Charles Gavin mergulha no rio da música do Pará
Em programa que estreia nesta quinta no Canal Brasil, pesquisador investiga a cena local Publicado:10/01/13 - 7h00 Atualizado:10/01/13 - 7h00
RIO - A série de programas “Brasil adentro — Música do Pará” (que estreia nesta quinta, às 20h, no Canal Brasil) nasceu devagar, como um rio. Seu diretor, curador e apresentador Charles Gavin começou a se dar conta da música paraense no fim dos anos 1990, com os toques que Hermano Vianna dava em seus textos e programas de TV como “Brasil legal” e “Central da periferia”. Depois, ao ler um artigo de Nelson Motta sobre os músicos da região, a ideia ganhou força. Com as conversas com o produtor Geraldinho Magalhães, que o apresentou a discos de artistas como La Pupuña e Mestres da Guitarrada, o projeto foi formatado e agora desemboca, caudaloso, amazônico, em cinco episódios que mapeiam essa cena, em sua diversidade. — Demorou um tempo pela dificuldade que a música do Pará tem para vencer essa barreira, esse paredão que existe em torno do eixo Rio-São Paulo — avalia Gavin. — A música daqui se impõe de tal forma que dificulta a chegada de outras coisas. E as outras coisas são muitas. Em sua investigação no Pará (tocada em parceria com a diretora Paola Vieira), Gavin encontrou uma diversidade sobre a qual aplicou cinco recortes, um para cada programa. A estreia, hoje, trata do carimbó, matriz maior da música paraense. Na sequência, vêm “A guitarrada”, “A MPB que vem do Pará”, “O brega e o tecnobrega” e “A música do Pará hoje”.
— No primeiro programa, conseguimos explicar um pouco a formação cultural paraense, sobretudo com a ajuda do Arraial do Pavulagem (grupo que trabalha na pesquisa e manutenção das tradições paraenses) e de Manoel Cordeiro (produtor de artistas como Beto Barbosa nos anos 1980) — explica Gavin. — Porque eles têm tudo que o resto do Brasil tem: bossa nova, choro, Jovem Guarda, MPB. Mas têm a particularidade de estarem virados para o Caribe. Você pega um táxi em Belém e o motorista está ouvindo zouk numa rádio caribenha. Isso dá um mistura completamente original. O programa tem o patrocínio da Secretaria de Estado de Comunicação do Pará — uma das responsáveis pelo processo de valorização nos últimos anos da música paraense, com iniciativas como o “Terruá Pará”, shows coletivos que apresentam um panorama da produção local. Há cenas, aliás, dos artistas no palco do “Terruá Pará” — música para ilustrar o que está sendo falado nas entrevistas, feitas num cenário que mistura a estética crua e exuberante dos cartazes das ruas de Belém e caixas de som das aparelhagens (a direção de arte é de Raul Mourão). Falando e tocando, passam pelo programa artistas de diferentes gerações, como Alípio Martins, Dona Onete, Lia Sophia, Trio Manari, Felipe Cordeiro, Félix Robatto, Mestre Solano, Fafá de Belém, Mestre Vieira, Pinduca, Paulo André Barata, Pio Lobato, Gang do Eletro e Gaby Amarantos. ‘O Pará é um caldeirão poderoso’ — Convenci o Canal Brasil de que os programas teriam que ter 50 minutos, e não 25. Há muito conteúdo ali, conta Gavin. — Você tem o Manari, três doutores em percussão. E Fernando Belém, um sujeito engraçadíssimo, com uma visão artistica muito interessante. Vão da música mais popular à mais erudita. Waldo Squash, da Gang do Eletro, acabou de fazer um remix para o Pet Shop Boys. Pinduca eletrificou o carimbó na década de 1970. Mestre Vieira traz Jovem Guarda, choro, surf music. O Pará é um caldeirão poderoso, um liquidificador atômico que na mão de cada um gera uma música única.
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