Sociologização e Subjetividade Um Olhar para a Pesquisa em Operações no Brasil

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Sociologização e Subjetividade: Um Olhar para a Pesquisa em Operações no Brasil

Moysés Simantob Silvana Pereira de Aguiar


Fundação Getúlio Vargas

“Sociologização e Subjetividade: Um Olhar para a Pesquisa em Operações no Brasil”

Autores

Moysés Simantob Silvana Pereira de Aguiar

SP junho 2004


Resumo O tema Pesquisa em Operações tem sido abordado, nas últimas duas décadas, quase exclusivamente sob a perspectiva da engenharia. A maioria dos textos enfocam estrutura e conteúdos, buscando fornecer respostas sobre como estratégias tradicionais de investigação e análises ortodoxas de contextos são realizadas para promover estudos que associem teoria e prática. Pouca atenção tem sido dedicada à dimensão das relações sociais e das variáveis subjacentes ao fator humano, à interdisciplinaridade, ao poder exercido pelas partes interessadas, como sujeitos nesse contexto. O ensaio aqui apresentado visa preencher essa lacuna utilizando uma natureza de pesquisa que considere estas dimensões. As contribuições ainda modestas deste trabalho apontam para a ampliação do olhar do pesquisador, de modo que os objetivos almejados sugiram que é possível realizar uma pesquisa que gere impacto sobre a prática empresarial. Palavras-chave: pesquisa, operações, teoria das organizações, ciências sociais.

Abstract Operations research has been strongly influenced, in the past decade by the engineering research tradition, so most of the academic research that has been done addresses analysis in this engineering traditional mode. Very little effort has been developed to understand the organization in its social relations dimension as to the new organizational contexts that have appeared in the past decade as interdisciplinary needs, values added chain, partner relationship, stakeholder’s interests, issues of power and so on. This work has the objective to address the gap that the engineering traditional researches haven’t fulfilled, by generating some contributions in how research can be done in order to embrace the task of operation’s research requirements. Key-words: research, operations, organization theory, social sciences.

Introdução O objetivo deste ensaio é propor uma reflexão crítica e compreender a pesquisa em operações a partir de uma perspectiva histórica da evolução da área, as suas diferentes demandas ao longo dos tempos, e como a pesquisa pode acompanhar tais evoluções, capturando as questões centrais que têm alterado sua trajetória.

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“O principal objetivo da estratégia de operações é garantir que a função de gerenciar os processos de produção e entrega de valor ao cliente sejam totalmente alinhados com a intenção estratégica da empresa quanto aos mercados a que pretende servir” (CORRÊA, 2003).

O macro-objetivo apontado por Corrêa pode demandar olhar as organizações sob uma ótica diferente, que acaba por ressaltar as lacunas existentes. Este trabalho visa abrir a questão de como as pesquisas em operações podem dar conta de compreender fenômenos contemporâneos que possuem

natureza social e

complexa, como por exemplo: (i) intenção estratégica e sua respectiva implantação defrontam diferenças culturais, conflitos, interesses políticos, poder, autonomia e tomada de decisão; (ii) orientação para produção, serviços e negócios;

(iii) cultura do management e modismos (ABRAHAMSON, 1996 E

WOOD,2002) que têm influenciado as organizações; (iv) importação de modelos de outras culturas; (v) relação com o cliente cada vez mais exigente; (vi) ambiente econômico, político e social, com a internacionalização tornando mercados cada vez mais complexos e turbulentos; (vii) foco na rede de valores; (viii) interdisciplinaridade em função da: explicitação das interfaces; (ix) satisfação das partes interessadas, entendida como um campo de forças.

O presente trabalho conta com a seguinte estrutura de seções:. Na primeira seção será visto um breve histórico de Operações, no sentido de se entender a evolução da gestão em operações e o seu reflexo na pesquisa, em relação a: (i) o quanto ainda há traços da pesquisa oriunda da engenharia em operações; (ii) o quanto a pesquisa oriunda da engenharia consegue decodificar e compreender aspectos de gestão; (iii) como possível conseqüência, a pesquisa pode não estar dando conta de compreender a realidade que estuda; (iv) existência de uma crise de identidade na pesquisa em operações nos dias atuais. (Arkader, 2002 ).

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Na segunda seção, pretende-se trazer contribuição da teoria das organizações, com autores de abordagem subjetivista, como um possível novo olhar a ser adicionado à pesquisa de operações. Assim, com este novo olhar, a pesquisa em operações, que parece enfrentar novos desafios, pode encontrar novos rumos.

A terceira seção traz uma proposta de inclusão de aspectos subjetivos, agregando à pesquisa de operações uma dimensão sociológica, à luz da “Evolução de Operações” (CORRÊA, 2003) e uma perspectiva crítica (WOOD, 2004), apresentando uma sugestão de como a pesquisa pode tratar as lacunas anteriormente apontadas.

Seção 1: Histórico de Operações no Brasil

O Taylorismo - As soluções gerenciais sobre o desenvolvimento de técnicas que visam sistematizar o estudo e análise do trabalho atribuídas à Frederick Taylor, no início do Século XX, ainda estão presentes em muitos setores produtivos do Brasil e na busca para aumentar a eficiência em processos produtivos. Ainda hoje é comum notarmos executivos proferindo o envelhecido jargão “é preciso fazer mais, com menos”.

O Fordismo - Se remontarmos aos anos 20, a Ford Motor Co. era destacada pela atitude visionária de seu dirigente, Henry Ford e, com ele, nasciam no ambiente industrial, os princípios da administração científica - padronização dos produtos e como fazer produtos moverem-se, enquanto estações de trabalho ficavam estáticas. Nesse período, instrumentos quantitativos eram usados para identificar maneiras de se aumentar a eficiência.

Com a sofisticação de mercados e a demanda por mais produtos, a abordagem exclusivamente técnica dada por Taylor se mostrava insuficiente e os aspectos

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sociais do trabalho eram estudados a partir de abordagens chamadas sóciotécnicas.

“A psicologia aplicada ao trabalho começa a desenvolver-se, com trabalhos de pesquisadores como Elton Mayo na General Electric. Deste período, datam as primeiras iniciativas das organizações de estabelecer caixas de sugestões, clubes de funcionários, incentivos diferenciados, alguma atenção para o ambiente de trabalho e para fatores motivacionais”. (CORRÊA, 2003).

A ascensão da política de Alfred Sloan e da General Motors, através de uma variedade de versões de automóveis, aumentava a complexidade da competição, exigindo, em meados dos anos 30, técnicas de amostragem (indutivas) para facilitar a inspeção de qualidade. Deste período, datam as iniciativas pioneiras de desenvolvimento de técnicas de controle estatístico de qualidade.

Nos anos 40 os esforços são direcionados pelas empresas manufatureiras para apoiar seus respectivos países no esforço de guerra. Áreas como a logística, o controle de qualidade e os métodos de produção mais eficientes foram desenvolvidos por exigência desta situação. Uma das áreas que mais progrediu na época da Segunda Grande Guerra foi o uso de técnicas de programação e análise matemática para identificação de pontos mais favoráveis de operação. Foi a origem da pesquisa operacional.

No Japão, esforços liderados por indústria e sociedade como um todo começam a ocorrer visando a reconstrução e a retomada da atividade industrial. Começa a nascer o conceito do Just-in-Time.

Segundo Buffa (1980), nos anos 50 a Gestão da Produção era chamada de Gestão Industrial ou Gestão Fabril. Os estudos eram caracterizados por uma abordagem descritiva e inúmeras técnicas eram estudadas (estudos de tempos e

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métodos, layout de fábrica, controle da produção, técnicas matemáticas tais como teoria das filas e simulação). Implicitamente os estudos da década de 50 assumiram que: (1) o sistema de produção é isolado do ambiente e é estrategicamente neutro; (2) prevalecem as características técnicas e o objetivo maior é maximizar a produtividade da mão-de-obra.

Nos anos 60, com continuidade nos anos 70, os estudos de Pesquisa Operacional / Management Science apresentam-se como a metodologia que prevalece na área de gestão da produção e passa a ser fortemente aplicada na área de serviços.

Nos anos 70 (CHASE, 1980) a pesquisa em Gestão da Produção era dominada pelas técnicas quantitativas, raramente envolvia estudos empíricos e assim, era de pouca utilidade para os gerentes de produção. Segundo Arkader (2003), 88% dos artigos que apareceram de 1977 a 1979 em vários periódicos de tipo A tratavam de problemas isolados de produção, enquanto 76% enfatizavam equipamentos e eram centrados em problemas de scheduling, planejamento agregado/capacidade, layout, controle de qualidade e controle de estoques.

Por outro lado, Filippini (1997) aponta que os livros de Gestão da Produção da década de 70 propunham abordagens integradas (CHASE & AQUILANO, 1973), o uso do enfoque sistêmico (WILD, 1977), e propunham que a função Produção deveria ter uma importância estratégica dentro da corporação.

Skinner (1978) propõe o conceito de trade-offs. Segundo este conceito, é impossível para uma operação aumentar seu desempenho substancialmente em todos os aspectos simultaneamente. A partir desta linha de argumentação, originase o conceito de estratégia de operações, que passa a ser, durante os anos 70, 80 e 90, talvez o principal foco de atenção dos acadêmicos e profissionais práticos na área de operações.

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“Para

as

decisões

de

hoje

serem

bem

tomadas,

elas

devem

necessariamente ser apoiadas por uma boa visão de futuro – e este futuro deve ser de longo prazo para muitas destas decisões”. (SKINNER, 1978).

O conceito evoluiu muito desde a época do pioneiro Skinner, beneficiando-se de contribuições

importantes

de

acadêmicos

como

Robert

Hayes,

Steven

Wheelwright, Terry Hill, Nigel Slack e outros.

Mas, para essas idéias se consolidarem, é necessário incluir no tratamento de processos decisórios em operações elementos externos à organização, como o cliente e a concorrência. Trata-se de uma mudança substancial do paradigma Taylorista. Ganham importância as interfaces entre a área de operações e outros setores da organização. Nos anos 70, os princípios da Qualidade passam a merecer maior prioridade nas agendas dos executivos e dos acadêmicos. Gurus como Feigenbaum, Juran e Deming são os pioneiros. Esta década foi também de franco desenvolvimento de tecnologias da informação. As primeiras versões dos sistemas integrados de gestão ERP, chamados de sistemas MRP (material requirements planning) foram desenvolvidos para melhor permitir às empresas uma gestão eficiente de seus recursos materiais.

Durante os anos 80 (FILIPPINI,1997), as principais áreas de estudo da Gestão da Produção eram: Políticas de Operação, Controle de Operações, Operações de Serviços e Produtividade, e Tecnologia. O autor aponta, ainda,

que temas

relativos à Gestão da Qualidade Total (TQM) e às técnicas japonesas de gestão adquiriram maior importância como temas de pesquisa, sendo que o conceito Just in Time (JIT) era abordado tanto na descrição de técnicas quanto no seu impacto sobre o desempenho.

A tecnologia de informação continua evoluindo e cria-se o MRP II (manufacturing resource planning systems), uma abordagem similar ao MRP, mas com o escopo

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estendido para incluir o tratamento não só de materiais, mas também de outros recursos operacionais como a capacidade produtiva. É a época dos mainframes.

Interessante notar que a ênfase dada pelas técnicas desenvolvidas até os anos 80 era predominantemente interna às empresas. Conceitos como a competição com base em tempos e a engenharia simultânea, como forma de aumentar a eficiência e diminuir o tempo e os recursos gastos para introduzir novos produtos no mercado ganham prioridade na agenda dos executivos e pesquisadores.

Os anos 90 trouxeram o início da fase de maturidade dos sistemas integrados de gestão. Observa-se que sua intenção era oferecer vantagens para a gestão da empresa, facilitando os fluxos de informações entre funções, ao longo dos processos de negócio.

Cresce, no início dos anos 90, a consciência de que o bom desempenho de um ‘nó’ da rede de negócios em que a empresa está inserida está atrelado ao bom desempenho de outros ‘nós’ dentro da rede a que ela pertence. Começam a surgir as chamadas VANs (value added networks). Tratam-se, normalmente, de portais da Internet que tentam ampliar seu escopo de atuação para atuarem como fornecedores de serviços que facilitem a fluidez de informações ao longo de redes de suprimentos, visando ganhar economia de escala e centrando-se nas ligações informacionais entre os ‘nós’ das redes.

O período 1990-1995, segundo Amundson (1998), mostrou que a área de Gestão da Produção tem sido pesquisada empiricamente, com ênfase na teoria como um propulsor de pesquisas. Nesse artigo, o autor explica o papel crucial da teoria para a área de Gestão da Produção e apresenta critérios para importar teoria de outros campos.

Concluindo, o tema central e desafiante neste momento parece ser compreender organizações como sistemas sociais complexos, onde a gestão da relação com

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parceiros de uma mesma rede e as regras para se estabelecer relacionamentos entre redes dinâmicas de valor prevalecem. O enfoque que leva a mentalidade de serviços para a manufatura torna-se prioridade, e passa a estimular e enriquecer o aprendizado de redes de conhecimento, buscando criar condições para o florescimento de ambientes cooperativos e de mútuo ganho, com forte cunho social.

Seção 2: Uma Contribuição da Teoria das Organizações

Neste cenário moderno, com tantas novas configurações, objetiva-se inserir um corpo de conhecimentos que faz uma reflexão sobre a complexidade das relações sociais nas organizações, explorando quais dinâmicas estão presentes . A importância desta parte do trabalho está em apresentar outras variáveis, que os autores deste artigo acreditam influenciar a pesquisa de operações.

Para Morgan, Pondy e Frost (1983), a teoria tradicional de organizações tem fracassado em tocar o verdadeiro significado da vida organizacional, porque seus modelos de compreensão, por meio de metáforas de organizações como máquinas ou organismos, geram a visão simplista e ilusória de que questões complexas da atividade humana são facilmente respondidas. Organizações são fenômenos complexos que manifestam padrões culturais (MORGAN & OUTROS 1983) e, na pesquisa de operações, pela sua origem na engenharia, não levar isto em conta torna-se agravante .

Pondy e Mitroff (1978) estudaram a escala de Boulding (1956), que mede o nível de complexidade de sistemas sociais descrevendo nove níveis de complexidade. Estes autores observaram que os sistemas organizacionais estão no nível 7 (sete) ou 8 (oito) da escala, denotando alta complexidade, entretanto, concluem eles, as teorias organizacionais estudam o fenômeno organizacional com uma perspectiva de nível 4 (quatro) da escala de Boulding. Além disso, as pesquisas empíricas, 9


com suas abordagens simples e estáticas, que analisam as propriedades estruturais, aspectos quantitativos e de freqüência, são de nível 1 (um) na escala. (MORGAN & OUTROS, 1983).

Entre os muitos aspectos e variáveis consideradas por Boulding na construção da sua escala, percebe-se que o que torna os sistemas sociais mais complexos são as capacidades humanas de: consciência de si, capacidade de produzir, absorver e interpretar, sentido do tempo, sistema de valores e significação. Na pesquisa tradicional oriunda da engenharia, estes fenômenos não são considerados, a realidade é abordada como algo quantificável, com recortes estáticos, que não consideram a inteira dimensão da cultura organizacional. Com a inclusão da cultura como variável, a influência do significado atribuído pela comunidade a todos os seus elementos, os sentimentos e a subjetividade (VERGARA E DA SILVA, 2003, n.3) passam a ser pesquisados.

Autores clássicos como Luckman e Berger (2002), em “A Construção Social da Realidade”, afirmam que a ordem social é produzida por negociações interpessoais que, de forma implícita, constroem um entendimento comum, o qual é compartilhado e, seus autores (atores sociais) pressupõem que este entendimento ‘existe’ como realidade objetiva. Estes atores sociais se engajam em uma espécie de consenso dos significados estabelecidos, como padrões, e os utilizam naturalmente na sua vida cotidiana para explicar, tomar decisões, fazer ou deixar de fazer algo. Vale ressaltar que esta abordagem tem como pressuposto que as culturas são realidades socialmente construídas e isto determina a orientação da pesquisa. Concluindo, se este olhar não for incluído como base para a pesquisa, não se compreende o fenômeno no seu todo.

Seção 3: Algumas Contribuições à Pesquisa em Operações

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Com a apresentação dos conceitos acima, este ensaio pretende abrir espaço para futuras contribuições, com algumas observações:.

(1) Considera-se necessário trazer um olhar mais completo para a pesquisa, levando em conta que as organizações são sistemas sociais complexos e, como tal, requerem tratamento compatível. A pesquisa precisa equipar-se para dar conta da realidade organizacional, num cenário com rupturas ambientais, interfaces múltiplas

entre

funcionários,

parceiros,

fornecedores,

interdisciplinaridade,

diferenças culturais e ausência de padrões nas respostas, fatores característicos de um fenômeno atual, as organizações hiper-conectadas.

(2) A pesquisa empírica em operações precisa ser capaz de levantar, tratar e decodificar estes e outros fatores de natureza subjetiva, utilizando métodos compatíveis com a premissa subjetivista, que permitam a compreensão de realidades complexas. Neste sentido, a visão objetivista, característica da engenharia, poderia ser limitada para explicar fenômenos como ´cultura´, ´significado´, ´realidade socialmente construída´. Neste sentido, pode-se supor que a escolha de grounded research teria forte contribuição. Eisenhardt (1997, 2003), pesquisadora prestigiada na comunidade acadêmica, tem desenvolvido teoria baseada neste método, criado no final da década de sessenta, por Strauss (DENZIN, 2000). A ‘grounded research’ não é um método, mas uma estratégia de abordar o campo, ao qual se vai com proposições abertas e flexíveis, que permitem ao pesquisador estar mais livre apra encontrar aspectos não previstos. A ‘grounded research’ não determina um método, permitindo a combinação entre vários. A ‘grounded research’, pelo sua estratégia flexível, permite identificar novas categorias ainda desconhecidas, uma vez que estas são peculiares ao sistema social em questão (STRAUSS, 1980). Além disto, pode sevir de estratégia de campo tanto a objetivistas como a subjetivistas (DENZIN, 2000)

(3) Outro aspecto importante é a postura do pesquisador.. As pesquisas com origem na engenharia são de natureza objetivista, fazendo com que o pesquisador

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se acredite neutro e acredite na realidade objetiva sem considerar que possam haver ‘filtros’ de percepção. Pode-se propor uma postura de pesquisa com os seguintes traços: (1) o pesquisador como ‘antropólogo’, um escavador de teorias; (2) neutralidade maximizada pela forma de utilização dos métodos, sem contudo haver a crença de que existe plena neutralidade; (3) reconhecer que a empresa possui um saber oriundo da prática e de lições aprendidas, por vezes difíceis ; (4) a vivência pesquisador-empresa pode gerar um aprendizado mútuo, pela união da vivência da empresa à capacidade de sistematização do pesquisador.

Conclusões Este ensaio começou com a crítica de que os entendimentos tradicionais da administração, no campo de operações, podem incorporar outros pressupostos importantes. seja em razão de estar influenciada pelas ortodoxias e convenções da engenharia e, portanto, distante das ciências administrativas, seja pelo fato de que a própria ciência administrativa passa por uma revolução em si.

As questões iniciais foram: Em um cenário organizacional que adquire facetas tão instáveis, como conduzir a pesquisa? Que metodologias são capazes de dar conta desta realidade? E, principalmente, quais as posturas teóricas, que determinam as distintas maneiras de se ver o objeto de análise, e compreender as relações da organização com o cenário?

Diante disso, buscou-se realçar as razões pelas quais é importante levar as pesquisas em operações a buscarem uma nova compreensão sobre os fenômenos da organização moderna, que possuem natureza social e complexa. A qualidade da análise destes fenômenos é função de nove lacunas, (certamente há outras), descritas na introdução deste ensaio, que poderiam ser levadas em conta em pesquisas futuras.

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As limitações deste trabalho não são poucas. Outras metodologias, além de grounded research deveriam ser consideradas no intuito de acolher e expandir o intento da pesquisa aqui proposta. É preciso reconhecer também algumas limitações no que diz respeito à adoção de variáveis de complexidade, de mudança e de incerteza – pouco examinadas em escopo e grau, neste ensaio.

Alterar a prática da pesquisa leva tempo e exige pesquisadores atentos e dedicados para estabelecerem relações de confiança com seus objetos de pesquisa. Nesse campo, cabe mencionar iniciativas perseverantes, brasileiras e internacionais, que têm se destacado em aproximar pesquisadores de executivos, com o apoio de suas instituições, para produzirem pesquisa capaz de aperfeiçoar a prática administrativa. São fóruns especiais e permanentes de excelência em campos relevantes, como a gestão brasileira, que enfocam processos e relacionamentos (HEC Montreal e FGV –RJ) , inovação (FGV-EAESP) e recursos humanos (FGV-EAESP e Loyola University), entre outros.

Espera-se que este breve ensaio revele alguma contribuição para que os resultados de uma pesquisa em operações acrescentem valor e impacto sobre a prática empresarial.

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