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HOMEM DE

VISÃO • por Simone Galib

• fotos Ricardo Lisboa

Depois de trocar o rock pela carreira de vendedor, Caito Maia transformou a Chilli Beans na maior rede de óculos e acessórios da América Latina. A marca também está presente na Europa, nos Estados Unidos e até no Oriente Médio. Com seu design arrojado, alta tecnologia, preços acessíveis e boas parcerias, vende 1,5 milhão de produtos por ano 20

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e existe alguém no Brasil que enfrenta a atual crise, avaliando-a como momen-

to de oportunidades, está em plena expansão e com taxa zero de baixo astral, este irrequieto empresário

Estados Unidos”, diz ele, acrescen-

tem nome, sobrenome, centenas

tando que lá os quiosques não fun-

de lojas, muitos projetos novos e

cionam. Em geral, “todas as minhas

não para de criar. De quem se tra-

lojas internacionais vendem muito

ta? Ora, de Caito Maia, fundador e

bem.”, diz ele.

ROCK´N`ROLL, MODA E PIMENTA

presidente da Chilli Beans, a maior

No Brasil, a Chilli Beans está

A escalada do empreendedor

marca de óculos e de acessórios da

muito bem representada, espe-

começou de um jeito bem informal.

América Latina. Fundada por ele

cialmente na flagship store da rua

Batizado com o nome de Antonio

em 1998, hoje a rede tem 700 pon-

Oscar Freire, nos Jardins, uma das

Caio Gomes Pereira Filho, homôni-

tos de venda no país, entre lojas e

ruas mais sofisticadas de São Pau-

mo do pai, acabou transformando

quiosques, estando também pre-

lo. A loja, de 700 m², tem a cara da

o pseudônimo Caito Maia, dado por

sente nos Estados Unidos, Portugal,

marca: é toda branca, tem design

um amigo de infância, em sinônimo

Colômbia, México, Peru, Kuwait e

super moderno, palco para shows e

de grife e sucesso. O curioso é que

Dubai. Recentemente, abriu sua pri-

galeria de arte, além de um estoque

sua vocação parecia estar predesti-

meira flagship internacional em um

com 2,5 mil produtos. Ali também

nada à música, que sempre ferveu

ponto estratégico: na Third Stre-

estão em destaque os modelos de

em seu sangue desde a adolescên-

et Promenade, uma das ruas mais

parcerias com estilistas e artistas e

cia. Viajava frequentemente a Nova

descoladas e bem frequentadas de

a primeira máquina de customizar

York para comprar instrumentos

Santa Mônica, na Califórnia. Em

óculos do mundo.

musicais, revendê-los no Brasil e ga-

Portugal, a do Shopping Colombo é a maior das 12 lojas que a marca tem no país. A Chilli Beans vende 1,5 milhão de produtos por ano. Porém, ele quer mais e já provou que sua visão é de longo alcance. Caito fala com orgulho (no sentido positivo) de sua expansão no exterior, especialmente na América. “Estamos bombando. Nossa loja da Califórnia está em frente à da Apple e é a que mais fatura. Na de Hollywood, o tapete vermelho (do Oscar) passa na frente, a de Miami fica bem no meio da movimentada Lincoln Road e a de Las Vegas tem vista para a maior roda gigante da cidade”, diz. É claro que nada aconteceu de um dia para o outro no país do consumo, onde a concorrência é grande. “Levei seis anos para azeitar a minha operação nos

Fachada da moderna flagship da Chilli Beans, na Oscar Freire, nos Jardins

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tacionava o carro nos shoppings, visitava lojas, mostrava os óculos, emitia a nota fiscal e depois retornava para buscar novos pedidos. Os modelos continuavam sendo trazidos dos Estados Unidos. Caito tinha uma rotina insana de sacoleiro: embarcava às terças-feiras para Los Angeles e Nova York, enchia a bagagem com as peças, tomava um banho rápido no aeroporto e voltava para São Paulo. No final dos anos 1990, teve um stand no Mercado Mundo Mix, feira itinerante que rodava o Brasil, com produtos de vanguarda, assinados por gente talentosa, como os hoje estilistas Marcelo Sommer e Alexandre Herchcovitch, entre muitos outros. Foi a partir dali que ele sentiu a necessidade de criar uma marca própria. “Era um simples vendedor de óculos e queria ter um nome simpático, mas não glamouroso, que fosse falado no mundo inteiro”, conta o empresário. Assim, surgiu a Chilli Beans (chili em inglês significa pimenta). O nome e o logo foram escolhidos devido à paixão de Caito pelas tais pimentas. “Adoro, já perdi até o paladar por conta disso, as pimentas são a minha santa protetora”, diz ele, que tem vidros de diversos tipos, inclusive no showroon da marca, em Alphaville, onde trabaCaito Maia tem uma estante só de presentes que ganha quando visita as lojas franqueadas

lham 323 pessoas. Na sequência, abriu uma pequena loja na galeria

nhar dinheiro para tocar. Teve três

Aos 19 anos foi fazer faculda-

Ouro Fino, da rua Augusta, ponto

bandas e chegou a se apresentar em

de de música em Boston e trouxe

de encontro da chamada turma

casas famosas nos anos 1990, como

na mala 200 óculos para os ami-

underground ou alternativa da

a Aeronta. Com a terceira e última,

gos. Assim o produto entrou na sua

capital paulista. Logo, no espaço

Las Ticas Tienen Fuego, em que to-

vida – e não saiu mais. Revendia-

de apenas 9 m², surgiam filas de

cava guitarra e era vocalista, con-

-o para algumas marcas nacionais,

consumidores, atraídos pelos ócu-

correu ao famoso prêmio da MTV.

com um método bem simples: es-

los de sol com lentes coloridas e

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design diferenciado. A pimenta, ao

Sim, há sempre novidades e não

MÚSICA, MODA E ARTE

faltam emoções nos domínios do

Os produtos da marca costumam

carismático Caito Maia (veja box).

ser consumidos por um público, de

“Não sou mais baby, nem marca

15 aos 35 anos. Esse é o foco (os ado-

nova. Então, preciso me cutucar,

lescentes e jovens, por exemplo, ado-

cado faz parte do DNA da marca,

me

constantemente.

ram). Mas a rede também tem uma

que criou uma identidade cheia de

Aqui nada é definitivo, mas mutan-

linha infantil; não existe nada rígido

sex appeal, personalidade e atitu-

te. Meu diretor de marketing, por

e qualquer adulto pode se identificar

de. A Chilli Beans abriu o primeiro

exemplo, veio da Adidas”, revela.

com os modelos de óculos, acessórios

quiosque, no Shopping Villa Lo-

Essa equipe afinada lança, segundo

e relógios. “Somos democráticos. Não

bos, trazendo para o varejo ótico

ele, dez modelos novos de óculos

somos música eletrônica, mas sim

o conceito de self service. Ou seja:

por semana, com variação de cores,

rock´in´roll, bossa nova...”, diz. Outro

o cliente pode manusear e experi-

estampas e grafismos, além de cin-

fator que incide diretamente nas ven-

mentar o produto, tendo 15 dias de

co relógios e três modelos de grau

das é o preço - os óculos de sol com

adaptação, antes de comprá-lo. Foi

(estes últimos representam 30%

design e qualidade custam em média

também a pioneira ao lançar ven-

dos produtos). E Caito, usa óculos?

R$ 265,00. “Não dou desconto, mas

ding machines (máquinas de ven-

Curiosamente, ele fez uma cirurgia

tenho preços honestos. Ganho no vo-

das) de óculos e de permitir que o

para se livrar dos 7,5 graus de mio-

lume e com a cultura.”

cliente crie o seu próprio modelo.

pia que tinha em cada olho. “Hoje,

Música, moda e arte formam

Outro diferencial, criado em 2012

uso só para ter estilo. As pessoas

o tripé da rede. Por isso, são feitas

em todas as lojas e quiosques da

compram óculos por isso”, diz ele.

parcerias constantes com estilistas,

que tudo indica, deu sorte...

MÁQUINA DE ÓCULOS A vocação para inovar no mer-

questionar

rede foi o Chilli+, uma ferramen-

designers e renomados artistas. A

ta de alta tecnologia, desenvolvida

Chilli Beans tem coleções assinadas

pela IBM, na qual câmeras adapta-

por Alexandre Herchcovitch (que

das filmam o cliente e

carregou caixas no Mercado Mundo

congelam sua ima-

Mix, junto com Caito, no início da

gem. Assim, ele pode

carreira), Gloria Coelho e Ronaldo

se ver com os óculos

Fraga, entre outros. Está sempre

que está experimen-

presente nas semanas de moda

tando e ainda enviar as

do país, provocando barulho.

imagens para o e-mail e

Em março do ano passado, fez

redes sociais. Este ano, foi eleita como a melhor franquia do país pela Associação Brasileira de Franchising.

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sua primeira parceria internacional

nhum, porque respondo tudo na

estar em um país de oportunidades

com a Kravitz Design, braço de de-

hora e depois ganho tempo”, expli-

ou de crise, eu prefiro a primeira op-

sign do músico Lenny Kravitz. A co-

ca. Para ele, a disciplina e a repeti-

ção”, diz, otimista.

leção foi lançada simultaneamen-

ção constante geram a perfeição.

O visionário dono da Chilli Be-

te no Brasil e nos Estados Unidos.

Outro segredo da vida, diz, é o foco

ans tem ainda muitos projetos.

Também apoia festas, shows e os

nos projetos e nos produtos. “As

Quer chegar às Olimpíadas de 2016

maiores eventos de música do Bra-

grandes ideias se perdem se não fo-

com mil pontos de venda. “Meu so-

sil e do mundo, como o Rock in Rio.

rem direcionadas.” Indagado sobre

nho é ser uma marca global.”

Uma das ações que geraram

a atual situação econômica do país,

mega repercussão foi feita em abril

é taxativo: “Você escolhe se quer

Alguém duvida que ele vai chegar lá?

deste ano, na ocasião do lançamento da coleção Punk Glam, em parceria com a marca austríaca Swarovski. A Chilli Beans trouxe ao país o astro do punk mundial, Iggy Pop, que arrebentou um óculos gigante, coberto de cristais, em plena São Paulo Fashion Week. “Tivemos mais retorno de mídia do que o desfile de despedida de Gisele Bundchen. Só no Google foram 48 páginas”, comemora Caito.

DISCIPLINA E FOCO Caito Maia trabalha e viaja muito. Diz visitar em média 200 lojas da rede por ano (50 delas em três dias) para ter contato com o varejo e aprender sempre mais. “É assim que damos um up grade.” Casado, pai de dois meninos, de 3 e 5 anos, conta que coloca seus filhos na cama três vezes por semana. Malha todos os dias e tem uma alimentação equilibrada. Como consegue dar conta de tudo? “Sou

extremamente

disciplinado. Na minha caixa de entrada e saída de e-mails não sobra ne-

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RITA LEE, Amy Winehouse + CALENDÁRIO FASHION Da coleção de lançamentos da Chilli Beans, três prometem causar frisson. Agora em julho, a marca vai colocar no mercado óculos e relógios inspirados nas cantoras Rita Lee, Amy Winehouse e na banda Ramonas. O de Amy é um modelo, de estilo gatinho, imitando o traço marcante que ela usava no olho. As pulseiras trazem desenhos de suas roupas. Já o de Rita tem armação redonda, sua marca registrada. Aliás, Rita e Caito discutiram juntos a criação do produto. O relógio dos Ramonas vem em formato de disco de vinil e o ponteiro se inspira nas antigas vitrolas. Viagens S/A viu tudo em primeira mão – e adorou! No último trimestre do ano, Caito vai lançar a coleção Beatles, no programa The Voice, da Globo. Os novos produtos terão ações poderosas de marketing. A partir de 1º de agosto, ele também já começa a vender as passagens para o Fashion Cruise Chilli Beans, que teve a sua primeira versão este ano e fez sucesso. O projeto começou como uma convenção anual, até então realizada de forma convencional, no Memorial da América Latina, em São Paulo. Há dois anos, ele contratou um diretor artístico do Cirque du Soleil, que transformou o encontro de negócios em um evento descolado em alto mar. A primeira versão estreou este ano. Para a próxima, que vai ocorrer no primeiro final de abril em um super transatlântico, o tripé música, moda e arte ganha reforço. Caito diz estar negociando o cachê com uma grande banda internacional (cujo nome é ainda segredo). Além de todos os representantes da rede, estarão também a bordo mais de 30 artistas plásticos e gente de grandes marcas do universo fashion, que farão 25 desfiles. “Será como um workshop de uma grande faculdade de moda”, promete o focado presidente da Chilli Beans.


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