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Márcia Villaça da Rosa

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Fabiana Barbosa

Fabiana Barbosa

PARTICIPAÇÃO ESPECIAL COM A ESCRITORA MÁRCIA VILLAÇA DA ROSA

Africanidades

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O empoderamento de classes menos abastadas, ditas como “minorias”, vem crescendo ao longo do surgimento de projetos culturais voltados à divulgação de obras literárias, criação de saraus, livrarias e encontros para promover a literatura negra feminina, a literatura de Cordel a outras “africanidades”.

A Livraria Africanidades, voltada totalmente ao segmento de literatura negra, cuja proprietária é a biblioteconomista Kelly Valencio, 37 anos, localizada na Vila Pita, é um exemplo desta tendência.

“A intenção é que a literatura se torne o codinome de experiências negras e que a maioria da população brasileira, que é preta e feminina, possa ser o que quiser e rompa com as atuais ‘mordaças’”, declara Ketty. Dentre as preciosidades da livraria Africanidades, encontram-se raridades como “Caderno Negros”, obra publicada em 1978, com poemas, contos, crônicas, uma obra que remete à importância da valorização da negritude em toda sociedade.

Autores negros de relevância, como Alice Walker ( 1944 ), autora do best-seller A Cor Púrpura, vencedor do Prêmio Pulitzer - obra adaptada para o cinema -; Jarrid Arraes ( 1982 ), autora de Heroínas Negras Brasileiras ( livro atualmente “esgotado” no mercado editorial) e As Lendas de Dandara - obra que protagoniza a história da esposa de Zumbi dos Palmares, sobre a luta quilomba no período da escravidão no Brasil; Maria Firmina dos Reis e a filósofa estadudinense Angela Davis, nascida em 1944, e autora de livros sobre a identidade dos negros e sua inserção na sociedade, como Mulheres, Raça e Classes, entre outras produções literárias, fazem parte do acervo da Livraria.

Com o mesmo objetivo de promover a literatura produzida por autores negros, o projeto Mulheres Negras na Biblioteca, dedica-se à promoção em espaços culturais e sociais da leitura de obras com relevância no cenário editorial.

Esta iniciativa surgiu em 2016, quando as idealizadoras - Carine Souza, Lara Moraes, Laís Souza e Juliane - à época, alunas do Curso Técnico de Biblioteconomia, notaram a ausência de obras literárias oriundas de mulheres negras em bibliotecas públicas. O grupo passou a refletir sobre os problemas desta realidade e pode constatar que a “ausência de livros” contribuía de modo negativo no processo de construção da identidade de mulheres negras. Vários podem ser os motivos desta constatação, um deles, talvez o mais sugestivo, seja a falta de demanda. Outro argumento passível de discussão seja o racismo.

Independentemente das razões que levam o mercado a ter uma demanda mais baixa de produtos quando o assunto é literatura negra, a intenção do projeto Mulheres Negras na Biblioteca é colocar obras de renome ao dispor do “público leitor”, fomentando desta maneira o mercado editorial e contribuindo para o deslocamento de autoras negras das margens para o centro do universo literário, combatendo dessa forma o racismo e o seximso sociais.

Desta maneira, louvável sim é a contribuição destas estudantes de biblioteconomia e também de Ketty, ambas promovendo um segmento literário ainda carente de iniciativas. Quem não se lembra de filmes como Selma, Uma Luta Pela Liberdade (o qual protagoniza temas polêmicos como o impedimento do direito de voto dos negros e a biografia do líder e pastor Martin Luther King) ou de Maya Angelou, e Ainda Resisto - direção de Bob Hercules e Rita Coburn- Whack, 2016 - (película que conta a biografia da poetisa e artista Maya, personagem feminina muito representativa no cenário americano)?!

Basta a recorrer a outras obras consagradas, como Quarto de Despejo (1960), de Carollina Maria de Jesus ou Um Defeito de Cor, cuja autora é Ana Maria Gonçalves, para ter se uma noção da variedade e pluralidade de significâncias e significados representados em obras de “resistência”, contra o sectarismo, a manipulação de poder e o racismo.

A jornalista e autora Márcia Villaça da Rosa, 51 anos, tem apoiado a causa e nota uma crescente demanda editorial pelo segmento definido como “negritude”.” É um setor que tende a crescer, porque as obras produzidas por negros ou escravos e ex-escravos antes do período pós-colonização, afrodescendentes ou não, é valiosa e narra também a história de povos sul-americanos, sua trajetória, seu folclore e tradições”, argumenta Márcia Villaça. “Vozes às minorias, vozes ao inconsciente... poetisas e negras notáveis... Maya Angelou, múltiplas facetas... A palavra a ecoar, ressoar, encantar... Maya Angelou, múltiplas faces... Desigualdades de gêneros e etnias... Negritude sim autenticidade... Brados retombam, quilombos esquecidos... que a imagem de Maya Angelou, amiga de Malcom X e Martir Luther King, seja esperança, bonança, confiança e temperança”, poetisa Márcia.

Endereço da Livraria Africanidades: Rua Paulo Ravelli, 153 - Vila Pita - SP - CEP: 02478 - 040

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