ESTUDO DA PROPORÇÃO ÁUREA APLICADA A ELEMENTOS DE SISTEMA DE IDENTIDADE VISUAL - CIDAG 2010

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ESTUDO DA PROPORÇÃO ÁUREA APLICADA A ELEMENTOS DE SISTEMA DE IDENTIDADE VISUAL Sharlene Melanie Martins de Araújo, Sheila Cordeiro Mota Msc. e Karla Mazarelo Maciel Pacheco Msc. Universidade Federal do Amazonas: Av. General Rodrigo Octávio Jordão Ramos, 3000, Campus Universitário, Coroado I - Manaus/Amazonas sharlene.melanie@gmail.com

1. Introdução Grandes pintores do renascimento se destacaram nos estudos de cálculos proporcionais, como por exemplo, Leonardo da Vinci, Albrecht Dürer e Piero della Francesa e, mais atualmente, o arquiteto Le Corbusier [1], os quais serviram de fonte de inspiração para grandes designers que desde a primeira escola superior de desenho industrial, Bauhaus (1919), aplicam a proporção áurea em estudos geométricos, o que contribui para a melhoria no desenvolvimento de seus projetos [2]. Este trabalho apresenta o estudo sobre a aplicação da proporção áurea, com base em metodologias e técnicas, para criação e desenvolvimento de Sistema de Identidade Visual (SIV). O trabalho descreve uma proposta de marca com base nesse conceito para o software Juma, uma nova opção de uso para distribuição de conteúdos em aparelhos celulares, tablets (iPAD), notebooks e palm tops, sugerindo elementos essenciais à sua Identidade Visual (IV) e, conseqüentemente, formas de aplicação no design gráfico. Sabe-se que a aplicação da proporção áurea nos projetos de design faz uso dos meios científicos, construídos desde a antiguidade e serve como guia para composições, melhorando o poder de comunicação do design. 2. Justificativa Existem várias abordagens metodológicas de design para a construção de um SIV, cujo componente principal é a marca, que deve expressar beleza e funcionalidade. Mas será que essas metodologias suprem todas as necessidades desta construção? Idéias conceitualmente perfeita, enfrentaram dificuldades no processo de criação, principalmente porque o designer não é preparado para compreender os princípios visuais da composição geométrica [2]. Um dos princípios de construções geométricas inclui a compreensão dos sistemas clássicos de proporção, como a razão áurea, compreendendo assim, as relações entre proporções, inter-relações entre formas e suas linhas reguladoras [2]. Hipoteticamente falando, as metodologias como as contidas na matemática e na arte, que são baseadas em harmonia, equilíbrio e proporção, devem ser agregadas aos projetos de Identidade Visual, a fim de torná-los esteticamente agradáveis e funcionais. A proporção áurea está ligada diretamente à beleza, e se inserida em uma metodologia para criação de IV pode suprir as necessidades dessas construções geométricas. Por meio dessa pesquisa, verificou-se que na cidade de Manaus, Amazonas – Brasil, algumas marcas locais possuem representações visuais deficientes, com ausência de conceitos gráficos melhor definidos. Desta forma, compreende-se que ao aplicar o estudo da proporção áurea para os elementos de um Sistema de Identidade Visual, foi possível comprovar a importância deste estudo. 3. Objetivos O objetivo geral deste trabalho é desenvolver um Sistema de Identidade Visual (SIV), por meio dos princípios da proporção áurea para o software Juma.


Especificamente, o trabalho pretende apresentar a proporção áurea como referencial para estruturar os Manuais de Identidade Visual (MIV), definindo um comparativo entre as metodologias para construção de um SIV, bem como sua aplicação com a proporção áurea aplicada, desenvolvendo também a malha construtiva que melhor se adapte ao SIV, bem como gerar um Manual de Identidade Visual para a marca Juma. 4. Metodologia Em seu percurso metodológico, este trabalho possui três macros fases, que sistematizam a pesquisa de cunho aplicado. Essas fases possuem por sua vez etapas, cuja estrutura se adapta as peculiaridades do projeto, as mesmas são denominadas por: a) fase informativa: consiste na problematização; pesquisas bibliográficas; e, levantamento de dados: b) fase projetiva: nesta fase, aplicou-se a metodologia de Péon [3], a qual consiste na geração de alternativas, lançando mão de uma metodologia ou técnica específica; c) fase executiva: consiste na implementação do projeto mais a validação, apresentação e divulgação dos resultados. Desenvolvimento das aplicações da marca e Manual de Identidade Visual. Para validação do produto final, é criada uma nova matriz de avaliação e, em seguida, a validação quantitativa, onde é analisada estatisticamente a aceitação do público a nova marca. 5. Referencial teórico 5.1. Proporção áurea A proporção áurea, matematicamente representada por Fi (φ), pode ser encontrado em arranjo de pétalas de rosa vermelha, o famoso quadro “O Sacramento da Última Ceia”, de Salvador Dali, as magníficas conchas espirais de moluscos, a procriação de coelhos e outros inúmeros exemplos que têm em comum um número, ou proporção geométrica, conhecido desde a antiguidade, um número que no século XIX recebeu o título de “Número Áureo”, “Razão Áurea” e “Secção Áurea” [1]. A primeira definição clara do que mais tarde se tornou conhecida como a Razão Áurea foi dada por volta de 300 a.C. pelo fundador da geometria como sistema dedutivo formalizado, Euclides de Alexandria, que definiu uma proporção derivada da simples divisão de uma linha no que ele chamou de sua “razão extrema e média”. O valor exato da razão áurea é de 1,6180339887..., uma constante algébrica, ou seja, é um número infinito, irracional, também considerado incomensurável, pois nunca termina e nunca se repete [1]. 5.2. Formas de aplicações da proporção áurea Inúmeras são as formas de aplicação da proporção áurea, seja na arquitetura, na música, nas artes ou no design. Após sua descoberta, muitos estudiosos, principalmente os matemáticos e filósofos, começaram a pesquisar sobre a razão áurea e verificaram sua existência em formas vivas, tais como: girassol, maçã, estrela do mar e entre outros. Da mesma forma que plantas e animais apresentam proporções áureas, fenômeno similar ocorre com os seres humanos. Esta talvez seja uma explicação para a preferência cognitiva pela razão áurea: a face e o corpo humano guardam as mesmas relações matemáticas encontráveis em outros seres vivos [2]. Há outras formas de se encontrar a proporção áurea, como na geometria, através da relação entre seguimentos ou em algumas figuras geométricas. Algumas destas figuras áureas mais encontradas são: triângulos isósceles (no qual o lado está numa razão áurea em relação à base), espiral logarítmica, pentágono e pentagrama regular


[4]

, sendo estás às formas mais aplicáveis que os estudiosos utilizam para desenvolvimento de projetos. O estudo da geometria é extremamente importante na formação de designers, artistas e arquitetos: não há divisão de espaços sem a modulação geométrica e não há sistemas construtivos sem suportes geométricos que definam a localização de seus elementos [2]. Um dos métodos mais usados para aplicações da proporção áurea em projetos de design, principalmente em diagramações, é o do arquiteto Villard de Honnecourt, seu sistema é desenvolvido através de partição geométrica modular. Outros métodos que se destacam são: o Modulor do arquiteto Le Corbusier, que tem como base a proporção do corpo humano; retângulos estáticos e dinâmicos, que são retângulos crescentes em proporção descontínua, gerados pelos rebatimentos das diagonais, cujos valores partem da raiz de dois; e, a regra dos terços, um guia para a composição de imagens e layout que pode ajudar a produzir resultados dinâmicos por meio da superdivisão de uma grid de 3 x 3 básico de uma página, para criar focos ativos onde as linhas da grid se cruzam [2]. 6. Análise do produto O Juma é um software que serve para cronometrar espetáculos como o Boi Bumbá, ocorrido em Parintins – AM, muito funcional para os turistas e para a imprensa. A tecnologia empregada no software Juma foi desenvolvida em parceria pelos irmãos Edjander, Edjar e Edjam Mota, os dois últimos doutores em Ciência da Computação e professores da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). O nome JUMA surgiu como forma de homenagem a seus pais, o pai nasceu no JURUA (JU) e a mãe no Estado do Maranhão (MA). Com a junção das siglas forma-se a palavra JUMA (JU + MA), também baseado em uma lenda Amazônica do Rio Juma e o Gigante Juma, simbolizando robustez e grandeza. 7. Geração de alternativas Foram propostas três alternativas para definir a marca do software Juma. Para cada alternativa foi utilizada um tipo de malha construtiva através dos conceitos da proporção áurea. Na problematização foram feitos levantamentos de dados, tais como: marcas de softwares no mercado, histórico e tipologia do produto, análise da marca atual e entre outros conteúdos, que ajudaram a identificar os reais problemas ocorridos com a marca atual, como a baixa preguinância da forma, cores e pouca proporcionalidade. 7.1 Alternativa 01 – Grafismo Indígena A primeira alternativa teve como inspiração os grafismos indígenas. Sabe-se que o nome Juma vem de uma antiga tribo indígena, hoje composta somente por cinco integrantes: pai, três filhas e sua neta. Os Jumas pertencem a um conjunto de povos denominados Kagwahiva, o qual migrou da região do Alto Tapajós para as proximidades do Rio Madeira. Nesta migração, ocorreram fragmentações e, hoje, os grupos Kagwahiva estão espalhados em uma ampla área [5]. A cultura indígena é cercada por crenças, costumes e diferentes meios de vida. Cada tribo tem característica própria, como os grafismos, utilizados como ornamentos ou como forma de expressão. A pintura, a arte gráfica e os ornamentos do corpo, passaram a ser considerados como material visual que exprime a concepção tribal de pessoa humana. São manifestações simbólicas e estéticas para a compreensão da vida em sociedade [6]. Nesta alternativa foi utilizado o diagrama de Villard de Honnecourt para a construção geométrica da marca (Fig. 01). Para a criação do logotipo, foi utilizada a tipografia BM Corrode A13, a qual foi redesenhada para que se adequasse a razão


áurea. Sem serifa e com formas simples e estáticas, está fonte tem como figura geométrica básica o retângulo. Sabe-se que retângulos com grandes diferenças laterais assemelham-se a vigas ou pilastras [7], o que simboliza a força dos Jumas que lutam para não ser um povo extinto.

Figura 01 - Construção geométrica do logotipo – alternativa 01. Fonte: a autora.

O símbolo gráfico teve como princípio o círculo, simboliza a modernidade e tecnologia, características principais dos softwares. Além do círculo, foi utilizada a letra “J” do logotipo através das leis da Gestalt, a de semelhança e proximidade, pois consiste na repetição da letra “J” inscrita no círculo (Fig. 02).

Figura 02 - Comparação de um grafismo indígena com a forma geométrica do símbolo gráfico e o desenvolvimento de sua construção geométrica. Fonte: Adaptado de Vidal [6].

Para a composição cromática da marca foram escolhidos o azul e o laranja, pois além de serem cores oposta e que representam tecnologia, são cores utilizadas em alguns artefatos indígenas (Fig. 03).

Figura 03 - Composição cromática da marca – alternativa 01.

Percebe-se que a marca se enquadra na maioria dos padrões estabelecidos pelos requisitos e parâmetros. Porém, a forma estática teve grande preguinância, o que diferencia das marcas de softwares, pois a maioria compõe-se de formas com maior movimento. 7.2 Alternativa 02 – O Tempo A alternativa 02 consiste na representação principal da função do software Juma, a de controlar o tempo. Sabe-se que antes da chegada do programa no festival de Parintins, o cronometro era o principal instrumento de contagem do tempo das apresentações do Boi-Bum-Bá, o que inspirou a criação do símbolo desta alternativa. Para a construção geométrica desta marca foi desenvolvido um grid composto por figuras áureas: espiral logarítmica, triângulo, pentagrama e retângulo. A grid com maior complexidade ajuda no desenho de um símbolo mais detalhado, como um desenho mais orgânico. Assim, foi criada a segunda alternativa, demonstrando que a proporção pode ser empregada a todos os tipos de formas (Fig. 04).


Figura 04 - Construção do símbolo gráfico – alternativa 02.

O logotipo desta alternativa também é de uma tipografia já existente, a Asimov, com características circulares e sem serifa. A composição das cores partiu do mesmo princípio da alternativa anterior, porém com tonalidades mais escuras para obter maior destaque, principalmente no símbolo, onde percebemos a lei da Gestalt de fechamento. 7.3 Alternativa 03 – Amazônia A construção da terceira alternativa consiste no desenvolvimento de uma malha de construção através da seqüência de Fibonacci. A grid consiste de um retângulo de 13 cm de largura e 21cm de altura, com uma elipse inscrita e mais dois círculos. A divisão do retângulo é dada pela seqüência de 1, 1, 2, 3, 5, 8 e 13. Está marca tem como tema a Amazônia, com destaque para o regionalismo e a cultura do Amazonas. Partiu-se do círculo com tamanhos dos diâmetros proporcionais a seqüência de Fibonacci, formando assim a espiral logarítmica que caracteriza este logotipo (Fig. 05).

Figura 05 - Construção do logotipo para a marca – alternativa 03.

A tipografia é inédita e foi totalmente desenhada pela autora, inspirada na maior característica da Amazônia, sua floresta. Assim, dão-se formas cursivas e cores verdes (Fig. 06). 8. Seleção e geração de alternativa Como critério de avaliação para a escolha da alternativa a ser trabalhada, foi utilizada a matriz de avaliação sugerida por Péon [3], sendo V o valor atribuído e N o resultado da multiplicação do valor pelo peso dado a cada critério. Os valores vão de 1 a 5 e os pesos de 1 a 3, tendo como maior grau de importância os de peso 3, de média importância os de peso 2 e baixa importância os de peso 1. Os critérios analisados foram: sofisticação; modernidade; proporção; redução; potencial de aplicação; custos; e, estética. Ao analisar o resultado da matriz, verificase que a alternativa 03 será adotada, pois obteve a maior nota, 68, contra 54 da alternativa 01 e 57 da alternativa 02. Porém, para obter um melhor resultado, constatou-se a importância de uma marca com logotipo e símbolo gráfico, que servirá de ícone para o programa. Assim, sugere-se a fusão da alternativa 03 com a


alternativa 01, pois o símbolo gráfico desta alternativa é simples, o que torna sua aplicação mais viável em relação aos demais (Fig. 07), assim como o estudo cromático da alternativa 02.

Figura 06 – Finalização da Identidade Visual.

09. Conclusão Por conseguinte, ao aplicar a proporção áurea na construção de uma IV, confirma-se a importância deste estudo na obtenção de formas equilibradas, harmoniosas e representativas de símbolo e logotipo. Porém, para que um projeto seja bem estruturado, não basta apenas o desenvolvimento de suas proporções, mas um conjunto de idéias que ao serem reunidas fortalecem a proposta do produto final e a concepção da união estéticafuncional. Referências [1] LIVIO, Mario. The golden ratio: The Story of Phi, the World's Most Astonishing Number. New York: Broadway Books, 2009. [2] ELAM, Kimberly. Geometry of design: studies in proportion and composition. New York: Princeton Architectu, 2001. [3] PÉON, Maria Luísa. Sistema de Identidade Visual. 4ª edição. Rio de Janeiro: 2AB, 2009. [4] HUNTLEY, H.E. A Divina Proporção: Um ensaio sobre a beleza na matemática. Título original: The divine proportion: A study in mathematical beauty. Tradução de Luiz Carlos Nunes. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1985. [5] PEGGION, Edmundo Antonio. Socio ambeintal. Outubro, 2002. Disponível em: <http://pib.socioambiental.org/pt/povo/juma>. Acesso em: 23 de ago. [6] VIDAL, Lux B. (org.). Grafismo Indígena: estudos de antropologia estética. São Paulo: Studio Nobel: Editora da Universidade de São Paulo: FAPESP, 1992. [7] FRUTIGER, Adrian. Sinais e símbolos: desenho, projeto e significado. Título original: Der Mensch und seine Zeichen. Tradução: Karina Jannini. 2ª Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.


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