Revista Universidade & Sociedade n. 56

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Entrevista

Guilherme Boulos

fala sobre o direito à cidade Entrevista concedida a Liliane Machado e Antonio José (Tomzé) Vale da Costa Fotos: Daniel Garcia Os dois principais vilões que atuam contra o direito à moradia são o Estado e a especulação imobiliária, liderada pelas empreiteiras, afirma Guilherme Boulos, integrante da coordenação colegiada do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST). Filósofo e especialista em psicanálise, Boulos é bastante enfático quando diz que um militante nunca deve fazer da militância uma fonte de renda, por isso também trabalha como professor de psicanálise. Enquanto concedia-nos a entrevista, nas dependências externas da USP (quase em frente ao Departamento no qual se graduou), Boulos pediu-nos licença diversas vezes para atender aos telefonemas de colegas de militância e também de autoridades com as quais negociava mais uma das ocupações lideradas pelo MTST. Na entrevista, ele pontua questões fundamentais relativas à situação das metrópoles no país: exclusão dos mais pobres, inflação desmedida dos aluguéis e déficit de moradias. Ao avaliar o Programa Minha Casa Minha Vida, instituído pelo Governo Federal, observa que “na prática, o programa enxuga gelo”, visto que, na sua opinião, a iniciativa não diminui a especulação imobiliária no país; ao contrário, segrega ainda mais as populações mais pobres para as zonas periféricas e desassistidas pelo Estado. Morador de São Paulo, onde está à frente de um dos maiores movimentos sociais do Brasil atual, Boulos também avaliou a polarização política do país, que, na sua opinião, tem aspectos positivos e negativos. O negativo é que a direita perdeu a vergonha: “coisas que antes eles tinham vergonha de dizer, atualmente, não têm nenhum pudor”. Entretanto, a polarização também ofereceu a oportunidade para que a esquerda acorde, visto que a radicalização da direita é resultado do fracasso de um consenso, que foi a lógica do petismo e que o Lula encarnou. É preciso que a esquerda se diferencie claramente do governismo e, ao mesmo tempo, se diferencie do antipetismo de direita, “reconhecendo e combatendo, sem tréguas, esses setores reacionários: nas ruas, na política e em quaisquer outros lugares”. Leia, a seguir, a entrevista na íntegra com Boulos. 110

UNIVERSIDADE E SOCIEDADE #56


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