Talentos Regionais
Artes Literárias Causos MEDROSO José Campos de Castro Filho Este fato se deu nos anos setenta quando ainda era jovem e morava na Fazenda Capim Fino. Historia essa que não gosto de contar, pois volto para um passado distante, de vida sofrida com os trabalhos na lavoura de café. Como era um jovem de família humilde o meio de locomoção se fazia no lombo de cavalo, transporte utilizado para se deslocar à cidade para estudar no período da noite. Certo dia, meu cavalo “Galante“ – era esse seu nome - estava muito cansado devido ter trabalhado na lida, então resolvi poupá-lo da viagem, substituindo-o por um outro animal, no caso a égua Serena, presente do meu tio Doreto. Pois então, tomei banho, me aprontei, encilhei a égua e lá fomos para a cidade, deixando para traz um potrinho de seis meses. Terminada as aulas resolvi passar pela venda do Valdomiro onde comprei uns doces para minha Mãe, tomei uma dose de cachaça para, só depois, iniciamos a volta à fazenda. Lá íamos pela escuridão da estrada, por mais de uma hora, visto que teríamos de percorrer mais de uma légua de distância, quando, ao avistar a casa da fazenda, já na porteira de entrada, bem próximo a cocheira, ouvi um barulho imenso que muito me assustou, fato esse que Serena nem se deu conta. De repente, bem a minha frente um vulto surgiu, como se fosse uma alma penada, como aquela figura que, crianças, ouvíamos nas historias de assombração contada pelos mais velhos, nos finais de tarde, em rodas de prosa à beira da tulha. O susto foi tão grande que não pensei duas vezes para sacar o revolver 22 que trazia na cabeça do arreio e disparar três
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tiros que ecoaram no vazio da noite... Logo a seguir, vindo em meu socorro, após ouvir os tiros, o empregado de meu pai perguntado do por quê dos tiros e eu, tremendo nas pernas, apavorado com a alma penada que imaginava ter visto contei-lhe do acontecido. Mal terminara de falar ouvi meu pai gritando: você não atirou em alma penada alguma, seu medroso... Você acabou de matar o potrinho que vinha ao encontro da mãe para mamar. Ainda hoje, tantos anos depois, quando visito a fazenda a lembrança que me ocorre, e me desassossega é essa, a de ter atirado por engano num animal que já era da estimação de todos nós.
O CONFISCO DA DENTADURA DO ZÉ DA ÉGUA José Carlos Santos Peres Eu mesmo, meu senhor, não gosto de ficar contando esse causo aos turistas que chegam todo ano em busca dos atrativos – que nem sei quais são – de nossa cidade. O povo daqui não gosta muito desse meu falatório. O mané da Carne, inclusive, vive dizendo que com essa minha língua solta acabo depreciando o povo local. Mas o que fazer se os turistas querem saber do que eles chamam de fatos pitorescos? E ainda me dão alguma gorja, tiram foto de minha pessoa e colocam num tar de feicibuque dizendo ser eu uma pessoa folclórica. Esse causo que tanto aborrece o Mané da Carne tem a ver com a nossa primeira dama e a égua do amigo Zé da Égua... E para provar que estou falando a verdade eis aqui esse recorte do jornal do Dioclesiano, aquele jornalista puxa-saco do prefeito. Leia o senhor mesmo, por favor: - “Perdeu-se, por volta das 23 horas do último sábado, na praça pública, uma dentadura seminova, tamanho BC – Boca Grande -. Pede-se a quem a encontrar que entre em contato com Eleonora Castanheira, proprietária do citado artefato, e que vem a ser a Primeira Dama do município. Gratifica-se com um cargo público na prefeitura e mais um quarto de leitoa, por ocasião do natal, a quem fornecer qualquer pista que possa levar à perereca”. Esse fato aí teve e está tendo grande repercussão, até porque, quem não quer uma boquinha na prefeitura e um torresminho no natal? Todo mundo saiu vasculhando os quintais, as beiras dos rios em busca da dentadura da mulher. Vai que algum bicho carregou a dentadura para outro local... Toda a cidade foi vasculhada. O jardim da praça, então, totalmente revirado. Confesso ao senhor que fiquei deveras chateado com a situação da dona Norainha. Eu gosto dela, não porque ela, como responsável pela secretaria do Bem Estar Social me libera mensalmente uma cesta do Fome Zero. É que, para uma mulher na posição dela, de Primeira Dama, não fica bem apresentar-se
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em público sem os dentes. Soube inclusive de sua ausência na abertura da Festa de Peão, quando estava tudo certo para a castração do seu bode de estimação, o sacudo, ele que já está velho, não vem dando no couro e o veterinário resolveu fazer a castração, sei lá eu por qual motivo porque, cá entre nós, se esse fato de não estar dando no couro fosse motivo para tanto nós todos que de bode temos alguma coisa também estaríamos aí, na linha da faca. O senhor não acha? Noroinha não teve como consolar o sacudo, no pior momento de sua vida. Não deve ser legal para um bode perder o seu saco. Para ninguém, aliás. Não é mesmo? A Primeira Dama também não compareceu à inauguração dos novos tocos que o prefeito mandou colocar na beira do campo de bola, e com certeza não estará na inauguração de mais uma bica d’água na praça central. Essas obras todas aí do prefeito, é bom que se diga, faz parte do projeto que ele chama de PPF, que quer dizer Projeto Pisando Fundo. Boa parte da verba vem do governo para obras de incentivo ao turismo, mas sabemos lá quanto do dinheiro vai mesmo para as benfeitorias... Eu, se fosse vereador mandaria verificar essas contas. Soube até que ele construiu com o dinheiro um mata-burro na entrada de sua fazenda. Mas, para mostrar que não sou só do contra, também pediria para o prefeito separar algum e investir na dentadura de sua esposa, afinal, como já disse, ela é a representante principal da cidade. Poderia ser no modelo de concessão, renovando o processo todo ano, para, ao final do mandato os vereadores decidirem pela devolução ou não da peça. Eu até fiz essa sugestão ao vice-prefeito, o Nerson Sentadinho, mas ele foi do contra. Ah, por que Sentadinho? Dizem, isso eu não posso garantir, mas dizem que ele senta... De minha parte não tenho nada com isso. Pouco me importa se ele senta, sentou ou pretende sentar. Não é mesmo? É uma questão de fórum e de furo íntimo dele. O Mané da Carne já pensa diferente. Ele acha que a Câmara deveria abrir uma CPI para apurar, porque ele entende que um furo, sendo de homem público, é do interesse da população. O que o senhor acha? O Zé da Égua, sim, é que está enrolado com essa his-
tória toda do desaparecimento da arcada postiça da dona Noroinha. Inclusive, no domingo, eu estive no Bar do Zelão, mais conhecido como Bar do Zelão, para comprar um frango assado e todos lá diziam que a dentadura da mulher está na boca do Zé; outros dizem que está mesmo é na boca da égua. Vai saber... A égua do Zé, não sei se o senhor está sabendo, é muito famosa por aqui, inclusive foi homenageada na Câmara com o Título de Benemérita Pelos Relevantes Serviços Prestados aos jovens da cidade... Não falo por mim, que nunca precisei dos serviços dela, mas dizem que a égua é de uma doçura que só vendo. Maaansssinha... Hoje está velha e mal cuidada pelo Zé, tanto que o Dioclesiano escreveu editorial no jornal dizendo da necessidade do amigo dar uma banho na bicha. Mas quando jovem, não havia cupinzeiro na cidade que a ela não tivesse dado apoio. Quem não está gostando muito da égua é a turma que frequenta as moitas do jardim, lá onde a Noroinha perdeu a dentadura. É que o Zé a deixa solta no local para pastar o capim gordura dos canteiros. E de vez em quando ocorre algum acidente, como, por exemplo, a égua mijar em cima de algum casal ou mesmo lamber ou morder a bunda de alguém. Ela não enxerga direito e o sujeito tá lá entretido em seu afazer e vem a égua e sorta uma lambida daquelas no traseiro do peão. A Câmara já discutiu o assunto pedindo ao prefeito alguma providência. Mas ele, até para não se desentender com o Zé, que é o presidente do seu partido, e tendo o tino comercial que tem, acabou dando mais força à égua. Agora o prefeito resolveu oficializar de vez aquele local como o primeiro motel ao ar livre do Brasil. Tipo assim, como me disse um turista, de draive égua. O doutor Castanheira dividiu o jardim em duas alas e colocou uma placa com os dizeres “Motel Arre Égua” no local. No lado norte o aluguel das moitas custa dez Reais a hora, dinheiro que deve ser entregue ao guarda Gumercindo, cunhado do prefeito, que é o Controlador das Finanças do Município. Já no outro lado, onde a égua tem livre acesso, o aluguel cai para cinco Reais, com direito a um vidrinho de álcool, para o caso da égua atacar. O bom do lado norte é que o prefeito garante a limpeza frequente
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das moitas, com a eliminação dos formigueiros. Mas esse caso aí da dentadura da dona Norainha vai ser resolvido brevemente. A Câmara, finalmente, convocou a primeira dama, o Zé e a Égua para uma reunião, tipo assim, de acareação. O Zé jura que ganhou a peça de uma senhora que com a morte do seu marido resolveu fazer a doação do artefato, mas ela não quer aparecer. Então ele não tem como provar. Sendo assim, conforme está lá no Requerimento do autor da propositura, se a peça encaixar na boca de Noroinha, mesmo a dentadura não sendo de sua propriedade, o bem será confiscado, sob a condição de Interesse Público, o que está muito certo embora, cá entre nós, a questão que deveria ser discutida é a de saber o que a prestimosa dama fazia naquele jardim às 23 horas de um sábado. Não sou fofoqueiro, não. Mas o guarda Gumercindo anda dizendo por aí que naquele dia a melhor moita do jardim, a Moita Ouro, fora reservada por um assessor da prefeitura, a pedido da Secretaria Municipal do Bem Estar Social. Sei não, mas acho que “nesse caroço aí tem angu”.
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Contos MAIS UM CONTO DE UM JOÃO E UMA MARIA Clarissa Thomaz Rolim Almenara Era uma vez um homem: João. Direito, como tantos homens em trens na segunda-feira. Cordial, com seu meio sorriso e um bom dia para qualquer estranho ou conhecido. Simples, como um pão com manteiga. Satisfeito, como suspiro após um copo d’água. E ia João no seu caminho de todo dia, que era o mesmo há muito tempo. Olhava para o chão, e perdia-se nos pensamentos próprios de João: a mãe, a roseira, o conserto da calha, o preço da batata, um botão verde para sua camisa, o tempo que ia chateando-se em nublado. E era João sozinho, como puxadores de gaveta de um puxador só, como sol em dia sem nuvem, como eu. Esperava João que os dias fossem iguais, porque era satisfeito. A vida era o roçar da brisa morna nas folhas de um pessegueiro. Por ser tão suave e pacata, esquecia que era imensurável e livre e ampla... e que corria campos de trigo, que embalava flores e lençóis, pássaros e cabelos de raparigas. Mas por que lembrar-se de lençóis e flores e raparigas, quando tudo o que se almeja é um pessegueiro? E ia João trabalhar na sua pequena oficina, consertando máquinas de costura para senhoras meticulosas. Era um ofício importante, afinal. A cidade não podia desfilar por aí com bainhas repuxadas e pences retorcidas. Oras! Onde já se viu! E num canto, emprenhava-se a arrumar correias e apertar parafusos, assobiando uma modinha e entretendo-se a ouvir trechos de diálogos alheios: “mas as dores continuaram, eu disse pra ele que é coisa da idade...”, “coitado, quer dizer que a mulher lhe enfeitou a testa? Mas eu sempre disse que aquela Teresa não valia nada...”, “você sabe, aqueles terrenos custam os olhos da cara!”, “claro que meu pai não sabe...”. Assim, ia o dia: sereno, sereno. Mas como nada neste mundo é certo, e toda trajetória tem lá seus contornos e bruscos imprevistos, João, o homem de sempre, seria surpreendido por ninguém menos do que
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a vida. Aconteceria então, o acaso, o destino, ou o dedo de Deus (a gosto da crença do freguês), no ponto em que a linha deixa de ser linha, a semente vira broto, e João deixa de ser o de sempre para ser o de outro tempo. Portanto, era uma vez Maria. Tudo o que é triste chora. Por isso, o céu cinzento chove. E enquanto ele se desfazia em lágrimas por motivos que dariam outra história, Maria entra afobada na oficina de João. Ele saudou-a com um aceno de cabeça e um sorriso inteiro. “Ai, moço... incomodo? A chuva está forte...” “Não, não. De jeito nenhum. Fique o tempo que precisar. O que não pode é a moça tomar chuva e apanhar essa friagem.” E tinha Maria a inquietação, o movimento. Se João era a brisa, Maria era o vento atrevido que levanta as saias das meninas, que bate portas, que vira as páginas do jornal quando a gente ainda não terminou de ler. Assim, João, no seu silêncio, olhava Maria. As mãos que tamborilavam ao ritmo de uma canção desconhecida, o rosado das unhas, os cílios grandes (se piscasse rápido e várias vezes, até era capaz de que fizesse um ventinho), a ponta do pé que chutava o nada. Ela pôs-se em pé, ajeitou os grampos e sorriu: “Olha, moço! Parou a chuva. Já dá pra ir.” “Não,” disse João espantado com a própria prontidão e veemência, “é que... está garoando ainda. Espere passar. A moça não atrapalha em nada, não.” “Bem que eu queria... mas não posso. Tenho que passar na casa da minha madrinha ainda. Bondade do moço em se importar.” E esse foi um dos momentos em que o agora-ou-nunca obriga a gente a pensar rápido: “Então a moça leva meu guarda-chuva... pode devolver amanhã...” “Ó, isso eu não posso fazer, vai que te faz falta depois...” “Imagina, eu insisto. Pode levar.” “Se o moço garante que não vai fazer falta, eu aceito.
Trago de manhãzinha mesmo.” “O que é isso... não tem pressa, não.” E lá se foi Maria, levando com o puladinho de seus passos o guarda-chuva e a quietude dos dias de João. Naquele final de tarde, foi João para casa sem pensar na roseira, na calha ou no botão. Seu suspiro tinha um quê de dor e insatisfação de quem está passando vontade. Ele começou a desejar os campos de trigo, as flores, os lençóis, os cabelos das raparigas. E nunca mais foi sozinho. Era uma vez uma menina que terminou de contar, despretensiosamente, a história de João. Direita, cordial e satisfeita, esperando sua vez de não ser sozinha, nunca mais.
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O DESAMOR DE MARIA DAS DORES José Carlos Santos Peres I - a carta mastiga o coração do homem No que a moita tremeu por detrás do bambuzal houve corre-corre de nambus buscando araucárias sob cócegas de um vento que quando sopra do leste anuncia chuvas, dessas que lambem encostas. Quisera ir com os pássaros, e não ficar ali ouvindo o pio da coruja rasgando mortalha sobre o cupinzeiro, no fundo da horta. Descrente da vida, desde quando das Dores fincou nos 18 por 24 do prego o recado: - “Tomo da boleia do destino, que não sou de parasitar. Fique com os meus nadas. Não me sei; a partir de agora sou do sem... Mulher não há de lhe faltar. Tendo rapadura e farinha acomoda-se o estômago de qualquer fêmea. O amor vem no costume”. Viu os pássaros arribando, assustados com a sua presença. Conhece os caminhos do vento. Aquele mandava recado: do leste é o de lamber. Pra donde? Era preciso saber. Deu tento a égua, Princesa! Agora tão descuidada, desde quando das Dores chegou. Antes era no dengo, velha companheira. Acostumara-a no trato, no banho do rio, na escova diária... II - a solidariedade Parado no batente descascado da venda. Tarde indo-se na algaravia entristecida dos pássaros. Ficar pajeando os gansos em evolução, pontinhos se desmanchando no mais alto; garças estendendo lenços brancos, alumiando a quase-escuridão. Mania, essa. Enquanto das Dores preparava o virado de feijão matava as horas no fundo do quintal observando a tarde se ajeitar nos ombros das montanhas. Recolhia-se com os pássaros, não sem antes abastecer a lamparina com querosene, dar corda ao velho relógio e se aninhar, menino, no colo perfumado da mulher. Agora, entre velhos e silenciosos amigos, picando fumo e tomando cachaça. Amizades de muitos anos, dessas feitas
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de silêncio, da não precisão das falas. Da cumplicidade nascida na lida diária, no dividir o mesmo gargalo e as mesmas angústias. Maria das Dores de há muito lhe dava chifres. Coragem de contar, ninguém. Que ele é de buscar voo de codorna antes da ave despencar num de repente, para acoitar. Então não haveria um que fosse dos dali presentes a gracejar com das Dores. Não que ela não se oferecesse em palmos de pernas; ancas em trejeitos quando a caminho da venda para a farinha, o querosene, o fubá... Tudo na caderneta para pagar depois, que ela conferia debruçada sobre o balcão, os seios nervosos... Mas ninguém olhava mais do que se podia. Chifre houve e veio de outras bandas. Gente dali, não. Medo e respeito. Que compreendesse, pois, o silêncio dos amigos. A conversa mastigada pelas costas quando ele se havia pela venda para o carteado e a pinga; o endereço da prosa sempre batendo na porteira. III - a vingança na ponta do punhal Esfolar o desaforento, espalhar os pedaços pelo campo, aos urubus... E marcar a ferro, como se marcam vacas, antes de soltá-la ao mundo. Carregar na cara a cicatriz de puta, para que o espelho a lembre, todas as manhãs. Desaforo! Nunca homem de levar para casa, sem mais nem menos mais, um quê que fosse... Por menos, muito menos, afundou o punhal em quantos se puseram no contraditório. Agora ali, sem ter como fazer... Pediu um pedaço de toucinho, retirado do fio preto em moscas estendido entre caibros. Raspou com o punhal os bichos encalacrados na maturação da peça. Fazer vingança! Todos os três ou quatro da venda acompanhando o ritual: - Aqui, os zóios da desgraçada. Perfurados assim, ó. Assim, ó!!! Pra mode nunca mais nem ver gavião levantando voo... Os peitos? Dilacerados! Trucidados, os seios que se ofereciam nervosos sobre o balcão... O punhal, repetidas vezes. Com violência, com raiva, com desespero... Salgou com cachaça e dividiu os pedaços. Ninguém arredou.
IV- o mascate No caminho da volta o comboio com as lembranças: estava na ausência quando ela chegou com umas coisas de dengo e de deixa ficar e tomou conta do terreiro; tratou das galinhas, areou as panelas, caprichou no café, no virado de feijão, enquanto ele observava os pássaros... Na cama estava a serviço, sempre. O calor no lençol, o perfume que era só para ele. Onde teria aprendido aqueles trejeitos? A dança na penumbra com o corpo banhado no fiapo azulado da lamparina; devagar com as mãos, com a boca queimando; o entorno, a ribanceira de suas curvas... Fera quebrando gravetos, acuada, molhada de desejos. Tinha os pássaros, o monjolo mastigando silêncio e só de vez em quando o mascate passava com uns panos, espelhos, perfumes, lenços de seda, falando sem parar de um lugar muito distante onde daquilo tudo tinha aos montes, que ela não era mulher daqueles fundos, com todo respeito ao peão. E se falava, falava para o bem dela... E ficava um pouco mais, para descansar as pernas, um copo de leite de cabra com pedaço de bolo de fubá, que sua senhora tem mãos de fada para cozinhar, senhor. Pois foi a lábia dele e suas miçangas... Ah, se foi! Pensou alto, carregando a morte no lombo da égua e a chuva do leste nos calcanhares, assim que deixou a venda. Mas há que desapear essa morte para não morrer dela, que o mardito jamais tomará daquele rumo novamente. A fama de depenar codorna no exato momento do declive da ave corria longe. Ele haveria de saber... Acostumar-se novamente com a ausência no coração, com o descompasso das horas, a companhia da égua Princesa... Ficar por ali, alimentando galinhas, cuidando do quintal; dividir o silêncio com os companheiros na venda e esperar pelas chuvas de todos os dias. Até quando? Esfolar o desaforento e espalhar seus pedaços pelo campo. Marcá-la a ferro como se marcam as vacas... Não sem antes, talvez pela última vez, percorrer a penumbra daquele corpo e deixar-se nele, desesperadamente.
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Arre com os pensamentos que insistem... Sabe que não haverá como se livrar das lembranças. V- o negócio é calar o pio Quando apeou um relâmpago incendiou o quintal... Trovão reverberando grutas, riachos e cavernas. Empurrou a porta. Dentro, o bafo do silêncio pesando. A chuva lavando, lambendo o barranco, atrás da moita... Os nambus encolhidos entre galhos do bambuzal. O quintal morto, encharcado. Grilos e sapos e o pio da coruja. O pio da coruja rasgando mortalha. A ave fora criada nos cuidados de das Dores. Cúmplice das artimanhas dela. Com certeza, em suas ausências, velava o amor dos dois. Agora chora ausência com seu mau agouro. Procurou-a na dimensão do possível. O pio mais insistente, mais presente, mais dentro, ressoando em seu peito. Sobre o cupinzeiro, o olhar em vidro: faiscando... Afastou-se, mirou no olho e puxou o gatilho. O tiro ressoou noite afora. Bando de pássaros-pretos sem rumo, em disparada. No chão, o que restou dela... Por um momento pensa em das Dores ali, estendida. A cabeça estraçalhada... Um nó amargo sobe, aperta-lhe o peito. Afasta a chuva dos olhos. Aos poucos o silêncio retorna. Apenas os grilos e a cantoria dos sapos pontuando a noite. Apanha das Dores, acaricia com raiva as penas da ave... Não sabe se aquele foi o seu último tiro. Olha para a arma. Ela poderia acabar com o seu desespero... Sorri, entre dentes. Por um momento apenas... Arre! Caminha até a divisa da cerca, com as mãos remove a terra molhada para acomodar a ave. Depois, em pé, benze-se. Maria das Dores está ali, enterrada, para sempre. Diz e sai, cambaleando. VI - cada um se vira como pode Relâmpagos acendem velas pelo quintal. O vento do leste sopra mais lentamente, perdendo força... À porta do casebre ele para. Volta-se. Princesa quieta, molhada, cabeça baixa...
Então, resoluto como não estivera desde quando das Dores tomou seu rumo, resolve: de manhã, abriria uma porta maior no casebre, que a égua não pode mais ficar exposta ao tempo.
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SAUDADES DE MEU VELHO PAI... Rubens Calazans Luz Filho A estrada, uma reta que não tinha fim... Músicas cantaroladas e decoradas, todas contavam nossas histórias... Sono... Nas curvas do teu corpo capotei meu coração... Não entendia nada disso e ficava pensando, como é que se capota o coração na curva do corpo??? Devia ser um corpo bem grandão, eu pensava, mas meu velho pai explicou... –Vai vendo... Quantas lanternas na traseira têm o próximo caminhão??? Sempre eram mais que a nossa imaginação... Não tinha ar condicionado, só no frio que aquele calor do motor aquecia a boléia principalmente quando a trava da tampa do motor soltava. A alavanca do câmbio ficava lá atrás, era uma ginástica pro meu velho pai mudar de marcha, quase que tinha que sair do banco, não tinha tantos restaurantes, muitas estradas de terra, aos montes de barro no para-barro só barro, além de saudades, claro!!! E essa saudade persiste até hoje... Troca de pneu com o chicão, que enorme e pesado.... Engata a reduzida pra subir aí... Será que sobe??? E sempre subia... E quando quebrou o cardã!!! Meu velho pai, improvisou um eixo com uma vara de guatambú... Chegamos em casa e no dia seguinte o caminhão tava lá pra cima, em frente a casa no Seo Rubens mecânico. Vai vendo, você não vai acreditar, mas pra sair do barro, foi forçado tanto o cardã improvisado que a vara foi torcendo, foi torcendo... E durante a noite, o caminhão ficou com a marcha engatada e enquanto a vara foi “distorcendo”, “distorcendo” o caminhão foi andando de ré, e foi andando, andando até chegar lá em cima... Que susto... – Vai vendo... Minha vida é andar por este país.... O rádio continua tocando... E aquele barulhão do mercedão pela estrada??. Na subida você me aperta, na descida nóis se acerta... Porque se a
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coroa for boa, o pinhão não ronca. E aquele ronco do motor pela madrugada à dentro?? - Vai vendo... Tem até aquela vez que encontramos a loira com uma camisola branca que perambulava pelas estradas pedindo carona. Que arrepio me dá só de lembrar. Mas não demos carona não, isso não pode. Deve ser “visagem” (assombração) das estradas. Mas que meu pai já deu carona pra um caixão de um defunto sem caixão lá da Várzea, isso deu. Foi pedido do prefeito Zeca, não tinha como não fazer esse frete, mas o pior foi tirar o dito cujo da carroceria, ninguém queria ajudar. É “visagem” dizia o Wagno que tinha experiência com coisas do outro mundo. Até já tinha caído numa grota com uma carga de cavalos, quando deu de cara com uma “visagem”, a tár de mula-sem-cabeça soltando fogo pelas ventas, na estrada que vai prá fazenda Capim Fino do Zé Campinho... - Vai vendo... Depois aquela do assalto quando dormia, depois de descarregar o caminhão, no Ceasa em São Paulo. Correu atrás do bandido por todas as ruas do lugar. Subiu o viaduto, virou as esquinas, passou pela marginal, atravessou o Tiete, a nado, atrás do mardito, mas meu velho pai conseguiu recuperar o dinheiro do frete... ufa!!! Ainda bem, com a ajuda do Jucada essa foi fácil, ele aprendeu a nadar no rio Parmitá. - Vai vendo... Esse meu velho pai puxou o pai dele, que por coincidência é meu avô. Aquele que começou com tropa de mulas, depois com carro de boi e por fim fazendo frete com carroça puxada por dois cavalos na estrada da Ribeira, era carroça basculante. Nunca vi uma, mas na minha mente ela aparece inteirinha, como meu avô falava. Meu avô, conhecido como seo Lulu, foi quem arrumou o cardã com vara de guatambu ali em cima, mas quem cortou a vara foi nhô Cride Lara, eita sujeito bão, daqueles de arrancá pica-pau do toco. Esse nhô Cride Lara fazia monjolo de uma árvore só e quando movimentava o bicho pra carregar no caminhão, cada tombo que dava na tora a terra tremia e até tocava o sino da igreja: béim, béim, béim...
- Vai vendo... Cortando a noite, um farol solitário, um ronco forte que se ouve bem distante... O rádio continua tocando... E o Pedro Paciência acabou de amarrar a carga. Ligou o caminhão, aqueceu o motor, deu carona pro Tonhão e sumiu na estrada. Todo dia a mesma rotina, tudo com paciência porque devagar se vai ao longe ele sempre falava. Nunca bateu o caminhão, nunca perdeu um motor, nunca perdeu um pneu, eta paciência danada. Também sempre falava que o mais importante era bater o pneu, eu não sabia por que, mas dei minhas batidinhas no pneu, deve ser assim pra ser caminhoneiro, eu pensava. Até hoje, sempre que posso, pego um martelo de madeira e dou umas batidas no pneu. É legal, descobri até que dá pra sentir quando o pneu ta meio vazio. Deviam colocar um martelo pra funcionar junto com o rodoar, daí o martelo avisava quando era pra encher o pneu, essa idéia foi do Sérgio Leitoa, caminhoneiro contador de causos, mas só falava verdades... - Vai vendo... Não tinha tantas pontes sobre os rios nem asfalto nas estradas... O rádio continua tocando... Mas o que me deixava encafifado mesmo era o Branco dormindo na estrada. Saía de tardezinha, tudo preparado, andava uns 20 quilometros e parava pra dormir na boléia. Diziam que ele gostava de dormir com o rádio ligado e só naquele ponto da estrada que o rádio pegava. A rádio das madrugadas. Mas o Tonho Cibalena, sempre forte e saradão, não devia dormir na estrada, mas dormiu porque tava com pneumonia e não conseguiu seguir a viagem. Deus o tenha, coitado. Esse sujeito era dos bão... - Vai vendo... Mas caminhoneiro sofre. E como sofre. Meu pai teve o pneu do caminhão furado por bala, que não era pedida, porque era pra chegar ali mesmo. Verdade, por bala. É que o Chico Bala falou que foi fechado por ele. Acho que o Chico tinha bebido e começou ver coisas, daí, deu os tiros, e como ele mesmo diz, os tiros de macho fazem: pau, pau, pau... Sempre são três seguidos. Ainda bem que foi só no pneu. Mas afinal, quem pagou o pato mesmo, isto é o pneu, foi o meu velho pai...
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- Vai vendo... Mas difícil mesmo foi quando sumiu a carreta do meu velho pai e ele junto. Pegou um frete dos bão de Apiaí da Ribeira prá Buenos Aires. Mandou até pintar no pára-choque: largo total: 20 m e frenos a aire. Meu Deus, ai foi difícil mesmo e tá difícil até hoje. Ninguém sabe, ninguém viu. Ainda estamos procurando. Lembramos dia e noite. Muita reza. Agora só resta a esperança, só perguntas sem resposta. Toda a carga sumiu junto: as histórias, as poesias, os contos, as risadas, os churrascos, os boleros, os tangos, as modas de viola, as caminhadas pela noite, tudo se foi... Nesta longa estrada da vida vou correndo e não posso parar.... O rádio continua tocando... Ainda lembro quando meu avô transportava porcos na caçamba do basculante, algodão, barbante, arroz, feijão, cenoura, agrião, batata, macarrão... - Vai vendo... Ainda lembro quando meu pai transportava máquinas de escrever “olivetti” (daquelas que ficaram esquecidas no canto da sala do Zé Carlos, jornalista famoso e radialista dos caminhoneiros no Vale do Paranapanema), jornais, revistas, facas, facões, discos, canivetes, violões... - Vai vendo... Ainda vejo meu filho transportando no pontocomburaconabr: motos, bites, CPUs, digitais, TVs, notebookes, bicicletas, disk man, colchão de ar, MP3, CD e celular... E eu??? - Transportando sonhos....
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Crônicas ENFARTES ECOLÓGICOS Eduardo Irineu F. Junior Rios podem enfartar. Estranho esse conceito. Mas é. Quando um rio recebe mais carga orgânica do que é capaz de eliminar, ocorre um fenômeno chamado eutrofização, causado pelo excesso de nutrientes (geralmente fósforo e nitrogênio). As algas se proliferam numa explosão de vida, consomem todo o oxigênio e acabam morrendo e matando a vida existente. Simplificando, o rio engorda, engorda, engorda e enfarta. Simples assim. É curioso pensar que as mesmas leis regem todas as coisas, dos corpos humanos aos corpos de água. Não é possível funcionalidade sem equilíbrio. Mas o problema das corpos humanos é que somos muito mais que seres vivos que sobrevivem ao sabor do ambiente. Também fazemos isso, mas vamos mais longe. Modificamos nosso meio. Queremos melhorar (está certo) mas não nos contentamos com o suficiente (está errado). Mas como é difícil pensar de outro jeito. Dou exemplo: assisti já tem um bom tempo o filme chamado “À procura da felicidade” estrelado por Will Smith. Eis a sinopse: Chris Gardner é um pai de família que enfrenta sérios problemas financeiros. Apesar de todas as tentativas em manter a família unida, Linda sua esposa, decide partir (marido sem dinheiro não tem graça). Chris agora é pai solteiro e precisa cuidar de seu filho de apenas 5 anos. Ele tenta usar sua habilidade como vendedor para conseguir um emprego melhor, que lhe dê um salário mais digno. Chris consegue uma vaga de estagiário numa importante corretora de ações, mas não recebe salário pelos serviços prestados. Sua esperança é que, ao fim do programa de estágio, ele seja contratado e assim tenha um futuro promissor na empresa. Porém seus problemas financeiros não podem esperar que isto aconteça, o que faz com que sejam despejados. Chris e seu filho passam a dormir em abrigos, estações de trem, banhei-
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ros e onde quer que consigam um refúgio à noite, mantendo a esperança de que dias melhores virão. E conseguem. No final, Chris é contratado e fica milionário. Lindo. Lindo, mas enganoso. Chris está em processo de eutrofização. E, pior está sabotando nossa cultura, nos fazendo achar que ser bem sucedido é passar pelo mesmo processo. De acordo com o filme, se eu estiver na pior, ser feliz depende de arrumar um trabalho melhor (está certo) e ganhar muito dinheiro (nem tanto). Bom, e se eu não conseguir isso? Estou condenado à infelicidade? Somos permanentemente orientados pela mídia que melhorar nossa condição envolve ganhar muito dinheiro para usufruí-lo. Mas vencer sempre é um ato solitário. No máximo essa mudança de condição financeira melhora a vida pessoal. Talvez, quando o sujeito não se esquece que foi pobre, alguns de seus parentes se beneficiem. Mas, raramente a mudança de condição servirá para o próximo. A vitória, na nossa cultura é sempre solitária. Acho curioso ouvir essas discussões sobre fazer usina em Piraju. Essa e muitas outras usinas devem sair Brasil afora, não porque um grande grupo engolirá nossa comunidade. Também é isso. Mas a razão crucial é a demanda de energia. Para o país crescer é preciso energia, sob o risco de estrangulamento da economia (aliás, ciência da escassez, nesse caso, de energia). No final, o vilão do processo é nosso desejo de possuir coisas. Isso tem um impacto, mesmo que não percebamos. Vamos repetir a história dos países desenvolvidos que cresceram economicamente, às custas de detonar seu sistema ecológico. A chave está na moderação, em parar de consumir, em economizar de fato. Em trocar de valores físicos por valores espirituais. O atual modelo de consumo põe em cheque o sistema capitalista porque a terra não o suporta. Já disse Gandi: “A Terra tem o bastante para as necessidades do homem, mas não para a sua ganância”. Alguém duvida? O caos econômico que ciclicamente assola as nações é uma prova de que a busca de riqueza desmedida, alimentada pela ganância, é um processo eutrofizador. Enfarta pessoas, co-
munidades, rios....Talvez o pior de todos é um enfarte invisível que quase não percebemos: o dos sentimentos. Reduz o planeta a um negócio e pessoas a clientes. É a morte da sabedoria.
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COMERAM O MEU QUEIJO João Carlos Santos Peres
“E a noite cresce apaixonadamente. Nas suas margens nuas, desoladas, cada homem tem apenas para dar um horizonte de cidades bombardeadas. (Eugénio de Andrade,in “Poesia e Prosa) Só pode ser castigo. A verdade nua e crua é que, poeta, já não consigo passar de um primeiro verso. Como se alguma pedra houvesse, irremovível. Ainda se fosse a tal da pedra no meio do caminho... Com ela eu diria, deste meu jeito gauche, que no meio do caminho há uma pedra. Como não sou Carlos, também não sou João e deste, de sua pedra entranhada de Sertão, também não me sinto capaz para as lições que ela oferece. Sou poeta de um reino de palavras pedestres, de ração pouca para algum arremedo; meus javalis são ainda mais ariscos. Busco, então, por todas as alavancas; vasculho o vernáculo e o histórico; consulto o Vento, Veríssimo e o Tempo; recorro à mãe Dinah e ao professor Luxemburgo, e nada de mais relevante acontece. Talvez, num tempo inserido no palimpsesto, no carbono 14 do manto do descuido protocolei como destino escrever até os dias de hoje e, a partir daí, viver o deserto das palavras, sangrar no altar dos sacrifícios o cordeiro da minha vida. Olha que tenho tentado... Deus é testemunha dessa angústia que assola e me tira o chão e me leva ao teclado. E nada! Absolutamente nada acontece no mar revolto da paixão. Precisasse de um poema qualquer para remédio estaria morto. Com fórceps, alguns gatos pingados: voláteis, desestruturados, desconexos. Não se sustentam, não resistem a um primeiro olhar. Eu deveria estar vacinado, tantos períodos pescando em águas turvas. Mas é que agora, ao contrário das outras fases,
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minha bola murchou de vez. Meio Ronaldinho Gaúcho. É o que me sinto. Poderia tirar o time do campo. Deixar estar. Mas o diabo é que há a necessidade. Essa alguma coisa em ebulição, em gestação.... Na hora da realização, porém, trava. Fica o desejo reprimido. Entre inspirar e transpirar meu poema morre de inanição. Estou matando cachorro a grito; sem gato e GPS no mato da literatura. Angustia-me só de saber que o meu mar secou, que minas já não há mais. Pergunto-me: e agora, José? Um tango argentino? Um cálice de absinto com Sinatra na vitrola e um divã para a catarse deste poeta a cantar a aurora da minha vida? Não! Não gostaria que fosse fácil, mesmo. Gosto do artesanato, do poder costurar: aparas e entalhes; cabral e herbert helder; alexei e todos os pessoas. Do buscar aspectos formais para a estruturação poética. Construir o poema para nele morar a poesia. Em qual gaveta Ezra Pound? Pois a poesia até que me vem, solta, desabrida; no desassossego da mulher que passa a caminho do mar; no menino e seus malabares; côdeas aos pássaros da manhã, borboletas que lá vão pousar... Enquadrá-la, não na camisa-de-força de uma pretensa técnica, mas na estrutura do sentido ou da lógica é que são outros quinhentos e outras metáforas. Ah, faltam-me palavras.! Antes, Eça; hoje, Saramago. Alguma coisa deu errado, na rima e na solução deste poeta de coreto. Bem, eu poderia pedir pela aposentadoria das letras. Mas, diabos!, como abandonar esse vício se nele está o alimento do meu espírito? Sem poesia minha vida é prosa. Sem ritmo, sem graça, sem rima e sem raimundo. Sem poesia minha vida é uma crônica... Crônica mal acabada.
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Poesias AMOR ETERNO Célia Fátima de Almeida Onde vou encontrar forças Como vou viver sem seu amor Sem me aconchegar em seus braços Sem receber seu calor Como explicar pro meu coração Que você não vai voltar Como tirar minha esperança, meu sonho De novamente te abraçar Sei que o teu amor era único Outro não existirá E essa saudade é tanta Como vou continuar Mas em cada pensamento meu Passe o tempo que passar Vou me lembrar de você E pra sempre vou te amar Pelo menos nos meus sonhos Você estará do meu lado E eu ainda hei de entender Que pra Deus eu precisava te devolver Porque Mães são anjos sagrados Que aos filhos são emprestados.
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O SORRISO Isaltina Moraes L.Ferreira Você sabe me dizer o que vem do coração? É extensão da alma janela de inspiração. Toca tão profundo ... que pode mudar o mundo! Serve para curar ... sentimento ferido. Expressar emoção... tratar das dores do coração. Mas se preciso for expressá-lo de forma discreta também vem na hora certa, por uma pequena expressão. Pra quem dá ... é pura emoção! Quem recebe ... toca fundo, no coração. A união dos músculos da face faz com que brote, com um enorme desejo de aparecer. Espontâneo, brilhante e contagiante. O Sorriso , isso mesmo, o sorriso. Sentimento de brilho indefinido jamais será por alguém esquecido!
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DE APRENDIZ A PROFESSOR João dos Santos Era uma sala grande Pequena para tanta gente Parecia brincadeira Mas um pouco diferente Tinha alguém que ensinava E o restante aprendia Enquanto eu observava O que, ao redor, acontecia Era o começo de uma história Que até hoje eu me lembro Eu copiava, eu escrevia E, de repente, estava lendo E a mente ia se abrindo Com tanta informação Era apenas o início Da minha educação Muita gente ainda conheço Outros nunca mais os vi Porém nunca mais esqueço De alguém que estava ali Era minha professora Que eu guardo no coração Já foi minha referência Hoje é minha profissão.
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ARTESANIA João Carlos Santos Peres Não bastam batidas de ferro à barra fundida em bigorna para que desse duelo saiam elos de chave nova. - das rebarbas remoídas restolhos restam no fundo da morsa: escamas de peixe-chave/ farpas de aparas mortas Ao chaveiro o ferro tem falas: ecos de lima em esquadros trançados fluindo nova linguagem em ranhuras: ortografia fina de limalhas. - no dorso da peça atalhos esmerilhados ao tato pensado: percursos sempre novos inventados em pequenos espaços É preciso à barra batida em ferro dar-lhe carícias-de-mãos para que no entalhe novo discurso se faça: Segredos de Artesão.
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ILUMINE O MAURÍLIO Maurilio de Jesus Ferreira No olhar, encanto-me por ti, desloco a vírgula, do tempo. Para neste ato te assumir a única pausa parar a vida tento. Sei,que sentimentos me atrai Tu,Sob um manto sagrado, por acreditar na beleza do altar amadureço, caio e fico apaixonado. Por maternos sentidos afronte da beleza natural, vejo a verdade e o abrigo duma imagem pura e angelical. Sei o porque da rainha, nossa divina oração apareceu entre linhas intacta, cabeça e coração. Mãos postas, um bom caminho Que de Joelhos apoiam a alma, o pedido, Ilumine o Maurílio Dona do simples olhar, que tudo restaura.
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USO RACIONAL DA ÁGUA E SUA SUSTENTABILIDADE Nazil Antonio Andrade Pereira ÁGUA Fonte de vida e esperança Tesouro do mundo inteiro Que devemos preservar Para que futuramente não venha acabar Nós podemos ajudar Não usando em qualquer lugar É preciso cada dia economizar Na vida de todo ser A água se faz nascer Mostrando a pureza De uma riqueza Que um dia poderá não ter Vamos saber usar Sempre, sempre economizar Só assim podemos garantir O futuro propiciar Água com abundância Para diminuir a distância Para nossas casas não faltar Com uso racional Conscientizando Reutilizando E sempre árvores a plantar Na mata ciliar Nos rios onde corre a nascente Os lixos nunca devem aparecer Para não poluir a água E os peixes não desaparecer
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Vamos fazer nossa parte Reutilizando as รกguas que usamos Fazendo uso correto Para que o homem Viva num planeta Absolutamente repleto de beleza E o meio ambiente cheio de grandeza Valorizando a cada dia A sua grande e as mais variadas riquezas
ILUMINA Silvia de Almeida Beltrami Ilumina minha vida Se faz presente. Quando penso em você Chega de repente. Irradiando luz e energia De uma forma que Só você é capaz. Com sorriso claro e cristalino Foi entrando em minha vida De forma serena. Ilumina minha vida Se faz presente Com o olhar fixo E sempre sorridente. Vai chegando devagar Com olhar penetrante Que me invade o coração. E aos poucos Vai amenizando Um grande vulcão. Ilumina minha vida Se faz presente Tens o poder De tranquilizar a mente. Não sei bem ao certo Como consegue estar Sempre por perto. É como se percebesse Quando alguém Precisa de você. Ilumina minha vida Se faz presente Feito anjo da guarda Está sempre por perto.
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O AMOR Zenilda da Silva Souto Confidencia amorosa Sonhei com as estrelas Elas falavam ao meu ouvido, Confiçõesjamais contadas Sobre meu amor perdido. Lembrei-me de certa frase Que ele sempre me dizia Que sob essa mesma lua Ele também estaria Durante muito tempo Vi o por do sol, triste. Quanta solidão... Em meu coração só você existe. A chuva vai caindo, E ela vai apagando suas marcas Já não sei onde te encontrar Para qual lado irei olhar Sentindo o vento soprar Reconheci o seu cheiro Vi então você chegar Danado vento mensageiro
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