VI Boletim Informativo
smcc 2018
Edição Maio 2018 Órgão Oficial da Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas
O Check-up dos Médicos No mês do trabalho, a SMCC propõe um diagnóstico da saúde do médico Plantões estressantes? Rotina muito atarefada? Sono atrasado? Falta Atividade Física? Não se Alimenta Direito? Preciso melhorar todas as alternativas acima!
Trabalho Médico – Quem é o paciente agora? O responsável pela saúde não tem sido um exemplo como mostra a compilação de levantamentos e estatísticas a seguir. O Boletim para o Mês do Trabalho da SMCC volta o olhar para os médicos que, em alguns casos, sem perceber, estão sendo engolidos pela rotina de plantões, vários locais de trabalho, horas extras e mudanças da carreira. Ou seja, médicos criam ou estão tentando sobreviver a uma receita de vida incompatível com as 24 horas de um dia. O problema está nas consequências de uma qualidade de vida ruim, com alto nível de estresse e cobranças. Os médicos
geralmente não se consultam com seus colegas. Se o fazem, é nos corredores dos hospitais ou unidades de saúde, sempre com pressa e sem aprofundar as causas. Os aspectos a serem considerados na discussão sobre o trabalho médico incluem a deterioração da remuneração; o perfil de cada profissional, muitas vezes depreciando a própria rotina; o ambiente hostil de trabalho; as desigualdades do Sistema de Saúde; a preocupação cada vez mais presente de sofrer um processo pela sua conduta e os aspectos filosóficos e espirituais.
Um ranking da NÃO saúde É curioso saber que a maior parte dos artigos sobre a falta de saúde dos médicos cita o Burnout nos Cirurgiões (a Síndrome do Esgotamento Profissional é tema exclusivo de um outro texto desta reportagem). Justamente o profissional treinado para a alta pressão desde a residência não está com boa saúde. Uma pesquisa divulgada pela Revista Exame aponta as profissões mais estressantes, seguindo um estudo mundial feito pelo site norte-americano Business Insider, com a ajuda do Instituto de Pesquisas de Mercado de Trabalho, o Bureau of Labor Statistics (divulgado em 2017). Para chegar a este ranking, foi realizado um índice do nível de estresse, com pontuações de zero a 100.
Um Risco chamado Processo Se tem um agravante que chegou a área médica é o processo judicial. A preocupação de ter que responder pela conduta ronda o dia a dia da vida de um médico e tem impactado negativamente na relação médico-paciente. Poucos profissionais irão afirmar publicamente, mas o paciente algumas vezes é visto como uma ameaça em potencial. Isto prejudica a qualidade e a satisfação no trabalho, trazendo consequências psicológicas. A insatisafação do paciente pode acontecer de diversas maneiras: desde a morte inevitável, até por consequências adversas ao atendimento como a má gestão ou a falta de estrutura no local de trabalho, por exemplo. Por isso, que o reforço à conduta ética, uma boa relação médico-paciente e o trabalho preventivo, como, por exemplo, através do preenchimento completo de prontuários, são fundamentais para evitar processos.
Este índice foi avaliado pelos próprios profissionais. Com o questionário, o instituto de pesquisa enumerou as profissões cujo índice de estresse teve uma pontuação acima de 93. As considerações feitas para o ranking tinham como itens: a cobrança por resultados, a pressão pela exatidão dos resultados e o ambiente de trabalho considerado hostil, entre outros. No ranking, curiosamente, a primeira atividade com nível de estresse 98,5 foi o policial, bombeiro ou de motorista de ambulância, esbarrando já na área da saúde. Na sequência, apareceram algumas especialidades médicas entre outros profissionais de saúde, que necessitam parar e rever suas atividades.
Cada Cabeça, uma Doença! Uma síndrome que ronda os médicos é a do esgotamento profissional (Síndrome de Burnout). Ela espreita por muito tempo, causa um prejuízo enorme e o paciente, que neste caso é o médico, pode não perceber em tempo de reverter o quadro. Há um constrangimento de assumir que algo anda muito errado a ponto de precisar se afastar, pedir demissão ou até trocar de área médica para sobreviver aos novos e persistentes sentimentos. Médicos ouvidos para esta reportagem preferiram não se identificar para preservar a intimidade e a carreira, mas confirmaram já ter vivido esta situação e sofrido calado por muitos anos. Um dos entrevistados contou que enjoos e nervosismo se repetiam todas as vezes que faltavam algumas horas para o plantão. A descoberta de que o lado profissional era o motivo demorou a chegar. A irritabilidade levou a consequências físicas e alto nível de estresse. O médico trocou três vezes de área até se reencontrar.
Confira o nível de estresse por profissão segundo o Bureau of Labor Statistics PROFISSÃO
NÍVEL DE ESTRESSE
(pontuação de zero a 100)
Policial, Bombeiro ou Motorista de Ambulância 98,5 Médico Anestesista 98,2 Médico Ginecologista e Obstetra
96,5
Médico Cirurgião
96,2
Cuidador 95 Médico Clínico Geral 94 Técnico em Enfermagem 93,5 Cirurgião Dentista 93,5
02 VI Boletim Informativo SMCC 2018
Problemas por Especialidade Médica No Brasil, a pesquisa mais recente relacionada a especialidades médicas é de 1997, chamada “Perfil dos Médicos no Brasil”, realizada pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/ Fiocruz), a qual buscou algumas respostas para os problemas da profissão. Foram identificadas 14 especialidades em que os médicos se diziam pressionados, desgastados ou estressados. As primeiras foram: hansenologia, tisiologia, geriatria, anestesiologia, nefrologia e cancerologia. Todas lidam com doenças crônicas, nas quais as
possibilidades de ‘cura’ efetiva não depende exclusivamente do médico ou são apenas remotas (cancerologia, nefrologia, reumatologia, por exemplo). Neste grupo, o sentimento de impotência pode ser predominante, seja pelas dificuldades em obter medicamentos para os portadores da hanseníase, seja pela indisponibilidade de órgãos para transplante ou pelo inexorável processo de morte decorrente de algumas neoplasias malignas. Além das deformações e estigmas sociais relacionados às próprias patologias.
Médicos homens vivem em média TRÊS ANOS A MENOS que homens da população geral (69 anos x 72 anos) Médicas mulheres vivem em média 20 ANOS A MENOS que mulheres da população geral (59 anos x 79 anos)
*Sistema de Informações de Mortalidade do Ministério da Saúde
Doenças com Maior Incidência entre Médicos Um trabalho da Associação Médica Americana comparou médicos com grupos socioeconômicos semelhantes na Finlândia, Grã-Bretanha, Japão, Dinamarca e Estados Unidos. Nos médicos houve mais doenças cardiovasculares, leucemia, cirrose e incidência duas vezes maior de suicídio.
O que é ?
“O Burnout é decorrente da própria incapacidade de um profissional querer controlar as questões, a participação de como o trabalho é organizado e executado. A ‘falta de controle’, de sugerir e de interferir no serviço, levam ao sintoma”
Estatísticas:
Entre os médicos, nos EUA, mais da metade é afetada pelo transtorno. No Brasil, 78,4% deles preenchem critérios para burnout, segundo estudos apresentados pelo psiquiatra Sergio Tamai, diretor Científico do Departamento de Psiquiatria da APM.
Os médicos dentro das Estatísticas* u
40% das mulheres e 27% dos homens residentes e estudantes de Medicina tem sintomas de ansiedade e depressão
u Tem de 30 a 100 vezes maior dependência de drogas u Vida média é menor que de outro grupo socioeconômico semelhante * Associação Médica Americana
Mortalidade entre os Médicos no Brasil São poucos estudos brasileiros com informações sobre o perfil de doenças ou mortalidade entre médicos. Os dados que existem foram levantados pelo CRM-SP entre os anos de 2000 e 2009 com base no Sistema de Informações do Ministério da Saúde. Aparecem como principal causa de morte as doenças do aparelho circulatório, seguida da neoplasia e doenças do aparelho respiratório. As causas externas constituíram as principais causas de morte abaixo de 40 anos. A maior causa de morte por neoplasias foi o câncer da mama entre as mulheres e de pulmão entre homens. VI Boletim Informativo SMCC 2018 03
O Suicídio Levantamento apresentado pelo psiquiatra Guilherme Spadini, em recente evento na Associação Paulista de Medicina (APM) mostra que a prevalência de ideação suicida varia de 8% a 13% na população em geral. Entretanto, casos entre médicos e estudantes de Medicina, como os ocorridos recentemente na Faculdade de Minas (Faminas) e na FMUSP, ultrapassam as estatísticas nacionais. Pressão, competitividade, exigência elevada, desapontamento, lidar com a morte, desumanização, abuso, excesso de atividades, objetivismo excludente, sentimentalismo tóxico, estigma, débito estudantil e personalidade são as principais causas desses números.
Faça seu Diagnóstico O check list do estresse
Seguem agora as causas potencialmente evitáveis, mas não evitadas pelos médicos no dia a dia. Uma forma de começar o debate íntimo está nesta autoavaliação do comportamento. Observe os pensamentos ou atitudes que podem se assemelhar com a sua rotina. Estes fatos foram elencados como características predominantes entre médicos pela Associação Médica Americana.
( ) Ambição e materialismo excessivos
De olho no Check-Up, por Dra. Fátima Bastos (Presidente da SMCC) A SMCC busca com este material alertar os médicos sobre o seu próprio estado de saúde. Convivemos no dia a dia com os exames e diagnósticos, mas nos esquecemos de nós mesmos. A correria do plantão e da vida pessoal, além dos estudos, têm nos deixado cada vez com menos tempo. Como entidade, estamos aqui para promover esta conscientização e a saúde de nossos associados. A carreira médica mudou muito nestes últimos anos. É tempo de se reavaliar e alterar a rotina para garantir uma vida longa e saudável antes que seja tarde demais, sem limitações físicas ou mentais.
( ) Competitividade irracional ( ) Recusa em relaxar ou aproveitar a vida ( ) Necessidade de controlar os outros ( ) Hostilidade continuada e atividade desenfreada ( ) Abuso emocional durante a residência ( ) Necessidade de decisões importantes sob circunstâncias urgentes ( ) Dificuldade em deixar de lado o trabalho no fim do dia ( ) Ausência de autonomia em decidir como exercer a medicina ( ) Frustração com a carreira e, às vezes, com o casamento ( ) Receio constante de cometer erros ( ) Paga um preço pelos contatos com a dor, o sofrimento e a morte ( ) Pressões continuadas por escassez de tempo, necessidades financeiras ou política institucional ( ) Se esposa (o) for também médica (o), tudo em dobro!
(Alta) Demografia Médica O Conselho Federal de Medicina (CFM) apontou em edição recente de seu Jornal os números do estudo ‘Demografia Médica no Brasil 2018’, produzido pela Universidade de São Paulo (USP) com apoio dos Conselhos Federal e Regional. Apesar do número de médicos ter aumentado 7,7 vezes mais do que a população nos últimos 50 anos – com 2,18 médicos para cada mil habitante – o cenário é ruim por não haver política pública coerente, abalisou o CFM. São 452.801 profissionais atualmente, e a maioria se concentra nas capitais e áreas desenvolvidas. A realidade registra casos de violência ou agressão verbal na relação com pacientes e colegas de profissões da saúde. Para o Conselho faltam políticas públicas específicas para atrair esses profissionais para áreas menos desenvolvidas e desassistidas através, por exemplo, de uma carreira de Estado para médicos.
Editor-Chefe: Dr. Marcelo A. Camargo | Jornalista Responsável: Carolina Rodrigues (MTB 44791/SP) Assistente de Comunicação: Branca Braga | Projeto Gráfico: Skanner Projetos Gráficos | Tiragem: 3.000 exemplares
04 VI Boletim Informativo SMCC 2018