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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE ARTES DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO

SHEILA CRISTINA KRÜGER MACEDO

_margear o meio como fim

VITORIA 2014



SHEILA CRISTINA KRÜGER MACEDO

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Departamento de Arquitetura e Urbanismo do Centro de Artes da Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito para obtenção do título de Arquiteta e Urbanista.

Orientador: Prof. Milton Esteves Co-orientador: Profª.Clara Luiza Miranda Convidado: Louis Emil Theodor Wentz Neto

VITORIA 2014



FOLHA DE APROVAÇÃO Sheila Cristina Krüger Macedo Projeto de Graduação aprovado em: ___________ Ata de avaliação da banca: _________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________ Avaliação da banca examinadora: _________________________________________________________________________________________ Nota Data Prof. Milton Esteves Jr _________________________________________________________________________________________ Nota Data Profª.Clara Luiza Miranda _________________________________________________________________________________________ Nota Data Louis Emil Theodor Wentz Neto

Nota final:_________________



_AGRADECIMENTOS Agradeço antes de tudo a possibilidade de estar viva, estado intrínseco a qualquer realização. A minha família pelo apoio constante. A Rafinha e Luquinha, tão pequeninos e tão sábios. Agradeço imensamente ao orientador Milton Esteves pelos ensinamentos que transbordam as páginas deste trabalho. Professor no significado mais puro e humano raro. Aos amigos, tantos, imprescindíveis neste caminho. Obrigada pelas mãos e abraços. Jaque, você foi essencial. Obrigada pelo carinho e ajuda. Camila e Dângela, amigas siamesas de pais diferentes, obrigada pelos cafés e ouvidos atentos. Agradeço também a Lari e Sofia pelas palavras espertas nas horas fáceis (e difíceis também!). Lele e Luiza, obrigada pela pequena família que nós três formamos. Rafa e Saulo, o apoio de vocês no trabalho foi fundamental. A universidade, ao cemuni, a tantos outros. A turma 2007/2. Aos esbarros da vida. A Danilo, meu carinho. Ao IPHAN-ES: Aline, Carolzinha, Yuri, Carol Abreu, Lucas e tantos outros. Obrigada pelos grandes exemplos de comprometimento com a cidade e sobretudo pela paixão no exercício da nossa profissão. Agradeço ainda aos professores que contribuíram para a minha formação como pessoa e profissional. Muito obrigada.



“Digo: o real não está na saída nem na chegada. Ele se dispõe pra gente no meio da travessia.” Guimarães Rosa



SUMÁRIO

SUMÁRIO _introdução

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_preliminar _do corpo _da subjetividade _do movimento _do cotidiano _da experiência _da margem

18 20 26 36 38 44

_prática _margear I _margear II _aribiri _da habitação _exemplo de caso: represa billings _diretrizes

52 58 64 68 74 78

_considerações finais

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_notas: breve histórico

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_indice de imagens

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_INTRODUÇÃO


Acredito na premissa de que todo o projeto, tese ou rascunho fala de si. Mesmo que baixinho, mesmo que inconsciente, mesmo que na negação. Este projeto de graduação não foi diferente: a falta de um tema tornou-se causa/consequência de um mergulho. Buscar trouxe à consciência a importância do processo acima do objetivo. Não se trata de negar objetivos, mas de não cegar a si próprio para os encantos do caminho e como um competidor nato ter a capacidade de compreender o meio como fim. O objetivo inicial era trabalhar com um projeto de intervenção na cidade. Aplicar, mesmo que parcialmente, os métodos e conhecimentos adquiridos nas aulas de urbanismo num recorte territorial incerto até aquele momento. Para isto, busquei numa gama de assuntos diversos uma clareira na indefinição. A variedade não me trouxe a certeza, mas a delicia do atravessamento. A “parte preliminar”, influenciada pelo flâneur, trata de alguns conceitos que tomei como alicerce para a incursão na cidade.

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O corpo como um dispositivo, sensível, é o sujeito capaz de apreender e se relacionar com a cidade através das suas experiências. Esta abordagem sentimental foi método para uma aproximação humana do território que, pela delicadeza, tornase mais profunda que uma análise quantitativa. O conceito de margem surge exatamente no distanciamento de uma análise superficial, marginal. O que era substantivo tornou-se verbo e método: margear. Significou experimentar e interagir com a cidade com objetivo de reunir percepções mais próximas da realidade. A “prática” aborda as incursões na cidade de Vitória numa perspectiva subjetiva através de derivas. Neste processo, o recorte territorial foi definido: a margem do rio Aribiri. As percepções acerca do território resultaram num registro cartográfico que serviu de base para o produto final: um conjunto de diretrizes e proposições para o recorte definido.

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_PRELIMINAR


_DO CORPO Começo este trabalho tratando sobre o corpo, dispositivo que dá inicio, criador por natureza. É plural e único, é o começo que emana e o fim que recebe. Será aqui tratado como algo que está além da estrutura física e razão de existência: não deixará de ser matéria, carne, entretanto, estará conectado à sua essência e existência as quais não são garantidas pela materialidade no espaço e sim, pela ação sensível. “O sensível é aquilo que se apreende com os sentidos (...)” (PONTY, 1999, p.32)

Este corpo sujeito/objeto produtor de subjetividades será o receptor visto e esmiuçado pelo viés da sensibilidade, aquele aberto a estímulos sejam quais forem estes. Sua pele é capa porosa e abismo que limita e separa o interior do exterior (espaço) permitindo a circulação do eu e do mundo. Enquanto o conjunto sensório humano (audição, olfato, visão, paladar e tato) são peças fundamentais para a percepção e conexão com o externo.

'“ A pele é abismo da carne acuidade da alma poros do toque escultura do tempo tecido de absorver frasco que transborda é a cerca “entre” A conexão “para” A pele é o encontro Numa sinergia mútua e constante” (PROÊZA, 2011:22)

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Este constante fluxo garante a efemeridade do corposujeito como processo. De acordo com Kuniichi Uno, o corpo é a realidade dupla do ser consciente e inconsciente, de sujeito e objeto, cruzamento do visível e invisível, do dentro e do fora, do que toca e do que é tocado. Além das transformações visíveis ao olhar, como as marcas impressas pelo tempo (rugas, cicatrizes, mudança na forma, diferença da textura, etc.), o corpo se modifica a cada instante ao assimilar vivências e relações usuais do cotidiano. Não é apenas objeto ou sujeito, mas sim produto da interação entre os termos – sujeito-sujeito; sujeito-objeto; sujeitoespaço. Não é possível defini-los como um ou outro: o corpo pressupõe uma ambiguidade de agentes ativos e passivos.

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_DA SUBJETIVIDADE Falar do “eu” pressupõe falar sobre o que dá sentido à subjetividade, ou seja, o Ser “único”, intimo, o individuo. No programa Diversidade, Utopia no 3º milênio, (exibido pela TV Cultura), Suely Rolnik descreve subjetividade como perfil de um modo de ser, pensar e agir num espaço. Este modo está relacionado ao contingente de experiências impalpáveis e invisíveis – porém reais – do nosso cotidiano. Essencial para a existência no mundo, as subjetivações (entendida aqui como construção do subjetivo/sujeito) são tecidas “em relação” aos outros a partir da diferença. A construção da individualidade depende de um coletivo (de indivíduos, do externo). A partir das relações sociais é possível construir a identidade numa lógica de interdependência: “o coletivo me constrói e eu construo o coletivo”. Estes termos derivados da palavra sujeito não têm sentido neles mesmos sem relação com o conceito complementar de alteridade.

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“A noção de outro ressalta que a diferença constitui a vida social, à medida que esta efetiva-se através das dinâmicas das relações sociais. Assim sendo a diferença é, simultaneamente, a base da vida social e fonte permanente de tensão e conflito” (VELHO, 1996:10)

Esta construção não está somente fundamentada no externo: a alteridade se cria também na diferença existente no intimo de cada individuo, na pluralidade de sujeitos em um único. É um constante “diálogo” entre o “eu” e o meu “outro”, que propulsa o devir. O Devir vai contra a imutabilidade do Ser: traz ao sujeito a mudança como condição de existência além da materialidade. É o acontecer, o ir sendo, mover-se, transformar-se, o passar. Significa tanto processo do Ser quanto o Ser enquanto processo. (Disponível em: http://filosofiageral.wikispaces.com/DEVIR, acesso em 05 de março de 2014) No texto “Uma

insólita

viagem à subjetividade:

fronteiras com a ética e a cultura”, Suely Rolnik apresenta subjetividade além de uma superfície imutáve l e estável.

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Esta superfície, chamada de pele, recorta o espaço formando um interior e exterior, e apesar da sua aparente quietude, a autora a descreve como “um tecido vivo e móvel, feito das forças/fluxos que compõem os meios variáveis que habitam a subjetividade (...)” que inquieta dobra, se curva e numa nova configuração se corporifica num microuniverso. Guattari (1992: 35) entrelaça o conceito de sujeito à essência da individuação do ser e define a subjetividade como instância fundadora da intencionalidade. Ou seja, a subjetividade está na relação entre sujeito e objeto pelo meio (ou espaço) e é fruto do processo de subjetivação e de desenvolvimento da consciência do ser. Nossas subjetividades que estão constantemente sob influências de externalidades acabam por serem moldadas, criadas previamente num contexto macro de conversão de um coletivo numa unidade. Podemos falar de uma hipertrofia no modo como percebemos e reagimos. O íntimo (como construção de subjetividades) já não é singular, próprio uma vez que não existe posse soberana sobre o que cada um pensa ou faz, porque estamos sujeitos a inúmeras influências. 22

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Parafraseando Rolnik, “as subjetividades, independentemente de sua morada, tendem a ser povoadas por afetos desta profusão cambiante de universos; uma constante mestiçagem de forças delineia cartografias mutáveis e coloca em cheque seus habituais contornos.” (ROLNIK, 1997, p.1) Esta invasão acontece sorrateiramente: não é visível nem palpável. A ilusão de que as próprias ações são autônomas e pessoais permanecem à medida que o externo atinge o cerne do corpo. Pál Pelbart assume que os poderes já não exercem influência do exterior, mas por dentro, “pilotam” nossa vida social sem nosso consentimento. “As máquinas tecnológicas de informação e de comunicação operam no núcleo da subjetividade humana, não apenas no seio das suas memórias, da sua inteligência, mas também da sua sensibilidade, dos seus afetos, dos seus fantasmas inconscientes.” (GATTARI, 1992:14)

Pál Pelbart no texto “Mutações contemporâneas” identifica a biopolítica como uma forma de poder que “rege e regulamenta a vida social desde dentro”. _margear | o meio como fim


De acordo com esta afirmação podemos interpretar que o indivíduo (como construção) é atravessado por uma forma de poder que passa a fazer parte como função integrante da vitalidade. À medida que isto acontece a vida torna-se objeto em que o biopoder penetra “de cabo a rabo e em todas as suas esferas, desde a sua dimensão cognitiva, psíquica, física, biológica e até genética”. Neste processo Pelbart afirma que não é somente domínio de riqueza ou território, mas sim a própria vida que é visada “no seu processo de produzir e de reproduzir-se.” (PELBART, 2011:6) Esta manipulação de subjetividade visa à quebra da alteridade, das diferenças. A homogeneização é o objetivo das aspirações mercadológicas – ligadas à produção e ao consumo. A partir da manipulação, o consciente torna-se ferramenta coletiva do capital. (PELBART, 2011:7) Este fenômeno invisível aos sentidos anestesia, reduz e induz nossa participação e afeta principalmente a resistência e criticidade através da interferência no pensamento, ação, reação e na liberdade de reflexão. Nossas peculiaridades são subtraídas para dar lugar a identidades globais, flexíveis e mutáveis. (ROLNIK, 1997:19)

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_DO MOVIMENTO Movimentar-se na cidade requer muito mais que alterações físicas do corpo: é uma questão paradoxal de estar presente e dse se fazer presente, mesmo que sua presença não seja notada. É além de tudo uma forma de expressar-se no espaçoo., expressão esta construída pelo sujeito que age. Novamente, a expressão como construção do sujeito e o sujeito como construção do expressar, viver, movimentar. Todos os processos estão interligados e interdependentes entre si: movimento-me por que sou / quero / preciso, de acordo com o meu “eu” /com o espaço – que me constrói e que construo. Os caminhantes, praticantes da ação mais elementar da cidade a a descobrem através das pernas e escrevem seus rastros urbanos sem serem capaz de lê-lo. Andar na cidade requer mais que passos sincronizados com o balançar dos braços e gingar dos quadris. É o engajamento do corpo representado por uma conjuntura de sinais.

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“A cidade se apresenta à flor da pele, e o andar permite vê-la, compreendê-la. O andar pode tornar-se, assim, para todo cidadão, um ato poético.” (JOLÉ, 2005:423)

De acordo com Honoré de Balzac, o andar tem suas “técnicas corporais” e todo o movimento é “uma expressão que é a própria alma”. Apesar de a experiência parecer ordinária, o caminhante experimenta a possibilidade do inesperado, o indeterminado, mesmo que por vezes, a intenção não esteja além do atravessar, passar pelo espaço. Entremear. Apesar de contínuo, o caminhar é passível de desdobramentos suscetíveis ao desejo do corpo ou do acaso. Pode ser atravessado para se atentar, buscar detalhes, apreender o sentido, buscar a moldura. “cada unidade (dos passos) tem um caráter qualitativo: um estilo de apreensão táctil e apropriação quinestética. Sua massa fervilhante é uma coleção inumerável de singularidades.” (CERTEAU, 1994:28)

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Apesar da constante possibilidade do inesperado, Certeau afirma que o conhecimento que temos dos espaços é tão cego quanto a dos amantes abraçados que não enxergam o rosto do seu par. O voyeur, contemplativo por essência, fareja com os olhos o seu objeto de interesse e o transforma em um texto. Utiliza a cidade como panorama através do distanciamento típico do fotógrafo: sua lente é a retina. Sua intenção por vezes parece voltar-se a “ver o todo”. Engana-se, pois o todo está presente além da superfície estética da cidade. . Esta superfície é apenas a trama delineadora do visível, manta protetora do “todo” presente nos meandros, cantos, becos de rua, entre os dedos, na coincidência. É necessário aproximar-se mais do objeto, interagir, experimentar de forma crítica. Reagir. Provocar. Experienciar a cidade criticamente. Ao longo da história do urbano, experimentações críticas do e no espaço surgiram. O flâneur da Paris de Haussmann incursiona na cidade sem propósitos nem direção definida,

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apenas aceita os convites do acaso a à mercê de seus interesses repentinos. Não há tempo preestabelecido. A história convencional é desprezada: cada ladeira, rua, beco pode o conduzir ao passado desaparecido, enquanto sua sensibilidade “fareja na história a cidade e a cidade na história” (ROUANET, 1992, p.50). Seu conhecimento é empírico, subjetivo e recheado de signos construídos através de referências múltiplas adquiridas pela “vagabundagem” característica. Para Baudelaire, o perfeito flâneur é um observador apaixonado que fixa sua residência “no numeroso, no ondulante, no movimento, no fugidio e no infinito”. Apesar de estar fora de casa, tem a sensação do lar onde quer que esteja. Ele vê e está no centro do mundo, entretanto, permanece oculto para a multidão. “O flâneur é, por definição, um ser dotado de imensa ociosidade e que pode dispor de uma manhã ou tarde para zanzar sem direção, visto que um objetivo específico ou um estrito racionamento do tempo constituem a antítese mesma do flâneur.” (WHITE, 2001:48)

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Distingue-se do pedestre comum pela postura inquieta ainda que demonstre desinteresse, ou desperdício do próprio tempo com interesses alheios a si próprio. Para Mongin, o flâneur não vai à rua somente, ele sai de si, busca a multidão, mas não se deixa massificar, sabe estar só e age em contraponto à massa. A forma de experienciar o espaço se traduz num comportamento crítico diante de um novo modelo de cidade¹. Seguir com o fluxo, instintos, ouvir a brisa e segui-la. O verbo é sentir. O lugar é a rua. Para João do Rio, o flâneur está infectado com “o vírus da observação ligado ao da vadiagem”. (BARRETO, 1905) A cidade do flâneur é tateada com pés firmes, olhos distraídos e pêlos. Emociona ou não. “É preciso ter espírito vagabundo, cheio de curiosidades malsãs e os nervos com um perpétuo desejo incompreensível, é preciso ser aquele que chamamos flâneur e praticar o mais interessante dos esportes — a arte de flanar.” (BARRETO, 1905)

A partir da flânerie alguns movimentos surgiram: dadaístas e surrealistas através das deambulações pelo urbano, nos anos de 1910-1930, , os situacionistas (na década de 70) por meio da deriva voluntária, entre as décadas de 50-70 30 _margear | o meio como fim


e outras repercussões inclusive no Brasil. Os dadaístas utilizavam da deambulação - termo que por si só, de acordo com Francesco Careri, já contém a essência da desorientação e do abandono próprio do consciente. Seu background era o mesmo do flâneur: a Paris das largas vias e dos automóveis. Buscavam o espaço real, a banalidade ameaçada pelas “utopias hipertecnológicas do futurismo”.

O ato de

percorrer os boulevares trouxe uma nova experiência estética capaz de substituir e se distanciar do conceito de arte até aquele momento. Antes dos movimentos dadaístas, os artistas interviam com objetos como esculturas, após a ação o lugar pode ser colocado à frente da atenção do público compreendendo o acontecer como algo repleto de significado. Como disse Careri, a deambulação era uma forma de anti-arte. Os surrealistas, tais quais os dadaístas, também utilizaram das deambulações sem destino, entretanto, o espaço agora era o campo: áreas longínquas, vazias, desabitadas, sem o burburinho da grande Paris. A aparente intenção segundo Careri era superar a realidade através do onírico retornando aos espaços vastos e

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desabitados, como se estes espaços representassem o fim ou o limite entre o “sonho” e o “real”. Seus passos seriam “o registro automático no espaço real” impresso diretamente no território em um mapa mental. Os surrealistas acreditavam que o espaço urbano poderia ser atravessado como nossa mente e que uma realidade não visível/palpável poderia ser revelada. “A investigação surrealista é uma espécie de investigação psicológica de nossa relação com a realidade urbana.” (CARERI, 2002:88)

Já as derivas corresponderiam ao pensamento urbano dos situacionistas. De acordo com Careri, “a prática (da deriva) é uma atividade lúdica coletiva que não só aponta a definição das zonas inconscientes da cidade, mas também se propõe a investigar, apoiando-se no conceito de “psicogeografia” e nos efeitos psíquicos que o contexto urbano produz nos indivíduos”. Todos estes processos são resultado de um pensamento crítico perante a cidade. Segundo Berenstein, esses movimentos fazem parte desão errâncias urbanas que se traduzem em formas de apreensão da cidade e, também, de 32

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ação, uma vez que possibilitam ase configuram como existência de microrresistências no urbano. “As errâncias são um tipo de experiência não planejada ou desviatória dos espaços públicos, são usos conflituosos e dissensuais que contrariam ou profanam os usos que foram planejados.” (AGAMBEN, apud JACQUES, 2012:1)

O movimento errático é entendido como uma forma de resistência a partir da quebra do consenso: está em mão oposta da hegemonia, ao comportamento da massa. Estes corpos reagentes são fundamentais para a existência e manutenção da crítica num espaço tão anestesiado da contemporaneidade. A experiência destes mira o lugar incomum: busca dissenso e através do comportamento critico, quer atingir uma postura ativa e de reconhecimento da alteridade na cidade, partindo do pressuposto básico da interação, reconhecimento e interdependência de corpos. De acordo com Peter Pál Pelbart, nunca os poderes – “as ciências, o capital, o Estado, a mídia” – estiveram tão arraigados em nós afetando inclusive a produção de subjetividade e a própria vida. _margear | o meio como fim


Pelbart, numa postura um tanto pessimista, refere-se inclusive a este corpo como “uma máquina biológica desprovida de sensibilidade”, num estado de sobrevida, vegetativa. Ainda que a vida coletiva não esteja erradicada é preciso estar presente. É preciso estar consciente. “É preciso não se enrolar sobre si mesmo nem se massificar na multidão (...). Colocação em forma, colocação em cena e colocação em movimento se cruzam e se reforçam mutuamente.” (MONGIN, 2009: 67)

Além dos agentes naturalmente provocadores do espaço, existem figuras, que mesmo quando não objetivam, provocam reações apenas por existirem na cidade. Suas presenças surgem aos olhos cegos, incomodam, arranham. Artistas de rua, grafiteiros, andarilhos etc. Qualquer movimentação incomum ao estado de anestesia provoca estranhamento. De fato, movimentar-se no espaço urbano é uma forma primáaria de expressão, já que em alguns casos se configura, inclusive, como ato de manifestação política na cidade. É de direito e, porque não, um dever do corpo como cidadão social.

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_DO COTIDIANO O corpo está em constante oscilação e interação com a cidade: é reagente e reativo por princípio elementar. Resiste, aceita, reage sobre o outro que atua. Entretanto, apesar de constantemente provocado pelos sons, cheiros e cenas da cidade, ainda assim está anestesiado e não percebe as obviedades e singularidades da rua: mal vê, quase não sente e pouco reage. Responde aos estímulos da rotina de forma sutil e corriqueira. Sobrevive. Singularidades estas imersas na ilusão de um cotidiano uniforme e inalterado.

“La rue, que je croyais capable de livrer à ma vie ses surprenants détours, la rue avec

Falar do cotidiano reverbera aos ouvidos a carga

sus inquietudes et ses regards, était mon

negativa da rotina, ligada frequentemente às atividades

véritable élément; j'y prenais comme nulle

banais do “diariamente”. É importante pensarmos nele além da carga temporal da sucessão de dias e

part ailleurs le vent de l'éventuel.” “Acreditei que a rua era capaz de provocar pontos de viragem na minha vida, a rua,

acontecimentos repetentes.

com a sua inquietude e troca de olhares,

“O banal é uma passagem obrigatória para encontrar a figura do

era o meu verdadeiro elemento: lá, como

outro, a mulher sedutora ou o estranho inquietante”.

em nenhum outro lugar, eu recebi os

(MONGIN, apud Paquot, 2004: 64)

ventos da eventualidade.” (BRETON apud Careri, 2002:67)

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O cotidiano é a mescla plural de atividades/ acontecimentos/ forças presentes na vivência diária de um Ser, e pressupõe a presença de um cenário – a cidade. A cidade possui seu próprio cotidiano repleto de eventos, encontros, casualidades formadas pela convergência de diversos cotidianos singulares. Por mais que haja rotina dos atores, o contexto permite a transformação de algum aspecto, mesmo que sutil, no cotidiano de cada um. Nenhum dia é igual ao outro. Ou seja, o cotidiano não representa a monotonia. Além disso, o cotidiano é intrínseco à relação corpoespaço. O espaço é o “background”, é moldado pelo cotidiano e o modifica, ao passo que sua rotina interfere enquanto o corpo é ator e constrói através do espaço a vivência do dia-adia.

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_DA EXPERIÊNCIA “Cenário singular, a cidade não é quadro de uma mediação entre trajetórias corporais e o saber de um engenheiro projetista, mas um lugar que provoca “curtos-circuitos” em todos os níveis: o curto-circuito do corpo que inventa seu percurso, o do homem do interior que se expõe ao interior dentro do espaço público, e aquele da confrontação política.” (MONGIN, 2009: 38)

Experienciar pressupõe vivência. É antes de tudo experimentar, ter contato através dos sentidos do ser humano. No caso da experiênciaurbana, é necessário que o corpo se permita entrar em contato com o urbano. Nós experienciamos os espaços pelo corpo e, num contexto correlato, o espaço é o que a nossa experiência faz dele. São interdependentes. A cidade constantemente nos incita, provoca reações e, ao mesmo tempo, a provocamos. O que vem primeiro? O urbano pode ser considerado palco,

“Vou mostrando como sou

produto e claro, parte do processo à medida que toma o corpo.

E vou sendo como posso

Ainda que todo esse estímulo seja primordialmente furtivo e sutil, a rua e suas possibilidades de interação têm o poder de nos instigar: Sem motivo aparente, alguns espaços nos tocam, provocam reações inesperadas. 38 _margear | o meio como fim

Jogando meu corpo no mundo Andando por todos os cantos E pela lei natural dos encontros Eu deixo e recebo um tanto(...)” (MOREIRA, 1972)


Não somente pela configuração espacial, mas principalmente pelos agentes envolvidos. Mongin coloca a cidade como palco de experiência entre o individual, o corpo, e o coletivo, a cidade: “Um corpo dá forma à cidade, mas a forma de uma cidade está antes de tudo ligada aos percursos dos corpos individuais que se aventuraram no corpo da cidade (...) então há tantas poéticas na cidade quanto corpos que a percorrem e nela se aventuram. E, em todos os casos, a escrita corporal percorre cidades que se apresentam, elas próprias, como livros.” (MONGIN, 2005:46)

Paradoxalmente a essa colocação, o corpo funciona como unidade e coletivo à medida que reúne, em si, forças do externo e do interno. O processo de experienciar e de se expressar na cidade advém dessa miscelânea que dá corpo ao corpo e de como este irá (re)agir aos afetos do cotidiano. Todo corpo é afetado e afeta outros corpos. Os afetos são o que impulsionam uma ação uma vez que percorrem nossos corpos, nos impulsionam. Percorrem as células do nosso corpo, as excitam, as fazem vibrar. (LUCERO e MOSÉ, 2013)

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A capacidade de vibração do corpo determina a forma como iremos encarar, agir perante os afetos: é a maneira com que lidamos com as atividades da vida, que é a nossa forma de expressar. Singular e plural ao mesmo tempo. A cartografia a partir de um corpo vibrátil, se apresenta uma alternativa psicossocial de experienciar a cidade. Rolnik atribui ao cartógrafo a tarefa de “expropriar, se apropriar, devorar e desovar” elementos. Acionado pela capacidade dos sentidos, o afeto se incorpora ao afetado e ativa a capacidade vibrátil do corpo, da nossa sensibilidade. Este cartográfo, distante do usual que tem por hábito conceber mapas cartesianos e rígidos, tem ímpeto antropofágico: alimenta-se de experiências, daquilo que o afeta, incorpora através do corpo atento e aberto. O que prevalece no cartógrafo, antes de tudo, é a suscetibilidade do seu corpo vibrátil: ele se utiliza deste conjunto para apreensão dos fluxos ilimitados da realidade.

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“O que ele quer é participar, embarcar na constituição de territórios existenciais, constituição de realidade. Implicitamente, é óbvio que, pelo menos em seus momentos mais felizes, ele não teme o movimento. Deixa seu corpo vibrar todas as freqüências possíveis e fica inventando posições a partir das quais essas vibrações encontrem sons, canais de passagem, carona para a existencialização. Ele aceita a vida e se entrega. De corpo e língua.” (ROLNIK,1989)

Jacques também apresenta uma maneira d e experienciar a cidade criticamente: para combater o fenômeno de especularização das cidades contemporâneas, Berenstein chama de “micro-resistência” um tipo de experiência corporal da cidade através da prática das errâncias. Estes experimentos resultam em uma corpografia urbana, ou seja, o registro da experiência deste corpo agora está na cidade, como uma grafia que atua em mão dupla, inscrevendo uma tatuagem no corpo de quem age. A cidade não é somente background, ela se corporifica à medida em que o corpo a toma. Corpo urbano e corpo cidadão interagem e interdependem para uma vivência reflexiva e interventiva num tempo contemporâneo de empobrecimento das experiências e, consequentemente, dos espaços.

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Esta abordagem psicológica do corpo vem de encontro com a maneira que gostaríamos de nos aproximar do território neste trabalho: queremos utilizar de toda a nossa sensibilidade e abertura, para que consigamos sentir na cidade meandros, detalhes por vezes invisíveis ou camuflados, mas que certamente nos façam vibrar. À luz da malemolência do cartógrafo sentimental, errando pela cidade ao acaso característico do flâneur, queremos incursionar no território além da sua superfície, borda ou margem. MARGEM que delimita, separa, marca o fim ou início. À margem da cidade, da avenida, da imagem, à margem de mim. Busca-se o contraponto, a diferença e, além de tudo, a riqueza das margens. Busca-se, sobretudo, a leveza de uma palavra tão carregada de idéias pré concebidas: marginal. Esta será a palavra norteadora deste trabalho.

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_DA MARGEM O conceito de margem é amplo, interdisciplinar e múltiplo: se refere a extremos, bordas, limites e linhas. Na geografia, margem geralmente refere-se ao limite entre um corpo d´água e a terra. Paradoxalmente, margem pode pressupor separação ou linha que envolve. Não necessariamente divide diferentes lugares pois ao mesmo tempo que envolve, separa. A margem pode significar a borda de uma área, um limite. Na arquitetura, o termo margem se associa não só a idéia de separação como também vem de encontro a uma situação intermediária entre duas áreas ou regiões adjacentes (não necessariamente diferentes ou similares). Esta situação intermediária pode ser uma faixa, um bairro, uma rua, uma calçada ou pode ser entendida até mesmo como uma mudança de sensação/apreensão no/do território. Margem numa ilha como Vitória, poderia ser toda a beira que ladeia uma corrente de água, sua orla. Entretanto, neste caso, é importante ressaltar que abordarei a margem em amplas interpretações.

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Denotará, sim, o território marginal que preliminarmente abarca quase toda a borda da ilha como também os espaços que estão à margem da cidade, estes num contexto social/percep(sensi)tivo. Júlio Arroyo ao introduzir os conceitos de borda e margem no urbano, traça um paralelo com o conceito de franja, ou seja, um espaço que se “pode experimentar através de práticas subjetivas como um espaço predominantemente linear”, ainda que se percorra com a consciência de que encerra ou separa lugares. Neste contexto, margem pode ser um limite que marca a abertura ou o fechamento para outro lugar distinto, e este limite pode ser vivido, experienciado ao ser atravessado. “As tensões de atravessamento são complementares às tensões de percurso na borda, constituindo ambas uma experiência existencial fundada na percepção dinâmica do trajeto.” (ARROYO, 2007)

Da margem, marginal, de acordo com o dicionário Michaelis (acesso em 25 de setembro de 2013), pode significar, também, algo de importância secundária, desprezado ou abandonado. _margear | o meio como fim


Nesse sentido, procuramos reconhecer e explorar sob os múltiplos métodos cartográficos identificados no inicio deste trabalho os possíveis territórios marginais na cidade de Vitória. A existência de margens no contexto urbano não constitui em si um problema, visto que é inerente à configuração de uma cidade. Entretanto, quando representa ou apresenta de alguma forma situações de negação, exclusão, segregação ou abandono é sim um problema de cunho social, político e econômico que deve ser reconhecido e tratado. Arroyo reconhece na cidade a existência de uma cidade central, sedimentada, que é reconhecida como oficial e estabelecida como referência para outras. Estas várias cidades fazem parte de uma única cidade, e assim, foram nominadas para marcar as brutais diferenças quanto ao grau de sua estruturação e reconhecimento perante o Estado. O resultado destas disparidades entre realidades numa mesma cidade é a heterogeneidade da paisagem, que revela uma desintegração extrema entre bairros, modos de vida, 46 _margear | o meio como fim


condições sócio-econômicas e ambientais consequentes de um processo de urbanização excludente e segregador. De encontro a Arroyo, Ermínia Maricato discorre sobre a existência de uma “não cidade” dentro da própria cidade. É aquela que existe enquanto realidade física no território (representada pelas favelas, cortiços, ocupações irregulares no urbano) e que o Estado não a reconhece no que concerne investimentos e serviços públicos, legislações, direitos mínimos de habitabilidade (água, energia, saneamento básico, saúde) etc. A cidade legal, de elite, se sobrepõe e representa a cidade real tornando a cidadania um privilégio que não é acessível a totalidade social. Neste contexto, atribuiremos um conceito complementar à margem: a palavra como verbo/ação também será método. MARGEAR, andar pelas margens, deambular, perambular pela cidade além do usual.

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MARGEAR significará, neste contexto, a experimentação e interação com a cidade e seus atores, com objetivo de reunir através do conjunto sensório e referências pessoais, percepções mais próximas da realidade. Esse conjunto de percepções acerca do território fará parte do repertório sensitivo para proposição de um projeto interventivo no recorte urbano a ser definido.

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_PRÁTICA


vitória baía de vitória

vila velha _MARGEAR I O processo do recorte territorial se deu por etapas: inicialmente foi definida uma franja extensa que abarcava toda a baía de Vitória e as margens das cidades que a tocam, Vitória e Vila Velha. Este recorte engloba uma multiplicidade de áreas divergentes e de tempos variados, que, quando sobrepostas, dão forma à faixa norte de Vila Velha e à faixa sul de Vitória, entremeadas por um sinuoso corpo d´água – a baía de Vitória. Falar dessa baía pressupõe uma gama de assuntos além da água em si: a baía é símbolo. Simbolo que remete ao trânsito intenso do porto com grandes embarcações ao lado de pequeninas (e resistentes) catraias, aos incansáveis ambulantes que peregrinam de ponto em ponto, ao centro de vitória, tão cheio e tão vazio, aos passos apressados dos transeuntes que são observados constantemente pelo imponente Penedo, que remete sobretudo, ao passado e presente de Vitória . De forma irregular – perfil resultante do histórico de aterros – este canal ligado ao mar é ocupado pelas atividades advindas do Porto de Vitória que atrai o tráfego 52

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nobreza

frágil

barreira

barreira

barreira

barreira

posse chaga

conector barreira beirada

frágil janela

frágil serenidade

frágil

hiato

trajeto vulto

de inúmeros navios de grande calado paralelamente ao ritmo constante e vagaroso das pequenas catraias que transportam dezenas de pessoas diariamente entre Vitória e Vila Velha. Era necessário dar um zoom, ampliar a escala, sair do papel e utilizar o corpo como dispositivo para escolha do local a ser trabalhado. Apesar do conhecimento prévio, a primeira incursão à margem foi reveladora: existe uma cidade escondida, velada, quase não notada pelo cotidiano desatento. A primeira incursão, por automóvel, foi interpretada pelo mapa cognitivo. Este recurso originalmente criado por Kevin Lynch e aprimorado por Jameson, busca interpretar a cidade qualitativamente, através da percepção/imagem que uma pessoa ou um grupo tem de um determinado ambiente e das suas singularidades (que revelam fluxos, velocidades, estímulos etc.) Nesta cartografia, foram registrados várias manchas no território que acompanhadas de um substantivo, buscam expressar as sensações experimentadas durante a incursão. _margear | o meio como fim


Frágil Estas manchas geralmente situadas em recuos da margem são áreas de apoio pesqueiro ou atracadores de barcos. Espaços de abertura para o mar, bucólicos, quase sempre pequenos pontos no território que disputam espaço com barcos de grande porte ou mesmo com o avanço das vias e construções.

frágil

Nobreza Esta região apresenta intensa ocupação irregular de alto padrão no Morro do Moreno. A palavra nobreza busca interpretar o poder dos mais abastados na ocupação e permanência em áreas de preservação permanente e, sobretudo, em pontos estratégicos da cidade. Hiato Trata-se de uma faixa em parte sombreada pelo vão da terceira ponte, ocupada em sua maioria por conjuntos habitacionais

nobreza

militares. Infraestrutura baixa, vias não pavimentadas, lotes e residências vazias garantem o aspecto de exposição e insegurança de quem trafega.

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_margear | o meio como fim hiato


Barreira Pedaços da margem ocupados por órgãos militares, penitenciárias e indústrias. Altamente enclausurados dispõem de elementos segregadores (sejam estes muros, grades, barreira

placas ou mesmo pessoas) Este tipo de barreira é prejudicial ao urbano uma vez que impossibilita a fruição de todo o território disponível principalmente da franja que faz contato com o mar. Janela Mancha no terreno onde a moldura se abre e é possível enxergar além das barreiras construídas. Compreende uma extensa área não construída disposta na borda da baía. Apesar do grande potencial, é pouco apropriada e tem aparente desleixo devido à vegetação esparsa e à pavimentação

janela

retalhada. Vulto Nesta faixa, a cidade aparentou continuidade. A velocidade não foi compatível para uma apreensão do lugar.

_margear | o meio como fim vulto


Posse Mancha ocupada por uma casa de detenção. Alcançada por um curto caminho sem pavimentação, transpira medo e descaso. É a beira da cidade. De difícil acesso, suas barreiras ultrapassam aquelas visualmente notáveis: a presença do transeunte é notada e usualmente tratada como intrusiva.

posse

Serenidade Esta mancha engloba ruas largas dotadas de vegetação frondosa que ora fazem parte do quintal das casas, ora estão na própria calçada. As casas de baixo gabarito permitem um caráter mais humano e confortável ao transeunte. Beirada Franja na beira do rio. Ocupada por casas paupérrimas, sem condições sanitárias de habitação. Competem espaço com o trânsito pesado e exasperado do Porto de Cabuapa mais ao

serenidade

norte. Aparenta descaso, relaxo. A ponte de acesso apresenta velocidade e fluxo incompatível com o entorno. A partir dela, é possível notar o horizonte de casas situadas ao longo da margem do rio poluído, algumas palafitas outras de alvenaria.

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_margear | o meio como fim beirada


Conector Como um tubo, é o principal e único acesso ao Porto de Capuaba. Árido e cinza, constantemente recebe jatos de água para diminuir a poeira advinda dos caminhões carregados. Esta conector

via é dividida por um extenso muro gradeado que segrega o bairro Ilha das Flores, acima, e a reserva ambiental, à direita. A única vida notável advém dos poucos comércios existentes bares e oficinas de veículos pesados. Chaga Engloba o Cais de Capuaba. Fechado para si por longos paredões usufrui do território, dos recursos naturais e da estrutura viária (que inclusive, molda-se a seu favor). Esta incursão na cidade buscava apurar o olhar e os

chaga

sentidos para a seleção de uma faixa, margem, pedaço, terreno, um espaço para estudar e propor. Era necessário aproximar mais.

_margear | o meio como fim conector


__MARGEAR II Nesta incursão, intendi apreender a cidade também em outras velocidades e escalas. A escolha da catraia como meio de transporte inicial na segunda etapa não foi desproposital: falar sobre os catraeiros é tratar de um ofício que está à margem. Hoje, renegado às bordas da baia e do sistema, praticamente compete e grita para que seu pedaço de água não seja tomado. Com a constante expansão portuária, o ofício está sob risco iminente de desparecer visto que a rota antes linear, foi modificada para dar espaço aos extensos pátios portuários. Além disso, não há incentivos de integração com outros sistemas de transporte ou interesse no investimento do transporte marítimo. O bairro Paul, primeira parada, encaixou-se por diversos aspectos neste perfil: um bairro essencialmente pobre, altamente densificado com habitações em situações de risco/irregulares, que o Estado negligencia a existência uma vez que pouco investe em saneamento, em transporte de ligação para ligação com ada “cidade oficial” a estes locais, equipamentos públicos de qualidade etc.

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_margear | o meio como fim


Além destes redutos “marginais”, numa escala aproximada,, de contato, é possível reconhecer micromargens, bordas no território que por vezes imperceptíveis, separam e delimitam uma área da outra, tais como:. muros, gradis, elementos-obstáculos, já reconhecidos inclusive na primeira incursão. Uma destas barreiras é o próprio Porto de Capuaba, (já mencionado) que impossibilita o acesso por terra. Quando o terminal aquaaviáario foi construído, havia uma via de acesso aà Paul. Hoje, esta via é de propriedade privada e serve apenas para tráfego portuário. O acesso ao bairro ficouoi restrito aà uma passarela de ferro que conecta o antigo terminal à cidade. Atualmente, este ponto encontra-se subutilizado: em ruínas, sem energia elétrica nem água, não tem infraestrutura necessária para desembarque de passageiros ou apoio aos catraieiros. O trajeto, a partir de então a pé, foi aleatório. Na tentativa de não direcionar minha incursão, procurei seguir instintos sem pestanejar, à deriva, seguindo estímulos despertados durante o percurso. _margear | o meio como fim


A deriva, de acordo com a Internacional Situacionista, é interpretada como uma forma de comportamento experimental, uma estratégia de exploração do urbano de forma aà instigar a percepção sinestésica do espaço. “Entre os procedimentos situacionistas, a deriva se apresenta como uma técnica de passos ininterruptos através de ambientes diversos. O conceito da deriva está ligado indissoluvelmente ao reconhecimento de efeitos da natureza psicogeografica e à afirmação de um comportamento lúdicoconstrutivo que se opõe em todos os aspectos à noções clássicas de viagem e passeio.” (DEBORD, 1958)

Segui cachorros, subi ladeiras que por algum motivo me pareciam atraentes, desci escadas no final de ruelas, acompanhei pessoas. A sensação era labiríntica devido à própria configuração das casas e ruas. Muros altos, barras de ferro ritmadas, túneis e vias que aparentavam não dar em lugar algum. Atravessei o bairro (Ilha das Flores) e me vi na avenidaconexão da área portuária. Rumei em frente na em direção sul. O clima era de aridez, a cor era cinza. A fumaça dos caminhões à diesel por vezes secava a garganta enquanto o som podia ensurdecer um transeunte. Aliás, eram poucos.

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Apenas os que estavam trabalhando no conserto de máquinas à beira das vias. Não havia calçada. Percebi que caminhava no limite de uma via, ao lado de um muro gradeado que a dividia. De um lado o bairro metros acima, de outro uma cerca com vegetação densa impedia o acesso. Novamente me vi numa ponte. Entretanto, agora o contato extrapolava a retina. A pele sentia o calor do asfalto e o balançar dos caminhões, bem como a poeira impregnante. Podia ouvir o som das buzinas misturado ao barulho de água e sentir o cheiro característico de óleo queimado. O horizonte de casas, refletido nas águas paradas ainda estava lá. E era ainda mais gritante. Dezenas de casas se espremiam ao longo de um rio de águas escuras. Poucos barcos ancorados em meio ao lixo denunciavam que havia vida além dos entulhos. Casas de alvenaria de três pavimentos ao lado de tapumes. Como era possível viver com tão pouco? Caminhei pelas ruelas de acesso ao bairro. Era possível ver o rio, os varais, o íntimo de cada casa através das frestas dos muros. Caminhei pelas ruelas de acesso ao bairro. Era possível ver o rio, os varais, o íntimo de cada casa _margear | o meio como fim


através das frestas dos muros. A disparidade estava ali, numa única rua só. Não era preciso comparar bairros ou ruas diferentes. A miséria convivia com a totalidade daquele mundo mundo cão ala cada passadai mesmo. Era preciso apenas olhar pela janela (quando havia). À medida que caminhava, tinha mais certeza que ali era o lugar. Não pela tristeza, mas pela resiliência, pela vida que insistia em existir apesar de tantos elementos inóspitos no mesmo lugar. Mais à frente alcancei a orla. O rio, à mercê da maré, já havia subido mais cedo e deixado as ruas úmidas. Soube que as casas alagavam várias vezes por semana. Os entulhos nas bordas apontavam a tentativa de impedir o refluxo das águas. O rio era o vilão. Saiu do seu reduto e foi para a rua reivindicar o espaço na cidade que já havia sido foi dele por direito. Os moradores do bairro na tentativa de se protegerem do calor sentavam-se à beira de seus portões ou embaixo dos poucos arbustos que produzemiam uma sombras rarefeitas. Mais a frente, após a curva, um viveiro de mudas verdes cercadas por ripas de madeira à beira do rio/córrego denunciavam o cuidado. Novamente a vida estava ali. E o meu trabalho também. 62

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_ ARIBIRI O recorte final engloba três bairros da região da Bacia do Rio Aribiri: Cavalieri, Aribiri e Dom João Batista. Estes bairros são resultados de assentamentos e loteamentos informais em áreas de mangue, de morro e margens de rio. Vale citar o De acordo com o relato de Dona Edilza Felipini, moradora de Dom João Batista, “O bairro Dom João Batista surgiu no iníicio dos anos 80 com uma ocupação do mangue no Bairro Aribiri onde centenas de famílias que não tinham casas lutavam pelo direito de ali permanecer. Após a ocupação, os proprietários da área entraram na justiça pedindo a reintegração de posse. Trezentas famílias foram despejadas e cerca de 48 não tinham para onde ir. (...) Muitas reuniões foram realizadas com autoridades e após dois anos de negociações, aconteceu a desapropriação de 4500 metros quadrados, para o assentamento (...) As negociações se deram através da Prefeitura Municipal de Vila Velha e da CVRD. O povo lutou com muita dificuldade para construir seus barracos. A dificuldade maior era aterrar os lotes e as ruas do bairro porque, no início, a terra era retirada do Morro da Manteigueira 64

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mas esta atividade foi embargada pela população pois estava devastando a natureza” Apesar do aparente loteamento, hoje parte das famílias vivem em áreas não previstas e reconhecidas pelo município. A ilegalidade é o principal fator de segregação espacial uma vez que impulsiona a clandestinidade generalizada: na relação de trabalho, na ação da polícia, na resolução de conflitos internos etc. A partir desta segregação não é incomum o “desenvolvimento de normas, comportamentos, mecanismos, procedimentos extra legais que são impostos à comunidade pela violência ou que são aceitos espontaneamente e até desejados” (MARICATO,2001). A lógica da cidade ilegal é outra (diferente da cidade oficial) e singular de cada ocupação. A área em questão encaixase neste panorama: são frequentes os relatos de violência e o controle por parte de pequenos grupos envolvidos com o tráfico de drogas. . A população moradora vive em constante estado de alerta.

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O sociólogo Erly dos Anjos (acesso em setembro de 2013) aponta que o resultado deste processo é similar a um estado primitivo de sobrevivência devido a à sensação permanente de risco e de sofrimento psicológico. Além do quesito insegurança, foi observado um elevado grau de insalubridade causado pela falta de saneamento básico e pelas constantes inundações relacionadas as alterações de maré causando a proliferação de mosquitos, mau cheiro e a facilidade de profusão de epidemias. Quanto às construções, o padrão é difuso: inúmeras casas paupérrimas de ripas de madeira, algumas palafitas pareadas com autoconstruções de alvenaria de até três pavimentos beiram a margem do rio. Do outro lado há uma encosta íngreme ocupada por algumas construções de baixa qualidade. As ruas já pavimentadas denunciam algum investimento municipal na área, entretanto, é insuficiente perante as tantas outras necessidades não atendidas. A orla dispõe de poucos arbustos e algum mobiliário urbano fixo. A via principal é larga e asfaltada, o que prejudica a absorção das águas pluviais. Já as vias de acesso às outras quadras 66

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são estreitas e pavimentadas com blocos de cimento intertravados. No programa Gazeta Comunidade, “Moradores de Dom João Batista em Vila Velha reclamam dos problemas do bairro no ES”, (exibido pela TV Gazeta) os moradores do bairro criticam a falta de assistência da prefeitura no que concerne às constantes inundações acompanhadas do lixo nas ruas e na única área de lazer, uma quadra de futebol. Perpassavam também sobre o descaso perante as condições da unidade de saúde e a falta de médicos na comunidade. Pedem também a dragagem do rio Aribiri para solução das enchentes constantes. Em mídias sociais, moradores pedem mudanças na orla da área através de desenhos que representam a reforma na orla com a implantação de academias populares e a reforma da associação de moradores do bairro. A manifestação de desejo de mudança do lugar denota a identificação e o pertencimento com o lugar onde vive.

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_ HABITAÇÃO Esta nova configuração espacial gerou reflexos negativos na qualidade de vida da população e, por conseguinte no que se refere a qualidade habitacional, atingindo diretamente a população de baixa renda que sem saída, busca formas alternativas de viver. Devido a ocupação irregular consequente da falta de possibilidades, grande parte da população urbana está sob ameaça em áreas de proteção ambiental. Este processo é consequência de uma série de fatores, sobretudo no que concerne a incapacidade do Estado garantir os serviços e as necessidades básicas, acrescidos da perversa distribuição de renda que não permite acesso de boa parte da população ao mercado imobiliário formal. Esta incapacidade de participação da camada pobre consequentemente impulsiona a ocupação de áreas delicadas. É importante salientar que a ocupação desse tipo de área não é por vontade ou desejo de consumo, pelo contrário: “a favela é o que mercado imobiliário disponibiliza para quem tem pouca renda, em geral em áreas que o mercado formal não pode ou não quer ocupar” (ROLNIK, 2009) 68

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Afastadas do negócio imobiliário e não reconhecidas pelas políticas públicas a população sem condições se aloja em terras que até aquele momento não tem valor de mercado. Não raramente este efeito se dá pelas características morfológicas da terra (encostas, córregos, vales etc) ou pela disponibilidade do espaço, como áreas públicas sem uso definido, beiras de rodovias ou loteamentos ilegais. Como já de conhecimento, está previsto pela constituição brasileira o direito de morar que não só garantiria o pedaço de terra, mas sim o direito à cidade, no que diz respeito ao saneamento básico, educação, cultura, lazer, saúde, segurança, justiça, cidadania etc. Somado à este direito, o Estatuto das cidades, lei promulgada em 2011, regulamenta a política urbana em prol da função social da propriedade através do incisos que preveem a regularização fundiária de ocupações de interesse social e a intervenção social sobre o livre uso da propriedade privada (desapropriação, servidão, tombamento etc). Entretanto, paradoxalmente, a reação do Estado por vezes parece estar mais inclinada a proteger bens privados em _margear | o meio como fim


prol da minoria da população. Apesar da constituição estabelecer o direito dos ocupantes a ter reconhecida a sua posse, temos acompanhado o favorecimento constante a grandes proprietários sobre a maioria da população. Um exemplo recente foi a reintegração de posse da comunidade de Pinheirinho, em São Paulo. A operação da retirada das famílias (cerca de 6 a 9 mil moradores) contou com a ação truculenta da polícia apesar de protestos e denuncias por parte de diversos órgãos federais. Como o caso de Pinheirinho, muitas remoções forçadas de assentamentos populares tem décadas de existência e vários já são regulados e reconhecidos de acordo com os instrumentos legais. “As conquistas no campo do direito à posse da terra desses assentamentos são ignoradas e tratadas de maneira ambígua e discricionária. Ou seja, espoliam-se os ativos dos mais pobres, sem reconhecer seus direitos, porque é mais barato. Mas também porque, dessa forma, limpa-se a imagem da cidade a ser vendida nos stands globais: sem assentamentos populares à vista.” (ROLNIK, 2012)

É importante destacar, segundo Raquel Rolnik, que a urbanização das favelas ainda é a melhor alternativa para enfrentar o passivo socioambiental das cidades, pois preserva 70

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redes comunitárias e acesso a empregos e outros equipamentos públicos. Ainda assim, mesmo nestes processos de urbanização (e sobretudo em locais de fragilidade ambiental ou de exposição das pessoas), remoções podem ser necessárias. Entretanto, remoções não devem ser desmedidas ou sinônimo de violência. Esta ocupação desenfreada tem moldado a paisagem de nossas cidades com extremos cada vez mais exacerbados: em um extremo a degradação ambiental, visual e (porque não) humana e na outra ponta prédios e condomínios fechados de “alto padrão” ditam o mercado imobiliário. No caso da área estudada, evidencia-se a ocupação de uma área semi-urbana , à margem de um mangue que deveria ter algum tipo de resguardo ambiental. Não é preciso ir a fundo ao panorama das cidades brasileiras para constatarmos a relação direta entre moradia pobre e degradação ambiental. Entretanto, é importante destacar que o mercardo imobiliário formal também tem ocupado irregularmente o solo no que concerne a ocupação de áreas de intensa especulação com grande potencial _margear | o meio como fim


paisagístico. No próprio município de Vila Velha podemos constatar a constante ocupação do Morro do Moreno, área de preservação permanente e a construção de prédios de alto luxo nas orlas de Itaparica e Itapoã. “O direito à invasão é até admitido, mas não o direito à cidade. A ausência do controle urbanístico (fiscalização das construções e do uso/ocupação do solo) em certas áreas das cidades convive com sua "flexibilidade", dada pela pequena corrupção, na cidade legal. Legislação urbana detalhista e abundante, aplicação discriminatória da lei, gigantesca ilegalidade e predação ambiental constituem um círculo que se fecha em si mesmo.” (MARICATO, 2011)

É inegável a importância do desenvolvimento, da movimentação e crescimento econômico que geram empregos e dão possibilidades e oportunidades à muitas pessoas. Mas é imprescindível reconhecer e enfrentar a lógica corporativa e excludente de gestão das cidades.

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_EXEMPLO DE CASO: REPRESA BILLINGS A Represa Billings é um dos maiores reservatórios de água do estado de São Paulo. Tem capacidade para abastecer cerca de 4,5 milhões de habitantes e possui cerca de 582,5km² distribuídos entre os municípios de Ribeirão Preto, Diadema, Rio Grande da Serra, São Bernardo do Campo, Santo André e São Paulo. A represa foi criada no ano de 1925 para gerar energia elétrica e movimentar as principais indústrias de São Paulo. Hoje, é responsável pelo abastecimento de 1,6 milhões de pessoas na região de Diadema, São Bernardo do Campo e parte de Santo André. Em função do já mencionado elevado crescimento populacional e industrial no último século, sobretudo entre as décadas de 50 e 70, a represa Billings possui grandes faixas poluídas com esgotos domésticos e industriais. Além deste crescimento, o bombeamento de águas do rio Tietê para a represa Billings, iniciado na década de 40, resultaram em graves consequências ambientais em ambos rios. Hoje, apenas alguns braços da represa são utilizados para abastecimento de água potável. Este bombeamento tinha como 74

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objetivo reverter o curso do Rio Pinheiros e Tietê para a Bacia Billings e consequentemente controlar as constantes inundações na cidade de São Paulo. Numa tentativa de mitigação do problema ambiental, hoje o bombeamento dos rios para a represa está restrito apenas a eventos de cheia. Além desta lei, a Prefeitura Municipal de São Paulo a partir do Programa Mananciais (parceria com o governo) licitou um projeto de intervenção para uma parte da represa chamada Cantinho do Céu, situada no distrito de Grajaú, zona Sul da capital. Esta região é ocupada há mais de 40 anos, abrigando em torno de 10 mil famílias distribuídas numa área de 1,5 milhão de metros quadrados. Segundo o arquiteto responsável pelo projeto, Marcos Boldarini, há faixas dispares que se assemelham a loteamentos regulares e outras características de favelas. Este programa teve inicio na década de 80 com foco na ”recuperação sócio ambiental de favelas e loteamentos precários localizados na região da represa Guarapiranga. Depois _margear | o meio como fim


de quatro anos paralisado, em 2005 o Programa foi ampliado e passou a atuar também nas áreas da represa Billings, passando a ser denominado Programa Mananciais.” O projeto objetiva requalificar a região ocupada informalmente à beira da represa através da instalação de sistemas sanitários, viários e de uma faixa delimitadora de proteção ambiental entre a moradia e a represa. Para isso, um dos passos foi a remoção de parte das edificações numa faixa que variaram entre 15m e 150m a partir da margem da represa, em conformidade com o valor total de área exigida pela legislação. A faixa de habitações a ser removida foi definida a partir da necessidade da criação de conexões viárias, captação de água pluvial e esgotamento sanitário. Além disso, esta remoção visa assegurar a manutenção da qualidade da água e evitar o assoreamento do reservatório. Segundo o arquiteto, após a execução do projeto, estes critérios técnicos criarão “uma qualidade paisagística que aproxima os moradores do Cantinho do Céu do recurso hídrico” para estimular sua valorização como bem público. Ao total, cerca de 70% das 76

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das moradias serão mantidas garantindo condições de promover uma área vegetativa de aproximadamente 250 mil km² ao longo de 7km lineares da margem. Quanto aos detalhes técnicos, as vias antigas serão pavimentadas com pisos intertravados inclinados ao centro para escoamento e absorção da água pluvial, sobretudo para evitar inundações nos lotes já que não há padronagem quanto ao nível. O uso das vias é compartilhado. Não há divisão entre pedestres, ciclistas e carros. Para o piso das quadras e campos de futebol, a solução grama sintética foi resultado de uma negociação do escritório, que queria que fossem de areia - com maior capacidade de infiltração, enquanto a comunidade pedia concreto. A área de lazer conta com quadras de futebol e vôlei de areia.

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_DIRETRIZES Antes de propor qualquer modificação ou intervenção em uma área é imprescindível a apreensão deste território como lugar. Lugar espaço de ocupação, vivência, transformação e construção do indivíduo e do coletivo. De acordo com Milton Santos, tudo que existe num lugar está em relação com os outros elementos desse lugar. O que o define é exatamente esta teia de objetos e ações com causa e efeito, que formam um contexto. (SANTOS, 1994:17) É importante compreende-lo como um sistema. Desta forma, este conjunto de diretrizes projetuais buscará se afastar de uma construção solitária, pois é justamente através da interação que se constituem os lugares da coletividade. (SANTOS, 1994:17) Interação com a cidade e seus sujeitos buscada desde a definição dos recortes até a propostas interventivas. As experiências adquiridas são significativas no sentido de que nos afeta tanto na forma de compreender a área quanto na maneira de agir sobre ela.

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Uma das prerrogativas projetuais é a devolução do direito de moradia no que tange não só o espaço de morar, mas um espaço de qualidade que garanta ou facilite o acesso à cidade “real” de fato. Para isto, se fez necessário a desapropriação e a remoção de 299 casas localizadas nas extremas margens do rio para lotes existentes no próprio bairro Aribiri. As área1 e área2 marcadas no mapa são lotes previstos para o reassentamento das famílias que viviam próximas às margens do rio. Hoje estas áreas são ocupadas por uma fábrica desativada e um campo de futebol respectivamente. Estão mais próximas de outros equipamentos públicos como: escola, posto de saúde, comércios, pontos de ônibus etc. É importante salientar que a remoção é imprescindível, sobretudo sob a ótica ambiental de recuperação do mangue para manutenção inclusive da economia existente. Hoje parte dos moradores sobrevivem da pesca ainda que precariamente. Uma vez iniciado o processo de recuperação do manguezal, a tendência é de aumento e diversificação das espécies do ecossistema do corpo d'água.

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Neste contexto, uma das diretrizes é o tratamento da orla com a implantação de vegetação própria de mangue que, além de servir como recuperação do próprio rio, atuará como elemento bufferizador das constantes cheias do rio. Um ponto a se observar é a relação que os moradores travaram com o corpo d'água: há uma batalha de espaços onde o rio reivindica o seu lugar de direito ao mesmo tempo em que a população ocupa, lança dejetos, tenta aterrar onde pode. As medidas mencionadas acima por si só já trarão outra perspectiva sobre o rio. Acrescido a isso, entendendo que o bairro é carente em áreas de recreação bem como pensando na estruturação do corpo d'água como possibilidade real de trabalho para as pessoas, a criação de um parque linear viria a suprir algumas necessidades. Este parque englobaria pontos de apoio ao transporte marítimo articulado a uma infraestrutura viária. Na perspectiva de auxilio a população, sugere-se também a criação neste parque de bases para pesca como pequenos píeres e espaços para limpeza dos pescados.

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Quanto aos fluxos uma das diretrizes é fomentar a utilização de outros meios de transporte além do veículo através da criação de corredores de passagem para bicicletas que contarão com ciclovias nas ruas e passagens no parque linear.

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_CONSIDERAÇÕES FINAIS Por acreditar na importância da aproximação do arquiteto urbanista com a cidade, este trabalho veio em busca de outras formas de experienciar o urbano. Através das “incursões sentimentais” foi possível interagir com a cidade e seus sujeitos além da superfície e obviedade. Esse tipo de abordagem além de reunir percepções mais minuciosas, nos aproxima (e relembra) da realidade por vezes tão dispare. A intenção das diretrizes foi restabelecer a dignidade de quem vive às margens. Intendeu-se repensar, trazer o rio Aribiri para outro plano. Além de curso d'água natural, ser enxergado como parte integrada da cidade. Este trabalho é reflexo de um movimento velado. Uma corrente de projetos de graduação que vem rompendo com a regra de trabalhos de arquitetura formal com parâmetros e métodos. Paradoxalmente essa busca do estudo da sociedade, sujeito, cidade talvez seja reflexo de uma carência: como uma fuga. De uma lógica de mundo que nos impõe tempos e formas de viver, da individualização extrema, da falta de carinho e de outros fatores. Ou talvez um busca: pelo humano. 82

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_APÊNDICE: BREVE HISTÓRICO Vila Velha é o município mais antigo e populoso do Espírito Santo. Apresenta uma estrutura urbana complexa, disposta numa base geográfica acidentada e sinuosa margeada pela baía de Vitória. Permeada entre e sobre este relevo, ruas, avenidas e ruelas traçam e formam o urbano. O resultado desta atual configuração advém de um processo antigo iniciado no século XVI com a ocupação portuguesa. Apesar do território já ser habitado por grupos indígenas, os primeiros colonizadores chegaram à atual região da Prainha e fundaram a “Vila do Espirito Santo”, capital da capitania do Espirito Santo. Devido aos constantes ataques, no ano do ano de

1551, os

portugueses decidiram transferir a capital para a cidade de Vitória. Entre a mudança até o fim do século XIX pouco se tem registro da cidade, entretanto sabe-se que neste período houve a construção do Convento da Penha, importante monumento religioso brasileiro, e que o sustento era oriundo da agricultura. Em 1890, o município foi criado com a instauração da Constituição do Espirito Santo, passando a se chamar Vila Velha 84

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A partir deste evento juntamente a uma série de obras infraestruturais, e de incentivos no transporte público (como a inauguração do bonde em Aribiri) o município tornou-se foco de investimentos comerciais impulsionados principalmente pela inauguração da Ponte Florentino Avidos, em 1920, que fez a primeira conexão do município à capital e através da implantação da ferrovia que ligava Argolas a Viana. As estradas de ferro essencialmente pelos trilhos

no município são

compostas

que conectam o Porto de

Capuaba, em Vila Velha, ao interior do Espírito Santo e aos estados do Rio de Janeiro, pela Estrada de Ferro Leopoldina, e Minas Gerais, pela Estrada de Ferro Vitória-Minas. Estas duas estradas partem de Paul e atravessam Cariacica, município vizinho. Até a década de 50, a econômica estadual baseava-se essencialmente na cafeicultura para exportação. Para suprir esta demanda visto que o Porto de Itapemirim já tinha sua capacidade esgotada, o Governo Estadual encampou a construção do que seria um início de um complexo portuário.

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Ainda nos anos 40, foram construídas as instalações de embarque da CVRD, no morro do “Péla Macaco” em Vila Velha, hoje totalmente desativadas. Na mesma época teve início a construção do Terminal de Granéis Líquidos e do Cais de Paul, propriedade das empresas Usiminas e CVRD. Até os anos 70, o complexou ganhou os demais berços de Vitória, o Cais de Capuaba em Vila Velha e os Portos de Barra do Riacho e Ubu. Nos anos 70 e 80, com o investimento no sistema viário, ferroviário, no setor de infraestrutura e na expansão da indústria da construção civil, ascende o processo de expansão urbana através do deslocamento de pessoas de áreas rurais para as áreas urbanizadas. Além disso, o crescimento demográfico do município pode ser explicado pelo processo de erradicação dos cafezais engendrado pelo governo federal, quando grandes massas populacionais migraram para a cidade, assentando-se, principalmente, em Cariacica e Vila Velha que absorveram no período dos anos 70, cerca de 70% das migrações da região. (IJSN)

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“As reformas urbanas, realizadas em diversas cidades brasileiras entre o final do século XIX e início do século XX, lançaram as bases de um urbanismo moderno "à moda" da periferia. Eram feitas obras de saneamento básico e embelezamento paisagístico, implantavam-se as bases legais para um mercado imobiliário de corte capitalista, ao mesmo tempo em que a população excluída desse processo era expulsa para os morros e as franjas da cidade.” (MARICATO, 2001)

Na maioria das cidades com mais de 100 mil habitantes, o resultado deste processo – tão palpável no município de Vila Velha - está nas ocupações informais em áreas ambientalmente frágeis, como morros, encostas, margens de rios e mangues, mananciais, etc. Esse período também foi caracterizado pelo desenvolvimento de atividades de caráter urbano, impulsionados pelo mercado consumidor e pela transformação do modelo de exportador-cafeeiro, para uma “economia urbano-industrialexportadora e pela caracterização de Vila Velha enquanto cidade-dormitório”. (NOÉ, 2008)

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_REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARROYO, Julio. Bordas e espaço público: fronteiras internas na cidade contemporânea. Disponível em http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/07.081/269. Acesso em setembro de 2013 BARRETO, Paulo. A Rua. Gazeta de Notícia. Rio de Janeiro, 1905. BAUDELAIRE, Charles. O pintor da vida moderna. In: A modernidade de Baudelaire. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988. BENJAMIN, Walter. Walter Benjamin: sociologia / organizador: Flavio R. Kothe. São Paulo: Ática, 1991. CARERI, Francesco. Walkscapes: El andar como practica estética. Barcelona: GG, 2002. CERTEAU, Michel. Andando na cidade. In: Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Rio de Janeiro, n. 23, p. 21-31, 1994. DEBORD, GUY. Teoría de la deriva. Disponível em: http://www.ugr.es/~silvia/documentos%20colgados/IDEA/teoria%20de%20la%20deriva.pdf. Acesso em outubro de 2013. Corpos e cenários urbanos: territórios urbanos e políticas culturais / [Organizadores]: Henri Pierre Jeudy e Paola Berenstein Jacques ; [textos : Henri Pierre Jeudy, Patrick Baudry ... [et al.]. Salvador: EDUFBA ; PPGAU/FAUFBA, 2006. JACQUES, Paola Berenstein. Elogio aos errantes. Salvador: EDUFBA, 2012.

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_Ă?NDICE DE IMAGENS SequĂŞncia 1. Travessia e Trama. Fonte: Acervo Danilo Schelmman

p.8 e 10

Imagem 2. Intimo. Fonte: Pinterest, julho de 2014. <http://media-cache-cd0.pinimg.com/236x/d6/af/62/d6af621d28eab8d174607b600315f1ec.jpg>

p. 14

Imagem 3. Subjetividade. Fonte: Pinterest, julho de 2014. <http://media-cache-cd0.pinimg.com/736x/98/ce/c2/98cec26549f9c794ce481219c2299780.jpg>

p.20

Imagem 4. Guy Debord Fonte: CVL Nation, julho de 2014. <http://www.cvltnation.com/wp-content/uploads/2013/05/Situationist-International.jpg>

p.22

Imagem 5. Cara de paisagem Fonte: Pinterest, julho de 2014. <http://redlightbulbs.net/issue9/>

p.24

Imagens 6. Aquarelas Fonte: Pinterest (Fabienne Rivory), julho de 2014. <http://media-cache-ec0.pinimg.com/736x/57/81/fe/5781fe0cf9f800bc3dcad0508c2541b6.jpg>

p.26

p.28 Imagem 7. Curiosos Fonte: Pinterest (Herbert List), julho de 2014. <http://www.nocoshop.ru/timthumb.php?w=653&src=%2Fimages%2Fnews%2Fimages%2F26%2F2012 %2F11%2F06%2Fklassik_fotografii_herbert_list-16.jpg>

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Imagem 8. Nadja Fonte: Ça Depend Des Jours, julho de 2014. <http://cadependdesjours.com/wp-content/uploads/2014/02/image.jpg>

p.30

Imagem 9.Cartografias sentimentais Fonte: Pinterest (Mira Rojanasakul), julho de 2014. http://media-cache-ak0.pinimg.com/736x/e3/21/53/e321537d95cb3fd300ad2cca2e286fef.jpg Imagem 10. Cravado Fonte: Pinterest (Tyrone Dalby,), julho de 2014. http://media-cache-ec0.pinimg.com/736x/6a/56/38/6a5638c77668b4a1e7526f4df43fdacc.jpg Imagem 11.Palma da mão Fonte: Pinterest (Ashley Joseph), julho de 2014. http://sun.youinside.me/picture/i867/2966ac067965a226d9d9a8a5478feb47.jpg

p.32

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Imagem 12. Cortinas Fonte: Pinterest, julho de 2014 http://www.espaciobellavista.cl/wpcontent/uploads/2013/05/943697_172127196278787_2136991705

p.40

_n.jpg Imagem 13. Fresta Fonte: Acervo pessoal

p.44

Imagem 14. Água sobre areia Fonte. Acervo Danilo Schelmman

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Imagem 15. Margem total

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Imagem 16. Mapa cognitivo

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Imagem 17. Frรกgil: Praia do Ribeiro Fonte: Google Maps, julho de 2014. <maps.google.com> Imagem 18. Nobreza: Morro do Moreno Fonte: Monte do Moreno, julho de 2014. <http://www.montemoreno.com.br/admin/upload/realiza_01.jpg> Imagem 19. Hiato: Embaixo da ponte Fonte: Google Maps, julho de 2014. <maps.google.com> Imagem 20. Barreira: Prainha de Vila Velha Fonte: Acervo pessoal Imagem 21. Janela: Prainha de Vila Velha Fonte: Acervo pessoal Imagem 22. Vulto: Centro de Vila Velha Fonte: Google Maps, julho de 2014. <maps.google.com> Imagem 23. Posse: Penitenciรกria de Vila Velha Fonte: Acervo Pessoal Imagem 24. Serenidade Fonte: Google Maps, julho de 2014. <maps.google.com> Imagem 25. Beirada: D. Joรฃo Batista Fonte: Acervo pessoal 94

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Imagem 26. Conector Fonte: Acervo pessoal

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Imagem 27. Chaga Fonte: Acervo pessoal

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Imagem 28. Conector Fonte: Acervo pessoal

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Imagem 29. Catraieiro e baía Fonte: Acervo pessoal Imagem 30. Catraieiro Fonte: Acervo pessoal Imagem 31. Píer Fonte: Acervo pessoal Imagem 32. Inacessível Fonte: Acervo pessoal

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Imagem 32. Travessia Fonte: Acervo pessoal

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Imagem 33. Marca Fonte: Acervo pessoal

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Imagem 34. Ruela Fonte: Acervo pessoal

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Imagem 35. Túnel Fonte: Acervo pessoal Imagem 36. Barras Fonte: Acervo pessoal

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Imagem 37. Ponte de Capuaba Fonte: Acervo pessoal

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Imagem 38. Margem esquerda Fonte: Acervo pessoal

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Imagem 39. Transito local Fonte: Acervo pessoal

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Imagem 40. Divisão Fonte: Acervo pessoal

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Imagem 41. Sub-ponte Fonte: Acervo pessoal

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Imagem 42. Sombra Fonte: Acervo pessoal

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Imagem 43. Píer Fonte: Acervo pessoal

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Imagem 44. Alagados Fonte: Acervo pessoal

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Imagem 45. Orla A Fonte: Acervo pessoal

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Imagem 46. Orla B Fonte: Acervo pessoal Imagem 47. Layers sobrepostos

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Imagem 48. Sequência desejos p.65-66 Fonte: Perfil em mídia social da Associação de Moradores do bairro Dom João Batista, dezembro de 2013, < https://www.facebook.com/associacaodemoradores.domjoaobatista.7?fref=ts> p.74-76

Imagem 49. Sequência Billings Fonte: Urbanização da Billings, dezembro de 2013, <http://infraestruturaurbana.pini.com.br/solucoes-tecnicas/14/imagens/i331375.jpg> Urbanização da Billings, dezembro de 2013, <http://infraestruturaurbana.pini.com.br/solucoestecnicas/14/imagens/i331379.jpg> Fonte: Urbanização da Billings, dezembro de 2013, <http://infraestruturaurbana.pini.com.br/solucoes-tecnicas/14/imagens/i331372.jpg> Fonte: Urbanização da Billings, dezembro de 2013, <http://infraestruturaurbana.pini.com.br/solucoes-tecnicas/14/imagens/i331397.jpg> Imagem 50. Diretrizes

p.78

Imagem 51. Sequência Baía de Vitória e Arredores Fonte: Acervo Instituto Jones dos Santos Neves, dezembro de 2013

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