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Domingo, 17 DE Julho DE 2016

sobre

carreiras Danilo Verpa/Folhapress

O publicitário Cadu Capella Leite, 26, em sua agência em São Caetano do Sul (SP)

modéstiaàparte ANNA RANGEL DE SÃO PAULO

A minoria dos brasileiros —38%— diz se sentir confiante para falar de suas conquistas pessoais, de acordo com a pesquisa global “At Work”, do LinkedIn, que conversou com 1.014 profissionais no Brasil, em maio deste ano. O número reflete o sentido negativo que recebe por aqui o marketing pessoal, entendido como a habilidade de vender a própria imagem profissional como um produto. “Profissionais interpretam o ato de se vender como o de mostrar roupas e objetos caros e se vangloriar. Esse foco no ‘ter’ é que dá a impressão de falsidade, da qual muitos fogem”, diz Sulivan França, presidente da Sociedade Latino-americana de Coaching. Para ele, o certo é se vender, como um produto, mostrando o que tem a oferecer de melhor, sem esconder pontos fracos, e buscando honestidade na comunicação para não causar decepção futura. “Se você não conhece suas qualidades e não sabe vendê-las é como se você não as tivesse.” O profissional brasileiro tem o conceito deturpado de networking, na visão desse consultor. “Em redes sociais, as pessoas só entram em contato com seus pares quando estão desempregadas. Isso soa feio, interesseiro.” Networking foi a estratégia de Celio Antunes, 53, presidente do Grupo Impacta.

brasileiro tem diFiculdade de

vender seu ‘peixe’, preFere que outros Falem de suas competências proFissionais

Ele credita o fato de ter se tornado sócio de uma grande empresa nos anos 90 às amizades feitas 30 anos atrás, quando buscou uma associação de jovens empresários para participar de eventos. “Marketing pessoal está ligado a networking. É importante deixar boa impressão.” A pesquisa mostrou ainda que brasileiros têm interesse em divulgar suas conquistas, mas preferem que isso seja feito por outros, como colegas, diz Milton Beck, diretor do LinkedIn. “A percepção é que, se a pessoa se vangloria muito, pode ser ‘secada’.” Só recentemente o brasilei-

ro passou a buscar mecanismos que iluminem suas competências para atrair a atenção de gestores. “A cultura americana estimula mais a autoestima, enquanto aqui temos uma educação que não privilegia isso. Mas está nascendo uma nova consciência, os profissionais têm mais percepção de suas possibilidades”, diz o especialista em RH Reinaldo Passadori. O publicitário Cadu Capella Reis, 26, é um deles. Dono de uma agência, diz que se vê como uma marca. “Crio estratégias para me tornar formador de opinião. Sou jovem e, se não construísse esse cami-

Se você não conhece SuaS qualidadeS e não Sabe vendê-laS, é como Se não aS tiveSSe

Eduardo Anizelli/Folhapress

O presidente do Grupo Impacta, da área de educação, Celio Antunes, 53, em SP

nho, os clientes não confiariam em mim.” Reis tem fotos feitas por profissionais e produz artigos, palestras, workshops e vídeos dando dicas sobre planejamento de campanhas. Tudo divulgado em redes sociais, é claro. Para criar um plano eficiente de comunicação de si mesmo, é primordial não só entender seus pontos fortes mas também fraquezas, reforça Renata Machado, da Escola de Negócios da PUC-Rio. “Não é falar de si mesmo o tempo todo e sem filtro, como metralhadora. Se a pessoa só tem sucesso para contar, soa falso. Uma hora, o que ela não faz bem aparece.” Esse é o medo do empresário Roberto Rabello, 36, que prefere fugir de técnicas do tipo. Dono de um negócio com flores, ele entende todo e qualquer marketing pessoal como falso. “Sou contra vender uma imagem que não reflete a realidade. Não acredito que alguém possa se transformar em algo que não é se barganhar no caminho.” Rabello diz que, quando certas pessoas conquistam algo, tiram a máscara. “Você ouve que alguém mudou de personalidade ao subir de cargo: mudou porque não era ele, era marketing pessoal.” Mas, querendo ou não, todo mundo faz autopromoção, diz Lucia Costa, diretora da recrutadora Stato. “Todos construímos uma imagem, mesmo a imagem de alguém discreto e que não fala de si.”

Use as redes sociais, mas evite contar vantagens e mostrar status DE SÃO PAULO

Redes sociais são a forma mais popular de marketing pessoal. “As empresas tendem a recorrer ao LinkedIn pra contratar e ao Facebook para excluir do processo seletivo”, diz o diretor de soluções para talentos do próprio LinkedIn, Milton Beck. Os brasileiros usam as redes para fazer comentários sobre família, política e religião com mais frequência que os usuários do resto do mun-

do, segundo pesquisa feita no país pelo LinkedIn. Para evitar vexames on-line, é importante lembrar que todo o conteúdo postado fica visível para recrutadores e colegas de trabalho —como não cansam de alertar os especialistas da área de carreiras. Um profissional que faz comentários preconceituosos em redes sociais, por exemplo, pode ter problemas. Uma boa tática é sempre pensar: se você não faria o comentário no escritório, não faça no

seu perfil. “Mas não adianta querer criar um personagem. As plataformas apenas refletem índoles e comportamentos”, diz Beck. “Saiba as brigas que você compra ali”, recomenda o professor da FIA (Fundação Instituto de Administração) Fernando Souza, especialista em redes sociais. De acordo com ele, é melhor evitar tópicos polêmicos. O publicitário Cadu Capella Reis, que usa as redes sociais para divulgar seu traba-

lho na área de planejamento de campanhas, concorda. “Digo que, para começar a se ver como marca, a pessoa precisa unificar sua vida pessoal e profissional.” viagens e bens

Segundo o especialista em RH Reinaldo Passadori, o marketing pessoal deve ser orientado de acordo com um objetivo profissional, seja ele ser promovido ou conseguir uma vaga em outra empresa. Ele critica profissionais

que veem as redes sociais como local para se vangloriar de viagens e bens materiais. “Esse fluxo de informações desnecessárias minimiza o impacto da estratégia.” Já Flora Victoria, presidente da Sociedade Brasileira de Coaching, recomenda usar as declarações on-line para mostrar preferências e valores pessoais. “Exiba suas qualidades. Até uma ida à academia pode evidenciar que você é uma pessoa determinada”, afirma. (ar)


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