Dossier persépolisx (1)

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Ensino Secundário - Nível I - 1ª Sessão (lm)

REDE JCE 2015-2016 objetivos | conteúdos 1. A longa-metragem de animação

1. Narrativa – Acção – Personagens 2. Argumento adaptado 2. Animação de autor 3. Da BD ao filme - adaptação 4. Utilização do preto como cor expressiva 3. Combater ideias feitas sobre o cinema de animação 5. Adequação da banda sonora ao ambiente do filme 4. Conhecer aspectos técnico-narrativos do cinema de 6. Técnicas e tipos de animação animação 7.Cinema de animação de Autor 5. Adaptação da BD a cinema de animação


sinopse | ficha técnica Esta é a história comovente de uma menina que cresce no Irão durante a Revolução Islâmica e que, aos 9 anos, vê a esperança do seu povo ser destruída quando os fundamentalistas tomam o poder, forçando as mulheres a usar o véu e mandando para a prisão milhares de pessoas. Lks Precoce e extrovertida, inteligente e destemida, Marjane consegue fintar os “guardas sociais” e descobre os Abba, os Iron Maiden e o Punk. Mas a ousadia de Marjane torna-se uma constante fonte de preocupação Flk pok para os seus pais, que temem pela sua segurança e que decidem enviá-la para uma escola na Áustria. Vulnerável e sozinha numa terra estranha, Marjane tem que enfrentar os problemas típicos dos adolescentes. Além do mais, ela é confundida com o fundamentalismo religioso e o extremismo. Com o tempo, acaba por ser aceite e até conhece o amor, mas com o fim do liceu começa a sentir saudades de casa. Apesar de isso significar ter que pôr o véu e viver numa sociedade tirânica, Marjane decide regressar ao Irão para estar mais perto da sua família. Após um difícil período de ajustamento, entra para uma escola de artes e casa-se. Aos 24 anos percebe que, apesar de ser

Título português: Persépolis Título original: Persepolis Origem: França e Estados Unidos da América Ano de lançamento: 2007 Duração: 92 minutos Género: Drama, Biografia, Documentário Realização: Marjane Satrapi e Vincent Paronnaud Argumento: Marjane Satrapi e Vincent Paronnaud, adaptado da obra original em BD, Persépolis, de Marjane Satrapi Produção: Marc-Antoine Robert e Xavier Rigault Música original: Olivier Bernet Direção artística: Marc Jousset Montagem: Stéphane Roche Coordenação de animação: Christian Desmares Animação: Cecile Dubois-Herry, Christian Desmares, Damien Barrau, Florian Fiebig, Jung Wang, Nathalie Mathé, Pascal Chevet, Thierry Peres Assistência na realização: Denis Walgenwitz Som: Thierry Lebon, Greg Steele, Greg Zimmerman, Jacques Defrance, Jean-Alexandre Villemer, Johann Nallet, Philippe Penot, Samy Bardet, Thierry Lebon Efeitos visuais: Cyril Cosenza, Frank Miyet, Jimmy Capron, Stéphane Roche Estúdio de animação: Perseprod Vozes: Chiara Mastroianni (Marjane jovem e adulta), Gabrielle Lopes (Marjane criança), Catherine Deneuve (Tadji, a mãe), Danielle Darrieux (a avó), Simon Abkarian (Ebi, o pai), François Jerosme (Anoush, o tio) Produtores: France 3 Cinéma, Centre National de la Cinématographie (CNC) Connection Animations

profundamente iraniana, não pode continuar a viver no Irão. Toma então a decisão de trocar a sua terra natal

Web Site: www.sonyclassics.com/persepolis

pela França, cheia de otimismo em relação ao futuro, indelevelmente moldada pelo seu passado.

prémios e nomeações Cannes 2007 – Prémio do Júri Óscares 2008 – Nomeação para Melhor Filme de Animação Globos de Ouro 2008 – Nomeação para Melhor Filme Estrangeiro New York Film Critics Circle e Los Angeles Film Critics Association – Melhor Filme de Animação São Paulo e Vancouver – Prémios do Público Annie Awards 2008 – Nomeação para quatro categorias

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Marjane Satrapi

Nascida em Rasht, Irão, em 22 de Novembro 1969, e criada em Teerão, Marjane Satrapi é uma artista gráfica, autora de álbuns de banda desenhada, ilustradora e escritora de livros infanto-juvenis e realizadora de filmes de animação. Para além da sua língua nativa, o Persa, ela fala Inglês, Sueco, Alemão, Francês e Italiano. Os seus pais eram membros de um distinto estrato altamente educado e ocidentalizado da sociedade iraniana. Eram politicamente ativos e apoiavam as causas marxistas contra a monarquia do Xá. Quando a Revolução Iraniana de 1979 ocorreu, eles sentiram-se intimidados pelos fundamentalistas islâmicos que tomaram o poder. Preocupados com o futuro da sua filha, uma adolescente determinada e irreverente, enviaram-na para o estrangeiro em 1983, para estudar no Liceu Francês de Viena. De acordo com a sua novela gráfica, Persépolis, Marjane ficou em Viena durante os anos em que frequentou o Ensino Secundário, ficando em casa de amigos, mas também viveu nas ruas ao longo de dois meses. Depois de quase ter morrido devido a uma pneumonia, voltou ao Irão, onde estudou Comunicação Visual na Universidade Islâmica de Azad, em Teerão. Ao longo desse período de estudos superiores, Marjane frequentou numerosas e ilegais festas promovidas por amigos, tendo conhecido Reza, um veterano da Guerra Irão-Iraque, com quem casou quando tinha 21 anos, porém divorciou-se apenas três anos mais tarde. Marjane deixou então o seu país natal, tendo-se radicado em Estrasburgo, na França. Hoje é casada com Mattias Ripa, um cidadão Sueco e ambos vivem em Paris A carreira de Marjane começou a sério quando conheceu David Beauchard, um autor de BD francês que se tornou seu mentor e professor. Ela tornou-se conhecida mundialmente depois de receber a aclamação da crítica à sua novela gráfica Persépolis, originalmente publicada em quatro volumes e, recentemente, em Portugal, em um único – Persépolis: A história de uma infância e a história de um regresso (2012). Nela, Marjane descreve a sua infância no Irão e a sua adolescência na Europa. Persépolis venceu o Prémio Angoulême Coup de Coeur no Festival Internacional de Banda Desenhada de Angoulême. Outras obras suas, Broideries (Bordadeiras), de 2003, e Poulet aux prunes (Galinha com ameixas), de 2004, ainda não publicadas no nosso país, foram ambas nomeadas para o Álbum do Ano no Festival de Angoulême. O seu mais recente trabalho, novamente em colaboração com Vincent Paronnaud, é a adaptação para o cinema da sua obra Galinha com ameixas, filme lançado em 2012, que conta com a participação da atriz portuguesa Maria de Medeiros.

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entrevista Você não teme represálias contra a sua família, que ainda mora no Irão? MS: Da minha família falo pouco. Tudo o que posso dizer é que eles ainda moram no Irão e estão ótimos. Eles têm se comportado muito bem e tenho certeza que serão protegidos. Eu não tenho medo. Sei que estou a contar a minha história. Nao sou como um jornalista, que tem compromisso com a verdade. Eu tenho o compromisso de contar a minha verdade, [do modo] mais real que posso

MS: Sim e não. No Irão, eu já comprava cassetes de Iron Maiden no mercado negro. Pode parecer piada, mas é a mais pura verdade: para se comprar um simples par de ténis era toda uma operação. Eu pintava as minhas roupas com frases do tipo “Punk is not ded (com erro mesmo, em vez de ‘dead’). E isso custou-me vários sarilhos. Diziam que eu estava a usar os símbolos da “decadência ocidental”, o que não deixava de ser verdade. Mas a liberdade de cada um usar o que se quer é, para mim, irrefutável. Mas essa cultura pop não ameaça a preservação da cultura nacional entre os jovens?

E a Banda Desenhada foi a melhor forma de fazer isso? MS: Exatamente. Pode parecer irónico criar uma realidade em BD para contar a realidade do meu país, mas é isso, sim. Eu sempre adorei desenhos e descobri neles a melhor forma de contar minha história. Quais foram as suas principais influências? MS: Eu li de tudo, vi de tudo, escutei de tudo, do movimento punk aos Abba, dos Bee Gees aos Pink Floyd. Eu gosto dos mestres de BD e comprava sempre que podia, mas não vou destacar nenhum em especial porque foram muitos os que me influenciaram. E esse mergulho na cultura Pop deu-se quando, na adolescência foi estudar para Viena?

MS: Sim e não. Acredito que, se um país tem sua cultura de base muito bem fundamentada, ele pode abrir-se para o que de melhor há nas outras culturas sem perder a sua. Acho que é um balanço de tudo. Eu estudei numa escola francesa a vida toda, mas jamais deixei de ser iraniana. Eu ainda sinto muitas saudades de casa. Moro em Paris mas, como minha avó me dizia, procuro nunca perder minha integridade. Tem planos de continuar a carreira e a saga de “Persépolis” no cinema? MS: Sim, claro! Mas não posso adiantar mais nada. Quando tiver novidades, conto.

Para o G1, no Festival de Cannes, 23/5/2007

crítica Num recente número especial de «Les Inrockuptibles» dedicado à banda desenhada, entre as «100 bandas desenhadas indispensáveis» ali repertoriadas, Persépolis ocupa a quinta posição. À sua frente (em terceiro lugar), o bem conhecido Maus. Se destacamos a obra de Art Spiegelman é porque a autora de Persépolis reconhece ter sido uma das principais influências estéticas na sua criação. Persépolis, como «novela gráfica», é um trabalho, com muito de autobiográfico, da iraniana Marjane Satrapi, publicado em quatro volumes entre 2000 e 2003, e constituindo um notável sucesso de vendas. A sua passagem ao cinema faz-se a quatro mãos (o que é uma forma de dizer, dado que a equipa de trabalho era composta de dezenas de pessoas), contando Marjane Satrapi com a colaboração do seu amigo Vincent Paronnaud na realização. Para quem conhece a obra original, o resultado é absolutamente surpreendente. Pela primeira vez o universo de uma banda desenhada transferese integralmente para a animação, sem perda das suas qualidades. Esta qualidade de Persépolis deve-se, em grande parte, ao sentido de ritmo que o filme tem, um ritmo próprio que, visualmente, corresponde ao que o leitor aplica no acompanhamento das vinhetas, um movimento aqui realizado inconscientemente e que ali se materializa. E também graças a uma narrativa eminentemente cinematográfica, aliás, já existente na sua origem gráfica, mas que no filme é acrescido de fórmulas próprias, como a utilização de alguns momentos coloridos, num filme que de resto é inteiramente a preto e branco, e que correspondem à narração, sendo portanto «flash-backs», a partir dos planos a cores de Marjane no aeroporto. Persépolis é uma verdadeira lição de história, contada com humor e paixão. É a história do Irão, desde o tempo em que se chamava Pérsia e tinha à sua frente o Xá Reza Pahlevi, evocando de passagem a forma como este chegou ao poder com a ajuda dos EUA, através da CIA, em troca, pois claro!, da exploração do petróleo. A jovem Marjane é filha de uma família de opositores, com um tio comunista e preso pela polícia política. A queda do Xá é vista como uma libertação, mas este sentimento rapidamente dá lugar à frustração com a instauração da República Islâmica, e o seu séquito de imposições religiosas fundamentalistas. Marjane sairá do país, primeiro para Viena onde decorrem as suas crises de adolescência e os seus primeiros amores, e depois para Paris, após um regresso a Teerão onde tenta integrar-se na «nova ordem» fazendo, inclusive, um casamento falhado. Perdoem-me se o breve resumo do argumento dá a entender algo de «didáctico» (no mau sentido) e «maçudo». Porque Persépolis é tudo menos isso. É uma verdadeira explosão de alegria e de amor à vida, mesmo nos seus momentos mais dramáticos. É verdadeira poesia animada, como não víamos desde o «velho» As Aventuras do Príncipe Achmed, de Lotte Reiniger, feito em 1927.

Manuel Cintra Ferreira,

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