O PROFETA DO PAÇO LULA INOCENTE
EDIÇÃO INDEPENDENTE
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___________________________________________________ Todos os direitos reservados Projeto GrĂĄfico: Eduardo Bonfim da Silva RevisĂŁo: Maria Ilidia de Carvalho M. Campos ISBN: 978-85-62337-92-5 ___________________________________________________ Contato: oiteiro@uol.com.br
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“Na ficção um profeta prevê a ascensão de Lula. Lula líder, prisão injusta, sua inocência, em cordel”
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O PROFETA DO PAÇO
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SAÕ
BERNARDO
MAGNIFICOS,
DO
CAMPO
MOMENTOS
TEM
LUGARES
ESPETACULARES
E
SITUAÇÕES INUSITADAS. É uma cidade que faz parte da história do país pelo papel que cumpriu na reconquista da democracia. Em 1964 um golpe militar instalou uma ditadura no país. Quatorze anos depois, em 1978, os trabalhadores da Scania se mobilizam por salários e se tornam um ponto de referencia para o Brasil inteiro, mostrando que é possível lutar mesmo sob um governo autoritário. A força e a organização dos seus operários crescem e 77, 78, 79 e 80 são anos de conquistas para os metalúrgicos do ABC. Muitas vezes na correria diária, indo da escola para o trabalho, do emprego para a faculdade daí para casa, você não percebe detalhes como esses que eu consegui registrar e vou narrar aqui nessas crônicas.
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Estádio de Vila Euclides, dia 3 de abril de 1980. As pessoas começam a chegar com faixas, cartazes, bandeiras. Chegam sozinhos, em grupos, em passeatas. Alguns fazem festa, outros estão muito sérios. Eles sabem que estão entrando para a história ajudando a mudar o país. Trabalhadores e trabalhadoras de várias fábricas: Scania, Volks,
Ford,
Mercedes,
Metal
Leve,
Brastemp,
Arteb...começam a tomar conta da região central de São Bernardo lotando, espetacularmente, com mais de cem mil pessoas o estádio de Vila Euclides. Eles chegam cantando: -O povo unido jamais será vencido; -Vai acabar, vai acabar, a ditadura militar; A Avenida Faria Lima, Senador Vergueiro, Jurubatuba, Marechal Deodoro e até mesmo a Rodovia Anchieta todas junto ao Paço Municipal, estão tomadas por operários que se dirigem ao estádio. É a mobilização da Campanha Salarial convocada pelo Sindicato dos Metalúrgicos.
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Ouço as vozes da rua: Queremos aumento salarial! Fim da carestia! Mais educação! Mais saúde! Justiça social! Extinção dos privilégios! Uma sociedade menos consumista! Abaixo a ditadura militar! Gritam. Vejo um homem falando sozinho no centro do largo. Ele ignorando os motivos do protesto, todos alheios a sua presença. Gesticula, grita, faz poesia e não se preocupa se o olham ou não para ele: se diz o Profeta das ruas. As ruas têm os seus poetas e profetas. Gentileza foi o mais famoso de todos... escrevendo suas profecias, filosofias e mensagens nas pontes e viadutos do Rio de Janeiro. A Rua Oscar Freire, no rico Jardim paulistano, teve seu poeta de rua revelado pelo jornal Folha de São Paulo. Morador das calçadas dos prédios abandonados, vizinho das vitrines de marcas famosas que escrevia seus versos inspirado no luxo e nas lindas mulheres do bairro. “Musa da loucura Musa da paixão Musa da frescura, do dinheiro e da ilusão.
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Musa e abusa Pois para todo sempre Alguém deixará de ser musa”. (...) Mas essa é outra história. A que eu quero contar aqui vi enquanto caminhava no meio das pessoas, faixas, cartazes e bandeiras. Gente protestando, pessoas lendo... ouço uma voz, um discurso: I - Aqui estou nessa selva de pedra outrora mata atlântica de palmeiras, bromélias, begônias, orquídeas, cipós, briófitas, Pau-brasil, jacarandá, peroba, jequitibá-rosa, cedro, Tapiriria, Andira, Ananás, figueiras... vislumbrando a aurora boreal. II – São Bernardo é uma grande cidade por causa da indústria, dos seus trabalhadores, estudantes e a força da imaginação. É pequena quando é violência e poluição. São Bernardo grande ou pequena, o que queres ser? III - Ao perecer, palavras haverão de habitar o paraíso, o céu, o inferno e o purgatório. Palavras maldosas o inferno. Palavrões
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ficarão no purgatório. As frases boas habitarão o céu. Felizes as palavras utilizadas nos poemas que ficarão eternamente ornamentando o paraíso. Arco íris, caledeiscópio pires, flores, sempre vivas, ou também cores.
“que a terra redime a todo ser sublime Leitores, Mais importantes que escritores” IV - São as rimas que farão brilhar as trilhas honrosas do caminhar. Que vai abrindo caminho a passagem do ser humano do planeta Terra ao eterno luzir da eternidade. “Palavras que celebram a criação do Eros cósmico de asas douradas a partir do ovo primordial gerado no cosmo” aquelas que criam o paraíso para ser desfrutado antes da morte e revelam que na luta não é preciso esperar tanto. São as palavras ou poesia que haverão de habitar o paraíso. Era o profeta do Paço pensando, talvez, que toda aquela movimentação se dava por sua casa.
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“Ando com minha cabeça já pelas tabelas, Claro que ninguém se toca com minha aflição Quando vi todo mundo na rua de blusa amarela Eu achei que era ela puxando um cordão”
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ESTA
FOI
UMA
SEMANA
MARCADA
POR
ASSEMBLÉIAS. Uma campanha salarial duríssima, em todas elas um homem “O profeta do Paço Municipal” estava presente, acompanhando os oradores e nos intervalos das falas dava sua mensagem às pessoas que se aglomeravam naquele local. No segundo dia de assembleia o profeta deixou transparecer sua veia poética e antes que o Lula pegasse o microfone ele declamou a poesia Pindorama. I - PINDORAMA Os nativos dessa terra Não são índios. Eles são: Caiapós, potiguaras, Guarani kaiowá, Guaranis, yanomanis,
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Caxinauã, Axanica, Apurinã... Tupis... Os povos que vivem e viveram No pantanal, margem do amazonas, Sertão do país, litoral nordestino, Praias do sul, Tribos de São Paulo, Beiras de rios, mangues e florestas... Deram-lhe o nome genérico de índios Mentira histórica Que se perpetua. Começa a assembleia Luiz Inácio da Silva no microfone: ”Companheiros é muito importante mais uma vez que a gente reafirme aqui a nossa disposição de luta...reafirme aqui o motivo que nos leva a mais uma vez dar uma lição a todos aqueles que duvidaram da força da classe trabalhadora...”
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Nesse dia a multidão, de trabalhadores e trabalhadoras, presente à assembleia ovacionou Lula. Aplausos e mais aplauso a um novo líder que surge. Naquele ano ninguém conseguia imaginar que aquele operário, morador da cidade de São Bernardo do Campo pudesse chegar a presidente do Brasil Nas ruas, um poeta cria e declama O MILITANTE ANÔNIMO. Rendemos homenagens A Gandhi, Luther King, Marighela, Che, E ao lado deles, Viva Lula!
Fazemos reverencias à Dona Maria que fez greve, Paulo que fez piquete, Antônio sem teto e
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Joana sem terra Que conquistaram seu lar.
Ana educadora Que estudou Paulo Freire.
Pescadores, caçadores, Ribeirinhos... E os indígenas que defendem suas terras Tanta gente dos mutirões... Dos atos e das passeatas.
E o ativista anônimo Aqui presente Que nunca fez um poema.
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NO
TERCEIRO
DIA
DE
ASSEMBLEIA
FIQUEI
NOVAMENTE CURIOSO QUANTO A FALA DAQUELE POETA. Lembrava-me de Gentileza no Rio de Janeiro e as frases escritas nas colunas dos viadutos próximos a rodoviária Grande Rio e ao porto da cidade. Lá em cima do caminhão de som os oradores se revezavam: mobilizando, dando orientações, apoiando a multidão de operários das fábricas do ABC. Aqui embaixo, antes das falas ouvíamos a música que saia dos alto falantes: vários forrós e o verso de protesto do cantor Zé Geraldo. O poeta, nesse dia, resolveu falar sobre a educação: Ele disse que foi à escola. I - A instrução é tão importante que a natureza tornou possível adquirir de outra pessoa, sem que esta ao fornecê-la perdesse-a.
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II - A leitura abre as portas da percepção. Lá fora tudo é infinito e nós estamos aí! A consciência essa válvula reguladora, cérebro filtra, instinto de sobrevivência. A arte amplia, nos faz ver a luz. Literatura na arte. Imensidão no ser. Ler para ampliar os horizontes. O pequeno seja grande, o infinito eterno, o que vive não perecer! III - Assim como os matemáticos conseguiram imaginar um gráfico, uma equação, uma função, partindo da realidade da produção de uma fábrica, quando é possível estabelecer uma ligação entre o que se produz fisicamente por trabalhadores na linha de produção, e essa produção física é estabelecida no papel, dando origem a um gráfico que vai circular por distâncias incalculáveis, ligando a produção de quem faz à imaginação de quem lê. Esse mundo utópico, imaginário, construído na linha tênue entre o sonho e a prática poderá ser materializado e tornar-se um mundo real desde que as imagens construídas pelos mais ousados se irradie fisicamente entre as pessoas, sendo transmitido de uma imaginação para outra, contagiando as pessoas e fazendo com que todas as imaginações se transformem numa só. Aí, a imaginação de uma pessoa sozinha será apenas uma simples imaginação.
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Agora o sonho imaginado junto será realidade no mundo das pessoas. A teoria será a concretização no papel como a construção de um mapa que mostra o caminho para um determinado local. A teoria leva a transposição desse mundo imaginário para o real e a realidade para esse mundo imaginário. A tarefa de todos os homens e mulheres será tornase o sábio que se relaciona com a teoria, fazendo-a e interpretando-a, o que se dará com o estudo, confronto diário com a realidade, exame do seu dia-a-dia e do dia-a-dia de seus semelhantes. Análise da natureza e sentir a existência. IV – Fui sim a escola! Sentei na primeira fila e fiquei ouvindo o professor. A sala de aula reúne pessoas muito diferentes entre si. Aquela era uma escola de jovens e adultos que reunia evangélicos, dona de casa, trabalhadores e tinha um grupinho que ficava no fundo junto à parede e dizia coisas muito estranhas; V - Gíria não, dialeto. -e aí rapaziada, beleza? -tô chegando!
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Um salve pra galera do Jardim Thelma, Orquídeas, Alvarenga, Ferrazópolis, Vila São Pedro, Vila Ferreira, Baeta Neves, Assunção, Cooperativa, Vila Euclides, Rudge Ramos, Bairro dos Casa, Jardim Laura, Silvina, Montanhão, Riacho Grande e Santa Cruz. - Eita! nomes bonitos desses bairros de São Bernardo do Campo. Ele contou que nunca mais voltou à escola.
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TODOS OS DIAS. EU NÃO PRESTAVA MAIS ATENÇÃO, SOMENTE, NO PALANQUE... NOS SINDICALISTAS... ficava atento a sabedoria daquele homem que no meio da praça ficava contando histórias, imaginando o futuro daquelas pessoas que estavam nas assembleias, nas ruas e nas atividades do dia primeiro de maio, Dia Internacional dos Trabalhadores, que nesse ano foi um dos mais movimentados da história do Brasil. I - Viva a psicanálise! - No passado o ser humano viveu o dilema da morte. Um homem vendo seus filhos com fome, cometeu o suicídio. Para outros, então, o mundo em crise não era lugar para o fim. Mudar a realidade, o sonho, a revolução. A guerra, a fome, a injustiça...morrer não é o norte, ao invés disso: a luta, o socialismo, a sorte. Hoje o mundo modernizou-se, não há lugar para o suicídio, nem para a revolução. Viva a psicanalise!
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II - A poesia simbolista, o poema parnasiano, o verso modernista. A construção poética você rima. O que respira, olha, sente, clama, fala, pede. Continuou falando ali no centro da praça. III - O mundo é assim mesmo! Tem segredos guardados na intimidade do existir. Ela vai à busca dos seus mistérios, um cálculo aqui, o número acolá, medidas, escalas, proporção. Tudo meticulosamente nos é revelado. E és tu oh! Matemática, a força, a ciência que desfaz os mistérios desse imenso cosmo, num planeta pequeno onde mesmo sem pedir nos foi dado habitar. IV - O conteúdo tem alma. O conjunto dos números naturais, as quatros operações, por exemplo, têm história. No início a matemática estava cercada por misticismo e mistérios. Ele andava de metrô e não poderia deixar de falar sobre a experiência com esse meio de transportes que serve a milhões de paulistano. - Um dia o metrô vai sair de São Paulo e virá até aqui nesse fim de mundo de São Bernardo, vocês vão ver!
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Em 1980 a ligação do ABC para a cidade de São Paulo era de trem. Os ônibus que desciam de São Bernardo para o Jabaquara circulavam com superlotação, gente se apertando e o metrô era um sonho muito distante. - Qualquer coisa na natureza, incluindo as pessoas, se for examinado detalhadamente até um nível tocando o infinito de possibilidades se tornará, por assim dizer, um éter. Se os objetos da natureza, a terra, o céu, a via láctea, o universo, forem observados até o limite da proximidade infinita também se tornarão um éter, um espaço vazio aos objetos de visão existentes até aqui. Por outro lado, tudo está ligado a tudo, o que me leva a dizer que não somos tudo e que tudo somos nós. Às vezes o filósofo virava poeta e na rua, sem caneta, papel, usava o que tinha nas mãos para construir seus poemas. Esses versos ele construiu com pedaços de papéis jogados pelos manifestantes que ele recolhia para meticulosamente ir colando as letras e juntando as palavras para dar corpo a os poemas que eram colocados juntos às paredes.
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V – ESPERANÇA O sonho. O paraíso Está no céu. Aquele que aqui entrar Deixai na porta toda esperança, Estamos no inferno. Céu e inferno Dentro de nós. ”
VI - VIDA “Filtrando-se por entre árvores de mulungu O sol lilás se esconde Por traz das montanhas Numa terra aprazível e azul
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Nuvens se acumulam sob o céu de reis Abre-se a cortina quântica No cinema Dos mundos um, dois e três
Holos é fonte Que fica na consciência global Cosmo manifestação Brilho de uma luz distante Eu digo alô As crianças crescem O simples é difícil de entender Blorg, zuque, horpe, zis A vida nos arrebatou. ”
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VII - Nesse dia percebi que o poema pena para expressar o sentimento do poeta. Ele que ser triste, felicidade aqui passou vindo de todos os lugares, trazendo o canto, o riso, a alegria geral. Quando quis mentir disse a verdade. Quer ir mais longe, está por perto. Ele leva-o para todos os lugares, busca-o por toda parte. Está aqui. Veio mesmo do encontro infinito limiar profundo do tudo nada das coisas e causas da vida. VIII - Acordo cedo durmo tarde. O dia entre o acordar e o dormir é cheio de vai e vens de fala, cala, ouço, digo. O celular ligado substitui o rádio de pilha e o computador não me deixa mais ir ao correio. Quem sou eu? Ainda estou a descobrir. Ainda ontem ela estava aqui, mas não a amei. IX - Eu quis escrever um livro. Ele ficou muito tempo dentro de um sonho. Está na hora de despertar, sair desse lugar. O sol, o brilho dos olhos te vendo. O mundo é muito melhor que um sonho. Não foi para debater com o vento que grandes filósofos escreveram milhares de teses, textos, livros... X - Pitágoras estava perambulando pela Grécia e arredores: conversando, pesquisando, ensinando e aprendendo...um dia,
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sem posses nenhuma, sem comida, sem força... acaba ficando numa pousada do caminho. Sem dinheiro ele acerta com o dono ficar hospedado por uns dias, como pagamento ele faria o desenho de um pentagrama na porta da hospedaria. Um dia alguém passaria por lá e perguntaria sobre aquele desenho. Quando o dono explicasse que foi feito por um cliente que estava sem dinheiro e não pode pagar a estadia, seria recompensado recebendo todo o valor que custaram os dias de repouso do sábio. E assim foi feito. Ele desenhou a estrela na porta principal. Depois... Passados longos anos... hóspedes e mais hospedes e ninguém se importou com aquilo...até que um dia um comerciante se hospeda lá e vendo aquele desenho quer saber como foi feito. O senhor, dono da pousada, contou a história para o hóspede. Esse, sensibilizado com a história, arca com toda a despesa de Pitágoras, e até mesmo um valor muito maior é dado ao dono da pousada. Passei a ouvir cada vez mais aquele homem e já não prestava atenção somente nos discursos. Ele ficava parado, fixo entre marquises, no meio do povo daquele lugar. Eu ficava me
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movimentando para ouvir seus conselhos, sua fala, seu discurso, sua pregação ao mesmo tempo que que participava das assembleias e ajudava a organizar a campanha salarial. Muita gente passou a escutar o filósofo das ruas. Não tem nome. Não tem nome o homem escravizado, ele é escravo! Não tem nome o morador de ruas, ele é indigente! Não tem nome o filósofo das ruas. Essa é a cidade dos não identificados. Paraíba, Pernambuco, Mineiro, Baiano, Carioca... nas fábricas e repartições vale o registro de identificação: o 567.453/4 ou o 345.507/5. João, Pedro, Maria, Rosa... ficou perdida numa distante e amarelada Xerox da certidão de nascimento.
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A CAMPANHA SALARIAL FOI MUITO DIFÍCIL, A FIESP NÃO
APRESENTOU
UMA
PROPOSTA
QUE
CONTEMPLASSE A BOA PARTE DAS REINVIDICAÇÕES DOS METALÚRGICOS DO ABC, naquele dia 13 do mês de maio encerraríamos a campanha salarial que durou mais de um mês. Não sei dizer ao certo como aquele homem de rua estava entendendo toda essa movimentação de metalúrgicos no estádio Vila Euclides, Paço municipal de São Bernardo do Campo, Praça da Matriz e todo o centro de São Bernardo. Aquela multidão de operários e operárias estava entrando para a história com um movimento que veio a desaguar na construção
das
maiores
organizações
da
história
dos
trabalhadores brasileiros: a Central Única dos Trabalhadores e o Partido dos Trabalhadores. 1980. Aquele seria o ano inicial de um processo que levou pela primeira vez no país um operário a ocupar a presidência da república.
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Vários trabalhadores que participaram daquele movimento depois vieram a tornar-se parlamentares, prefeitos de grandes cidades e mesmo quem não ocupou cargo público nenhum passou a ter outro papel na sociedade com mais direitos, mais conquistas e mais espaço. Naquele ano o povo voltou a sonhar. Nesse sonho a democracia estava sempre presente. O profeta tem o dom de visualizar bem a frente de seu tempo. O profeta do Paço viu a democracia bem antes de todos.
Antes de sair ouvi a última mensagem do Profeta do Paço:
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I – O POETA DA DEMOCRACIA O poeta da Democracia não fez poesia. Jamais escreveu um verso. Sua poesia não estava nos tiros de metralhadora e nem nas lutas de barricada. Sua emoção é facilmente explicável, ela não é efêmera como a dos autores de sonetos. O poeta da Democracia mirou-se na pesada e difícil luta da classe trabalhadora em seu desenvolvimento e suas derrotas nas tentativas e erros nos desperdícios de energia, na prudente espera e no seu triunfo final. A poesia está também nas retiradas estratégicas. “A primeira greve, o primeiro grupo clandestino, ilegal. Quando os sonhos utópicos e o idealismo encontram onde alimentar-se das feridas sociais”. A Democracia tem seus fluxos e refluxos. A natureza inteira é movimento como as fases da lua e o avanço e o recuo do mar.
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O tempo? Ora o tempo... Há dias que valem por séculos. A vida é a busca do sonho, A utopia coletiva é a busca da natureza humana de perfeição! A perfeição não admite fome, O equilíbrio não aceita barbárie. O escritor da Democracia não era poeta, mas, esteve junto com os trabalhadores e trabalhadoras fazendo a poesia da liberdade!
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CORDEL “LULA INOCENTE”
Voar como passarinho Não é lá pra qualquer um O menino do sertão Saiu lá de Garanhuns De pobre foi presidente No país não é comum
Já foi caboclo da roça Pra cidade ele migrou Já comeu o pão mofado Que o diabo amassou E na força do povo Ele sempre acreditou
É bicho de couro grosso Da luta nunca fugiu Melhorou vida de pobre
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Que à classe média subiu Criou universidades Por todo esse Brasil
Passamos a ter orgulho O salário triplicou Sob a mão do operário O país se agigantou Muita comida na mesa Facilidade criou
Mudou o mapa da fome Pleno emprego, moradia Ele é nosso companheiro Sua arma a ousadia Precisa ter liberdade Dia e noite, noite e dia
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De tudo que já foi feito Escrevo por acreditar Se muito valeu a obra Mais vale o que será Conhecendo o seu passado Aposto no que virá
Sua grande obsessão Distribuir a riqueza Ele vai concretizar Disso eu tenho certeza Porque o nosso país Tá cansado de pobreza
Não é pessoa comum Lula é uma ideia Foi o que ele nos disse Olhando para a plateia
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Construindo a cada dia Uma nova epopeia
Lula já está solto É sempre o nosso presidente Pra mudar o país de vez Alegrar a nossa gente Ele é nosso companheiro Lula livre e inocente.
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