Novos Tempos Para o Polo

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Novos tempos para o Polo 14  Bahia Indústria

A atração de novas indústrias e a diversificação das cadeias produtivas, além de um plano diretor, reescrevem a história do Complexo de Camaçari

Por Patrícia Moreira fotos rafael martins


anúncio da criação de uma nova área de expansão, que vai aumentar em 50% a área destinada à implantação de novas indústrias, e a apresentação de um novo plano diretor, que aponta estratégias de crescimento e atração de novos investimentos, além de infraestrutura para novas empresas se instalarem na Bahia, marcaram as comemorações dos 35 anos do Polo Industrial de Camaçari. O projeto, do Governo do Estado, foi apresentado pelo secretário James Correia, durante a solenidade realizada na sede da Federação das Indústrias do Estado da Bahia, em 11 de julho, com a presença do governador Jaques Wagner, de

industriais, autoridades e trabalhadores da indústria. Durante a solenidade, o presidente da FIEB, José de F. Mascarenhas, um dos engenheiros que participaram da construção de Camaçari, foi homenageado pelas empresas do Polo, por meio do Comitê de Fomento Industrial de Camaçari (Cofic). O plano diretor, proposto pelo Governo do Estado, por meio da Secretaria da Indústria e Comércio e Mineração do Estado da Bahia (SICM), atende à política de atração de novas indústrias, quando o complexo de Camaçari se prepara para receber, até 2015, investimentos que somam mais de US$ 6,5 bilhões. Isso inclui novas indústrias, a ampliação de unidades e o adensamento de cadeias produtivas. O plano diretor contempla premissas de infraestrutura, logística e proteção ambiental, dividindo

Obras da Jac Motors na área de expansão do Polo

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o distrito em sete zonas: Complexo Básico, Oeste Dias D’Ávila, Oeste Camaçari, Norte, Central, Leste e Sul. Com isso, vai ser possível a organização de cadeias produtivas integradas. O presidente do Cofic, Marcelo Cerqueira, afirmou que, desde a sua implantação, o Polo vem passando por “círculos virtuosos de inovação e crescimento”. Atualmente, o complexo gera 45 mil empregos diretos e indiretos e a expansão, destaca ele, vai incrementar esta demanda. “Nosso desafio é continuar atraindo investimentos, o outro, sem dúvida, é formação de pessoas, é continuar preparando, desenvolvendo pessoas que possam tocar os 35 anos do polo daqui pra frente. Nós temos uma geração que já está terminando o trabalho que realizou ao longo desse tempo e vamos precisar de mais pessoas”, observa. Cerqueira acredita que o anúncio do plano diretor inscreve o Polo de Camaçari em uma nova era: “Esta nova área que está sendo agregada vai, de forma organizada, estruturada, reunindo uma mesma cadeia produtiva integrada, permitir a atração de novos investimentos. Se você tem área adequada, água, energia e pessoas para trabalhar, o empresário vem e o governo está disposto a apoiar”, acrescentou.

POLO ACRÍLICO Um dos exemplos de formação de uma nova cadeia de produção em Camaçari é o Polo Acrílico da Basf, o maior empreendimento da companhia fora da Alemanha, que representa R$ 1,5 bilhão em investimentos em três novas unidades industriais. Juntas, elas produzirão em escala global o ácido acrí16  Bahia Indústria

lico, acrilato de butila e polímeros superabsorventes (SAP), utilizando como matéria-prima o propeno fornecido pela Braskem. A perspectiva da Basf é iniciar a operação da fábrica de Camaçari em 2014 e, para isso, encontra-se em estágio avançado o processo de construção do complexo. Em consequência da implantação do Polo Acrílico, o Polo atraiu indústrias de transformação como a Kimberly-Clark, que produz fraldas descartáveis e produtos de higiene pessoal. A Braskem, principal fornecedora da Basf, também está sendo levada a se preparar para atender à demanda do novo cliente. Com a perspectiva de fornecimento de aproximadamente 150 mil toneladas de propeno para o Polo Acrílico, a Braskem está concentrando investimentos em logística, com a construção de um conjunto de dutovias e interconexões com a fábrica da Basf. Os recursos somam-se aos aportes realizados pela empresa nas suas seis unidades industriais em Camaçari, da ordem de R$ 230 milhões anuais. Dentre as ações de modernização, a Braskem planeja investir na especialização de uma unidade de polietileno linear do Polo, a fim de obter algum ganho em volume de produção. A implantação do Polo Acrílico será responsável por fazer com que o propeno produzido pela Braskem deixe de ser destinado exclusivamente à exportação para ser consumido no mercado interno. Neste sentido, conforme explicou o presidente, Carlos Fadigas, uma das ações da empresa tem sido trabalhar, em parceria com o governo estadual, para atrair novas empresas químicas

Implantação do Polo Acrílico da Basf (acima) e operários trabalhando nas obras da futura fábrica do Grupo O Boticário

para Camaçari. “Além do exemplo da cadeia do ácido acrílico, a Braskem tem uma gama de produtos que hoje são destinados à exportação e que poderiam servir de suprimentos para novas fábricas aqui”, explica. Um desses conjuntos de clientes é o de indústrias de plástico, que consomem resina de polietileno (PE) e PVC. Fadigas revela que existem investimentos sendo negociados, mas ainda estão protegidos por acordos de confidencialidade. “O que dá para dizer é que existe uma equipe da Braskem trabalhando em caráter permanente para atrair


novas indústrias para o complexo de Camaçari.” O evento, que comemorou os 35 anos do complexo, teve ainda como foco o futuro do Polo. O governador da Bahia, Jacques Wagner, afirmou que a cadeia formadora do projeto, a petroquímica, está sendo fortalecida por outros ciclos produtivos, como o automotivo e o químico. O gestor estadual enfatizou a importância do Porto de Aratu para o escoamento da produção. Ele também sugeriu que o distrito passe a ter “um condomínio que administre o Polo por meio de um conselho, do qual o estado faria parte”.

No quesito infraestrutura, o presidente da FIEB, José Mascarenhas, destaca o alinhamento com o governo estadual quanto à utilização do Porto de Aratu para escoamento da produção industrial. “Quando da implantação do polo, deveria ter sido criado um porto para escoamento da produção industrial. Mas por fatores de localização ele ficou em Aratu. Com a Lei Geral dos Portos abre-se a possibilidade de se ter uma solução. Discutimos recentemente com o governador e ele se mostrou favorável a uma alternativa que nós julgamos ser a melhor, que é a concessão geral do Porto de Aratu e a adoção de uma gestão única para os terminais privatizados”, explica Mascarenhas. A atração de indústrias de transformação para Camaçari também é vista como indicativo de um novo momento para o Polo, na avaliação do presidente da FIEB. “É preciso que a gente aumente a transforma-

ção local da matéria prima, já que boa parte dela é transferida para o centro sul ou para exterior, porque assim vamos dar mais renda ao estado e à região”, observou. Mascarenhas também observa que, para construir o futuro do Polo de Camaçari, é preciso investir em capacitação e inovação. Ele lembra que o SENAI está desenvolvendo projetos nesta direção e as empresas tendem também a participar. Isso inclui ainda iniciativas como a duplicação do SENAI Cimatec, que vai ampliar a formação de mão de obra especializada para a indústria baiana. Bahia Indústria  17


Novas cadeias produtivas O ativo total do Polo, que era de US$ 12 bilhões até 2008, saltou para US$ 16 bilhões em 2011 e deve superar os US$ 22 bilhões até 2015, excluindo os aportes do governo em infraestrutura e considerando um montante de aproximadamente US$ 6,5 bilhões em novos investimentos, de acordo com o Comitê de Fomento Industrial de Camaçari (Cofic). Nos próximos anos, com a implantação de novas indústrias, o Polo também deverá gerar 17 mil novos postos de trabalho. Além das indústrias de transformação trazidas pelo complexo acrílico, outros segmentos também são responsáveis por esta transformação do Polo de Camaçari, que já se configura um grande canteiro de obras. Além da implantação da unidade da Jac Motors, cuja sobras estão em fase de terraplenagem, e que prevê R$ 1 milhão em investimentos, o parque automotivo baiano avança na sua consolidação com a instalação de uma fábrica de motores da Ford, a primeira do gênero no Norte/Nordeste, que representa R$ 400 milhões em investimentos. Outro investimento anunciado é a fábrica de ônibus e micro-ônibus Foton, com investimentos de R$ 209 milhões. A Foton anunciou o início das obras para o segundo semestre e pretende dar início à produção em 2015. No segmento eólico, o Polo de Camaçari destaca-se com quatro fabricantes instalados na Bahia, que encontram-se em um franco processo de verticalização da cadeia. A Alston, presente desde 2011, e a Gamesa, primeira indústria eólica a se instalar na Bahia, também no ano de 2011, atuam na fabricação de aerogeradores. Esta última, está investindo R$ 100 milhões numa segunda unidade de produção de naceles (turbinas), que deverá iniciar a operação em 2015. Outra empresa presente em Camaçari é a Torrebras, fabricante de torres eólicas, e a Tecsis, produtora de pás eólicas. Esta deve iniciar a operação em 2014, com um investimento de R$ 100 milhões na unidade, que deve gerar cerca de R$ 3,5 mil empregos diretos. Na área de insumos para a construção civil está a Knauf, já em operação, e que recebeu R$ 150 milhões em investimentos. O Polo de Camaçari também passará a contar com uma gigante da indústria cosmética com a implantação da unidade do Grupo O Boticário, com investimentos de R$ 355 milhões. 18  Bahia Indústria

Vista panorâmica das indústrias do Polo de Camaçari, a partir do Mirante da Braskem


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