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Revista Online Edição Especial
Poesia em Português Unida a Sintra
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2014 © Todas as fotografias publicadas estã
Nenhuma parte desta publicação pode ser re outra forma, sem a permissão por escrito do
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茫o protegidas por direitos de autor.
eproduzida ou digitalizada para fotoc贸pias, ou editor e dos seus autores.
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Participações especiais de: Ana Borges Catarina Graça Rijó Conceição Castro Constantina Santos
Fotografia de capa:
João Dourado
Norberto Santos
José Mendes Isabel Patricia Rodrigues Lina Ferreira Maria Manuela Cardoso Maria Carmo Luis Manuel Lobato Norberto Santos
Paula Inácio Paulo Luis Raquel Santos Rosário Marques Sara Lourenço L Tozé Fonseca
Parceiros: 002—Estudio Licença para Fotografar Jornal de Sintra Digital de Sintra— Jornal Tudo Sobre Sintra
Sintra Mistica
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Editorial “ E o Grupo Sintra Mágica ”...une a fotografia à Literatura”.
Mais uma vez a fotografia e literatura estiveram abraçados!
Poetas escolhidos:
Sophia de Mello Breyner Andresen Florbela Espanca Eugénio de Andrade Nuno Júdice Depois da edição especial de Manuel Alegre Fernando Pessoa que teve bastante participação, por parte dos membros do grupo, Deslumbrem-se!! resolvemos manter a literatura Apaixonem-se... ligada á fotografia, desafiando Participem! os membros a escolher citações de poemas que mais se adequavam à sua alma ou a sua ... E se não conhecem o grupo, fotografia partindo de uma juntem-se a nós em: https:// sugestão de poetas. www.facebook.com/groups/ sintramagica O resultado? Simplesmente FANTÁSTICO!
Parabéns a todas as participações e às suas escolhas maravilhosas que permitiu ser uma semana “agitada” e de cultura!
Participações “Desafio Diário” Poesia Mágica”
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Raquel Santos
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"
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Apesar
Onde se
A forรงa Que de
E nunca
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das ruínas e da morte,
empre acabou cada ilusão,
a dos meus sonhos é tão forte, tudo renasce a exaltação
a as minhas mãos ficam vazias.
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«
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O Jardim e a casa Não se perdeu nenhuma coisa em mim. Continuam as noites e os poentes Que escorreram na casa e no jardim, Continuam as vozes diferentes Que intactas no meu ser estão suspensas. Trago o terror e trago a claridade, E através de todas as presenças Caminho para a única unidade.
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Sua Beleza Sua beleza é total Tem a nítida esquadria de um Mantegna Porém como um Picasso de repente Desloca o visual Seu torso lembra o respirar da vela Seu corpo é solar e frontal Sua beleza à força de ser bela Promete mais do que prazer Promete um mundo mais inteiro e mais real Como pátria do ser
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Exausta fujo às arenas do puro intolerável os deuses da destruição sentaram-se ao meu lado a cidade onde habito é rica de desastres embora exista a praia lisa que sonhei.
MARIA DO CARMO LUIS
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MARIA MANUELA CARDOSO
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Eis-me Tendo-me despido de todos os meus mantos Tendo-me separado de adivinhos mágicos e deuses Para ficar sozinha ante o silêncio Ante o silêncio e o esplendor da tua face Mas tu és de todos os ausentes o ausente Nem o teu ombro me apoia nem a tua mão me toca O meu coração desce as escadas do tempo [em que não moras E o teu encontro São planícies e planícies de silêncio Escura é a noite Escura e transparente Mas o teu rosto está para além do tempo opaco E eu não habito os jardins do teu silêncio Porque tu és de todos os ausentes o ausente Sophia de Mello Breyner Andresen, in 'Livro Sexto'
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Terror de te amar num sítio tão fr
Aqui nesta praia onde Não há nenhum vestígio de impureza,
Aqui onde há somente Ondas tombando ininterruptamente, Puro espaço e lúcida unidade, Aqui o tempo apaixonadamente Encontra a própria liberdade.
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rรกgil como o mundo.
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Num deserto sem รกgua
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As ondas quebravam uma a uma Eu estava s贸 com a areia e com a espuma Do mar que cantava s贸 para mim.
Participações “Desafio Diário” Poesia Mágica”
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Eu quero amar, amar perdidamente! Amar só por amar: Aqui... além... Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente... Amar! Amar! E não amar ninguém! Recordar? Esquecer? Indiferente!... Prender ou desprender? É mal? É bem? Quem disser que se pode amar alguém Durante a vida inteira é porque mente! Há uma Primavera em cada vida: É preciso cantá-la assim florida, Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar! E se um dia hei de ser pó, cinza e nada Que seja a minha noite uma alvorada, Que me saiba perder... pra me encontrar...
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Se Tu Viesses Ver-me... Se tu viesses ver-me hoje à tardinha, A essa hora dos mágicos cansaços, Quando a noite de manso se avizinha, E me prendesses toda nos teus braços... Quando me lembra: esse sabor que tinha A tua boca... o eco dos teus passos... O teu riso de fonte... os teus abraços... Os teus beijos... a tua mão na minha... Se tu viesses quando, linda e louca, Traça as linhas dulcíssimas dum beijo E é de seda vermelha e canta e ri E é como um cravo ao sol a minha boca... Quando os olhos se me cerram de desejo... E os meus braços se estendem para ti... Florbela Espanca, in "Charneca em Flor"
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"Acho que é no casamento que está a felicidade de um homem normal." Correspondência (1927)
RAQUEL SANTOS
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RAQUEL SANTOS
"A Mulher Ó Mulher! Como és fraca e como és forte! Como sabes ser doce e desgraçada! Como sabes fingir quando em teu peito A tua alma se estorce amargurada! Quantas morrem saudosa duma imagem. Adorada que amaram doidamente! Quantas e quantas almas endoidecem Enquanto a boca rir alegremente! Quanta paixão e amor às vezes têm Sem nunca o confessarem a ninguém Doce alma de dor e sofrimento! Paixão que faria a felicidade. Dum rei; amor de sonho e de saudade, Que se esvai e que foge num lamento!"
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Horas mortas... Curvada aos pés do Monte A planície é um brasido e, torturadas, As árvores sangrentas, revoltadas, Gritam a Deus a benção duma fonte!
E quando, manhã alta, o sol posponte A oiro a giesta, a arder, pelas estradas, Esfíngicas, recortam desgrenhadas Os trágicos perfis no horizonte! Árvores! Corações, almas que choram, Almas iguais à minha, almas que imploram Em vão remédio para tanta mágoa! Árvores! Não choreis! Olhai e vede: --- Também ando a gritar, morta de sede, Pedindo a Deus a minha gota de água!
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Amo as pedras, os astros e o luar Que beija as ervas do atalho escuro, Amo as águas de anil e o doce olhar Dos animais, divinamente puro. Amo a hera que entende a voz do muro E dos sapos, o brando tilintar De cristais que se afagam devagar, E da minha charneca o rosto duro. Amo todos os sonhos que se calam De corações que sentem e não falam, Tudo o que é Infinito e pequenino! Asa que nos protege a todos nós! Soluço imenso, eterno, que é a voz Do nosso grande e mísero Destino!...
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"N達o costumo acreditar muito nos sonhos... porque de todos se acorda."
37 LINA FERREIRA
Eu sou a que no mundo anda perdida, Eu sou a que na vida não tem norte, Sou a irmã do Sonho,e desta sorte Sou a crucificada ... a dolorida ... Sombra de névoa tênue e esvaecida, E que o destino amargo, triste e forte, Impele brutalmente para a morte! Alma de luto sempre incompreendida!...
Sou aquela que passa e ninguém vê... Sou a que chamam triste sem o ser... Sou a que chora sem saber porquê... Sou talvez a visão que Alguém sonhou, Alguém que veio ao mundo pra me ver, E que nunca na vida me encontrou!
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Frémito do meu corpo a procurar-te, Febre das minhas mãos na tua pele Que cheira a âmbar, a baunilha e a mel, Doído anseio dos meus braços a abraçar-te, Olhos buscando os teus por toda a parte, Sede de beijos, amargor de fel, Estonteante fome, áspera e cruel, Que nada existe que a mitigue e a farte! E vejo-te tão longe! Sinto tua alma Junto da minha, uma lagoa calma, A dizer-me, a cantar que não me amas... E o meu coração que tu não sentes, Vai boiando ao acaso das correntes, Esquife negro sobre um mar de chamas...
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Ódio por Ele? Não... Se o amei tanto, Se tanto bem lhe quis no meu passado, Se o encontrei depois de o ter sonhado, Se à vida assim roubei todo o encanto, Que importa se mentiu? E se hoje o pranto Turva o meu triste olhar, marmorizado, Olhar de monja, trágico, gelado Com um soturno e enorme Campo Santo!
Nunca mais o amar já é bastante! Quero senti-lo doutra, bem distante, Como se fora meu, calma e serena! Ódio seria em mim saudade infinda, Mágoa de o ter perdido, amor ainda! Ódio por Ele? Não... não vale a pena... Florbela Espanca, in "Livro de Sóror Saudade"
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Tarde de mais... Quando chegaste enfim, para te ver Abriu-se a noite em mágico luar; E para o som de teus passos conhecer Pôs-se o silêncio, em volta, a escutar... Chegaste, enfim! Milagre de endoidar! Viu-se nessa hora o que não pode ser: Em plena noite, a noite iluminar E as pedras do caminho florescer! Beijando a areia de oiro dos desertos Procurara-te em vão! Braços abertos, Pés nus, olhos a rir, a boca em flor! E há cem anos que eu era nova e linda!... E a minha boca morta grita ainda: Por que chegaste tarde, ó meu Amor?!...
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MARIA CARMO LUIS
Horas mortas... Curvada aos pés do Monte A planície é um brasido e, torturadas, As árvores sangrentas, revoltadas, Gritam a Deus a benção duma fonte!
E quando, manhã alta, o sol posponte A oiro a giesta, a arder, pelas estradas, Esfíngicas, recortam desgrenhadas Os trágicos perfis no horizonte! Árvores! Corações, almas que choram, Almas iguais à minha, almas que imploram Em vão remédio para tanta mágoa! Árvores! Não choreis! Olhai e vede: --- Também ando a gritar, morta de sede, Pedindo a Deus a minha gota de água!
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A nossa casa, Amor, a nossa casa! Onte está ela, Amor, que não a vejo? Na minha doida fantasia em brasa Costrói-a, num instante, o meu desejo! Onde está ela, Amor, a nossa casa, O bem que neste mundo mais invejo? O brando ninho aonde o nosso beijo Será mais puro e doce que uma asa? Sonho... que eu e tu, dois pobrezinhos, Andamos de mãos dadas, nos caminhos Duma terra de rosas, num jadim,
Num país de ilusão que nunca vi... E que eu moro - tão bom! - dentro de ti E tu, ó meu Amor, dentro de mim...
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Eu sou a que no mundo anda perdida, Eu sou a que na vida não tem norte, Sou a irmã do Sonho, e desta sorte Sou a crucificada... a dolorida... Sombra de névoa ténue e esvaecida, E que o destino, amargo, triste e forte, Impele brutalmente para a morte! Alma de luto sempre incompreendida! Sou aquela que passa e ninguém vê... Sou a que chamam triste sem o ser... Sou a que chora sem saber porquê... Sou talvez a visão que Alguém sonhou, Alguém que veio ao mundo pra me ver E que nunca na vida me encontrou!
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Noite de Saudade A Noite vem poisando devagar Sobre a Terra, que inunda de amargura ... E nem sequer a bênção do luar A quis tornar divinamente pura ... Ninguém vem atrás dela a acompanhar A sua dor que é cheia de tortura ... E eu oiço a Noite imensa soluçar! E eu oiço soluçar a Noite escura! Por que és assim tão escura, assim tão triste?! É que, talvez, ó Noite, em ti existe Uma Saudade igual à que eu contenho!
Saudade que eu sei donde me vem ... Talvez de ti, ó Noite! ... Ou de ninguém! ... Que eu nunca sei quem sou, nem o que tenho
o!!
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Participações “Desafio Diário” Poesia Mágica”
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Desde a Aurora Como um sol de polpa escura para levar à boca, eis as mãos: procuram-te desde o chão, entre os veios do sono e da memória procuram-te: à vertigem do ar abrem as portas:
vai entrar o vento ou o violento aroma de uma candeia, e subitamente a ferida recomeça a sangrar: é tempo de colher: a noite iluminou-se bago a bago: vais surgir para beber de um trago como um grito contra o muro. Sou eu, desde a aurora, eu — a terra — que te procuro. Eugénio de Andrade, in "Obscuro Domínio"
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Até Amanhã Sei agora como nasceu a alegria, como nasce o vento entre barcos de papel, como nasce a água ou o amor quando a juventude não é uma lágrima. É primeiro só um rumor de espuma à roda do corpo que desperta, sílaba espessa, beijo acumulado, amanhecer de pássaros no sangue.
É subitamente um grito, um grito apertado nos dentes, galope de cavalos num horizonte onde o mar é diurno e sem palavras. Falei de tudo quanto amei. De coisas que te dou para que tu as ames comigo: a juventude, o vento e as areias.
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— Vê como brilha a estrela da manhã, como a terra é só um cheiro de eucaliptos, e um rumor de água vem no vento. — Tu és a água, a terra, o vento, a estrela da manhã és tu ainda.
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"O silêncio é a minha maior tentação. As palavras, esse vício ocidental, estão gastas, envelhecidas, envilecidas. Fatigam, exasperam. E mentem, separam, ferem. Também apaziguam, é certo, mas é tão raro! Por cada palavra que chega até nós, ainda quente das entranhas do ser, quanta baba nos escorre em cima a fingir de música suprema! A plenitude do silêncio só os orientais a conhecem."
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ROSARIO MARQUES
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"Nada nem o branco fogo do trigo nem as agulhas cravadas na pupila dos pássaros te dirão a palavra Não interrogues não perguntes entre a razão e a turbulência da neve não há diferença Não colecciones dejectos o teu destino és tu Despe-te não há outro caminho"
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Adeus Já gastámos as palavras pela rua, meu amor, e o que nos ficou não chega para afastar o frio de quatro paredes. Gastámos tudo menos o silêncio. Gastámos os olhos com o sal das lágrimas, gastámos as mãos à força de as apertarmos, gastámos o relógio e as pedras das esquinas em esperas inúteis. Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada. Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro; era como se todas as coisas fossem minhas: quanto mais te dava mais tinha para te dar. Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes. E eu acreditava. Acreditava, porque ao teu lado todas as coisas eram possíveis. Mas isso era no tempo dos segredos,
era era era Ho Ép un
Já Qu já En ten qu só no
Nã De nã Op Ej
Ad
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a no tempo em que o teu corpo era um aquário, a no tempo em que os meus olhos am realmente peixes verdes. oje são apenas os meus olhos. pouco, mas é verdade, ns olhos como todos os outros.
gastámos as palavras. uando agora digo: meu amor, se não passa absolutamente nada. no entanto, antes das palavras gastas, nho a certeza ue todas as coisas estremeciam ó de murmurar o teu nome o silêncio do meu coração.
ão temos já nada para dar. entro de ti ão há nada que me peça água. passado é inútil como um trapo. já te disse: as palavras estão gastas.
deus.
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As palavras São como um cristal, as palavras. Algumas, um punhal, um incêndio. Outras, orvalho apenas. Secretas vêm, cheias de memória. Inseguras navegam: barcos ou beijos, as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes, leves. Tecidas são de luz e são a noite. E mesmo pálidas verdes paraísos lembram ainda. Quem as escuta? Quem as recolhe, assim, cruéis, desfeitas, nas suas conchas puras? Eugénio de Andrade
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Quase Nada O amor é uma ave a tremer nas mãos de uma criança. Serve-se de palavras por ignorar que as manhãs mais limpas não têm voz. . Eugénio de Andrade
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O Silêncio Quando a ternura parece já do seu ofício fatigada, e o sono, a mais incerta barca, inda demora, quando azuis irrompem os teus olhos e procuram nos meus navegação segura, é que eu te falo das palavras desamparadas e desertas, pelo silêncio fascinadas.
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Falei de tudo quanto amei. De coisas que te dou para que tu as ames comigo: a juventude, o vento e as areias.
EugĂŠnio de Andrade, in "AtĂŠ Aman
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nh達"
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Vou fazer-te uma confidência, talvez tenh esse cão, ladra-me agora menos à porta. N da alma para saber como são vastos os ca jardim, estou cansado, setembro foi mês d para minha alegria, a terra v
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ha já começado a envelhecer e o desejo, Nunca precisei de frequentar curandeiros ampos do delírio. Agora vou sentar-me no de venenosas claridades, mas esta noite, vai arder comigo. Até ao fim.
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Uma casa que fosse um areal deserto; que nem casa fosse; só um lugar onde o lume foi aceso, e à sua roda se sentou a alegria; e aqueceu as mãos; e partiu porque tinha um destino; coisa simples e pouca, mas destino: crescer como árvore, resistir ao vento, ao rigor da invernia, e certa manhã sentir os passos de abril ou, quem sabe?, a floração dos ramos, que pareciam secos, e de novo estremecem com o repentino canto da cotovia.
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Mar de Setembro Tudo era claro: céu, lábios, areias. O mar estava perto, Fremente de espumas. Corpos ou ondas: iam, vinham, iam, dóceis, leves, só alma e brancura. Felizes, cantam; serenos, dormem; despertos, amam, exaltam o silêncio. Tudo era claro, jovem, alado. O mar estava perto, puríssimo, doirado.
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"É possível que só as árvores tenham raízes, mas o poeta sempre se alimentou de utopias. Deixe-me pois pensar que o homem ainda tem possibilidades de se tornar humano."
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MARIA DO CARMO LUIS
Participações “Desafio Diário” Poesia Mágica”
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Tempo Livre Numa tarde de domingo, em Central Park, ou numa tarde de domingo, em Hyde Park, ou numa tarde de domingo, no jardim do Luxemburgo, ou num parque qualquer de uma tarde de domingo que até pode ser o parque Eduardo VII, deitas-te na relva com o corpo enrolado como se fosses uma colher metida no guardanapo. A tarde limpa os beiços com esse guardanapo de flores, que é o teu vestido de domingo, e deixa-te nua sob o sol frio do inverno de uma cidade que pode ser Nova Iorque, Londres, Paris, ou outra qualquer, como Lisboa. As árvores olham para outro sítio, com os pássaros distraídos com o sol que está naquela tarde por engano. E tu, com os dedos presos na relva húmida, vês o teu vestido voar, como um guardanapo, por entre as nuvens brancas de uma tarde de inverno.
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MARIA DO CARMO LUIS
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A boca, onde o fogo de um verão muito antigo cintila, a boca espera (que pode uma boca esperar senão outra boca?) espera o ardor do vento para ser ave e cantar. Levar-te à boca, beber a água mais funda do teu ser se a luz é tanta, como se pode morrer?
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A Origem do Mundo De manhã, apanho as ervas do quintal. A terra, ainda fresca, sai com as raízes; e mistura-se com a névoa da madrugada. O mundo, então, fica ao contrário: o céu, que não vejo, está por baixo da terra; e as raízes sobem numa direcção invisível. De dentro de casa, porém, um cheiro a café chama por mim: como se alguém me dissesse que é preciso acordar, uma segunda vez, para que as raízes cresçam por dentro da terra e a névoa, dissipando-se, deixe ver o azul. Nuno Júdice, in "Meditação sobre Ruínas"
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Pedro Lembrando Inês... Em quem pensar, agora, senão em ti? Tu, que me esvaziaste de coisas incertas, e trouxeste a manhã da minha noite. É verdade que te podia dizer: "Como é mais fácil deixar que as coisas não mudem, sermos o que sempre fomos, mudarmos apenas dentro de nós próprios? "Mas ensinaste-me a sermos dois; e a ser contigo aquilo que sou, até sermos um apenas no amor que nos une, contra a solidão que nos divide. Mas é isto o amor: ver-te mesmo quando te não vejo, ouvir a tua voz que abre as fontes de todos os rios, mesmo esse que mal corria quando por ele passámos, subindo a margem em que descobri o sentido de irmos contra o tempo, para ganhar o tempo que o tempo nos rouba. Como gosto, meu amor, de chegar antes de ti para te ver chegar: com a surpresa dos teus cabelos, e o teu rosto de água fresca que eu bebo, com esta sede que não passa. Tu: a primavera luminosa da minha expectativa, a mais certa certeza de que gosto de ti, como gostas de mim, até ao fundo do mundo que me deste.
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Quero dizer-te uma coisa simples: a tua Ausência dói-me. Refiro-me a essa dor que não Magoa, que se limita à alma; mas que não deixa, Por isso, de deixar alguns sinais - um peso Nos olhos, no lugar da tua imagem, e Um vazio nas mãos, como se as tuas mãos lhes Tivessem roubado o tacto. São estas as formas Do amor, podia dizer-te; e acrescentar que As coisas simples também podem ser complicadas, Quando nos damos conta da diferença entre o sonho e a realidade. Porém, é o sonho que me traz a tua memória; e a Realidade aproxima-me de ti, agora que Os dias correm mais depressa, e as palavras Ficam presas numa refracção de instantes, Quando a tua voz me chama de dentro de Mim - e me faz responder-te uma coisa simples, Como dizer que a tua ausência me dói. Nuno Júdice, in 'Pedro Lembrando Inês'
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Deus À noite, há um ponto do corredor em que um brilho ocasional faz lembrar um pirilampo. Inclino-me para o apanhar - e a sombra apaga-o. Então, levanto-me: já sem a preocupação de saber o que é esse brilho, ou do que é reflexo. Ali, no entanto, ficou uma inquietação; e muito tempo depois, sem me dar conta do motivo autêntico, ainda me volto no corredor, procurando a luz que já não existe.
Nuno Júdice, in "Meditação
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É nestas flores, em particular, que vejo desenhar-se uma linha que me leva de mim a ti, passando sobre um campo invisível, onde já não se ouvem os pássaros, e onde o vento não faz cair as folhas. Estamos em frente de um canteiro puramente abstrato, e cada uma destas flores nasceu das frases em que o amor se manifesta, e do movimento dos dedos sobre a pele, traçando um fio de horizonte em que os meus olhos se perdem. Por isso estão vivas, e alimentam-se da seiva que bebem nos teus lábios, quando os abres, e por instantes a vida inteira se resume ao sorriso que neles se esboça.
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que é preciso acordar, uma segunda vez, De manhã, apanho as ervas do quintal. para que as raízes cresçam por dentro da A terra, ainda fresca, sai com as raízes; e terra e a névoa, dissipando-se, deixe ver o azul. mistura-se com A Origem do Mundo
a névoa da madrugada. O mundo, Nuno Júdice, in "Meditação sobre então, Ruínas" fica ao contrário: o céu, que não vejo, está por baixo da terra; e as raízes sobem numa direcção invisível. De dentro de casa, porém, um cheiro a café chama por mim: como se alguém me dissesse
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Sonhei contigo... embora nenhum sonho possa ter habitantes, tu a quem chamo amor, cada ano pudesse trazer um pouco mais de convicção a esta palavra. É verdade o sonho poderá ter feito com que, nesta rarefacção de ambos, a tua presença se impusesse - como se cada gesto do poema te restituísse um corpo que sinto ao dizer o teu nome, confundindo os teus lábios com o rebordo desta chávena de café já frio. Então, bebo-o de um trago o mesmo se pode fazer ao amor, quando entre mim e ti se instalou todo este espaço terra, água, nuvens, rios e o lago obscuro do tempo que o inverno rouba à transparência da fontes. É isto, porém, que faz com que a solidão não seja mais do que um lugar comum saber que existes, aí, e estar contigo mesmo que só o silêncio me responda quando, uma vez mais te chamo.
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A Vida A vida, as suas perdas e os seus ganhos, a sua mais que perfeita imprecisão, os dias que contam quando não se espera, o atraso na preocupação dos teus olhos, e as nuvens que caíram mais depressa, nessa tarde, o círculo das relações a abrir-se para dentro e para fora dos sentidos que nada têm a ver com círculos, quadrados, rectângulos, nas linhas rectas e paralelas que se cruzam com as linhas da mão; a vida que traz consigo as emoções e os acasos, a luz inexorável das profecias que nunca se realizaram e dos encontros que sempre se soube que se iriam dar, mesmo que nunca se soubesse com quem e onde, nem quando; essa vida que leva consigo o rosto sonhado numa hesitação de madrugada, sob a luz indecisa que apenas mostra as paredes nuas, de manchas húmidas no gesso da memória; a vida feita dos seus corpos obscuros e das suas palavras próximas.
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Um Poema de Amor Não sei onde estás, se falas ou se apenas olhas o horizonte, que pode ser apenas o de uma parede de quarto. Mas sei que uma sombra se demora contigo, quando me pergunto onde estás: uma inquietação que atravessa o espaço entre mim e ti, e te rouba as certezas de hoje, como a mim me dá este poema. Nuno Júdice, in "O Movimento do Mundo"
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"Confissão" De um e outro lado do que sou, da luz e da obscuridade, do ouro e do pó, ouço pedirem-me que escolha; e deixe para trás a inquietação, a dor, um peso de não sei que ansiedade. Mas levo comigo tudo o que recuso. Sinto colar-se-me às costas um resto de noite; e não sei voltar-me para a frente, onde amanhece. Nuno Júdice, in "Meditação sobre Ruínas"
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A Origem do Mundo De manhã, apanho as ervas do quintal. A terra, ainda fresca, sai com as raízes; e mistura-se com a névoa da madrugada. O mundo, então, fica ao contrário: o céu, que não vejo, está por baixo da terra; e as raízes sobem numa direcção invisível. De dentro de casa, porém, um cheiro a café chama por mim: como se alguém me dissesse que é preciso acordar, uma segunda vez, para que as raízes cresçam por dentro da terra e a névoa, dissipando-se, deixe ver o azul. Nuno Júdice, in "Meditação sobre Ruínas" " O Mundo ao Contrário"
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"A loucura ĂŠ a grandeza dos simples: assim sĂŁo eles mais do que eles, colhendo flores brancas e reles."
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Metafísica
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1 Não tenta nada de que se tivesse já esquecido; o seu objectivo, agora, é organizar o presente. 2 Com as mãos, procura avaliar a qualidade da terra: se as folhas lhe dão a consistência do ser vivo, ou se a pedra que está por baixo, com os restos fósseis da origem, rompe a sua unidade, e impede o caminho às raízes. 3 Os olhos não sabem, ainda, que a visão profunda os dispensa. Por dentro, o olhar implica a noite; e é da fusão das formas no negro último do céu, para além da superfície das estrelas e das nebulosas que essa verdade brilha com a sua exacta eternidade."
Participações “Desafio Diário” Poesia Mágica”
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Coisa Amar Contar-te longamente as perigosas coisas do mar. Contar-te o amor ardente e as ilhas que sรณ hรก no verbo amar. Contar-te longamente longamente. Amor ardente. Amor ardente. E mar. Contar-te longamente as misteriosas maravilhas do verbo navegar. E mar. Amar: as coisas perigosas. Contar-te longamente que jรก foi num tempo doce coisa amar. E mar. Contar-te longamente como doi desembarcar nas ilhas misteriosas. Contar-te o mar ardente e o verbo amar. E longamente as coisas perigosas. Manuel Alegre
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E alegre se fez triste Aquela clara madrugada que viu lágrimas correrem no teu rosto e alegre se fez triste como se chovesse de repente em pleno Agosto. Ela só viu meus dedos nos teus dedos meu nome no teu nome. E demorados viu nossos olhos juntos nos segredos que em silêncio dissemos separados. A clara madrugada em que parti. Só ela viu teu rosto olhando a estrada por onde um automóvel se afastava. E viu que a pátria estava toda em ti. E ouviu dizer-me adeus: essa palavra que fez tão triste a clara madrugada.
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Pergunto ao vento q notícias do meu e o vento cala a de o vento nada m
Pergunto aos rios q tanto sonho à flor d e os rios não me so levam sonhos deixam
Levam sonhos deixa ai rios do meu minha pátria à flor d para onde vais? Nin
Se o verde trevo d pede notícias e ao trevo de quatro que morro por me
Mas há sempre uma dentro da própria d há sempre alguém q canções no vento qu
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que passa u país esgraça me diz.
que levam das águas ossegam m mágoas.
am mágoas país das águas nguém diz.
desfolhas e diz o folhas eu país.
a candeia desgraça que semeia ue passa.
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ROSร RIO MARQUES
Coisa Amar Contar-te longamente as perigosas coisas do mar. Contar-te o amor ardente e as ilhas que sรณ hรก no verbo amar. Contar-te longamente longamente.
Amor ardente. Amor ardente. E mar. Contar-te longamente as misteriosas maravilhas do verbo navegar. E mar. Amar: as coisas perigosas. Contar-te longamente que jรก foi num tempo doce coisa amar. E mar. Contar-te longamente como doi desembarcar nas ilhas misteriosas. Contar-te o mar ardente e o verbo amar. E longamente as coisas perigosas. Manuel Alegre
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"Abaixo el-rei Sebastião" É preciso enterrar el-rei Sebastião é preciso dizer a toda a gente que o Desejado já não pode vir. É preciso quebrar na ideia e na canção a guitarra fantástica e doente que alguém trouxe de Alcácer Quibir. Eu digo que está morto. Deixai em paz el-rei Sebastião deixai-o no desastre e na loucura. Sem precisarmos de sair o porto temos aqui à mão a terra da aventura.
Vós que trazeis por dentro de cada gesto uma cansada humilhação deixai falar na vossa voz a voz do vento cantai em tom de grito e de protesto matai dentro de vós el-rei Sebastião. Quem vai tocar a rebate os sinos de Portugal? Poeta: é tempo de um punhal por dentro da canção. Que é preciso bater em quem nos bate é preciso enterrar el-rei Sebastião. Manuel Alegre
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Coração Polar Não sei de que cor são os navios quando naufragam no meio dos teus braços sei que há um corpo nunca encontrado algures e que esse corpo vivo é o teu corpo imaterial a tua promessa nos mastros de todos os veleiros a ilha perfumada das tuas pernas o teu ventre de conchas e corais a gruta onde me esperas com teus lábios de espuma e de salsugem os teus naufrágios e a grande equação do vento e da viagem onde o acaso floresce com seus espelhos seus indícios de rosa e descoberta. Não sei de que cor é essa linha onde se cruza a lua e a mastreação mas sei que em cada rua há uma esquina uma abertura entre a rotina e a maravilha há uma hora de fogo para o azul a hora em que te encontro e não te encontro há um ângulo ao contrário uma geometria mágica onde tudo pode ser
possív há um não m as rota e eu q quero nesta num s todos
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vel m mar imaginário aberto em cada página me venham dizer que nunca mais as nascem do desejo quero o cruzeiro do sul das tuas mãos o teu nome escrito nas marés cidade onde no sítio mais absurdo sentido proibido ou num semáforo os poentes me dizem quem tu és.
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Portugal O teu destino é nunca haver chegada O teu destino é outra índia e outro mar E a nova nau lusíada apontada A um país que só há no verbo achar
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Trova do Vento que Passa Pergunto ao vento que passa notícias do meu país e o vento cala a desgraça o vento nada me diz. Pergunto aos rios que levam tanto sonho à flor das águas e os rios não me sossegam levam sonhos deixam mágoas. Levam sonhos deixam mágoas ai rios do meu país minha pátria à flor das águas para onde vais? Ninguém diz. Se o verde trevo desfolhas pede notícias e diz ao trevo de quatro folhas que morro por meu país. Pergunto à gente que passa por que vai de olhos no chão. Silêncio -- é tudo o que tem quem vive na servidão.
Vi florir os verdes r direitos e ao céu vo E a quem gosta de vi sempre os ombro
E o vento não me d ninguém diz nada d Vi minha pátria pre nos braços em cruz
Vi minha pátria na dos rios que vão pr como quem ama a mas tem sempre d
Vi navios a partir (minha pátria à flor vi minha pátria flori (verdes folhas verd
Há quem te queira e fale pátria em teu Eu vi-te crucificada nos braços negros
E o vento não me d só o silêncio persis Vi minha pátria par
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ramos oltados. e ter amos os curvados.
diz nada de novo. egada z do povo.
margem ró mar viagem de ficar.
r das águas) ir des mágoas).
ignorada u nome. a da fome.
diz nada ste. rada
à beira de um rio triste. Ninguém diz nada de novo se notícias vou pedindo nas mãos vazias do povo vi minha pátria florindo. E a noite cresce por dentro dos homens do meu país. Peço notícias ao vento e o vento nada me diz. Mas há sempre uma candeia dentro da própria desgraça há sempre alguém que semeia canções no vento que passa. Mesmo na noite mais triste em tempo de servidão há sempre alguém que resiste há sempre alguém que diz não.
MANUEL LOBATO
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E alegre se fez triste A clara madrugada em que parti. Aquela clara madrugada que Só ela viu teu rosto olhando a estrada viu lágrimas correrem no teu rosto por onde um automóvel se afastava. e alegre se fez triste como se chovesse de repente em pleno Agosto. E viu que a pátria estava toda em ti. E ouviu dizer-me adeus: essa palavra Ela só viu meus dedos nos teus dedos que fez tão triste a clara madrugada. meu nome no teu nome. E demorados viu nossos olhos juntos nos segredos que em silêncio dissemos separados.
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Que mil flores desabrochem. Que mil flores
(outras nenhumas) onde amores fenecem que mil flores floresçam onde só dores florescem. Que mil flores desabrochem. Que mil espadas (outras nenhumas não) onde mil flores com espadas são cortadas que mil espadas floresçam em cada mão. Que mil espadas floresçam onde só penas são. Antes que amores feneçam que mil flores desabrochem. E outras nenhumas não.
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