ENTREVISTA FERNANDO SEARA

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ENTREVISTA FERNANDO SEARA

“PEDRO PINTO TEM O MEU AFECTO, A MINHA PROXIMIDADE E O MEU TEMPO DE RESPONSABILIDADE.” FERNANDO SEARA APOIA SEM RODEIOS A CANDIDATURA DE PEDRO PINTO A SINTRA E CONFESSA QUE JÁ SENTE SAUDADES DOS SINTRENSES. Jornal de Campanha (JC): Pedro Pinto é o seu candidato para Sintra?

Fernando Seara (FS): Pedro Pinto é o meu candidato para Sintra. Há doze anos concorri sob o lema “Mais Sintra”. Ganhei. Ganhamos outras duas eleições. Pedro Pinto é, hoje, a expressão e o líder da coligação Mais Sintra, que é, assim, a repetição ao nível da expressão político-partidária que me suportou desde o primeiro dia em que me candidatei a Sintra.

JC: Por que razão apoia Pedro Pinto?

FS: A liderança hoje assumida pela Coligação Mais Sintra com Pedro Pinto, como em 2001 protagonizada por mim, representa a quádrupla perspectiva que é a minha responsabilidade pessoal, a minha consciência, o partido de que faço parte e, também, o meu País. Independentemente de todas as questões, conheço há suficiente tempo Pedro Pinto para dizer do meu afecto, da minha proximidade e do meu tempo de responsabilidade. O protagonismo do Pedro Pinto é a expressão dessa quádrupla perspectiva que aqui estou a sintetizar: responsabilidade, consciência, expressão partidária e País.

JC: Considera que Pedro Pinto tem caraterísticas de autarca?

FS: Pedro Pinto tem características de autarca porque já foi autarca com responsabilidades acrescidas na Câmara de Lisboa. A questão central é essa: Pedro Pinto teve contributos importantíssimos durante a gestão autárquica do PSD em Lisboa. Assumiu em diferentes áreas na Câmara de Lisboa - que é a maior Câmara de Portugal - o protagonismo que lhe foi dado pelo Presidente Pedro Santana Lopes.

JC: Em que é que isso se reflecte?

FS: Reflecte conhecimento da vida autárquica, a perfeita delimitação do que é a gestão de um tempo de autarquias, a condução de diferentes pelouros com diferentes lógicas de proximidade a diferentes sectores da sociedade. Pedro Pinto tem a consciência da riqueza daquilo que chamo o «elemento colectivo de uma gestão municipal» e da liderança que tem de ser assumida pelo Presidente da Câmara.

dro Pinto assumiu que Sintra tem o direito a voar. Espero que concretize o direito ao voo. Um Aeroporto, mesmo de pequena dimensão, é fundamental para a estrutura de desenvolvimento de uma média cidade. Veja-se a estrutura de desenvolvimento que Barcelona e Málaga ou que algumas cidades alemãs fizeram para as cidades desenvolvidas a partir de aeroportos de pequena dimensão. Barcelona aproveitou ser um terminal de cruzeiros como elemento complementar do aeroporto. Temos de aproveitar a continuidade de crescimento dos turistas. Conseguimos que não houvesse diferenças tão abissais para o turismo em Sintra entre época alta e época baixa.

no IC-19 e duas na ligação Estoril-Sintra. Hoje para entrar em Sintra existem 16 faixas de rodagem: seis no IC-19; quatro Estoril-Sintra; quatro na A-16. Ou seja: só há atractividade se houver acessibilidades. Hoje sente-se que há a consciência das acessibilidades e da multiplicação do número de turistas. Havendo isso, há a busca de projectos hoteleiros. Em frente à Câmara havia a famosa Pensão Adelaide – uma das referências de Sintra – completamente degradada. Neste momento, está ali a nascer o Hotel Adelaide. O Bristol teve caído, destruído, sem significado. Lá temos o Hotel Bristol actrativo e com qualidade. Há hoje um conjunto de unidades hoteleiras. Pequenas. Acolhedoras.

Pedro Pinto teve contributos importantíssimos na Câmara de Lisboa.

JC: Como compatibiliza o desenvolvimento com o equilíbrio de Sintra que fica comprometido se for tocado. Como resolver, por exemplo, a difícil questão do parqueamento na Vila?

JC: Mas a permanência média de cada turista em Sintra é de 4 ou 5 horas em vez de 4 ou 5 dias… Como é que isto se transforma? O Aeroporto ajuda?

FS: O Aeroporto ajudaria. Mas não podemos ter ilusões. O centro é tripartido entre Lisboa, Cascais-Estoril e Sintra. E, complementarmente, Mafra. Temos é de criar mecanismos de atractividade. Os turistas antigamente estavam duas ou três horas, em média. Hoje já ficam cinco a seis horas. Duplicámos.

JC: Como?

FS: Criando um círculo virtuoso ao nível dos percursos tradicionais de Sintra, onde estão os palácios. Nos últimos anos, Sintra cresceu dois dígitos por ano entre os destinos turísticos de Portugal. Isso significa alguma coisa. O facto de as principais receitas dos palácios ficarem em Sintra, ao nível da gestão Parque de Sintra Monte da Lua, significa que há reabilitação, nova procura, mais gente a querer ver. Simultaneamente, desenvolvemos o turismo da natureza.

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“Pedro Pinto é o meu candidato para Sintra.”

«era da Beira Alta, do Alentejo ou de Trás os Montes». Tenho um amigo da Beira Alta que vive em Sintra e, de cada vez que vai à terra, diz: «Senhor Presidente, vou ao condado. Quer alguma coisa?».

JC: Aqui também sentia as coisas sob controlo. Já era o seu condado?

FS: Um bocadinho. O condado é um conceito de afecto.

JC: E de responsabilidade.

FS: Só há responsabilidade se houver afecto. A responsabilidade é um elemento ético. É um elemento de ser. Não é um elemento de estar. Sintra tem muito alentejano, beirão, transmontano. Sintra acolheu toda a gente. E, de há 20 anos para cá, acolhe os cidadãos dos países de língua oficial portuguesa.

JC: Fez uma política de afectos?

JC: O que o levou a fazer isso?

FS: A consciência social. Andar na rua.

JC: Como reparou?

FS: Logo em 2005 e 2006 reparei, a partir da referência que as professoras me davam, no meu contacto com elas, que alguns alunos tinham o «síndroma da sopa quente». Na Segunda-feira, quando sentiam o cheiro de que a sopa estava a ser aquecida, ficavam mais nervosos porque não tinham comido nada quente durante o fim-de-semana. Havia a híper necessidade de perguntar se o almoço demorava muito. Pertenciam àquilo que chamei a «geração bolicao». Perante esta constatação de facto, a nossa responsabilidade de cidadania não nos pode fazer cingir às necessidades de Sábado e Domingo. A percepção de que se tinha logo a seguir às férias era a mesma.

JC: Não ser de Sintra foi um handi- FS: As lideranças delimitam e assumem JC: É mais caro um bolicao do que cap para si? políticas públicas locais que estão dentro uma sopa. FS: Não foi nenhum handicap.

JC: Pedro Pinto relançou o debate JC: Será para Pedro Pinto? do aeroporto low-cost em Sintra. FS: Não será para ninguém. Sintra é feiConcorda? ta de múltiplas imigrações. Eu não era FS: Lutámos pelo Aeroporto. Vi que Pe-

FS: Hoje há uma consciência de cidadania. O parqueamento não deve ser no centro da Vila. Deve ser fora. Podemos querer mais turistas mas devemos ter a consciência de uma responsabilidade como lugar e paisagem Património da Humanidade. Quando chegámos a Sintra, a Quinta da Regaleira tinha 30 mil visitantes, este ano vai ter 300 mil.

de Sintra mas toda a gente à minha volta

SINTRA PODE MAIS

das nossas responsabilidades e da nossa percepção. Fizemos bem ao nível da Acção Social. Fomos os primeiros a abrir os refeitórios em férias. Há muita gente agora que fala disso. Mas ninguém nos vem ensinar. Fomos os primeiros.

FS: Sabemos que é mais caro. Mas significa, também, outra questão que é a falta de rectaguarda, a multiplicação de emprego, o emprego precário, todos os mecanismos da sociedade periurbana contemporânea. Temos um bocadinho

de Portugal em toda a Sintra. Sintra é feita de várias sintras e as várias sintras são a expressão de Portugal. Penso que Pedro Pinto teve essa consciência em Lisboa. Lisboa é feita de muitas lisboas. Dos bairros, em que ainda há solidariedade e das lisboas em que as pessoas só se conhecem na garagem. E a garagem não é ponto de encontro mas sim ponto de partida.

O aeroporto é fundamental para o desenvolvimento de uma cidade média.

JC: Isso prejudica Sintra?

FS: Não se trata de prejudicar. Perturba. Temos de deixar aos nossos bisnetos a mesma capacidade de visitação e a mesma atractividade de Sintra que nos deixaram a nós. Temos que ter a noção de que gerimos Sintra no tempo da massificação turística de Sintra. A coligação tem esta consciência de continuar o desenvolvimento sustentado. Vai corrigir aquilo que não fizemos bem e complementar aquilo que fizemos menos bem. Vai ter capacidade inovadora - com as experiências que tem e com os conhecimentos que o Pedro Pinto tem do mundo e de outras cidades património - de fazer melhor. Faz diferente e marca com a sua referência pessoal.

JC: Existe uma marca socialista na gestão de Sintra. Com Basílio Horta JC: O Senhor Presidente parou a pode haver o risco de voltar a essa construção sem controlo no Con- construção desordenada que exiscelho, apostou no alargamento do tia antes da sua chegada? IC-19, na construção da A-16 a par FS: Acho que conseguimos, durante doze de outras soluções rodoviárias de anos, trazer para Sintra uma autoestima grande impacto na mobilidade dos e, com isso, um conceito de cidadania e, Sintrenses. assim, um conceito de responsabilidade FS: Quando cheguei, para entrar em Sintra havia seis faixas de rodagem: quatro

e um sentido de coligação das realidades partidárias de suporte com a comunidade local. Essa marca é identificadora da

“Vou ter saudades de tudo.”

coligação Mais Sintra que assumi durante três mandatos.

JC: Em que é que Sintra Pode Mais?

FS: Pode concluir, complementar, diversificar um conjunto de linhas estratégicas que fomos desenvolvendo.

JC: É a primeira vez que se despede de um cargo deste género e ao fim de doze anos. Isto é a democracia ou é uma violência? Tem de ser assim? FS: Acho que deve ser assim.

JC: Do que vai ter saudades?

FS: Vou ter saudades de tudo. Mas, fundamentalmente vou ter saudades… das pessoas. Já começo a ter saudades delas. Vim para Sintra mas não fui Presidente. Estive Presidente.

JC: Deixa Sintra numa boa situação financeira?

FS: Deixo Sintra numa boa situação financeira. Deixo Sintra descansado para quem entrar. Porventura não terei esse alívio em Lisboa.

JC: Quando ganhou as eleições em Dezembro de 2001 foi uma surpresa ou já estava à espera?

FS: A minha vitória foi aquilo que em Ciência Política se chama um equívoco eleitoral porque candidatei-me para perder e ganhei.

JC: E agora em Lisboa?

FS: Em Lisboa, vou assumir a realidade que acho que Pedro Pinto deve assumir em Sintra. A responsabilidade, a consciência, o partido, o País.

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