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Miguel Branco: a representação sem referente

Bernardo Pinto de Almeida (Março/Abril, 2023)

A João Luís Barreto Guimarães

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No símbolo — no sentido mais largo do termo — acontece que são conservadas essas mesmas energias de que ele mesmo é o resultado. Essas energias que deram nascimento aos símbolos da civilização, derivam das intensas experiências originais que constituíam igualmente a vida do homem primitivo.

— Ernst Gombrich

Listen to the butterfly/Don’t listen to me./ Listen to the mind of God/Don’t listen to me.

— Leonard Cohen

I. UMA FALSA MEMÓRIA: A IMAGEM QUE RESTA

1. Miguel Branco trabalha, desde há anos, sobre imagens retiradas dessa fonte inesgotável a que chamamos, há mais de dois séculos, ‘história da pintura’ e de que se serve para colher elementos, quais readymades achados no banco de imagens em que se transformou a própria História da Arte, tornada, por acção dos meios reprodutivos, perpétuo museu imaginário, como Walter Benjamin compreendeu antes mesmo de Malraux: o que chamamos Arte contemporânea passa de facto por aí, e decorre da generalização ilimitada deste paradigma.

Esse método do artista constitui-se, aliás, quer como uma estratégia subtil destinada a abrir espaço, no seu trabalho, para a ironia pós-duchampeana, quer como modo de inscrever uma distância crítica, capaz de ir ao encontro da medida pós-histórica da cultura actual.

Questiona, assim, essa mesma história, sem todavia a negar ou desrespeitar, procedendo como se tudo se passasse na obra a partir de um princípio de reelaboração de uma imagem anterior que, no entanto, está ausente. Mas que, qual cena primitiva, assombraria o actual com o espectro dos «vestígios do passado». Trata-se, porém, de um mecanismo ficcional já que, de facto o que restitui é da ordem do que normalmente se designa como «falsa memória».

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