Tecnologia com padrão japonês

Page 1

Tecnologia com

padrão

japonês McKinsey e SENAI inauguram primeira Fábrica Modelo da América Latina, que vai funcionar no Cimatec

Marcelo Gandra/Coperphoto/Sistema FIEB

Por rafael pereira e patrícia moreira

16  Bahia Indústria

os anos 1950, no cenário econômico hostil do pós-Segunda Guerra Mundial, a fábrica da Toyota, no Japão, colocou em prática uma nova tecnologia de produção, que conseguiu reposicionar a empresa e acabou tornando-se um modelo global, adotado por empresas de todo o mundo. Estamos falando da lean manufacturing ou manufatura enxuta, prática que promove importantes ganhos de produtividade e competitividade, proporcionando às indústrias um aperfeiçoamento constante do seu modelo de produção. Os principais conceitos e técnicas operacionais dessa tecnologia são a base da Fábrica Modelo, a primeira implantada na América Latina, inaugurada no dia 24 de abril, no SENAI Cimatec. Resultado de uma parceria entre a McKinsey & Company e o Sistema FIEB, por meio do SENAI, a unidade recebeu um investimento de R$ 4 milhões e está prospectando empresas para formar a primeira turma de capacitação. A meta da Fábrica Modelo é transformar o processo produtivo de até 75 indústrias por ano, proporcionando-lhes ganhos de produtividade entre 20% e 80%. O SENAI Cimatec vai concentrar o atendimento nas micro, pequenas e médias empresas (MPME) da Bahia, enquanto a McKinsey ficará responsável pelo atendimento às grandes empresas nacionais e multinacionais. A divisão atende à filosofia da direção da Federação, que elegeu as micro, pequenas e médias empresas industriais como foco prioritário de suas ações. Para o presidente da FIEB, Ricardo Alban a expectativa é que as MPME possam


Para implantar a unidade no SENAI Cimatec foram investidos R$ 4 milhões Bahia Indústria  17


fotos Marcelo Gandra/Coperphoto/Sistema FIEB

dar um importante salto de produtividade. “A Fábrica Modelo é o que se tem de mais avançado no mundo em termos de tecnologia e nós estamos satisfeitos de poder proporcionar às micro e pequenas empresas baianas a oportunidade de acesso a um modelo tão avançado e de efetividade comprovada”, explicou. O sócio-diretor da McKinsey Brasil, Vijay Gousula, destaca o funcionamento do espaço, que reproduz um ambiente de fábrica dentro dos conceitos da manufatura enxuta. “Estamos criando um ambiente funcional, que reflete a realidade da fábrica, mas em um espaço menor, mais controlado e mais capaz de transmitir os conceitos fundamentais da metodologia lean, que garantirá a obtenção de ganhos de produtividade reais”, pontuou.

TESTE Antes de ser inaugurada, a Fábrica Modelo passou por um teste com duas empresas: uma de pequeno porte, do segmento de pro18  Bahia Indústria

dutos naturais; e a outra de médio porte, do segmento de vestuário. A coordenadora da Fábrica Modelo, Lara Sorensen, explicou que a experiência foi condensada em um mês, em vez de seis meses, que é a periodicidade normal do treinamento, envolvendo, em vez de oito, as duas empresas citadas. Lara explica que o objetivo era testar a sistemática do treinamento pedagógico e do programa de transformação. Ao final de um mês, na empresa de produtos naturais a metodologia da Fábrica Modelo permitiu aumentar a capacidade de produção sem alterar o quadro de funcionários. Na empresa de médio porte a principal ação adotada foi uma mudança de leiaute que ajudou a reduzir o desperdício, facilitou o transporte de materiais e a rápida identificação de problemas. “Tivemos um feedback positivo das empresas onde foi realizada a experiência e agora vamos partir para a adoção do programa na sua integridade”. As empresas podem contatar a Fábrica Modelo pelo email: fabrica-

Presidente da FIEB e o sócio-diretor da McKinsey observam técnico

modelobrasil@fieb.org.br e pelo telefone: (71) 3462-9515. A Fábrica Modelo traz um conceito inovador de treinamento, capacitação e transformação produtiva para empresas industriais de todos os portes que buscam melhorar sua produtividade. A atividade prática abrange todas as diferentes etapas da cadeia de valor e proporciona às empresas meios de evitar desperdícios e elevar sua eficiência, o que reduz custos e promove maior competitividade. “O desafio de elevar a produtividade começa nos detalhes, no chão de fábrica, indo até a gestão estratégica da operação”, explicou o diretor do SENAI, Leone Peter Andrade. Ele acrescentou ainda que os conceitos servem para qualquer segmento industrial. A unidade instalada no Cimatec seguirá conceitos já empregados com sucesso pela McKinsey em parcerias semelhantes em países como Alemanha e Estados Unidos. O aprendizado experimental combinado à aplicação real proporcionado pela Fábrica Modelo é o que assegura maior absorção de conhecimento, com retenção de conteúdo entre 80% e 100%, comparado a índices de 10% em métodos baseados em leitura e de 32% naqueles com base em jogos. Participaram da solenidade de inauguração o senador Walter Pinheiro, o secretário estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação, Manoel Mendonça, representando o governador Rui Costa, a secretária municipal de Desenvolvimento, Trabalho e Emprego, Andréa Mendonça, representando o prefeito ACM Neto, o diretor superintendente do SEBRAE, Adhvan Furtado, e o primeiro vice-presidente da FIEB, Carlos Gantois.


“Acredito numa abordagem de treinamento pelo fazer”

G

erente do Núcleo Estratégico do SENAI, Luís Alberto Breda está convencido de que o saber pelo fazer é premissa de aprendizagem. Por isso ele acredita no sucesso da Fábrica Modelo, projeto da McKinsey & Company, que trouxe para a América Latina o primeiro centro de treinamento em tecnologia de manufatura enxuta. Nesta entrevista, ele aponta as razões que determinaram a escolha do SENAI Cimatec e revela como vai funcionar o serviço. O que significa oferecer à indústria um equipamento como a Fábrica Modelo? E que impacto terá para o ambiente produtivo das empresas industriais da Bahia? A Bahia apresenta dois extremos no seu perfil de indústria, que inclui grandes corporações, como Petrobras, Braskem, Ford e, no outro extremo, as micro, pequenas e médias empresas (MPME) industriais, que representam, em quantidade, mais de 90% do volume de empresas do estado. Para as pequenas empresas, o desafio é a competitividade, um problema que não é só da Bahia, mas nacional, porque o concorrente está no mundo todo. Além disso, o Brasil enfrenta, há algum tempo, um processo de desindustrialização e com isso não consegue competir em preço com as empresa globais. Quando se faz desdobramento para ver as causas do problema Luís Alberto encontramos diversas questões: Breda destaca qualificação de mão de obra – que o impacto que é um dos pilares que podem proo equipamento mover a retomada da competitiviterá no desenvolvimento dade; logística, em razão das condições de portos, estradas, modais das empresas Bahia Indústria  19


que não são eficientes em termos de custos e velocidade; custo elevado da matéria-prima e da mão de obra. Vendo tudo isso, o que dá pra melhorar é a produtividade, que engloba os equipamentos disponíveis no parque fabril, os processos que utilizamos, a qualificação da mão de obra e um elemento que interliga isso tudo que é a filosofia de produção. É aí que entra a Fábrica Modelo. Como ela pode ajudar na melhoria da produtividade? Ela entra para contribuir, definir e melhorar os aspectos relativos à competitividade. A gente oferece um programa de transformação, composto de um conjunto de capacitações e etapas de aplicação prática na empresa. Vamos oferecer uma visão geral do que é manufatura enxuta, que é o modelo Toyota de produção, implantado após 2ª Guerra. Trata-se de uma prática intensiva, disseminada na indústria de manufatura de todo o mundo. E fazemos isso não de forma tradicional, mas numa abordagem de treinamento pelo fazer, que é onde entra a Fábrica Modelo. E como funciona? O primeiro aspecto é o modelo de treinamento diferenciado, que permite exercitar o conceito na prática. Com isso, a gente consegue fazer o paralelo com o produto que a indústria trabalha. Tem todo um processo de levantamento do processo produtivo e dos gargalos de produção em vários momentos de treinamento, que são intercalados, ao longo de seis meses. Isso inclui o treinamento com a transformação no ambiente de fábrica. O SENAI acompanha a empresa em todas as etapas visando obter, 20  Bahia Indústria

A Fábrica Modelo poderia ter sido instalada em qualquer local do país que tenha demanda industrial. Mas a Bahia tem o Cimatec, um centro que tem protagonismo na área de inovação

ao final, ganho de produtividade. Primeiro, o programa é aplicado numa célula piloto e depois é disseminado para outras partes da fábrica e a cada alteração se dá saltos de transformação. A ideia é preparar os funcionários para que eles possam replicar o modelo várias vezes. E são necessários muitos recursos para promover esta transformação? Não são necessários grandes investimentos. Há ações simples que vão desde adoção de conceitos, mudanças de leiaute, com baixo custo de implantação, com grande impacto no ganho de competitividade. Mas é bom ressaltar que este é um processo contínuo. Toda vez que você elimina um gargalo surge outro. Eu diria que o principal resultado que a fábrica modelo oferece é a melhoria da produtividade da empresa, que impacta na competitividade, mas sobretudo cria cultura de melhoria contínua que transforma a empresa inteira. Sua atuação fun-

ciona com base no conceito de três pilares. O primeiro é o pilar sistema operacional, com todas as ferramentas para serem aplicadas diretamente no processo. O segundo pilar foca na infraestrutura de gestão, que vai dar suporte às ferramentas operacionais. Por último, temos o modelo mental e comportamental, que visa influenciar toda a equipe para que sejam engajados. Trata-se de equipamento único na América Latina e o SENAI foi escolhido para sediar este projeto, qual o significado disso para a instituição? Um aspecto relevante é o protagonismo do SENAI Cimatec no cenário nacional na área de Pesquisa de Desenvolvimento em Inovação (PDI). Nós rodamos aqui o Embrapii, os Institutos SENAI de Inovação, tocamos projetos de inovação com a Embraer, Ford, Totus e isso fez com que a McKinsey identificasse no Cimatec o parceiro adequado. Em outros países, a empresa busca a universidade, aqui buscaram o Cimatec por ser um braço da indústria nas áreas de educação, tecnologia ou inovação. A Fábrica Modelo poderia ter sido instalada em qualquer local do país que tenha demanda industrial. A Bahia, embora não tenha volume de indústrias superior ao do Rio Grande do Sul ou de São Paulo, tem o Cimatec, um centro com contato com a indústria e com protagonismo nesta área no país. Qual é o ganho para as pequenas empresas com esta iniciativa? A Fábrica Modelo é um processo estruturante, porque você mexe na mentalidade da empresa, o que dá perenidade à busca de valor. Ao serem inseridas na Fábrica Modelo as pequenas empresas vão entrar num ciclo virtuoso de encadeamento de produtividade, pois o processo não se encerra nele mesmo e é projetado para rodar em ciclos de melhoria. Quando encerra um, tem que recomeçar. Tem alguma alternativa para financiamento desta iniciativa para as micro, pequenas e médias empresas? Temos uma proposta estruturada para atender as MPME em parceria com o Sebrae, que garante apoio de 80% do investimento, sendo os outros 20% uma contrapartida da empresa. O SENAI ficará então, pelo acordo firmado com a McKinsey, responsável pelo atendimento às MPME na Fábrica Modelo, enquanto que o atendimento de base nacional para grandes empresa ficará com a McKinsey. [bi]


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.