que resultaram de sua pesquisa em rendas. Em Cabeças (2017) a artista inicia os desenhos de estudos da renda renascença. Sua produção em desenho envolve também as rendas frivolités e peças em crochê doadas para ela e também utilizadas como objeto de pesquisa para seus desenhos.

RefLexões/propostAs pArA o púbLico Onde é possível encontrar memória no lugar em que habitamos? Do que podem ser feitas as memórias dos objetos? Escolha uma peça de roupa favorita do seu vestuário. Olhe para ela e observe como foi feita: verifique suas costuras, investigue os materiais utilizados. Depois, procure relembrar uma situação marcante vivenciada por você enquanto vestia a peça escolhida.


1.1

instituição por cerca de 50 anos, e nela morreu. Embora não tenha feito parte da Escola, seguramente

MeMóriA coLeTivA: A LutA ANTimANicoMiAl

viu os trabalhos ali realizados. Odete, protagonista dos trabalhos de Pola Fernandez, hoje está inserida no programa de residência terapêutica da Prefeitura do Rio de Janeiro.

O bordado está atrelado à memória em diversos

A série que leva o seu nome é um dos resultados

contextos. Vimos dois exemplos de memórias pessoais

da residência artística de Pola durante 18 meses

e familiares presentes no processo de aprendizagem

no Museu Bispo do Rosário, no Rio de Janeiro. O

e como reverberam nas produções de Sonia Gomes

Museu integra o Instituto Municipal de Assistência à

e Jucélia da Silva. Porém, existem outros fatores

Saúde Juliano Moreira, localizado na Taquara, Zona

que vinculam a memória à produção de bordados

Oeste da cidade, no espaço que foi uma instituição

e podem atuar como um lembrete para que uma

manicomial. É hoje, portanto, simultaneamente uma

história importante não seja esquecida ou apagada.

instituição de arte contemporânea e de saúde.

As fotografias bordadas pela artista Pola Fernandez

Para a pauta da saúde mental, a série “Odete”,

retratam Odete, ex-interna da Colônia Juliano

de quatro fotografias em grande formato com

Moreira, instituição psiquiátrica inaugurada em 1924 e

intervenção de bordados, colabora com a causa

localizada em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro.

antimanicomial. Em 18 de maio comemora-se o Dia Nacional da Luta Antimanicomial, pois nessa

Entre as décadas de 1940 e 1950, atividades artísticas foram introduzidas na Colônia por meio

data, em 1987, ocorreu a I Conferência Nacional de

da Escola Livre de Artes. Naquele contexto, alguns

Saúde Mental, em Brasília. O evento é um marco

trabalhos artísticos realizados durante as oficinas foram

importante para a luta antimanicomial em razão do

apresentados no Primeiro Congresso Internacional de

compromisso dos profissionais de saúde mental em

Psiquiatria, realizado em 1950. Digno de nota, também,

dialogar com a sociedade e desmistificar preconceitos

é que Arthur Bispo do Rosário (1909-1989) viveu na

em relação às pessoas com transtornos mentais. A Lei

*

10.216, conhecida como Lei da Reforma Psiquiátrica, do deputado federal Paulo Delgado, foi aprovada *

Segundo registros da Light, onde Bispo trabalhou entre 1933 e 1937, sua data de nascimento é 16 de março de 1911. Nos registros da Marinha de Guerra do Brasil, onde serviu entre 1925 e 1933, consta 14 de maio de 1909.

em 2001 e regulamenta os direitos dos portadores de transtornos mentais, redirecionando o modelo oferecido para os cuidados em saúde mental.

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1.1

instituição por cerca de 50 anos, e nela morreu. Embora não tenha feito parte da Escola, seguramente

MeMóriA coLeTivA: A LutA ANTimANicoMiAl

viu os trabalhos ali realizados. Odete, protagonista dos trabalhos de Pola Fernandez, hoje está inserida no programa de residência terapêutica da Prefeitura do Rio de Janeiro.

O bordado está atrelado à memória em diversos

A série que leva o seu nome é um dos resultados

contextos. Vimos dois exemplos de memórias pessoais

da residência artística de Pola durante 18 meses

e familiares presentes no processo de aprendizagem

no Museu Bispo do Rosário, no Rio de Janeiro. O

e como reverberam nas produções de Sonia Gomes

Museu integra o Instituto Municipal de Assistência à

e Jucélia da Silva. Porém, existem outros fatores

Saúde Juliano Moreira, localizado na Taquara, Zona

que vinculam a memória à produção de bordados

Oeste da cidade, no espaço que foi uma instituição

e podem atuar como um lembrete para que uma

manicomial. É hoje, portanto, simultaneamente uma

história importante não seja esquecida ou apagada.

instituição de arte contemporânea e de saúde.

As fotografias bordadas pela artista Pola Fernandez

Para a pauta da saúde mental, a série “Odete”,

retratam Odete, ex-interna da Colônia Juliano

de quatro fotografias em grande formato com

Moreira, instituição psiquiátrica inaugurada em 1924 e

intervenção de bordados, colabora com a causa

localizada em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro.

antimanicomial. Em 18 de maio comemora-se o Dia Nacional da Luta Antimanicomial, pois nessa

Entre as décadas de 1940 e 1950, atividades artísticas foram introduzidas na Colônia por meio

data, em 1987, ocorreu a I Conferência Nacional de

da Escola Livre de Artes. Naquele contexto, alguns

Saúde Mental, em Brasília. O evento é um marco

trabalhos artísticos realizados durante as oficinas foram

importante para a luta antimanicomial em razão do

apresentados no Primeiro Congresso Internacional de

compromisso dos profissionais de saúde mental em

Psiquiatria, realizado em 1950. Digno de nota, também,

dialogar com a sociedade e desmistificar preconceitos

é que Arthur Bispo do Rosário (1909-1989) viveu na

em relação às pessoas com transtornos mentais. A Lei

*

10.216, conhecida como Lei da Reforma Psiquiátrica, do deputado federal Paulo Delgado, foi aprovada *

Segundo registros da Light, onde Bispo trabalhou entre 1933 e 1937, sua data de nascimento é 16 de março de 1911. Nos registros da Marinha de Guerra do Brasil, onde serviu entre 1925 e 1933, consta 14 de maio de 1909.

em 2001 e regulamenta os direitos dos portadores de transtornos mentais, redirecionando o modelo oferecido para os cuidados em saúde mental.

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POLA FERNADEZ. Sem título, série “Odete”, 2019. Impressão sobre papel Aquarelle com intervenção, 100 × 100 cm. Coleção e foto da artista.

As fotografias bordadas de Odete são importantes por tornarem visível a triste história dos hospitais psiquiátricos e os tratamentos violentos aplicados em seus internos. Olhar para o passado buscando não cometer os mesmos erros é importante, essencial.

RefLexões/propostAs pArA o púbLico

“A MinhA proposta é evidenciar e visibilizar o que não está exposto, utilizando como suporte A fotografia com intervenção do bordado e dA costura. Assim, reviro os avessos pArA sugerir caMadas; desfAzendo, refazendo, convoco A olhAr e sentir as texturAs. Assim, o projeto que desenvolvo A pArtir dA vivência nA ColôniA Juliano MoreirA mAteriAlizA-se.”

Pense em uma história que seja coletiva (acontecimentos no Brasil ou no mundo) e perceba qual sentimento essa memória causa em seu corpo. Escolha uma única palavra para definir essa sensação. Se fosse bordar essa palavra, qual cor você escolheria para as linhas? Em que suporte ou material você bordaria? Se você pudesse também inserir uma imagem nesse bordado, como ela seria?

Pola Fernandez

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POLA FERNADEZ. Sem título, série “Odete”, 2019. Impressão sobre papel Aquarelle com intervenção, 100 × 100 cm. Coleção e foto da artista.

As fotografias bordadas de Odete são importantes por tornarem visível a triste história dos hospitais psiquiátricos e os tratamentos violentos aplicados em seus internos. Olhar para o passado buscando não cometer os mesmos erros é importante, essencial.

RefLexões/propostAs pArA o púbLico

“A MinhA proposta é evidenciar e visibilizar o que não está exposto, utilizando como suporte A fotografia com intervenção do bordado e dA costura. Assim, reviro os avessos pArA sugerir caMadas; desfAzendo, refazendo, convoco A olhAr e sentir as texturAs. Assim, o projeto que desenvolvo A pArtir dA vivência nA ColôniA Juliano MoreirA mAteriAlizA-se.”

Pense em uma história que seja coletiva (acontecimentos no Brasil ou no mundo) e perceba qual sentimento essa memória causa em seu corpo. Escolha uma única palavra para definir essa sensação. Se fosse bordar essa palavra, qual cor você escolheria para as linhas? Em que suporte ou material você bordaria? Se você pudesse também inserir uma imagem nesse bordado, como ela seria?

Pola Fernandez

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2

FotografiAs boRdadAs O uso de fotografias como suporte para bordados pode reforçar a relação com a memória, seja ela pessoal, seja coletiva. Para tanto, é possível utilizar fotos de famílias, ou de uma única pessoa. Mas a imagem escolhida também pode servir de oportunidade para a criação de novas narrativas, ponto a ponto. As peças bordadas de Caroline Valansi utilizam fotografias que foram descartadas na rua,

muitas estão até mesmo rasgadas. Com linha vermelha e agulha, a artista remonta as imagens à sua maneira – elas perdem sua origem e se tornam capazes de suportar inúmeras narrativas inventivas. Na obra Rede (2009) pessoas anônimas estão unidas por seus corações, num elo traçado pela linha vermelha. A escolha do local em que o ponto é inserido para a passagem da linha pode estar vinculada à anatomia humana – ali está o coração. Porém, cada pessoa que olhar essa imagem terá uma relação muito particular com ela, uma vez que existem inúmeras possibilidades de histórias, de interpretações. Também a série de obras realizadas por Pedro Luis propõe a relação entre bordado e fotografia. O artista carioca tem desde a infância uma relação de afeto com o bordado. Suas memórias afetivas partiam da observação de sua mãe e da avó bordando. Adulto, Pedro aprendeu a bordar em 2016, quando decidiu deixar sua carreira em

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FotografiAs boRdadAs O uso de fotografias como suporte para bordados pode reforçar a relação com a memória, seja ela pessoal, seja coletiva. Para tanto, é possível utilizar fotos de famílias, ou de uma única pessoa. Mas a imagem escolhida também pode servir de oportunidade para a criação de novas narrativas, ponto a ponto. As peças bordadas de Caroline Valansi utilizam fotografias que foram descartadas na rua,

muitas estão até mesmo rasgadas. Com linha vermelha e agulha, a artista remonta as imagens à sua maneira – elas perdem sua origem e se tornam capazes de suportar inúmeras narrativas inventivas. Na obra Rede (2009) pessoas anônimas estão unidas por seus corações, num elo traçado pela linha vermelha. A escolha do local em que o ponto é inserido para a passagem da linha pode estar vinculada à anatomia humana – ali está o coração. Porém, cada pessoa que olhar essa imagem terá uma relação muito particular com ela, uma vez que existem inúmeras possibilidades de histórias, de interpretações. Também a série de obras realizadas por Pedro Luis propõe a relação entre bordado e fotografia. O artista carioca tem desde a infância uma relação de afeto com o bordado. Suas memórias afetivas partiam da observação de sua mãe e da avó bordando. Adulto, Pedro aprendeu a bordar em 2016, quando decidiu deixar sua carreira em

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publicidade e dedicar-se às artes visuais. Para tais trabalhos, procurou inspirar-se em artistas como Leonilson e Arthur Bispo do Rosário. As fotos bordadas por Pedro Luis são, em sua maioria, elaboradas sobre imagens compradas em feiras de antiguidades. Tal como no caso de Valansi, as obras são elaboradas sobre memórias de outros, desconhecidos, anônimos, cristalizadas em papéis que se perderam de seus proprietários. Em A maior distância entre nós (2014) os olhos das pessoas

Na dupla anterior: CAROLINE VALANSI. Rede, série “Memórias inventadas com costuras simples”, 2006-2009. Impressão jato de tinta sobre papel de algodão, 130 × 78 cm. Coleção e foto da artista.

PEDRO LUIS. A maior distância entre nós, 2014. Bordados sobre fotografias antigas, 20 × 18 cm. Coleção e foto do artista.

fotografadas têm tarjas que omitem suas identidades. A frase é bordada em vermelho, mesma cor do fio que une o casal na imagem. Mas elas são correspondentes enquanto mensagem? O símbolo que aparece como ponto de ligação entre os dois está inserido anatomicamente em seu local natural? O artista

RefLexões/propostAs pArA o púbLico

explica que suas frases bordadas são autobiográficas, mas as interpretações para elas são diversas, são atribuídas pelo espectador.

Escolha uma fotografia antiga, pode ser imagem de sua família ou de alguma publicação. Observe cada detalhe e olhe atentamente seus elementos de cena. Após observar, qual sentimento essa imagem causa em você? Se na imagem houver pessoas, quais sentimentos as pessoas demonstram ter naquele momento? Materialize o seu sentimento num desenho em papel. Para o sentimento supostamente associado a essa imagem, escolha um objeto – pode ser algo simples e pequeno. Una o seu desenho e o objeto escolhido no mesmo espaço (pode usar materiais colantes ou linha e agulha). Após o exercício, compare a fotografia escolhida com o material produzido. Você o sente pertencente à imagem inicial? A distância temporal pode ser diminuída por meio desses sentimentos aproximados?

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publicidade e dedicar-se às artes visuais. Para tais trabalhos, procurou inspirar-se em artistas como Leonilson e Arthur Bispo do Rosário. As fotos bordadas por Pedro Luis são, em sua maioria, elaboradas sobre imagens compradas em feiras de antiguidades. Tal como no caso de Valansi, as obras são elaboradas sobre memórias de outros, desconhecidos, anônimos, cristalizadas em papéis que se perderam de seus proprietários. Em A maior distância entre nós (2014) os olhos das pessoas

Na dupla anterior: CAROLINE VALANSI. Rede, série “Memórias inventadas com costuras simples”, 2006-2009. Impressão jato de tinta sobre papel de algodão, 130 × 78 cm. Coleção e foto da artista.

PEDRO LUIS. A maior distância entre nós, 2014. Bordados sobre fotografias antigas, 20 × 18 cm. Coleção e foto do artista.

fotografadas têm tarjas que omitem suas identidades. A frase é bordada em vermelho, mesma cor do fio que une o casal na imagem. Mas elas são correspondentes enquanto mensagem? O símbolo que aparece como ponto de ligação entre os dois está inserido anatomicamente em seu local natural? O artista

RefLexões/propostAs pArA o púbLico

explica que suas frases bordadas são autobiográficas, mas as interpretações para elas são diversas, são atribuídas pelo espectador.

Escolha uma fotografia antiga, pode ser imagem de sua família ou de alguma publicação. Observe cada detalhe e olhe atentamente seus elementos de cena. Após observar, qual sentimento essa imagem causa em você? Se na imagem houver pessoas, quais sentimentos as pessoas demonstram ter naquele momento? Materialize o seu sentimento num desenho em papel. Para o sentimento supostamente associado a essa imagem, escolha um objeto – pode ser algo simples e pequeno. Una o seu desenho e o objeto escolhido no mesmo espaço (pode usar materiais colantes ou linha e agulha). Após o exercício, compare a fotografia escolhida com o material produzido. Você o sente pertencente à imagem inicial? A distância temporal pode ser diminuída por meio desses sentimentos aproximados?

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2.1

Lenço dos Namorados O fio que une a tradição do bordado português com a produção artística de Fabio Carvalho tece obras que permitem a reflexão sobre os papéis sociais de gênero. Fabio tem ascendência portuguesa e participou de residências artísticas em Portugal. Durante uma delas, em 2012, pesquisou um tradicional bordado português feito por mulheres, conhecido por Lenço de Namorados. O artista incorporou a poética delicada e o imaginário criado pelo tema em seu trabalho. O Lenço de Namorados, originário da região norte de Portugal, é uma peça bordada por mulheres que congrega narrativas relacionadas ao amor, imaginários românticos e casamento. A tradição surgiu entre os séculos XVIII e XIX, quando as jovens escreviam mensagens românticas que bordavam com linhas coloridas em tecidos de algodão ou linho branco com o tamanho entre 50 e 60 cm. As mensagens eram acompanhadas por desenhos: analogias ao amor (corações, casal de namorados), à fidelidade (desenhos de cães e pombos) e ao casamento (símbolos religiosos). As moças bordavam a partir de seus conhecimentos técnicos adquiridos ainda na infância, e a escrita se dava de acordo com os sentimentos que nutriam pelos pretendentes. As mensagens

FABIO CARVALHO. Bai feliz buando, no bico dum passarinho nº 6, série “Portugal – lenços de namorados˝, 2012. Bordado à mão sobre reprodução fotográfica montada em tela, renda, passamanaria e apliques industriais, 47 × 38 cm. Coleção e foto do artista.

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2.1

Lenço dos Namorados O fio que une a tradição do bordado português com a produção artística de Fabio Carvalho tece obras que permitem a reflexão sobre os papéis sociais de gênero. Fabio tem ascendência portuguesa e participou de residências artísticas em Portugal. Durante uma delas, em 2012, pesquisou um tradicional bordado português feito por mulheres, conhecido por Lenço de Namorados. O artista incorporou a poética delicada e o imaginário criado pelo tema em seu trabalho. O Lenço de Namorados, originário da região norte de Portugal, é uma peça bordada por mulheres que congrega narrativas relacionadas ao amor, imaginários românticos e casamento. A tradição surgiu entre os séculos XVIII e XIX, quando as jovens escreviam mensagens românticas que bordavam com linhas coloridas em tecidos de algodão ou linho branco com o tamanho entre 50 e 60 cm. As mensagens eram acompanhadas por desenhos: analogias ao amor (corações, casal de namorados), à fidelidade (desenhos de cães e pombos) e ao casamento (símbolos religiosos). As moças bordavam a partir de seus conhecimentos técnicos adquiridos ainda na infância, e a escrita se dava de acordo com os sentimentos que nutriam pelos pretendentes. As mensagens

FABIO CARVALHO. Bai feliz buando, no bico dum passarinho nº 6, série “Portugal – lenços de namorados˝, 2012. Bordado à mão sobre reprodução fotográfica montada em tela, renda, passamanaria e apliques industriais, 47 × 38 cm. Coleção e foto do artista.

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2.2

eram escritas em quadras,* uma forma poética popular. Quando finalizado, o lenço era enviado ao pretendente. Se ele o aceitasse, usaria a peça em seu

ARpiLLerAs

traje nas ocasiões especiais, como as romarias, com o objetivo de mostrar que o sentimento era recíproco, e logo o namoro era oficializado. Caso não fosse

Arpillera é uma técnica têxtil popular originada em

recíproco, o rapaz devolvia o lenço. Com o tempo,

Isla Negra, no Chile. Tem como base a serapilheira

esses lenços também passaram a ser entregues aos

(arpillera, em espanhol), um tecido rústico utilizado

namorados e maridos que saíam de Portugal em busca

para a confecção de sacos de farinha ou de batata. Os

de melhores condições de vida

desenhos são então feitos por meio de retalhos de tecidos costurados na serapilheira, ou ainda pode-se bordar com lã sobre esse mesmo material. Tradicionalmente, a arpillera é uma técnica cuja história está associada ao protagonismo feminino. Las Bordaderas de Isla Negra é um grupo criado na década

RefLexões/propostAs pArA o púbLico

de 1960 e originado pelas oficinas de Leonor Sobrino (nascida em 1912), artista que residia na capital chilena e viajava para Isla Negra com sua família no verão. Leonor começou a realizar oficinas com os moradores

Procure recordar-se de um filme romântico que tenha assistido. Como seria o Lenço dos Namorados baseado nessa história? Pela imaginação, você pode incluir o objeto em uma de suas cenas favoritas. Outra possibilidade é construir um lenço inspirado no contexto amoroso e presentear alguém.

da Ilha, e em 1969 optou pelo bordado sobre serapilheira. Incentivou as participantes da oficina, cerca de 20 mulheres, a buscarem inspiração para seus bordados na natureza, em seus afazeres domésticos e no cotidiano vivenciado na Ilha. A técnica arpillera tornou-se resistência feminina em Santiago, capital do Chile, durante o período ditatorial. Em 1974 aconteceu a primeira oficina de arpilleras patrocinada pela Vicaría de la Solidaridad,

*

Estrofe com quatro versos; na poesia popular é constituída de heptassílabos com uma única rima, do segundo com o quarto verso.

uma organização vinculada à Igreja católica chilena. As arpilleras feitas nas oficinas eram enviadas para

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2.2

eram escritas em quadras,* uma forma poética popular. Quando finalizado, o lenço era enviado ao pretendente. Se ele o aceitasse, usaria a peça em seu

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traje nas ocasiões especiais, como as romarias, com o objetivo de mostrar que o sentimento era recíproco, e logo o namoro era oficializado. Caso não fosse

Arpillera é uma técnica têxtil popular originada em

recíproco, o rapaz devolvia o lenço. Com o tempo,

Isla Negra, no Chile. Tem como base a serapilheira

esses lenços também passaram a ser entregues aos

(arpillera, em espanhol), um tecido rústico utilizado

namorados e maridos que saíam de Portugal em busca

para a confecção de sacos de farinha ou de batata. Os

de melhores condições de vida

desenhos são então feitos por meio de retalhos de tecidos costurados na serapilheira, ou ainda pode-se bordar com lã sobre esse mesmo material. Tradicionalmente, a arpillera é uma técnica cuja história está associada ao protagonismo feminino. Las Bordaderas de Isla Negra é um grupo criado na década

RefLexões/propostAs pArA o púbLico

de 1960 e originado pelas oficinas de Leonor Sobrino (nascida em 1912), artista que residia na capital chilena e viajava para Isla Negra com sua família no verão. Leonor começou a realizar oficinas com os moradores

Procure recordar-se de um filme romântico que tenha assistido. Como seria o Lenço dos Namorados baseado nessa história? Pela imaginação, você pode incluir o objeto em uma de suas cenas favoritas. Outra possibilidade é construir um lenço inspirado no contexto amoroso e presentear alguém.

da Ilha, e em 1969 optou pelo bordado sobre serapilheira. Incentivou as participantes da oficina, cerca de 20 mulheres, a buscarem inspiração para seus bordados na natureza, em seus afazeres domésticos e no cotidiano vivenciado na Ilha. A técnica arpillera tornou-se resistência feminina em Santiago, capital do Chile, durante o período ditatorial. Em 1974 aconteceu a primeira oficina de arpilleras patrocinada pela Vicaría de la Solidaridad,

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Estrofe com quatro versos; na poesia popular é constituída de heptassílabos com uma única rima, do segundo com o quarto verso.

uma organização vinculada à Igreja católica chilena. As arpilleras feitas nas oficinas eram enviadas para

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AUTORA DESCONHECIDA. Marcha de mujeres familiares de tenidos desaparecidos (AFDD), 1980-1992. Arpillera 71,2 × 48,2 × 0,8 cm. Fondo Fundación Solidaridad. Colección Museo de la Memoria y los Derechos Humanos

o exterior como forma de denunciar o que ocorria no país. As peças costumavam conter bolsinhos nos quais, muitas vezes, bilhetes levavam mensagens descrevendo o cotidiano de abusos nas prisões. Além do ativismo político, as arpilleras eram vendidas e geravam renda para as mulheres. Recentemente, no Brasil, a arpillera foi utilizada pelo Movimento dos Atingidos pelas Barragens (MAB) como forma de arte e de denúncia da situação de calamidade social e ecológica que atingiu a população após o rompimento da barragem em Mariana, em Minas Gerais. O documentário “Arpilleras: atingidas por barragens bordando a resistência”* narra o protagonismo de mulheres que tiveram suas vidas atingidas por acidentes causados por barragens, por hidrelétricas ou pela mineração.

RefLexões/propostAs pArA o púbLico A técnica Arpillera utiliza a serapilheira como suporte para o bordado. Vimos que a fotografia também pode ser utilizada como suporte. Que outros materiais podem carregar fios bordados? Investigue, toque e sinta objetos que podem ser transformados em obras bordadas. Pense em uma folha vegetal caída no chão, cena bastante comum em quintais, praças e lugares arborizados. Então, você já pensou que ela pode carregar uma mensagem bordada? O que você bordaria nela?

*

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Documentário de 2017 e dirigido por Adriane Canan. O filme está disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=PEu-AATb3TU


AUTORA DESCONHECIDA. Marcha de mujeres familiares de tenidos desaparecidos (AFDD), 1980-1992. Arpillera 71,2 × 48,2 × 0,8 cm. Fondo Fundación Solidaridad. Colección Museo de la Memoria y los Derechos Humanos

o exterior como forma de denunciar o que ocorria no país. As peças costumavam conter bolsinhos nos quais, muitas vezes, bilhetes levavam mensagens descrevendo o cotidiano de abusos nas prisões. Além do ativismo político, as arpilleras eram vendidas e geravam renda para as mulheres. Recentemente, no Brasil, a arpillera foi utilizada pelo Movimento dos Atingidos pelas Barragens (MAB) como forma de arte e de denúncia da situação de calamidade social e ecológica que atingiu a população após o rompimento da barragem em Mariana, em Minas Gerais. O documentário “Arpilleras: atingidas por barragens bordando a resistência”* narra o protagonismo de mulheres que tiveram suas vidas atingidas por acidentes causados por barragens, por hidrelétricas ou pela mineração.

RefLexões/propostAs pArA o púbLico A técnica Arpillera utiliza a serapilheira como suporte para o bordado. Vimos que a fotografia também pode ser utilizada como suporte. Que outros materiais podem carregar fios bordados? Investigue, toque e sinta objetos que podem ser transformados em obras bordadas. Pense em uma folha vegetal caída no chão, cena bastante comum em quintais, praças e lugares arborizados. Então, você já pensou que ela pode carregar uma mensagem bordada? O que você bordaria nela?

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Documentário de 2017 e dirigido por Adriane Canan. O filme está disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=PEu-AATb3TU


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HomeNs, Artes têxTeis e ornAmeNtos O bordado é uma técnica têxtil associada a um fazer feminino, em muitos lugares e contextos. Além do bordado, as artes têxteis e as atividades ligadas à confecção de vestimentas e à moda são comumente associadas a um gosto e a um fazer exclusivos de mulheres. No entanto, a técnica do bordado e a confecção de indumentárias nem sempre foram agregadas somente ao universo feminino. Nem sempre as roupas muito enfeitadas foram obrigatoriamente consideradas símbolos de feminilidade e delicadeza. É interessante notar que o bordado era um item essencial na indumentária de homens poderosos – quanto mais itens bordados, quanto mais ornamentos eram adicionados aos seus vestuários, mais

masculinidade e poder eles demonstravam ter. Nos séculos XVII e XVIII, as roupas masculinas incluíam peças bordadas, com rendas e muita pompa. Um exemplo é a imagem de Luís XIV, rei da França de 1643 a 1715, um dos monarcas mais importantes de todos os tempos. Sua figura comporta muitos ornamentos e peles, além de sapatos de salto e perucas, hoje vistos como atributos femininos, mas na época o sentido era totalmente diverso.

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HomeNs, Artes têxTeis e ornAmeNtos O bordado é uma técnica têxtil associada a um fazer feminino, em muitos lugares e contextos. Além do bordado, as artes têxteis e as atividades ligadas à confecção de vestimentas e à moda são comumente associadas a um gosto e a um fazer exclusivos de mulheres. No entanto, a técnica do bordado e a confecção de indumentárias nem sempre foram agregadas somente ao universo feminino. Nem sempre as roupas muito enfeitadas foram obrigatoriamente consideradas símbolos de feminilidade e delicadeza. É interessante notar que o bordado era um item essencial na indumentária de homens poderosos – quanto mais itens bordados, quanto mais ornamentos eram adicionados aos seus vestuários, mais

masculinidade e poder eles demonstravam ter. Nos séculos XVII e XVIII, as roupas masculinas incluíam peças bordadas, com rendas e muita pompa. Um exemplo é a imagem de Luís XIV, rei da França de 1643 a 1715, um dos monarcas mais importantes de todos os tempos. Sua figura comporta muitos ornamentos e peles, além de sapatos de salto e perucas, hoje vistos como atributos femininos, mas na época o sentido era totalmente diverso.

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A Enciclopédia* coordenada por Diderot e D’Alembert, publicada em 1751, é extraordinária fonte de informação acerca das artes e técnicas do passado, inclusive nas suas dimensões sociais e culturais. Nela não existe a entrada brodeuse, “bordadeira”, mas unicamente brodeur, no masculino. Além de o bordado ser um adorno presente nas indumentárias, o ofício do bordar também era vinculado aos homens. A partir da Revolução Francesa, a ascensão da burguesia fez o vestuário masculino abandonar os elementos pomposos usados pelos homens da Corte. Ao longo do século XIX, os trajes masculinos adotaram cores escuras e um visual mais “limpo”, naquilo que por vezes se chama de “a grande renúncia masculina”. No século XX, a alfaiataria clássica e itens como sapatos bicolores, cartola, bengala e lenço foram incorporados nas vestimentas masculinas. O bordado

1974) foi um artista de inúmeras facetas – atuou como

novamente foi associado às roupas masculinas com os

pintor, fez parte do Grupo Santa Helena em São Paulo, foi

monogramas em camisas feitas sob encomenda, mas

ALDO BONADEI. Saia, s.d. Óleo, barbante e lã sobre estopa e juta, 75 × 10 × 105 cm. Coleção da Pinacoteca do Estado de São Paulo. Doação de Helena Wiechmann, 1996. foto Isabella Matheus

ficava assim restrito aos detalhes. Na exposição Transbordar temos diversos artistas pertencentes ao sexo masculino. Dentre eles, dois atuaram ainda na primeira metade do século XX produzindo peças de roupas. Aldo Bonadei (1906-

*

Foi uma das primeiras enciclopédias, publicada na França no século XVIII. São 35 volumes (com 71.818 artigos e 2.885 ilustrações) editados por Jean le Rond d’Alembert e Denis Diderot. Outros notáveis pensadores do Iluminismo francês contribuíram para a obra, incluindo Voltaire, Rousseau e Montesquieu.

36

37

gravurista e figurinista. Sua aproximação com o universo da moda veio da família, pois seu pai foi gerente de uma das primeiras fábricas de bordados e plissados do Brasil. Começou a pintar aos 6 anos, após ganhar da mãe uma tela e tintas, e em 1923 tornou-se aluno do artista Pedro Alexandrino. Aldo também frequentou o Liceu de Artes e Ofícios, e em sua ficha de inscrição lê-se bordador. Consta que bordava constantemente para sustentar-se, uma vez que o mercado para pintura no Brasil era muito restrito. Arthur Bispo do Rosário nasceu em Japaratuba,

cidade que abrigou um dos quilombos mais importantes de Sergipe, do qual se originou o povoado hoje


A Enciclopédia* coordenada por Diderot e D’Alembert, publicada em 1751, é extraordinária fonte de informação acerca das artes e técnicas do passado, inclusive nas suas dimensões sociais e culturais. Nela não existe a entrada brodeuse, “bordadeira”, mas unicamente brodeur, no masculino. Além de o bordado ser um adorno presente nas indumentárias, o ofício do bordar também era vinculado aos homens. A partir da Revolução Francesa, a ascensão da burguesia fez o vestuário masculino abandonar os elementos pomposos usados pelos homens da Corte. Ao longo do século XIX, os trajes masculinos adotaram cores escuras e um visual mais “limpo”, naquilo que por vezes se chama de “a grande renúncia masculina”. No século XX, a alfaiataria clássica e itens como sapatos bicolores, cartola, bengala e lenço foram incorporados nas vestimentas masculinas. O bordado

1974) foi um artista de inúmeras facetas – atuou como

novamente foi associado às roupas masculinas com os

pintor, fez parte do Grupo Santa Helena em São Paulo, foi

monogramas em camisas feitas sob encomenda, mas

ALDO BONADEI. Saia, s.d. Óleo, barbante e lã sobre estopa e juta, 75 × 10 × 105 cm. Coleção da Pinacoteca do Estado de São Paulo. Doação de Helena Wiechmann, 1996. foto Isabella Matheus

ficava assim restrito aos detalhes. Na exposição Transbordar temos diversos artistas pertencentes ao sexo masculino. Dentre eles, dois atuaram ainda na primeira metade do século XX produzindo peças de roupas. Aldo Bonadei (1906-

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Foi uma das primeiras enciclopédias, publicada na França no século XVIII. São 35 volumes (com 71.818 artigos e 2.885 ilustrações) editados por Jean le Rond d’Alembert e Denis Diderot. Outros notáveis pensadores do Iluminismo francês contribuíram para a obra, incluindo Voltaire, Rousseau e Montesquieu.

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gravurista e figurinista. Sua aproximação com o universo da moda veio da família, pois seu pai foi gerente de uma das primeiras fábricas de bordados e plissados do Brasil. Começou a pintar aos 6 anos, após ganhar da mãe uma tela e tintas, e em 1923 tornou-se aluno do artista Pedro Alexandrino. Aldo também frequentou o Liceu de Artes e Ofícios, e em sua ficha de inscrição lê-se bordador. Consta que bordava constantemente para sustentar-se, uma vez que o mercado para pintura no Brasil era muito restrito. Arthur Bispo do Rosário nasceu em Japaratuba,

cidade que abrigou um dos quilombos mais importantes de Sergipe, do qual se originou o povoado hoje


ARTHUR BISPO DO ROSÁRIO. Lutas e condecorações, s.d. Costura, bordado, escrita, 84 × 57 × 2 cm Coleção Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea, Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. foto Rafael Adorján

denominado Patioba. A cidade de Japaratuba se emancipou em 1934, mas sua formação está ligada aos engenhos de cana-de-açúcar, iniciando-se com o grande fluxo de escravizados – em determinado momento havia mais pessoas nessas condições do que as livres. A cidade é conhecida por suas festas religiosas e por sua cultura tradicional vinculada ao artesanato. Arthur Bispo do Rosário cresceu em meio a todas essas referências e migrou em 1925 para o Rio de Janeiro, onde trabalhou como grumete* da Marinha, atuou como lavador de bondes da companhia Light e foi boxeador. Bispo do Rosário teve seu primeiro surto psicótico em 1938, e descrevia seu delírio como um desígnio divino: ele seria portador de uma mensagem perante Deus no Juízo Final e, para isso, tinha a missão de fazer um inventário poético do mundo. Na vasta produção de Bispo do Rosário na Colônia Juliano Moreira havia muitos jaquetões, entre eles Lutas e Condecorações (s.d.), ornamentado com moedas, medalhas religiosas, fitas e outros materiais simulando flâmulas. Foram empregadas cerca de 40 flâmulas, e o excesso faz referências às condecorações monárquicas, com diversas medalhas.

*

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Grumete é um aprendiz, responsável pela limpeza a bordo, que ajuda os marinheiros nas diferentes tarefas.


ARTHUR BISPO DO ROSÁRIO. Lutas e condecorações, s.d. Costura, bordado, escrita, 84 × 57 × 2 cm Coleção Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea, Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. foto Rafael Adorján

denominado Patioba. A cidade de Japaratuba se emancipou em 1934, mas sua formação está ligada aos engenhos de cana-de-açúcar, iniciando-se com o grande fluxo de escravizados – em determinado momento havia mais pessoas nessas condições do que as livres. A cidade é conhecida por suas festas religiosas e por sua cultura tradicional vinculada ao artesanato. Arthur Bispo do Rosário cresceu em meio a todas essas referências e migrou em 1925 para o Rio de Janeiro, onde trabalhou como grumete* da Marinha, atuou como lavador de bondes da companhia Light e foi boxeador. Bispo do Rosário teve seu primeiro surto psicótico em 1938, e descrevia seu delírio como um desígnio divino: ele seria portador de uma mensagem perante Deus no Juízo Final e, para isso, tinha a missão de fazer um inventário poético do mundo. Na vasta produção de Bispo do Rosário na Colônia Juliano Moreira havia muitos jaquetões, entre eles Lutas e Condecorações (s.d.), ornamentado com moedas, medalhas religiosas, fitas e outros materiais simulando flâmulas. Foram empregadas cerca de 40 flâmulas, e o excesso faz referências às condecorações monárquicas, com diversas medalhas.

*

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Grumete é um aprendiz, responsável pela limpeza a bordo, que ajuda os marinheiros nas diferentes tarefas.


3.1

Daomé, pelo povo Fon. Ela consiste em sobrepor tecidos de algodão por meio de costuras. Os Apliques eram figurativos, e sua utilização no período do Reino de

Os tecidos da ReaLezA

Daomé identificava o chefe real, como um brasão – o desenho de seu Aplique era construído de acordo com as qualidades desse rei. Uma referência a essa técnica no

Vale a pena saber que a riqueza têxtil não é algo exclusivo

período contemporâneo pode ser encontrada na obra

dos povos europeus. O vestuário e a confecção de tecidos

do artista beninense Alphonse Yémadjè (1916-2012).

são tradicionais também em vários países do continente

Descendente dos artesãos reais de Abomey, ele utilizava a

africano. Alguns trajes e técnicas têxteis estão associados

tradicional técnica têxtil em sua produção artística.

aos impérios e são usados pela realeza. No oeste da África, em Gana, havia os povos Ashanti e seu império, considerado um dos mais poderosos do continente. O tecido Kente era confeccionado por homens que usavam teares e agulhas para formar faixas estreitas, costuradas umas nas outras até obter uma largura suficiente para vestir. Kente era o tecido nobre, usado pelos reis em ocasiões especiais. O saber da confecção do tecido era uma tradição masculina ancestral, pois a técnica e a profissão de tecelão eram passadas de pai para filho. A padronagem dos tecidos Kente era detalhada, e

RefLexões/propostAs pArA o púbLico

seus desenhos reuniam vários símbolos que contavam histórias, datas importantes e provérbios. São conhecidos diversos padrões do tecido Kente, mas nem todos já foram decodificados. Em Togo, os povos Ewe também

Que pessoas geralmente ganham condecorações de reis e rainhas? Inspirando-se na obra Lutas e Condecorações de Bispo do Rosário, crie um personagem com qualidades heroicas. Depois, invente uma vestimenta para esse personagem. Pense em tecidos, ornamentos, cores… Nessa roupa haveria frases escritas? Desenhe essa roupa e pense em como representaria os detalhes.

confeccionavam esse tecido, e sua padronagem era figurativa, misturando seda e algodão. E assim como entre os Ashanti, o tecido era produzido por homens. Outra técnica têxtil produzida por homens e também associada à realeza é o Aplique. Essa técnica foi desenvolvida na região do Benim, no Reino de

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Daomé, pelo povo Fon. Ela consiste em sobrepor tecidos de algodão por meio de costuras. Os Apliques eram figurativos, e sua utilização no período do Reino de

Os tecidos da ReaLezA

Daomé identificava o chefe real, como um brasão – o desenho de seu Aplique era construído de acordo com as qualidades desse rei. Uma referência a essa técnica no

Vale a pena saber que a riqueza têxtil não é algo exclusivo

período contemporâneo pode ser encontrada na obra

dos povos europeus. O vestuário e a confecção de tecidos

do artista beninense Alphonse Yémadjè (1916-2012).

são tradicionais também em vários países do continente

Descendente dos artesãos reais de Abomey, ele utilizava a

africano. Alguns trajes e técnicas têxteis estão associados

tradicional técnica têxtil em sua produção artística.

aos impérios e são usados pela realeza. No oeste da África, em Gana, havia os povos Ashanti e seu império, considerado um dos mais poderosos do continente. O tecido Kente era confeccionado por homens que usavam teares e agulhas para formar faixas estreitas, costuradas umas nas outras até obter uma largura suficiente para vestir. Kente era o tecido nobre, usado pelos reis em ocasiões especiais. O saber da confecção do tecido era uma tradição masculina ancestral, pois a técnica e a profissão de tecelão eram passadas de pai para filho. A padronagem dos tecidos Kente era detalhada, e

RefLexões/propostAs pArA o púbLico

seus desenhos reuniam vários símbolos que contavam histórias, datas importantes e provérbios. São conhecidos diversos padrões do tecido Kente, mas nem todos já foram decodificados. Em Togo, os povos Ewe também

Que pessoas geralmente ganham condecorações de reis e rainhas? Inspirando-se na obra Lutas e Condecorações de Bispo do Rosário, crie um personagem com qualidades heroicas. Depois, invente uma vestimenta para esse personagem. Pense em tecidos, ornamentos, cores… Nessa roupa haveria frases escritas? Desenhe essa roupa e pense em como representaria os detalhes.

confeccionavam esse tecido, e sua padronagem era figurativa, misturando seda e algodão. E assim como entre os Ashanti, o tecido era produzido por homens. Outra técnica têxtil produzida por homens e também associada à realeza é o Aplique. Essa técnica foi desenvolvida na região do Benim, no Reino de

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ArtistAs

sArtistA

Aldo Bonadei São Paulo, SP, 1906-1974

Aldo Bonadei foi pintor, designer, gravador, figurinista e professor. Estudou no Liceu de Artes e Ofícios, em São Paulo, e posteriormente com Pedro Alexandrino, de 1923 a 1928. Em 1929 realizou sua primeira individual. Nos anos 1930 pertenceu ao Grupo Santa Helena, ao lado de Volpi, Clóvis Graciano, Mário Zanini e outros. Bonadei participou da Família Artística Paulista e foi um dos fundadores da Oficina de Arte (O.D.A.).

ARthur BISPO DO ROSÁRIO Japaratuba, SE, 1909(?) - Rio de Janeiro, RJ, 1989

Arthur Bispo do Rosário foi um artista plástico brasileiro. Pouco se sabe sobre sua infância, mas há registro de seu ingresso na Escola de Aprendizes Marinheiros, em Aracaju, no ano de 1925. No ano seguinte Bispo vai à cidade do Rio de Janeiro, onde se alista na Marinha de Guerra e permanece por 9 anos. Ele foi boxeador e campeão dos pesos-leves, mas sofreu um acidente em 1936 e seu pé foi esmagado pela roda de um bonde, interrompendo sua atuação como esportista. Por conta do processo que moveu contra a Light, companhia em que trabalhava na época, Bispo tornou-se o “faz tudo” da família de Humberto Leone, advogado na sua causa trabalhista. Bispo era esquizofrênico paranoico e teve sua primeira alucinação no dia 22 de dezembro de 1938. Saiu de madrugada pela rua deserta até chegar ao Mosteiro de São Bento, no Centro do Rio. Lá, ele se apresentou aos frades como “aquele que veio julgar os vivos e os mortos”. Foi encaminhado para o hospício da Praia Vermelha e posteriormente transferido para a Colônia Juliano Moreira, onde permaneceu por 50 anos. Em determinado momento,

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ArtistAs

sArtistA

Aldo Bonadei São Paulo, SP, 1906-1974

Aldo Bonadei foi pintor, designer, gravador, figurinista e professor. Estudou no Liceu de Artes e Ofícios, em São Paulo, e posteriormente com Pedro Alexandrino, de 1923 a 1928. Em 1929 realizou sua primeira individual. Nos anos 1930 pertenceu ao Grupo Santa Helena, ao lado de Volpi, Clóvis Graciano, Mário Zanini e outros. Bonadei participou da Família Artística Paulista e foi um dos fundadores da Oficina de Arte (O.D.A.).

ARthur BISPO DO ROSÁRIO Japaratuba, SE, 1909(?) - Rio de Janeiro, RJ, 1989

Arthur Bispo do Rosário foi um artista plástico brasileiro. Pouco se sabe sobre sua infância, mas há registro de seu ingresso na Escola de Aprendizes Marinheiros, em Aracaju, no ano de 1925. No ano seguinte Bispo vai à cidade do Rio de Janeiro, onde se alista na Marinha de Guerra e permanece por 9 anos. Ele foi boxeador e campeão dos pesos-leves, mas sofreu um acidente em 1936 e seu pé foi esmagado pela roda de um bonde, interrompendo sua atuação como esportista. Por conta do processo que moveu contra a Light, companhia em que trabalhava na época, Bispo tornou-se o “faz tudo” da família de Humberto Leone, advogado na sua causa trabalhista. Bispo era esquizofrênico paranoico e teve sua primeira alucinação no dia 22 de dezembro de 1938. Saiu de madrugada pela rua deserta até chegar ao Mosteiro de São Bento, no Centro do Rio. Lá, ele se apresentou aos frades como “aquele que veio julgar os vivos e os mortos”. Foi encaminhado para o hospício da Praia Vermelha e posteriormente transferido para a Colônia Juliano Moreira, onde permaneceu por 50 anos. Em determinado momento,

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Arthur Bispo do Rosário passou a produzir objetos com diversos itens oriundos do lixo e da sucata. Entre os temas de suas obras destacam-se navios (tema recorrente por causa de sua relação com a Marinha na juventude), estandartes, faixas de misses e objetos domésticos. Bispo despertou o interesse da mídia e de críticos de arte, o que o levou, em 1982, a expor pela primeira vez 15 de seus estandartes na mostra Margem da Vida, no Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro.

CaROLINE Ca ROLINE VALANSI Rio de Janeiro, RJ, 1979

Caroline Valansi é artista visual, professora, e também trabalha com saúde mental. Sua produção artística transita entre a palavra, o espaço e a ficção. Suas obras sempre foram enraizadas num forte interesse em traços coletivos e histórias íntimas. Utiliza materiais familiares em sua pesquisa: fotos de salas de cinemas, velhos filmes pornográficos, imagens encontradas na internet e suas próprias fotografias e desenhos que, juntos, somam uma ampla exploração de representações da sexualidade feminina contemporânea. Realizou as exposições individuais Cine Desejo (Centro Cultural de Artes Hélio Oiticica, RJ, 2020), Carne Viva (Subsolo Laboratório de Arte, Campinas, SP, 2019), Corpo Cinético (CCSP – Centro Cultural São Paulo, SP, 2019) e Memórias Inventadas em Costuras Simples (CCJE – Centro Cultural Justiça Eleitoral, RJ, 2009). Participou de exposições coletivas no Brasil e em Cuba, Portugal, França, Colômbia e Argentina.

FABIO CARVALHO Rio de Janeiro, RJ, 1965

Artista plástico cujo trabalho é uma reflexão sobre os elementos que constituem as expectativas de gênero,

Fabio Carvalho opera no choque entre signos aceitos como masculinos e viris e elementos vistos como femininos, delicados e sensíveis. Integrou importantes projetos de mapeamento da produção de arte no Brasil em seu início de carreira, e fez 17 exposições individuais e mais de 150 coletivas por diversas cidades no Brasil e em outros 15 países. Participou de diversas Residências Artísticas em Portugal (Faianças Artísticas Bordallo Pinheiro, Porcelana Vista Alegre e Cerâmica São Bernardo, entre outras) e no Brasil: Museu Bispo do Rosário e Pensão Artística (ambas no Rio de Janeiro), CACW (Ribeirão Preto, SP) e Horizontes Transitórios (Sobral, CE).

JUCÉLIA DA SILVA Pedra, PE, 1985

Artista visual, performer e educadora pernambucana, foi criada no bairro do Grajaú, zona sul da cidade de São Paulo. É formada em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da Unesp (São Paulo) e em Estudos Artísticos pela Universidade de Coimbra (Portugal). Em sua pesquisa e produção artística investiga a construção de narrativas pessoais a partir de materiais autobiográficos, bem como os caminhos percorridos por estes até se configurarem em possibilidades poéticas para a criação. Interessa-se, sobretudo, por elementos do universo têxtil e pelos fazeres manuais atrelados às suas práticas.

PEDRO LUIS Rio de Janeiro, RJ, 1989

O carioca Pedro Luis, conhecido também por pedroluiss, vive e trabalha em São Paulo desde 2014. Artista plástico formado pela Escola Panamericana de Arte e Design e publicitário formado pela PUC-Rio, abandonou a direção


Arthur Bispo do Rosário passou a produzir objetos com diversos itens oriundos do lixo e da sucata. Entre os temas de suas obras destacam-se navios (tema recorrente por causa de sua relação com a Marinha na juventude), estandartes, faixas de misses e objetos domésticos. Bispo despertou o interesse da mídia e de críticos de arte, o que o levou, em 1982, a expor pela primeira vez 15 de seus estandartes na mostra Margem da Vida, no Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro.

CaROLINE Ca ROLINE VALANSI Rio de Janeiro, RJ, 1979

Caroline Valansi é artista visual, professora, e também trabalha com saúde mental. Sua produção artística transita entre a palavra, o espaço e a ficção. Suas obras sempre foram enraizadas num forte interesse em traços coletivos e histórias íntimas. Utiliza materiais familiares em sua pesquisa: fotos de salas de cinemas, velhos filmes pornográficos, imagens encontradas na internet e suas próprias fotografias e desenhos que, juntos, somam uma ampla exploração de representações da sexualidade feminina contemporânea. Realizou as exposições individuais Cine Desejo (Centro Cultural de Artes Hélio Oiticica, RJ, 2020), Carne Viva (Subsolo Laboratório de Arte, Campinas, SP, 2019), Corpo Cinético (CCSP – Centro Cultural São Paulo, SP, 2019) e Memórias Inventadas em Costuras Simples (CCJE – Centro Cultural Justiça Eleitoral, RJ, 2009). Participou de exposições coletivas no Brasil e em Cuba, Portugal, França, Colômbia e Argentina.

FABIO CARVALHO Rio de Janeiro, RJ, 1965

Artista plástico cujo trabalho é uma reflexão sobre os elementos que constituem as expectativas de gênero,

Fabio Carvalho opera no choque entre signos aceitos como masculinos e viris e elementos vistos como femininos, delicados e sensíveis. Integrou importantes projetos de mapeamento da produção de arte no Brasil em seu início de carreira, e fez 17 exposições individuais e mais de 150 coletivas por diversas cidades no Brasil e em outros 15 países. Participou de diversas Residências Artísticas em Portugal (Faianças Artísticas Bordallo Pinheiro, Porcelana Vista Alegre e Cerâmica São Bernardo, entre outras) e no Brasil: Museu Bispo do Rosário e Pensão Artística (ambas no Rio de Janeiro), CACW (Ribeirão Preto, SP) e Horizontes Transitórios (Sobral, CE).

JUCÉLIA DA SILVA Pedra, PE, 1985

Artista visual, performer e educadora pernambucana, foi criada no bairro do Grajaú, zona sul da cidade de São Paulo. É formada em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da Unesp (São Paulo) e em Estudos Artísticos pela Universidade de Coimbra (Portugal). Em sua pesquisa e produção artística investiga a construção de narrativas pessoais a partir de materiais autobiográficos, bem como os caminhos percorridos por estes até se configurarem em possibilidades poéticas para a criação. Interessa-se, sobretudo, por elementos do universo têxtil e pelos fazeres manuais atrelados às suas práticas.

PEDRO LUIS Rio de Janeiro, RJ, 1989

O carioca Pedro Luis, conhecido também por pedroluiss, vive e trabalha em São Paulo desde 2014. Artista plástico formado pela Escola Panamericana de Arte e Design e publicitário formado pela PUC-Rio, abandonou a direção


elementos. Suas composições se iniciam por meio de práticas espontâneas e desinteressadas de desconstrução e remontagem de artefatos cotidianos que cruzam seu caminho, formando corpos num processo conduzido por uma rara intuição, capaz de vivificar e propor novos sentidos para o que está no mundo. Em 2018 a artista teve suas primeiras grandes mostras institucionais monográficas no Brasil, no MASP (Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand) e no Museu de Arte Contemporânea de Niterói. Seus trabalhos também foram incluídos em mostras coletivas institucionais como a 56ª Biennale di Venezia (Itália, 2015); Entangled, Turner Contemporary, Margate (Reino Unido, 2017); Revival, The National Museum of Women in the Arts, Washington (EUA, 2017); Art & Textiles – Fabric as Material and Concept in Modern Art, Kunstmuseum Wolfsburg (Alemanha, 2013); Out of Fashion. Textile in International Contemporary Art, Kunsten – Museum of Modern Art Aalborg (Dinamarca, 2013).

de arte para se dedicar às artes visuais. Aos poucos, coisas que sempre acompanharam sua carreira, como colagens, pinturas e desenho a mão livre, foram ganhando cada vez mais protagonismo em sua vida. Há 4 anos encontrou no bordado não só mais uma ferramenta de expressão artística, mas uma maneira de contar a sua própria história.

POLA FERNANDEZ Santiago, Chile, 1958

Chilena radicada no Brasil, pedagoga e fotógrafa, especialista em Artes Visuais, Multimeios e Educação pela Unicamp, Pola Fernandez tem uma rica produção fotográfica de retratos que expressam vestígios de uma articulação sensível e fiel a uma temática que antes de estética veicula também o olhar dos que perscrutam o tempo, o homem e as relações sociais. Dedica-se também à experimentação visual, produzindo fotografias híbridas, que ganham contornos e relevos em intervenções da técnica do bordado em tecido e papel confeccionados pela artista. Em seus trabalhos revela, conecta, intui, borda, trama, mistura, sutura, expõe o avesso. Experimenta variadas escalas, suportes e dimensões. Seu processo começa, porém, com o olhar que mira no fundo e se deixa ser olhado de volta. É tão profundo quanto epidérmico. Penetra camadas com mansidão e nos devolve a vontade de tocar as texturas dos mundos que se desfazem para se refazer.

SoNIA So NIA Gomes Gomes Caetanópolis, MG, 1948

Sonia Gomes trabalha com a produção de esculturas e instalações concebidas a partir de numerosos materiais com distintas histórias – como roupas e mobiliários – e das possíveis combinações espirituais entre tais

47


elementos. Suas composições se iniciam por meio de práticas espontâneas e desinteressadas de desconstrução e remontagem de artefatos cotidianos que cruzam seu caminho, formando corpos num processo conduzido por uma rara intuição, capaz de vivificar e propor novos sentidos para o que está no mundo. Em 2018 a artista teve suas primeiras grandes mostras institucionais monográficas no Brasil, no MASP (Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand) e no Museu de Arte Contemporânea de Niterói. Seus trabalhos também foram incluídos em mostras coletivas institucionais como a 56ª Biennale di Venezia (Itália, 2015); Entangled, Turner Contemporary, Margate (Reino Unido, 2017); Revival, The National Museum of Women in the Arts, Washington (EUA, 2017); Art & Textiles – Fabric as Material and Concept in Modern Art, Kunstmuseum Wolfsburg (Alemanha, 2013); Out of Fashion. Textile in International Contemporary Art, Kunsten – Museum of Modern Art Aalborg (Dinamarca, 2013).

de arte para se dedicar às artes visuais. Aos poucos, coisas que sempre acompanharam sua carreira, como colagens, pinturas e desenho a mão livre, foram ganhando cada vez mais protagonismo em sua vida. Há 4 anos encontrou no bordado não só mais uma ferramenta de expressão artística, mas uma maneira de contar a sua própria história.

POLA FERNANDEZ Santiago, Chile, 1958

Chilena radicada no Brasil, pedagoga e fotógrafa, especialista em Artes Visuais, Multimeios e Educação pela Unicamp, Pola Fernandez tem uma rica produção fotográfica de retratos que expressam vestígios de uma articulação sensível e fiel a uma temática que antes de estética veicula também o olhar dos que perscrutam o tempo, o homem e as relações sociais. Dedica-se também à experimentação visual, produzindo fotografias híbridas, que ganham contornos e relevos em intervenções da técnica do bordado em tecido e papel confeccionados pela artista. Em seus trabalhos revela, conecta, intui, borda, trama, mistura, sutura, expõe o avesso. Experimenta variadas escalas, suportes e dimensões. Seu processo começa, porém, com o olhar que mira no fundo e se deixa ser olhado de volta. É tão profundo quanto epidérmico. Penetra camadas com mansidão e nos devolve a vontade de tocar as texturas dos mundos que se desfazem para se refazer.

SoNIA So NIA Gomes Gomes Caetanópolis, MG, 1948

Sonia Gomes trabalha com a produção de esculturas e instalações concebidas a partir de numerosos materiais com distintas histórias – como roupas e mobiliários – e das possíveis combinações espirituais entre tais

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GlossáRio FLÂMULA  Peça de pano quadrangular, com as cores de determinada nação, país ou agremiação, usada como símbolo; bandeira: "o verde e amarelo da flâmula brasileira". Tipo de enfeite representado por uma bandeira pequena, estreita e comprida, cuja extremidade termina em ponta. INDUMENTÁRIA  Roupa; o que alguém usa para se vestir. Conjunto do vestuário utilizado em determinada época, região ou povo. Arte que se relaciona com o vestuário; traje. ORNAMENTO  Ação ou efeito de ornamentar, de colocar ornamentos, enfeites; ornamentação. Tudo o que orna ou serve para ornar, enfeitar, ornamentar; ornato. Em Arquitetura, indica parte de uma obra que, embora não seja um elemento essencial, participa da sua decoração. Na Religião, a veste usada pelo sacerdote durante a liturgia; paramento. RENDA FRIVOLITÉ  A renda frivolité usa linha de crochê e é composta por nós que se unem em forma de anéis e/ou arcos. O primeiro indício de sua existência encontra-se em 1707, no poema “The Royal Knotter”, do poeta inglês Sir Charles Sedley: a protagonista desse poema, Rainha Mary II (1662-1694), é descrita fazendo “frivolité”. RENDA RENASCENÇA  Técnica têxtil originada em Veneza, Itália, no século XVI, trazida ao Brasil por freiras europeias. É bordada à mão, com traços marcantes, em que predominam pontos exclusivos e entrelaçados delicados. Desenhos concêntricos se projetam em linhas sinuosas e divergentes.


GlossáRio FLÂMULA  Peça de pano quadrangular, com as cores de determinada nação, país ou agremiação, usada como símbolo; bandeira: "o verde e amarelo da flâmula brasileira". Tipo de enfeite representado por uma bandeira pequena, estreita e comprida, cuja extremidade termina em ponta. INDUMENTÁRIA  Roupa; o que alguém usa para se vestir. Conjunto do vestuário utilizado em determinada época, região ou povo. Arte que se relaciona com o vestuário; traje. ORNAMENTO  Ação ou efeito de ornamentar, de colocar ornamentos, enfeites; ornamentação. Tudo o que orna ou serve para ornar, enfeitar, ornamentar; ornato. Em Arquitetura, indica parte de uma obra que, embora não seja um elemento essencial, participa da sua decoração. Na Religião, a veste usada pelo sacerdote durante a liturgia; paramento. RENDA FRIVOLITÉ  A renda frivolité usa linha de crochê e é composta por nós que se unem em forma de anéis e/ou arcos. O primeiro indício de sua existência encontra-se em 1707, no poema “The Royal Knotter”, do poeta inglês Sir Charles Sedley: a protagonista desse poema, Rainha Mary II (1662-1694), é descrita fazendo “frivolité”. RENDA RENASCENÇA  Técnica têxtil originada em Veneza, Itália, no século XVI, trazida ao Brasil por freiras europeias. É bordada à mão, com traços marcantes, em que predominam pontos exclusivos e entrelaçados delicados. Desenhos concêntricos se projetam em linhas sinuosas e divergentes.


pAra sAber Mais www.nytimes.com/1989/10/19/garden/ tapestries-depict-life-in-chile.html https://www.capital.cl/el-ingenuo-arte-delas-bordadoras-de-isla-negra/ http://www.bordadorasdeislanegra.com/ historia/ https://www.mnba.gob.cl/617/ articles-92803_archivo_01.pdf https://letralia.com/182/articulo03.htm http://www.mabnacional.org.br/noticia/ arpilleras-filme-linhas-e-panos-servi-daresist-ncia-0 https://seculodiario.com.br/public/jornal/ materia/arpilleras-mulheres-quebordam-a-resistencia http://www.museuafrobrasil. org.br/docs/default-source/ publica%C3%A7%C3%B5es/silva-renato. pdf?sfvrsn=0 http://www.educacaografica.inf.br/wpcontent/uploads/2014/01/14_PANOSKENTE_162_180.pdf https://afrikhepri.org/le-kente-tissutraditionnel-de-kama-les-origines/ http://www.usp.br/aun/antigo/exibir. php?id=5734 http://sergipetradetour.com.br/polo/polodos-tabuleiros/cidades/japaratuba/ atracoes/artesanato-4f2587f6-8cd94c97-83bb-df0c64d9a186 https://slideplayer.com.br/slide/398211/ http://pepsic.bvsalud.org/ scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0101-31062014000100014 https://fapesp.br/publicacoes/bonadei/ https://www.fabiocarvalho.art.br/luctas.htm https://www.historiadasartes.com/prazerem-conhecer/aldo-bonadei/

50

http://www.hildeangel.com.br/a-modavendida-como-arte-em-leilao-deevandro-carneiro/ http://servicosdofuturo.com.br/voceconhece-historia-do-bordado/ https://averequete.blogspot.com/2013/06/ a-arte-do-bordado-da-indumentariados.html?m=1 http://sindivestuario.org.br/lacosrendas-e-bordados-a-moda-que-ja-foimasculina-e-os-homens-querem-devolta/ https://www.artesol.org.br/conteudos/ visualizar/O-bordado-e-suas-multiplasfaces https://www.catalogodasartes.com.br/ artista/Aldo%20Bonadei/ http://www.beatrix.pro.br/donzela-tecela/ moda-na-idade-media/ https://www.publico.pt/2003/10/13/ jornal/historia-do-povo-otomano-embordados-206423 http://www.canalmasculino.com.br/paraque-servem-os-monogramas-bordadosnas-camisas-masculinas/ https://www.stylourbano.com.br/o-rei-daalta-costura-como-luis-xiv-inventou-amoda-como-a-conhecemos/ https://www.nexojornal.com.br/ expresso/2019/12/12/Como-o-Bumbameu-boi-se-tornou-patrim%C3%B4nioda-Unesco https://www.hypeness.com.br/2016/02/ homem-na-agulha-paulistano-quebrabarreiras-ao-aproximar-os-homens-dobordado/ https://revistatrip.uol.com.br/trip/homensque-fazem-bordado


pAra sAber Mais www.nytimes.com/1989/10/19/garden/ tapestries-depict-life-in-chile.html https://www.capital.cl/el-ingenuo-arte-delas-bordadoras-de-isla-negra/ http://www.bordadorasdeislanegra.com/ historia/ https://www.mnba.gob.cl/617/ articles-92803_archivo_01.pdf https://letralia.com/182/articulo03.htm http://www.mabnacional.org.br/noticia/ arpilleras-filme-linhas-e-panos-servi-daresist-ncia-0 https://seculodiario.com.br/public/jornal/ materia/arpilleras-mulheres-quebordam-a-resistencia http://www.museuafrobrasil. org.br/docs/default-source/ publica%C3%A7%C3%B5es/silva-renato. pdf?sfvrsn=0 http://www.educacaografica.inf.br/wpcontent/uploads/2014/01/14_PANOSKENTE_162_180.pdf https://afrikhepri.org/le-kente-tissutraditionnel-de-kama-les-origines/ http://www.usp.br/aun/antigo/exibir. php?id=5734 http://sergipetradetour.com.br/polo/polodos-tabuleiros/cidades/japaratuba/ atracoes/artesanato-4f2587f6-8cd94c97-83bb-df0c64d9a186 https://slideplayer.com.br/slide/398211/ http://pepsic.bvsalud.org/ scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0101-31062014000100014 https://fapesp.br/publicacoes/bonadei/ https://www.fabiocarvalho.art.br/luctas.htm https://www.historiadasartes.com/prazerem-conhecer/aldo-bonadei/

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http://www.hildeangel.com.br/a-modavendida-como-arte-em-leilao-deevandro-carneiro/ http://servicosdofuturo.com.br/voceconhece-historia-do-bordado/ https://averequete.blogspot.com/2013/06/ a-arte-do-bordado-da-indumentariados.html?m=1 http://sindivestuario.org.br/lacosrendas-e-bordados-a-moda-que-ja-foimasculina-e-os-homens-querem-devolta/ https://www.artesol.org.br/conteudos/ visualizar/O-bordado-e-suas-multiplasfaces https://www.catalogodasartes.com.br/ artista/Aldo%20Bonadei/ http://www.beatrix.pro.br/donzela-tecela/ moda-na-idade-media/ https://www.publico.pt/2003/10/13/ jornal/historia-do-povo-otomano-embordados-206423 http://www.canalmasculino.com.br/paraque-servem-os-monogramas-bordadosnas-camisas-masculinas/ https://www.stylourbano.com.br/o-rei-daalta-costura-como-luis-xiv-inventou-amoda-como-a-conhecemos/ https://www.nexojornal.com.br/ expresso/2019/12/12/Como-o-Bumbameu-boi-se-tornou-patrim%C3%B4nioda-Unesco https://www.hypeness.com.br/2016/02/ homem-na-agulha-paulistano-quebrabarreiras-ao-aproximar-os-homens-dobordado/ https://revistatrip.uol.com.br/trip/homensque-fazem-bordado


SESC – SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO ADMINISTRAÇÃO REGIONAL NO ESTADO DE SÃO PAULO Presidente do Conselho Regional Abram Szajman Diretor do Departamento Regional Danilo Santos de Miranda SUPERINTENDENTES Técnico-Social Joel Naimayer Padula Comunicação Social Ivan Giannini Administração Luiz Deoclécio Massaro Galina Assessoria Técnica e de Planejamento Sérgio José Battistelli GERENTES Artes Visuais e Tecnologia Juliana Braga de Mattos Estudos e Desenvolvimento Marta Raquel Colabone Artes Gráficas Hélcio Magalhães Difusão e Promoção Marcos Ribeiro de Carvalho Contratações e Logística Adriana Mathias Patrimônio e Serviços Nelson Fonseca Sesc Pinheiros Flávia Carvalho

© Direitos autorais reservados pelos autores, artistas e fotógrafos. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida ou transmitida sob qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia ou qualquer sistema de armazenamento, sem a permissão por escrito do editor. Sesc e Art Unlimited estão à disposição das pessoas que eventualmente queiram se manifestar a respeito de licença de uso de imagens e/ou de textos reproduzidos neste material, tendo em vista determinados artistas e/ou representantes legais que não responderam às solicitações ou não foram identificados, ou localizados. contato@artunlimited.com.br © Sesc, os artistas e os autores, São Paulo 2020

TRANSBORDAR – TRANSGRESSÕES DO BORDADO NA ARTE Curadoria Ana Paula Cavalcanti Simioni Curadora assistente Jordana Braz Equipe Sesc Adriana Sales, Adriano Alves, Andréa Lanaro, Camila Hion, Carolina Barmell, Claudia Talita Oliveira, Claudia Garcia, Cláudio Hessel, Daniel Ramos, Diogo de Moraes, Fernanda Monteiro, Fernanda Porta Nova, Fernando Fialho, Gabriela Farcetta, Henrique Vizeu, Ilona Hertel, José Lima, Karina Musumeci, Lidia Borba, Ligia Moreli, Luciano Amadei, Luciano Quirino, Márcio Donisete Lopes, Nilva Luz, Paulo Roberto Ferreira, Silvana Santos, Silvio Miron, Suellen Barbosa, Thais Franco, Thais Guimarães Coordenação geral Art Unlimited – Tânia Mills, Pieter Tjabbes Produção executiva Sonia Leme Produção Cristiane Zago Equipe Art Unlimited Cristiane Guimarães, Martina Balieriro, Reginaldo de Souza, Rose Teixeira, Sandra Klinger Rocha Projeto expográfico Estúdio Gru – Jeanine Menezes, Lia Untem (assistente) Projeto luminotécnico Aline Santini, Vitória Pamplona (assistente) Identidade visual e design gráfico Tereza Bettinardi, Barbara Cutlak (assistente) Tratamento de imagem Wagner Fernandes Coordenação editorial Rafael Roncato Tradução do espanhol Cecilia Farias Revisão de textos Armando Olivetti Laudos de conservação Camila Ayla (MG), Evaldo Portela (ES), Gustavo Possamai (RS), Priscila Moret (RJ), R&M Conservação de obras de arte (SP) Montagem fina Alexandre Cruz da Silva, Cicero Bibiano da Silva Junior, Gustavo Silva Rosa, Helio Iwasa Ação educativa Rochele Beatriz Sá (coordenação) Transporte Art Quality Execução cenografia AYO Making of Castanheira Audiovisual


SESC – SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO ADMINISTRAÇÃO REGIONAL NO ESTADO DE SÃO PAULO Presidente do Conselho Regional Abram Szajman Diretor do Departamento Regional Danilo Santos de Miranda SUPERINTENDENTES Técnico-Social Joel Naimayer Padula Comunicação Social Ivan Giannini Administração Luiz Deoclécio Massaro Galina Assessoria Técnica e de Planejamento Sérgio José Battistelli GERENTES Artes Visuais e Tecnologia Juliana Braga de Mattos Estudos e Desenvolvimento Marta Raquel Colabone Artes Gráficas Hélcio Magalhães Difusão e Promoção Marcos Ribeiro de Carvalho Contratações e Logística Adriana Mathias Patrimônio e Serviços Nelson Fonseca Sesc Pinheiros Flávia Carvalho

© Direitos autorais reservados pelos autores, artistas e fotógrafos. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida ou transmitida sob qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia ou qualquer sistema de armazenamento, sem a permissão por escrito do editor. Sesc e Art Unlimited estão à disposição das pessoas que eventualmente queiram se manifestar a respeito de licença de uso de imagens e/ou de textos reproduzidos neste material, tendo em vista determinados artistas e/ou representantes legais que não responderam às solicitações ou não foram identificados, ou localizados. contato@artunlimited.com.br © Sesc, os artistas e os autores, São Paulo 2020

TRANSBORDAR – TRANSGRESSÕES DO BORDADO NA ARTE Curadoria Ana Paula Cavalcanti Simioni Curadora assistente Jordana Braz Equipe Sesc Adriana Sales, Adriano Alves, Andréa Lanaro, Camila Hion, Carolina Barmell, Claudia Talita Oliveira, Claudia Garcia, Cláudio Hessel, Daniel Ramos, Diogo de Moraes, Fernanda Monteiro, Fernanda Porta Nova, Fernando Fialho, Gabriela Farcetta, Henrique Vizeu, Ilona Hertel, José Lima, Karina Musumeci, Lidia Borba, Ligia Moreli, Luciano Amadei, Luciano Quirino, Márcio Donisete Lopes, Nilva Luz, Paulo Roberto Ferreira, Silvana Santos, Silvio Miron, Suellen Barbosa, Thais Franco, Thais Guimarães Coordenação geral Art Unlimited – Tânia Mills, Pieter Tjabbes Produção executiva Sonia Leme Produção Cristiane Zago Equipe Art Unlimited Cristiane Guimarães, Martina Balieriro, Reginaldo de Souza, Rose Teixeira, Sandra Klinger Rocha Projeto expográfico Estúdio Gru – Jeanine Menezes, Lia Untem (assistente) Projeto luminotécnico Aline Santini, Vitória Pamplona (assistente) Identidade visual e design gráfico Tereza Bettinardi, Barbara Cutlak (assistente) Tratamento de imagem Wagner Fernandes Coordenação editorial Rafael Roncato Tradução do espanhol Cecilia Farias Revisão de textos Armando Olivetti Laudos de conservação Camila Ayla (MG), Evaldo Portela (ES), Gustavo Possamai (RS), Priscila Moret (RJ), R&M Conservação de obras de arte (SP) Montagem fina Alexandre Cruz da Silva, Cicero Bibiano da Silva Junior, Gustavo Silva Rosa, Helio Iwasa Ação educativa Rochele Beatriz Sá (coordenação) Transporte Art Quality Execução cenografia AYO Making of Castanheira Audiovisual


Sesc Pinheiros Rua Paes Leme, 195 CEP 05424-150 Tel: (11) 3095.9400   Estação Faria Lima     /sescpinheiros sescsp.org.br/pinheiros


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