SUAS BHOnline v.0

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SUMÁRIO Expediente ................................................................................................................................. 1

Editorial..................................................................................................................................... 2

Artigos

Política de recursos humanos na Assistência Social: a construção coletiva em Belo Horizonte .................................................................................................................................................... 3

Gestão de Pessoas: Uma Proposta para a Assistência Social ..................................................... 8

Mobilização subjetiva para o trabalho como condição sine qua non para o processo de aprendizagem organizacional ................................................................................................... 13

O uso de tecnologias brandas pelo trabalhador da assistência social ....................................... 23


Expediente Conselho Editorial: • • • • • • • •

Cândida Canêdo – Assessoria de Imprensa Denise de Magalhães Matos (GPES) Eugênio de Freitas (GGPAS) Maria de Fátima Queiroz Ribeiro (GEIMA) Mário César Rocha Moreira (GGPAS) Renata Silva Daniel Caldeira (GEIMA) Ronaldo José Sena Camargos (Gabinete) Shirley Jacimar Pires (GPSO)

Equipe de Edição: • • •

Celsiane Aline Vieira Araújo – Coordenadora do Serviço Interno de Informação – SMAAS Leila Márcia Silva – Estagiária do Serviço Interno de Informação – SMAAS Rodrigo Furtini – Designer Gráfico – MOBS

SUAS BH Online, Belo Horizonte, n 0, 2006, 33 p.

1


Editorial A produção e sistematização do conhecimento é uma exigência do contexto de mudanças dos paradigmas teóricos, técnicos e organizacionais, mediante as transformações sociais, políticas e informacionais. Para responder essa exigência, a SMAAS está lançando a revista SUAS – BH online, cujo nome foi escolhido através de votação realizada durante a III ª Jornada dos Trabalhadores da Assistência Social – evento que contou com a participação de mais de trezentos e cinqüenta trabalhadores. A SUAS – BH online terá periodicidade quadrimestral e se propõe veicular artigos, relatos de experiências, resenhas e outros textos produzidos pelos trabalhadores da Assistência Social e eventuais convidados que possam contribuir para a formulação, implementação, monitoramento e avaliação da Política de Assistência Social. Espera-se uma maior visibilidade dessas produções de forma a consolidar um conhecimento organizacional. Este número inaugural focaliza o tema referente a Recursos Humanos e Gestão de Pessoas e apresenta textos que vêm contribuindo para a formulação de uma política de RH, o que é um requisito para a habilitação no nível de Gestão Plena, conforme prevê a NOB/SUAS. Para a próxima edição – o número 1 da revista – estarão abertas as inscrições para a participação dos interessados em publicizar os seus trabalhos. A partir de 20 de junho serão divulgadas as informações relativas aos critérios e a data para envio do material para apreciação do conselho editorial. Esperamos, assim, atingir o objetivo de fomentar a produção e propiciar a disseminação do conhecimento, certos de estar respondendo a um anseio dos trabalhadores da assistência social.

Belo Horizonte, junho de 2006 Conselho Editorial

SUAS BH Online, Belo Horizonte, n 0, 2006, 33 p.

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Política de recursos humanos na Assistência Social: a construção coletiva em Belo Horizonte1 Chegamos à V Conferência Nacional de ELABORAÇÃO Conselho Municipal de Assistência Social

Assistência Social com um avanço significativo para a assistência social com a publicação da Política Nacional de Assistência Social (PNAS),

RESUMO A partir de um resgate histórico das contribuições do Fórum dos Trabalhadores da Assistência Social, bem como da comissão de RH do CMAS-BH frente às discussões acerca da implementação de uma política de recursos humanos no âmbito nacional, este texto tem por objetivo elencar elementos inerentes a uma política de gestão de pessoas voltada para a política pública de assistência social.

através da Resolução Nº145 em 15/10/2004, fruto de um amplo processo de debates, exemplarmente coordenado pelo Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), expressando no documento final o acúmulo da área ao longo de muitos anos e os consensos possíveis, materializando um sistema de proteção social no Brasil. Além de reafirmar a assistência social no campo do direito social com responsabilidade estatal, definiu o modelo de gestão Sistema Único de Assistência Social (SUAS), elencando, nos seus elementos constitutivos, a política de recursos humanos. A importância estratégica desse tema na consolidação da Assistência Social e o fomento a essa discussão constituíram em pauta permanente de

debate

protagonizada

na

cidade pelo

de

Conselho

Belo

Horizonte,

Municipal

de

Assistência Social (CMAS) desde a sua criação em 27 de maio de 1996. Portanto, neste mesmo ano, em 13 de novembro de 1996, é instituída, dentre outras, a Comissão de Recursos Humanos que assume as seguintes atribuições: •

Discutir, avaliar e propor diretrizes para a política de recursos humanos na área da assistência social, tendo como referência as deliberações das conferências municipais, plenárias e Plano Municipal de Assistência Social;

Contribuir com a elaboração de uma norma operacional básica de recursos humanos na assistência social. Assim, no cumprimento de seu papel de

estimular/subsidiar os debates e aprovar diretrizes,

SUAS BH Online, Belo Horizonte, n 0, 2006, 33 p.

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o CMAS-BH, empreendeu esforços para consolidar

concepção, formação, gestão e democratização,

uma política de recursos humanos na assistência

criando assim um fato decisivo com relação à

social. Importante também é fazer o registro de que

relevância

“o processo de definição da política de recursos

desse

indicador

de

qualidade

implementação da assistência social”

na

1

humanos foi introduzido na assistência social pelos

Em 2004 é realizado o II Seminário de

trabalhadores públicos da área, que constituíram em

Recursos Humanos da Política de Assistência

janeiro de 1996 o Fórum dos Trabalhadores, cujo

Social, abordando o tema: “SUAS: Tempo de

objetivo é debater a política pública de assistência

Construção – Por uma Política de RH – Pra

social e sua implicação no âmbito do trabalho”,

ninguém ficar de fora”, dando seqüência à

conforme registros no Caderno de Textos do I

construção do debate na cidade e cumprindo as

Seminário de Recursos Humanos da Política de

deliberações da IV Conferência Municipal de

Assistência Social.

Assistência

Como

resultado

das

discussões

Social/2003

para

compor

propositivamente a NOB/RH.

empreendidas até então e pela ação consistente dos

Em 2005, à luz do debate nacional em

diversos atores, esse debate se expressa em

torno da Política Nacional de Assistência Social, a

setembro de 1999 por ocasião da III Conferência

VI Conferência Municipal de Belo Horizonte

Municipal de Assistência Social, pautado em mesa

aprova as diretrizes para uma política de recursos

temática intitulada “Contribuições ao processo de

humanos

discussão para elaborar uma política de recursos

indicadores de qualidade do II Seminário de

humanos na área de Assistência Social, cuja

Recursos Humanos:

contemplando

as

propostas

dos

palestra foi proferida pela assistente social Berenice •

Rojas Couto, na época, representante da Prefeitura Municipal de Porto Alegre.

Oportunidade de capacitação sistemática e abrangente para todos os trabalhadores;

Os debates promovidos nesta Conferência reafirmaram a pertinência e relevância da temática

Oportunidade em serviço para produção, troca e disseminação de conhecimentos;

apontando sua necessária continuidade e indicando

Fortalecimento

e

aproveitamento

de

a realização de um Seminário específico para

habilidades, potencialidade individuais e

abordagem e aprofundamento do assunto. Em 2001,

coletivas; •

realiza-se então o I Seminário de Recursos Humanos da Política de Assistência Social,

da Inserção Social”. Este discute temas ligados às •

política para o trabalhador da área social”; “Parceria

de

dos

Processos de informação na instituição

Processos de monitoramento e avaliação do trabalho, dos serviços e programas;

com a sociedade”; “Voluntariado e política administrativa

mobilização

(fluxos, abrangência, clareza);

questões do trabalhador: “Abordagem ética e

“Reforma

para

trabalhadores, em fóruns, discussões etc;

denominado de “Recursos Humanos – Perspectiva

pública’;

Oportunidade

Belo

Processos que considerem a dimensão subjetiva dos trabalhadores (expectativas,

Horizonte: um compromisso com a inclusão social’;

valores e interesses);

dentre outros. Este evento constrói uma agenda técnico-política, reafirmando os compromissos e “propostas de recursos humanos no campo da

SUAS BH Online, Belo Horizonte, n 0, 2006, 33 p.

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Citação do item apresentação do Caderno 01 – I Seminário de Recursos Humanos da Política de Assistência Social, publicação da SMAS/PBH – 2001.

4


Processos para aprimorar os indicadores e

conhecimento, superando assim a clássica visão de

parâmetros dos serviços na assistência

recursos humanos onde as pessoas são tratadas

social, criando clareza de objetivos e

como

concepções;

administrados. Nessa perspectiva devemos também

Percentual de recursos financeiros e previsão

ousar e avançar na denominação de uma política de

orçamentária para investimentos na área de

recursos humanos para uma política de gestão de

gestão de pessoas, formação, condições de

pessoas.

• •

• •

material,

insumos

a

serem

Assim uma Política de Gestão de Pessoas

trabalho, salário, benefícios etc; •

recurso

Participação dos trabalhadores e gestores

deve centrar-se na gestão do conhecimento, na

(diálogo nos diversos níveis);

educação continuada e na revisão dos processos de

Humanização

do

trabalho

(gestão

trabalho, focando as ações no desenvolvimento e

participativa)

não no controle, nos processos e não em

Nomeação de cargos gerenciais de acordo

instrumentos, reafirmando os modelos integrados

com critérios elaborados a partir da gestão

estratégicos e no desenvolvimento de pessoal.

participativa, segundo o perfil profissional

Neste contexto, muitos são os desafios

preconizado pela política de assistência

para consolidar a concepção expressa na política de

social;

assistência social, que visa alçar os trabalhadores

Condições de trabalho: espaço, estrutura,

sociais à condição de viabilizadores de direitos

apoio, equipamentos e material;

sociais para a população brasileira usuária dos

Percentual de trabalhadores concursados no

serviços socioassistenciais, em contraponto às

setor público.

propostas

tradicionais

e

reducionistas

de

trabalhadores como somente viabilizadores de Esta trajetória com significativa atuação do

programas sociais. Urge avançar na consolidação

Conselho Municipal de Assistência Social de Belo

do perfil do trabalhador do setor público voltado

Horizonte, aliada às determinações da gestão

para o fortalecimento da democracia e de processos

municipal onde prevaleceu a intenção de consolidar

de inclusão social.

um padrão ético de inclusão social, teve as ações de

Assim o desafio consiste na preparação de

gestão e de controle social orientadas por princípios

processos pessoais e institucionais para além da

democráticos e compromissos ético-políticos, que

ação executora de políticas sociais, mas também

buscaram valorizar as pessoas, a produção do

formuladora de gestão da política, contribuindo

conhecimento e gerenciamento dos processos de

para conferir um caráter público às ações nessa

trabalho.

área. É fundamental que o perfil de gestores sociais,

Nesta direção, a política de recursos

se constitua em pessoas com capacidade de

humanos deve ser compreendida com centralidade

planejar, definir prioridades e estratégias, produzir

no ser humano, no gerenciamento de processos

dados e informações sobre a população atendida,

institucionais, enfatizando a dimensão humana que

avaliar programas e definir padrões de qualidade

deve

para os serviços. Dessa forma, aglutinar esforços

tomar

por

referências

as

pessoas,

compreendidas

como

trabalhadores

organizações,

gestores de

processos,

criadores,

produtores

e

das

para avançar nas vinculações entre práticas

sujeitos

desenvolvidas e a reflexão teórica, que seja capaz

disseminadores

de

SUAS BH Online, Belo Horizonte, n 0, 2006, 33 p.

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de antecipar desafios e avançar nas definições dos

Se essa conjuntura exige reflexões por parte dos

conteúdos da política de assistência social.

trabalhadores que operam processos institucionais

É

fundamental

que

as

categorias

cotidianos e atuam nas expressões sociais da

profissionais façam rupturas com os limites das

questão social, faz-se também com igual ou maior

suas corporações, compreendendo a importância de

urgência e necessidade que as gestões com poder de

criar

decisão estratégico das estruturas das organizações

uma

identidade

de

trabalhador

social,

referenciada em princípios éticos e políticos,

também procedam a mudanças estruturais. A

criando alianças e fortalecendo o caráter cada vez

arquitetura institucional de gestão proposta pela

mais interdisciplinar das práticas profissionais.

LOAS que introduziu a gestão descentralizada e

Configura

ainda

neste

contexto

a

compreensão clara e inequívoca de que toda a ação

participativa requer gestão moderna, ágil e participativa.

dos trabalhadores sociais tem por fim último o estabelecimento de compromissos com a qualidade dos

serviços

socioassistenciais

prestados

à

população, assegurando na ação profissional a defesa de um padrão ético de inclusão social.

estar engendrada numa nova cultura institucional conforme afirmou Elaine Rossetti Behering, no I Seminário de Recursos Humanos da Política de Assistência Social em Belo Horizonte ao proferir a palestra “Trabalhador Cidadão da Área Social: Abordagem Ética e Política”. Assim para os trabalhadores da área social colocam-se exigências claras no sentido de tornarem-se capazes de pensar estrategicamente, planejar, coordenar e executar com o olhar no cidadão de direitos, radicalmente Isso

significa

que

a

política

a

importância

política

do

momento em que se realiza esta V Conferência Nacional de Assistência Social instiga-nos a propor uma agenda para dar continuidade nos avanços em prol da definição de uma política que promova os

Uma política de gestão de pessoas deve

públicos.

Portanto,

de

capacitação e valorização dos recursos humanos tem que ser audaciosa, tornando-se um requisito estratégico da administração pública, voltada para assegurar no serviço público uma mentalidade de atuação com base na articulação de conhecimento científico, criatividade, visão política, sensibilidade social e conduta ética. Portanto, ao invés do consenso fácil da culpabilização do servidor público, tão a gosto da maré neoliberal, o inverso: investimento e valorização, capacitação e formação profissional, competência, eficácia para a cidadania.

trabalhadores da assistência social como falou Nogueira “À condição de personagens ativos da reforma

e

da

requalificação

do

aparato

e

urgente

administrativo e governamental”. Assim

faz-se

necessário

assegurar investimentos contínuos numa política de capacitação sistemática e permanente, envolvendo trabalhadores públicos e privados integrantes da rede socioassistencial de assistência social no país. Realizar uma conferência específica para debate e aprovação de diretrizes para formulação de uma política nacional de gestão de pessoas, com a implantação de carreira para os servidores públicos que atuem na assistência social e a respectiva Norma Operacional. Definir com precisão o significado e a identidade dos trabalhadores da área visando fortalecer o controle social por meio da participação dos trabalhadores nos conselhos de assistência social. Com a certeza de que o tempo é de construção da assistência social como política de seguridade social, e que estamos fazendo história neste país, convido a todos a seguir refletindo com Guimarães Rosa “A cabeça da gente é uma só e as

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coisas que há e que estão para haver são demais de

Assistência Social. CMAS/SMAS. Belo Horizonte,

muitas, muito maiores, diferentes, e a gente tem de

2004.(mimeo)

necessitar de aumentar a cabeça para o total”. MOREIRA, Mário César Rocha. Gestão do Referências

Conhecimento nas organizações. 2005. (mimeo)

BEHRING, Elaine R. Trabalhador Cidadão da Área Social: Abordagem Ética-Política.Caderno 01

QUEIRÓS, José Maestro. Subsídios a Gestão de

I Seminário de Recursos Humanos da Política de

Pessoas. Secretaria Municipal de Assistência Social

Assistência Social. Publicação Secretaria Municipal

da Prefeitura Municipal da Cidade de São Paulo –

de Assistência Social de Belo Horizonte.

2004. Apresentação na oficina sobre recursos humanos em reunião ampliada do CNAS – Brasília,

Publicações de deliberações das Conferências

setembro/2004.

Municipais de Assistência Social de Belo Horizonte – 1999/2001/2003/2005.Documentos do Conselho

RAICHELIS, Raquel. O papel do Conjunto

Municipal de Assistência Social de Belo Horizonte.

Cfess/Cress na reafirmação da Seguridade Social Pública. Palestra proferida no XXIX Encontro

RIBEIRO, Carla Andréa. Gestão de Pessoas e

Nacional

Cfess/Cress.

Maceió.

2000

conhecimento organizacionais: seus desafios nas organizações do Estado.Palestra proferida no II Seminário de Recursos Humanos da Política de

SUAS BH Online, Belo Horizonte, n 0, 2006, 33 p.

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Gestão de Pessoas: Uma Proposta para a Assistência Social ELABORAÇÃO Eliana Maia 2 Frederico Travassos 3 Mário César Rocha Moreira 4

Com a constituição do Fórum do Trabalhador da Assistência Social em 1996, bem como a criação da Comissão de Recursos Humanos no Conselho Municipal de Assistência Social em 1997, inaugura-se o debate

COLABORAÇÃO Fabrícia Cristina de Castro Maciel 5 Maria do Carmo Villamarim 6

acerca dos desdobramentos da política pública de Assistência Social frente à organização e gestão das relações de trabalho. Em 1999, na III Conferência

RESUMO O artigo em questão discorre sobre os pressupostos e implicações do paradigma “Gestão de Pessoas” frente o processo de formulação de uma política de RH pertinente à política municipal de assistência social, subsidiando, nesta perspectiva, a proposição de atividades voltadas à gestão do conhecimento, à educação continuada e à revisão dos processos de trabalho.

Municipal de Assistência Social, constituiu-se uma mesa temática intitulada “Contribuições ao processo de discussão para elaborar uma política de recursos humanos na área de Assistência Social”. Em 2001 foi realizado o I Seminário de Recursos Humanos (organizado pelo CMAS com o apoio da SMAAS) cuja repercussão culminou na incorporação do tema Recursos Humanos na IV Conferência Municipal de Assistência Social, em 2001. Neste mesmo ano, com a reforma administrativa da Prefeitura de Belo Horizonte, ocorreu um reordenamento institucional no âmbito do órgão gestor da assistência social, resultando na criação da Gerência de Coordenação da Política de Assistência Social (GPAS) e, integrando-a, o Núcleo de RH, com atribuições de promover a capacitação e mobilização dos servidores frente à descentralização dos serviços

socioassistenciais.

Dentre

as

prioridades

elencadas neste período podemos citar o desafio de implantar uma política de recursos humanos, com vistas à continuidade e sustentabilidade dos processos de gestão, que vislumbrasse a excelência nos processos de recrutamento 2

Eliana Maia é socióloga, especialista em políticas públicas, mestre em Sociologia Rural e técnica do Núcleo de Gestão de Pessoas – GPAS/GGPAS. 3 Frederico Travassos é acadêmico da Escola de Serviço Social da PUC Minas e estagiário do Núcleo de Gestão de Pessoas – GPAS/GGPAS. 4 Mário César Rocha Moreira é psicólogo, mestre em Administração Pública e gerente de gestão da Política Municipal de Assistência Social – GPAS/GGPAS. 5 Fabrícia Cristina de Castro Maciel é assistente social, mestre em Administração Pública e analista de políticas públicas – GPAS/GGPAS. 6 Maria do Carmo Villamarim é assistente social, especialista em Análise Institucional e Esquizoanálise e analista de políticas públicas – GPAS/GGPAS.

e

seleção

de

pessoal,

além

da

incorporação de estratégias de capacitação profissional, intrínsecas a uma avaliação dos processos de trabalho. O tema Recursos Humanos também ganhou destaque na V e na VI Conferências Municipais de Assistência Social, amadurecendo e consolidando as propostas para a política de RH no município. Em 2004 foi realizado o II Seminário de Recursos Humanos, admitindo

discussões

que apontaram

diretrizes

8

e


propostas para a elaboração de uma Norma

No que concerne à Política Municipal de

Operacional Básica de Recursos Humanos, no

Assistência Social, a concretização de uma Política de

âmbito nacional.

Gestão de Pessoas demanda atenção primordial ao

Em 2005, com o aperfeiçoamento da

trabalhador

público,

admitindo,

por

sua

vez,

estrutura organizacional da SMAAS, o núcleo de

desdobramentos que abarcam os demais parceiros

RH, agora denominado Núcleo de Gestão de

responsáveis

Pessoas (NUGEP), é remanejado para a recém

socioassistencial privada), cujo objetivo último é a

criada Gerência de Gestão da Política de

qualidade do atendimento ao usuário.

pelas

ações

socioassistenciais

(rede

Assistência Social (GGPAS), gerência de nível 2

Especialistas em Gestão de Pessoas afirmam que

incorporada à GPAS. O NUGEP recebe as

“gerir pessoas não é mais sinônimo de controle,

atribuições de “promover a capacitação, o

padronização ou rotinização. Gerir pessoas significa

desenvolvimento e a valorização dos servidores e

atualmente

trabalhadores da área social, por meio da gestão

desenvolvimento das mesmas” (FIRJAN, 2006). A

do conhecimento e da educação continuada”, além

questão que se coloca para toda organização é como

de “redefinir os processos, postos de trabalho,

fomentar a ação coletiva e a colaboração entre as pessoas

atribuições e previsão de pessoal, adequando-os às

de forma efetiva. Tal questão perpassa o entendimento do

necessidades da área”. 7

que é motivação e quais suas implicações frente ações de

Nesta perspectiva, o NUGEP passa a

estimular

o

envolvimento

e

o

caráter coletivo.

incorporar a concepção de Gestão de Pessoas

A gestão de pessoas baseia-se no fato de que o

entendida

desempenho

como

uma

nova

vertente

da

de

uma

organização

depende

Administração de Recursos Humanos (ARH), que

fortemente da contribuição das pessoas que a

admite uma nova visão do corpo funcional nas

compõem

organizações bem sucedidas, onde o mesmo passa

organizadas, são estimuladas e capacitadas, e

a ser reconhecido como parceiro nos processos de

como são mantidas num ambiente de trabalho e

trabalho,

num clima organizacional adequados. (FIRJAN,

e

não

apenas

como

recurso

e

da

forma

como

elas

estão

2006)

administrativo. Isto porque são as pessoas, embuídas de expectativas, valores, crenças e interesses,

que

à

A motivação advém da importância que cada

organização, decorrente, por sua vez, da forma

indivíduo confere ao seu trabalho, ou seja, do significado

como estão organizadas, motivadas e capacitadas

que é atribuído a cada atividade que compõe sua rotina,

para a promoção de um clima organizacional

isso porque cada pessoa tende a buscar seu próprio

adequado.

referencial

Tais

conferem

elementos,

dinamismo

quando

bem

de

auto-estima

e

auto-identidade.

O

estruturados e geridos, propiciam a qualidade das

desempenho organizacional depende também de como

ações promovidas pelas organizações.

está estruturada a força de trabalho, de modo a habilitá-la a exercer maior poder e liberdade de decisão, conferindo

7

Texto constante dos incisos V e VI do artigo 48 do Decreto n.º 11986 de 2005, que dispõe sobre a alocação, denominação e atribuições dos órgãos de terceiro grau hierárquico e respectivos subníveis da estrutura organizacional da Administração Direta do Executivo, na Secretaria Municipal de Políticas Sociais e dá outras providências.

a mesma uma maior flexibilidade e uma reação mais rápida

frente

desafios

dinâmicos,

próprios

das

nas

organizações contemporâneas. Dessa organizações

forma, quanto

à

houve

uma

mudança

sua

visão

das

pessoas.

9


Anteriormente,

as

mesmas

simplesmente

como

eram

vistas

compartilhamento do conhecimento nas organizações. A

de

gestão do conhecimento se encontra voltada para

habilidades, destreza e conhecimentos que, por

técnicas de conversão do conhecimento tácito em

estarem unicamente direcionados para execução

explícito, ampliando assim a base de criação de

de tarefas organizacionais, tinham suprimidas sua

significados na organização. Atividades pertinentes à

subjetividade. Atualmente, as pessoas são vistas

Gestão do Conhecimento têm como meta fomentar a

como dotadas de características próprias de

produção, o uso e o compartilhamento do conhecimento

personalidade,

junto

recursos,

aspirações,

dotadas

valores,

crenças,

à

instituição,

atendo-se,

portanto,

aos

atitudes, motivações e objetivos individuais, ainda

conhecimentos práticos e teóricos dos profissionais

que imersos num ambiente institucional onde

responsáveis pela operacionalização e gestão da Política

existam objetivos exclusivos e prontamente

Municipal de Assistência Social.

explicitados. Para tanto, urge uma atenção por parte das instituições que contemple tais nuanças

A educação continuada, por se tratar de um contínuo processo de capacitação, constitui-se de

que, por incidirem no empenho (interesse) e

(...) permanente aquisição de informação pelo

desempenho (cumprimento das obrigações) dos

trabalhador de todo e qualquer conhecimento, por

profissionais

repercutem

meio da escolarização formal ou não formal, de

diretamente na qualidade dos serviços prestados.

vivências, de experiências laborais e emocionais

Isso porque as pessoas constituem a esfera

no

primordial das organizações, por serem talentos

Compreende

que precisam ser desenvolvidos e mantidos. São

qualificação, a requalificação, a especialização, o

as pessoas que constituem a construção do capital

aperfeiçoamento e a atualização. Tem o objetivo

a

elas

vinculados,

8

âmbito

organizacional a

formação

ou

fora

dele.

profissional,

a

intelectual , que, por sua vez, movimenta a

de melhorar e ampliar a capacidade laboral do

organização na direção por ela almejada.

trabalhador, em função de suas necessidades

Diante do exposto, e à luz do que trata o

individuais, da equipe de trabalho e da instituição

artigo 48 constante do decreto 11.986 de 2005, o

em que trabalha.” (NOB RH/SUAS, p.27, Versão

NUGEP propõe um conjunto de atividades que

Preliminar).

tem por objetivo atualizar, qualificar e implicar o trabalhador

junto

à

Política

Municipal

de

A revisão dos processos de trabalho é o

Assistência Social, na perspectiva do Sistema

acompanhamento dos procedimentos concernentes à

Único de Assistência Social (SUAS). Para tanto,

organização do trabalho frente às novas demandas de

admite-se uma estruturação alicerçada em eixos

gestão do SUAS, tendo como pressuposto a valorização e

temáticos como a Gestão do Conhecimento, a

a qualidade de vida do trabalhador social por um lado, e,

Educação Continuada e a Revisão dos Processos

por outro, o seu desempenho profissional. Nesse sentido,

de Trabalho.

as atividades voltadas para a revisão dos processos de

A gestão do conhecimento é, em suma,

trabalho se orientam pelo objetivo de subsidiar decisões

uma vertente da administração estratégica que

por parte do gestor da política de assistência social que

tem como objetivo o acompanhamento dos

promovam a dinamização e aperfeiçoamento das relações

processos de produção, aquisição, disseminação e

profissionais. A revisão dos processos de trabalho deve

8

Conhecimento funcional em forma de capital corporativo, vinculado ao ativo das empresas modernas.

ser realizada à luz de um Plano de Carreira, Cargos e Salários (PCCS) que contemple a valorização do

10


trabalhador e seu desempenho profissional, com

promover

base no conhecimento adquirido pela experiência

conhecimentos intrínsecos ao exercício profissional dos

ou escolarização.

técnicos da rede socioassistencial, conferindo aos

a

difusão

e

o

compartilhamento

de

mesmos potencialidades que contribuam para a qualidade Atividades propostas pelo NUGEP:

dos serviços prestados. A seleção de objetos de pesquisa pertinentes às demandas informacionais da organização

Plano Anual de Capacitação

será realizada a partir da consulta de trabalhos

O Plano Anual de Capacitação é a denominação

catalogados junto ao Serviço Interno de Informação –

dada

GEIMA -, além de outras fontes, para, em seguida, serem

ao

qualificação

conjunto

de

permanente

ações do

destinadas corpo

à

técnico-

definidos cronogramas de apresentações.

administrativo da rede socioassistencial. A partir da promoção de treinamentos introdutórios,

Acompanhamento de Publicações e Eventos Técnico-

aperfeiçoamentos, cursos, seminários, palestras e

Científicos

oficinas, o objetivo é prover os trabalhadores

Diante da necessidade de uma permanente atualização

sociais de habilidades, capacidades técnicas e

técnico-científica por parte do corpo técnico da SMAAS,

gerenciais que culminem no aprimoramento do

faz-se necessário o acompanhamento de publicações e

exercício profissional, bem como na eficiência e

eventos pertinentes à temática da política pública de

eficácia dos resultados almejados junto à Política

assistência social, a partir da recuperação e tratamento

Municipal de Assistência Social.

de informações junto à Gerência de Informação, Monitoramento e Avaliação (GEIMA). O objetivo é

Jornada dos Trabalhadores

prover aos profissionais que compõem a rede de atenção

A Jornada dos Trabalhadores constitui-se da

socioassistencial o acesso a informações intrínsecas às

promoção

demandas

de

palestras,

debates

e

demais

institucionais

às

quais

se

encontram

atividades que proporcionem a interação dos

vinculados, com o intuito de aprimorar a eficiência dos

profissionais da SMAAS frente a um tema cuja

serviços públicos prestados.

relevância e implicação conjuntural se fazem notórios, sobretudo no que diz respeito aos

Grupos de Estudos

processos de trabalho da organização. Realizada

Grupo de Estudo é a denominação dada a uma prática

anualmente, a Jornada dos Trabalhadores visa

pedagógica destinada à produção e compartilhamento de

empreender a troca de experiências entre os

conhecimento

profissionais da área social, interna e externa à

socioassistencial. A partir da formação de pequenos

organização, com o objetivo de estimular a

grupos, propõem-se a reflexão e discussão de temas

reflexão por parte dos mesmos sobre sua prática e

pertinentes às especificidades dos serviços, seguidas de

sua implicação na consolidação da Política

uma orientação de estudo. Cada Grupo de Estudo será

Municipal de Assistência Social.

dirigido por um coordenador que irá, a partir de leituras

junto

aos

profissionais

da

rede

prévias de textos específicos, estimular discussões de Ciclos de Palestras

forma produtiva e focada, evitando-se assim possíveis

O ciclo de palestras consiste na apresentação de

dispersões. A realização de Grupos de Estudos admite

trabalhos

produtos

acadêmicos

de

servidores

da

como

o

desenvolvimento

pessoal

dos

organização e demais estudiosos da política

respectivos participantes, recomendações aos gestores

pública de assistência social, com intuito de

acerca da revisão dos processos de trabalho, além de

11


contribuir, por intermédio do NUGEP, para

Referências:

socialização de novos conhecimentos junto à

CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de Pessoas: o novo

instituição.

papel dos recursos humanos nas organizações. Rio de Janeiro: Campus, 1999.

Acompanhamento de Processos de

Conselho Municipal de Assistência Social. Política de

Recrutamento e Seleção de Pessoal

recursos humanos na Assistência Social: a construção

Diante da necessidade de uma atenção ao perfil

coletiva em Belo Horizonte. Texto apresentado na V

dos

Conferência Nacional de Assistência Social- 2005. Belo

profissionais

aprovados

nos

concursos

públicos efetuados pela PBH, cabe ao NUGEP acompanhar:

a

elaboração

dos

editais

Horizonte, págs. 55-59.

de

concursos públicos destinados à Assistência

DAVEL, Eduardo e VERGARA Silvia Constant. Gestão

Social, do ponto de vista das definições claras das

com Pessoas e Subjetividade. São Paulo: Atlas, 2001.

competências requeridas para os serviços; o processo de alocação, de forma a direcionar o

FIRJAN. Gestão de pessoas - a maior vantagem

recrutamento daqueles que irão fazer parte do

competitiva. Papers dos programas e seminários do

corpo funcional da SMAAS com o perfil mais

Conselho Empresarial de Gestão Estratégica para

adequado às características dos serviços.

Competitividade. Disponível em :

Vale considerar que o propósito aqui é garantir

www.firjan.org.br/notas/media/Paper3.pdf. Acesso: 12

um corpo técnico-administrativo adequado ao

abril de 2006.

trabalho a qual se destinam, visando, assim, um grau elevado de satisfação tanto por parte do

Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à

trabalhador quanto da instituição.

Fome. Secretaria Nacional da Assistência Social. Norma Operacional Básica de Recursos Humanos do SUAS–

Acompanhamento sócio-funcional

NOB-RH/SUAS (Versão Preliminar). Brasília/DF.

O acompanhamento sócio-funcional compreende

2006.

as ações que visa rever, permanentemente, o planejamento do quantitativo e alocação de

MOREIRA, Mário César Rocha. Novas Metodologias

pessoal

às

para o Sistema Único de Assistência Social: Gestão de

transformações das tecnologias de gestão do

Parcerias, Geração de Conhecimento e Capital Social

SUAS

no Projeto Tudohaver. Belo Horizonte, Fundação João

dentro

e

dos

da

organização

conhecimentos

frente

específicos

demandados.

Pinheiro / Escola de Governo, 2005. (Dissertação de

Ao NUGEP cabe, portando, acompanhar a vida

Mestrado).

profissional do servidor da SMAAS de forma a garantir o cumprimento das regulamentações

RIBEIRO, Carla Andréa. Gestão de Pessoas e

previstas no Plano de Carreira, Cargos e Salários

Conhecimento Organizacional: seus desafios nas

(PCCS).

organizações do Estado Texto apresentado no II Seminário de Recursos Humanos da Assistência Social – 20/09/200

12


Mobilização subjetiva para o trabalho como condição sine qua non para o processo de aprendizagem organizacional Artigo apresentado no V Simpósio Internacional sobre Gestão do Conhecimento (V ISKM) promovido pela PUC Paraná nos dias 19 a 21 de Agosto de 2002 na cidade de Curitiba ELABORAÇÃO Carla Andréa Ribeiro Psicóloga Mestre em Ciência da Informação ECI/UFMG. e-mail: carlarib@uaivip.com.br ABSTRACT The organizational practices and the theories related to the facilitation of the knowledge and organizational creation permanently debate the difficulties found in relation to the subjective aspects on the work process. The psychodynamics of work is like a theorical structure which can assist in the understanding of the inner and intersubjective relations which are established between the individual and the work. The theory is based on the concept that the subjective mobilization for the work or “the desire for creation” is spontaneous. And because it is spontaneous, it is impossible to prescribe the psychic mobilization necessary. It is necessary to know how to act in order to not break the personalities and intelligence mobilization. The interruption of the subjective mobilization can cause serious consequences, to the individual and organization. The maintenance of this mobilization is possible through the dynamics of the contribution return – the acknowledgement.

Introdução “Através

da

aprendizagem

recriamo-nos

a

nós

próprios.Através da aprendizagem tornamo-nos capazes de fazer algo que nunca fomos capazes de fazer. Através da aprendizagem ‘re-significamos’ o mundo e a nossa relação com ele. Através

da

aprendizagem

aumentamos

a

nossa

capacidade de criar, de fazer parte de um processo gerador da vida.” (SENGE, 1990: 14) O processo de aprendizagem organizacional foi considerado

relevante

para

as

organizações

pelo

reconhecimento da importância do conhecimento como base da nova competitividade do mercado mundial. Neste ensejo, surgem diversas perspectivas para facilitação da criação do conhecimento nas organizações; pode-se destacar o processo de aprendizagem organizacional. Todas as organizações aprendem, conforme defende KIM (1998); partindo deste princípio, os pesquisadores do tema tentam explicar os processos existentes na aprendizagem organizacional. Com o objetivo de intervir no processo para fomentá-lo, facilitálo e conduzi-lo à criação e geração de novos

PALAVRAS CHAVES Gestão do conhecimento; compartilhamento do conhecimento; subjetividade do trabalhador; organização do trabalho; saúde mental do trabalhador.

conhecimentos visando ampliar a qualidade dos produtos e serviços, bem como a competitividade. O processo de aprendizagem individual é objeto de estudo dos psicólogos há décadas. A teoria da aprendizagem organizacional se estabelece baseada incipientemente na teorização sobre o processo de aprendizagem individual. A relação entre o processo de aprendizagem individual e organizacional parece óbvia, “... as organizações aprendem através de seus membros individuais” (KIM, 1998:61). Mas a relação entre esses processos é complexa e de difícil teorização, pois integra dois universos: o individual, constituído pelo sujeito (indivíduo mais subjetivo), e o organizacional, como

13


espaço das relações sociais dos sujeitos regido

saber e o fazer; uma das descobertas mais importantes da

pela cultura que determina a organização do

pesquisa realizada é que o conhecimento, aquele

trabalho.

realmente implementado, é adquirido muito mais na Compreender o processo pelo qual a

prática que na teoria. Eles afirmam que o debate sobre o

aprendizagem individual se insere na memória e

hiato entre o saber e o fazer é mais importante que o hiato

estrutura da organização é tentar, a princípio,

entre a ignorância e o conhecimento. Porque a superação

sintetizar as teorias sobre as organizações e a

do hiato entre a ignorância e o conhecimento pode se dar

psicologia. Vários teóricos publicaram sobre o

pela disseminação da informação; mas a transmissão da

tema, disponibilizando importantes contribuições,

informação resultando mudanças nas práticas requer

destaca-se:

a

modelo mais complexo. As experiências bem sucedidas

publicação do livro The fifth discipline, e Daniel

demonstram que o melhoramento do desempenho

H. KIM (1993), com a publicação do artigo The

organizacional depende, muitas vezes, da implementação

link

do que já se sabe, preferencialmente do conhecimento

Peter

between

SENGE

individual

(1990),

and

com

organizational

learning.

originado da prática ou do conhecimento prévio da forma

A questão central dos autores citados

repousa

no

processo

de

transferência da aprendizagem individual para a organizacional. Compreender esse

pela qual são praticadas as ações (trabalho real). A superação do hiato entre o conhecer e o fazer representa, na verdade, a transferência do conhecimento individual e organizacional a partir do fazer, conforme afirmam PFEFFER & SUTON:

processo é crucial para o gerenciamento ativo da aprendizagem, para torná-lo consistente com as metas, a visão e os valores da organização, conforme defende KIM (1998).

“Se você e seus colegas aprendem de suas próprias ações e condutas, a presença do hiato entre o saber e o fazer é significativamente menor, porque você vai estar ‘sabendo’ na base do seu fazer, e implementando o conhecimento de

Para KIM (1998), aprendizagem é a aquisição de conhecimento ou habilidades e

maneira substancialmente mais fácil.” PFEFFER & SUTON (2000:25) Tradução da autora

abrange dois significados, um relacionado aos processos de aquisição de habilidades ou know-

Para

melhor

compreender

o

processo

de

how – representa o saber traduzido para a prática.

transferência

O segundo significado é a aquisição do know-why,

organizacional é necessário e importante compreender o

que

implica

individual

para

a

a

conceito de modelo mental, citado por SENGE (1990) e

experiência

KIM (1993). Eles definem os modelos mentais como

representa a prática propiciando a elaboração e o

imagens do funcionamento do mundo, e exercem

saber. Baseado no know-how e no know-why,

influência poderosa sobre o que as pessoas fazem, pois

KIM propõe duas formas de aprendizagem, uma

afetam o que as pessoas vêem. Os modelos mentais não

operacional e outra conceitual, mas ambas

são a realidade, mas o que a pessoa percebe como a

centradas na experimentação, no fazer.

realidade. Baseado nesta concepção KIM (1998) propõe a

conceitual

de

aprendizagem

articular

compreensão

capacidade

da

da

Autores como PEFFER & SUTON (2000) também

corroboram

essa

concepção.

Eles

transferência

pela

permuta

dos

modelos

mentais

individuais e compartilhados. A transferência utilizaria a

pesquisaram e teorizaram sobre o hiato entre o

14


memória da organização: memória ativa que

experiências não são tão bem sucedidas porque têm o

define em quê uma organização deve prestar

‘sujeito no meio do caminho’. O sujeito se torna, em

atenção, como decidir agir, e o quê, de sua

muitas organizações, ‘a pedra no caminho’ para gestões

experiência,

inovadoras, como a Gestão do Conhecimento e o

seleciona

para

se

lembrar.

Reconheceria que a aprendizagem organizacional

Aprendizado Organizacional.

é dependente do aperfeiçoamento dos modelos

questão tende a abordar a resistência à inovação e

mentais de seus indivíduos.

motivação. Estes temas são recorrentes na administração

modelos

mentais

seria

Tornar explícitos crucial

para

o

e

gestão

de

pessoas,

A elaboração sobre a

tanto

na

abordagem

da

desenvolvimento de novos modelos mentais

administração quanto na psicologia. São, de fato, temas

compartilhados.

pertinentes ao problema, mas ainda não contemplam sua

Explicitar os modelos mentais é a

resolução.

“chave” para encontrar o elo crucial entre a

Diante da aparente lacuna (teórica e empírica)

aprendizagem individual e coletiva. Mas KIM

na literatura sobre aprendizagem organizacional e gestão

(1998) adverte que é difícil articulá-los e

do conhecimento, sobre os aspectos que levam os

compartilhá-los

trabalhadores

com

outros,

principalmente

a

se

engajarem

em

processos

de

porque os modelos mentais são a mistura do que é

compartilhamento de modelos mentais e conhecimento,

aprendido explicitamente e do que é absorvido

propõe-se neste artigo abordar a Psicodinâmica do

implicitamente. Ele afirma que o processo de

Trabalho como arcabouço teórico consolidado e utilizado

trazer à tona modelos mentais individuais e

para compreender os fenômenos subjetivos no trabalho.

explicitá-los

pode

acelerar

a

aprendizagem

individual. À medida que os modelos mentais são

Contribuição da Psicodinâmica do Trabalho

explicitados e ativamente compartilhados, a base

A Psicodinâmica do Trabalho é tratada por

do significado compartilhado na organização se

alguns autores como Escola Dejouriana sobre as relações

expande, e a capacidade da organização para

do sujeito com o trabalho. Dejouriana porque tem como

realizar ações coordenadas eficazes aumenta.

seu principal autor o médico psiquiatra Christophe

Após conhecer a sugestão de KIM, torna-

Dejours . Psicodinâmica é termo da teoria psicanalítica –

se inevitável perguntar: como podemos promover

designa o estudo dos movimentos psicoafetivos gerados

a explicitação dos modelos mentais individuais?

pela evolução dos conflitos inter e intra-subjetivos.

Várias experiências são relatas apontando duas

Portanto, Psicodinâmica do Trabalho é modelo teórico

possibilidades dissociáveis ou não: o uso da

que postula sobre as relações inter e intra-subjetivas do

tecnologia da informação e comunicação para

sujeito com o trabalho, a dinâmica do reconhecimento da

disseminação

ou

contribuição e o processo de construção da identidade, o

intensificação das relações de convívio, face à

sofrimento no trabalho e as defesas contra o sofrimento e

face, visando proporcionar o compartilhamento

a doença.

dos

modelos

mentais

pelas relações sociais.

KIM (1998), em sua teorização sobre a

Os relatos das experiências também

aprendizagem organizacional, aborda as aprendizagens

abordam, muitas vezes de forma superficial, a

operacional e conceitual como formas de aprender na

dificuldade

práticas

organização ou no exercício da prática. Esse processo de

organizacionais questões que envolvem o sujeito

aprendizagem ocorre quando o trabalhador supera a

em sua singularidade. É percebido que muitas

prescrição do trabalho, interpreta e elabora sobre a rotina

de

formatar

para

15


prescrita e propõe e pratica nova forma de executar a atividade, estabelecendo, assim, o

“Se, por um lado, as condições de trabalho têm

trabalho real. No ciclo proposto por KIM este

por alvo principalmente o corpo, a organização

trabalho real é compartilhado, torna-se prescrito e

do trabalho, por outro lado, atua a nível (sic) do

é novamente superado, transformando-se em

funcionamento psíquico. A divisão das tarefas e o

trabalho real e reinicia-se o ciclo. Essa dinâmica

modo operatório incitam o sentido e o interesse do

da aprendizagem é o desafio da Psicodinâmica do

trabalho para o sujeito, enquanto a divisão de

Trabalho: equilibrar a distância existente entre

homens solicita sobretudo as relações entre

organização prescrita e organização real do

pessoas e mobiliza os investimentos afetivos, o

trabalho, levando em consideração todas as

amor, e o ódio, a amizade, a solidariedade, a

conseqüências da descompensação deste hiato

confiança, etc.” (DEJOURS, 1994:126)

para a saúde mental do trabalhador e para a qualidade do que é produzido por ele.

Outra descoberta importante ocorrida no debate

Essa construção cíclica do processo de

com a ergonomia é a existência da distância irredutível

aprendizagem depende diretamente do modelo de

entre atividade prescrita e atividade real de trabalho. Essa

organização

da

distância, tratada até então como problema e lacuna a ser

organização do trabalho surge em oposição ao

preenchida, torna-se necessária para a manutenção da

conceito de condição de trabalho. Entende-se por

dinâmica

condição

trabalhadores.

de

do

trabalho.

trabalho

as

O

conceito

pressões

físicas,

que

mobiliza Atualmente,

as

ações nas

subjetivas

organizações,

dos essa

mecânicas, químicas e biológicas do posto de

distância não tem sempre o mesmo tratamento: ou ela é

trabalho – o alvo é o corpo do trabalhador –

tolerada e oferece margens de liberdade criativa, ou é

ergonomia. Já o conceito de organização do

reprimida e os trabalhadores temem ser flagrados em

trabalho baseia-se na divisão do trabalho: divisão

falta. A elaboração da organização real do trabalho

de tarefas entre os trabalhadores, gerências,

implica, portanto, o afastamento das prescrições e a

cadências e o modo operatório prescrito; por outro

passagem para as “interpretações”.

lado, a divisão de homens: a repartição das

Esse novo olhar sobre a organização do trabalho

responsabilidades, hierarquia, comando, controle.

leva a refutar a divisão tradicional entre trabalho de

Conforme DEJOURS (1994:125-126), o segundo

concepção e de execução. Todo trabalho é sempre de

termo (divisão dos homens) aparece como o

concepção. Ou seja, o trabalho é sempre criação do novo,

complemento necessário do primeiro (divisão das

do inédito. Ajustar a organização prescrita do trabalho

tarefas), pois não é suficiente para o engenheiro de

exige a tomada da iniciativa, a inventividade, a

métodos fixar a organização técnica do trabalho e

criatividade e formas de inteligência específicas próximas

dos modos operatórios; ele deve verificar que a

daquilo que o senso comum chama de engenhosidade. Ou

execução esteja de acordo com a concepção. Mas

ainda segundo DEJOURS (1993) o trabalho não vem

a divisão dos homens foi paulatinamente perdendo

apenas da tékhnē, nem mesmo da poíēsis. Ele vem

esse lugar secundário e ganhando importância na

também da práxis.

teoria; hoje se refere à organização do trabalho,

Sendo assim, o trabalho é humano por definição,

atentando primeiramente à construção social,

pois ele é convocado precisamente quando a ordem

aproximando assim do ponto de vista sociológico

tecnológico-maquinal é insuficiente. DAVEZIES (1991),

do trabalho, conforme sintetiza DEJOURS:

citado por DEJOURS (1993), resume a concepção do

16


trabalho como atividade desenvolvida por homens

coordenada ou certamente ocorrerá incoerência e

e mulheres para enfrentar aquilo que não é dado

incompreensões entre os agentes (trabalhadores e

pela organização prescrita do trabalho. Essa

hierarquia), destruindo as vantagens potenciais da

síntese induz a compreensão de que o trabalho se

inteligência da prática, conforme DEJOURS (1993). Na

realiza, diretamente, na ordem do real. Mas a

verdade, a coordenação do trabalho deve assegurar, de

relação com o real não está jamais diretamente

forma bem sucedida, as condições lógicas e cognitivas da

dada. Ela não é natural. Ela passa sempre pela

articulação dos elementos apresentados.

mediação da ação

sobre este real em que se

descobre simultaneamente:

A

coordenação

cooperação

como

do

trabalho

“utiliza”

“instrumento”

de

a sua

- a experiência do que no real resiste ainda

operacionalização. A cooperação baseia-se na vontade

e sempre ao controle da técnica e dos

das pessoas trabalharem juntas e superar coletivamente as

conhecimentos;

contradições que nascem da essência da organização do

- as possibilidades de ação sobre este real

trabalho. Emerge da liberdade das pessoas e formação da

que se deixa parcialmente conquistar,

vontade comum. De acordo com DEJOURS (1993) é um

domesticar ou contornar, reafirmam o

grau suplementar na complexidade e integração da

poder criativo do pensamento imaginativo

organização do trabalho. Ele também considera que, sem

do sujeito.

cooperação, não é possível produção no trabalho e

Considerando que a mediação do trabalho

constata: não existe cooperação sem confiança.

com o real se dê pela ação, que no real exista o

A

confiança,

segundo

DEJOURS

(1993)

inclusive a

própria

“mundo das técnicas” e a possibilidade de

contrariando

superação das mesmas a partir da criação e

psicologia, não é um sentimento e não se dá na ordem do

interpretação, pode-se estabelecer que o trabalho

psico-afetivo. Ela vem, principalmente, da deontologia,

se desenvolva no mundo objetivo em que ele se

da construção de acordos, normas e regras sobre a forma

submeta

da

de executar o trabalho e do funcionamento da

racionalidade cognitiva instrumental: é o domínio

organização. Esses acordos compõem os pactos sobre os

da atividade. Assim como se desenvolve, também,

significados

no

compartilhados e outros elementos da cultura e da

aos

mundo

critérios

subjetivo,

de

pela

validação

busca

do

muitos

da

teóricos,

organização,

modelos

reconhecimento da contribuição dada para a

política

superação das técnicas pela interpretação e ação

relacionados à dinâmica de execução do trabalho.

da inteligência prática. Essa

que

estão

diretamente

Se se considerar que a coordenação do trabalho sua

propicie a coerência à contribuição singular de cada

organização e o papel da ação como mediadora do

trabalhador para a organização do trabalho e que as

sujeito e do trabalho indica que sua coordenação

condições éticas ou mesmo políticas para a construção

deve ser enfocada no processo de criação e não na

das relações de confiança entre os trabalhadores sejam

coordenação da divisão de tarefas e pessoas, como

favoráveis, pode-se considerar que exista ambiente

é

do

propício para a cooperação. Mas, esta só se torna efetiva

conhecimento a partir do fazer ou da inteligência

se os trabalhadores a desejarem. É essa singularidade que

da prática advindas das interpretações, da

permite conceituar a mobilização subjetiva para o

organização prescrita e das experimentações ou

trabalho ou tentar responder a seguinte questão: sob quais

experiências singulares de trabalho, deve ser

condições os homens se engajam na dinâmica da

tratado

concepção

organizacional

mentais

atualmente.

do

A

trabalho,

produção

17


construção e evolução da organização do trabalho

ação os recursos de sua inteligência e personalidade –

ou aprendizado organizacional?

mobilização espontânea.

A

mobilização

gerada

A mobilização é extremamente frágil, ela

espontaneamente pelas expectativas da realização

depende da dinâmica entre contribuição e retribuição. Em

pessoal ou pela mobilização intra-subjetiva para o

contrapartida da contribuição que o trabalhador oferece à

trabalho,

A

organização do trabalho, ele espera retribuição. Na

mobilização subjetiva para o trabalho supõe que

ausência dessa retribuição, ela acaba por se desmobilizar,

os trabalhadores empreguem:

geralmente a contragosto, porque as conseqüências são

que

será

subjetiva

detalhada

é

adiante.

- esforços da inteligência

graves para a saúde mental do trabalhador, provocando

- esforços de elaboração para construir

sofrimento.

opiniões

Ao contrário de algumas teorias, a retribuição - esforços para implicar-se no debate de

esperada pelos trabalhadores é fundamentalmente de

opinião – o debate pode ser tratado em

natureza simbólica e revestida pelo reconhecimento. A

espaços institucionais e em espaço de

retribuição simbólica oferecida pelo reconhecimento vem

convívio, refeições, café, pausas.

da produção de sentido que ela confere à vivência do

Várias propostas e modelos de práticas

trabalho. Ela pode se dar pela constatação ou pela

organizacionais tentam dar a essa atividade (empregar

esforços)

e

O reconhecimento pela constatação baseia-se

não

é

no reconhecimento da realidade que constitui a

fato

de

contribuição do sujeito para a organização do trabalho.

para

Este reconhecimento encontra grandes resistências da

canalizar os esforços não significa que esses

parte das hierarquias porque implica, ao mesmo tempo, o

esforços sejam direcionados a eles. Neste aspecto,

reconhecimento da imperfeição da ciência e da técnica,

deve-se observar que a cooperação passa,

das falhas da organização prescrita do trabalho. A

necessariamente, pela mobilização subjetiva dos

negação das contribuições dos trabalhadores inscreve-se

trabalhadores através do reconhecimento da

na estratégia de defesa individual ou coletiva dos

contribuição

próprios gerentes.

institucionalizada. necessariamente existirem

forma

Esse

padronizada

gratidão.

caminho

bem sucedido.

lugares

O

institucionalizados

específica

e

insubstituível

dos

trabalhadores para a concepção, o ajuste, a gestão

A gratidão é o reconhecimento da utilidade da

da organização do trabalho e para o aprendizado

contribuição dos trabalhadores para a organização do

organizacional.

trabalho e o aprendizado organizacional.

Por

impossível

A falta do reconhecimento é dos temas

prescrever a mobilização psíquica necessária à

recorrentes no universo do trabalho, peça central na

cooperação, trata-se de saber como proceder

psicodinâmica

para

das

reconhecimento passa pela construção rigorosa de

A

julgamentos, especialmente o dos pares. O julgamento

mobilização subjetiva se revela bastante poderosa

pode ser da utilidade da contribuição e proferido,

na maioria das pessoas normais. Tudo se passa

principalmente, pela hierarquia. O julgamento da

como se o sujeito, confrontando a organização do

“beleza” ou da pertinência e relevância da contribuição é

trabalho, não pudesse se impedir de colocar em

proferido pela linha horizontal, pelos pares, colegas,

não

inteligências

ser

espontânea,

quebrar e

das

a

é

mobilização personalidades.

membros

da

do

trabalho

equipe

ou

e

da

da

cooperação.

comunidade

18

O

de


“pertencimento”, esse reconhecimento é mais impactante

na

mobilização

subjetiva

do

trabalhador.

A outra saída para o desejo é pelo que DEJOURS

(2000)

denominou

psicossomática. As sublimações,

de mas

economia também a

O reconhecimento da qualidade do

atividade de trabalho em si, implicam a “economia

trabalho realizado pode, e deve, se inscrever na

psicossomática”. A tarefa, sua organização, seu modo

personalidade em termos de ganho no registro da

operatório implicam exigências cognitivas, sensoriais,

identidade. A realização pessoal adquirida a partir

motoras nas quais o sujeito emprega seus músculos,

da retribuição simbólica do reconhecimento

órgãos sensoriais e sistema nervoso. No caso em que esta

depende da forma pela qual os sujeitos se

relação seja inadequada, ela torna-se fonte de fadiga e de

relacionam com o trabalho. Para estabelecer as

sofrimento. Em outros casos, ela é ocasião de

possibilidades dessa relação, ou as formas da

relaxamento e satisfação. É importante dizer que cada

mobilização intra-subjetiva com o trabalho,

sujeito é dotado de estrutura particular que lhe permite

DEJOURS (2000) propõe duas formas: uma seria

regular sua economia psicossomática. Neste caso, não se

o trabalho como investimento que apresenta as

pode falar de tarefa “boa” ou “má”. Em cada situação se

seguintes determinantes - sublimação e economia

cria uma relação específica entre o homem e as

psicossomática. A outra forma é a relação do

exigências de sua tarefa que é, em certos casos, suscetível

sujeito com o trabalho como defesa, que tem

de arranjos personalizados.

como determinantes - passado psíquico e as relações afetivas atuais.

A atividade profissional que responde melhor à estrutura do sujeito se encontra, em geral, no fim do

A relação do sujeito com o trabalho como

caminho resultante de articulações entre a escolha

investimento refere-se ao engajamento positivo no

profissional, a formação e especialização. Portanto,

trabalho em que se encontram saídas originais ao

torna-se difícil em caso do não reconhecimento ou

desejo do sujeito, ao seu passado, à sua história, à

rupturas involuntárias, o encontro de outra tarefa que

sua personalidade. Essa saída pode se dar pela

permita a recomposição da relação homem-atividade de

sublimação ou da economia psicossomática.

forma satisfatória.

Sublimação é processo graças ao qual o

Segundo DEJOURS (2000) a relação do sujeito

sujeito renuncia a satisfazer certas pulsões para

com o trabalho como defesa baseia-se de alguma forma

lhes dar “saídas” substitutivas em outra atividade

com o passado psíquico. Neste caso, o trabalho se

de caráter social. Ela diz respeito não apenas ao

inscreve, antes de tudo, como meio de luta contra si

objeto da pulsão, mas também a sua finalidade. A

mesmo. Não se trata mais de uma saída personalizada,

sublimação é complexa, mas ela é, acima de tudo,

mas de investimento do trabalho em forma de “atitude

frágil e não se pode improvisá-la. Ela resulta de

reativa”.

delicado trabalho psíquico. Se a atividade de

fundamentalmente, a história infantil dos sujeitos.

Neste

caso,

leva-se

em

consideração,

trabalho em que exista a possibilidade de

Nas melhores circunstâncias, o trabalho oferece

sublimação se rompe, existe o risco de quebrar, ao

“satisfações substitutivas” aos desejos como eles foram

mesmo tempo, todo o edifício pacientemente

forjados pela história infantil ou em termos mais técnicos

construído pelo sujeito e de fazer refluir sobre ele

pela “neurose infantil”. As sublimações são o melhor

as pulsões que não encontrarão outras saídas. Isto

exemplo disso. Mas, às vezes, o sujeito tenta se

poderá ocasionar, em certas condições, situação

“arranjar” com seu passado, opondo a ele um

mental (e somática) perigosa.

desmentido, designado na psicanálise pelos termos

19


formação reativa, negação, recusa ou clivagem,

sensível da dinâmica intersubjetiva da identidade no

segundo o caso. A atividade profissional aparece,

trabalho , ele é tratado como o outro. Conseqüentemente

então, como separada do passado e destinada a

a cooperação é indissociável da economia da identidade e

manter ativamente este “corte”, de modo a

saúde mental no trabalho.

proteger o sujeito do retorno inesperado de sua

Formulando de outra maneira, a relação entre a

história infantil ou, de forma mais geral, de seu

identidade e trabalho é mediada pelo outro, no

inconsciente. Em vez de negociar com seu

julgamento de reconhecimento. Neste caso, a retribuição

inconsciente para chegar a um compromisso

simbólica conferida pelo reconhecimento pode adquirir

(como a formação substitutiva), ele (o sujeito) se

sentido na realização pessoal. Se o sujeito é separado do

coloca deliberadamente em uma problemática

real e do reconhecimento do outro, ele é jogado na

relação de forças e em um terreno ocupado pelo

solidão da loucura clássica conhecida pelo nome de

protagonista mais poderoso (o inconsciente). O

alienação mental. Se o sujeito mantém, pelo seu trabalho,

trabalho, neste caso, é essencialmente defensivo.

relação com o real, mas seu trabalho não é reconhecido

É um contra-investimento muito menos flexível e

pelo outro, mesmo se este trabalho se encontra em

menos sutil que a sublimação.

relação de verdade com o real, ele estará igualmente

Na forma que considera a situação de

condenado à solidão alienante conforme SIGAU citado

trabalho e os conflitos afetivos atuais, o sujeito

por DEJOURS (1993). Portanto, o triângulo da

utiliza seu trabalho não somente para fugir do seu

psicodinâmica do trabalho é composto pelos vértices:

passado, mas também dos conflitos atuais (com

sofrimento – trabalho – reconhecimento.

cônjuge, filhos ou pais). A hiperatividade se

O problema prático consiste em não quebrar a

revela, neste caso, como forma providencial de

mobilização das subjetividades, reduzindo o direito à

fuga dos conflitos. A atividade de trabalho se

contribuição de uma parte, desestruturando a dinâmica do

beneficia de energia suplementar obtida de sua

reconhecimento

função defensiva.

reconhecimento for paralisada, o sofrimento não pode ser

de

outra.

Se

a

dinâmica

do

Essas formas de mobilização intra-

transformado em prazer, não pode encontrar sentido. Ele

subjetiva para o trabalho se articulam à dinâmica

só pode neste caso, se acumular e engajar o sujeito em

do reconhecimento pela constituição da identidade

dinâmica

do sujeito. Referir-se à identidade é tocar no

descompensação psiquiátrica ou somática. Entre o

núcleo, na própria armadura da saúde mental.

sofrimento e a doença podem se intercalar as estratégicas

Toda descompensação psicopatológica supõe crise

defensivas, pela análise dinâmica do sofrimento e de sua

de

transformação em prazer pelo reconhecimento.

identidade.

Assim,

a

dinâmica

do

patogênica,

conduzindo

finalmente

à

reconhecimento das contribuições à organização

As estratégias defensivas são construídas para

do trabalho engaja de fato a problemática da saúde

ocultar a realidade do sofrimento e de sua relação

mental. Por essa razão, a conquista da identidade

dinâmica com o trabalho. DEJOURS (1993) afirma que o

na dinâmica intersubjetiva do reconhecimento no

sujeito que está engajado em estratégias defensivas para

trabalho concerne essencialmente à realização

lutar contra o sofrimento no trabalho, não abandona o seu

pessoal no campo das relações sociais. É a ação

funcionamento psíquico no escritório. Ao contrário, ele

sobre o real que media a articulação entre sujeito,

leva suas exigências mentais consigo e necessita da

inconsciente e campo social. Neste caso, o

cooperação de seus familiares e amigos para manter suas

coletivo ou o grupo é elo importantíssimo e ponto

defesas funcionando no momento de retornar ao trabalho.

20


A vida social do sujeito torna-se o principal

barreiras encontradas na implementação desses modelos

suporte para sua manutenção no trabalho.

de gestão. Muitas vezes essas barreiras são as estratégias

As estratégias de defesas tornam-se os

de

defesas

que

não

podem

ser

simplesmente

principais obstáculos para a gestão voltada à

desmontadas. A eliminação ou a desarticulação das

aprendizagem organizacional. Elas promovem

estratégias de defesas pode sucumbir os trabalhadores ao

postura de distanciamento com a dinâmica do

sofrimento tão evitado.

trabalho e podem ser facilmente identificadas pelo

As práticas organizacionais devem voltar-se

silêncio “fúnebre” nas reuniões de equipe; no

para a manutenção da mobilização subjetiva para o

boicote

no

trabalho. O principal mecanismo de manutenção da

estabelecimento de fortes vínculos entre os pares e

mobilização é a dinâmica do reconhecimento da

rivalidades entre equipes; na negação para

contribuição. É a retribuição simbólica da criação do

participar das atividades de “degelo” promovidas

conhecimento que permite aos trabalhadores se manterem

pela organização; na resistência velada às

mobilizados para o trabalho e, conseqüentemente, para a

mudanças; no cumprimento restrito da prescrição

perene criação.

às

mudanças

e

à

hierarquia;

do trabalho ou ativismo; no comportamento

A superação da dicotomia do trabalho de

passivo diante dos conflitos; na desconfiança

concepção e execução é, também, uma importante

sistemática; na tentativa de desvencilhar de

iniciativa para compreender e significar na organização

responsabilidades.

do trabalho a concepção de trabalho como sempre de

Assim, como os trabalhadores mobilizam

criação. Introjetar essa nova conceituação de trabalho na

estratégias de defesa individuais e coletivas para

cultura da organização é o primeiro passo para

suportar a falta de reconhecimento e não paralisar

implantação

a mobilização subjetiva para o trabalho a

conhecimento.

de

modelos

de

gestão

voltados

ao

hierarquia, também, pode se relacionar com o

Conforme O’REILLY (2001), as organizações

grupo de trabalhadores utilizando-se, também, de

devem dar a devida importância à concepção filosófica

estratégias de defesa visando ocultar suas

de homem que elas adotam. O discurso em que as

fragilidades, contradições, decisões equívocas e a

práticas organizacionais estão centradas nas pessoas é

vivência de impotência diante das estratégias de

recorrente e legitimado pela teoria e pela prática. Mas,

defesas

centradas em qual concepção de homem?

dos

defensivo,

o

trabalhadores. que

reina

Neste com

ambiente toda

sua

Na

concepção

em

que

as

pessoas

são

potencialidade é a desconfiança. É a falta da

repositórios de conhecimento e cuja ênfase na gestão de

confiança entre os gerentes, subordinados e

pessoas deva se dar na perspectiva de se construir o

colegas que impossibilita a cooperação. São a

estoque de conhecimento, adquirindo ou desenvolvendo

confiança e a cooperação que permitem o

propriedade

compartilhamento

propriedade) na presunção de que conhecimento, uma

dos

modelos

mentais

individuais ou o conhecimento implícito e tácito.

intelectual

(notar

o

uso

do

termo

vez adquirido, passa a ser usado apropriadamente e eficazmente?

Considerações Finais

Ou ainda, na concepção de que exista pessoa

Atualmente os relatos sobre gestão do

certa para o lugar certo na organização, de forma

conhecimento e aprendizagem organizacional

determinista, e que a gestão de pessoas deve ocupar-se

centram-se nas tentativas de superação das

apenas com a seleção?

21


Ou que as pessoas sejam circunscritas apenas no mundo da racionalidade objetiva e que

Ana Isabel Paraguay e Lúcia Leal Ferreira. 5ª edição ampliada. São Paulo: Cortez. 2000

sejam desprezadas as vivências registradas no inconsciente ou relações subjetivas oriundas

KIM,

desses registros?

organizational learning. Sloan Management Review,

Refletir sobre a concepção de homem que

D.H.

The

link

between

individual

and

Fall, 1993

orienta as escolhas das práticas organizacionais permite à organização verificar a coerência entre

KIM, D.H. O elo entre a aprendizagem individual e a

sua concepção filosófica de homem e seu

aprendizagem organizacional. In: KLEIN, D.A. A gestão

propósito de administração, evitando assim, que

estratégica do capital intelectual. Rio de janeiro:

ela perca tempo e esforços com pseudoproblemas.

Qualitymark Ed., 1998. Cap. 4, pág. 61-92.

Compreender o trabalhador como sujeito que constrói sua subjetividade e sua identidade

O’REILLY, Charles A & PFEFFER, Jeffrey. Talentos

através das relações sociais e que as relações

ocultos: como as melhores empresas obtêm resultados

estabelecidas pelo trabalho cumprem um papel

extraordinários com as pessoas comuns; tradução de

fundamental na conformação desta identidade, é

Cristina Serra. Rio de Janeiro: Campus. 2001

dar um passo importante na direção de escolha de práticas

organizativas

mais

‘humanas’

e

compatíveis com modelos inovadores como o da

PFEFFER, J & SUTTON, R. I. The knowing-doing gap. Boston: Havard Business School Press, 2000.

gestão do conhecimento. Além da promoção da saúde

mental

dos

trabalhadores

e

conseqüentemente da retenção dos ‘talentos’ nas

SENGE,

P.

The

fifth

discipline.

New

York:

Doubleday,1990.

organizações.

Referências Bibliográficas DEJOURS, Chistophe. Addendum théorique: de la psychopathologie a la psychodynamique du travail. In: _____ Usure mentale. Paris: Bayard, 1993.

DEJOURS,

Chistophe.

Psicodinâmica

do

trabalho: contribuições da escola Dejouriana à análise da relação prazer, sofrimento e trabalho/ Christophe

Dejours,

Elisabeth

Abdoucheli,

Christian Jayet; coordenação Maria Irene Stocco Betiol; tradutores Maria Irene Stocco Betiol et al. São Paulo: Atlas, 1994

DEJOURS, Chistophe. A loucura do trabalho: estudo de psicopatologia do trabalho. Tradução de

22


O uso de tecnologias brandas pelo trabalhador da assistência social O presente texto foi referência para a palestra proferida no Seminário Sistema Único da Assistência Social: Contribuição ao Debate Nacional, ocorrido nos dias 15 e 16 de abril de 2004, em Belo Horizonte.

Introdução

ELABORAÇÃO Mário César Rocha Moreira − Psicólogo − Mestre em Administração Pública pela Fundação João Pinheiro − Analista de Política Pública da PBH − Gerente de Gestão da Secretaria Municipal de Assistência Social de Belo Horizonte

SUAS, exige um maior esforço conceitual para

RESUMO Este texto trata da organização da política de assistência social como Sistema Único de Assistência Social - SUAS, trazendo elementos teóricos para o entendimento das organizações como sistemas sociotécnicos, que devem responder a um ambiente instável e mutável, nos quais a estrutura, as pessoas e o uso de tecnologias se articulam em busca de eficácia e efetividade das ações.

O esforço em andamento atualmente para organizar a política de assistência social como um sistema, o Sistema Único de Assistência Social -

explicitar os fundamentos teóricos e políticos da Assistência Social como política pública e também para entender o papel de agentes públicos e organizações que materializam o SUAS, que realizam as ações prescritas pela política, em seu contato direto com a população usuária. Este esforço nos leva a buscar contribuições de diversas áreas do conhecimento o que torna o tema relevante e desafiante. Este texto trás o enfoque da abordagem sistêmica, da teoria das organizações e dos estudos sobre políticas públicas, visando situar o papel dos trabalhadores na política de assistência social, entender a ação organizada das pessoas nas organizações, os fundamentos técnicos, éticos e políticos dos agentes que operacionalizam a política pública.

Concepção sistêmica Um sistema é um conjunto de elementos em interação, realizando uma ação, com uma determinada finalidade e que resulta em um produto. Para isso depende de insumos do meio que ao entrarem no sistema, detonam um determinado processo, ou seja, um conjunto de relações entre as partes, cujo resultado é a saída de um produto. A ocorrência sistemática de determinados processos configura estrutura.

uma

determinada

Existem

organização

processos

destinados

ou a

monitorar e informar a centros de coordenação e comando o andamento dos processos monitorados. São mecanismos de fidibeque que subsidiam eventuais ou permanentes correções destes últimos de acordo com a finalidade do sistema. Desta

23


forma, mesmo que os processos variem, através dos

Notemos

que

as

instâncias

são

mecanismos de fidibeque é possível ainda atingir o

subdivididas conforme sua função de deliberação

objetivo final do sistema. Isso é chamado

(cuja instância máxima é o Conselho Nacional de

equifinalidade. Entre alguns elementos do sistema

Assistência Social), de coordenação (órgãos

ocorre uma interdependência, ou um vínculo mais

gestores

forte, por terem funções comuns, formando

operacionalização (rede socioassistencial).

subsistemas. Note-se que alguns sistemas se

em

cada

Como

esfera

uma

de

governo)

tendência

nos

e

sistemas

modificam e crescem, e à medida que crescem, seus

administrativos podemos identificar órgãos ou

processos ficam mais especializados, mais funções

instâncias que compõem subsistemas decisórios,

operacionais

subsistemas

surgem

e

demandam

mais

mecanismos de coordenação e de fidibeque.

de

coordenação

e

subsistemas

operacionais. Notemos que a rigidez na estrutura

É importante que o SUAS construa

administrativa quanto a quem decide, quem

conhecimentos sobre os elementos que o compõe.

coordena e quem operacionaliza, pode ser causa de

Sobre seus insumos básicos como, o público alvo,

ineficiência burocrática. Por outro lado, a falta de

os

definições claras em identificar e definir as

recursos

humanos,

recursos

financeiros,

informações, conhecimentos etc.

atribuições inerentes a estas funções também pode

O mesmo se aplica aos seus processos e

levar a ineficiências.

produtos, as trajetórias a serem seguidas pelos

Decisões,

usuários no âmbito do sistema, o funcionamento

operacionalização,

técnico e administrativo, a padronização de

ocorrem em todos os níveis das organizações, em

processos, a criação de políticas internas a

todas as etapas da política pública: na formulação,

determinados subsistemas, resultados e impactos

na implementação, na avaliação. Estudos sobre

que a política espera e se têm sido conseguidos.

políticas

coordenação

públicas

formal

têm

ou

e

informalmente,

demonstrado

que

os

operadores das políticas, o corpo de funcionários da O Sistema Descentralizado e Participativo de

administração pública, são muitas vezes decisivos

Assistência Social

no sucesso ou fracasso das mesmas. De suas

Conforme definido na LOAS a política de assistência social é realizada através de um

decisões cotidianas no contato direto com a população depende a efetivação da política.

conjunto integrado de ações da iniciativa pública e da sociedade (art.1º), organizadas em um sistema descentralizado

este

Os estudos sobre organizações apontam

constituído por “entidades e organizações de

como anteriormente o paradigma das organizações

assistência social, que articule meios, esforços e

baseava-se nos sistemas mecânicos, resultando em

recursos e por um conjunto de instâncias

organizações hierarquicamente rígidas, com uma

deliberativas compostas pelos diversos setores

visão

envolvidos na área (art. 6). È estabelecida ainda a

Predominava a ênfase nos detalhamentos das

existência

instâncias

normas, pressupondo que isso era o suficiente para

coordenadoras - da política em cada esfera de

obter a cooperação dos indivíduos e a consecução

governo.

dos objetivos empresariais.

de

e

participativo,

órgãos

gestores

sistema

Organizações como sistemas sociais

-

do

ser

humano

também

mecanicista.

24


Posteriormente

o

modelo

biológico

uma estrutura organizacional única que seja

predominou, trazendo noções dos sistemas abertos,

altamente efetiva para todas as organizações. A

em constante troca e interdependência com seu

otimização da estrutura variará de acordo com

meio ambiente. Sistemas vivos que se modificam

determinados fatores contingenciais, tais como a

para adaptação ao meio, ou morrem.

estratégia da organização ou seu tamanho. A

Atualmente um conjunto de disciplinas das

estrutura organizacional é modelada de maneira a

ciências humanas e sociais contribuem para o

satisfazer as necessidades do ambiente e tarefas daí

entendimento sobre as organizações e os sistemas.

decorrentes (Donaldson, 1999: 105).

As organizações são vistas como formadoras de um

Burns e Stalker (1961) propõem 2 tipos

contexto onde se dão as interações entre as pessoas.

ideais de organização sob o prisma da “adequação”

As organizações são sistemas sociais. O

dos processos organizacionais às características

principal elemento dos sistemas sociais são as

específicas do contexto: o modelo mecânico mais

pessoas. São as interações entre as pessoas que, ao

hierarquizado e centralizado mais adequado a

seguirem uma rotina previsível, prescrita nas

ambientes

normas, atualizam a cada dia uma estrutura. São as

organização menos rígido, menos formalizado, com

relações entre as pessoas, seus comportamentos, a

comunicação mais intensa e menos verticalizada,

maneira prescrita de fazer as coisas, que assumem

envolvendo discussão e cooperação interna, mais

uma determinada configuração. Na medida em que

propício em um contexto turbulento.

estáveis;

o

modelo

orgânico

de

as ações são coordenadas, ou se complementam

A teoria da contingência estrutural revela

produzindo um determinado resultado é que

seus limites e recebe críticas com relação à natureza

podemos distinguir a organização. A organização,

da relação unilateral que postulam (uma adaptação

dessa forma, não se confunde com o prédio ou com

passiva ao ambiente), negligenciando o fato de as

a firma jurídica. A organização são as pessoas que

organizações também influenciarem (ou poderem

se comportam em um contexto institucional, ou

influenciar) o contexto em que operam, o que será

seja, de acordo com regras, normas, costumes e

enfatizado,

estímulos diversos do ambiente.

neoinstitucionalistas.

a questão da ação coletiva. Como fazer as pessoas agirem de forma complementar e coordenada para atingir um determinado fim? Como obter a

pelas

abordagens

do neoinstitucionalismo é quando a relação das instituições com o comportamento social de grupos e indivíduos. Para o autor há um certo consenso na definição de instituições enquanto regras do jogo numa

cooperação? Em que medida usar a coerção?

particular,

Conforme Pires (2001), a principal ênfase

A principal questão para a sobrevivência ou eficácia de qualquer organização é, dessa forma,

em

sociedade,

ou

seja,

constrangimentos

humanamente impostos à ação humana, definindo limites e cursos de ação humana, de forma a

Organizações como sistemas abertos Quando considerado,

para

o

contexto o

exame

passa de

a

ser

problemas

específicos da organização, surge a teoria da contingência estrutural com uma reflexão explícita acerca do papel do contexto na dinâmica das

diminuir a incerteza. Instituições fornecem modelos morais ou cognitivos para a interpretação ou ação. As

instituições

podem

ser

constrangimentos formais – regras, normas, leis – ou informais – convenções, valores, símbolos -,

organizações. De acordo com essa teoria, não há

25


incluem tanto o que é proibido fazer quanto as

abordagem postula a importância de se trabalhar a

condições em que se pode fazer o permitido.

cultura organizacional e busca de um estilo

A característica central do processo de

gerencial que rompa com o comando e controle e

institucionalização é a natureza estável, recorrente,

busque um estilo gerencial mais participativo,

e repetitiva do comportamento social, pela qual

desenvolvimento de habilidades e expressão das

organizações e procedimentos ganham valor e

pessoas,

estabilidade. Para isso, entretanto é necessário que

conhecimento e implementação de uma infra-

haja duas condições: controle e sanções no caso do

estrutura tecnológica.

descumprimento e a aceitação, legitimidade por parte dos envolvidos.

considerando-as

Em

um

como

criadoras

ambiente

de

de

incerteza,

imprevisibilidade é importante que as organizações

O grau de formalização é o aspecto

estejam estruturadas de forma a incentivar seus

estrutural que mais influenciam o comportamento

colaboradores a participarem ativamente da gestão

do indivíduo. Formalização extrema pode desviar

da organização, desenvolvendo conhecimentos,

do objetivo central, inibir a autonomia dos

criatividade

indivíduos, dificultando a adaptação da organização

ambiente e agir de acordo com a finalidade do

ao contexto. Mas não é possível a existência de uma

sistema naquele contexto. Isso requer, por um lado

ação coletiva organizada sem algum grau de

um esforço de conhecimento da organização sobre

formalização.

seus processos, seu contexto, etc, e, por outro, uma estrutura

e

autonomia

descentralizada,

para

que

interpretar

permita

o

maior

geração de idéias e criação do conhecimento. Os As organizações como sistemas epistemológicos Todo

sistema

social

é

um

modelos de alta centralização restringem os canais

sistema

epistemológico, isto é, um mecanismo de produção

de

comunicação

e

reduzem as

informações

disponíveis.

e reprodução de formas de interpretar a realidade (Angeloni,2002).

O

modelo

epistemológico

considera que a organização é composta pela

A dimensão tecnologia

estrutura (relações entre as pessoas, papéis,

Na atualidade, as críticas ao modelo

normas legais, existe uma estrutura formal e uma

centralizado, hierárquico e determinista levou a

informal); pela tecnologia (conjunto de normas,

busca de modelos que se interrogam sobre os atores

ferramentas,

técnicas,

modos

sociais envolvidos, suas diferentes racionalidades,

conhecidos

de

ações

seus comportamentos autônomos. Deixou-se de

(regras

lado a aspiração de se programar em detalhes,

epistemológicas por meio das quais se interpreta a

pondo a ênfase na construção de legitimidade, por

realidade externa e interna da organização, podem

meio da delegação de capacidade decisória para a

ser explícitas ou tácitas).

adaptação à situação. Exigem, assim, mecanismos

organizacionais)

metodologias,

implementar e

pela

as

teoria

Este modelo fundamenta o enfoque da organização como um sistema sociotécnico, que vê a organização composta por três dimensões interatuantes:

a

dimensão

infra-estrutura,

a

dimensão pessoas e a dimensão tecnologia. Esta

horizontais

de

coordenação

e

formas

de

organização que permitam a flexibilidade para adaptação, aprendizagem e inovação. Dessa

forma

as

novas

metodologias

incorporam as dimensões:

26


¾

Política – capacidade de condução

¾

Técnica – utilização, disponibilidade de conhecimento

adequado

e

sócio-familiar, participação) enquanto o grupo das

tecnologias

habilidades

gestão

difíceis

de

serem

As tecnologias leves são mais factíveis de

Institucional e organizacional – capacidade de

pessoais,

padronizados (Franco e Junior,2003).

adequadas ¾

leves é composto pelas tecnologias das relações,

determinada

pelo

contexto

oranizacional, de mobilização dos recursos e

compartilhamento do que de programabilidade. Embora difíceis de serem padronizados em uma rotina programável, os conhecimentos podem ser

sua administração

compartilhados entre profissionais de uma mesma ¾

Social – aceitação/legitimidade do projeto pelos beneficiários

¾

equipe e, através da escrita de textos e publicações, convertidos em conhecimento organizacional.

Cenário de negociações e conflitos Diferentemente dos sistemas mecânicos, os

Modelo de Gestão Organizacional

sistemas sociais apresentam equifinalidade, ou Conforme Martinez Nogueira (1998), o

seja, a capacidade de atingir uma mesma finalidade usando

diferentes

processos.

Os

diferentes

processos envolvem custos e vantagens diferentes,

modelo de organização e gestão se explicita na definição das atividades e tarefas. O modelo de gestão pode ser analisado a partir das seguintes

ainda que atinjam a mesma finalidade.

variáveis: conhecimento a ser utilizado; relação A

necessidade

de

padronização

ou

com os destinatários, grau de discricionaridade do

programação dos processos, ou seja a criação de

operador. Outras dimensões importantes nessa

Know How, visa, além da eficácia em se atingir o objetivo também uma maior eficiência, redução de

análise são o grau de programabilidade e o grau de interação com os destinatários da política.

custos e maximização das vantagens. Significa o reconhecimento de que, sob certas condições, há

O grau de programabilidade das tarefas depende do seu contexto técnico, ou seja:

uma melhor maneira de fazer as coisas. Entretanto,

¾

O grau de variação na execução

estas condições devem ser explicitadas. Essa

¾

Estoque

racionalização objetiva diminuir a equifinalidade,

de

conhecimento

explícito

organizacional

mas dificilmente ela será eliminada de todo,

¾

Grau de indeterminação da tecnologia

principalmente nos sistemas administrativos, que

¾

A possibilidade de medir impactos

são extremamente dinâmicos e envolvem ações e

¾

Tipo de participação do destinatário

exigem tecnologias de natureza variada no que se refere ao grau de padronização de cada uma. As tecnologias utilizadas podem ser

Quanto

maior

seja

o

âmbito

de

comportamentos que se pretende impactar (atitudes

classificadas como tecnologias duras; leve-duras e

a

brandas. O conjunto de máquinas, equipamentos,

estabelecidas), maior será a interação necessária

compõem o grupo das tecnologias duras; o grupo

entre o público alvo e os profissionais operadores e

das leve-duras, por sua vez, é composto pelos

maior

conhecimentos,

mecanismos/oportunidades

processos

de

trabalho,

metodologias (trabalho em rede, matricialidade

serem

modificadas,

a

valores

necessidade de

a

de

serem

gerar

participação

da

população.

27


A

identificados

em cada etapa da política ou simplesmente

anteriormente podemos caracterizar as tecnologias

ser pró-forma, sem efeito real. Para que esta

em quatro grupos:

tecnologia de fato produza autonomia é

1.

2.

3.

partir

dos

itens

Tecnologias com alta programabilidade e

necessário um manejo técnico adequado por

baixa interação com os usuários: exigem

profissionais que entendam os limites e

pouca discricionaridade dos operadores e

possibilidades da mesma. O protagonismo e

poucos mecanismos de participação

autonomia do próprio profissional surge

Tecnologias com alta programabilidade e

como elemento fundamental do contexto

alta ou média interação: exigem muita

técnico.

discricionaridade por parte dos operadores e

envolvimento, intelectual, afetivo com os

muitos mecanismos de participação.

objetivos da política, não apenas com as

Tecnologias com baixa programabilidade e

regras prescritas.

significa

um

pouca interação com os destinatários: exigem

É necessário também, uma forte vontade

muita

dos

política que veja a participação como um

de

direito capaz de promover um aprendizado

discricionaridade

operadores

e

poucos

por

parte

mecanismos

participação. 4.

Protagonismo

democrático e autonomia dos usuário.

Tecnologias com baixa programabilidade e alta

interação:

exigem

muita

2) Trabalho em rede e intersetorialidade: trata-se de efetivar um dos princípios básicos

discricionaridade e muitos mecanismos de

da

participação.

estabelecimento

concepção

sistêmica de

que relações

é

o de

complementaridade entre diversos elementos Note-se que a maioria das tecnologias

do sistema. Trata-se de efetivar também o

utilizadas na política de assistência social têm baixa

princípio da intersetorialidade. Trata-se ainda

programabilidade,

de

de reconhecer os limites do Estado na

tecnologias leves, seja pela falta de conhecimentos

provisão de bens e serviços e reconhecer o

necessários para tal. As tecnologias com baixa

papel da sociedade organizada na superação

programabilidade

das condições de vulnerabilidades, violações

particularmente

seja por

e

alta

vulneráveis

sua

natureza

interação ao

são

clientelismo,

assistencialismo, enfim, relações de dependência, não emancipatórias.

de direitos e exclusão social. 3) Relação dialógica: envolve a dimensão da escuta e o manejo da linguagem, tão presentes nas intervenções socioassistenciais.

Tecnologias leves e leve-duras na PMAS

A busca de autonomia dos usuários requer

1) Participação: Trata-se do protagonismo do

que se trabalhe a dimensão simbólica, as

usuário na superação de sua situação. Não há

representações sociais acerca da assistência

autonomia sem protagonismo. A participação

social, dos seus usuários e da relação que se

pode se dar em diferentes níveis, com

estabelece quando se faz uma intervenção

diferentes significados e atingindo diferentes

social ou se concede um benefício. É a

resultados. A participação pode se dar

concessão de um favor ou de um direito?

através de consulta, de deliberação, de

Como o cidadão usuário está entendendo,

sugestões. Pode ter de fato uma influência

interpretando esta situação?

28


4) Elaboração de políticas internas:

contratuais de forma geral, ao reduzir os custos de

“A capacidade de resposta às

transação e o risco de oportunismo nos contratos e

pressões do ambiente externo é determinada,

relações

em

gerar/utilizar o capital social? Quais as tecnologias

larga

escala,

pelas

condições

operacionais internas” (Bio, 1985:45). Em termos administrativos, existem vários níveis de políticas, algumas são simples regras de trabalho, outras afetam o comportamento da ‘empresa’ como um todo. Políticas são decisões orientações preestabelecidas para a tomada de decisões em função dos objetivos. Implica uma atitude de planejamento. Elas permitem o arbítrio e auxiliam o agente público nas decisões ad hoc, ou seja, quando já haja parâmetro preestabelecido.

entre

indivíduos

e

grupos.

Como

podem ser utilizadas? Putnam (1996) aponta para as raízes históricas e culturais do capital social, descobrindo forte correlação entre o capital social e a comunidade

cívica,

que

diz

respeito

ao

associativismo horizontal da sociedade e sistemas verticais de participação democrática, valorização do espaço público. A questão que se coloca então é: até que ponto as intervenções governamentais podem gerar o capital social onde não existe? Como pode aproveitá-lo onde existe? Em contraposição à abordagem histórico-

Gestão participativa: geração de conhecimento e capital social

cultural de Putnam, os autores neoinstitucionalistas Evans e Fox acreditam que a existência ou não de

Para que a organização atinja seus objetivos é necessário mais do que o acúmulo de capital intelectual, é necessário a geração ou o fomento do capital social, que é apontado como um fator que facilita a cooperação e a ação coletiva. O capital social – a capacidade de comunidade, ou

capital social é determinada pela qualidade da ação das instituições e sua relação com as pessoas. Para Fukuyama (apud Linhares, op cit) as organizações mais eficientes são baseadas em comunidades de valores éticos compartilhados, que não requerem contratos e medidas legais “para

seja, a capacidade de cooperação, solidariedade,

salvaguarda de suas relações porque um consenso

reciprocidade, de uma dada comunidade - é

moral prévio dá aos membros do grupo uma base

positivo,

a

de confiança mútua. Não havendo confiança, as

confiança, e o negativo, quando tem como

pessoas “acabarão cooperando somente num

pressuposto a desconfiança, e consequentemente

sistema de regras e regulamentos que têm de ser

baixa capacidade de solidariedade, cooperação e

negociados, acordados, litigados, posto muitas

reciprocidade. O capital social positivo favorece

vezes em vigor por meios coercitivos”, o que

quando

tem

como

pressuposto

maior capacidade de acordos e consensos e quanto maior o capital social positivo de uma comunidade, maior é seu grau de desenvolvimento social e econômico.

acarreta em altos custos de transação (p. 30). A capacidade do órgão gestor público de fomentar o capital social nas relações com o usuário dependerá igualmente de sua capacidade de gerar

Um elemento básico do capital social é a confiança. Economistas, sociólogos e estudiosos das políticas públicas apontam a confiança como

capital social no âmbito interno de sua organização, mobilizando todos os profissionais para a ação coordenada com vistas a um mesmo fim.

um elemento que fomenta as trocas entre as pessoas,

facilita

as

negociações,

relações

29


consolidação desses relacionamentos ao mesmo

Geração de capital social pela ação estatal Estruturas e formas de gestão mais

tempo exige e estimula a confiança entre as pessoas

participativas tais como equipes intergerenciais e

e entre as organizações envolvidas. Lidar com estes

interdisciplinares facilitam a ação coletiva por

espaços de trocas e construção coletiva é lidar com

envolvem elaborações e aprendizagem coletiva. A

um recurso valioso, o capital social.

aprendizagem coletiva exige a expressão e o

Para produzir usuários autônomos são

compartilhamento de idéias e emoções. Necessita

necessários profissionais autônomos. A autonomia

de um ambiente propício ao desenvolvimento

é aprendida. A ação coletiva também é aprendida.

pessoal da auto-estima, da assertividade, de

Essa aprendizagem se dá em um contexto ambiental

habilidades de comunicação e gera, no processo, a

propício, um contexto democrático, que possibilite

“formação” da identidade em seus aspectos pessoal

o envolvimento afetivo dos atores, troca de idéias e

e coletivo.

intercâmbios, resultando no florescimento de

A participação dos trabalhadores nas

relações de solidariedade generalizada.

discussões políticas os capacitam para entender a

Para que as ações da assistência social se

finalidade da organização, habilidade necessária nas

transformem em capital social é necessário que elas

intervenções em ambientes políticos, que exigem

propiciem

negociações,

de

propícios à aprendizagem de ação coletiva e

convencimento, situações comuns no âmbito das

desenvolvimento pessoal. Este contexto envolve

políticas públicas.

condições ambientais tais como a configuração

busca

de

consensos

ou

A escolha por este tipo de participação envolve custos e benefícios. É um processo que

contextos

capacitantes,

ou

seja,

física, e também condicionantes culturais, normas e regulamentos, valores.

exige tempo, forte vontade política para permitir de

Não podemos dessa forma dissociar a

fato os embates e soluções negociadas, pessoal

aprendizagem do profissional neste contexto da

capacitado para lidar com processos políticos e

aprendizagem do usuário, a autonomia do usuário

psicossociais em questões conflituosas. Por outro

da autonomia dos profissionais. Os profissionais

lado resulta geralmente em uma política mais auto-

devem

sustentável, em soluções mais apropriadas pelo

coletivamente a metodologia do atendimento e

conjunto

transformar

dos

atores

e

mais

eficácia

na

implementação da política pública.

ter

a

suas

oportunidade

descobertas

de

construir

em

novos

conhecimentos.

Propicia também mais planejamento, mais

As práticas formais e informais de

intercâmbio entre atores e maior controle e

compartilhamento

avaliação, uma vez que todos os atores envolvidos

organização, mas a organização não pode depender

adquirem o conhecimento subjacente à formulação

unicamente

da política em questão e desenvolvem habilidades

compartilhamento, no entanto, pode ser difícil de

para efetivá-la e avaliá-la.

ocorrer por vários bloqueios e resistências. O

das

são

importantes

práticas

para

informais.

a

O

O maior intercâmbio entre os atores,

compartilhamento exige a existência de confiança

qualidade encontrada nos ambientes com alto grau

nas relações. A organização deve criar estratégias

de capital social, fomenta as articulações em rede,

para estimulá-la.

mais

relações

formais

e

informais

entre

profissionais e organizações. A realização e

30


trabalhadores, como também fundamentais para a

Conclusão As organizações são sistemas abertos

eficácia do sistema.

compostos por três dimensões básicas: infraestrutura, as tecnologias e as pessoas.

Referências

A eficácia do sistema em atingir seus objetivos

exige

não

apenas

a

geração

de

conhecimentos e Know How técnico, como

ANGELONI,

Maria

Terezinha

(coord).

Organizações do conhecimento: infra-estrutura, Pessoas e Tecnologias. São Paulo: Saraiva, 2002.

também da criação de condições institucionais. Para garantir a ação coordenada do conjunto de

BIO, Sérgio Rodrigues. Sistemas de informação

profissionais a organização deve criar condições

um enfoque gerencial. São Paulo: Atlas,1985.

para a geração de um contexto de confiança, que permita o compartilhamento de conhecimentos e a

BLAU, Peter e SCOTT, Richard. Organizações

troca de informações, espaços de articulação, de

Formais: um estudo comparativo. São Paulo:

trocas

Atlas, 1970. cap. 1

e

intercâmbios,

de

decisões

e

de

aprendizagem do conjunto dos atores. A geração de capital social na organização exige a presença de

CROZIER, Michel. Datos elementales de um

arenas de negociação e de participação cívica que

circulo vicioso burocrático. In: RAMIÒ, C e

proporcione

BALLART, X. (orgs). Lecturas de teoria de la

a

aprendizagem

da

democracia,

favoreça relações de reciprocidade generalizada e

organización.

confiança entre os atores.

administraciones públicas,1993,vol 1

Madrid:

Ministério

para

las

Para fomentar um ambiente de confiança, a organização deve desenvolver sua capacidade de

FRIEDBERG, Erhard. Organização. In: BOUDON,

dar respostas, não só aos usuários como também

Raymond (org). Tratado de Sociologia. Rio de

aos seus colaboradores, dentro de critérios claros e

Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1995.

construídos com o envolvimento de todos. Neste aspecto, um ambiente onde o agente público se

LINHARES, Heloisa Ibraim Doche. Capital Social:

sinta

determinadas

uma chave esquecida no trem metropolitano de

retaguardas institucionais, tanto com relação aos

Belo Horizonte. Tese de Mestrado da Fundação

compromissos que assume com a população,

João Pinheiro / Escola de Governo, Belo Horizonte,

quanto à sua própria segurança e bem estar.

2002.

seguro

de

contar

com

Sem isso o profissional não exerce sua autonomia, é um profissional inseguro e se apega às

MEIRELES, Manuel e PAIXÃO, Marisa Regina.

regras como um mecanismo de autodefesa. Nestas

Teorias da administração: Clássicas e Modernas.

condições não pode estabelecer uma relação de

São Paulo. Futura, 2003.

confiança com o usuário e isto, portanto, afeta a eficácia das metodologias e tecnologias utilizadas.

NOGUEIRA, Roberto Martinez, Los Proyectos

Nessa perspectiva, melhores condições de trabalho,

Sociales:

segurança e valorização dos profissionais dessa

comportamento

política, portanto, não são apenas um direito dos

Sociales, n 24. Santiago, Chile, 1998

de

la

certeza

estratégico.

omnipotente Serie

al

Políticas

31


PERROW, Charles. B. Análise Organizacional: um

PIRES,

enfoque sociológico. Cap. 1. São Paulo. Editora

Monografias Premiadas. Orçamento Participativo e

Atlas, 1976.

planejamento

Roberto

Coelho

municipal:

Rocha,

uma

CSAP

análise

neoinstitucional a partir do caso da prefeitura de Belo Horizonte. 2001.

32


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