Resilicentro - Shaiane Viana

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RESILICENTRO Centro de conviVência técnológicas PARA AS mudanças climáticas do semiárido do ceará

FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ – UNIVERSIDADE DE FORTALEZA CCT – ARQUITETURA E URBANISMO SHAIANE GOMES VIANA 1323092-7 ORIENTADOR DR.: AMANDO CANDEIRA FILHO FORTALEZA, CEARÁ - JUNHO DE 2018





FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ - UNIVERSIDADE DE FORTALEZA CENTRO DE CIÊNCIAS TÉCNOLOGICAS - CCT CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

RESILICENTRO Centro de conviVência técnológicas PARA AS mudanças climáticas do semiárido do ceará

SHAIANE GOMES VIANA ORIENTADOR: AMANDO CANDEIRA COSTA FILHO



SHAIANE GOMES VIANA

RESILICENTRO CENTRO DE CONVIVÊNCIA TÉCNOLOGICAS PARA AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS DO SEMIÁRIDO DO CEARÁ

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Coordenação de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Fortaleza, como requisito parcial para obtenção do título de Arquiteto e Urbanista.

BANCA EXAMINADORA ____________________________________ Prof. Dr. Amando Candeira Costa Filho ORIENTAÇÃO

____________________________________ Prof. Ms. Nathalie Guerra Castro Albuquerque MEMBRO DA BANCA EXAMINADORA

____________________________________ Prof. Dr. Marcondes Araújo Lima MEMBRO DA BANCA EXAMINADORA

FORTALEZA, CEARÁ - JUNHO DE 2018


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resumo


Palavras-chave: arquitetura; resiliência; semiárido; mudanças climáticas.

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A dualidade dos fenômenos climáticos (chuvas extremas e fortes estiagem) no Ceará, Brasil, resulta em ocorrências na maioria dos municípios presentes no semiárido do estado. Como exemplo disso, tem-se o município de Assaré que, em 2016, abriu estado de emergência devido à forte estiagem e, em abril de 2017, tornou a abrir por causa das fortes chuvas que atingiram o açude da região e alagaram a cidade, deixando mais de 40 desabrigados. Visto o despreparo para lidar com a realidade dos fenômenos, propõe-se um Centro de Resiliência para convivência com as mudanças climáticas nas situações do semiárido do Ceará. Diante dos acontecimentos relatados, averiguou-se a necessidade de possíveis alternativas de conviver permanentemente com fenômenos climáticos extremos, criando-se, então, o Resilicentro, o qual é um espaço destinado à realização de pesquisas e demonstração de tecnologias para melhorar a convivência social com as condições climáticas, hídricas, sociais e ambientais do Semiárido do Ceará. Sendo uma proposta para uma unidade de pesquisa integrante do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), a construção do centro baseou-se na metodologia utilizada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), sobre mudança climática.


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The duality of climatic phenomena (extreme rains and severe drought) in Ceará, Brazil, results in occurrences in most of the municipalities present in the state's semi-arid region. As an example, there is the municipality of Assaré that in 2016 opened a state of emergency due to the strong drought and, in April 2017, opened again because of the heavy rains that reached the weir of the region and flooded the city, leaving more than 40 homeless. Given the lack of preparation to deal with the reality of the phenomena, it is proposed a Resilience Center to coexist with climatic changes in the semi-arid situations of Ceará. In view of the reported events, it was verified the need for possible alternatives to live permanently with extreme climatic phenomena, creating the Resilicentro, which is a space for conducting research and demonstration of technologies to improve social coexistence with the climatic, water, social and environmental conditions of the semi-arid region of Ceará. As a proposal for an integrated research unit of the Ministry of Science, Technology, Innovations and Communications (MCTIC), the construction of the center was based on the methodology used by the United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization (UNESCO) on climate change. Keywords: architecture; resilience; semiarid; climate changes.


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abstract


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agradecimentos


Agradeço à minha mãe e à minha família, por todos os anos de amor e dedicação a mim e aos meus estudos, principalmente nos momentos que necessitaram abdicar de algo para tornar possível a minha formação. Aos meus professores da Unifor, que sempre estiveram disponíveis para me ajudar com os meus infinitos questionamentos, mas, principalmente, ao meu orientador Amando, por me incentivar a não desistir e tornar mais leve os últimos meses de qualificação; e o coorientador Newton Becker por elevar o nível dessa pesquisa.

Ao coordenador da Defesa Civil de Assaré, Paulo Renan, ao Bené, pesquisador da Embrapa, e aos profissionais da área que contribuíram direta ou indiretamente para minha formação. E, por último, ao destemido Seledônio, por ter saído em expedição com destino à Assaré-CE comigo, a fim de que o presente trabalho de conclusão pudesse ser realizado; e à Marina, por me deixar compartilhar de todas as aflições diárias referentes ao processo final de graduação.

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Aos meus sagazes amigos da Unifor, que estiveram comigo nestes cinco anos de batalha diária: Andressa, Amy, Angélica, Bárbara, Davi, Laryssa, João, Letícia, Luana, Marjorie, Mateus, Nathalia, Fernanda, Gabriel, Pedro, Rayanara, Roberta, Samuel, Tatiana, Yuri e Viktor. Sem eles, o curso não teria sido tão gratificante e divertido.


Figura 1. Visita à Assaré - CE

23

Figura 15. Seca em Assaré-CE 40

Figura 2. Tragédia Mariana – MG

24

Figura 16. Ciclo das migrações 43

Figura 3. Paper Log House Kobe

24

Figura 4. Castanhão reservatório de água do Ceará

24

Figura 5. Inundação de abril em Assaré

24

Figura 6. Foto de Assaré na Seca

24

Figura 7. Assaré durante a inundação

24

Figura 8. Aero foto de Assaré 24 Figura 9. Semiárido do Nordeste

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Figura 10. Semiárido no mundo 28 Figura 11. Gangorra térmica equatorial 29

Figura 17. Variações da temperatura média global a partir de 1900 e cenários projetados para o Século XXI, diferentes cenários de emissão SRES 44 Figura 18. Cenário A2: Mudanças projetadas na temperatura entre 2071 – 2100 (Período Anual) 45 Figura 19. Cenário B2: Mudanças projetadas na temperatura entre 2071 – 2100 (Período Anual) 45 Figura 20. Cenário A2: Mudanças projetadas na precipitação entre 2071 – 2100 (Período Anual) 46 Figura 21. Cenário A2: Mudanças projetadas na precipitação entre 2071 – 2100 (Período Anual) 46 Figura 22. Açude de Canoas - Assaré - CE

48

Figura 23. Estratégias de mitigação 55

Figura 12. Esquemas conceituais - mudanças climáticas e resiliencia 30

Figura 24. Estimativa da população 56

Figura 13.   Dinâmica da transformação 34

Figura 25. Pirâmide Etária - 2010

Figura 14. Precipitação do mês de março de 2017 em Assaré. 39

Figura 26. Contexto geográfico do município de Assaré - CE 56

lista de figuras

56


Figura 28. Produto Interno Bruto per capita (R$ 1,00)

58

Figura 29. Pessoas ocupadas por setor 2007 - 2013

58

Figura 31. Mercado Municipal 59 Figura 30. Mercado Municipal de Assaré – CE vista aérea noturna 59 Figura 32. Pedologia de Assaré 60 Figura 33. Solos de Assaré 62 Figura 34. Bacia Hidrográfica do Alto do Jaguaribe

63

Figura 35. Limites municipais de Assaré e corpos hídricos

65

Figura 36. Açude dos montes com a barragem rompida

65

Figura 37. Evolução de Precipitação Anual por Região Hidrográfica 66 Figura 38. Mapa da temperatura de Assaré ás 15:00 dia 27 de novembro de 2017 68 Figura 39. Mapa da temperatura de Assaré ás 03:00 dia 27 de novembro de 2017 69 Figura 40. Mapa da temperatura de Assaré ás 15:00 dia 27 de novembro de 2017 70

Figura 41. Mapa da temperatura de Assaré ás 03:00 dia 27 de novembro de 2017 71 Figura 42. Áreas de desertificação 2016

72

Figura 43. Vulnerabilidade ás inundações

73

Figura 44. Mulheres colhendo frutos no Senegal

82

Figura 45. Amazon Climate Change Learning Centre

83

Figura 46.   Mudanças Locais 84 Figura 47. Camadas funcionais e os quatros ciclos de energia 85 Figura 48.   Perspectiva Catalyst 86 Figura 49.   Arquitetura 87 Figura 50. Fenômenos climáticos 88 Figura 51. Princípios básicos do design

89

Figura 52. . Adaptação aos fenômenos climáticos 90 Figura 53. Cortes e maeriais 91 Figura 54.

. Acostamento Assaré-CE

95

15

Figura 27. Produto Interno Bruto (Valor Adicionado) PIB – (2010 a 2014) 58


ANA - Agencia Nacional das Águas COGERH - Gestão dos Recursos Hídricos no Ceará COP-21 - Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2015 CPTEC - Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária EMCDS - Curso Sobre Educação em Mudança Climática e Desenvolvimento Sustentavel FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo FUNCEME - Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos GEEs - Gases do Efeito Estufa IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

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IPCC - Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas INPE - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais IPECE - Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará ONUBR - Organização das Nacões Unidas No Brasil SRH - Secretária dos Recursos Hídricos do Ceará UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura UNISDR - (United Nations Office for Disaster Risk Reduction ) Estratégia Internacional das Nações Unidas para a Redução de Desastres UNFCCC - Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima


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lista de siglas


sumรกrio

1 2 3 4 5


introdução

20

compreenSão

36

mitigação

50

adaptação

80

projeção

92


in tro du ção


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INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA 1.

ram em barro e aos rios em lama, a fuga das pessoas desalojadas foi solucionada em gináEspaço destinado à realização de pesquisas sios esportivos das cidades vizinhas de Mae demonstração de tecnologias sustentáveis riana. Mais uma vez, a terrível cena de famílias para melhorar a convivência social com as conamontoadas recebendo doações em um grandições climáticas, hídricas, sociais e ambientais de ginásio, vazio de desconforto, tornou a indo Semiárido brasileiro, através de infraestruquietar. turas e estratégias em uma comunidade resiEssa inquietude revelou o pensamento do liente diante das mudanças climáticas. quão estamos despreparados para lidar com 1.2 ANTECEDENTES DA PROPOSTA qualquer tipo de cataclismos no país, refletinA ideia deste trabalho iniciou-se após o relato do, então, na escolha do tema para este trabado noticiário sobre o rompimento da barragem lho de conclusão de curso.

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1.1 OBJETO DE ESTUDO

do Rio Doce na cidade de Mariana/MG em novembro de 2015, o qual resultou em 19 mortes e em um significativo número de pessoas desabrigadas. A imagem dos que sofreram com o ocorrido foi a mais impactante, principalmente daqueles que ainda se encontravam vivos. Foram eles os responsáveis por inquietar vários questionamentos: Para onde iriam? Poderiam voltar para a cidade de origem novamente? E, até lá, como poderiam, enfim, se recompor?

Inicialmente, a ideia era trabalhar com abrigos emergenciais que pudessem ajudar a recompor a vida de famílias logo após as catástrofes, mas com diferenças em relação ao caso da cidade de Mariana, apresentando uma abordagem para a realidade dos desastres naturais relacionados ao estado do Ceará sobre seca e chuva, os quais estão cada vez mais recorrentes no cenário nacional. É possível averiguar esse fato com a publicação da Organização Em meio às construções que se transforma- das Nações Unidas no Brasil: “Brasil está entre


Figura 1. Visita à Assaré - CE Fonte:  Registrada por Victor Seledônio

Como já mencionado, a realidade do Nordeste do país não é diferente. A dualidade dos fenômenos climáticos (chuvas extremas e fortes estiagem) no Ceará resulta em ocorrências na maioria dos municípios presentes no semiárido do estado. Como exemplo disso, tem-se o município de Assaré que, em 2016, abriu estado de emergência por conta da forte estiagem e, em abril de 2017, tornou a abrir por causa das fortes chuvas que atingiram o açude da região e alagaram a cidade, deixando mais de 40 desabrigados.

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os 10 países com maior número de afetados por desastres nos últimos 20 anos.” (ONUBR, 2015). Números retirados do segundo relatório das Nações Unidas para a Redução de Desastres (UNISDR) que avalia catástrofes relacionadas a fenômenos climáticos no mundo e seus danos para a população. De acordo com a divulgação desse relatório, entre os anos de 1995 a 2015, 51 milhões de brasileiros foram impactados por catástrofes, sendo 90% desses relacionados com o clima.

Visto o despreparo lidar com a realidade dos fenômenos climáticos, a proposta inicial refratou. Ao invés de um abrigo emergencial, propõe-se um estudo sobre soluções para uma comunidade resiliente diante das mudanças climáticas para situações do semiárido do Ceará. Pois, diante dos acontecimentos relatados, averiguou-se a necessidade do estudo de possíveis formas de conviver permanentemente com fenômenos climáticos extremos.


O Brasil está entre

10 países

os com maior número de afetados por desastres nos últimos 20 anos. (ONU-

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Reconstrução pós-desastres geralmente se concentram na construção de abrigos. Raramente focam em reconstrução de longo termo. BOANO e ZETTER, 2010)

BR, 2015)

1

Em 4 anos, secas e inundações afe-

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tam 55.700,000 de brasileiros. No total, as perdas são de R$ 9 bilhões por ano. (ANA, 2017) De 1995 a 2015,

Figura 2. Tragédia Mariana – MG

51.000,000

Figura 3. Paper Log House Kobe

brasileiros foram impactados por catástrofes, 90% desses relacionados com o clima. (ONUBR, 2015)

Figura 4. Castanhão reservatório de água do Ceará Figura 5. Inundação de abril em Assaré Figura 6. Foto de Assaré na Seca

3

Figura 7. Assaré durante a inundação Figura 8. Aero foto de Assaré


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6

AssarĂŠ,

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em 2016, abriu estado de emergência por conta da estiagem e, em março de 2017, as fortes chuvas atingiram o açude, deixando mais de 40 desabrigados.

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4


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“ Pedi pro sol se esconder um pouquinho Pedi pra chover Mas chover de mansinho Pra ver se nascia uma planta Uma planta no chão ” Súplica Cearense - Patativa do Assaré Patativa do Assaré


Figura 9. Semiárido do Nordeste Fonte:  Portaria N°89 do Ministério da Integração Nacional, de 16 de março de 2005 IBGE, Malha Municipal Digital, 2005.

O semiárido representa 18,3% do território brasileiro, abrangendo, no Nordeste, seus nove estados (Figura 9). De acordo com a nova delimitação do semiárido realizado pela Secretária de Políticas de Desenvolvimento Regional, os critérios técnicos para a zona semiárida são: I. Precipitação pluviométrica média anual inferior a 800 milímetros; II. Índice de aridez de até 0,5 – calculado pelo balanço hídrico que relaciona as precipitações e a evapotranspiração potencial, no período entre 1961 e 1990; e III. Risco de seca maior que 60%, tomando-se por base o período entre 1970 e 1990. “Enquanto a média pluviométrica anual da Califórnia é de 200 milímetros, e a de Israel, 35 milímetros. A evaporação do Semiárido, entretanto, é da ordem de 2.000 milímetros. Ou seja, evapora mais água do que chove.” (AMORIM, 2015) A maior parte desse clima é constituída pelo bioma da e Calaariana), as quais interferem na dinâmica caatinga, com o clima quente e seco, possuinda região, no clima e nos intervalos das chudo chuvas não regulares entre os meses de vas. O engenheiro agrônomo João Suassuna dezembro e junho. discorre que “o que realmente caracteriza uma Além das características apresentadas, o se- seca não é o baixo volume de chuvas caídas e miárido nordestino sofre com influências das sim a sua distribuição no tempo.” (SUASSUNA, massas de ar (a Equatorial Atlântica, a Equato- 2002). O clima do Nordeste também é afetado rial Continental, a Polar e as Tépidas Atlântica por variaveis que interferem na estabilidade da

27

1.3 BREVE PANORAMA DO SEMIÁRIDO


28

região, o EL Niño, que bloqueia significativamente as frentes frias do sul, e o Dipolo térmico do atlântico, que é uma gangorra entre as temperaturas das águas do atlântico sul e do atlântico norte. Quando a temperatura de um deles está mais elevada que a outra, as nuvens carregadas se movem para a parte do oceano que apresenta águas de temperatura mais elevada (Figura 10). Desse modo, o Nordeste se beneficia com as chuvas no momento em que a temperatura do atlântico sul está mais elevada que a do atlântico norte.

Figura 10. Semiárido no mundo Fonte:  Mapa adaptado pela autora (IBGE, 2002)


29 O semiárido do Nordeste possui características climáticas, de solos, de cobertura vegetal e de fauna nativas bastante semelhantes à de outros lugares do mundo. No planeta Terra, há regiões semiáridas nas Américas, na Oceania, na Ásia e na África, como é possível observar Figura 11. Gangorra térmica equatorial Fonte:  E s q u e m a adaptado pela autora (CLIMATEMPO, 2015)

na Figura 11. Essas regiões servirão de base para investigação de adaptação a essas condições climáticas, no que diz respeito aos seus tipos de economias, produções, tecnologia, arquitetura, tecidos urbanos e etc.


1.4 CONCEITO DE MUDANÇA CLIMÁTICA E RESILIÊNCIA Esta pesquisa se direciona com base em dois temas estratégicos: Mudanças climáticas e resiliência. O termo mudanças climáticas é conceituado na Convenção-Quadro sobre Mudança do Clima (UNFCCC) em seu artigo 1º como: “Uma mudança do clima que é atribuída direta ou indiretamente à atividade humana, que altera a composição da atmosfera mundial e que vai além da variabilidade climática natural observada ao longo de períodos comparáveis”.

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(IPCC, 2015)

Dessa forma, os dois conceitos abordados juntos funcionam como: i) variação; ii) adaptação – as mudanças climáticas seriam a variação a ser contornada pela resiliência afim de uma adaptação a uma terceira constante; iii) consequências da variação – essa pode ser considerada como sendo os fenômenos naturais, desastres naturais e catástrofes. Para esta pesquisa, os dois temas devem caminhar juntos a fim de atingir a capacidade de recuperação e de adaptação das cidades do semiárido para conviver com as consequências das mudanças climáticas com o intuito de que elas não criem catástrofes como demonstrado

E resiliência é descrito pelo relatório do Painel na Figura 12. Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) como: “Capacidade dos sistemas sociais, econômicos e ambientais de lidar com um evento, tendência ou distúrbio perigoso, responder ou se reorganizar de modo a manter a sua função essencial, identidade e estrutura e, ao mesmo tempo, manter a capacidade de adaptação, aprendizado e transformação.” (IPCC, 2015)

Figura 12. Esquemas conceituais - mudanças climáticas e resiliencia Fonte:  Autora


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1.5 RELEVÂNCIA DO TEMA

Em âmbito mundial, serão buscados projetos

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de referência em áreas que sofreram com desastres naturais. Ao serem analisados, foi possível verificar que grande parte foi resultado proveniente de projetos emergenciais de aspectos temporários, que possuíam a função de suprir a necessidade da população afetada até que esta conseguisse se recompor. Notou-se, então, que esses projetos têm a intenção de suprir a urgência da realidade nos casos de desastres, pois tendem a ser de rápida construção, leves, de fácil manuseio e montagem. No entanto, a característica emergencial deixa a desejar na adaptação da comunidade com o risco do local conforme citam Boano e Zetter: “Iniciativas de reconstrução pós-desastres geralmente se concentram na construção de abrigos. Elas raramente se focam em recuperar uma noção de espaço e local público que é crucial para reconstrução de longo termo da população afetada.” (BOANO e ZETTER, 2010)

De forma a atender essa carência, a pesquisa tende a propor soluções para adaptabilidade permanente da comunidade na situação espe-

cifica do semiárido do Ceará que, sem preparo, sofreu com as fortes chuvas e alagamentos no ano de 2017. Trata-se não apenas de uma intervenção temporária, mas de uma intervenção que prepare a comunidade local para conviver com a nova realidade e que reduza a sua vulnerabilidade diante dos impactos das mudanças climáticas. Isso se torna possível através da adoção de uma infraestrutura verde, a qual tem o poder de mitigar os efeitos da chuva e da seca, e das estratégias do conforto ambiental aplicado à arquitetura a fim de tornar viável a convivência com a dualidade desses fenômenos. Uma abordagem replicável para o planejamento de infraestrutura futura, de modo que ele maximize a resiliência social e ecológica do semiárido.


1.6 OBJETIVOS

1.6.2 OBJETIVOS ESPECIFICOS

1.6.1 OBJETIVOS GERAIS

• Compreender a mudança climática em Realizar um projeto arquitetônico do Centro de uma zona do semiárido e seus fenômenos naResiliência em Assaré - CE, Espaço destinado turais; à realização de pesquisas e demonstração de • Identificar causas das mudanças clitecnologias sustentáveis para melhorar a conmáticas no semiárido; vivência social com as condições climáticas, Propor projetos com soluções que mihídricas, sociais e ambientais do Semiárido • nimizem as mudanças climáticas; brasileiro. • Adaptar a dinâmica local para receber os fenômenos da chuva e da seca;

• Elaborar o projeto do edifício, considerando os critérios projetuais, a nível de anteprojeto.

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• Construir resiliência com projetos de natureza técnica arquitetônica resistentes a secas e inundações;


1.7 PROBLEMATIZAÇÃO E HIPÓTESES

1.7.2 HIPÓTESES

34

1.7.1 PROBLEMATIZAÇÃO

Segundo Foucault (2004), devemos olhar as situações com um devido distanciamento para que possamos desnaturalizar sua essência e compreender o que é certo e errado diante dos padrões. Com outras palavras, deve-se analisar tudo o que há de uma maneira diferente para refletir a respeito da pré-concepção e dos conceitos que estão pré-estabelecidos. Isso posto, problematizo a contextualização dessa pesquisa: até que ponto as técnicas utilizadas em projetos de construções e de adaptação do solo (no que diz respeito ao tecido urbano) realizadas no semiárido são as melhores existentes para esse clima? São elas, as únicas? Ou são apenas soluções pré-concebidas em uma região que foram sendo replicadas ao longo dos anos? Essas construções e intervenções podem ou não se adaptar às mudanças climáticas no semiárido. E, de forma investigativa, serão avaliadas estratégias para que se torne possível conviver com os intemperes.

Partindo do conceito de Resiliência, capacidade dos sistemas – neste caso, de uma cidade a adaptação e transformação aos fenômenos naturais, de forma a evoluir para permanecer como um ecossistema vivo –, considera-se, hipoteticamente, em relação a alterações no clima sobre secas e chuvas que: • Infraestrutura verde, com foco na retenção e armazenamento de agua, é solução para o escoamento de enchentes causadas por fortes chuvas isoladas e suprimento para práticas agrícolas resistentes à seca; • Arquitetura vernacular e estudos de conforto térmico como solução adaptadora de edificações para receber seca e chuva no semiárido; • Infraestrutura verde e arquitetura vernacular ajudam comunidades a se recompor após trauma;

• Técnicas de ciclos fechados préFazem-se necessárias adaptações técnicas -estabelecidas em projetos transformam de intervenção e de construção, pois, como foi soluções temporárias em permanentes. expresso pelo criador da escala Richter, “Terremotos não matam pessoas, casas sim”.

Figura 13.   Dinâmica da transformação Fonte:  Curso sobre educação em mudança climática e desenvolvimento sustentável (EMCDS), UNESCO,2014.


1.8. PLANO DE TRABALHO E MÉTODOS que foi produzido de caráter teórico e técnico relacionado ao tema; ii) Mitigação: ii.i) visita técnica na zona escolhida para realização de entrevistas com os afetados pelos intemperes, registros fotográficos e avaliação do local; ii.ii) coleta e análise de dados adquiridos de base públicas ou de secretárias e órgãos do Ceará, analisados em softwares de georreferenciamento, modelagem e simulação; iii) Adaptação: iii.i) referencial projetual e conceitual de testes e elementos já utilizados para embasamento de estratégias do projeto adaptativo; iii.ii) proposta projetual para desenvolvimento definitivo do projeto arquitetônico e paisagístico. 35

A construção deste estudo terá como base a metodologia utilizada no curso da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), Figura 13, sobre educação em mudança climática e desenvolvimento sustentável (EMCDS). De maneira adaptada, as etapas deste trabalho se darão em três (3) fases que, subdivididas, resultam em seis sub-etapas: i) Compreensão: i.i) definição do problema; e das principais questões pertinentes a este, considerando a estrutura, a delimitação e as limitações do estudo pretendido, bem como suas principais variáveis; i.ii) revisão da literatura para percepção do


2


com pre en sĂŁo


38

2.

COMPREENSÃO

A população urbana mundial, em 2007, ultrapassou a rural e, hoje, compõe 54% do total. De acordo com o relatório de 2014 da ONU (World Urbanization Prospects), a previsão para 2050 é que esse número chegue em 66%. Essa parte da população é caracterizada por ser grande produtora de atividades emissoras de gases do efeito estufa (GEEs), principalmente as atividades relacionadas ao modo de vida dos sistemas humanos, como o desenvolvimento industrial e o tecnológico. A constante emissão desses gases possui impacto direto no aquecimento global e nas mudanças climáticas, resultando em fenômenos naturais extremos não apenas no local emitido, mas em outras regiões. Conforme o quinto relatório da ONU sobre mudanças climáticas, o aumento da temperatura tem como maior responsável a ação do homem (IPCC, 2015). Tais mudanças geram fenômenos como o aquecimento global, o agravamento da poluição do ar, o derretimento de gelo das calotas polares e o aumento do nível de água dos oceanos. E, no caso do Nordeste do Brasil, intensifica o processo de desertificação, principalmente no semiárido, além de influen-

ciar na dinâmica do El Niño e do dipolo térmico do atlântico, causando uma gangorra térmica. Esses dois últimos geram chuvas pontuais na região semiárida que não são capazes de encher os grandes reservatórios, como o Castanhão, mas podem oscilar e ultrapassar a média histórica de chuvas das cidades podendo encher os reservatórios (açudes e cisternas) das áreas pontualmente atingidas pelas chuvas isoladas como é relatado pelo Presidente da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos do Ceará (COGERH) em entrevista ao jornal O Povo: “Nos pequenos açudes do Interior, as chuvas isoladas são de boa ajuda. Ainda segundo o presidente da Cogerh, levantamento da Funceme aponta que o Ceará possui entre 5 mil e 6 mil reservatórios com cerca de 50 hectares, pequenos açudes que dão alívio às localidades. Mas na equação das águas que alcançam os grandes açudes e garantem segurança hídrica, entram ainda os médios reservatórios da mesma região. Principalmente nos casos do Banabuiú e do Orós.” (JORNAL OPOVO, 2017)


Os fenômenos que atingem o Nordeste variam de acordo com a temperatura e a variabilidade destes (El Niño e dipolo térmico do atlântico) afeta diretamente na regularidade das chuvas na região, provocando quantidades diferentes em cada município no inverno. Esses fenômenos geram desastres naturais como relata a (COGERGH): “A variação nas quantidades de chu-

va que corre a cada ano, gera dois problemas bastante conhecidos pelos cearenses: as secas e as cheias.”

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Como as cidades do semiárido não possuem regularidade das chuvas, elas não apresentam preparo nas diversas instancias para recebê-las. Ao invés disso, compactam seus solos, algumas pavimentam com asfaltos suas

ruas, além da maioria das cidades não possuir saneamento e nem plano de drenagem. Alguns açudes não são monitorados pela COGERH, e outros possuem barragens que são calculadas baseadas no método de FULLER e, uma das variáveis dessa formula, é a precipitação média mensal local para o período em um intervalo de anos. No entanto, se chove além da média mensal histórica em um município, a barragem do reservatório não suporta e rompe. Como aconteceu no município de Assaré no dia 18 de março de 2017, o açude rompeu devido à forte precipitação (Figura 14) e alagou várias ruas da cidade. A última vez que o açude rompeu foi em 1989. Portan-

Figura 14. Precipitação do mês de março de 2017 em Assaré. Fonte:  Curso sobre educação em mudança climática e desenvolvimento sustentável (EMCDS), UNESCO,2014.


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sistentes devido a uma to, é possível notar que as medidas adotadas significativa falta de prenão são adaptadas às mudanças climáticas e paro para a variabilidade não preveem a variabilidade do clima. Conseclimática atual em alguns setores. ” (IPCC, 2015) quentemente, não cumprem com o seu objetivo que é controlar os reservatórios e evitar as Muitas foram as alternativas para tentar leenchentes. var água para locais menos favorecidos pelas Quando não chove, o cenário no semiárido é a chuvas, dentre elas, o projeto de criação de forte estiagem. A região apresenta uma má ad- cisternas para armazenamento da água duministração dos recursos naturais, pois o nor- rante os períodos mais secos, programas de deste brasileiro conta com mais 70.000 reser- caráter emergenciais (carros pipas) ou grandes vatórios superficiais, sendo a localidade mais obras como a transposição do rio São Franaçudada do planeta (RIBEIRO, 2010). Essa de- cisco. Esta última está há uma década em sordem na gestão, principalmente em relação execução, a qual, segundo o jornal do Folha de à água, faz com que a população existente na São Paulo, “o governo já gastou 10 bilhões na região sofra com a aridez do solo e com a es- obra dos canais e 2,2 bilhões na revitalização e cassez de recursos para sustento básico, ou nenhuma delas está pronta. ” (JORNAL FOLHA práticas agrícolas, como meio de subsistência. DE SÃO PAULO, 2016), e, ainda assim, não se tem certeza de que a água chegará nas comu“Impactos de tais extremos relacionados ao clima nidades devido à grande seca e à vazão para a incluem a alteração dos qual foram dimensionados os canais. Mais um ecossistemas, a interrupção da produção de ali- exemplo de abordagem que não se adapta à mentos e abastecimento variabilidade das secas e chuvas do semiárido. de água, danos a infraestruturas e assentamentos, morbidade e mortalidade e consequências para a saúde mental e bem-estar humano. Para os países em todos os níveis de desenvolvimento, esses impactos são con-

Por não conseguir se subsidiar sem a terra fértil, a seca atinge principalmente a população economicamente menos favorecida e os menores produtores rurais. O relatório do IPCC afirma que “As pessoas marginalizadas socialmente, economicamente, culturalmente, politi-

Figura 15. Seca em Assaré-CE Fonte:  Autora


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Os tipos de migrações consideradas nesse ciclo são: migração espontânea e migração forçada, têm-se como intenção diminuir a segunda, ambas são definidas pelo no glossário de migração da International Organization for Migration (IOM): Figura 16. Ciclo das migrações Fonte:  Autora

“Migração espontânea: Indivíduo ou grupo que inicia e prossegue o seu plano de migração sem

qualquer ajuda externa. A migração espontânea é geralmente causada pelos fatores de atracção e de repulsão e caracteriza-se pela falta de auxílio estatal ou de qualquer outro tipo de auxílio nacional ou internacional. Migração forçada Termo geral usado para caracterizar o movimento migratório em que existe um elemento de coacção, nomeadamente ameaças à vida ou à sobrevivência, quer tenham origem em causas naturais, quer em causas provocadas pelo homem (por ex., movimentos de refugiados e pessoas internamente deslocadas, bem como pessoas deslocadas devido a desastres naturais ou ambientais, químicos ou nucleares, fome ou projectos de desenvolvimento).” (ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL PARA AS MIGRAÇÕES (OIM), 2009)

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camente, institucionalmente ou de outra forma são especialmente vulneráveis às alterações climáticas e também a algumas respostas de adaptação e mitigação.” (IPCC, 2015). Dessa forma, é cada vez mais recorrente a saída de pessoas ou de famílias do interior do estado em busca de condições melhores e de maiores oportunidades de trabalho no meio urbano, criando o processo de migração descrito no início deste capitulo. Nota-se, então, que é um ciclo negativo que pode vir a ser quebrado com a adaptação de abordagens para a convivência com os fenômenos extremos apresentados no semiárido, causados pelas mudanças climáticas. Essas adaptações pontuais ajudariam a evitar que os que desejam permanecer no interior do seu estado se vejam obrigados a migrar para as grandes cidades por causa dos desastres ambientais.


2.1 VARIABILIDADE E MUDANÇAS CLIMÁTICAS NO SEMIÁRIDO elaborou outro relatório, focando apenas nas regiões do Brasil de acordo com os cenários futuros denominados A1, B1, A2 e B2 (20712100).

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O quarto relatório referente às mudanças climáticas do Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC-AR4) de 2007 apresenta as projeções dos futuros cenários de emissões para o mundo e seus respectivos países até o final do Séc. XXI. Baseado nesses dados, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE)

Figura 17. Variações da temperatura média global a partir de 1900 e cenários projetados para o Século XXI, diferentes cenários de emissão SRES Fonte:  IPCC, 2007


Figura 19. Cenário B2: Mudanças projetadas na temperatura entre 2071 – 2100 (Período Anual) Fonte:  M A R R E N GO, 2017

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Figura 18. Cenário A2: Mudanças projetadas na temperatura entre 2071 – 2100 (Período Anual) Fonte:  M A R R E N GO, 2017

O cenário A2 é o pessimista de altas emissões e o B2, por sua vez, é o otimista de baixas emissões. Segundo as projeções médias do INPE para a região Nordeste, o aquecimento pode chegar a 4ºC no cenário pessimista A2, e de 2ºC a 3ºC no cenário otimista B2 (Figura 18 e 19). De acordo com as projeções simuladas, é possível perceber que as áreas mais centrais e ao norte do semiárido sofrerão com maior intensidade com a elevação da temperatura no pior cenário A2. Quanto à projeção da precipitação, teria uma redução de 15% a 20% (2-4 mm dia-1) no semiárido até o final do século XXI uniformemente em mais da metade do polígono das secas no pior caso considerada uma anomalia pelo gráfico de -60%.


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De acordo com as compilações das informações de relatórios sobre as mudanças climáticas realizadas pelo INPE, os impactos no semiárido do Brasil seriam o aumento na temperatura entre 2ºC a 5ºC e a diminuição das chuvas em ate 15% no Nordeste até o final do século XXI, tendo a redução do volume dos rios e dos açudes como consequência. Diante disso, a possibilidade de o semiárido tornar-se apenas árido se dá através da extinção da caatinga, sendo, então, substituída por uma vegetação cactácea. Com a elevada temperatura, tem-se um alto índice de evaporação que afeta diretamente os corpos hídricos e o setor da agricultura básica. “Setenta por cento das cidades com população acima de 5.000 habitantes enfrentara graves crises no abastecimento de água. O clima mais quente e seco poderia levar a população a migrar para as grandes cidades da região ou para outras regiões, gerando ondas de “refugiados ambientais”.” (MARENGO, JOSÉ A, 2007)

Figura 20. Cenário A2: Mudanças projetadas na precipitação entre 2071 – 2100 (Período Anual) Fonte:  M A R R E N G O , 2017

Figura 21. Cenário A2: Mudanças projetadas na precipitação entre 2071 – 2100 (Período Anual) Fonte:  M A R R E N G O , 2017


freu com uma cheia que causou o transbordamento e o rompimento da barragem do açude. Como consequência, houve uma grande inundação em vários vilarejos ao redor. (TV DIÁRIO, 2014). Visto que os açudes não possuem preparo para receber chuvas além da média estabelecida, não são considerados uma alternativa plausível para os cenários futuros de mudanças climáticas, pois seus reservatórios são calculados para uma determinada demanda e, caso chova acima do que foi calculado, eles sangram além da lâmina preestabelecidas e desaguam um volume de água significativo nos leitos dos rios, podendo vir a invadir as cidades e os açudes que não possuem monitoramento que são antigos ou construídos sem orientações técnicas, oferecem um maior risco à região em épocas de chuvas mais intensas. “Por se tratar de reservatórios superficiais, os Dessa maneira, a existência de água repreaçudes são bastante vulneráveis, tanto sob a sada sem monitoramento pode ser um risco ótica quantitativa quanto sob a ótica qualitatia qualquer comunidade a qual o corpo hídrico va.” (ARAÚJO, 2011) pertença. Assim, como um caso histórico no ano de 1960 quando o açude de Óros, um dos Fora do inverno do Nordeste, os outros 9 memaiores do Ceará que estava em construção, ses do ano são de grandes secas, possuindo e o Rio Jaguaribe, que abastece o açude, so- elevadas temperaturas e fortes ventos, os quais são inimigos da água represada a céu O semiárido nordestino é a região mais açudada do mundo. Entende-se como açudes, segundo o dicionário Michaelis, extensões de água represadas artificialmente, em geral para irrigação, em regiões sujeitas a secas (MICHAELIS, 2017). Esses são, também, intervenções que foram implantadas para amenizar os impactos da escassez de água no Nordeste. As construções dos açudes iniciaram após as grandes secas com o objetivo de ajudar às populações prejudicadas pela estiagem prolongada. A intervenção cumpre seu papel de reservar água e de distribuir para as comunidades que residem no semiárido. No entanto, não são todos os açudes que possuem barragens calculadas e o monitoramento de órgãos estaduais que, no caso do Ceará, é a Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos – COGERH.

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2.2 AÇUDES: ADAPTAÇÃO HISTÓRICA ÀS SECAS E ÀS CHEIAS


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aberto devido ao fenômeno de evaporação. A região possui abundantes recursos naturais com uma média de oito horas de sol por dia e, em alguns lugares, ventos com mais de 20 km por hora. No entanto, esses recursos não são aproveitados da melhor maneira, visto que a diminuição do polígono das secas se constituiu da transposição do rio São Francisco, obra de infraestrutura que expõe o recurso hídrico aos transportes dos fortes ventos e evaporação pelo calor. O fato é que essa região é desprezada para ecoturismos, para instalação de indústrias e para o modelo convencional de agricultura e pecuária devido ao seu clima quente e ao crescente processo de desertificação, onde nada é extraído do solo degradado. Devido às condições da região, os açudes se tornaram o meio mais fácil de contato da população com eixo hídrico e, atualmente, existem milhares de pequenos e médios corpos hídricos espalhados pelo Nordeste que, dependendo da situação, atuam de maneira positiva ou negativa onde estão situados, influenciam na dinâmica das bacias hidrográficas e não cumprem seu papel de abastecer a comunidade, havendo, também, os que são inviabilizados para consumo humano quando animais entram em contato com a água.

Figura 22. Açude de Canoas Assaré - CE Fonte:  TripAdvisor


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mi ti ga ção


3


3.

MITIGAÇÃO

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A mitigação aparece após a identificação das causas das mudanças climáticas. No capítulo de compreensão, observou-se, segundo o IPCC, que os gases do efeito estufa (GEEs) são a maior causa das mudanças climáticas, e que os seres humanos são os maiores produtores desses. Na Figura 6, no primeiro ciclo (negativo), é possível visualizar que o aumento da população urbana é um fator que contribui significativamente para a produção de gases, fato retirado do livro Cidades Sustentáveis Cidades Inteligentes, o qual informa que: “Entre 1950 e 2005, a população mundial urbana cresceu entre 29 e 49% e a emissão global de carbono pulou de 1.630 para 7.985 milhões de toneladas. Algumas megacidades emitem mais carbono do que países inteiros, como Xangai (seria 25º maior emissor dentre os países do mundo).” (LEITE e AWAD, 2012).

interromper o ciclo negativo e propor um ciclo positivo ao inserir projetos de mitigação e de adaptação nas comunidades rurais, as quais sofrem com impactos ambientais de tal forma que se tornam constantes, como a seca, e obrigam famílias a migrarem para os grandes centros urbanos em busca de melhores condições de vida. No entanto, para interromper o ciclo negativo e provocar a permanência da população na sua área rural, é necessário oferecer subsídios projetuais de adaptação à mudança contínua do clima da região. Além dessa adaptação, as comunidades residentes nas regiões rurais podem ser independentes e ajudar no combate às emissões dos gases do efeito estufa. Apesar de não serem elas as maiores produtoras desses gases, ainda assim, se tornariam comunidades resilientes. Na 21ª Conferência das Partes (COP-21), os países participantes estabeleceram metas

para reduzir a emissão de GEEs através das contribuições pretendidas nacionalmente determinadas (intended Nationally Determined Dessa maneira, têm-se como medida para evi- Contributions - iNDCs). O Brasil dividiu suas tar o aumento da população urbana mundial metas em setores e, resumidamente, o edi-


Obter também um acréscimo de 10% no ganho de eficiência no setor elétrico até 2030;

“O Brasil pretende adotar as seguintes ações:

d) No setor agrícola, fortalecer o programa “Plano de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono” (Plano ABC), restaurar 15 milhões de hectares adicionais de pastagens degradadas até 2030 e alcançar 5 milhões de hectares de sistemas de integração lavoura-pecuária-florestas (iLPF) até 2030;

a) Na matriz energética, aumentar a quota de biocombustíveis sustentáveis brasileira para cerca de 18% até 2030; b) No setor florestal e de mudança do uso da terra, atingir índice zero de desmatamento ilegal na Amazônia até 2030 e compensar as emissões de gases de efeito de estufa provenientes da supressão legal da vegetação em até 2030. Restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares de florestas até 2030; c) No setor energético, atingir 45% de fontes renováveis na ​​ matriz energética em 2030, expandindo a participação de fontes renováveis outras que a geração hidrelétrica na matriz energética para entre 28% e 33% em 2030, com aumento das frações das gerações eólica, solar e de biomassa.

e) No setor industrial, promover novos padrões de tecnologias limpas e ampliar as medidas para eficiência energética e a infraestrutura de baixo-carbono; f) No setor de transporte, ampliar as medidas de eficiência e melhorar a infraestrutura para os transportes, incluindo o transporte público em áreas urbanas.” (FAPESP, 2017)

Neste trabalho, tem-se como desafio extrair as metas que foram estabelecidas por setores e transformar em estratégias para aplicar em

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tal da FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais 2017 as apresentou da seguinte maneira:


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Figura 23. Estratégias de mitigação Fonte:  Autora

pe. Encontra-se a 474 km da capital Fortaleza e a 99 km do município de Juazeiro do Norte, possuindo seus limites ao norte com Tarrafas, Antonina do Norte; ao sul com Potengi, Santana do Cariri, Altaneira; ao leste com Altaneira, Desta forma, propõe-se pesquisas de alterFarias Brito e, ao oeste, com Antonina do Nornativas para adaptação da comunidade para te, Campo Sales. essa realidade. Em 1775, Alexandre da Silva Pereira, filho de 3.1 ASSARÉ Manoel da Silva, adquiriu terras da localidade, Como estudo de caso, escolheu-se uma ci- para onde se mudou com a família. Suas terras dade pertencente ao semiárido do Ceará que eram férteis para produção de algodão e para possuísse as características relatadas nos ca- a criação de gado, além de se localizarem entre pítulos anteriores: despreparo para as chuvas e as mais movimentadas estradas da época: a a presença de uma situação de forte estiagem Cariri – Inhamuns com a Piauí – e Sertões do que não favorecesse a permanência dos nati- Baixo – Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do vos. Assim, a cidade escolhida foi Assaré, um Norte (IBGE, 2016). Sua fazenda servia de posmunicípio da região do Sertão dos Inhamuns, to de parada comercial para quem passava por ao sul do estado do Ceará, com 22.445 habi- essas estradas. Assim, para povoar a região, tantes e 1.116,3 km² de extensão. Alexandre realizou doações de terras em torDe acordo com o perfil municipal (IPECE, 2016), no de sua fazenda. Após as primeiras ocupaAssaré é um município constituído por três (3) ções, a construção da Igreja Matriz começou distritos: Assaré; Amaro e Aratama. O muni- em 1842 no local da primitiva capelinha. Em cípio pertence à 18º região administrativa do 1844, foi construído, a expensas da padroeiestado do Ceará e à de planejamento do Cariri, ra, o açude Banguê, depois denominado “Açusendo classificado pelo IBGE na mesorregião de de Nossa Senhora” e somente em 20 de Sul cearense e microrregião Chapada do Arari- dezembro de 1938 a vila passa à cidade pelo Decreto-Lei de nº. 448 de 20 de dezembro

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um projeto: Centro de Resiliencia no semiárido de forma que não seja vulnerável aos impactos das mudanças climáticas de acordo com a Figura 7:


de 1938. (GOVERNO MUNICIPAL DE ASSARÉ, 2016).

acima da faixa de 19 anos diminui significativamente.

Assaré, também terra do cearense Patativa, importante compositor cearense que narrou a temas da realidade do nordeste com sagacidade, principalmente sobre a seca e a bravura das cheias, Assaré foi cenário para muitos de seus poemas: “É triste para o Nordeste o que a natureza fez Mandou cinco anos de seca e uma chuva em cada mês E agora em 85 mandou tudo de uma vez” (ASSARÉ) 3.2 ASPECTO GERAIS

Figura 24. Estimativa da população Fonte:  IBGE, 2016

Figura 25. Pirâmide Etária - 2010 Fonte:  IBGE, 2016

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3.2.1 DEMOGRAFIA O censo do IBGE de 2010 fez previsões sobre a estimativa da população para os anos de 2013 a 2016 (Figura 24). Com um total de 23.191 habitantes, 53,25% é urbana e 46,75 é rural. No contexto atual, Assaré sofre com a migração dos moradores para a capital ou para outras cidades próximas, como Crato e Jua-

Durante a visita técnica ao local, percebeu-se que a população economicamente ativa da cidade compreende aos idosos aposentados ou beneficiados e à população adulta que, em sua maioria, é formada por prestadores de serviços, servidores públicos ou desempregados. Muitos moradores entrevistados diziam ser exzeiro do Norte e Fortaleza. Essa migração se -agricultores ou agricultores inativos devido às dá pela busca da população pelo ensino uni- condições de seca que atingem a localidade versitário, pelo mercado de trabalho variado e há um bom tempo. por alternativas de entretenimento, como se pode observar na Figura 25, onde a população

Figura 26. Contexto geográfico do município de Assaré - CE Fonte:  realizado pela autora com base de dados do georeferenciados do IBGE 2015


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3.2.2 ECONOMIA

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Em 2014, o município possuía um PIB per capita de R$ 7697.52, apresentando o setor de serviços como o que mais contribui economicamente, seguido da agropecuária e, em terceiro, da indústria de acordo com a Figura 27. O Relatório do IPECE de 2016 apresentou um gráfico do crescimento do PIB entre os anos de 2010 e 2013 (Figura 28) e, para complementar, é perceptível o aumento de pessoas trabalhando em serviços do ano de 2009 a 2010 e o decréscimo de 2012 a 2013, enquanto, aos poucos, o comércio segue crescendo continuamente, diferente da agricultura que se mantém em nível estático (Figura 29). A cidade possui uma praça central que concentra os pequenos e médios comércios ao redor do mercado municipal (Figura 30 e 31) da cidade onde são vendidos os alimentos produzidos pela população agropecuária.

Figura 27. Produto Interno Bruto (Valor Adicionado) PIB – (2010 a 2014) Fonte:  IBGE, 2016

Figura 28. Produto Interno Bruto per capita (R$ 1,00) Fonte:  IPECE, 2016

Figura 29. Pessoas ocupadas por setor 2007 - 2013 Fonte:  IBGE, 2016


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Figura 31. Mercado Municipal Fonte:  TV Assaré

Figura 30. Mercado Municipal de Assaré – CE vista aérea noturna Fonte:  Autora


3.3 DIAGNÓSTICO AMBIENTAL Este capitulo tem a intenção de criar um cená- Já o Maciço Residual compõe a Depressão rio físico na mente do leitor por meio das ca- Sertaneja, o qual é um conjunto de maciços montanhosos em meio ao piso regional de racterísticas ambientais presentes na região. cotas baixas, configuram-se por imponen3.3.3 GEOLOGIA tes relevos residuais de grandes dimensões, Assaré se localiza em uma altitude de 470 me- que atingem cotas elevadas (apresentando tros acima do nível do mar, tendo como coor- altitudes variadas, entre 600 e 1.100 metros) denadas geográficas: Latitude (S) 6º 52’ 28’’ e (BRANDÃO, 2014)

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Longitude (WGr) 39º 52’ 30’’. Seu relevo é considerado Depressão Sertaneja e Maciço Residual (IPECE, 2016). O primeiro é um complexo e diversificado conjunto de rochas ígneo-metamórficas, invariavelmente recobertas por caatinga, caracterizado por um conjunto de solos rasos e fertilidade natural baixa a alta em um ambiente tropical semiárido (Figura 32). Esta região é, portanto, caracterizada por um clima semiárido com precipitação média anual entre 500 e 800 mm e estiagem prolongada, entre 6 e 10 meses, com ocorrência restrita de áreas onde a semiaridez é muito severa, no oeste e sudoeste do Ceará. (RODRIGUEZ e SILVA, 2002)

Em Assaré é possível encontrar uma diversidade de solos, são eles: Litólicos, Latossolo Vermelho-Amarelo,Podzólico,Terra Roxa Estruturada Similar (IPECE, 2016). De acordo com a Figura 24 base de dados de classificação dos solos georeferenciada pelo IBGE e pela EMBRAPA disponibilizado no site da AMBIDATA, pode-se verificar a predominância de três solos dentro do limite do município, sendo o com maior área de abrangência o solo Vermelho-Amarelo. Os Litolicos são característicos da região semiárida e são pouco desenvolvidos, rasos, não hidromórficos (sem a presença de água) (AGEITEC). Os Latossolos são mais profundos que os litólicos, porosos, bem drenados, bem permeáveis mesmo quando muito argilosos, friáveis e de fácil preparo. (AGEITEC). Eles possuem uma

Figura 32. Pedologia de Assaré Fonte:  Autora com base de dados georeferenciados do (INPE, IBGE e EMBRAPA, 2017)


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solo. As Terras Roxas Estruturadas compreendem solos de grande importância agrícola; as eutróficas são de elevado potencial produtivo, e as distróficas e álicas respondem bem à aplicação de fertilizantes e corretivos. Desta forma, podemos concluir que os solos presentes na região em maioria são adequados para agricultura, visto que apenas alguns são poucos insuficientes de profundidade e de presença de água. Em suma, se o inverno tiver pluviosidade média anual, o solo irrigado consegue subsidiar a agropecuária por alguns meses fora da estação.

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pequena reserva de nutrientes para as plantas e possuem bom potencial para a agropecuária, no entanto a EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária indica a conservação desses solos para a biodiversidade da região. O solo Vermelho-Amarelo está em todo território do Brasil, em relevo pouco ondulado, é muito utilizada para agropecuária apresentando limitações de ordem química em profundidade. (AGEITEC). Podzólico, é um solo que quando a fertilidade natural é elevada e não há pedregosidade, sua aptidão é boa para agricultura (AGEITEC). É indicado para situações onde não se pode investir tanto na qualidade do

Figura 33. Solos de Assaré Fonte:  Autora


3.3.4 HIDROGRAFIA 35), o qual foi concluído em 1999, barrando o riacho São Gonçalo (SRHCE, 2015). Este é o responsável pelo abastecimento da cidade de Assaré, possuindo uma capacidade de 69,25 hm³; cota: 377,71 m; volume: 4,18 hm³; volume: 6,03%; vazão: 0,00 L/s. Vazão atualizada em: 12/07/2017 (COGERH, 2017).

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A cidade de Assaré está situada na bacia hidrográfica do alto do Jaguaribe (representada em cinza escuro na Figura 34). É uma cidade cercada por corpos hídricos e reservatórios, onde o principal rio do município é o rio dos Bastiões, e o único açude monitorado pela COGERH é a barragem de Canoas (Figura

Figura 34. Bacia Hidrográfica do Alto do Jaguaribe Fonte:  Autora com base de dados georeferenciados do IBGE, 2015


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Fonte:  Autora


município possui vários reservatórios e rios próximos à cidade que, durante o inverno, permanecem em nível elevado, a água não serve para consumo. Isso se dá ao fato de que esses corpos hídricos não são limpos e servem apenas para os animais, como no caso do Açude dos Montes, que extravasou e rompeu a barragem (Figura 36), informação concedida em entrevista com o Coordenador da Defesa Civil A dualidade em relação à água na cidade de do Município Paulo Renan da Silva Rodrigues. Assaré é bastante adversa, pois enquanto o

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Em visita à cidade de Assaré, foi possível constatar que 100% por cento da população paga a água para beber, a qual é proveniente do próprio açude de Canoas que fica distante da cidade, havendo a utilização de carros-pipas para levar e vender a água para a localidade. Na visita técnica, foi presenciado várias vezes a presença dos carros-pipas.

Figura 35. Limites municipais de Assaré e corpos hídricos Fonte:  Autora com base de dados do georeferenciados do IBGE 2015

Figura 36. Açude dos montes com a barragem rompida


3.3.5 CLIMA

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Caracterizado pelo clima Tropical Quente Semi-árido (IPECE, 2016), Assaré apresenta temperaturas altas que chegam 36ºC segundo a previsão do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC/INPE, 2017), no entanto no relatório do IPECE 2016 do município a temperatura média varia entre 24ºC a 26ºC. (IPECE, 2016). A pluviosidade média anual é 680,7 mm, no entanto no ano de 2017 a (FUNCEME, 2017) apresentou dados preliminares de uma média de 713.1 mm, de quase 33 mm a mais até o mês de novembro de 2017, seu quadro chuvoso vai dos meses de fevereiro a abril e em março de 2017 ano teve a maior chuva acima da média histórica do município. Ao analisar a Evolução de Precipitação Anual por Região Hidrográfica (Figura 30), percebe-se que a precipitação no perímetro da bacia hidrográfica do alto do Jaguaribe tem uma média anual bem menor que do município, o que comprova que as chuvas são pontuais na região.

Figura 37. Evolução de Precipitação Anual por Região Hidrográfica Fonte:  Autora com base de dados do georreferenciados (Portal Hidrológico do Ceará, 2017)


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As temperaturas durante o dia na cidade de Assaré são mais elevadas que em cidades

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mais urbanizadas, como por exemplo 5° graus a mais que a Capital do estado, Fortaleza e 3° graus que a cidade Juazeiro do Norte.

Figura 38. Mapa da temperatura de Assaré ás 15:00 dia 27 de novembro de 2017 Fonte:  ( V E N T U S K Y, 2017)


Fonte:  ( V E N T U S K Y, 2017)

Durante a noite, a cidade possui uma queda brusca de temperatura, de aproximadamente 11 graus a menos.

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Figura 39. Mapa da temperatura de Assaré ás 03:00 dia 27 de novembro de 2017


Durante o dia os ventos são proveniente do leste com, força de 4m/s, são ventos quentes

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e secos devido ao clima semiárido.

Figura 40. Mapa da temperatura de Assaré ás 15:00 dia 27 de novembro de 2017 Fonte:  (VENTUSKY, 2017)


Figura 41. Mapa da temperatura de Assaré ás 03:00 dia 27 de novembro de 2017

Durante a noite os ventos ganham velocidade e aumentam aproximadamente em 2m/s

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Fonte:  ( V E N T U S K Y, 2017)


72 Figura 42. Áreas de desertificação 2016 Fonte:  Autora com base de dados do georreferenciados da FUNCEME 2016

No Ceará, outubro é um mês climatologicamente seco, e as precipitações registradas foram inferiores a 25 mm em praticamente todo estado, sendo que em algumas localidades não houve registro de precipitações. Em razão das poucas chuvas e da elevação das temperaturas que ocorreram no mês de outubro e nos meses anteriores, alguns indicadores apontam para intensificação da seca. Na parte norte do estado, houve uma expansão da área de seca moderada (S2) para norte e da área de seca excepcional (S4) para sudeste do estado. Os impactos da seca são de curto prazo (C) na parte norte, e de curto e longo prazo (CL) na parte centro-sul.


Figura 43. Vulnerabilidade ás inundações Fonte:  Autora com base de dados do georreferenciados da (AGENCIA NACIONAL DAS ÁGUAS - ANA, 2014)

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No Ceará foram identificados 197 trechos inundáveis em 66 cursos d’água em 84 dos 184 municípios. Do total, 85 (48%) foram considerados de alta vulnerabilidade a inundações graduais; 56 (31%), de média e 38, (21%) de baixa. Em Assaré foi identificado um trecho mediamente vulnerável.


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As ruas que foram inundadas durante a forte chuva do dia 18 de março de 2017 em Assaré , encontram-se em uma das cotas mais baixas da cidade, no nivel leito do Riacho Taboleiro. De acordo com o mapa de inundalções de Março/17, que possui o hipsométrico do recorte da bacia hidrográfica de Assaré, percebe-se que a cidade estava no centro da jusante de cinco (5) corpos d´água, pois com a chuva do dia 18 de Março, o açude dos Montes foi desativado devido o rompimento de sua barragem. No entando, Assaré ainda encontra-se em risco de futuras inundações, caso haja outra chuva acima da média histórica e os açudes estejam com suas barragens sem manutenção, visto que a cidade está em um nível mais baixo que três (3) açudes no percuso da jusante dos riachos que os alimentam.


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4


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4.

ADAPTAÇÃO

produção de alimentos; iii) a água captada é 4.1. AGRICULTURA NO SEMIÁRIDO DO SEutilizada para criação de peixes (piscicultura); NEGAL iv) parte dos alimentos e dos peixes são vendiO Fundo Mundial para o Ambiente (Global En- dos, acarretando em renda para comunidade; vironment Facility) e o Fundo Internacional de v) outra parte dos alimentos que não é vendiDesenvolvimento Agrícola (FIDA) investiu em da é processada e transformada em derivados tecnologias para sobrevivência básica em co- (extrato de tomate, geleias e etc.), gerando oumunidades rurais que se localizam em uma tra fonte de renda; vi) com a renda adquirida, as área de clima árido do Senegal, na África Oci- pessoas conseguem reformar suas casas e se dental. “A terra do local estava infértil e a falta adequar às condições de sobrevivência do lode água era motivada pelas mudanças climá- cal sem a necessidade de sair da região de oriticas” (ONUBR, 2017). O projeto envolve várias gem. Segundo a ONU, mais de 32 mil famílias ações, no entanto, uma estratégia tem oca- foram beneficiadas com esse investimento e sionado bons resultados: a utilização de ener- estão mais preparadas para lidar com as ingia solar para o bombeamento das águas dos certezas do futuro causadas pelas mudanças poços a fim de irrigar o solo para o cultivo de climáticas. Nota-se, então, a tecnologia aliada alimentos. Segundo a ONU, esse investimento com a boa pratica de agricultura. obteve um valor de 30 milhões de dólares. Tal iniciativa, juntamente com a gestão das águas e com as técnicas de plantios para as mudanças climáticas, tem resultado em impactos positivos para a comunidade, como a melhoria da qualidade de vida, da saúde e da nutrição. Sendo realizada ciclicamente, é possível descrever as etapas desse ciclo da seguinte maneira: i) capta-se a energia solar e, com ela, bombeia-se a água dos poços; ii) irriga-se o solo para

Figura 44. Mulheres colhendo frutos no Senegal Fonte:  (ONUBR, 2017)


4.2. CENTRO FLUTUANTE DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS

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O projeto Amazon Climate Change Learning Centre trata-se de um centro para educar os habitantes do Lago Mamori, na Amazônia, no que diz respeito à realidade das mudanças climáticas na região norte. Em 2012, o lago sofreu significativamente com as variações apresentadas no clima, tendo sua água elevada ao seu maior nível já presenciado e, pouco tempo depois, em 2015, a comunidade local foi atingida por uma forte seca, que inviabilizou o cultivo de alimentos e a pesca.

Dessa forma, os responsáveis pela iniciativa da proposta imergiram por 8 dias na comunidade do Lago Mamori, e investigaram as condições em que a população se encontrava, descobrindo desde novos materiais que não se adaptavam ao clima local, como a telha de alumínio e forro de pvc, até o uso de novas tecnologias, como ar condicionado. Assim, o Centro Flutuante de Mudanças Climáticas foi pensado para educar a população de maneira construtiva ao demonstrar a utilização da matéria prima e da tecnologia da região para criar edificações confortáveis e resilientes por meio de estratégias projetuais inspiradas na natureza. Dessa

Figura 45. Amazon Climate Change Learning Centre Fonte:  ( A R C H D A I LY, 2017)


forma, os responsáveis pela iniciativa da proposta imergiram por 8 dias na comunidade do Lago Ma-

A comunidade vem poluindo o lago há anos e o resultado disso são as doenças que afetam a popu-

mori, e investigaram as condições em que a população se encontrava, descobrindo desde novos materiais que não se adaptavam ao clima local, como a telha de alumínio e forro de pvc, até o uso de novas tecnologias, como ar condicionado. Assim, o Centro Flutuante de Mudanças Climáticas foi pensado para educar a população de maneira construtiva ao demonstrar a utilização da matéria prima e da tecnologia da região para criar edificações confortáveis e resilientes por meio de estratégias projetuais inspiradas na natureza.

lação. A energia elétrica chegou à região em 2010 e, com isso, a dependência de fontes de energia e, também, o cultivo de alimentos inviável em período de seca. Diante dessas questões, os arquitetos e estudantes da área pensaram em quatro (4) ciclos de produção alternativa que pudessem subsidiar comunidade nas oscilações do clima e mitigar os efeitos da ocupação humana. Os quatro ciclos são (Figura 33):

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i) Filtração da água do rio: a água do lago é bombeada para o filtro e, depois, armazenada no tan-

Figura 46.   Mudanças Locais Fonte:  ( A R C H D A I LY, 2017)


Figura 47. Camadas funcionais e os quatros ciclos de energia Fonte:  ( A R C H D A I LY, 2017)

que, com o tempo, esse material passa a estar pronto para servir de adubo e de fertilização do solo;

ii) Reutilização de aguas negras: o resíduo orgânico humano vai para um determinado tanque de agregado graúdo, seguindo para um tanque de agregado miúdo. Após isso, é decomposto em um tanque de areia que, posteriormente, servirá para criação de peixes e plantas;

iv) Energia fotovoltaica: a alta incidência solar na Amazônia é propícia para produção de energia fotovoltaica. Dessa maneira, a população pode produzir e armazenar energia elétrica, ganhando dinheiro para consumo próprio, onde este gera resíduos e águas negras; fechando, assim, o ciclo.

iii) Produção do solo: essas plantas geram alimentos, provocando o surgimento da matéria orgânica que é colocada em uma unidade de compostagem

A arquitetura se consolida em três camadas em escalas: i) proteção da atmosfera: forças extremas, imprevisíveis e fenômenos naturais; ii) repelente:

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que, onde é distribuída para uso residencial (agua limpa) e, em seguida, é realizada a osmose reversa de filtragem e descarregada no rio novamente;


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abrigo, versátil e impermeável; iii) filtro: controle e permeabilidade de ventos e luminosidade. Para atingir essas camadas, utilizaram-se elementos de proteção solar – grandes beirais, recuo das paredes externas para o não contato direto com o meio externo e articulações mutáveis como as portas venezianas que podem abrir para deixar a iluminação difusa passar ou serem fechadas para barrar o vento – e a luz solar direta de acordo com a necessidade do dia e hora local. Além de uma grande abertura central para exaustão e renovação do ar, conclui-se uma retomada à arquitetura vernácula que foi deixada para trás na região (Figura 34).

O centro possui uma arquitetura que pode ser facilmente proliferada pela população para criação de suas casas, com uma divisão interna de fácil modificação, uma área aberta multifuncional, podendo facilmente virar uma sala, um quarto ou uma cozinha apenas com o fechamento das divisórias. Os ambientes são dispostos da seguinte forma, do círculo externo para o interno: circulação externa, ambientes de permanência prolongada (quartos e salas), ambientes de permanecia de curta duração (banheiros e cozinhas), circulação interna.

Figura 48.   Perspectiva Catalyst Fonte:  (WHAT DESIGN CAN DO, 2017)


4.1. CATALYST O Catalyst se trata de um projeto de caráter aca-

da arquitetura como catalisador da mudança. Em segundo, a configuração de não apenas um edifício, mas, também, de uma estratégia de projeto e construção. Um fator importante é que o projeto pode ser replicado, adaptado e atualizado por cada comunidade de acordo com suas capacidades e necessidades. Assim, este design investiga qual arquitetura de função pode ser reproduzida nesse contexto.

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dêmico, o qual é um centro comunitário para a costa da Baía de Bengala, uma das áreas mais vulneráveis de Bangladesh. A população local convive com situações de multirriscos diariamente e, assim, possui múltiplas necessidades interligadas. Devido a essas necessidades, a autora do projeto Ana Chamorro projetou um centro comunitário para promover resiliência de acordo com as seguintes questões: primeiro, o potencial

Figura 49. Arquitetura

Fonte:  ( A R C H D A I LY, 2017)


Isto posto, partiu-se de três princípios que o centro comunitário teria de possuir: i) ventos: ser forte para

guezais, tempestades e inundações, monções e seca. Diante disso, a autora afirma que a arquitetura promove mudanças na comunidade tal como apoio mútuo comunitário, resistência aos desastres, arquitetura consciente e acesso ao conhecimento. Suporta, também, o desenvolvimento humano, além de diminuir a dependência da população e aumentar o seu fortalecimento.

suportar ventos e ciclones, possuir resistência estrutural e proteger a comunidade; ii) água: suportar diferentes níveis de inundações, tratar de instrução de salinidade e de contaminação, e do acesso limitado à água potável; iii) chão: argila e areia, baixa resistência e programa em superfície. (Figura 38). Apresentando a forma de um hexágono, o projeto se materializa. Um módulo pode ser replicado,

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A Baía de Bengala sofre com diversos fenômenos todos os anos, como o desmatamento dos man-

Figura 50. Fenômenos climáticos Fonte:  (WHAT DESIGN CAN DO, 2017)


89 Figura 51. Princípios básicos do design Fonte:  (WHAT DESIGN CAN DO, 2017)

bambu e é onde oferece proteção para a população em dias de chuvas. Em dias comuns, pode ser utilizado normalmente como um centro comunitário. O projeto possui um eixo central que é o espaço de proteção. Esse mesmo eixo é responsável por receber a água da chuva que é induzida pela água do telhado, a qual possui inclinação para a parte interna do projeto. O eixo principal é de caráter estrutural em concreto e o telhado em telha de policarbonato. As outras águas do telhado do hexágono

formando uma espécie de comunidade, como uma colmeia, e, de acordo com o esquema da Figura 38, conseguem barrar os ventos, passar por inundações e proteger a população. A edificação possui dois andares: o térreo é uma palafita sustentada por uma estrutura de bambu conectada a uma base de concreto que descarrega as cargas da edificação no solo. A palafita tem função te pilotis, com o vão livre para passagem de ar e de pessoas. O segundo pavimento também é sustentado por vigas de


possuem presença de placa solar e teto verde com a finalidade de gerar energia para comunidade, as-

diferentes. Na primeira situação, da esquerda para direita, em corte, observa-se uma simples chuva,

sim como conforto térmico e a captação de agua principalmente nos dias atingidos pelos fenômenos naturais.

onde o jardim de chuva tem a função de evaporar a água retida. Em seguida, um passeio para circulação externa das pessoas, internamente do centro comunitário um piloti livre, o eixo do filtro com nível elevado devido à captação da agua da chuva. À direita, o sistema de lagoas pluviais e a vegetação. No segundo fenômeno, o de monção,

90

Na Figura 40, é possível observar a modulação estrutural da edificação e, ao lado, o esperado da edificação e dos elementos de infraestrutura verde (IEV) em cada situação de fenômenos climáticos

Figura 52. . Adaptação aos fenômenos climáticos Fonte:  (WHAT DESIGN CAN DO, 2017)


percebe-se o nível de agua mais elevado nos elementos de IEV do que numa sim-

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ples chuva. No terceiro caso, de um ciclone, é visível a inundação no nível térreo de forma que o nível superior continua protegido, podendo utilizar-se do meio de transporte aquático pré-armazenado na edificação para locomoção em situações como essa, conseguindo se adequar às escalas de mudanças climáticas.

Figura 53. Cortes e maeriais Fonte:  (WHAT DESIGN CAN DO, 2017)


pro je ção


5


PLANO IEV - ASSARÉ

CULTURA

CONTROLE

FUNÇÕES

ELEMENTOS

Transportar

Vias verdes

Divertir e conviver

Praças Espaços livres

Conhecer a cultura

Museu Patativa

Proteger de enchentes

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Drenar água Proteger da incidência solar

Armazenar e filtrar água Cultivar alimentos

PROVIMENTO

Reflorestar Renovar fontes de energia Descartar resíduos Adaptar de lavourapecuária

Riachos Açudes Vegetação Mobiliários Biovaletas Jardim de chuva Pisos drenantes Vegetação Beirais

Cisternas Ilhas flutuantes Vazios urbanos Hortas e pomares Áreas verdes Vegetação Placas solares Força motriz Compostagem e recilagem Areas livres Escolas

PROJETOS

PASSEIO VERDE CULTURAL

PARQUE PATATIVA DO ASSARÉ

CENTRO DE RESILIÊNCIA


PROJEÇÃO

As possibilidades de intervenção são múltiplas para a cidade de Assaré-Ce. Com a finalidade de atender às demandas de maneira mais holística e eficaz, realizou-se um Plano Geral de Infraestrutura Verde, a qual se baseia em três princípios-chave para a manutenção da vida em sociedade, sendo eles: cultura, controle e provimento. Tendo como base esse tripé e o conhecimento adquirido através do diagnóstico, o processo de estruturação da proposta ocorreu de acordo com os seguintes passos: foram elencadas as possíveis funções da infraestrutura proposta, desde as mais gerais, como a de transportar e divertir, às mais específicas, como a de coleta e filtragem da água. Para viabilizar tais funções, são necessários elementos que compõem a infraestrutura dos lugares da cidade, como ruas, praças, açudes e riachos. Os projetos resultantes da síntese de funções e elementos que traduzem e expressam demandas são três: 1) O Passeio Verde Cultural, o qual será apenas uma proposta deste trabalho; 2) O Parque Patativa do Assaré, que será apresentado soluções; e 3) O Centro de Resiliência Urbana, ponto central para responder às demandas por resiliência urbana, apelidado de Resilicentro. Figura 54. . Acostamento Assaré-CE Fonte:  Autora

Passeio Cultural Verde: Em visita à cidade, foi possível verificar que a população não possuía um local de lazer e nem que promovesse a realização de atividades físicas. Observou-se, também, que o acostamento da rodovia CE, que dá acesso à cidade, estava sendo utilizado como área para caminhadas. Isto posto, deixa-se como proposta uma rede de passeios verdes que interligam os pontos culturais da cidade e a massa arbórea existente, a fim de propagar o microclima sombreado da região em áreas caminháveis.

95

5.


96


Parque Patativa do Assaré: Conforme o diagnostico desta pesquisa, a cidade de Assaré vive em cota

97

abaixo dos açudes do seu entorno e no sentido da jusante de suas respectivas nascentes. Desta forma, propõe-se um parque às margens dos leitos dos rios em que a vegetação seja implantada com uma significativa movimentação de terra para o lado contrario ao da urbanização consolidada da cidade. Isto para que, em caso de rompimento de um novo açude, a água venha a atingir, primeiramente, o parque, onde as árvores poderão controlar a velocidade da água, possibilitando que esta chegue com menos força às casas.

proposta


98


O parque em questão, além de servir para situações emergenciais de enchentes, pode vir a controlar as necessidades da cidade relacionadas à retenção de água da chuva por meio dos elementos de infraestrutura verde, como jardins de chuva, biovaletas e o próprio açude (atuando como uma bacia de retenção); propagação de microclima arbóreo e a biodiversidade com implantação árvores da caatinga resistentes à seca, sendo elas: Algaroba (Prosopis juliflora), Juazeiro (Ziziphus joazeiro), Umbuzeiro (Spondias tuberosa), Maracujá do mato (Passiflora cincinnata) e Araticum (Annona ssp).

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Então, delimitou-se uma área de detalhe do parque para que pudesse instalar o outro projeto resultante do plano de ingfraestrutura verde - IEV.

proposta


100

Centro de Resiliência: Espaço destinado à realização de pesquisas e à demonstração de tecnologias sustentáveis para melhorar a convivência social com as condições climáticas, hídricas, sociais e ambientais do semiárido brasileiro. Decidiu-se situar o Resilicentro entre um centro de pesquisas e um centro comunitário, onde a população, local, auxiliada de profissionais, poderá encontrar um lugar para retomar suas atividades econômicas que estejam relacionadas à agricultura e à bioconstrução. A construção do centro baseou-se na metodologia utilizada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) sobre mudança climática, de forma que a própria construção e as estratégias arquitetônicas utilizadas pudessem servir de exemplo para os moradores da região de como se adaptar às variações climáticas e conviver pacificamente, sem surpresas com os recursos da região – no caso, o açude e a massa arbórea existente.


101

zoneamento


102


103


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Para implantar o Resilicentro, escolheu-se um terreno pertencente à Prefeitura de Assaré-CE si-

e, ao adentrar no centro, quem está passando irá sempre perceber que está percorrendo um trecho

tuado às margens de um açude, com grande susceptibilidade a inundações, como demonstrado no diagnóstico, que faz parte da área de detalhe do Parque Patativa do Assaré.

pertencente a algo muito maior.

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O solo, por ser bastante árido, optou-se utilizar da paginação com pedras da região, sem impermeabilizar o terreno. Apenas no estacionamento utilizou-se piso drenante (25% impermeável) para a área de circulação e piso univerde (60% impermeável) para a área das vagas.

Dispostos em três blocos, estes se conectam através de um pergolado de madeira e da paginação de piso. Utilizou-se de eixos construtivos de 10 (dez) metros, o primeiro segundo bloco inicia ao final do ultimo eixo do primeiro bloco e, para finalizar a composição, o terceiro bloco, locado para se encaixar, como um equilíbrio entre os eixos construtivos, entre as secas e as cheias, e para a população local.

O desenho da paginação direciona o usuário sempre para o oeste, a fim de assegurar um percurso pelos blocos e que, na visual, encontre o açude. Pode-se perceber, com a direção na diagonal, que parte desde o estacionamento em sentido ao espaço entre os três blocos. Nesse passeio, as árvores não possuem função de barreira, mas, sim, direcional. O indivíduo se torna induzido a olhar constantemente para o horizonte, enquanto as árvores sombreiam, assim como os beirais, e não barram a visão para o corpo hídrico. A paginação do Resilicentro se propaga no decorrer do Parque Patativa do Assaré,

implantação


107 0

10m

15m

20m


De maneira adaptada, o Resilicentro está disposto em três blocos: I) Compreensão: Composto por salas de aula, biblioteca e sala de conferências, encontra-se na cota mais alta do terreno, estando livre de possíveis inundações;

108

II) Mitigação: Possuindo laboratórios, almoxarifado e cactário, situa-se no meio do terreno e, para que não haja a necessidade de movimentação de terra, sua fundação é semienterrada. Assim, caso venha a inundar, a água da chuva não ocasionará prejuízos à edificação; III) Adaptação: Destinado a atividades adaptativas e a laboratórios com práticas in loco, este bloco encontra-se implantado na cota mais baixa do terreno, onde sua fundação é praticamente toda elevada, com presença de escadarias e rampas e, possuindo, ao final dele, um mirante para o açude. Na área externa aos blocos, estão o estacionamento, a casa de gás, a casa do lixo e a torre da caixa d’água, além da estação meteorológica, espaços de plantio e de construção ao ar livre.

planta baixa


109 0

10m

15m

20m


110

Com a malha arquitetônica de 10 (dez) metros, utilizou-se de uma sub-malha de 5,00 m x 5,00 m para locação das sapatas de concreto no solo. Em todos os blocos, para a fundação, utilizou-se das sapatas cônicas distribuídas, de concreto jateado isolado da armadura de aço, com sessão de 1,20 m x 1,20 m, para que, em casos de contato com a água, a fundação esteja protegida. Nos blocos de mitigação e adaptação, as quais estão suscetíveis

estrutura

a possuir contato direto com a água, e não estão 100% rente ao solo, optou-se por um reforço de pilares inclinados de concreto que descarregam o peso da carga da edificação nas sapatas. A laje, por sua vez, é de steel deck com preenchimento de concreto feito in loco e com acabamento de madeira de demolição. Todos os pilares metálicos e vigas metálicas são de perfil I.


111 0

10m

15m

20m


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fachadas norte e sul

0

5m

10m

15m


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fachadas leste e oeste

0

5m

10m

15m


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corte aa

0

2,5m

5m

10m


117


No primeiro bloco, no da compreensão, utilizou-se da estratégia de uma área livre protegida dos ven-

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tos secos da região, o vazio central. As passagens que dão para os blocos são poucas, e as maiores foram dispostas nas direções que cruzam a direção do vento. Tais aberturas são chanfradas com a finalidade de criar uma passagem de vento funil, acessando o vazio com menor intensidade. Para proteção da incidência solar, utilizou-se dos beirais e das paredes inclinadas, como no caso da sala de conferências. O seu programa foi proposto para que possuísse contato direto com a escola situada à frente do terreno, tornando-se o bloco mais acessível ao público.

bloco compreensão


119 0

5m

10m

15m


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entrada principal


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corte bb

0

2,5m

5m

10m


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corte cc

0

2,5m

5m

10m


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No segundo bloco, no da mitigação, a linguagem do chanfro continua. No entanto, esse por possuir

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laboratórios, necessita de fechamento quase que completo para não haver contaminação. Para isso, utilizou-se de muitas aberturas altas com janelas de vidros sombreadas por grandes beirais de forma a proteger da luz direta, deixando apenas a luz difusa passar. Dessa maneira, há a iluminação necessária para atender totalmente ao bloco em utilização diária, principalmente a sala de eixo central, a qual corresponde à sala técnica dos laboratoristas – sala de vidro cuja função é monitorar os processos em todos os laboratórios. Apenas laboratoristas e pesquisadores credenciados podem entrar nesse bloco.

bloco mitigação


127 0

5m

10m

15m


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cactรกrio


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corte dd

0

2,5m

5m

10m


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sala tĂŠcnica


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corte ee

0

2,5m

5m

10m


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sala de culturas


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O terceiro bloco, o da adaptação, apresenta característica mais livre, aberto para a comunidade,

140

assim como a área externa de testes e aplicações de atividades. Este possui paredes independentes da coberta, as quais podem ser retiradas para ampliações das salas internas. É o bloco que possui o mirante e o maior contato com o Parque Patativa do Assaré e seu açude, além de possuir sombreamento dos beirais, possuindo o microclima agradável do corpo hídrico.

bloco adaptação


141 0

5m

10m

15m


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laboratรณrio aberto


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corte ff

0

2,5m

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10m


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laboratรณrio de recursos naturais


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corte gg

0

2,5m

5m

10m


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Este trabalho é uma partícula de uma pesquisa que está apenas iniciando, podendo vir a ser maior, sendo uma busca por melhores armazenamentos de água no semiárido, por melhores controles de fenômenos do clima, tendo em vista a carência de institutos que lidam com as questões das climáticas no cenário do estado do Ceará. No entanto,

espera-se que, com a proposta do Resilicentro, tenha sido possível passar a ideia de que, com estratégias básicas arquitetônicas e com a ajuda da tecnologia, é possível conviver em conforto com o ambiente edificado e o ambiente natural. Dessa maneira, espera-se ter respondido com arquitetura, urbanismo, conforto e paisagismo o problema da cidade de Assaré-CE.

153

CONSIDERAÇÕES FINAIS


5. 2 BIBLIOGRAFIA AGEITEC. Agência Embrapa de Informação Tecnológia. Agência Embrapa de Informação Tecnológia. Disponivel em: <http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/bioma_caatinga/arvore/CONT000gdhgdwhv02wx5ok0rofsmqv90tsmc.html>. Acesso em: 20 Novembro 2017. AGENCIA NACIONAL DAS ÁGUAS - ANA. Vulnerabilidade a Inundações do Brasil. ANA Metadados, 2014. Disponivel em: <http://metadados.ana.gov. br/geonetwork/srv/pt/metadata.show?uuid=d3ac0ae4-007f-40bd-abef-b7cef47bba1a>. Acesso em: 04 Janeiro 2018.

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155

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