Portfolio Francc Neto

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O H Á L I TO D O F O G O E A A N C E S T R A L I DA D E TRANSGRESSORA D E F R A N C C N E TO

Para quem banca a própria rebeldia diante da banalização do extraordinário, a experimentação estética significa um salto no abismo. É como se na hora do salto estivéssemos chegando de uma alameda de dois caminhos que costuram eternidades na obra e no artista. Estas são algumas das senhas para a diáspora dos ímpares, dos que munidos de coragem futurista e densidade ancestral constroem o ato de criar novas estruturas para as sensações e demais significados da condição humana. A idéia do Belo, em Hegel, se refere à manifestação do verdadeiro tomado em sua aparência sensível . A obra de Francc Neto nos remete à incontáveis leituras, sobretudo, como manifestação do verdadeiro em sua aparência sensível. Quando possível, respeitada a natureza peculiar a cada uma das artes, tenderá a desaparecer a diferença de atitudes discernida muito bem por Mário Pedrosa entre poeta e pintor concreto: a fenomenologia da composição cederá lugar a uma verdadeira matemática da composição , segundo Haroldo de campos. Mas, nem é apenas isto o que está posto para nós, neste momento. O que veremos por aqui se refere ao impacto do oposto, do singular, da arte que suscita num só tempo, a barbárie, a plenitude e uma reflexão ética sobre o mundo e a humanidade, com suas distorções e harmonias.

Não resta dúvidas que impressiona um artista que troca os pincéis pelo maçarico e a tinta até mesmo pelo fogo intenso das fogueiras, para a feitura de uma alquimia de resinas, fuligens, espiritualidade, pigmentos, plotagens, vento, tempo, mais espiritualidade, madeira reciclada, tudo que no usual é impróprio e que alguns dispensam enquanto motivo e razão da arte. Despido das impropriedades do ego, o artista mergulha num experimentalismo permanente e questionador das misérias microscópicas e macroscópicas do planeta Terra. Parece-me ser desta veia que jorra o suor criativo de Francc Neto, um habitante do espanto e do encantamento, um artista paraibano que aciona seu passaporte para o time dos que tatuaram suas marcas na história da arte. A madeira extraviada e reciclada, as representações simbólicas do tempo e do silêncio, do corpo humano também... a serragem, a cera de abelha ou de carnaúba, as imperfeições naturais do mundo, furos, ações de prego e martelo. Também tintas e vernizes, mas sobretudo o fogo é o elemento que coordena a impulsão criativa do artista. Muito fogo sobre compensado numa leitura da barbárie desses tempos corridos que tecem o terceiro milênio. Um tempo que nos atravessa a alma com as impropriedades da civilização. Francc realiza e expõe a amplitude dum universo que transita

pela tradição e pela transgressão, sem negações de identidades nem apelos pasteurizantes. Certamente navegando na imersão dos espíritos livres que comandam a experimentação na história viva da arte. Estamos testemunhando aqui uma capacidade de invenção que se traduz para muito além da ancestralidade tecida no fogo, partindo para um estranho dadaísmo, com grande poder comunicativo. Um trabalho que jamais será condecorado pela indiferença. Doutor em sociologia da arte pela universidade de Tours (França) e em Literatura e Língua francesa pela universidade de Toronto, Derrick de Kerduckhove, numa investigação sobre a nova realidade eletrônica, afirma que hoje as tecnologias são tão versáteis que nos dão poder para refazer aquilo que chamamos realidade. Um pensamento que se aproxima por oposição extremada ao sentido da arte de Francc Neto que faz tudo isso apenas com as ferramentas mais primitivas, apostando nas revelações da intensidade, da insanidade, do contraponto à violência como instrumento de uma obra que aponta um gesto primordial numa exposição para quem a arte sempre será o melhor motivo. Afinal, como disse Fayga Ostrower, criar é um processo existencial. Lau Siqueira

Poeta e Secretário de Cultura do Estado da Paraíba


AIS DA COR (2015) fotograямБa 70 x 100 cm


ARTÍFICES 2 (2015) fogo e óleo sobre tela e fibra de madeira 160 x 110 cm


AMÁLGAMA 1 (2014) óleo e fotografia sobre lona e fibra de madeira 90 x 120 cm AMÁLGAMA 2 (2015) fotografia 90 x 120 cm AMÁLGAMA 3 (2015) óleo e fotografia sobre lona e fibra de madeira 90 x 120 cm


AMÁLGAMA 4 (2015) fotografia 90 x 120 cm AMÁLGAMA 5 (2015) óleo e fotografia sobre lona e fibra de madeira 120 x 90 cm


AMÁLGAMA 6 (2015) fotografia 120 x 90 cm AMÁLGAMA 7 (2015) fotografia 120 x 90 cm


AMÁLGAMA 8 (2015) fogo, óleo e fotografia sobre tela e fibra de madeira 120 x 90 cm AMÁLGAMA 9 (2015) fogo e óleo sobre tela e fibra de madeira 120 x 90 cm


AMOR(O)DOR (2014) fotograямБa 70 x 90 cm


AZES 1 (2014) fotografia 70 x 90 cm AZES 2 (2014) fotografia 70 x 90 cm AZES 3 (2014) fotografia 70 x 90 cm


COR DE IA (2015) fotograямБa 100 x 80 cm


COR DO DESEJO 1 (2014) fotografia 90 x 120 cm COR DE VIRGÍLIA (2014) fotografia 120 x 90 cm


COR PRIMAL 1 (2014) fotografia 70 x 90 cm COR PRIMAL 2 (2014) fotografia 70 x 90 cm


CRAUS (2015) fotograямБa 120 x 90 cm


ENLACE 1(2014) fotografia 100 x 80 cm LENÇO BRANCO (2014) fotografia 110 x 80 cm


FILHOS DE AN (2014) รณleo sobre tela 160 x 110 cm FILHOS DE Tร NDIA (2014) รณleo sobre tela 90 x 130 cm


GEOMETRIA DO SAGRADO (2014) รณleo sobre tela 110 x 160cm


GRADAÇÃO CROMÁTICA (2015) fotografia (díptico) 240 x 80 cm


LAN (2014) fotograďŹ a 70 x 90 cm


MANTO (2012) seda vermelha e ferro enferrujado 30 x 200 x 12 cm


OSSO DA ALMA COM MANTO (2008) ferro enferrujado, manto vermelho e concreto 48 x 170 x 30 cm


OUTRO(RA) (2015) fotografia 110 x 80 cm PELE FRIA (2015) óleo sobre tela 140 x 100 cm


SER QUE NAVEGA (2014) fotograямБa 100 x 80 cm


TEA 6 (2012) óleo, pigmento e resina sobre fibra de madeira 100 x 130 cm

TEA 7 (2012) fogo, óleo, pigmento e resina sobre fibra de madeira 130 x 100 cm


TÊNUE 1 (2014) óleo sobre tela 120 x 90 cm TÊNUE 2 (2014) óleo sobre tela 160 x 90 cm


TÊNUE 3 (2014) óleo sobre tela 140 x 90 cm TÊNUE 4 (2014) óleo sobre tela 130 x 90 cm


TRANSMUTAÇÃO (2016) fotografia 90 x 70 cm


VIBRAÇÃO EM BRANCO 2 (2013) fogo e óleo sobre tela e fibra de madeira 110 x 160 cm


VTBRAÇÃO EM NEGRO (2014) fogo e óleo sobre tela e fibra de madeira 160 x 110 cm VIBRAÇÃO EM PÊSSEGO (2014) fotografia 90 x 70 cm


VOYEURISMO (2014) fotograямБa 90 x 120 cm


VULTOS DOS ARTร FICES (2014) รณleo sobre tela 110 x 160 cm


PELE DO TEMPO (2012) chapa de ferro 70 x 90 cm 3 fotograďŹ as 70 x 90 cm objeto: resĂ­duos de gordura animal gesso, cera, vidro e madeira 70 x 90 cm


MADONAS (2010) fogo, óleo, pigmento e resina sobre fibra de madeira (tríptico) 200 x 160 cm


MEU MAR (2010) fogo, Ăłleo, pigmento e resina sobre ďŹ bra de madeira 70 x 160 cm


O BEIJO (2010) fogo, Ăłleo, pigmento,resina e cinzas sobre ďŹ bra de madeira 220 x 160 cm


PORTAIS DE AN (2010) fogo, óleo, pigmento e resina sobre fibra de madeira (tríptico) 240 x 160 cm


POR DA LUA (2010) fogo, óleo, pigmento e resina sobre fibra de madeira 110 x 160 cm


TEIA 1 (2010) fogo, Ăłleo, pigmento e resina sobre ďŹ bra de madeira 160 x 110 cm


TORSO 1 (2010) fogo, รณleo, pigmento e resina sobre compensado 50 x 75 cm


OLHAR / SENTIR / PENSAR

Francc Neto é filósofo de formação e artista nato. Seu olhar sobre o mundo e sua arte como mediação cultural demonstra esse olhar/fazer entrecruzando de filosofia e arte. Natural da Paraíba, Francc já realizou várias exposições coletivas e individuais em diferentes estados do Brasil. Aqui, tenho o privilégio de falar sobre seu trabalho e fazer a curadoria de resquícios... Aprofundando em suas imagens fotográficas, apercebe-se que Francc, colocando fogo em suas obras antigas, destrói representações conseguindo vivenciar sua criação e documentá-la em sua abstração primeira, atemporal, processo sensório-motor, enquanto, ainda, potencialidade de sua mente. O artista conseguiu transpor em fotografias, sua meta-experiência, singular e individual, socializando seu olhar/sentir/pensar. Francc registrou a arte enquanto virtualidade, ideação. Estado puro da arte. Lá, onde tudo é possível. Ordenação e caos, destruição e criação, morte e vida.

Para consolidar sua ideação no mundo, primeiramente, inseriu-as no espaço-tempo. Rompendo com os suportes tradicionais expandiu seu campo de atuação em uma multiplicidade de meios e contextos: fogo, madeira, tinta, fotografia, existindo em tempo real. Encontramos em seus registros fotográficos o olhar/sentir/pensar do pintor. Todas as imagens são picturais. Denunciam a complexidade existencial do artista. Neste ponto, nos perguntamos: a obra de Francc está sujeita a questionamentos, análise e críticas? Como avaliar a meta-experiência estética de um espírito individual? Concluímos que, independente de conceituações, podemos partilhar Com Francc de sua experiência individual perpassada pelo espírito de época (Zeitgeist). O olhar/sentir/pensar do artista que capta e registra, em um curto espaço-tempo, a si mesmo e sua época a (des)construção de valores e o surgimento de outros, subjacentes nos escombros de um período que se agoniza.

Sainy C. B. Veloso

Artista plástica e Mestra em Arte e Tecnologia da Imagem (UNB)


F R A N C C N E TO Natural de Catolé do Rocha, PB.

E X P O S I Ç Õ E S I N D I V I D UA I S

E X P O S I Ç Õ E S C O L E T I VAS

Graduado em Filosofia

2010 Estação Cabo Branco, João Pessoa, PB

2010 Festival Brasil no Porto, Portugal.

(UFPB, João Pessoa, PB, 1985)

Pós-graduado em Filosofia (PUC, São Paulo, SP, 1988)

Trabalha com técnicas diversas e experimentações através da pintura, fotografia e escultura.

Hall de Exposições Energisa, João Pessoa, PB 2008 Casarão 34, João Pessoa, PB. 2002 Espaço Cultural José Lins do Rego, João Pessoa, PB 1994 Conjunto Cultural da Caixa, Brasília, DF 1993 Novotel, Natal, RN Casarão, Formosa, GO

2009 Coletânea Paraibana, Estação Cabo Branco, João Pessoa, PB 2008 XII Salão Municipal de Artes Plásticas, João Pessoa, PB 2007 FAVI-PB 2007, Centro Cultural São Francisco, João Pessoa, PB 11 Artistas Brasileiros, Zarinha Centro de Cultura, João Pessoa, PB IX Bienal do Recôncavo, São Félix, BA 2003 XI Salão Municipal de Artes Plásticas, João Pessoa, PB 2001 Espaço Cultural Renato Russo, Brasília, DF 1998 Foyer da Sala Villa Lobos, Brasília, DF 1997 Galpão das Artes, São Paulo, SP

PRÊMIO 2003 Menção Honrosa, XI Salão Municipal de Artes Plásticas, João Pessoa, PB

Espaço Paulista de Arte, São Paulo, SP 1996 Galeria Vincent Van Gogh, Sobradinho, DF II Concurso de Escultura em Sucata, Brasília, DF 1994 Brasília Design Center, DF Galeria Vincent Van Gogh, Sobradinho, DF 1º Salão de Artes Plásticas do CEGRAF, Brasília, DF

O B R AS E M C O L E Ç Õ E S P Ú B L I C AS Museu Vivo da Memória Candanga, Brasília, DF

1993 Câmara Legislativa do Distrito Federal, DF 1988 Centro Cultural, São Paulo, SP 1987 Projeto Reconstrução do TUCA PUC, São Paulo, SP 1985 PAX, Catolé do Rocha, PB

Museu da Limpeza Urbana, Brasília, DF

1984 25º Congresso Mundial de Educação através da Arte INSEA, Rio de Janeiro, RJ

Fundação Cultural de João Pessoa, PB

1979 Reitoria da UFPB, João Pessoa, PB




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