A influência do microcrédito no desenvolvimento de micros e pequenos negócios do setor de confec

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A influência do microcrédito no desenvolvimento de micros e pequenos negócios do setor de confecções: um estudo de caso no Vale do São Francisco. João Carlos Hipólito Bernardes do Nascimento (FUCAPE) jchbn@hotmail.com Valeska S. Araújo, autora, (FACAPE) waleska_01@hotmail.com Juliana da Silva Reis (UPE) jureis3d@hotmail.com. Joaquim Carlos Lourenço (UFPB) carlosadm2006@gmail.com

Resumo: O microcrédito foi implantado como uma alternativa de conceder empréstimos a pequenos negócios formais e informais, excluídos das linhas de crédito oferecidas pelos bancos tradicionais. O surgimento do microcrédito ocorreu em Bangladesh por volta de 1976, com o professor Muhammad Yunus, que desenvolveu uma política de microcrédito utilizada até os dias atuais. Neste cenário, o objetivo desta pesquisa foi analisar a contribuição do microcrédito para o desempenho de microempreendimentos do setor de confecções na região do Vale do São Francisco. Foi utilizada a técnica estatística de amostragem probabilística aleatória simples com reposição do tipo crosssectional, contemplando empreendedores tomadores de empréstimos da Agência do Crédito Petrolina/PE que atuam no setor de confecções. No total, focam analisados 26 empreendimentos de um universo de 50, com um grau de confiança de 95%. De posse dos dados, atraves da análise de variância (ANOVA), verificou-se o comportamento dos negócios antes e após a concessão do empréstimo, focando pontos como: situação financeira (liquidez), situação patrimonial e endividamento (quantidade e qualidade). Posteriormente, foram aplicados formulários survey aos empreendedoress com o intuito de identificar a relevância estatística dos fatores elencados através da pesquisa à otimização dos resultados na amostra estudada. Foi percebido que o microcrédito contribuiu de forma direta para o crescimento desses microempreendimentos, fomentando melhorias significativas no desempenho operacional. Com o estudo, constatou-se o forte impacto advindo do microcrédito para o desenvolvimento desses pequenos negócios o que, de forma atrelada, sua contribuição à melhoria de vida da sociedade, na geração e posterior distribuição de renda. Palavras chave: Microcrédito; economia informal; survey.

1 Introdução A crise econômica mundial que assolou a economia no ano de 2009, teve repercussão em diversos setores, sobretudo, às micro e pequenas empresas


nacionais, que devido a própria estrutura operacional, quase sempre dependente de recursos de terceiros para manter a liquidez dos negócios, tiveram seus custos de captação extraordinariamente majorados. O Brasil, apesar de tal fato, continuou mantendo o ritmo de aceleração do seu crescimento, ofuscando a crise, que pouco impactou na economia nacional. O microcrédito, diante deste cenário, tornou-se uma fonte de sustentação de demasiada relevância para os investimentos e/ou capital de giro nas empresas, e por extensão, no fomento ao consumo e o crescimento nacional. O microcrédito atua com uma política de geração de emprego e renda, para camada da população de baixa renda em uma determinada região. Segundo Barone (2002, p.14), o microcrédito democratiza o acesso ao capital, fundamental para vida moderna, do qual grande parte dos brasileiros está excluída. A disponibilidade de crédito para empreendedores de baixa renda, capazes de transformá-lo em riquezas para eles próprios e para o País, faz dos empréstimos de pequeno valor parte importante das políticas de desenvolvimento. A experiência sobre microcrédito de maior repercussão internacional ocorreu em Bangladesh, tendo como seu fomentador o professor Muhammad Yunus, fundador do Banco Grameen, primeira instituição a trabalhar com essa modalidade de empréstimos (PARENTE, 2002). As famílias, beneficiadas pelo programa de microcrédito vem assumindo um papel estratégico às economias contemporâneas, tanto no processo de ocupação da mão de obra ociosa como no aumento da produtividade dos pequenos empreendimentos. A concessão do microcrédito representa uma ferramenta para minimizar à pobreza, na medida em que contribui para a melhoria da qualidade de vida das pessoas usuárias desses programas (BARONE, 2002). A concessão do micro-crédito se processa através de um método que visa orientar e sensibilizar o tomador de empréstimo quanto à importância de melhorar a sua capacidade técnico-gerencial e, para que, paralelo à aplicação dos recursos financeiros do crédito, ocorra um fortalecimento do empreendimento a fim de que se criem melhores condições de sustentabilidade aos pequenos negócios. A questão que norteia o trabalho foi assim descrita: Até que ponto o microcrédito contribui para o desenvolvimento dos pequenos negócios do ramo de confecções, que são atendidos pelo programa da Agência do Crédito Petrolina/PE? Desse modo, partindo do problema, o objetivo geral a ser elucidado foi analisar a contribuição do microcrédito sobre o desempenho de microempreendimentos do setor de confecções. Quanto aos objetivos específicos buscou-se: Quantificar o incremento na geração de riquezas após a utilização do micro-crédito; avaliar o comportamento da qualidade e quantidade dos passivos no período subseqüente a utilização dos recursos do micro-crédito; e identificar a eventual otimização da liquidez dos empreendimentos no período estudado.

Para tal, foi realizado um estudo de caso com 26 empreendimentos de um universo de 50, com um grau de confiança de 95%, calculada utilizando-se da técnica de


amostragem estatística probabilística aleatória simples com reposição do tipo cross-sectional. Para evidenciar o impacto do microcrédito ao desempenho dos empreendimentos, foi utilizada a análise de variância (ANOVA) confrontando o desempenho antes e após o fenômeno em estudo. Por desempenho organizacional, foram consideradas as variáveis liquidez corrente (LC), liquidez total (LT), qualidade do endividamento (QI), evolução patrimonial (patrimônio antes a após a concessão) e lucro líquido antes a após a obtenção e consequente utilização do microcrédito. De forma adicional, foram ainda ministrados formulários survey aos proprietários com o intuito de identificar a relevância estatística dos fatores elencados através da pesquisa. Quanto a tipologia da metodologia desenvolvida, a pesquisa é do tipo descritiva a qual busca observar, registrar e captar maiores informações sobre um determinado assunto em estudo (Cervo e Bervian, 1996), e principalmente, o impacto do microcrédito nos pequenos empreendimentos. O estudo se justifica pela demasiada relevância que o microcrédito desenvolve no processo de geração de emprego e renda para uma camada da população que não tem acesso ao sistema financeiro tradicional de uma determinada região, assim, o microcrédito trás crescimento tanto para economia de um determinado local como também é fonte de captação de recursos para a melhoria dos pequenos negócios. O setor de confecções foi selecionado para a realização desse estudo, devido este ramo de negócio ser bastante representativo com relação as demais atividades que são beneficiadas através do programa de microcrédito desenvolvido pela Agência do Crédito no município de Petrolina/PE. O trabalho está organizado como segue: no capítulo dois é apresentada a fundamentação teórica que embasa a pesquisa, tendo como principais teóricos: Barone (2002), Iudícibus (1998), Parente (2002), Marion (2002) dentre outros. Em seguida é apresentada a metodologia empregada no desenvolvimento do estudo; posteriormente é apresentada a análise dos dados coletados e, por último, as considerações finais. 2 Referencial Teórico 2.1 Definições de microcrédito Em meados do século XX, vários governantes de todo mundo resolveram apoiar o fornecimento de empréstimos para as populações menos favorecidas, foram várias tentativas à implantação do microcrédito, mas a grande maioria fracassou; somente no ano de 1976, com experiência de microcrédito desenvolvida pelo professor de economia Muhammad Yunus, obteve-se reconhecimento internacionalmente. Segundo Neri (2008, p.29): “O microcrédito se encaixa no campo das micro-finanças e


envolve o fornecimento de crédito a clientes não atendidos pelo setor bancário tradicional, abarcando apenas o setor de empréstimos”. O microcrédito é apenas um dos serviços financeiros no âmbito das micro-finanças, o crédito é direcionado a um público específico, ou seja, à camada da população de mais baixa renda, em geral, excluídos do sistema financeiro convencional, principalmente, os microempreendedores do segmento informal da economia (PARENTE, 2002). Os programas de microcrédito propiciam, num segundo momento, melhorias nas condições de habitação, saúde e alimentação das famílias usuárias e também, contribuem para o resgate da cidadania dos beneficiários, fortalecendo a dignidade, a elevação da auto-estima e a inclusão em educação e consumo em patamares superiores (BARONE, 2002). As entidades de microcrédito fornecem empréstimos a pessoas que foram excluídos do setor bancário formal, buscando servir clientes que os bancos tradicionais não atendem e tendo como principais clientes micro-empreendimentos. Pode-se entender micro-empreendimentos atividades econômicas independentes que envolvam um volume reduzido de recursos, o que compreende desde um vendedor ambulante até uma lojinha com poucos empregados, incluindo qualquer negócio entre esses extremos (NERI, 2008). 2.2 Um breve histórico do microcrédito A experiência de microcrédito mais conhecida internacionalmente foi desenvolvida em Bangladesh, um dos países mais pobres do mundo. Em 1976, o professor de economia Muhammad Yunus constatou que ao redor da Universidade de Chittagong, onde lecionava as pessoas pobres não tinham acesso a crédito nos bancos comerciais para financiar suas pequenas atividades produtivas, levando-as a recorrer a agiotas (BARONE, 2002). Parente (2002, p.16) relata: “Suas clientes iniciais eram mulheres pobres, que usavam o empréstimo para melhorar seu desempenho no trabalho e se comprometiam a devolver o dinheiro, retribuindo a confiança nelas depositada”. Inicialmente Muhammad Yunus emprestou 27 doláres a 42 mulheres, no ano de 1976 (CUPERTINO, 2006). A prática destacou que, os clientes do sexo feminino, honraram melhor com o pagamento de suas dividas, do que os do sexo masculino, as mulheres são mais interessadas no desenvolvimento da família, no entanto, o lucro concedido pelo empreendimento é usado por elas para a melhoria das condições de vida de seus filhos, principalmente em alimentação, saúde e educação. Ao provar que os pobres são merecedores de crédito, no que diz respeito a confiança e recursos financeiros, e que pagam seus pequenos empréstimos destinados a atividades, o professor Yunus conseguiu financiamentos e doações junto a bancos privados e internacionais para criar o Bank Grameen (op cit, 2002). Os bancos tradicionais exigem que os clientes se dirijam às suas agências, no entanto, para o Grameen , não cabe às pessoas ir ao banco, mas o banco ir até as pessoas (op cit, 2006). A experiência do Grameen Bank foi um ponto de mutação nesse contexto. O Grameen fez importantíssimas contribuições metodológicas para o micro-crédito, hoje utilizadas por grande parte das instituições ao redor do mundo. Entre as principais estão a


utilização de empréstimos solidários como mecanismos de seleção de tomadores e garantias, volumes de empréstimos adaptáveis e com termos sazonais, a visão de um banco proativo que “vai em direção às pessoas” (NERI, 2008). 2.3 O microcrédito no Brasil Os programas de microcrédito desenvolvidos no Brasil são em sua maioria constituídos sob a forma de ONG (organização não-governamental), SCM (Sociedade de Crédito ao Microempreendedor), OSCIP (Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público) e instituições regidas pelo poder público. O país foi o primeiro no mundo a desenvolver a metodologia do microcrédito na área urbana, sendo as capitais de Recife e Salvador as pioneiras. Parente (2002, p.115) define tais instituições como: ONG especializada, não vinculada de forma obrigatória a nenhuma entidade controladora e, assim, sujeita a restrições quanto às estipulações usurárias; ONG classificada como organizações da sociedade civil de interesse público (OSCIP) nos termos da Lei n 9.790/99, devidamente registradas no Ministério da Justiça, que se dedicam a sistemas alternativos de crédito. Sociedades de crédito com fins lucrativos que tenham por objeto social exclusivo a concessão de financiamentos ao microempeendedor.

As instituições do poder público passaram a adquirir um papel significativo nos últimos anos, merecendo destaque destas instituições o programa de microcrédito implantado pelo Banco do Nordeste (BNB), conhecido como Crediamigo (Barone, 2002). O Crediamigo, programa do Banco do Nordeste, que atua nesse segmento emprega a metodologia do aval solidário, na qual é formado um grupo de três a dez microempreendedores onde cada integrante é responsável pelo pagamento integral do empréstimo. O técnico em crédito vai diretamente ao cliente oferecer o serviço. A clientela do programa em sua grande parte é pertencente ao setor do comércio. No ano de 2004 o Crediamigo emprestou R$ 441 milhões sendo 508 mil operações (NERI, 2008). A Rede Ceape teve início com a experiência desenvolvida pela Accion Internacional, que também trabalhou com a metodologia do aval solidário, utilizada até hoje na rede, além desta opção para a concessão do empréstimo, o Ceape financia créditos individuais mediante apresentação de avalista que tenham como comprovar renda. Há unidades do Ceape distribuídas pelos vários estados brasileiros, entre eles, o estado de Pernambuco. Em 2001 as operações com empréstimo alcançou 343 mil totalizando um valor de R$ 305,7 milhões (BARONE, 2002). O PROGER (Programa de Geração de Renda) opera também com microcrédito e é constituído sob a forma de OSCIP, atualmente esse programa passou a ser chamado de “Cred Cidadania”. O programa é apoiado pelo governo do estado de Pernambuco, com operações de crédito efetuadas até R$ 5.000,00 (MEDEIROS; GONÇALVES, 2002). Ainda conforme os autores, o programa tem como meta gerar emprego e renda mediante a concessão de crédito para empresas formais e informais e também a agricultura familiar


através do Proger Rural e Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar); o Proger é apoiado pelo Banco do Brasil, Banco do Nordeste e Caixa Econômica. 2.4 Análise de desempenho empresarial A análise do desempenho organizacional pode ser visualizada quando do uso de indicadores contábeis, pois através deles é possível verificar o grau de desenvolvimento de uma determinada empresa, ou seja, permitem aos empresários ter uma visão do negócio. Quando de posse desses indicadores a instituição poderá tomar decisões, as quais lhes permitam que o seu empreendimento tenha um melhor desempenho. A análise deve contemplar, principalmente, a composição de estrutura de capitais, que evidencia o nível de endividamento que as empresas possuem perante as origens dos capitais investidos no patrimônio e quocientes de liquidez, que evidenciam a proporção que há entre os investimentos realizados no ativo circulante e no ativo realizável a longo prazo em relação ao passivo circulante e passivo exigível a longo prazo, ou seja, os capitais de terceiros (RIBEIRO, 2004). Ainda segundo o autor, na análise de composição da estrutura de capitais, é comum a segmentação em qualidade e quantidade. As empresas em geral, para que possam demonstrar uma qualidade de endividamento satisfatório, devem procurar manter suas obrigações de curto prazo num valor inferior ao que tem a honrar com relação a suas dívidas totais de longo prazo, dessa forma as empresas adquirem um tempo maior para captar recursos, os quais serão utilizados para quitação de seus compromissos, entretanto, não é tarefa fácil a uma empresa gerar dinheiro num curto prazo. A qualidade de uma obrigação pode receber os seguintes tratamentos: satisfatória, razoável e ruim. Ao realizar a análise sobre a composição do endividamento, é interessante observar que, o endividamento de curto prazo, geralmente é usado para financiar o ativo circulante, enquanto, as dívidas de longo prazo são financiadas pelo ativo permanente da empresa (MARION, 2002). De acordo com Ribeiro (2004, p.135), “esse quociente revela qual a proporção existente entre as obrigações de curto prazo e as obrigações totais, isto é, quanto a empresa terá de pagar a curto prazo cada real do total da obrigações existentes”. Para encontrar este quociente, devese selecionar o passivo circulante (PC) da empresa e dividi-lo pelo seu exigível total (passivo circulante + exigível a longo prazo “P.E.L.P”). Com relação à quantidade, indicada se a empresa está trabalhando mais com recursos de terceiros ou com recursos dos donos do negócio. Quando realizarmos uma análise sobre o endividamento de um negócio, deve-se observar o seguinte: se a empresa utiliza o recurso emprestado como forma de ampliar, expandir, modernizar entre outros sua atividade, esse endividamento é sadio; por outro lado se o recurso é aplicado no pagamento de outras dívidas acaba não gerando recurso então essa empresa terá sérios riscos de insolvência, consequentemente a falência (MARION, 2002). Para efetuar o cálculo deste indicador, somase o passivo circulante (PC) com exigível a longo prazo (PELP) e dividi-se pelo passivo circulante + exigível a longo prazo + patrimônio liquido.


É interessante que este quociente apresente-se menor que 100% (cem por cento), pois indicará que a empresa está trabalhando mais com recursos próprios do que com de terceiros, evidenciando liberdade financeira para empresa (RIBEIRO, 2004). Já os índices de liquidez ajudam a empresa a ter uma visão do comportamento do seu grau de solvência e também quais as suas possibilidades de pagamento perante terceiros. Eles tratam de evidenciar a proporção que há entre os investimentos realizados no ativo circulante e no ativo realizável a longo prazo em relação ao passivo circulante e passivo exigível a longo prazo, ou seja, os capitais de terceiros (op cit). De acordo com Marion (2002), os índices de liquidez evidenciam a capacidade de pagamento da empresa, ou seja, se a empresa tem recursos para quitar seus compromissos, tal capacidade é verificada levando em conta: longo prazo, curto prazo e prazo imediato. O quociente de liquidez corrente mostra o quanto temos no momento disponível e que podemos transformar em dinheiro num curto prazo para possíveis pagamentos a terceiros; este índice é muito utilizado e considerado como o melhor indicador da situação de liquidez da empresa (IUDÍCIBUS, 1998). O índice de liquidez corrente também revela a capacidade financeira da empresa para assumir suas dívidas de curto prazo, ou seja, quanto a empresa dispõe de ativo circulante para cada real de passivo circulante (op cit, 2004). O índice é calculado dividindo-se o ativo circulante (AC) pelo passivo circulante (PC) da empresa. O índice de liquidez seca mostra a capacidade de pagamento da empresa para honrar seus compromissos de curto prazo, ou seja, revela quanto à mesma dispõe de ativo circulante liquido para cada real do passivo circulante (op cit, 2004). Segundo Marion (2002), quando o quociente de liquidez seca indicar um valor baixo, isto é, menos de um real, isso não será sintoma de situação financeira apertada; pois este índice é um tanto conservador demais para que possa tirar conclusões sobre o valor obtido. Iudícibus (1998, p.102), também expõe sua visão. Para este autor, o índice é: “Uma variante muito adequada para se avaliar conservadoramente a situação de liquidez da empresa. Eliminando-se os estoques do numerador, estamos eliminando uma fonte de incerteza”. A obtenção deste quociente se dá através da divisão do ativo circulante (AC) menos os estoques pelo passivo circulante (PC) da empresa Outro índice utilizado é o de líquidez imediata. O quociente referente à liquidez imediata representa o valor que a empresa tem no momento para pagar dívidas de curto prazo (IUDÍCIBUS, 1998). O índice mostra a capacidade de pagamento imediato da empresa para honrar seus compromissos de curto prazo, ou seja, quanto a empresa tem de recurso em caixa, no banco e em aplicações de liquidez imediata, para cada real do passivo circulante RIBEIRO (2004). Este índice é pouco representativo no tocante a análise da situação da liquidez, podendo o mesmo apresentar disponibilidade de pagamento a terceiros num momento preciso, sendo que, poderá ocorrer falta de recurso caso as dívidas tenham que ser efetuadas em um período de tempo superior a seis meses, no entanto, não é vantajoso a uma empresa ter


quantias muito altas em suas disponibilidades (RIBEIRO, 2004). O índice de liquidez imediata é encontrado através da divisão entre as disponibilidades (caixa, banco e aplicações de curto prazo) com o passivo circulante (PC). O derradeiro índice geralmente contemplado nas análises de quocientes de liquidez é o índice de liquidez geral. Este índice demonstra se o dinheiro investido no ativo circulante e no ativo realizável a longo prazo são necessários para pagar as dividas totais, ou seja, quanto a empresa dispõe de ativo circulante mais realizável a longo prazo para cada real da sua divida total (op cit, 2004) . O quociente de liquidez geral trata da capacidade de pagamento a terceiros num longo prazo; levando em conta tudo que a empresa dispõe para ser transformado em dinheiro em curto e longo prazo (MARION, 2002). O indicador serve para evidenciar a saúde financeira, no que se refere à capacidade de pagamento de longo prazo do empreendimento (IUDÍCIBUS, 1998). O interessante para uma entidade é que o indicador de liquidez geral tenha um comportamento onde, o valor calculado seja igual o maior que um, significando que a empresa está numa situação financeira confortável; caso este quociente seja menor que um, pode-se dizer que, a empresa está trabalhando mais com recursos de terceiros (RIBEIRO, 2004). Para realização do cálculo soma-se o ativo circulante (AC) mais o ativo realizável a longo prazo (ARLP) e divide-se pelo passivo circulante (PC) mais passivo exigível a longo prazo (PELP). 3 Metodologia A referida pesquisa quanto aos seus objetivos apresenta-se como do tipo descritiva, que de acordo com Beuren (2008, p.80), “Configura-se como um estudo intermediário entre a pesquisa exploratória e a explicativa; nesse contexto, descrever significa identificar, comparar entre outros aspectos”. Assim, o estudo busca relatar a contribuição do microcrédito no desempenho de um determinado negócio. De acordo com a tipologia quanto aos procedimentos, trata-se de uma pesquisa documental que segundo Cervo de Bervian (1996, p.50), “São investigados documentos a fim de se poder descrever e comparar usos e costumes, tendências, diferenças e outras características”. Quanto à abordagem do problema, esta pesquisa é quantitativa, “entendida como sendo aquela que se utiliza de instrumentos estatísticos, tanto na coleta como no tratamento dos dados” (BEUREN, 2008, p.92). Diante deste cenário, o objetivo deste estudo foi analisar a contribuição do microcrédito sobre o desempenho de microempreendimentos do setor de confecções. O universo desta pesquisa inclui os tomadores de empréstimos da Agência do Crédito Petrolina/PE, que atuam no setor de confecções. De acordo com Cervo e Bervian (1996, p.54), população é um conjunto de pessoas, de animais ou de objetos que representem a totalidade de indivíduos que possuam as mesmas características definidas para um estudo.


Foi utilizada a técnica estatística de amostragem probabilística aleatória simples com reposição, devido apresentar com principal particularidade o fato de que cada elemento da população apresenta igual probabilidade de ser incluído na amostra (MATTAR, 1994). A amostra foi do tipo cross-sectional (corte-transversal) que se caracteriza por coletar os dados ocorre em um só momento, possibilitando descrever e analisar o fenômeno em um dado período de tempo. Segundo o autor, a determinação de uma amostra finita e variável nominal é dada pela fórmula: n=

_Z² . p . q . N___ e² (N-1) + Z² . p . q

Onde: n = Tamanho da amostra; Z = Nível de confiança da amostra; p = Estimativa da verdadeira proporção em que o fenômeno se verifica, estimado em 50%; q = Percentagem complementar, representado por: 1 – p; e = Erro amostral. Representa o erro máximo permitido pela amostra, varia em função do rigor exigido, no caso específico, foi considerado um erro de 5%; e N = Tamanho da população. Para fins de cálculos, foi atribuído o valor de 1,645 à variável Z (valor crítico Zα/2) a fim de obter um grau de confiança de 90%, conforme a tabela abaixo:

TABELA 1 – Valores críticos associados ao grau de confiança na amostra Fonte: Vital, 2009, p. 5

Assim, aplicando a fórmula ao universo de 60 empreendimentos, obteve-se a amostra de 26 empreendimentos. Com o número de empreendimentos em mão, o estudo foi realizado em dois momentos. No primeiro, com o intuito de checar a relação entre a concessão do microcrédito e a maximização dos resultados dos negócios, foi utilizada a análise de variância (ANOVA). Para tal, para determinar o desempenho organizacional, foram estudadas as variáveis


liquidez corrente (LC), liquidez seca (LS), liquidez imediata (LI), liquidez geral (LG), qualidade do endividamento (Ql.E), quantidade do endividamento (Qd.E), evolução patrimonial (EvP) - patrimônio total antes a após a concessão - e lucro líquido (LL) antes a após a obtenção e consequente utilização do microcrédito. No segundo momento, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com o intuito de identificar fatores que contribuíam com os resultados. Posteriormente, foram ainda aplicados formulários survey aos proprietários com o intuito de identificar a relevância estatística dos fatores elencados através da pesquisa à otimização dos resultados na amostra estudada. Os dados foram analisados com auxílio do software MINITAB® Release 14.1. A fim de testar empiricamente a relação acima descrita, buscou-se testar a seguinte hipótese nula: H0a: Não existe influência do microcrédito à otimização do desempenho empresarial de microempreendimentos do setor de confecções do Vale do São Francisco, as eventais variações são frutos do acaso. Espera-se, com a pesquisa, encontrar relação estatisticamente significante entre as variáveis analisadas a fim de subisidiar o processo de planejamento e posterior implantação de políticas que visem incentivar a implantação e fortalecimento de programas de na região estudada. 4 Análise dos dados Tabulando os dados obtidos, tornou-se possível tratá-los efetuado cálculos de análise de variância (ANOVA), conforme evidenciado na tabela 01: p-nível Intercepto 0,003 Qualidade Endiv. (Ql.E.) 0,057 Quantidade Endiv. (Qd. E.) 0,004 Liq. Corrente (L.C.) 0,013 Liq. Seca (L.S.) 0,041 Liq. Imediata (L.I.) 0,044 Liq. Geral (L.G.) 0,001 Evol. Patr. (EvP) 0,003 Lucro Líquido (LL) 0,049

H0 (5%) rejeitado? Sim Não Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim

Figura 1 – ANOVA desempenho operacional

Os resultados evidenciados pelo P-value evidenciam significância estatística das variáveis de todas as variáveis, com excessão do índice de qualidade do endividamento (Ql.E.), tendo em vista apresentarem valores inferiores ao nível de significância de 0,05. Ou seja, existem evidências suficientes de que o fenômeno microcrédito influencia positivamente na gestão econômica dos empreendimentos, descartando assim a hipótese nula. A variável qualidade do endividamento (Ql.E.) não apresentou relevância estatística devido a inexistência de passivos de longo prazo. Entre os motivos mais preponderantes para este


cenário, pode-se citar o fato de não apresentarem garantias reais e a inexistência de relacionamento com outras instituições bancárias – a Agência de microcrédito estudada só trabalha com linhas de curto prazo. No entanto, esse fato, eventualmente, prejudica a situação financeira, no momento em que demanda um alto giro dos ativos correntes para fomentar o sincronismo entre receitas e despesas, o que consequentemente, dificulta a liquidez empresarial. Com esses dados em mãos, tornou-se possível, em um momento subsequente, aplicar um formulário survey aos empreendedores onde se constatou a existência de evidências significativas para variáveis inerentes a cada negócio e/ou intrínsecos ao indivíduo, como a localização do ponto (p-nível de 0,002), poder de barganha (p-nível de 0,0285) e capacidade de negociação com cliente (p-nível de 0,0031), ainda um nível de significância de 95%. 5 Considerações Finais O estudo, evidenciou que o microcrédito é realmente uma forma de captação de recursos que beneficia a pequenos empreendimentos, fomentando o crescimento destes. A instituição “Agência do Crédito de Petrolina/PE” é parte integrante do processo de melhoria desses negócios, promovendo o aumento de ocupação a famílias de baixa renda, as quais muitas vezes são desprovidas de empréstimos em bancos do sistema financeiro tradicional. Ou seja, o microcrédito abre portas não somente para os microempreendimentos, mas, de forma atrelada, para toda a sociedade. Quando observado o endividamento dessas 16 empresas com relação a qualidade, ficou evidente que tais atividades trabalham com recursos a serem pagos em curto prazo, essa situação demonstra que os pequenos negócios terão que gerar dinheiro num curto espaço de tempo para que não tenham dificuldades futuras. Com relação a quantidade do endividamento, o estudo mostrou que quase todas as atividades trabalham com o mínimo de recursos de capital de terceiros, ou seja, o capital próprio prevalece; no entanto esse ponto é favorável para os pequenos negócios do ramo de confecções, pois a maioria de suas contas de ativo (aplicações) são financiadas com recursos próprios da empresa. 6 Recomendações No atual cenário econômico nacional, onde o crescimento econômico é objeto de fugaz busca por parte de todas as nações, o microcrédito apresenta-se com alternativa viável e imprescindível. Como limitação da presente pesquisa ressalta-se a necessidade de majorar a região estudada e como sugestão para futuras pesquisas, torna-se necessário estudar a eventual contribuição de conhecimentos de gestão prévio por parte dos microempreendedores aos resultados institucionais, bem como a necessidade de linear estratégias para identificação e posterior treinamento destas características inerentes ao indivíduo que mostram-se relevantes ao êxito institucional.


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