Vkhutemas arte veiculo 13,2x20cm

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VKHUTEMAS: O FUTURO EM CONSTRUÇÃO (1918-2018) ARTE-VEÍCULO BAUHAUS IMAGINISTA: APRENDIZADOS RECÍPROCOS MEU NOME ERA LOURENÇO



APRESENTAÇÃO

O Sesc Pompeia convida professores, estudantes e demais interessados a visitarem as exposições do segundo semestre de 2018. Esta breve publicação busca subsidiar colaboradores do ensino formal a trabalharem com os conteúdos das seguintes exposições em sala de aula: Vkhutemas: O futuro em construção (1918–2018), exposição com curadoria de Celso Lima e Neide Jallageas, reúne obras que apresentam a experiência pedagógica da instituição universitária soviética Svomas – Vkhutemas, marco utópico que buscou reunir, nas artes e no design, os anseios da Revolução Russa de 1917. Iniciativa que influenciou a arquiteta Lina Bo Bardi no projeto das Oficinas de Criatividade do Sesc Pompeia. Arte-veículo é uma exposição coletiva com 47 artistas e grupos estudados na pesquisa “Arte-veículo”, da curadora Ana Maria Maia. A mostra tem como proposta apresentar, no espaço de uma instituição cultural, intervenções artísticas que tiveram a mídia simultaneamente como meio e alvo, da televisão, inaugurada em 1951, à internet, difundida no início dos anos 2000. A curadoria mistura diferentes suportes na organização espacial da exposição, de documentos impressos e registros em vídeo a objetos e instalações. bauhaus imaginista: Aprendizados Recíprocos, com curadoria de Marion von Osten e Grant Watson, trata da influência da escola de arte e design alemã Bauhaus e de suas propostas modernistas na cultura e no design contemporâneos. A exposição traz técnicas, saberes e materiais populares regionais e sua apropriação pelo design modernista, de vocação internacional e multidisciplinar, e é uma colaboração transnacional de instituições da Alemanha, Brasil, China, Estados Unidos, Índia, Japão, Marrocos, Nigéria e Rússia. Meu nome era Lourenço, proposta pelo curador Manu Maltez, aborda a obra do multiartista e escritor Lourenço Mutarelli, com desenhos, pinturas, cadernos originais e instalações produzidas especialmente para a exposição. O trabalho aborda suas investidas a partir do universo dos quadrinhos, transitando para as artes visuais, literatura e cinema desde os anos 1990 até trabalhos mais recentes.


Contamos com a colaboração das leitoras e leitores para divulgar esta iniciativa e compartilhar conosco os desdobramentos do uso deste material. Relatos de experiências, outros usos possíveis e sugestões podem ser enviados para o e-mail da nossa equipe educativa: educativoexposicoes@pompeia.sescsp.org.br. Agendamentos de visitas podem ser feitos pelo telefone 11 3871-7759 ou pelo e-mail: agendamentos@pompeia.sescsp.org.br. As visitas acontecem de terça a sexta, das 10h às 20h30.



VKHUTEMAS O futuro em construção (1918-2018)

Curadoria: Celso Lima e Neide Jallageas 27.06 a 30.09.2018

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VANGUARDAS As rápidas transformações econômicas e culturais da segunda metade do século XIX deram origem a movimentos vanguardistas em vários locais da Europa. O progresso industrial e uma intensa aceleração dos avanços tecnológicos e científicos moldavam uma nova sociedade que surgia, assim como a indústria da guerra, que se desenvolvia como nunca dentro desse mesmo sistema industrial. O desenvolvimento das forças produtivas, a razão e o “desencantamento do mundo” – a superação dos mitos religiosos em favor do cálculo racional – e as ideologias revolucionárias encheram de expectativa atores sociais diversos, ansiosos pelo novo que está para nascer. Os artistas, organizados em grupos conhecidos como vanguardas, ao mesmo tempo em que imaginavam uma nova humanidade e pensavam em soluções estéticas inéditas, frutos da própria modernidade emergente, também confrontavam suas contradições. As vanguardas europeias organizavam-se sob preceitos dos mais diversos, geralmente apoiados em manifestos que redigiam, convidando artistas a experimentar o novo. Ao novo ser humano, à nova sociedade, eram necessários novos objetos, novas maneiras de fazer, de ver. Enfim, novas experiências que rompessem com o passado, isto é, com a estética conservadora que marcou o século XIX. O desenvolvimento do capitalismo, contudo, tinha como base a massificação da exploração da classe operária que crescia vertiginosamente nas cidades industriais europeias e, junto das chaminés das fábricas, a miséria passou a fazer parte das paisagens urbanas. Do outro lado da luta de classes, a burguesia reproduzia-se às custas do trabalho extenuante de homens e mulheres nas fábricas e tomava da aristocracia seus gostos, da qual fazia parte a própria classe artística. Esse espírito inovador se via diante da contradição de explorar indiretamente e, ao mesmo tempo, exaltar a classe operária, responsável, em última instância, pela riqueza abundante que fez de cidades como Paris, como disse o filósofo alemão Walter Benjamin, a capital do século XIX.

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Muitas das vanguardas artísticas acreditavam em uma nova fundação estética, antiacadêmica, inserida na vida cotidiana, mas também se viam diante de motivações antagônicas. Os dadaístas, por exemplo, exploravam as contradições do modernismo do início do século, desconfiados da preponderância do racional científico e horrorizados diante das máquinas de guerra. Os surrealistas, por sua vez, buscavam outras formas de subjetividade e experimentações com o inconsciente, num momento em que se desenvolviam as primeiras pesquisas em torno da psicanálise. Os avanços na engenharia e arquitetura inspiraram possibilidades inéditas na criação de imagens com o cubismo e o futurismo. Na arquitetura, avanços na utilização de materiais permitiram que as construções se tornassem mais simples e eficientes, mais econômicas, sintéticas e geométricas. Nesse contexto, são muitos os artistas que desenvolveram pesquisas e teorias em torno da arte não figurativa.

Vassíli Kandínski, Sem título, 1910. Considerada uma das primeiras obras de arte abstrata

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VOCÊ SABIA?

A artista sueca Hilma af Klint foi uma pintora do início do século XX. Apesar de não ter participado dos grupos vanguardistas da época, é possível atribuir à Hilma inovações artísticas ao abordar temáticas e construções pictóricas ainda inéditas naquele momento. Produziu pinturas abstratas — desvinculadas da representação da natureza — antes mesmo de Vassíli Kandínski ou Piet Mondrian, ambos reconhecidos como pioneiros do abstracionismo.

Hilma af Klint, As dez maiores, nº 2, Infância, Grupo IV , 1907

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Aleksandr Ródtchenko, Composição não objetiva, 1917

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CONSTRUTIVISMO Na Rússia dos primeiros anos do século XX, os ideais libertários inspiravam as vanguardas artísticas. Abolindo a ideia de que a arte é algo especial do “gênio” humano e separado do cotidiano, o construtivismo, de forte influência marxista, pregava que o artista poderia contribuir para as necessidades físicas e intelectuais de toda a sociedade. A arte, tornando-se um instrumento de transformação direta na vida material, permearia a engenharia, a arquitetura e os meios de produção de imagem. Contra uma arte elitista, a socialização da arte. Aleksandr Ródtchenko (18911956), El Lissítzki (1890-1941) e Vladímir Tátlin (1885-1953) são alguns dos nomes envolvidos diretamente com a vanguarda construtivista. Se, por um lado, o construtivismo poderia se resumir a uma arte geométrica não figurativa, por outro, criava uma definição da função social da arte, que estaria submetida ao objeto e sua aplicação na vida prática. Para muitos de seus representantes, esse tipo de arte, mais objetivo, deveria figurar ao lado de cientistas e técnicos. Desse modo, a arte passava a se inserir na vida, não decorando, mas organizando-a.

SUPREMATISMO A ideia do construtivismo como algo aplicado a um programa social, contudo, também gerava rejeição entre vanguardistas russos de outras vertentes. A teoria suprematista defendia uma forma geométrica que se inclinava pela arte abstrata, livre de finalidades práticas, em busca da pura visualidade plástica. A arte de Kazimír Maliévitch (1878-1935), autor do Manifesto Suprematista juntamente com o poeta Vladímir Maiakóvski (1894-1930), rompe com a ideia de imitação da natureza através do ilusionismo – cânone da pintura impressionista – e busca a pureza em formas geométricas básicas, com gama de cores limitada. A geometria na composição das pinturas suprematistas encontra-se afinada com outras vanguardas europeias pós-impressionistas. Além disso, o suprematismo influenciou outros artistas russos e disseminou-se na Europa por meio da pintura, arquitetura, mobiliário e design.

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Kazimír Maliévitch, Supremus No. 58, 1916

REVOLUÇÃO PEDAGÓGICA Com a Revolução Russa de 1917, o anseio pelo novo se reflete nos ideais revolucionários e no rompimento com o imaginário tradicional de estética neoclássica. As novas tecnologias de construção, com estruturas de aço e concreto armado, foram criando novas relações entre engenharia e arte. Assim, o governo revolucionário russo aplica rapidamente seu programa social e transforma, em 1918, as academias de belas-artes em ousados ateliês interdisciplinares de experimentação (os “Svomas”, abreviação para os Ateliês Livres de Artes e Ofícios de Moscou), com mestres artesãos e artistas de vanguarda em seu corpo docente. Acreditava-se que para construir uma nova sociedade era necessário renovar o ensino artístico. Dois anos depois, os cursos são transformados em formações universitárias, com a fusão do ensino de belas-artes e artes aplicadas. Assim nasce a Vkhutemas, escola de artes, design e arquitetura cujos métodos influenciarão até os nossos dias o ensino das disciplinas artísticas. Ela faz parte de um arrojado programa de educação artística, justa12


mente na Rússia onde os primeiros museus de arte moderna do mundo foram criados. Entre outras inovações, na Vkhutemas a figura do artista é pensada como a de um membro ativo e produtivo da sociedade. Por visar estabelecer novos parâmetros de consumo adequados ao ideal socialista, a Vkhutemas acreditava na fusão das artes em busca de soluções que reconstruiriam o real por meio da estética, desdobrando a produção do construtivismo como os primeiros passos daquilo que hoje entendemos por design.

LEGADO O século XX, contudo, foi a era dos extremos, como disse o historiador britânico Eric Hobsbawm. Se a utopia da nova sociedade acendeu grandes esperanças, as duas guerras mundiais e a ascensão de totalitarismos em várias partes da Europa mostraram a outra face do desenvolvimento das forças produtivas. A Segunda Guerra Mundial, a aceleração da industrialização e a disputa pela hegemonia global iniciada com a Guerra Fria levam ao regime de terror implementado por Joseph Stalin na União Soviética, em que as perseguições e censura levam à extinção da Vkhutemas, em 1930. A força de seu legado, porém, sobreviveria ao stalinismo. É muito comum creditar, equivocadamente, vários dos êxitos pedagógicos criados em seu contexto à Bauhaus, escola criada na Alemanha na mesma época e com a qual a Vkhutemas compartilhava muitos ideais. A historiografia ocidental costuma registrar a escola alemã como uma iniciativa única e sem paralelos, de certa forma suplantando os êxitos e avanços pedagógicos da Vkhutemas. Tal construção ideológica se deve, em parte, à proximidade que muitos intelectuais e artistas ocidentais tinham com o regime soviético. Kandínski e El Lissítzki são alguns nomes que estão associados à história das duas escolas, tendo havido um intenso intercâmbio entre elas nos anos 1920. De fato, as duas instituições possuíam muito em comum na maneira de associar as artes e a indústria, eram de natureza estatal e foram dissolvidas por regimes políticos autoritários. Por isso, é de suma importância fazer justiça ao empreendimento inédito da escola russa e recuperar a história da Vkhutemas, de como o que ali fora formulado reverbera até os dias de hoje na sociedade, na política e na arte.

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Através de sorteio, atribua uma das três figuras geométricas a cada um dos participantes:

69 cm

A) triângulo B) quadrado C) paralelogramo

60 cm

80 cm

60 cm

60 cm

60 cm

Cada pessoa deverá recortar, em papel kraft ou jornal, a figura que lhe foi atribuída, seguindo as dimensões descritas acima. Assim, caberá uma pessoa sobre cada figura. Se for o caso, atribuir mais de uma figura para cada pessoa, dependendo da quantidade de participantes e do tamanho do espaço disponível. 14


MÃOS À OBRA!

MATERIAIS • PAPEL KRAFT OU JORNAL USADO • FITA-CREPE • GIZ

O surgimento e o desenvolvimento espacial de uma cidade obedecem a padrões complexos e diversos, localizados entre os mais espontâneos e os mais planejados. Em 1928, o estudante da Escola de Arquitetura da Vkhutein Gueórgui Krútikov apresentou seu trabalho de graduação, que compreendia o projeto de uma cidade flutuante. Seu argumento trazia o problema do meio ambiente, e ele acreditava solucionar a exploração do planeta com seu criativo projeto, que incluía células com edifícios suspensos por balões. Para observar os parâmetros que regem o espaço urbano e suas demandas, nesta atividade, os participantes deverão desenhar uma cidade imaginária, a partir da ocupação espontânea de algum espaço amplo, podendo ser uma quadra ou pátio a ser escolhido. Deve-se proceder a um verdadeiro loteamento, distribuindo os espaços buscando o equilíbrio entre interesses individuais e coletivos. Serão distribuídas três diferentes figuras geométricas entre os participantes: triângulos, quadrados e paralelogramos. As diferenças entre as figuras representarão as diferentes condições geográficas e políticas para a divisão de um terreno, e a ordem das diferentes demandas (que, no caso do uso do espaço em uma cidade, podem parecer às vezes pouco claras) será representada pelo sorteio entre os participantes.

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1 POSICIONANDO OS LOTES Peça aos participantes para posicionarem, cada um por vez, sua figura de papel no chão e permanecer sobre a mesma. A ordem pode ser escolhida por sorteio. 2 REGRAS DE FRONTEIRAS É possível posicionar um lote contíguo a outro, como vizinhos. A única restrição é que sempre deverá haver ao menos um dos lados do polígono livre. Por exemplo, o triângulo só pode ter duas fronteiras com outro lote, o quadrado pode ter três. 3 RUAS E AVENIDAS Após o “loteamento” por todos os participantes, determinar os caminhos de ligação (ruas e avenidas) nos espaços que ficaram livres. 4 ESPAÇOS COMUNS As áreas que ainda continuarem livres serão definidas em conjunto com a turma para abrigar espaços compartilhados, como praças, parques, jardins e outros equipamentos públicos a determinar.

O resultado será um mapa em grande escala onde cada pessoa possa caber dentro de seu próprio loteamento e transitar para alcançar outras áreas, as comuns ou as pertencentes a outros participantes do jogo. Convidar a turma a discutir as formas criadas, as soluções e negociações que foram necessárias em cada momento. Comparar as diferentes estratégias de ocupação do espaço, como melhorá-las pensando num crescimento planejado, como proteger áreas de uso comum etc. Solicitar dos participantes, e também trazer, exemplos de formatos diferentes de cidades que eles possam conhecer.

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Diagrama exemplificando possível vista aérea do espaço loteado espontaneamente pelas figuras geométricas

terrenos

ruas e avenidas

espaço compartilhado: calçadas, praças, parques

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ARTE-VEĂ?CULO

Curadoria: Ana Maria Maia 28.08 a 02.12.2018

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O USO DA MÍDIA PELA ARTE Em janeiro de 1970, o artista brasileiro Cildo Meireles elaborou o que viria a se tornar um de seus trabalhos mais conhecidos. No contexto da repressão do regime militar, era prática comum a vigilância tanto da imprensa quanto de correspondências pessoais. Assim, faziam-se necessários “desvios”, com o intuito de sabotar as forças oficiais, como a invenção de códigos secretos e o desenvolvimento de novas expressões artísticas. Com a série Inserções em circuitos ideológicos, Meireles buscou driblar a censura, primeiro com uma pequena intervenção na seção de anúncios do Jornal do Brasil: “Área n. 1 Gildo [sic] Meireles”, criando uma espécie de “clareira” na página do jornal. O projeto se desdobraria em Inserções em circuitos ideológicos: Projeto Coca-Cola, em que Meireles imprimia frases subversivas em garrafas retornáveis do refrigerante e as reinseria para comercialização, e Inserções em circuitos ideológicos: Projeto cédula, no qual carimba frases em notas de dinheiro, que também retornavam a seus meios de circulação convencionais. Mesmo com o fim da ditadura militar e a volta da democracia, táticas de subversão das narrativas oficiais continuam a fazer parte do repertório artístico. Trinta e seis anos depois de Inserções em circuitos ideológicos, o artista brasileiro Yuri Firmeza inaugurou, em janeiro de 2006, no Museu de Arte Contemporânea do Ceará, em Fortaleza, a mostra Geijitsu Kakuu, sob o pseudônimo Souzousareta Geijutsuka, que instaurou um interessante debate na mídia e nos circuitos de arte sobre seus papéis na legitimação para o sistema hegemônico das artes.

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Somente após a inauguração da mostra, foi revelado que o japonês, na verdade, não existia, pois não passava de uma invenção de Firmeza. Tanto o currículo quanto frames de vídeo e fotografias, inventados pelo artista, faziam parte do material de divulgação, pelo qual a imprensa se pautou desde o começo. Como em qualquer projeto dentro de um museu, a expectativa, por parte da imprensa e do público, aumentava com a divulgação nas semanas que antecederam a mostra. Durante todo esse período, o “artista japonês” não se pronunciou, alegando que não conseguia se comunicar em outro idioma, criando, assim, a necessidade da mediação de uma assessora de imprensa. Com o aval do museu durante todo o processo, a exposição apresentou as correspondências por e-mail entre Yuri e o professor Thiago Seixas Themudo durante o processo e também as matérias de jornais publicadas a respeito de Souzousareta Geijutsuka. A exposição Arte-veículo, com curadoria de Ana Maria Maia, reúne estes e outros trabalhos artísticos e documentos que se apropriam da mídia de massa e redes enquanto suporte. Desde o advento da televisão brasileira até a nossa época da hiperconectividade, identificam-se o que a curadora chama de “ações parasitárias” dos artistas nesses espaços. Quanto às obras, além de expandirem a noção de público para o circuito da arte contemporânea, instauram um jogo de forças e escalas entre artistas e mídia, provocando ruídos em seus mecanismos e estruturas.

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Cildo Meireles, Inserções em circuitos ideológicos — Projeto Coca-Cola, 1970

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AS PARTES DA NOTÍCIA Para informar, o jornalismo evoluiu no mundo inteiro, buscando organizar a informação de tal modo que seja fluido e natural passar de uma página a outra. A forma do texto jornalístico obedece a um conjunto de regras e preceitos de neutralidade, mesmo que hoje saibamos que eles podem sutilmente induzir a equívocos, o que reforça a necessidade de uma leitura crítica. A manchete é o instrumento que busca chamar atenção para um possível leitor e aguçar seu interesse, mas também é um ponto frágil da notícia. Sua forma reduzida, rápida e impessoal, de tão sintética pode soar ambígua e causar dificuldade na compreensão daquilo que está por vir no texto da notícia. Por isso, o texto de uma notícia deve seguir uma fórmula. As principais partes de uma notícia, após a manchete ou título principal, são o título auxiliar, o lide e, por fim, o corpo da notícia. O título auxiliar apenas agrega alguns detalhes à manchete e nem sempre está presente. A parte mais importante do texto da notícia é seu primeiro parágrafo, conhecido como lide. Suas informações geralmente precisam responder às perguntas: o quê? quem? quando? onde? como? por quê?, para, assim, atrair e conduzir o leitor aos parágrafos seguintes. O lide, portanto, deve informar qual é o fato jornalístico noticiado e as principais circunstâncias em que ele ocorre. No restante do corpo da notícia, são acrescentados detalhes e informações mais precisas, finalmente chegando a sua conclusão.

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Equipe Paulo Bruscky & Santiago, Composição aurorial, 1976. Intervenção-anúncio no Jornal no Brasil

COMPOSIÇÃO COM JORNAL Em 1916, surgiu na Suíça uma das vanguardas mais transgressoras entre os movimentos modernos da arte no século XX. O dadaísmo é conhecido por seu espírito de questionamento crítico e pelo sentido anárquico das intervenções públicas que o grupo promovia no Cabaret Voltaire, em Zurique. Em tempos de guerra, afirmavam que as mazelas da sociedade eram fruto da excessiva racionalidade e do aprisionamento a que o sistema condicionara as pessoas. O absurdo e a falta de sentido faziam parte dos experimentos dos artistas do grupo, influenciando outras vanguardas modernas e mesmo muitos artistas contemporâneos da segunda metade do século XX até os dias atuais. Um exemplo do método dadaísta encontra-se na receita Para fazer um poema dadaísta, publicado em 1924 pelo poeta suíço Tristan Tzara: Pegue um jornal. Pegue a tesoura. Escolha no jornal um artigo do tamanho que você deseja dar a seu poema. Recorte o artigo. Recorte em seguida com atenção algumas palavras que formam esse artigo e meta-as num saco. Agite suavemente. Tire em seguida cada pedaço um após o outro. Copie conscienciosamente na ordem em que elas são tiradas do saco. O poema se parecerá com você. E ei-lo um escritor infinitamente original e de uma sensibilidade graciosa, ainda que incompreendido do público.

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MÃOS À OBRA!

MATERIAIS • • • • •

PAPEL LÁPIS, CANETA TESOURA JORNAIS E REVISTAS PARA RECORTE ENVELOPE OU SACO DE PAPEL

1 Convide os alunos a conhecer as principais partes de uma notícia jornalística e, em seguida, peça-lhes que escolham alguns artigos e notícias de jornal. 2 Peça-lhes que separem a manchete e o lide. Do lide, devem recortar cada frase, separando-as de acordo com as perguntas o quê? quem? quando? onde? como? por quê? Cada pessoa pode trabalhar com quantos textos quiser. 3 Separe um saco de papel para cada uma das perguntas do lide onde cada aluno depositará as frases correspondentes que foram recortadas. Com a ajuda de um quadro como o da ilustração ao lado, vá sorteando as frases de cada envelope para compor novos lides. Provavelmente aparecerão formulações inusitadas e mesmo absurdas. Sorteie quantas frases achar necessário e vá anotando no quadro. 4 Em seguida, convide os alunos para desenvolver notícias a partir dos conjuntos de frases anotados. O resultado final da atividade pode ser um jornal da classe, onde cada artigo fique sob a responsabilidade de um grupo, que deverá: desenvolver o texto da notícia até sua conclusão e criar uma manchete e uma ilustração com desenhos ou mesmo colagens a partir do próprio jornal utilizado.

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NOTÍCIAS LOREM IPSUM DOLOR SIT AMET

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No.

11:12:2014

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onde?

como?

por quê?

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BAUHAUS IMAGINISTA Aprendizados RecĂ­procos

Curadoria: Marion von Osten e Grant Watson 24.10.2018 a 06.01.2019

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A BAUHAUS Inspirado nos ideais vanguardistas do início do século XX e guiado pela concepção de uma nova ordem social, Walter Gropius fundou, em 1919, na República de Weimar (Alemanha), a Bauhaus, uma escola interdisciplinar de artes e design, através da fusão de escolas de artes aplicadas e de belas-artes. A Bauhaus foi uma das primeiras escolas a formar artistas, designers e arquitetos a partir de metodologias que aproximavam tecnologias inovadoras, linguagens artísticas modernas e métodos tradicionais artesanais. Fizeram parte de seu corpo docente artistas como Vassíli Kandínski (18661914), Paul Klee (1879-1940), László Moholy-Nagy (1894-1946), Josef Albers (1888-1976), entre outros. A escola possuía muitos pontos de contato com sua similar russa, Vkhutemas, e almejava formar novas gerações de artistas alinhadas a ideais progressistas, entendendo a divisão das funções sociais como complementares e não hierárquicas. O pensamento socialista da época, profundamente modernizante, refletia-se na escola: a Bauhaus fazia a exaltação da máquina e da produção industrial, que seriam a base da transformação das relações sociais. Buscava unir as artes, produzindo artesanato e tecnologia no design de produtos. Para os artistas da Bauhaus, o resultado artístico final deveria partir de um problema conceitual elaborado a partir das características específicas dos diferentes materiais, conjugando forma e função. Para isso, a Bauhaus se dividia em disciplinas separadas por técnicas e materiais, como madeira, cerâmica, têxteis. Atraiu artistas de vanguarda de diversas nacionalidades, nem sempre afinados em termos de filiações teóricas, gerando a convivência de orientações estéticas díspares dentro da escola e redefinições no projeto ao longo de sua história. A diversidade dos colaboradores é responsável pelo contato direto da Bauhaus com diferentes tendências da arte europeia: o construtivismo russo, o grupo de artistas holandeses ligados ao grupo De Stijl e os adeptos do movimento de pintura alemã Nova Objetividade. Além, é claro, da própria Vkhutemas, com a qual a Bauhaus travou intenso intercâmbio.

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Comprometida com ideais socialistas, a escola colocava-se como objetivos libertar o homem do gosto burguês, convencional e kitsch, e fundar uma sociedade mais justa e igualitária, utilizando, para isso, a arte e o design de vanguarda. Criada, contudo, no contexto de uma Alemanha empobrecida e humilhada pela derrota na Primeira Guerra, a Bauhaus, assim como toda a esquerda alemã, seria reprimida e perseguida pela ascensão do nazismo. As vicissitudes políticas da época fizeram a Bauhaus passar por diversas fases e crises, sendo definitivamente fechada pelo regime nazista em 1933.

Paul Klee, Tapete, 1927. O artista e professor da Bauhaus Paul Klee desenvolveu diversos desenhos inspirados na tapeçaria que conheceu em suas viagens aos países do norte da África

DESIGN VERNACULAR Entende-se por design vernacular o conjunto de soluções materiais ou visuais e artefatos do cotidiano fortemente ligados a uma cultura local, de origem espontânea e não acadêmica. Os professores, estudantes e alunos ligados à Bauhaus buscaram e aprenderam através de formas, materiais e técnicas advindas de tradições artesanais, associando-as a técnicas industriais.

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Entre suas práticas, é grande a influência de fontes indígenas e précoloniais. A utilização de modos e técnicas populares introduzia complexidade à ideia de “primitivismo” que – associada às apropriações transculturais do modernismo, observando hibridismos e formas atemporais que colapsavam passado, presente e futuro – se integrava à fábrica da vida, tornando-se parte de um novo éthos cultural. Como parte das comemorações pelo centenário da inauguração da Bauhaus, o Sesc Pompeia recebe bauhaus imaginista, projeto internacional de pesquisa, exposições e conferências, que discute e atualiza o legado da escola alemã para a arte e o design de hoje. No Brasil, essa herança se reflete na convergência entre a arquitetura, o design e a cultura popular. Projetado pela arquiteta Lina Bo Bardi, o Sesc Pompeia – uma antiga fábrica convertida em espaço cultural – tem suas Oficinas de Criatividade inspiradas na organização das disciplinas desenvolvidas pelas pedagogias vanguardistas da Europa. Bo Bardi é conhecida por ter colecionado o que ela considerava o “trabalho do povo”: artesanato afro-brasileiro e indígena, além de também ter editado catorze números da revista brasileira de design Habitat, especializada na cultura vernacular brasileira.

RAPPORT As técnicas de ilustração na superfície de objetos, principalmente aqueles presentes na vida cotidiana, fazendo deles suportes para significados distintos daqueles de seu propósito original, fazem parte do escopo do “design de superfície” e incluem, por exemplo, a estamparia. Dentro dessa disciplina, uma das maneiras de se projetar em uma superfície é o rapport, um tipo de módulo utilizado para compor uma padronagem a partir da repetição de uma imagem (o termo vem da língua francesa e pode ser traduzido, grosso modo, como repetição), que é estendido pela superfície do objeto, dando-lhe unidade, continuidade e preenchimento.

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MÃOS À OBRA!

MATERIAIS • • • •

PAPEL LÁPIS, LÁPIS DE COR, CANETINHA TESOURA PAPEL-CARBONO

1 Recortar uma folha de papel no tamanho de 6 x 6 cm. Ela será a base para a composição do módulo (unidade mínima a ser repetida) de nossa estampa. 2 Para garantir a continuidade no encaixe dos módulos, primeiramente se desenham as bordas. Dobrar o papel em seu sentido vertical para encontrar o meio. Cada lado deve ser novamente dobrado ao meio em seu sentido vertical. Isso faz com que as bordas laterais da frente do papel se encontrem. 3 As bordas laterais do desenho são desenhadas de tal sorte que se encaixam perfeitamente. Deve-se fazer o mesmo com as bordas superior e inferior, dobrando o papel em seu sentido horizontal. Terminar de fazer o desenho com os detalhes que forem necessários. 4 Uma vez pronto, peça aos alunos que tracem um quadrado maior, formado por três fileiras e três colunas com os módulos de 6 x 6 cm. Com a ajuda de papel-carbono, o aluno deverá reproduzir o desenho que acaba de fazer, nove vezes, formando, assim, o padrão da estampa que cada um poderá colorir com as cores que preferir. 30


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MEU NOME ERA LOURENÇO

Curadoria: Manu Maltez 13.11.2018 a 17.02.2019

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MÚLTIPLAS LINGUAGENS O multiartista Lourenço Mutarelli (São Paulo, 1964) é conhecido por seus quadrinhos densos, com personagens estranhos e situações absurdas. Dedicou mais de uma década do início de sua carreira ao ofício do desenho e publicou trabalhos que o fizeram ganhar diversos prêmios de HQ no Brasil. Suas histórias escatológicas, consideradas estranhas para um ainda incipiente mercado brasileiro dos anos 1990, eram basicamente conhecidas no restrito âmbito de “especialistas”. Conquistou, contudo, admiração nos meios underground, apesar de seus temas, por vezes considerados desagradáveis ou até mesmo repulsivos. Dedicado a edificar uma linguagem própria, percebeu, enquanto elaborava um novo projeto, que precisava abrir mão do desenho, estreando como romancista, em 2002, com O cheiro do ralo, obra que se tornou rapidamente um sucesso, também adaptado para o cinema, em 2006.

Lourenço Mutarelli, O grifo de Abdera, 2015. Seguindo na carreira literária, neste livro o autor retoma os quadrinhos, inserindo-os dentro do romance

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Lourenço Mutarelli, do livro Transubstanciação, 1991

MARCAS BIOGRÁFICAS Uma das maiores fontes de inspiração de Mutarelli são as impressões de sua própria infância, solitária e sombria, como ele mesmo a descreve, enquanto uma criança sensível e atormentada, com dificuldade de socialização e momentos de confusão mental que o empurravam para o isolamento. Sua vida passa por uma profunda mudança quando, a partir dos 24 anos, começa a desenvolver crises de pânico e sintomas de depressão. No momento em que sua saúde se agravava, Mutarelli encontrou, nos quadrinhos, um ponto de fuga. Assim nasceu Transubstanciação, publicado em 1991 e fruto de seus intermitentes momentos de superação. De certa forma, as páginas de seus quadrinhos refletiam suas próprias angústias. É comum encontrar, em suas narrativas, personagens chamados Lourenço, revelando certo autodeboche, e mesmo o nome de amigos e pessoas da família. Em 1994, publica Eu te amo, Lucimar, onde homenageia sua esposa e mãe de seu filho, a quem credita apoio inestimável em sua carreira artística. O retrato confessional do quadrinista com dificuldades financeiras, que não consegue se manter, aparece na HQ A caixa de areia, de 2006. É difícil separar, nos trabalhos do artista, o que é autorretrato daquilo que é imaginação, e ele parece fazer questão de provocar essa sensação.

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QUADRINHOS, LITERATURA, CINEMA Os quadrinhos ajudaram Mutarelli a minimizar seus anos de angústia, pois desenhar lhe servia como uma espécie de terapia. Para cada trabalho, o artista sempre dedicou o tempo que fosse necessário para sua plena satisfação, pois seu processo artístico implicava ver-se refletido no espelho da página, acompanhando, nelas, sua própria recuperação. O que, por outro lado, agravava seus problemas financeiros, uma vez que é raro que um artista sobreviva apenas de seu trabalho autoral. O roteiro de uma história em quadrinhos pode ser erigido em apenas alguns dias, mas a produção dos desenhos pode demandar muitos meses e extrapolar um ano de trabalho. Mas tantos anos dedicados à produção de desenhos intricados chegariam a uma espécie de morte súbita. Mutarelli, apesar de celebrado pela crítica, sempre se considerou um estranho, mesmo para o ambiente nerd das histórias em quadrinhos. Alegava já ter alcançado o limite dessa linguagem: sabia, de antemão, como ficaria um desenho no instante mesmo em que o começava. Com o êxito de seus experimentos literários, Mutarelli passa a se interessar mais e mais pela palavra e seu potencial alusivo. Prescindindo das imagens, acreditava cercear menos a liberdade do leitor de criar suas próprias imagens, como as feições dos personagens ou a ambientação dos cenários, podendo, assim, construir, junto, a obra do artista. Sua relação com o cinema também se estreita, e outro romance de sua autoria, Natimorto, de 2004, é adaptado para o cinema, pelo diretor Paulo Machline, em 2011. No filme, Mutarelli se aventura pela atuação, dando vida ao personagem principal, não por acaso, chamado Lourenço. Atua também em Que horas ela volta, de Anna Muylaert, de 2015. Por influência dos quadrinhos, é notável, em sua escrita, a estética fragmentada, o uso de frases curtas e ambientes sombrios, em seus primeiros trabalhos. Em seus romances, os diálogos são bastante presentes, o fluxo narrativo parece seguir o corte abrupto das imagens estáticas sequenciais. Por outro lado, é possível ver, em seus quadrinhos, um existencialismo e um lirismo inspirados na literatura. 35


AUTOFICÇÃO Teorias surgidas a partir dos anos 1970 trouxeram um conceito sobre o qual ainda não há muito acordo: a autoficção. Em narratologia, trata-se de um pacto de leitura ou pacto narrativo, um acordo, evidente ou não, que se dá entre o autor, o leitor e o texto. Ela define a relação que se estabelece ao longo de uma leitura, designando-se, assim, uma narrativa histórica ou factual, ficcional, biográfica, autobiográfica etc. Sem precisar aqui separar o que é ficção de não ficção, afinal seus limites são imprecisos, é inegável o efeito da presença de certos dados biográficos – portanto, verificáveis – que Mutarelli insere em suas narrativas, tanto em desenho quanto em texto: até mesmo no desenho do personagem retratado, veem-se as feições do autor. Por mais que haja certa controvérsia na aplicação do conceito de autoficção para definir pactos de leitura complexos, a potência do gesto do autor, quando batiza um personagem com seu próprio nome, é notável. No romance O grifo de Abdera, de 2015, Mutarelli cria alter egos que publicam sob o pseudônimo de “Lourenço Mutarelli”. Lourenço é o nome do personagem de O cheiro do ralo, dono de uma loja de antiguidades. A caixa de areia é uma história em quadrinhos em que Lou, casado com Lucimar e pai de Francisco, revisita velhas lembranças suscitadas pelo inexplicável aparecimento de seus brinquedos antigos na caixa de areia do gato da família. Mutarelli gosta de dizer que é como se tivesse um personagem escritor, que não se leva a sério como tal. Apesar disso, rejeita o rótulo de autoficção para seu trabalho, preferindo entendê-lo como “autorrealismo fantástico”.

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Lourenço Mutarelli, do livro Caixa de areia, 2006. O livro aproxima memórias da infância do autor mescladas ao eterno dilema do artista com sua própria arte. Por alguns anos, foi considerado o encerramento da carreira de Mutarelli nos quadrinhos

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MÃOS À OBRA!

MATERIAIS • • • • •

PAPEL A4 JORNAIS E REVISTAS PARA RECORTE TESOURA COLA LÁPIS, CANETA

O propósito desta atividade é criar um zine (vide ilustração), inspirado no método criativo de Lourenço Mutarelli, atribuindo verossimilhança à personagem – nome e sobrenome, uma história pregressa, relações de amizade e de família em diferentes situações, mas que sejam inspirados pela própria história de quem constrói a narrativa. Ao final, cópias do zine podem ser trocados com os colegas. 1 Cada aluno deve produzir uma encadernação de uma folha conforme descrito na ilustração ao lado. 2 Solicitar a cada um que escolha revistas, quadrinhos, jornais etc. para xerocar ou recortar os originais, caso seja possível. Cada um deve separar imagens para cenários e personagens que de alguma forma se relacionem com suas próprias características pessoais e biográficas. 3 Cada aluno fará colagens, criando narrativas sequenciais nas quais transforma a personagem um pouco em representação de si mesmo, conferindo-lhe características físicas semelhantes às suas e também dando-lhe seu próprio nome. 4 A narrativa pode ter quantas páginas forem necessárias, e os alunos são convidados a criar o personagem de si como quiserem, conferindo-lhe as características que já possui e também outras, como desejar. 38


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GLOSSÁRIO

ARTE CONCEITUAL Vanguarda artística surgida na Europa e nos Estados Unidos, a partir da década de 1960, que preconiza o conceito ou a estrutura mental de uma obra de arte em detrimento de sua aparência. Conceitos também são matéria para a arte, sendo que a execução de uma obra se relega a planos secundários, tendo as ideias o maior protagonismo. Na arte conceitual, não há a necessidade de que a obra seja construída pelas mãos do artista e, por vezes, nem sequer precisa, de fato, ser construída, permanecendo como ideia, geralmente registrada em texto. ARTE CORREIO OU ARTE POSTAL Categoria artística surgida na segunda metade do século XX onde os artistas fazem uso do correio e da comunicação para a criação de obras de arte. Baseada na troca e na circulação de poemas, ilustrações, pequenos objetos e outras efemérides, a arte postal proporciona a multiplicação constante de itinerários, criando uma rede internacional de colaboradores, sem o intermédio do comércio. Fronteiras e limites burocráticos são geralmente desrespeitados em nome da liberdade e experimentação artística da arte postal, que assume um cunho político e marginal no esteio da repressão em países sob ditaduras nos anos 1970. A internet, naturalmente, é absorvida por esse tipo de artistas, que sempre se apropriou das formas inovadoras que foram surgindo. ARTES APLICADAS Trabalhos artesanais ou de produção industrial com valor estético voltados para a vida cotidiana, através da fabricação de produtos úteis ao dia a dia. Está presente na arquitetura, nas artes decorativas, no design, nas artes gráficas, mobiliário etc. O termo é utilizado geralmente em contraposição à noção de “belas-artes”. AUTOFICÇÃO É um gênero de escrita que embaralha autobiografia e ficção numa aproximação paradoxal, uma vez que são formas de escrita que, a princípio, se excluiriam. É comum na autoficção um autor contar sua vida em terceira pessoa e assim recorrer a mudanças em detalhes e personagens, criando significações que expressem melhor o que necessita dizer. É como recorrer à ficção em busca de entendimentos de si mesmo ou que extrapolem a “veracidade” como um valor literário.


BELAS-ARTES Termo geralmente atribuído àquelas que são consideradas artes “superiores”, cuja única razão de existência seria a expressão da beleza, distintas das artes utilitárias. A noção de “gênio artístico”, que confere ao artista o status de intelectual superior aos mestres artesãos é reivindicada, na arte europeia, por volta do século XVIII. As mudanças sociais e culturais iniciadas pelo modernismo e desdobradas ao longo do século XX, chegando ao período contemporâneo, diluíram essa hierarquização. CUBISMO Movimento que defendia, principalmente a partir de 1907, a decomposição da imagem pictórica em formas geométricas, criando perspectivas fragmentadas como se um mesmo objeto estivesse sendo visto de vários ângulos ao mesmo tempo. A realidade passa a ser retratada ou mesmo confrontada com imagens que tendem ao abstracionismo. DADAÍSMO/DADAÍSTA Surgiu na Suíça, em 1916, por artistas e escritores que se opunham à Primeira Guerra Mundial. É caracterizado pelo abandono das regras formais, pelo acaso e pela incoerência, rompendo, assim, com a lógica racionalista vigente. Respondendo ao que consideravam a irracionalidade da ciência e da própria vida, criavam obras, textos e eventos que pudessem refletir seu choque com o absurdo da sociedade moderna. FUTURISMO Surgiu na Itália, em 1909. Os futuristas preocupavam-se em criar uma arte que negasse o passado e o academicismo. Preconizavam a pesquisa e experimentação tecnológica para a arte, desapegando-se do tradicionalismo, encantados com as novas soluções industriais, e da guerra. Muitos de seus artistas acabaram identificando-se e associando-se ao fascismo que emergia nos anos 1920 e 1930. HACKING Palavra inglesa derivada do verbo hack, que significa cortar alguma coisa de forma irregular ou grosseira. A partir dos anos 1950, hack começa a ser usado para designar uma “alteração inteligente” em alguma máquina. Mais tarde, esse termo passou a ser usado exclusivamente no âmbito da programação informática: os praticantes do hacking são conhecidos como hackers, agentes que possuem conhecimentos avançados em sistemas de informática. Buscam encontrar as vulnerabilidades de um sistema, como um exercício intelectual ou mesmo com intenções diversas ou até nocivas. Hackers também podem usar seus conhecimentos para modificar estruturas cibernéticas como uma forma mais direcionada, política ou artisticamente, ou profissionalmente, em sistemas de segurança.


MARXISMO/MARXISTAS Conjunto heterogêneo de concepções e escolas de pensamento que influenciou profundamente a filosofia, a economia e a sociologia nos séculos XIX e XX, cujo ponto em comum é a filiação à obra de Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895) e ao método que fundaram, o materialismo histórico. Baseados na economia política inglesa do século XIX, na filosofia idealista alemã e na tradição do pensamento socialista inglês e francês, Marx e Engels entendiam as relações de classe e o conflito social como motores do desenvolvimento da história, em que o capitalismo, através da generalização da forma mercadoria, forja uma classe (a burguesia) que explora economicamente outra, a classe trabalhadora, ou seja, aqueles que efetivamente produzem. Sua teoria teria como fim a emancipação dessa classe, mas a institucionalização do marxismo nas universidades faria dele não apenas uma estratégia revolucionária, mas atribuiria a ele, também, importância acadêmica. NEOCONCRETISMO No Brasil do início dos anos 1950, havia o movimento concreto nas artes, pautado pelas experiências abstracionistas geométricas do início do século XX das vanguardas europeias. O programa concretista parte da aproximação entre arte e indústria, trazendo elementos sintéticos que negavam a artesania manual do artista, tendendo à pura visualidade das formas, em detrimento de seus atributos representacionais e expressivos. Uma espécie de divisão nas abordagens de grupos concretos de São Paulo e Rio de Janeiro resulta na ruptura neoconcreta, que busca agregar a intuição, a recuperação da subjetividade, a participação do público e o uso de cores e experimentos negados pela ortodoxia concreta brasileira. O neoconcretismo é considerado um dos momentos mais ricos e importantes da arte brasileira. PÓS-IMPRESSIONISMO/PÓS-IMPRESSIONAISTAS Período da história da arte europeia que buscava desdobrar as possibilidades abertas pelo impressionismo, mas distanciando-se do apego à representação da luz, tão cara aos pintores impressionistas. Os pós-impressionistas, no fim do século XIX, expandiram a autonomia da criação pictórica, levando-a para um radicalismo no uso de cores mais puras e menos naturalistas. Os pintores pós-impressionistas, não como um grupo coeso, mas cada um a seu modo, estabeleceram os alicerces para aquilo que resultaria, alguns anos depois, no estabelecimento das primeiras vanguardas europeias. REALISMO FANTÁSTICO/AUTORREALISMO FANTÁSTICO Também conhecido como realismo mágico, define um grupo de escritores e obras latino-americanos cujo estilo exalta o estranho e o absurdo retirados do próprio cotidiano, abordando-os como algo corriqueiro e ordinário. Influenciada pela literatura fantástica europeia (inspirada em seres mitológicos e superstições), essa escola ganhou características próprias ao te-


matizar os golpes e ditaduras militares dos anos 1960 e 1970 na América Latina. Autores como o cubano Alejo Carpentier, o colombiano Gabriel García Márquez e o brasileiro Murilo Rubião dedicaram suas obras a alterar as realidades nacionais numa tentativa de perceber a existência de outras realidades menos evidentes. REVOLUÇÃO RUSSA No século XIX, a Rússia era uma das maiores potências europeias, porém, por ser um país de economia essencialmente agrária, distanciava-se do modelo liberal e industrializante dos países ocidentais. Governada pelo Tsar Nicolau II, um imperador absolutista, a Rússia vivia sob grande crise, causada pela participação do país na Guerra Russo-Japonesa e na Primeira Guerra Mundial, que devastaram sua economia. Enquanto sua elite faturava com os conflitos, trabalhadores do campo e da cidade enfrentavam a miséria e a escassez de alimentos. A primeira revolta aconteceu em 1905, duramente reprimida pelo tsar, mas que permitiu a instalação de um parlamento dois anos depois. O Partido Operário Social-Democrata Russo dividia-se, então, em duas facções, o menchevique e o bolchevique, liderado por Vladímir Lênin. Junto dos liberais e dos socialistas de outros grupos, depõem o tsar em março de 1917 e instauram um governo provisório, inicialmente de características liberal-burguesas. Lênin, então exilado, regressa à Rússia em abril, pregando a formação de uma república socialista, bem como a nacionalização dos bancos e da propriedade privada. Em outubro do mesmo ano, Lênin e os bolcheviques tomam o governo provisório e delegam o poder ao Conselho dos Comissários do Povo. Aprofundando a Revolução, o governo bolchevique fecha a Assembleia Constituinte instalada para decidir os rumos do país, em que era minoria, reprime a oposição e, após uma intensa guerra civil que devastou o país, funda finalmente a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), em 1922, extinta em 1991. SURREALISMO/SURREALISTAS Grupo surgido na França após a Primeira Guerra Mundial, trazendo concepções e experimentos relacionados ao inconsciente, seguindo os primeiros desenvolvimentos da psicanálise. A arte deveria surgir dos estímulos mais recônditos do inconsciente, evitando-se a mediação da razão, lidando com elementos de fantasia, devaneio, loucura e sonho. TROPICALISMO Tropicália é o título de uma obra do artista brasileiro Hélio Oiticica (19371980), realizada em 1967. Interessado na sensorialidade e na participação ativa do público com a obra de arte, o artista produziu peças penetráveis e habitáveis, criando fenômenos efêmeros e performáticos. Oiticica reivindicava a apropriação de todo tipo de estética, devorando referências estrangeiras e as retrabalhando no contexto tropical brasileiro, assumidamente inspirado pelos artistas modernos brasileiros dos anos 1920 e sua edificação


teórica a partir do conceito de antropofagia. O tropicalismo não é um movimento de um só artista ou de um tipo único de arte, espalhando-se para a literatura e cinema, tendo sido amplamente difundido a partir da música dos anos 1960. VANGUARDAS EUROPEIAS Manifestações artístico-literárias surgidas na Europa no início do século XX, no contexto das grandes transformações socioeconômicas e culturais surgidas com a modernidade. O desenvolvimento da indústria, a urbanização e a miséria que marcaram a segunda metade do século XIX geraram doutrinas e correntes de pensamento, como o socialismo e o liberalismo, que influenciaram profundamente a sociedade. As vanguardas buscavam romper com a arte burguesa característica do século XIX, vista como kitsch e alienada, rompendo com os padrões estéticos através da sua subversão, produzindo obras que, cada uma a seu modo, expressavam a realidade histórica e social do século que surgia. Algumas das vanguardas mais conhecidas foram o expressionismo, o cubismo, o futurismo, o dadaísmo e o surrealismo. VIDEOARTE A popularização do vídeo no fim da década de 1960, juntamente com a articulação de diferentes modalidades de criação artística no período, permite a utilização cada vez maior do vídeo e da televisão no trabalho dos artistas. Colocado numa posição intermediária entre o espectador do cinema e o da galeria, o observador/espectador da obra é convocado ao movimento e à participação, com imagens projetadas que ampliam as possibilidades da representação e transformam as relações da obra de arte com o espaço físico. A videoarte incorpora várias facetas da cultura pop ou de massa, como as histórias em quadrinhos, a publicidade, as imagens televisivas e do cinema. ZINE Geralmente é um tipo de publicação independente e não profissional produzida por entusiastas de determinado fenômeno cultural, como os quadrinhos ou a ficção científica, surgido no contexto da cultura punk. De cunho amador, um zine costuma ser reproduzido de forma barata em fotocópias e sem muitos arroubos de sofisticação no acabamento, geralmente de reprodução bem econômica. Existe toda uma cultura de publicações independentes que inclui apenas os custos de produção de um zine, não necessariamente visando a vendas e lucro, mas principalmente à troca e sua circulação espontânea e veloz. O zine pode ser considerado mais como uma estratégia de publicação privada de meios que uma forma predefinida, e está mais ligado aos meios de comunicação impressos que exclusivamente à arte.


PARA SABER MAIS VKHUTEMAS E BAUHAUS A mão do povo brasileiro, 1969-2016. Catálogo da exposição. MASP Editora, 2016. Bauhaus — novarquitetura. Walter Gropius. Perspectiva, 1974. Muito além de uma “Bauhaus Soviética”: o legado de Vkhutemas/Vkhutein (1920-1030). Iraldo Alberto Alves Matias e Leovitor Nobuyuki dos Santos. Disponível em https://www.ifch.unicamp.br/ojs/index.php/cemarx/article/ view/1818/0. Acesso em agosto de 2018. MODERNISMO E VANGUARDAS Arte moderna. Giulio Carlo Argan. Cia das Letras, 1992. Dicionário da Pintura Moderna. Tradução Jacy Monteiro. Hemus, 1981. 380 p., il. p.b. Dadaísmo: arte e desordem. Cátia Andressa da Silva. Obviousmag. Disponível em http://lounge.obviousmag.org/dadaista/2012/05/dadaismoarte-e-desordem.html#ixzz5LRronGrZ. Acesso em agosto de 2018. Para fazer um poema dadaísta. Tristan Tzara. Tradução de Gilberto Mendonça Teles. In: Vanguarda europeia e modernismo brasileiro. Editora Vozes, 1972. CINEMA: FILMES QUE SATIRIZAM A MODERNIDADE TECNOLÓGICA ATRAVÉS DA COMÉDIA Playtime – Tempo de diversão. Direção e roteiro Jacques Tati. França, 1967. Meu tio. Direção Jacques Tati, roteiro Jacques Lagrange, Jean L’Hôte, Jacques Tati. Itália, França, 1958. ENCICLOPÉDIA ITAÚ DE ARTES VISUAIS enciclopedia.itaucultural.org.br ARTE BRASILEIRA Cronologia das artes plásticas no Rio de Janeiro. Frederico Morais. Topbooks, 1995. História geral da arte no Brasil. Walter Zanini (org.). Instituto Walther Moreira Salles, 1983. Inserções em circuitos ideológicos (1970). In: Cildo Meireles. Eudoro Augusto Macieira. Funarte, 1981. Souzousareta Geijutsuka – artista invasor. Arquivo com reportagens sobre o artista criado por Yuri Firmeza. Disponível em http://www.canalcontemporaneo.art.br/brasa/archives/000609.html. Acesso em agosto de 2018.


CINEMA: FILMES SOBRE O PODER DA IMPRENSA Cidadão Kane. Direção Orson Welles. Roteiro Herman J., Mankiewicz e Orson Welles. Estados Unidos, 1941. Muito além do cidadão Kane (documentário televisivo). Direção e roteiro Simon Hartog. Reino Unido, 1993. Chatô, rei do Brasil. Direção Guilherme Fontes. Roteiro João Emanuel Carneiro, Matthew Robbins e Guilherme Fontes. Brasil, 2015. LOURENÇO MUTARELLI Blog do escritor: https://blogdolourencomutarelli.blogspot.com A vida de Lourenço Mutarelli depois do antidepressivo. Entrevista a Mateus Campos. Disponível em https://oglobo.globo.com/cultura/livros/a-vida-delourenco-mutarelli-depois-do-antidepressivo-1-17729524. Acesso em agosto de 2018. Lourenço Mutarelli, o homem que aprendeu a voar. Diego Assis. Disponível em http://m.rollingstone.uol.com.br/edicao/6/lourenco-mutarelli-o-homem-que-aprendeu-a-voar#. Acesso em agosto de 2018. Podcast 42 – Entrevista com Lourenço Mutarelli. Disponível em http://www. pipocaenanquim.com.br/wp-content/uploads/podcastpn/Podcast42-Lourenco-Mutarelli.mp3. Acesso em agosto de 2018. Ensaios de autoficção. Jovita Maria Gerhein Noronha (org.). Editora UFMG, 2017. CINEMA: ALGUNS FILMES DE LOURENÇO MUTARELLI Natimorto. Direção Paulo Machline. Roteiro André Pinho e Lourenço Mutarelli. Brasil, 2009. O cheiro do ralo. Direção Heitor Dhalia. Roteiro Marçal Aquino, Heitor Dhalia e Lourenço Mutarelli. Brasil, 2006. Que horas ela volta? Direção e roteiro Anna Muylaert (Mutarelli como ator). Brasil, 2015.


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