A Lavoura
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NO 696/2013
A Lavoura
Carta da
Rumo à safra de 190 milhões de toneladas O
Plano Agrícola e Pecuário da safra 2013/ 2014 foi lançado em grande estilo pela presidente Dilma Rousseff, o ministro da Agricultura, Antonio Andrade e a Senadora Kátia Abreu, presidente da CNA. O plano atende às expectativas do setor, mas ainda não foi dessa vez que disporemos de um plano plurianual, que possibilitaria aos produtores planejar seus negócios com maior segurança. Na ocasião, a presidente Dilma comprometeuse em aportar novos recursos, caso os R$ 136 bilhões previstos sejam insuficientes. Formidável promessa. No evento foi anunciada oficialmente a constituição da Agência Nacional de Assistência Técnica, vinculada à Embrapa. Essa integração é fundamental. Ao mesmo tempo em que levará aos produtores a melhor tecnologia, também proporcionará aos pesquisadores da Embrapa maior e melhor conhecimento dos problemas que são enfrentados na prática do dia a dia nas áreas de produção. É bom ressaltar que esse Plano Safra 2013/14 abrange apenas a denominada agricultura empresarial. A agricultura familiar e as áreas do nordeste semiárido têm seus programas específicos. Dentre os pontos mais positivos do plano, destacamos o Pronamp, que atende aos médios produtores, com dotação de R$ 13,2 bilhões e juros de 4,5 % ao ano. Outro aspecto elogiável é o programa de inovação voltado para o agronegócio. Inovação tecnológica é fundamental para o desenvolvimento, com produtividade e sustentabilidade. Neste caso, a dotação é de R$ 1 bilhão, com juros de 3,5% ao ano. Em termos de inovação, são atividades prioritárias para essa safra, a agricultura de precisão, o cultivo protegido de hortifrutigranjeiros, a automação para aves e suínos, atualização tecnológica para bovinocultura de leite, incorporação de tecnologias desenvolvidas a serem definidas pelo Mapa e Embrapa. Ainda em relação à inovação, o ministro Antonio Andrade anunciou também uma linha de financiamento
de R$ 2 bilhões para pesquisa e desenvolvimento de máquinas e equipamentos. No Programa ABC – Agricultura de Baixa Emissão de Carbono, houve um aumento de 32% no volume de recursos, que serão de R$ 4,5 bilhões, com prazo de 15 anos e juros de 5% ao ano. O seguro agrícola mereceu um significativo crescimento no volume de recursos destinado à subvenção dos prêmios, de R$ 400 milhões para R$ 700 milhões. Com isso, o governo espera ampliar nossa área segurada para 10 milhões de hectares. Para o cooperativismo, R$ 5,3 bilhões estarão disponíveis pelos programas de Desenvolvimento Cooperativo para Agregação de Valor à Produção Agropecuária e de Capitalização de Cooperativas Agropecuárias. Os juros para capital de giro das cooperativas foram reduzidos de 9% para 6,5% ao ano. O segmento de armazenagem foi o que obteve mais benefícios, com dotação de R$ 25 bilhões, juros de 3,5% ao ano, para pagamento em 15 anos, com três anos de carência. Um subsídio que pode ser considerado exagerado comparativamente ao que foi concedido aos demais segmentos incentivados pelo plano. É superior, por exemplo, ao que foi proporcionado ao Programa ABC — voltado para práticas sustentáveis na agropecuária — que pagará juros de 5% ao ano. Em resumo, o Plano Agrícola e Pecuário 2013/2014 não é uma dádiva governamental. Significa o reconhecimento da importância do setor para a economia brasileira. Estamos atingindo uma exportação de US$100 bilhões nos últimos 12 meses. Essa robusta exportação permite ao país suportar o déficit da Balança Comercial dos demais setores da economia. O extraordinário desempenho do PIB do agronegócio também vem demonstrando a inequívoca importância do setor. A expectativa do Governo é alcançar 190 milhões de toneladas de grãos em 2014. Um novo recorde de produção.
Antonio Mello Alvarenga Neto
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DIRETORIA EXECUTIVA
DIRETORIA TÉCNICA
ANTONIO MELLO ALVARENGA NETO ALMIRANTE IBSEN DE GUSMÃO CÂMARA OSANÁ SÓCRATES DE ARAÚJO ALMEIDA JOEL NAEGELE TITO BRUNO BANDEIRA RYFF FRANCISCO JOSÉ VILELA SANTOS HÉLIO MEIRELLES CARDOSO JOSÉ CARLOS AZEVEDO DE MENEZES LUIZ MARCUS SUPLICY HAFERS RONALDO DE ALBUQUERQUE SÉRGIO GOMES MALTA
PRESIDENTE 1O VICE-PRESIDENTE 2O VICE-PRESIDENTE 3O VICE-PRESIDENTE 4O VICE-PRESIDENTE DIRETOR DIRETOR DIRETOR DIRETOR DIRETOR DIRETOR
FUNDADOR
Academia Nacional de Agricultura
COMISSÃO FISCAL
ALBERTO WERNECK DE FIGUEIREDO ANTONIO FREITAS CLAUDIO CAIADO JOHN RICHARD LEWIS THOMPSON FERNANDO PIMENTEL JAIME ROTSTEIN JOSÉ MILTON DALLARI KATIA AGUIAR
E
MARCIO SETTE FORTES DE ALMEIDA MARIA HELENA FURTADO MAURO REZENDE LOPES PAULO PROTÁSIO ROBERTO FERREIRA S. PINTO RONY RODRIGUES OLIVEIRA RUY BARRETO FILHO
CLAUDINE BICHARA DE OLIVEIRA MARIA CECÍLIA LADEIRA DE ALMEIDA PLÁCIDO MARCHON LEÃO ROBERTO PARAÍSO ROCHA RUI OTAVIO ANDRADE
P AT R O N O : O C TAV I O M E L L O A LVA R E N G A
CADEIRA
PATRONO
TITULAR
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E NNES DE S OUZA M OURA B RASIL C AMPOS DA P AZ B ARÃO DE C APANEMA A NTONINO F IALHO W ENCESLÁO B ELLO S YLVIO R ANGEL P ACHECO L EÃO L AURO M ULLER M IGUEL C ALMON L YRA C ASTRO A UGUSTO R AMOS S IMÕES L OPES E DUARDO C OTRIM P EDRO O SÓRIO T RAJANO DE M EDEIROS P AULINO F ERNANDES F ERNANDO C OSTA S ÉRGIO DE C ARVALHO G USTAVO D UTRA J OSÉ A UGUSTO T RINDADE I GNÁCIO T OSTA J OSÉ S ATURNINO B RITO J OSÉ B ONIFÁCIO L UIZ DE Q UEIROZ C ARLOS M OREIRA A LBERTO S AMPAIO E PAMINONDAS DE S OUZA A LBERTO T ORRES C ARLOS P EREIRA DE S Á F ORTES T HEODORO P ECKOLT R ICARDO DE C ARVALHO B ARBOSA R ODRIGUES G ONZAGA DE C AMPOS A MÉRICO B RAGA N AVARRO DE A NDRADE M ELLO L EITÃO A RISTIDES C AIRE V ITAL B RASIL G ETÚLIO V ARGAS E DGARD T EIXEIRA L EITE
R OBERTO F ERREIRA DA S ILVA P INTO J AIME R OTSTEIN E DUARDO E UGÊNIO G OUVÊA V IEIRA F RANCELINO P EREIRA L UIZ M ARCUS S UPLICY H AFERS R ONALDO DE A LBUQUERQUE T ITO B RUNO B ANDEIRA R YFF F LÁVIO M IRAGAIA P ERRI J OEL N AEGELE M ARCUS V INÍCIUS P RATINI DE M ORAES R OBERTO P AULO C ÉZAR DE A NDRADE R UBENS R ICUPERO P IERRE L ANDOLT A NTONIO E RMÍRIO DE M ORAES I SRAEL K LABIN
S YLVIA W ACHSNER A NTONIO D ELFIM N ETTO R OBERTO P ARAÍSO R OCHA J OÃO C ARLOS F AVERET P ORTO
A NTONIO C ABRERA M ANO F ILHO J ÓRIO D AUSTER A NTONIO C ARREIRA A NTONIO M ELLO A LVARENGA N ETO I BSEN DE G USMÃO C ÂMARA JOHN RICHARD LEWIS THOMPSON J OSÉ C ARLOS A ZEVEDO DE M ENEZES A FONSO A RINOS DE M ELLO F RANCO R OBERTO R ODRIGUES J OÃO C ARLOS DE S OUZA M EIRELLES F ÁBIO DE S ALLES M EIRELLES L EOPOLDO G ARCIA B RANDÃO A LYSSON P AOLINELLI O SANÁ S ÓCRATES DE A RAÚJO A LMEIDA D ENISE F ROSSARD E DMUNDO B ARBOSA DA S ILVA E RLING S. L ORENTZEN
SOCIEDADE NACIONAL DE AGRICULTURA · Fundada em 16 de janeiro de 1897 · Reconhecida de Utilidade Pública pela Lei nº 3.459 de 16/10/1918 Av. General Justo, 171 - 7º andar · Tel. (21) 3231-6350 · Fax: (21) 2240-4189 · Caixa Postal 1245 · CEP 20021-130 · Rio de Janeiro Brasil e-mail: sna@sna.agr.br · http://www.sna.agr.br ESCOLA WENCESLÁO BELLO / FAGRAM · Av. Brasil, 9727 - Penha CEP: 21030-000 - Rio de Janeiro / RJ · Tel. (21) 3977-9979
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A Lavoura
A Lavoura
DIRETOR RESPONSÁVEL
ANO 116 - Nº 696
ESPECIAL
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APICULTURA Serviço valoroso NOVAS CULTIVARES DE SOJA Sinônimo de qualidade e estabilidade
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44 MORANGO ORGÂNICO Ao alcance das mãos VITICULTURA Videiras abrigadas
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MANEJO BOVINO Atenção ao controle da mastite bovina
36 CARNE Brasileiro aprova carne de cordeiro
MANEJO BOVINO Doença dos cascos, prejuízo na certa
IMPRESSÃO
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INSETOS Nem sempre vilões
68 AGRICULTURA FAMILIAR
Oleaginosas de alto valor agregado
ISSN 0023-9135
CAPA:
SEAPA-MG Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais
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CONTROLE BIOLÓGICO Armadilhas com feromônios: controle limpo e barato
www.agricultura.mg.gov.br
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CANA-DE-AÇÚCAR Sistema muda conceito de plantio
É proibida a reprodução parcial ou total de qualquer forma, incluindo os meios eletrônicos, sem prévia autorização do editor. Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva de seus autores, não traduzindo necessariamente a opinião da revista A Lavoura e/ou da Sociedade Nacional de Agricultura-SNA
FLORICULTURA Rosas ganham produção integrada
76 ORGÂNICOS Água que gera energia e renda
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SNA 116 ANOS PANORAMA POLÍTICA AGRÍCOLA SOCIEDADE RURAL BRASILEIRA - SRB SOBRAPA CI ORGÂNICOS ORGANICSNET INFORME OCB/SESCOOP-RJ ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO EMPRESAS OPINIÃO
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116 anos Indicação Geográfica em pauta na SNA CRISTINA BARAN
Em maio, o presidente da SNA, Antonio Alvarenga, recebeu em sua sede, no Rio de Janeiro, para uma reunião, o presidente do INPI, Jorge Ávila; a vice-presidente da Firjan, Angela Costa; a presidente da Câmara de Comércio FrançaBrasil, Claudine Bichara Oliveira e Antonio Salazar Brandão, coordenador dos projetos de agroindústria e agronegócio da Firjan. A importância da Indicação Geográfica (Indicação de Procedência e Denominação de Origem) como certificação capaz de agregar valor ao produto regional, beneficiando produtores, ganhou destaque na reunião, assim como o debate em torno de soluções para os problemas das embalagens de produtos Angela Costa, vice-presidente da Firjan; Antonio Alvarenga, presidente da SNA, e Jorge agropecuários, em especial hortigranjeiros. Ávila, presidente do INPI : discussões em torno de patentes, certificações, fruticultura, Os participantes levantaram a necessidade do florestas, entre outros assuntos desenvolvimento de embalagens que reduzam perdas, facilitem o transporte e a logística, e agreguem valor aos produtos e aumentem a rentabilidade dos produtores. Projetos de fruticultura e silvicultura no Estado do Rio de Janeiro também estiveram em pauta.
CARLOS SILVA DOS SANTOS /ASCOM – MAPA
SNA nos 40 anos da Embrapa mento do Brasil nos últimos 40 anos, e destacou o progresso e o papel da agricultura na evolução do país neste período, lembrando o notável crescimento da safra brasileira. Lopes também falou sobre a importância das parcerias e a necessidade da Embrapa e parceiros se prepararem para as mudanças de paradigmas nas próximas décadas. Estiveram presentes, entre outros, o ministro da Agricultura, Antônio Andrade; a ministra chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, reEm clima de comemoração: ministro da Agricultura, Antonio Andrade; ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann; presidente da Embrapa, Maurício Lopes, e Antonio Alvarenga, presidente da SNA presentando a presidente Dilma Rousseff; o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antônio Raupp; A comemoração dos 40 anos da Embrapa, completados em o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra; o 24 de abril, reuniu, em Brasília, ex-presidentes da instiministro do Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas, o pretuição, ministros, lideranças do agronegócio e parlamensidente da Comissão de Agricultura e Reforma Agrária, setares. nador Benedito Lira, e o presidente da SNA, Antonio Em seu discurso, o presidente da empresa de pesquisa, Alvarenga. Maurício Lopes, traçou um breve histórico de desenvolvi6 A Lavoura NO 696/2013
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116 anos
J.REIS
Tradicional entidade representante do Agro, a Sociedade Rural Brasileira (SRB) completou 94 anos no dia 20 de maio. O presidente da SNA também prestigiou o evento comemorativo, que reuniu, em São Paulo, lideranças do agronegócio brasileiro e personalidades políticas, entre elas, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o vicegovernador do Estado de São Paulo e ministro da Secretaria da Micro e Pequena Empresa, Guilherme Afif Domingos, a senadora Kátia Abreu (presidente da Confederação Nacional da Agricultura – CNA), além de vários parlamentares e autoridades. Durante a cerimônia, o presidente da SRB, Cesário Ramalho da Silva, afirmou que a entidade, ao longo de mais de nove décadas, atuou à frente de questões econômicas, políticas e sociais como representante e defensora do produtor rural, e também da sociedade. “Contribuímos, e continuamos contribuindo, para que o
J.REIS
SRB comemora 94 anos
Ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, senadora Kátia Abreu, entre outros convidados, aplaudem o discurso do presidente da SRB, Cesário Ramalho da Silva (à dir.), que destacou o papel da instituição como representante e defensora do produtor rural e da sociedade
agronegócio brasileiro alcance continuadamente o mais alto nível de representação tecnológica, econômica e social em termos mundiais, em favor do desenvolvimento socioeconômico do Brasil”.
Plano agrícola Ainda durante a solenidade, a senadora Kátia Abreu defendeu a necessidade de um Plano Agrícola e Pecuário (Plano de Safra) com prazo interPrestigiando o evento: Antonio Alvarenga, presidente da SNA; Guilherme Afif Domingos, ministro da Secretaria da Micro e Pequena Empresa, e Américo Utumi, assessor da presidência da Secoop-SP
mediário de 18 meses, capaz de evoluir para um plano de quatro a cinco anos de vigência, que permita um planejamento adequado da atividade, com melhor gerenciamento da compra dos insumos e da comercialização dos produtos. A presidente da CNA também comemorou a aprovação da Medida Provisória 595, que permite investimentos privados na construção de novos portos. “Agora, podemos ter a tranquilidade de aumentar nossa produção, porque nossas exportações estarão garantidas de forma eficiente. Daremos fim aos prejuízos que têm sido impostos ao agronegócio brasileiro”, declarou a senadora.
Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG) comemorou aniversário de 20 anos em abril. O presidente da SNA, Antonio Alvarenga e a editora de A Lavoura, Cristina Baran, estiveram presentes às comemorações, em São Paulo. Eles companharam a apresentação de uma pesquisa realizada pela entidade, com o apoio da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). O levantamento, que ouviu 600 pessoas em 12 capitais, revela que, para 81% da população urbana, o agronegócio é muito importante. A pesquisa indica ainda que o agronegócio brasileiro é considerado o mais desenvolvido do mundo. Para o presidente da ABAG, Luiz Carlos Corrêa Carvalho, o levantamento tem por objetivo aprimorar o nível de conhecimento e de valorização da atividade agropecuária por quem vive nos grandes centros.
ASCOM/ABAG
Abag faz 20 anos com pesquisa inédita A
Presentes à ocasião, Eduardo Soares de Camargo, diretor da ABAG; o ex-jogador Cafu; Mônika Bergamaschi, secretária de Agricultura de São Paulo, e o presidente da ABAG, Luiz Carlos Corrêa Carvalho, que frisou a importância de recente estudo elaborado pela entidade para a valorização da atividade agropecuária
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CRISTINA BARAN
116 anos
Antonio Alvarenga, presidente da entidade; Bernardo Ariston, superintendente do ministério da Agricultura, e a deputada Aspásia Camargo, visitaram o estande da SNA, que expôs os últimos lançamentos do mercado de orgânicos, de empresas associadas à rede OrganicsNet
Green Rio: SNA mostra novidades em orgânicos A Sociedade Nacional de Agricultura esteve mais uma vez presente ao Green Rio 2013, evento de sustentabilidade realizado entre os dias 8 e 9 de maio, no Jardim Botânico, Rio de Janeiro. No estande da SNA foram expostos os lançamentos em orgânicos das empresas participantes da rede OrganicsNet/SNA, entre elas a Ecobras, com seus produtos de soja orgânica; e a Cassiopeia, com seus artigos de limpeza certificados pelo IBD BioWash. Como alternativa natural aos defensivos químicos agrícolas, foram apresentados os repelentes para plantas e animais à base de Noni e Neem (plantas originárias da Índia), da Preserva Mundi (PA).
O presidente da SNA, Antonio Alvarenga, e a coordenadora do Centro de Inteligência em Orgânicos da SNA, Sylvia Wachsner, foram prestigiados com a presença no estande da deputada Aspásia Camargo e do superintendente do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Bernardo Ariston. Também visitaram o estande da SNA o secretário de Agricultura do Rio de Janeiro,Christino Áureo; o analista da Unidade de Agronegócios do Sebrae Nacional, Ludovico Wellmann da Riva; e o diretor-executivo da Korin Agropecuária, Reginaldo Morikawa.
Redes sociais e orgânicos No segundo dia do evento, Sylvia Wachsner apresentou a palestra “Twittando sobre o mercado de orgânicos”, na qual chamou a atenção para a necessidade de maior engajamento do consumidor de orgânicos para garantir a ampliação da oferta de produtos. “As redes sociais, sobretudo o Twitter, possibilitam um discurso rápido e direto, e ultrapassam barreiras. São a melhor arma do consumidor na hora de reivindicar um produto mais saudável e com preço mais acessível. Vamos derrubar esse tabu de que orgânico é produto de rico, porque não é. É um direito que tem de ser garantido a todos. O consumidor deve fiscalizar esse direito. E nas redes toda reivindicação tem eco”, argumenta. A segunda edição do Green Rio, organizado pelo Planeta Orgânico com o patrocínio do Sebrae e parceiros, reuniu, em um mesmo espaço, especialistas e profissionais das áreas de orgânicos e de produção e consumo sustentável, que participaram de palestras, debates, exposições e rodadas de negócios.
SNA na Expoarroz 2013 Com um público estimado em mais de 15 mil visitantes, a Expoarroz 2013 reuniu representantes da cadeia orizícola, de 16 a 19 de abril, no Centro de Eventos de Pelotas (RS). A SNA participou com um estande e foi representada na oca-
sião por José Roberto Peixoto e Flávio Maranhão, parceiros no grupo Agronegócio Expo. A programação do evento incluiu fórum internacional, feira e rodada de negócios. A próxima edição acontecerá em abril de 2015.
SNA e Abramvet firmam convênio RAUL MOREIRA
A Academia Brasileira de Medicina Veterinária-ABRAMVET realizou, em março, no Salão Nobre da Sociedade Nacional da Agricultura, a solenidade comemorativa pelos 30 anos da instituição. Na ocasião, o novo presidente da ABRAMVET, Milton Thiago de Mello, e o presidente da SNA, Antonio Alvarenga, firmaram um convênio com o objetivo de atualizar fiscais federais, estaduais e municipais, e capacitar responsáveis A nova diretoria da ABRAMVET, eleita em 18 de janeiro de 2013, tomou posse em caráter oficial, durante cerimônia no auditório da SNA técnicos para atuação em abatedouros, entrepostos, frigoríficos e varejistas. O primeiro programa dessa parceria será direcionado à solução dos problemas de sanidade da carne, tema que ganhou grande repercussão nacional, recentemente, a partir de reportagens da revista “Veja” e do programa “Fantástico”, da TV Globo. “Esta iniciativa mostra a importância que damos para a medicina veterinária no Brasil. O Brasil já é uma potência na safra de grãos, mas precisamos ganhar mais produtividade de carne por hectare”, declarou Alvarenga. Durante o evento, a nova diretoria da ABRAMVET, eleita em 18 de janeiro de 2013, tomou posse em caráter oficial. 8 A Lavoura NO 696/2013
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PANORAMA
GABRIEL CHIAPPINI
Orgânicos faturam R$ 1,5 bi em 2012
Com a regulamentação, o mercado de orgânicos vem crescendo e ganhando espaço exclusivo nos supermercados
Com um faturamento em torno de R$ 1,5 bilhão, em 2012, dos quais 1/3 representado pelas exportações, segundo estimativas do Instituto de Promoção do Desenvolvimento (IPD), o setor de produtos orgânicos no Brasil vem crescendo de forma significativa, atendendo à demanda dos consumidores por produtos saudáveis e seguros.
Produtos inovadores O mercado nacional vem crescendo na medida em que o processo de regulamentação, realizado em 2011, se consolida. Há um substancial aumento de investimentos no setor, novas empresas e lançamentos de produtos inovadores com alto valor agregado, distanciando da imagem de um segmento exclusivamente de frutas, legumes e verduras. Com a perspectiva dos grandes eventos esportivos nos próximos
anos, incluindo a Copa do Mundo, que será orgânica, o mercado deve aquecer ainda mais, já que atividades esportivas são temas diretamente ligados às questões de saúde e bemestar. Segundo Ming Liu, coordenador executivo de projetos do IPD Orgânicos, a expectativa é que até 2014 a produção orgânica no Brasil possa atingir faturamento de R$ 2 bilhões. “Essa é uma tendência que já havíamos identificado, na medida em que o processo regulatório se consolida. Nos mercados dos Estados Unidos, Ásia e Europa houve esse processo, e, com a globalização, chegou ao Brasil”, explica Ming Liu.
BioBrazil Fair | BioFach América Latina Há nove anos, a BioBrazil Fair | BioFach — Feira Internacional de Pro-
dutos Orgânicos e Agroecologia — contribui para o desenvolvimento do setor ao reunir produtores, processadores, compradores e público consumidor num único evento. É a maior feira de negócios aberta também ao consumidor final no Brasil e, neste ano, está reunindo 120 empresas expositoras numa área de 7 mil m² do pavilhão da Bienal do Ibirapuera, em São Paulo, de 27 a 30 de junho.
Novidade A grande novidade deste ano é a parceria com a NürnbergMesse, promotora alemã da BioFach, maior evento de orgânicos do mundo, com edições na Alemanha, Índia, China, Japão e Estados Unidos. Com a união, a BioBrazil Fair | BioFach América Latina passa a integrar o calendário internacional de feiras dedicadas aos orgânicos e amplia as oportunidades de negócios de seus expositores com compradores do mundo todo. A Lavoura NO 696/2013 9
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PANORAMA
Sorvete Saudável pois o consumidor moderno deseja alimentos que satisfaçam e ao mesmo tempo sejam saudáveis”, afirma Marina.
Deficiência de cálcio DI VU LG AÇ ÃO
O valor nutricional e a alta digestibilidade fazem do sorvete um alimento ideal para todas as idades
Não é novidade que uma dieta balanceada é essencial para o bom funcionamento do organismo. Entretanto, o estado nutricional, principalmente das populações que vivem em países desenvolvidos, é afetado por hábitos inadequados como o consumo excessivo de gorduras, elevada ingestão de açúcares e diminuição considerável do consumo de fibras, vitaminas e sais minerais, que podem favorecer a incidência de doenças crônico-degenerativas. Com objetivo de melhorar o aspecto nutricional de alimentos que são atraentes, principalmente para as crianças, a pesquisadora Marina Leopoldina Lamounier, da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ), desenvolveu um sorvete saudável, com alto teor de fibra alimentar, cálcio e vitaminas, e redução de sódio, açúcar e gorduras. “O interesse principal é fazer com que o sorvete tenha múltiplas funções,
Segundo a pesquisadora, a ingestão de cálcio pela população também está muito abaixo dos valores considerados ideais, de 1000 mg/dia para adulto. Em consequência, muitas crianças estão sujeitas ao raquitismo, à baixa estatura, à osteopenia e osteoporose. “Isso ocorre porque muitos produtos lácteos, como leite e queijo, não são interessantes ou atraentes suficientemente, contribuindo para o baixo consumo”. Assim, surgiu a ideia do sorvete saudável. O estudo, realizado no Programa de Pós-graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos da ESALQ, desenvolveu um preparado em pó enriquecido com fibras de linhaça, inulina e FOS (fonte de prebióticos) com reduzido teor de açúcar, gordura e sódio. Os sorvetes foram elaborados com o preparado lácteo e saborizados com polpa de mangaba — fruta típica do cerrado brasileiro.
Potencial de comercialização “A elaboração dos preparados em pó e dos sorvetes se constitui como forte potencial à comercialização, já que são ricos do ponto de vista nutricional e contemplam a demanda de todos os grupos biológicos desde crianças até idosos, por serem atrativos e saudáveis”, afirma Maria Leopoldina.
Orientada pela professora dra. Jocelem Mastrodi Salgado, do Departamento de Agroindústria, Alimentos e Nutrição (LAN), a pesquisa avaliou as características microestruturais e microbiológicas do preparado em pó e, a partir deles, desenvolveu os sorvetes de massa, verificando sua composição centesimal, suas propriedades físicas e químicas, suas características reológicas e seu nível de aceitação sensorial. Segundo as pesquisadoras, todas essas características apresentaram valores desejáveis. Além do mais, foi possível, através da adição de fibras alimentares, proporcionar uma alegação horizontal de saúde.
Opção saudável “O sorvete pode ser uma opção saudável de alimento, principalmente para as pessoas que, por falta de hábito, gosto ou intolerância à lactose, têm a ingestão de laticínios aquém das quantidades recomendadas. O valor nutricional e as características de alta digestibilidade fazem deste produto um alimento ideal para todas as idades, associando nutrição e prazer”, explicam as pesquisadoras. Maria Leopoldina afirma que sorvetes de frutas do Cerrado com baixo valor energético ganham espaço cada vez maior na mesa dos consumidores. “Estas frutas oferecem grande variedade de sabores e aromas, possuem quantidades significativas de vitaminas, propriedades funcionais e medicinais, entre elas a mangaba (Hancornia speciosa), que apresenta boa digestibilidade, alto valor nutritivo e consideráveis teores de proteína e vitamina C”, conclui.
Banana certificada para a Europa Selo A FAEMG
certificação da banana produzida na Região do Jaíba (norte de Minas Gerais), responsável por 50% da produção mineira, viabilizará a exportação do produto para a Europa. Um acordo de comercialização com três empresas europeias foi firmado e as exportações devem ter início no segundo semestre. O processo de certificação de propriedades produtoras de banana da Região do Jaíba foi executado pelo Instituto Antonio Ernesto de Salvo (INAES), entidade de planejamento e desenvolvimento para o agronegócio da Faemg, em parceria com o Sebrae.
Na região do Jaíba (MG), 14 propriedades serão certificadas para exportação de banana para a Europa
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Ao todo, 14 propriedades receberão o selo Global Gap, exigido pela rede varejista da Europa para produtos importados de outros países. Para o superintendente do INAES, Pierre Vilela, o projeto abre oportunidades para Minas, especialmente em se tratando da exportação de um produto que não é produzido em outros países do mundo.
Embalagem Uma comitiva formada pelos produtores rurais certificados e representantes do INAES/FAEMG e do Sebrae foi até a Europa, onde visitou compradores e participou da Feira Fruit Logística, uma das maiores do setor, realizada na Alemanha, em fevereiro de 2013. A comitiva mineira trouxe também da Fruit Logística a ideia de promover uma mudança importante no modelo de caixas para a embalagem e envio da fruta. Espera-se, com o novo formato, transportar 120 caixas a mais em cada contêiner, ou seis caixas em cada coluna (pallet), gerando economia para o exportador. Ainda em fase de desenvolvimento, a nova estratégia de embalagem será testada no segundo semestre, antes da exportação em larga escala.Os testes finais de conservação da fruta e logística para exportação serão realizados no segundo semestre, com o envio de 1.080 caixas de banana prata.
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PANORAMA
Tangerina produtiva C
EMBRAPA CLIMA TEMPERADO
om uma produtividade que pode atingir 30 toneladas por hectare, acaba de ser lançada pela Embrapa Clima Temperado, resultado de um trabalho conjunto com a UFRGS, a tangerina híbrida URSBRS Hada. A cultivar é um tangoreiro tardio, tolerante ao cancro cítrico, pinta-preta e à mancha marrom de alternária. No Rio Grande do Sul, a maturação dos frutos é tardia e a colheita ocorre entre outubro e dezembro, podendo ser antecipada ou retardada dependo das temperaturas méA Hada produz frutos grandes, com 160g, casca lisa e fácil de descascar dias da região. Segundo o pesquisador Roberto Pedroso de Oliveira, os sistentes a doenças, os custos com cuidados fitossanitáfrutos verdes podem ser utilizados para a extração de rios são menores do que com outras espécies cítricas”, óleos essenciais e os maduros para consumo in natura e explica Oliveira. produção de suco. “Os frutos tem em torno de 160g”, Características da tangerina URSBRS Hada: confirma o pesquisador. Por causa do seu tamanho, e tamé vigorosa, com copa de porte médio e formato aberto; posbém época de maturação, tem grande potencial no mersui coloração verde-clara; os frutos são grandes, com 160g; cado. Possui uma acidez elevada, que desperta o interesse de casca lisa e fácil de descascar; sabor agradável, com do mercado internacional de fruta fresca e produção de teor de açúcares de 12 brix; menores custos de tratamensucos. to fitossanitário, pois é resistente a doenças. Manejo As borbulhas da URSBRS Hada podem ser obtidas no Quanto ao manejo, a URSBRS Hada requer raleio de fruEscritório de Negócios do Capão do Leão, da Embrapa Protos e poda para produção anual de frutos de alta qualidutos e Mercado pelos telefones (53) 3275-9199/ 3275dade. “As plantas são exigentes quanto à adubação, de9291. CRISTIANE BETEMPS - EMBRAPA CLIMA TEMPERADO vido à grande exportação de nutrientes e, como são re-
(AMANDA COSTA - EMBRAPA HORTALIÇAS
Pedaço de verde
Alinhada à tendência de consumo de alimentos saudáveis, livres de resíduos químicos, a Embrapa Hortaliças desenvolveu um novo modelo de horta para pequenos espaços. O produto foi desenvolvido em parceria com uma empresa que trabalha com jardineiras em ecoparedes e atende bem as necessidades dos interessados em manter uma pequena horta em casa. De acordo com a analista da área de Transferência de Tecnologia da Embrapa Hortaliças (Brasília-DF) e engenheira agrônoma Caroline Pinheiro Reyes, “o método tem a finalidade de difundir a prática do cultivo de hortaliças tanto como hobby como para consumir produtos produzidos em casa, com procedência conhecida, sem agrotóxicos”.
Garrafas pet Anteriormente, a Embrapa havia laçado outro sistema, que ensina a cultivar em garrafas pet ou em recipientes semelhantes. Segundo Carolina Reyes, a novidade está mais voltada ao público urbano de maior poder aquisitivo, pois pode ser adquirido e instalado pela empresa responsável junto com o sistema de irrigação. “A maioria das hortaliças pode ser cultivada em pequenos espaços, basta que os vasos ou jardineiras fiquem em uma área onde peguem um pouco de sol todos os dias”, explica. Pa r a m a i s i n t e r e s s a d o s , a E m b r a p a d i s p o n i b i l i z a d a a p u b l i c a ç ã o “ H o r t a e m Pe q u e n o s E s p a ç o s ” , q u e t r a z i n f o r mações detalhadas de todas as etapas do cultivo de horta caseiras desde o preparo do solo até o manejo diário das hortaliças. www.cnph.embrapa.br
Produtos sempre frescos e a mão são obtidos em hortas que ocupam pouco espaço
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EMBRAPA SUÍNOS E AVES
PANORAMA (Concórdia) publicou um trabalho intitulado “Aproveitamento da água da chuva na produção de suínos e aves”. O documento dá dicas importantes de trabalhos realizados a campo e mostra sugestões que podem orientar produtores ou técnicos no dimensionamento e construção de cisternas oferecendo aos animais água de qualidade.
Modelos Os modelos variam, principalmente, conforme a demanda de água na propriedade. As cisternas exigem os mesmos cuidados das caixas d’água quanto ao material e limpeza. É importante também que as primeiras águas coletadas da chuva sejam descartadas, já que elas arrastam as impurezas existentes nos telhados e nos encanamentos. Além de combater a escassez de Os modelos de cisternas variam conforme a demanda de água na propriedade água em períodos de estiagem ou de maior demanda, principalmente em regiões de produção intensiva de suínos Captar e armazenar em cisternas a água de chuva pode ser e aves, há outras vantagens no aproveitamento da água da chuuma ótima alternativa para diminuir os problemas causados por va. estiagens severas na criação de animais. Consumo e gasto com água O armazenamento de água da chuva em cisternas é utilizaCom essa medida, reduz-se o consumo e o gasto com água do no Brasil há muito tempo, mas, em virtude das mudanças potável na propriedade, evita-se o uso de água potável na laclimáticas, das estiagens mais severas em períodos não convenvagem de pisos na suinocultura e na avicultura, utiliza-se escionais, esta prática vem aumentando consideravelmente. truturas já existentes, como os telhados e as coberturas, além Suinocultura e Avicultura de ser um recurso gratuito. Em Santa Catarina, onde predomina a suinocultura e a aviProdutores interessados em baixar gratuitamente o docultura, para facilitar o trabalho dos produtores interessados em cumento preparado pela Embrapa Suínos e Aves sobre o asinstalar cisternas em suas propriedades, a Embrapa Suínos e Aves sunto, podem acessar o site www.cnpsa.embrapa.br.
Água da chuva armazenada: um alívio na estiagem
Alternativas para comercialização de orgânicos
C
IAPAR
onexão Ecológica é o nome do livro lançado Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), de autoria do engenheiroagrônomo Moacir Roberto Darolt. O livro resume o conhecimento científico resultante de anos de pesquisas feitas na instituição. De acordo com o autor, a publicação aponta caminhos para a reconstrução do relacionamento entre agricultores e consumidores, como os canais curtos na comercialização de alimentos produzidos em base ecológica, considerada a maneira mais sustentável para a oferta e o consumo de produtos saudáveis, do local, da estação, e mediante preço justo. O livro aponta distorções na comercialização de alimentos orgânicos e propõe alternativas para fortalecer as relações entre produção e consumo, baseadas no encurtamento dos canais de venda visando maior proximidade entre o produtor e o consumidor. Em seu trabalho de doutorado sobre agricultura orgânica na região metropolitana de Curitiba, Darolt percebeu que o maior
problema para os produtores era a comercialização, ao mesmo tempo em que, por sua vez, os consumidores reclamavam da pequena quantidade ofertada, da pouca diversidade dos produtos orgânicos, além da falta de locais para a compra.
Reféns Segundo o pesquisador, os pequenos agricultores acabam reféns das grandes cadeias de supermercados, tendo dificuldades de negociar os produtos orgânicos a preços justos. Para os consumidores, os preços de compra são abusivos. Ele cita que para cada R$ 1,00 que o consumidor paga por um produto orgânico na “boca do caixa” do supermercado, R$ 0,33 ficam com o atravessador; R$ 0,38 com o supermercado e R$ 0,29 com o produtor. Além disso, o produto ‘ecológico’ ainda é embalado com isopor e plástico. “Processo que descaracteriza o que pensamos como algo sustentável”, afirma Darolt. Segundo o pesquisador, estes entraves impedem o crescimento da produção e o consumo de orgânicos. “A partir disso, estudei alternativas de venda direta e outros canais curtos que aproximassem o produtor do consumidor, no conceito de um alimento ecológico e comercializado a preço justo”, explica. www.iapar.br
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ORGÂNICOS
Seis vezes mais TOMATE ROCKALL
Tecnologia de cultivo orgânico pode aumentar em até seis vezes a produtividade do tomate nas 0,5 kg de tomate por pé. A APTA, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, então, iniciou estudos e divulgação de um biofertilizante criado no fim do século XIX no Japão, conhecido e utilizado somente pela colônia japonesa no Brasil, chamado bokashi. Atualmente, esse bionutriente é preparado com resíduos oriundos do beneficiamento e processamento industrial de matérias-primas primárias, como trigo, soja, mamona, frutos do mar, osso, pena de aves e cana-de-açúcar, por exemplo. Os produtores rurais de São Roque-SP e região têm produzido até três quilos de tomate por pé, ou seja, seis vezes mais. Além disso, os pesquisadores da agência conseguiram reduzir em mais de 40% os custos de produção do bokashi, substituindo alguns ingredientes da agroindústria por outros naturais, mais baratos. A pesquisa é inédita no Brasil e a tecnologia para o preparo foi difundida pela APTA em outros países, como Paraguai, Bolívia, Caribe, Guatemala, Honduras e República Dominicana.
Pioneiros
Tomate: com biofertilizante “Bokashi” há agricultores produzindo mais de três quilos por pé
Q
uando os pesquisadores da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA) começaram a trabalhar com agricultura orgânica, em 1993, identificaram, por meio de uma enquete, que a oferta de hortaliças de folha, raízes e tubérculos
atendiam à demanda dos consumidores de orgânicos. Porém, o mesmo não acontecia com o tomate. O mercado queria tomates orgânicos, mas os agricultores não conseguiam produzi-los em grande quantidade. Com a tecnologia disponível, os agricultores colhiam ape-
Quando os pioneiros na produção orgânica utilizavam no cultivo de tomate apenas compostos simples, preparados com esterco animal — de cavalo ou de bovino — conseguiam produzir pouco, somente 0,5 kg de tomate por pé. Na agricultura tradicional, é possível produzir, em média, oito quilos. Atualmente, recomenda-se utilizar o bokashi em conjunto com o composto orgânico comum, à base de esterco animal, curtido com material celulósico e capim, usado como condicionador do solo, o que melhora as condições físicas e biológicas. “Na região de São Roque, mais precisamente na cidade de Ibiúna, há um grande produtor que consegue produzir até
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ARQUIVO IAC
três quilos por pé, ou seja, seis vezes mais. Quando o agricultor é pequeno e familiar, pode chegar a dobrar a produção. Porém, o atendimento aos consumidores não é suficiente, pois o preço do tomate orgânico não tem baixado o suficiente para atender à verdadeira demanda”, afirma Issao Ishimura, pesquisador da APTA.
Redução de custos A APTA conseguiu, ainda, reduzir os custos de produção do bokashi aplicado nas lavouras. Originalmente, a tonelada do biofortificante japonês custava em média, R$ 810,00. Com a substituição de alguns componentes, a pesquisa paulista conseguiu desenvolver um bokashi 44% mais barato, ao custo de R$ 460,00 a tonelada. “O farelo de soja, por ser utilizado como matéria-prima para fabricação de ração animal, é inviável para o preparo do adubo, então, o substituímos por farelo de mamona, abundante na região de São Roque e em todo mercado agropecuário do Brasil. Outra mudança foi em relação à farinha de peixe industrializada, que custa em media R$ 2,20 o quilo, por sobras da limpeza de peixes frescos das peixarias, que são distribuídas a custo zero. O farelo de arroz — fonte de amido — foi trocado por resíduos da indústria de fécula e fritas de batata, que também não custa nada”, afirma Ishimura. De acordo com o pesquisador da APTA, a composição e a dosagem aplicada variam conforme o estado do solo — degradado ou não — os níveis de nutrientes existentes e a espécie que será cultivada. O tomateiro tem origem nos Andes chilenos, peruanos e bolivianos, regiões de alta altitude e baixa umidade. Quando cultivado nesses locais, não se observam ataques de pragas e doenças fúngicas, viróticas ou bacterianas. Porém, de acordo com Ishimura, o tomate, quando plantado em regiões de clima úmido e subtropical de São Paulo, sofre com o ataque de pragas e doenças. Por
O “bokashi” evita o ataque de doenças fúngicas ao tomateiro
essa razão, o fruto já chegou a estar no topo da lista de alimentos com maior nível de contaminação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “No Brasil, o tomateiro fica suscetível e há ataques de todos os agentes patogênicos. A planta não tem resistência às principais doenças existentes, razão para o uso maciço de agrotóxicos”, afirma o pesquisador da APTA.
Aplicadores de defensivos Segundo Issao, existem agrotóxicos registrados para o tomate no Brasil, porém, para os aplicadores de defensivos agrícolas do País não são exigidos o mesmo nível escolar e técnico de países da Europa, dos Estados Unidos, Canadá e Japão. “Falta, no Brasil, normatizar a profissão de aplicadores de agrotóxicos na produção de alimentos”, afirma. O bokashi, produzido a partir de ingredientes do beneficiamento de matérias-primas fermentados por micro-organismos benéficos, evita o ataque de doenças fúngicas ao tomateiro e outras espécies suscetíveis a doenças. “Isso acontece porque a quitina presente nas penas de aves e nos frutos do mar, como casca de siri, caranguejo e camarão, induz à diminuição de micro-organismos patógenos”, explica Ishimura.
Biofertilizante O biofertilizante pode ser utilizado no plantio de hortaliças, como cebola, batata, alcachofra e louro. Se não fosse a utilização para esse fim, os resíduos que compõem o produto seriam jogados no lixo ou em aterros sanitários. “O bokashi aplicado em solo nutricionalmente desequilibrado e degradado pelo uso excessivo de insumos químicos permite sua recuperação por meio da melhoria das propriedades químicas, físicas e principalmente biológicas, em equilíbrio com a natureza, de acordo com enfoque agroecológico. Outro impacto positivo está ligado ao fato de que seu preparo depende somente de material originado de recursos naturais renováveis sendo, portanto, uma tecnologia ecologicamente correta”, explica o pesquisador. Ainda de acordo com Ishimura, os resíduos sólidos produzidos na região são reaproveitados na produção de alimentos dos próprios municípios, gerando riqueza. “Além da geração de riqueza, pode-se dizer que este reaproveitamento dos resíduos na região é muito importante na sustentabilidade do agricultor, além de aumentar a garantia da sua segurança alimentar, o que traz um enorme benefício para a comunidade, não tanto ligado à geração de riqueza, mas à geração de saúde e bem-estar social”, afirma. FERNANDA DOMICIANO - APTA
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JACQUELINE CAMOLESE DE ARAÚJO
ORGÂNICOS
Frutos de formato uniforme são mais comercializáveis
Cultivares mais adequadas ao consumo A alta nos preços do tomate no decorrer do mês de abril, que transformou o produto no novo ‘vilão da inflação’, levou muitos consumidores a migrarem para o consumo do produto orgânico, que estava sendo oferecido no mercado a um preço mais baixo do que o tomate convencional. No contexto da pesquisa, a comparação entre cultivares empregados em ambos os sistemas de produção é o foco de inúmeros trabalhos, tanto no âmbito acadêmico quanto produtivo. “Estudos direcionados para avaliação de cultivares, apenas no sistema orgânico de produção, possibilitam comparações entre genótipos de diferentes origens. Além disso, torna possível discriminar, de maneira eficiente, os genótipos com maior potencial de produção”, comenta a engenheira agrônoma Jacqueline Camolese de Araujo.
Avaliação de 14 cultivares No programa de pós-graduação em Fitotecnia da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ), Jacqueline avaliou a campo os parâmetros produtivos de 14 cultivares de tomate de mesa em sistema orgânico de produção. Na pesquisa, foram observadas as características físico-químicas e sensoriais da fruta, a fim de identificar as mais adequadas para a comercialização e consumo.
Para a caracterização dos frutos, foram avaliados 840 frutos a cada colheita, originando diversos gráficos sobre o comportamento das cultivares ao longo das 11 colheitas realizadas durante o período da pesquisa. “Também quantificamos os componentes de produção, ou seja, rendimento total, rendimento comercial, número de frutos comerciais, produção de frutos não-comercializáveis, análise físico-química (pH, Brix, acidez titulável, ratio) e análise sensorial”. As etapas de análises físico-químicas e sensorial foram realizadas no Laboratório de Frutas e Hortaliças do Departamento Agroindústria, Alimentos e Nutrição da Esalq.
Resultados
De acordo com Jacqueline, o experimento foi conduzido ao longo de seis meses numa propriedade em Piracicaba (SP), período em que foram utilizados seis genótipos experimentais oriundos do programa de melhoramento genético do IAC, sendo três do segmento varietal Italiano e três do segmento Santa Cruz. Outros oito genótipos comerciais também foram utilizados, dos quais quatro do grupo Italiano e quatro do grupo Santa Cruz. O experimento a campo foi possível graças à combinação dos genótipos utilizados, clima, nutrição equilibrada das plantas e controle biológico de pragas de forma sistemática.
Sementes A Instrução Normativa que regulamenta a Lei de Orgânicos (Nº 10.831/ 2003) obriga a utilização de sementes oriundas de sistema orgânico, permitindo, contudo, o uso de sementes convencionais, desde que não haja disponibilidade das orgânicas no mercado. Assim, este tipo de trabalho também pode auxiliar as empresas produtoras de sementes de tomate convencional na escolha da cultivar tem mais potencial para adaptação e, posteriormente, venda no mercado orgânico. As avaliações compreenderam a caracterização dos frutos quanto à massa média, diâmetro, comprimento, número de lóculos, espessura da parede, relação comprimento/diâmetro.
Os resultados mostraram que as cultivares HTV 0601, Granadero, Netuno e Bari apresentaram maiores valores para produção total, produção comercial e número de frutos comerciais. A produção média total das melhores cultivares foi 60,5 t/ha, muito próxima à média nacional convencional com rendimento médio de 62,6 t/ha, segundo dados de 2012, do IBGE. “Todas as cultivares apresentaram frutos de qualidade, com valores da relação sólidos solúveis/acidez titulável maiores que 10 e teor de sólidos solúveis maior que 3%, sendo adequadas ao consumo in natura”, comenta Jacqueline. Ao mesmo tempo, as cultivares do grupo Italiano IAC 4, IAC 6, Netuno e Bari; bem como as cultivares do grupo Santa Cruz: IAC 1, IAC 5, HTV 0601 e Débora Victory obtiveram as melhores notas em todos os atributos sensoriais avaliados. O experimento analisou o comportamento das cultivares e a variação dos parâmetros de caracterização dos frutos ao longo das colheitas. Neste quesito, as cultivares IAC 1, IAC 2, IAC 5, Avalon, HTV 0601, Granadero, Debora Victory, Pizzadoro, Bari e Santa Clara apresentaram valores da relação comprimento/fruto constantes durante as colheitas, indicando frutos de formato uniforme durante todo o ciclo, característica desejável para a comercialização.
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CAIO ALBUQUERQUE – ESALQ/USP
POLÍTICA AGRÍCOLA
Modernidade está no campo D
esde o Brasil Império, proclamava-se a nossa vocação agrícola. De um tempo emdiante, porém, sobretudo após a Revolução de 1930, quando o País tratou de compensar o atraso de sua industrialização, deixou de ser de bom tom proferir aquele adágio. Tornou-se, ao contrário, uma espécie de heresia. Vocação agrícola soava à elite urbana como confissão de arcaísmo. A chave para superar o atraso e entrar na modernidade estava na industrialização. E o Brasil, com toda a pujança de sua natureza, tornouse um país importador de alimentos, com graves consequências para o bolso da população. A revolução agrícola começou nos anos 70, com o surgimento da Embrapa e a introdução de alta tecnologia no campo. Hoje, nossa agricultura é uma das mais avançadas do planeta. Faz uso intensivo de tecnologia, aprofunda o conhecimento do uso da terra, respeita a natureza e zela pelas condições humanas de trabalho. Tornou-se há muito um dos segmentos mais sofisticados — e modernos — da economia brasileira, responsável há anos pelos superávits da balança comercial. O Brasil é, hoje, o segundo maior exportador de alimentos e em condições de, ainda nesta década, vir a ser o primeiro. E acaba de protagonizar o habitual papel de sustentáculo do PIB nacional: cresceu 9,7% neste primeiro trimestre de 2013, enquanto o conjunto da economia teve crescimento de 1,9%.
Não obstante essa performance, o setor agrícola continua sendo visto por alguns grupos como anacrônico e socialmente injusto. Isto, embora seja responsável hoje por 30% dos empregos formais do país. Tudo isso, diga-se, em meio a um ambiente político hostil. Fustigado por adversários ideológicos — ambientalistas e indigenistas incentivam a invasão de terras produtivas apoiados por setores do Estado — o setor agrícola carece de segurança jurídica. Mas não apenas: carece também de uma política específica atualizada e compatível com o setor que produz em sintonia com o século XXI. Foi neste cenário que a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) trabalhou, junto ao governo federal, na construção do novo Plano Agrícola e Pecuário (PAP) que a presidente Dilma Rousseff anunciou no exato momento em que esta edição de A Lavoura saía da gráfica. Para permitir ao produtor rural melhor planejamento — o que lhe é essencial —, propusemos, entre outras coisas, evoluir do Plano Safra, editado a cada ano, para um Plano Plurianual, com duração de quatro anos. Até agora, tivemos um calendário às avessas: quando o Governo lança o plano, o produtor já comprou seus insumos, sem planejamento, porque em geral as empresas que entregam esses insumos são as mesmas que comercializam a colheita. Como muitos produtores
Kátia Abreu
pagam suas contas com a própria produção, precisamos de mais planejamento para evitar que fiquem descapitalizados. Eis porque o novo Plano Plurianual é imperioso. Nos últimos anos, tivemos aumento de crédito e barateamento dos juros, mas continuaram faltando planejamento e seguro agrícola. Por isso, sugerimos ampliação do prazo de vigência do plano e da cobertura do seguro rural para a área plantada. Hoje, apenas 18% dela são cobertos pelo seguro. Nos Estados Unidos, esse percentual é de 86%. Queremos chegar, até 2015, a 50% de área segurada. Há muitos outros aspectos positivos no novo Plano, que o espaço exíguo de um artigo não permite detalhar. O essencial é que o setor continua lutando para que seja considerado na proporção da importância que tem.
Kátia Abreu, presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e senadora pelo Estado de Tocantins
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Indicação Geográfica: VALE DOS VINHEDOS
QUALIDADE RECONHECIDA
GILMAR GOMES
Vale dos Vinhedos conquista primeira DO de vinhos do Brasil
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Em novembro de 2002, os vinhos e espumantes do VALE DOS VINHEDOS se tornaram os primeiros produtos brasileiros com INDICAÇÃO GEOGRÁFICA (IG) — modalidade Indicação de Procedência (IP). Em setembro de 2012, quase dez anos depois, o INPI anunciou que eles terão a “Denominação de Origem”, tipo “mais valioso” da IG, assim como os vinhos mais famosos do mundo.
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Indicação VALE Geográfica: DOS VINHEDOS VALE DOS VINHEDOS
GILMAR GOMES
dar os conceitos de IG, IP e DO, que, por serem relativamente recentes no Brasil, ainda não são compreendidos pelo mercado consumidor. Na Europa, já estão internalizados pelos compradores por serem utilizados há séculos. Em uma linguagem simples e acessível, o Manual da Indicação Geográfica Vale dos Vinhedos — editado pela Aprovale — traz as regras da DO e os benefícios que o consumidor e a comunidade do Vale dos Vinhedos ganham com a certificação. Colheita de variedade Merlot
O
ciais que demonstram que o produto é patrimônio regional, com normas que preservam a sua identidade. Com a conquista, a perspectiva de obtenção de vantagens é ainda maior, tanto por parte dos produtores quanto dos consumidores. Além disso, a DO também atua no controle da qualidade da produção, desde o plantio das uvas, passando pelo processo de elaboração, até a comercialização dos vinhos. “O consumidor, quando estiver na gôndola de um supermercado, em uma loja de vinhos, ou na mesa de um restaurante, ao escolher um vinho com DO Vale dos Vinhedos, vai ter a tranquilidade e a garantia da qualidade do produto daquela garrafa”, ressalta o presidente.
Terroir
Conceitos
O terroir dos vinhos do Vale já é reconhecido, graças aos parâmetros de qualidade aplicados pelas vinícolas a partir da certificação da Indicação de Procedência. A DO, por sua vez, representa a evolução deste padrão, levando a público o potencial e a maturidade produtiva das vinícolas do Vale dos Vinhedos. O presidente da Aprovale, Rogério Carlos Valduga, destaca que a conquista da DO vem fortalecer ainda mais a identidade dos vinhos elaborados no Vale dos Vinhedos, reconhecida desde 2002, quando os vinhos e espumantes das vinícolas que integram o roteiro foram os primeiros produtos brasileiros a obter uma Indicação Geográfica (IG) na modalidade Indicação de Procedência (IP). O registro da DO evidencia diferen-
Agora, a Aprovale estará intensificando seu trabalho de esclarecer e consoli-
A produção do Vale dos Vinhedos varia entre 12 e 14 milhões de garrafas de vinhos finos por ano. Cada propriedade do Vale tem, em média, 2,5 hectares cultivados por videiras. Trata-se de vinícolas de pequeno porte, mantidas por famílias que cultivam vinhedos próprios e elaboram seus vinhos. Com isso, a prioridade é agregar valor ao produto em razão da qualidade, além de manter o homem no campo. Com a concessão do primeiro registro de IG, em 2002, a produção da região aumentou cerca de 30%. Com a DO, a expectativa é crescer mais 10%, porém, a qualidade antecede a quantidade.
A Denominação de Origem Vale dos Vinhedos O Vale dos Vinhedos é a primeira região com Denominação de Origem (DO) de vinhos no país. Sua norma estabelece que toda a produção de uvas e o A DO atua na qualidade da produção, com regras de processamento da bebida GILMAR GOMES
LUCINARA MACIERO
Brasil já possui sua primeira Denominação de Origem (DO) de vinhos e espumantes, modalidade mais complexa e valiosa de uma Indicação Geográfica (IG). A luta por essa conquista foi encabeçada pela Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), criada em 1996. De lá para cá, o sonho da DO sempre acompanhou o trabalho da entidade, ganhando força em 2010, quando o pedido foi oficializado. Em setembro de 2012, o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) deferiu o pedido de registro de DO para o Vale dos Vinhedos. A decisão foi publicada no Registro de Propriedade Industrial (RPI) 2175.
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Produção
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processamento da bebida sejam realizados na região delimitada do Vale dos Vinhedos. A DO também apresenta regras de cultivo e de processamento mais restritas que as estabelecidas para a Indicação de Procedência (IP), em vigor até a obtenção do registro da DO.
Produção vitícola: • As uvas devem ser totalmente produzidas na região delimitada pela IG e conduzidas em espaldeira. • A irrigação e o cultivo protegido não são autorizados. A colheita é feita manualmente.
Cultivares autorizadas: • Tintas: Merlot, como cultivar emblemática. Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Tannat, como variedades complementares. • Brancas: Chardonnay, como cultivar principal. Riesling Itálico, como variedade complementar. • Para espumantes (brancos e rosados): Chardonnay e/ou Pinot Noir, como variedades principais. Riesling Itálico, como variedade auxiliar.
Limites de produtividade: • Para uvas tintas: 10 toneladas/ha ou 2,5 kg de uva por planta. • Para uvas brancas: 10 toneladas/ha ou 3 kg de uva por planta. • Para uvas a serem utilizadas na elaboração de espumantes: 12 toneladas/ha ou 4 kg de uva por planta.
Produtos autorizados: Vinhos tintos • Varietal Merlot: Mínimo de 85% da variedade. • Assemblage Tinto: Mínimo de 60% de Merlot, podendo ser complementado pelas demais variedades autorizadas. • A comercialização somente pode ser realizada após um período de 12 meses de envelhecimento.
Vinhos brancos • Varietal Chardonnay: Mínimo de 85% da variedade. • Assemblage Branco: Mínimo de 60% de Chardonnay, podendo ser complementado por Riesling Itálico. • A comercialização somente poderá ser realizada após um período de seis meses de envelhecimento.
Espumantes • Base Espumante: Mínimo de 60% de Chardonnay e/ou Pinot Noir, podendo ser complementado por Riesling Itálico. • Elaboração somente pelo “Método Tradi-
Vale dos Vinhedos: 1a região com DO de vinhos do país
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Indicação Geográfica: VALE DOS VINHEDOS
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Para controle da certificação, são utilizadas as declarações de colheita de uva e de produtos elaborados, a partir das quais são retiradas as amostras para análises físico-químicas, organolépticas e testemunhais. Estas amostras são lacradas e codificadas. Esta sistemática permite a rastreabilidade dos produtos.
GILMAR GOMES
Padrões de identidade:
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As vinícolas são de pequeno porte, mantidas por famílias que cultivam vinhedos próprios e elaboram seus vinhos
Outras normas: • O espumante deve ser elaborado somente pelo “Método Tradicional”, com segunda fermentação em garrafa, que deve constar no rótulo principal, nas classificações “nature”, “extra-brut” e “brut”. • A chaptalização* e a concentração dos mostos não são permitidas. Em anos excepcionais, o Conselho Regulador da Aprovale poderá permitir o enriquecimento em até um grau. • Pode haver a passagem dos vinhos por barris de carvalho, não sendo autorizados “chips”e lascas ou pedaços de madeira.
Processo de rastreabilidade: A Aprovale possui um Conselho Regulador responsável pelo regulamento de uso da Indicação Geográfica do Vale dos Vinhedos. Cabe a este conselho fazer o controle e fiscalização dos padrões exigidos pela normativa da atual IP e da DO. O Conselho Regulador mantém cadastro atualizado das vinícolas solicitantes da certificação e utiliza informações do Cadastro Vitícola do Ministério da Agricultura, coordenado pela Embrapa Uva e Vinho, para determinar a origem da matéria-prima. As uvas Chardonnay compõem 60% dos espumantes
cional” (Champenoise). • O processo deverá durar no mínimo nove meses.
Graduação alcoólica: • Tintos: mínimo de 12%, em volume. • Brancos: mínimo de 11%, em volume. • Base espumante: máximo de 11,5%, em volume.
Os produtos somente recebem o certificado após comprovada a origem da matéria-prima. 100% da uva deve ser procedente da área demarcada. Também precisam ser aprovados nas análises físico-químicas e na avaliação sensorial (degustação às cegas), realizada pelo Comitê de Degustação, composto por técnicos da Embrapa, técnicos de associados da Aprovale e da Associação Brasileira de Enologia.
Rotulagem: • Os produtos engarrafados da DO são identificados no rótulo principal e no contrarrótulo. • Os vinhos tranquilos podem identificar a safra e as variedades. • Os espumantes devem utilizar a expressão “Método Tradicional”. • Para o contrarrótulo, além das informações estabelecidas pela legislação brasileira, os espumantes podem identificar as variedades utilizadas, o tempo de contato com as borras e o ano de dégorgement**. • É obrigatório o uso da numeração de controle sequencial. LUCINARA MASIERO
Registro: IG 200002 INPI Indicação de Procedência: 2002 Denominação de Origem: 2012 Área geográfica delimitada: 8.112ha Abrangência do Vale dos Vinhedos: Inserido no encontro dos municípios de Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte Belo do Sul.
* A técnica chamada de “chaptalização” consiste em enriquecer a graduação alcoólica do vinho, quando o mesmo não consegue atingir o nível desejável da maneira natural (apenas com a quantidade de açúcar na uva).
** Dégorgement consiste no processo de se remover os sedimentos de leveduras que foram introduzidas dentro de uma garrafa de Champagne, a fim de provocar uma segunda fermentação. Não há um tempo certo para se deixar estas leveduras em contato com o vinho. Somente na hora que o produtor recebe pedidos, então, ele começa a girar a garrafa (remuage), para que as leveduras entrem em ação. Para a expedição do produto, este deve seguir limpo para o mercado, sem nenhum sinal de leveduras dentro da garrafa.
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O enfraquecimento do Mapa C ESARIO R AMALHO
DA
S ILVA
PRODUTOR RURAL E PRESIDENTE DA SOCIEDADE RURAL BRASILEIRA (SRB)
A
despeito de ser o carro-chefe da economia, âncora das exportações, multiplicador de oportunidades, riqueza e renda para os demais setores e, consequentemente, alavanca do desenvolvimento socioeconômico, o agro vem perdendo interlocução e trânsito junto às esferas mais altas do governo federal. E isso fica claro no lento, porém gradativo, processo de desintegração do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), que vem sendo desmantelado ao longo dos anos. A pasta perdeu autonomia, função estratégica e poder político. Primeiro, os assuntos fundiários passaram para o Desenvolvimento Agrário. Adiante, as áreas de florestas plantadas e irrigação, respectivamente, passaram para as pastas do Meio Ambiente e da Integração Nacional. Além disso, sucessivos cortes no orçamento fragilizaram ainda mais o Mapa.
Tudo é agro O agro é tão grande e importante, que sua influência avança sobre os outros setores da economia, num efeito transversal. Da fabricante de insumo, passando pela indústria de máquinas, ao elo do beneficiamento, até chegar ao varejo, tudo é agro. O que acontece de bom ou ruim com o setor afeta a todos. E, exatamente por esta característica, é que o agro deveria ser mais bem visto, reconhecido e respeitado. Assuntos fundamentais para a competitividade do setor estão espalhados entre vários ministérios. Não há diálogo e ações integradas entre as pastas, o que justifica a necessidade de termos, ao menos, um ministério, no caso o da Agricultura, como gestor de tudo que impacta o agro.
Logistíca Se a questão da infraestrutura logística está na alçada do Ministério dos Transportes, a parte que mais cabe ao agro tem que contar com participação aguda do Mapa. O mesmo vale para uma tomada de decisão acerca do seguro rural pelo Ministério da Fazenda. O Mapa tem que estar absolutamente envolvido nisso, e não ficando numa condição periférica. Se o agro começar a pifar — por problemas de outras áreas que o atingem —, políticas sociais que hoje são um sucesso — e que foram viabilizadas pela estabilidade financeira proporcionada pelo setor rural
— podem sofrer graves prejuízos. Alguns recentes episódios são emblemáticos e ilustram esta situação. O aumento no preço da cebola e do tomate, por exemplo, ocorreu pelo recuo na oferta, ocasionado por problemas climáticos. O problema se agravou porque a safra destes produtos já estava baixa, em razão da falta de estímulo para o plantio, devido a preços extremamente baixos no ano passado.
Planejamento e incentivo ao produtor O encarecimento abrupto de ambos os produtos poderia ter sido, ao menos, amenizado se houvesse planejamento e incentivo ao produtor para que ele continuasse a investir nestas culturas, mesmo após um ciclo negativo. Isso revela falta de visão holística e de longo prazo do governo para lidar com as particularidades do setor agrícola. Se o produtor contasse com um seguro eficiente, não abandonaria o plantio de uma determinada cultura de uma hora para outra. Porém, ele é, muitas vezes, forçado a fazer isso para conseguir sobreviver. A criação do Conselho Interministerial de Estoques Públicos de Alimentos (CIEP) é outro exemplo que mostra, no mínimo, desconhecimento do governo sobre o que é causa e o que é efeito nos mercados agrícolas. A medida, de caráter intervencionista, visa organizar o abastecimento, atuando nos estoques — o que diminui sua eficácia, bem como encarece eventuais ações — e não com base no planejamento do plantio, como citado anteriormente.
Estoques públicos de alimentos A eficiente gestão dos estoques públicos de alimentos não demandaria um novo órgão, e sim uma boa e veloz governança sintonizada com a realidade do ambiente produtivo e do mercado consumidor. Uma ação acentuada direta do governo nos preços dos produtos agrícolas cria cotações artificiais, levando imprevisibilidade ao mercado, com efeitos perversos para produtor, empresas e consumidor. O governo já conta com instrumentos e mecanismos de política agrícola para a boa administração dos estoques públicos, não precisando burocratizar, ainda mais, a questão. Faria melhor se desburocratizasse e valorizasse mais o Mapa.
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RUIPERUQUETI
APICULTURA
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APICULTURA
SERVIÇO VALOROSO Quanto custa para a agricultura brasileira os serviços prestados pelos polinizadores naturais? P ATRÍCIA M ARIA D RUMOND BIÓLOGA, DOUTORADO EM CIÊNCIAS, PÓS-DOUTORADO, PESQUISADORA DA EMBRAPA ACRE
A
polinização realizada por animais é responsável por, aproximadamente, 35% dos alimentos consumidos mundialmente. Entre esses animais, destacam-se as abelhas, responsáveis por cerca de 80% da polinização dos cultivos comerciais. Nesse caso, tem-se mais de 20 mil espécies (só de abelhas), contribuindo, em maior ou menor grau, com a produção agrícola e a conservação da agrobiodiversidade em diferentes países. Polinização é o processo pelo qual os grãos de pólen são transportados das flores masculinas para as flores femininas, por meio da ação de agentes bióticos (insetos, mamíferos e aves) ou abióticos (vento, chuva, entre outros). Embora não seja a única condição necessária, a polinização representa uma etapa importante no processo de formação de frutos de várias plantas. Além do incremento na quantidade produzida, a polinização contribui para a melhoria da qualidade dos frutos e promove um amadurecimento mais uniforme, maior vigor das plantas que germinam, aumento no número de sementes produzidas e no teor de óleos e outras substâncias extraídas de algumas espécies vegetais.
Assunto recente
BRUNO IMBROISI
Estima-se que os serviços prestados pelos polinizadores nas áreas agrícolas valham cerca de 153 bilhões de euros por ano
e que sua extinção possa reduzir, em até 12%, a produção de frutas consumidas no mundo. A valoração dos serviços prestados pelos polinizadores é, todavia, um assunto relativamente recente, que apresenta variações, dependendo da metodologia empregada. Um estudo realizado nos Estados Unidos em 2005, por exemplo, calculou entre 0,21 milhão e 2,25 milhões de dólares por ano os serviços de polinização fornecidos pelas abelhas nativas nos cultivos de melancia em Nova Jersey e Pensilvânia. Já na Europa, estima-se em 100 bilhões de dólares a contribuição das abelhas do gênero Apis à agricultura local. Independente da metodologia utilizada, os valores encontram-se na casa dos milhões/bilhões de dólares, principalmente quando se trata de commodities. Pouco, no entanto, se conhece sobre o valor dos serviços prestados pelos polinizadores naturais para a agricultura brasileira. Em um dos estudos disponíveis, realizado em Viçosa (MG), em 2010, determinou-se o valor econômico anual do serviço de polinização das abelhas mamangavas em um plantio de um hectare do maracujá-amarelo. De acordo com esse estudo, os agricultores locais, de base familiar, teriam que gastar R$ 33.777,85 a mais por hectare com salários e encargos sociais para realizar a polinização manual, caso fossem impedidos de se beneficiar dos serviços prestados pelas mamangavas.
Mamangava poliniza a flor-da-castanheira
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APICULTURA Apesar de sua importância, parece ainda haver no Brasil certa resistência em atribuir aos polinizadores os resultados positivos ou negativos da safra agrícola. O café, por exemplo, tem a sua produtividade relacionada, normalmente, à idade e variedade da planta, à densidade dos plantios e às condições climáticas. A estimativa da produção brasileira para a safra 2011, por exemplo, foi 9,6% menor que a safra anterior (48,09 milhões de sacas). Esta redução foi atribuída ao ciclo da cultura (ano de baixa bienalidade) e à irregularidade nas chuvas, que prejudicaram as lavouras localizadas, sobretudo, nos estados de Minas Gerais, Bahia e Rondônia. Há, todavia, estudos feitos no Brasil, Costa Rica, Índia, Indonésia, Equador, Panamá e México, confirmando a importância das abelhas na polinização e formação de frutos no café. De acordo com esses estudos, as visitas realizadas pelas abelhas podem dobrar o número de grãos de pólen depositados nas flores, aumentando, em até 50%, o número de frutos produzidos, principalmente nos cultivos circundados por fragmentos florestais. Assim, considerando o papel desses insetos na polinização do café, vale a pena investigar o estado de conservação das populações de abelhas nas regiões cafeeiras brasileiras, em particular naquelas que se encontram sob altas taxas de desmatamento, e uso indiscriminado de defensivos agrícolas.
Ameaça à castanheira-do-brasil É consenso que o avanço do desmatamento e o uso incorreto de defensivos promovem a diminuição dos recursos utilizados pelas abelhas para alimentação e construção dos ninhos. A consequência é a redução da diversidade e abundância desses insetos nas áreas agrícolas. Com isso, perdem-se flores, que poderiam dar origem a novos frutos, reduzindo a produtividade de algumas culturas, o que pode causar um impacto negativo na renda dos produtores locais. Dependendo da escala de produção, os efeitos negativos podem ser percebidos dentro e fora da região afetada pela deficiência de polinizadores, por meio da elevação dos custos de produção e do aumento de preços de mercado, afetando, também, os consumidores finais. A Embrapa Acre investiga, atualmente, diferentes estratégias de conservação, criação e manejo das abelhas nativas, potenciais polinizadoras da castanheirado-brasil (Bertholletia excelsa). O desmatamento representa a principal ameaça às populações naturais de castanheira-do-brasil, espécie vulnerável à extinção, de acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). Com isso, o seu plantio vem sendo estimulado, principalmente, como componente agroflorestal para programas de reflorestamento, a fim de reincorporar áreas degradadas ao processo produtivo.
Qual a relação entre as ab A pesquisadora Kátia Braga, da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP), tem destacado a importância de se conhecer e avaliar a polinização agrícola por abelhas para garantir um sistema de produção sustentável. Para se ter uma ideia da importância das abelhas para a agricultura, estudo da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO, 2004) estima que 73% das espécies vegetais cultivadas no mundo são polinizadas por estes insetos. Conforme a pesquisadora, “no Brasil, há um consenso entre diversos pesquisadores que, apesar dos avanços tecnológicos, a produtividade das culturas agrícolas, incluindo-se aquelas sob sistema orgânico de produção, está aquém de seu potencial devido a um deficit na polinização. Esse deficit pode ser ocasionado por práticas não amigáveis às abelhas, como o uso frequente de agroquímicos e a ausência de vegetação natural nas proximidades da área cultivada”. Enquanto no mundo estima-se que existam mais de 20.000 espécies de abelhas, o Brasil, devido às suas proporções continentais e riqueza de ecossistemas, abriga cerca de ¼ destas espécies (cerca de 5.000).
Abelhas sociais Contudo, explica Kátia, a abelha mais conhecida entre os brasileiros é a abelha de mel ou africanizada (Apis mellifera), que não é uma espécie nativa do nosso país. As nossas abelhas sociais, produtoras de mel, são as abelhas sem ferrão que não conseguem picar por apresentarem um ferrão atrofiado. Apesar da diversidade dessas abelhas no Brasil — são cerca de 300 espécies — a maioria delas é desconhecida da população em geral, mesmo considerando que muitas fazem seus ninhos em muros, paredes e árvores nas áreas urbanas e rurais. “Se as abelhas são os principais polinizadores das plantas cultivadas, como estima o estudo da FAO, precisamos conhecer as abelhas sem ferrão, assim como as outras espécies de abelhas nativas do Brasil (sociais ou solitárias), aprender a conservá-las nos ambientes naturais e manejá-las para a polinização agrícola. Dessa forma, podemos contribuir para uma maior produtividade dos frutos e sementes que utilizamos em nossa alimentação e dos animais domésticos e, também, de sementes para o plantio e cultivo de diversas espécies”, enfatiza Kátia. Além disso, a polinização realizada pelas abelhas em ambientes naturais garante a conservação da diversidade de plantas e animais silvestres, pois contribui com a reprodução das espécies vegetais que, por sua vez, sustentam a fauna local.
Acerola é um exemplo Como exemplo do papel das abelhas na polinização agrícola, Kátia cita um estudo recente realizado no semiárido bra-
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KATIA BRAGA
Resistência no Brasil
APICULTURA
e as abelhas sem ferrão e agricultura orgânica?
A FAO estima que as abelhas são as principais polinizadoras de plantas cultivadas
sileiro com a cultura da acerola. Essa cultura, que é polinizada por um grupo de abelhas que coletam óleos florais (gênero Centris), apresentou falha na polinização no período da seca, produzindo uma quantidade muito menor de frutos que aquela obtida pela polinização manual (realizada pelo ser humano) nesse período, devido à baixa abundância dessas abelhas, fato que não ocorreu no período das chuvas. “Outro caso bastante conhecido é o da polinização do maracujá, que é inadequada em muitas lavouras por causa da escassez de seu principal polinizador, a abelha carpinteira ou mamangava (gênero Xylocopa), nas proximidades da cultura”.
Facilidade de criação Kátia Braga destaca que as abelhas sem ferrão podem ser bastante benéficas para o manejo agrícola devido à facilidade de criação deste tipo de abelha e manejo de muitas de suas espécies, ao sabor e qualidade do mel produzido, além do fato delas não ferroarem. Finalmente, aos resultados de várias pesquisas que destacam seu potencial como polinizadores de culturas agrícolas. Além disso, por todos esses aspectos, elas podem ser utilizadas como um interessante recurso didático-pedagógico-experimental em escolas técnicas, de ensino básico e superior. CRISTINA TORDIN
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RESPEITO AO BEM-ESTAR
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Toda forma de treinamento, transporte e alojamento do animal deve respeitar as regras de seu bem-estar
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LÍCIA RUBINSTSEIN / TOSANA AGROPECUÁRIA
EQUIDEOCULTURA R ENAN T. DE O LIVEIRA E J OSÉ A NTONIO D ELFINO B ARBOSA F ILHO NÚCLEO DE ESTUDOS EM AMBIÊNCIA AGRÍCOLA E BEM-ESTAR ANIMAL NEAMBE — UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ - UFC
C
omo em todo tipo de produção animal atual — gado de corte, gado de leite, caprinos e ovinos, aves, suínos e peixes, ou até mesmo animais silvestres — busca-se o bem-estar e a ambiência dos animais. Na equideocultura, que compreende a criação de equinos, asininos e muares, também procura-se adequar a criação dos animais às leis de bem-estar e aos princípios da ambiência. Segundo a FEI (Federação Equestre Internacional), o bem-estar animal é de fundamental importância e não deve ser deixado de lado por qualquer lucro ou influências competitivas. Não se deve medir esforços para cumprir as leis de conduta da FEI, na qual todo animal deve ser tratado com a visão de que seu bem-estar precisa estar acima da vontade dos criadores e treinadores e além de qualquer motivo financeiro e/ou competitivo.
Regras Toda forma de treinamento, transporte e alojamento do animal deve respeitar as regras do bem-estar. Infelizmente, nem sempre é possível adequar-se a essas regras, mas deve-se sempre tentar chegar o mais próximo possível disso. Todo manejo e treinamento necessitam atender ao bem-estar, assim como o transporte e a alimentação. O treinamento deve considerar o equídeo como ser vivo e não é possível utilizar-se técnicas consideradas abusivas pela FEI. O transporte deve ser adequado ao animal, respeitando seu espaço e garantindo segurança, para evitar qualquer tipo de dano físico. O deslocamento deve ainda considerar provisões como água e forragem, a fim de evitar que o animal passe sede ou fome durante a viagem. O tempo de descanso durante a viagem precisa ser respeitado, com paradas a cada duas horas, se a viagem for muito longa. Os animais em mantença, ou seja, os que já não competem ou não são usados na reprodução, mas apenas para cavalgadas esporádicas ou no caso de estarem sendo mantidos na propriedade por serem de grande estima, também deverão ser tratados segundo as regras da FEI, proporcionando-lhes conforto ao final de suas vidas.
Soluções Grandes criadores de equídeos do mundo têm pesquisado soluções para a criação adequada de seus animais. No Brasil não é diferente, mesmo que ainda timidamente. Grandes haras nacionais estão investindo em climatização de ambientes, rações e água de altíssima qualidade, tudo para ter animais mais fortes, melhor adaptados e em condições de conforto nas regiões onde são criados, seja para finalidade de trabalho ou lazer. É importante frisar, também, que tais cuidados deverão se estender aos esportes equestres, uma vez que esses animais podem chegar a valores muito elevados. Medidas ambientais simples devem ser tomadas, sempre que possível, em prol da ambiência dos animais, tais como propiciar sombra nos piquetes de pastejo ou piquetes maternidade, evitando, assim, possíveis danos à saúde das éguas e potros. Caso não haja disponibilidade de sombra natural, recomenda-se providenciar estruturas de sombreamento artificial (tela sombrite) para os animais. A Lavoura NO 696/2013 29
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BUREAU COMUNICAÇÃO
EQUIDEOCULTURA Além de sombra, deve-se proteger o local de arraçoamento; investir em cercas fortes e que protejam, principalmente, os potros curiosos; destinar às éguas recém-paridas um piquete exclusivo; e, aos garanhões, destinar piquetes amplos ou baias amplas e arejadas. Se os animais forem colocados em baias, permitir um confinamento adequado, com baias bem dimensionadas e com boa entrada de luz e ventilação, providas de cama sempre limpa e com alturas corretas de cochos de água e comida e, sempre que possível, incluir alguma distração (enriquecimento ambiental) dentro das baias para evitar vícios comportamentais, tais como a aerofagia (vício de engolir ar).
Bem-estar no confinamento Com relação ao bem-estar de animais confinados, recomenda-se, ainda, destinar um período do dia, de preferência o de temperatura mais amena (manhã), para a execução de exercícios físicos, a fim de evitar problemas de estresse térmico e traumas. Atualmente, criadores de animais que competem em modalidades olímpicas estão se dedicando aos quesitos ambiência e bem-estar para que os animais tenham um ótimo desempenho nas provas disputadas. No Brasil, a equideocultura avança rápido e, na mesma velocidade, vem ocorrendo a expansão dos estudos de ambiência e bem-estar animal voltados a esse importante setor. Assim, o NEAMBE (Núcleo de Estudos em Ambiência Agrícola e Bem-estar Animal), em parceria com o GEPEq/UFC (Grupo de Estudos em Produção de Equídeos da Universidade Federal do Ceará), começa os estudos na área do bem-estar e ambiência na equideocultura, com pesquisas realizadas sob condições reais de criação e competição.
Criadores de animais que competem em modalidades olímpicas estão se dedicando à melhoria da ambiência e bem-estar para que os animais tenham ótimo desempenho nas provas
Práticas regionais RENAN T. DE OLIVEIRA
Quando não há sombra natural, é necessário haver uma estrutura que proporcione conforto térmico
No Nordeste, o setor equestre também vem apresentando crescimento, movido por práticas regionais tradicionais como a vaquejada, além da pecuária, atividade que ainda depende muito deste tipo de animal. Por se tratar de uma região com temperaturas elevadas praticamente o ano todo, o que certamente afeta o conforto e o bem-estar dos animais, torna-se necessário buscar soluções que sejam acessíveis aos criadores para que os animais possam estar bem e apresentarem o máximo do seu desempenho.
RENAN T. DE OLIVEIRA
Piquetes amplos devem proporcionar aos animais a prática de exercícios
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NOVAS CULTIVARES DE SOJA
Sinônimo de QUALIDADE e ESTABILIDADE
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ovas tecnologias, que beneficiamos agricultores e pecuaristas de Mato Grosso do Sul, acabam de ser lançadas. Entre elas estão as cultivares de soja da Embrapa BRS 239 e Embrapa 48 e também as variedades desenvolvidas em parceria com a Fundação Meridional: BRS 282, BRS 284, BRS 317, BRS 295RR, BRS 316RR, BRS 359RR e BRS 360RR.
Destaques Entre os materiais convencionais, as cultivares de soja BRS 283 e BRS 284 são indicadas para início de outubro. Para fechar a semeadura, são indicadas as BRS 239, BRS 282, BRS 317 e Embrapa 48, no fim de outubro e novembro. Entre as variedades não convencionais ou transgênicas, o destaque é a BRS 360RR. Essas são as primeiras cultivares de ciclo indeterminado da Embrapa para
Mato Grosso do Sul. O diferencial desses materiais, segundo o pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste, Carlos Lasaro Pereira de Melo, é a precocidade e a sanidade foliar e de raiz. “Essas cultivares permitem a semeadura no início de outubro, se as condições climáticas estiverem adequadas para o plantio”, explica.
SILVIA ZOCHE BORGES
As variedades lançadas devem atender às expectativas dos agricultores
Soja transgênica BRS 360RR apresenta boa sanidade e resistência ao nematoide
Oferta de sementes A BRS 360RR está em processo de multiplicação, realizada pelos instituidores da Fundação Meridional, com oferta de sementes aos produtores para a safra 2013/2014. O instituidor da Fundação Meridional, Irineu Cassol, de Laguna Carapã (MS), é um dos produtores de sementes da BRS 360RR e diz que a cultivar veio atender às expectativas dos agricultores. “O produtor pediu e a Embrapa e
a Fundação Meridional desenvolveram. Essa é a variedade que o produtor esperava”, diz Cassol, que é parceiro da Embrapa, multiplicando sementes de soja, trigo e aveia há cerca de 20 anos. Um dos destaques dessa variedade é sua resistência ao nematoide Meloidogyne reniformis, aliada à sua precocidade. SÍLVIA ZOCHE BORGES - CPAO EMBRAPA
Conheça algumas características das cultivares da Embrapa: Soja convencional
Soja transgênica
BRS 239 – semi-precoce de crescimento determinado, alto potencial produtivo, mesmo em áreas com os nematoides de galha Meloidogyne incognita e Meloidogyne javanica. Embrapa 48 – É um dos parentais da BRS 282. Possui boa estabilidade de produção. É um material de crescimento determinado, para ser semeado em novembro. BRS 282 – tipo de crescimento determinado, excelente potencial produtivo também em áreas com a presença de nematoides de galha Meloidogyne incognita e Meloidogyne javanica. BRS 284 – precoce de crescimento indeterminado, alto potencial produtivo também em áreas com a presença do nematoide de galha Meloidogyne javanica, com características para cultivos a partir de 10 de outubro. BRS 317 – tipo de crescimento determinado, alto potencial produtivo, principalmente nas regiões abaixo de 700 metros e também em áreas com a presença do nematoide de galha Meloidogyne incognita.
BRS 295RR – precoce de crescimento determinado, com ótima produtividade também em áreas com a presença de nematoide de cisto, raças 1 e 3. BRS 316RR – tipo de crescimento determinado, indicada especialmente para áreas com a presença de nematoides de galhas Meloidogyne incognita e Meloidogyne javanica. BRS 359RR – é resistente ao nematoide Meloidogyne reniformis, precoce de crescimento indeterminado e alto potencial produtivo também em áreas com altitudes acima de 600 metros. Semeadura antecipada, aliada à precocidade, favorece a melhor época da 2ª safra de milho. As sementes estarão sendo ofertadas a partir da safra 2013/2014. BRS 360RR – apresenta boa sanidade e resistência ao nematoide Meloidogyne reniformis. Possui crescimento indeterminado e alto potencial produtivo, com melhor desempenho em áreas com altitudes menores que 600 metros. Semeadura antecipada, aliada à precocidade, favorece a melhor época da segunda safra do milho safrinha. A Lavoura NO 696/2013 31
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CRISTINA BARAN
FLORICULTURA
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FLORICULTURA
ROSAS ganham produção integrada Como controlar, de forma sustentável, pragas e doenças nas roseiras
O
s maiores desafios enfrentados no cultivo da roseira estão relacionados com o controle de pragas e doenças, que podem depreciar os botões de rosa. Tecnologias estão sendo desenvolvidas para reduzir a aplicação de agrotóxicos e adubos através de estudos sobre o manejo integrado e controle biológico de pragas, doenças, adubação verde e adubos orgânicos, que podem ser produzidos pelo próprio produtor, no cultivo de rosas. O manejo de doenças e pragas em cultivo de rosas, por meio de técnicas de controle, devem ser feitas durante todo o ano, explicam os pesquisadores da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG).
Controle preventivo A partir de pesquisas desenvolvidas no Núcleo Tecnológico EPAMIG Floricultura, em São João del-Rei, estão em testes diversas tecnologias para controle preventivo das principais doenças da roseira, como oídio ou branco da roseira, míldio e mofo cinzento. Também estão sendo estudadas medidas de controle preventivo e alternativo de pragas, como ácaros, pulgões, tripes, moscas-brancas, besouros desfolhadores e lagartas. De acordo com a pesquisadora da EPAMIG, Elka Fabiana Almeida, em decorrência da preocupação com a saúde dos trabalhadores e com o meio ambiente, estão sendo reco-
mendadas técnicas preventivas, como a realização de tratos culturais adequados, o monitoramento de pragas e doenças, a utilização de agentes de controle biológico e o uso de extratos de plantas.
Oídio Para controle do oídio (doença em que o fungo infecta toda parte aérea da planta), por exemplo, é preciso podar as partes doentes e queimar o material. “O produtor deve aplicar, semanalmente, uma solução preventiva com bicarbonato de sódio a 0,1%”, explica Elka Almeida. Esse fungo afeta folhas e ramos. A pesquisadora recomenda ainda que o produtor evite roseiras muito adensadas e que mantenha o solo sempre livre dos restos da cultura, onde esse e outros fungos podem sobreviver e causar problemas no cultivo.
Monitoramento Para a pesquisadora da EPAMIG, Lívia de Carvalho, é necessária a realização de monitoramento semanalmente. “Essa avaliação ajuda na detecção dos picos populacionais das pragas e dos insetos benéficos (predadores e parasitoides), presentes no cultivo e pode proporcionar uma redução nos custos de tratamentos”, afirma. Lívia explica que há técnica simples e de baixo custo, como amos-
MARÍLIA ANDRADE LESSA
O experimento com roseiras em estufas da Epamig testa controles preventivos de pragas e doenças
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VERÔNICA LADEIRA
FLORICULTURA
ELKA ALMEIDA
Acima e ao lado duas técnicas para o controle do ácaro: a liberação de predadores naturais e a aplicação de jatos d’água e, abaixo, botões protegidos
bordas dos cultivos, próximas à entrada, ou nas aberturas de ventilação em casas de vegetação. “O uso de telas nas casas de vegetação pode prevenir infestação de pragas. Quanto mais fina a malha, maior a tendência de restringir o movimento de ar para dentro da casa de vegetação e evitar a entrada das pragas na área de cultivo”, disse.
Jatos d’água Uma técnica de fácil aplicação para controle de ácaros é a utilização de jatos de água diretamente na planta, visando removê-los das folhas e, também, proporcionar um microclima desfavorável ao seu desenvolvimento. Alguns produtos alternativos já estão disponíveis no mercado e sendo utilizados por produtores de rosas com bons resultados. O uso de ácaros predadores para controle do ácaro praga (Tetranychus urticae) é uma das possibilidades.
Pesquisas em rosas A rosa é a flor de corte mais produzida e apreciada no mundo. No Brasil, a cultura da roseira destaca-se com cerca de 180 milhões de hastes comercializadas por ano e Minas Gerais. É uma das maiores regiões produtoras do País: são 150 hectares de área plantada com roseiras, principalmente nas cidades de Andradas, Alfredo Vasconcelos e Barbacena.
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SAMANTHA MAPA
Produção Integrada
tragem de insetos na planta, através da utilização de armadilhas coloridas. As armadilhas de cor amarela são eficientes na captura de pulgões e moscas-brancas. Já as azuis, são melhores para a captura de tripes. As armadihas devem ser colocadas uma a cada 200 m², na altura do topo das plantas e em áreas de maior risco de infestação, como
A EPAMIG tem desenvolvido projetos de Produção Integrada de Rosas em Minas Gerais, principalmente na cidade de São João del-Rei. Os projetos são financiados por fontes fomentadoras estaduais (Fapemig) e federais (CNPq, Capes e Finep). Nos últimos quatros anos, foram implantados experimentos de pesquisas em floricultura que visam ao manejo sustentável do solo, ao controle alternativo de pragas, ao uso sustentável da água e à redução da adubação nitrogenada. Todos os projetos se encontram em desenvolvimento e os primeiros resultados dos experimentos (implantados em 2009), mostram que é possível o cultivo de rosas de forma sustentável.
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FLORICULTURA
Cores para o cinza invernal A alstroemeria, também conhecida como orquídea do campo, floresce durante o ano inteiro, sobretudo no inverno. Sua florada traz um colorido especial e dá charme à estação mais fria e cinzenta do ano
É
ROSAS REIJERS
ROSAS REIJERS
no inverno que a natureza repousa e a maioria das flores deixa de desabrochar. Mas, com a alstroemeria (também chamada de orquídea do campo) isso é diferente, pois a planta se beneficia bastante das baixas temperaturas da estação mais fria do ano, aumentando significativamente a produção. De acordo com engenheira agrônoma Camila Reijers, da Rosas Reijers, a alstroemeria tem um formato peculiar, com vários botões por haste e uma durabilidade surpreendente. “Bem cuidada, pode durar de três a quatro semanas no vaso. A recomendação é mantê-la em recipiente com água limpa, em local fresco com ventilação e luz indireta”, aconselha Camila. Excelente opção O inverno tende a ser uma estação sem cor, pois muitas plantas só voltam a florir próximo à primavera. Isto faz da alstroemeria uma excelente opção para decorar e dar um colorido diferente, pois são encontradas em diversas cores, Diferente das demais flores, a alstroemeria floresce também em tons laranja, rosa, vermelho, amarelo, pink no inverno e lilás. “As alstroemerias nascem durante o ano inteiro e, ao contrário de grande parte das flores, no inverno, brotam em maior número — explica a engenheira agrônoma. ciou o cultivo das alstroemeria no final de 2011 e, pelo forte potencial do modelo, já está ampliando a sua área Em alguns municípios de Minas Gerais, como Itapeva, de produção. por exemplo, onde há uma unidade da Rosas Reijers, o clima é bastante propício à produção dessa flor, devido Sobre a Rosas Reijers às altitudes e temperaturas mais baixas. A empresa iniCom duas fazendas em atividade (Itapeva, MG, e São Benedito, CE), a Rosas Reijers é considerada a maior produtora de rosas do país. São mais de 30 anos de atuação e mais de 50 tipos de rosas, em diversas cores, formas, perfumes, tamanhos etc. No total, são 45 hectares de área produtiva, que abastecem todo o território nacional, incluindo a exportação para a Holanda. As rosas são cultivadas em sistema de substrato e no pico da safra são colhidos aproximadamente 170 mil botões ao dia. A Rosas Reijers é certificada pela MPS - Método de Produção Sustentável — com 98,8 pontos — a maior nota entre 4.100 produtores inscritos em todo o mundo (50 países). Pertence ao Grupo Reijers, que tem ainda outras fazendas em Andradas (MG), Holambra (SP), e Ubajara (CE).
A orquídea do campo tem formato peculiar e durabilidade surpreendente
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CARNE
Brasileiro aprova carne de cordeiro
Animais abatidos até os oito meses têm carne mais saborosa
Mercado será um dos destaques em uma feira de negócios voltada à cadeia produtiva da carne, em São Paulo
O
simples hábito em consumir carne de cordeiro pode colocar a ovinocultura em posição de destaque no agronegócio. É cada vez mais comum ver famílias apreciando cortes nobres em bons restaurantes, mas o volume de animais nos pastos brasileiros ainda é insuficiente para tamanha demanda. Se de um lado a produção é escassa, do outro, o momento é oportuno para investir numa atividade de rápido retorno financeiro. Este é um dos temas da Feinco Preview, que ocorre entre 17 e 21 de junho, durante a Feicorte — Feira Internacional da Cadeia Produtiva da Carne, na capital paulista. “A criação de ovinos de corte nunca foi tão promissora
como é agora. Os preços se mantiveram elevados nos últimos três anos e deve continuar assim pelos próximos. Hoje, aquele produtor que se apoia na genética e outras tecnologias já consegue produzir um cordeiro mais precoce e receber mais de R$ 13,00 por quilo de carcaça. É quase quatro vezes mais do que recebia até pouco tempo”, avalia Décio Ribeiro dos Santos, produtor e presidente do Agrocentro Feiras & Exposições, promotora da Feinco Preview.
Gosto brasileiro Faz pouco tempo que a carne de cordeiro caiu no gosto do brasileiro, mas um padrão de produto ideal já foi dese-
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FOTOS: PEC PRESS P- IMPRENSA AGROPECUÁRIA
nhado pelo consumidor e pela indústria. Antes, muitas pessoas tinham certo preconceito, porque, comumente, o que chegava à mesa era uma carne proveniente de animais velhos, de três ou quatro anos, fator de grande impacto no sabor. “Depois dos oito meses de idade os animais atingem maturidade sexual, acarretando uma descarga de hormônios que influenciam no paladar da carne”, explica Ribeiro. Mesmo sem escala comercial, a ovinocultura já se organiza em torno da cadeia produtiva para deixar de produzir carne de carneiro — que antes seguia para o consumo — para fornecer carne de cordeiro, proveniente de animais abatidos com, no máximo, oito meses de idade, pesando em torno de 35 e 40 kg de peso vivo, e com alto rendimento de carcaça. Segundo Paulo Oliva Giassetti, patrocinador da Feinco Preview e proprietário do Frigorífico DiPaulo, em Jundiaí (SP), antes os produtores estavam desanimados com os preços praticados pela indústria, que eram baixos, devido à falta de qualidade na entrega dos animais, fator que, inclusive, culminou no abandono da atividade por alguns criadores. “Atualmente, podemos afirmar que houve uma renovação nos pastos brasileiros, com o destarte de animais de índole duvidosa e ruim. Nos últimos anos, especialmente em 2012, com o bom acervo genético e tecnologias, os produtores que continuaram passaram a se especializar para conseguir melhores rendimentos em seus rebanhos, principalmente em relação à precocidade”, diz o empresário.
Verticalização Com essa verticalização, a indústria começou a remunerar melhor o produtor, na intenção estimular a entrega de animais de melhor rendimento e que atendessem as premissas do consumidor. Paulo Giassetti explica que, há três anos, a média de rendimento de carcaça em sua unidade chegava à 45%, percentual que saltou para 50% atualmente. “Já tem produtor que fornece animais com rendimento de até 58%, sinal evidente dos avanços no setor. Essas médias permitem expor um produto nobre ao consumidor, fazendo girar a economia do setor”, avalia. O negócio vem prosperando a tal ponto que a DiPaulo está bonificando quem entregar cordeiros de até oito meses com rendimento de carcaça superior a 50%. Neste caso, o produtor recebe R$ 12,70 pelo quilo de carcaça, mais um ágio de 4,5% (total de R$ 13,27). Dessa iniciativa pioneira, nasce um embrião para um pos-
Carcaça do cordeiro precoce alcança melhor preço
sível modelo de tipificação na ovinocultura brasileira, que será presenciado pelos participantes do Concurso de Carcaças Ovinas, um dos destaques da Feinco Preview. Pelas contas, quem produz uma carcaça com 15 quilos de aproveitamento receberá quase R$ 200,00, mais que dobro da arroba do boi gordo. Essa é uma prova que a ovinocultura começa a ganhar forma e que o produtor passa a enxergá-la com outros olhos.
Autossuficiência Na visão de Paulo Franzine, presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Dorper (ABCDorper) e um dos promotores da Feinco Preview, ainda nos próximos 10 anos o país não será autossuficiente em produção e continuará dependendo do mercado externo para atender parte da demanda. Para ele, uma grande aposta está no consórcio com a criação de bovinos, que são muito parecidos em sua estrutura funcional. “Ambos são ruminantes, consomem o mesmo alimento, o mesmo sal, mas exigem um pouco mais no manejo”, explica. E quando os números são colocados na mesa, não há como duvidar da rentabilidade da ovinocultura. A gestação de uma vaca dura nove meses e, aos 145 dias, o borrego já está ao pé da ovelha. A desmama do bezerro dura seis meses, enquanto o borrego já pode rodar no cocho e ser rotacionado aos 60 dias de vida, exigindo apenas mais 60 dias para ser abatido. Na bovinocultura, com o alto emprego de tecnologia, o animal só atingirá o ponto de abate aos 24 meses de idade. “O pecuarista pode começar de forma modesta, utilizando uma parte ociosa da propriedade. No mesmo hectare onde caberiam apenas dois bois cabem 40 ovelhas em pastejo rotacionado. O custo de produção é um pouco maior, mas os ganhos são incríveis. Enquanto a indústria paga algo em torno de R$ 90,00 por uma arroba de boi gordo, a do cordeiro está cotada em R$ 150,00. Para se chegar ao peso de um boi terminado, são necessários de 12 a 15 cordeiros”, avalia Franzine.
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CANA-DE-AÇÚCAR
Sistema muda conceito de plantio Dentre os benefícios do sistema inédito, desenvolvido pelo IAC, estão redução do número de mudas e possibilidade de aumento dos ganhos do produtor
U
m sistema inédito que mudará o conceito de plantar cana-de-açúcar foi desenvolvido pelo Instituto Agronômico (IAC), de Campinas. O sistema de Mudas PréBrotadas (MPB) de cana é uma tecnologia de multiplicação que poderá contribuir para a produção rápida de mudas, associando elevado padrão de fitossanidade, vigor e uniformidade de plantio. Outro grande benefício está na redução da quantidade de mudas que vai a campo. Para o plantio de um hectare de cana, o consumo de mudas cai de 18 a 20 toneladas, no plantio convencional, para 2 toneladas no MPB. “Isso significa que 18 toneladas que seriam enterradas como mudas irão para a indústria produzir álcool e açúcar, gerando ganhos”, explica Mauro Alexandre Xavier, pesquisador do IAC, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. A nova tecnologia, desenvolvida pelo Programa Cana do IAC, pretende aumentar a eficiência e os ganhos econômicos na implantação de viveiros, replantio de áreas comerciais e, possivelmente, renovação e expansão de áreas de canade-açúcar. “Trata-se de um novo conceito no método de multiplicação da cana-de-açúcar, reduzindo volume e levando para o campo, efetivamente, uma planta”, diz Xavier, integrante do Programa Cana IAC.
Mudando conceitos O MPB muda o conceito de multiplicação de mudas. Até então é usado o sistema convencional, adotado desde a chegada das primeiras canas ao Brasil, por volta de 1.530.
“No convencional, abre-se o sulco e coloca-se colmo-semente dentro. Agora propomos colocar a planta”, afirma. A tecnologia do MPB permite mudar a forma de produção de mudas. No lugar dos colmos como sementes, entram as mudas pré-brotadas — que são produzidas a partir de cortes de canas — chamados minirrebolos, onde estão as gemas. Depois, passam por uma seleção visual e são tratados com fungicida. São colocados em caixas de brotação, com temperatura e umidade controlada, e, ao final, inseridas em tubetes que passam por duas fases de aclimatação. O ciclo completo leva 60 dias. “As falhas ocorridas nas áreas de plantios decorrem da falta de uniformidade de diversos fatores do sistema atual. Muitas vezes deve-se ao uso excessivo de mudas que brotam e acabam competindo por água luz e nutrientes”, explica o pesquisador do IAC. “Já o novo método” — continua — “aumenta a uniformidade nas linhas de plantio e, consequentemente, reduz as falhas”.
Formação de viveiros O sistema envolve a formação de viveiros para multiplicação rápida de novos materiais de cana. É um método simples que pode ser adotado por pequenos produtores e associações, não ficando restrito às usinas. De acordo com o pesquisador do IAC, o MPB restaura os benefícios da formação de mudas em viveiros, procedimento que fora praticamente esquecido com o boom do setor, apesar de gerar benefícios como aspectos fitossanitários da planta.
MAURO ALEXANDRE XAVIER - IAC
Vantagens Dentre as principais vantagens do sistema estão o menor volume de mudas a ser transportado para o campo de plantio e o grande salto na qualidade fitossanitária das mudas. O MPB está sendo adotado em várias regiões brasileiras. “Pela simplicidade do método e suas variações, está bem distribuído, tendo chegado a Goiás e região Central de São Paulo. Muitos produtores de inúmeros Estados deverão adotar o método no curto e médio prazo”, diz o pesquisador do IAC. O MPB contribui para reduzir as ocor-
O Sistema de Mudas Pré-Brotadas (MPB) acelera a produção, além de agregar alto padrão de fitossanidade, vigor e uniformidade de plantio
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MAURO ALEXANDRE XAVIER - IAC
Com a nova tecnologia, usa-se apenas cerca de 10% da quantidade de mudas por hectare do sistema convencional
rências de pragas e doenças na implantação do canavial por usar mudas sadias. “Desde 2009, o Programa Cana IAC optou por não entregar mais colmos “semente” para multiplicação e instalação de sua rede experimental. Desde então, vem desenvolvendo o sistema MPB”, afirma Xavier. A tecnologia surgiu da necessidade de entregar um material não convencional de colmos, para tentar evitar a disseminação do Sphenophorus levis, uma importante praga da cana-de-açúcar. Até meados da década de 1980, o besouro Sphenophorus Levis estava restrito à região de Piracicaba, mas, atualmente é observado em praticamente todo o Estado de São Paulo, Minas Gerais e norte do Paraná. É muito provável que esta praga também já esteja em Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, embora ainda não haja registros de ocorrência. As preocupações se justificam porque as larvas causam acentuada destruição das soqueiras, provocando redução de produtividade e de longevidade do canavial. Ainda dentre os benefícios do sistema, destaca-se o uso de maquinários. A plantadeira em uso no MPB é muito mais
barata que as utilizadas no sistema convencional, há produtores usando máquinas que plantam eucalipto. É possível que esse novo sistema estimule a movimentação na indústria para desenvolvimento de máquina específica e compatível ao MPB.
Ganho econômico O MPB permite alcançar aumento de eficiência e ganho econômico na implantação de viveiros, replantio de áreas comerciais e expansão e renovação de áreas plantadas de cana-de-açúcar. Entretanto, para a implantação do sistema em grande escala é necessário o esforço e cooperação entre instituições de pesquisa de melhoramento genético, fitotecnia e mecanização para a plena viabilização do plantio em área comercial. “Deveria haver um esforço na formação de uma grande rede de experimentação que possa desenvolver um pacote fitotécnico que gere sustentabilidade para esse novo método de plantio de cana-de-açúcar”, considera o pesquisador do IAC. CARLA GOMES – ASSESSORA DE IMPRENSA – IAC
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Carta da S O B R A P A
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Biodiversidade em grave crise U
m dos maiores problemas ambientais causados pelas ações humanas é a acelerada redução do número de espécies existentes, resultantes de um antiquíssimo processo evolutivo. Pelo que sabemos, formas muito primitivas de vida já existiam há pelo menos três bilhões de anos, mas os organismos mais complexos só surgiram há algo como 600 milhões de anos, passando por autêntica explosão de biodiversidade 50 milhões de anos mais tarde e, desde então, a vida tem evoluído e se diversificado através dos tempos, até os dias atuais. Esse quadro, desvendado como resultado de pesquisas geológicas e paleontológicas, evidencia-nos as linhas gerais do extraordinário espetáculo da história da vida, da qual nós, seres humanos, fazemos parte. Sua revelação foi um dos mais espetaculares feitos da mente humana. Ao longo dos tempos, as espécies surgiram e desapareceram, as que se extinguiram substituídas por outras delas descendentes, demonstrando uma tendência geral de aumento de biodiversidade. Não obstante, esta tendência não foi constante, exibindo sempre períodos de acréscimos e de diminuição. Épocas houve em que, devido a fenômenos climáticos e geológicos excepcionais, e mesmo a impactos de corpos celestes de avantajadas dimensões, os eventos de extinção se acentuaram brutalmente. Nos últimos 500 milhões de anos são reconhecidos pelo menos cinco desses episódios particularmente devastadores, denominados “extinções em massa” pelos estudiosos da história da vida. Após todos eles, contudo, dentro de alguns milhões de anos, a biodiversidade foi recomposta por novas espécies geradas pela evolução daquelas sobreviventes ao cataclismo biológico. O mais intenso desses episódios, ocorrido há 250 milhões de anos, extinguiu entre 70% a 90% de toda a vida na Terra. Hoje, vem sendo evidenciado que vivemos uma sexta extinção em massa, desta vez causada por uma só espécie: o homem. A diferença das demais é a sua velocidade, muitíssimas vezes mais acelerada. Enquanto as outras se arrastaram durante muitos milhares ou milhões de anos, a atual vem ocorrendo em apenas poucos séculos, e está em aceleração acentuada. As causas dessa hecatombe biológica atual são múltiplas, mas, basicamente, se resumem à explosão demográfica humana e suas consequências, com a ocupação e destruição dos ecossistemas naturais decorrentes da agropecuária, construção de cidades e estradas, e demais atividades impactantes, além da exploração ambiciosa e descontrolada dos recursos naturais de toda
ordem. Basta lembrar que a espécie humana – Homo sapiens – levou cerca de 200.000 anos, desde sua origem na África, segundo ensinam os conhecimentos atuais, para alcançar 1,5 bilhões de seres no início do Século XX, e em apenas pouco mais de um século atingiu os sete bilhões de hoje, com a perspectiva de crescer mais três bilhões até o fim deste século. É evidente que estamos ocupando aceleradamente os espaços vitais dos demais seres vivos, destruindo seus ambientes naturais, e explorando-os sem quaisquer considerações com o futuro. Por tais razões, uma avaliação científica terminada em 2010, estudando a situação dos seres vivos que puderam ser quantificados, levou à conclusão que estão em processo de extinção 21% dos mamíferos, 12% das aves, 28% dos répteis, 30% dos anfíbios e, surpreendentemente, nada menos do que 71% das plantas, com a situação tendendo ainda a agravar-se. Enquanto o tamanho da população humana é medida em bilhões de indivíduos, as de muitos animais, principalmente os de grande porte, o são em poucos milhares e, mesmo, centenas ou apenas dezenas. Claro está que todos esses seres se avizinham rapidamente da extinção. Um enorme número de espécies sofre com seus hábitats repetidamente fragmentados, e estes fragmentos não cessam de reduzir. E o mesmo acontece com as populações de plantas e animais neles existentes. Se as tendências atuais forem mantidas, a biodiversidade em futuro não distante tornar-se-á profundamente reduzida. E como será possível inverter tais tendências ou, pelo menos, atenuá-las? Acima de tudo, propiciando ampla conscientização de todos que nós também fazemos parte da natureza e que dela dependemos pelos seus serviços ambientais; e, ainda, reconhecendo que não é ético eliminarmos a diversidade dos demais seres vivos. Além dessa medida essencial, é indispensável estabelecer áreas naturais, em terra e no mar, nas quais se mantenha o mínimo possível de influência humana direta. Em conferência internacional havida em 2010, foi recomendado que, para este fim, fossem cuidadosamente reservados 17% de todas as áreas terrestres e 10% das marinhas. E, além de tudo isso, é fundamental reconhecermos que não somos a última geração e que devemos às futuras a herança de um planeta tão íntegro quanto possível, pelo menos tanto quanto o recebemos de nossos antepassados.
Ibsen de Gusmão Câmara Presidente
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SOBRAPA
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Citações “Negar que o aquecimento global está sendo causado pelo homem é apenas uma tolice. A mudança climática não é mais uma questão de conjectura, é a ameaça mais séria que a humanidade já enfrentou.” Esta afirmação categórica foi feita pelo Dr. Peter Raven, conceituado cientista norte-americano, botânico, conservacionista e Diretor do Jardim Botânico de Missouri.
Natureza em Perigo As borboletas do gênero Parides, sem nomes populares conhecidos, têm várias espécies ameaçadas de extinção, todas reconhecidas apenas em áreas restritas espalhadas pelo território nacional. A espécie mais mencionada é Parides ascanius, justamente porque habita somente as matas de restinga paludosa do estado do Rio de Janeiro e do extremo sul do Espírito Santo, em populações aparentemente descontínuas. É uma bela borboleta de tamanho médio, com coloração preta, ostentando em suas asas uma larga faixa branca e, nas posteriores, de contornos ondulados, algumas manchas vermelhas. As larvas, ao que se sabe, alimentam-se apenas de uma espécie de planta – Aristolochia macroura – o que lhe aumenta a vulnerabilidade. Não se sabe se sua distribuição atual é igual à pretérita, mas ainda pode ser encontrada em algumas localidades junto às praias da cidade do Rio de Janeiro, onde a vegetação nativa foi preservada. A principal ameaça a que está sujeita é a destruição de seu hábitat. Sua presença já foi constatada na Reserva Biológica de Poço das Antas (RJ). Existe também nas criações em borboletários.
Nova e grave ameaça ronda o Parque Nacional do Iguaçu O magnífico Parque Nacional do Iguaçu, com área de 185.262 km 2, foi proposto pela primeira vez por Santos Dumont, em 1916, e finalmente decretado em 1939. É uma das poucas áreas remanescentes das florestas estacionais semideciduais e de araucária da Mata Atlântica sulina, e foi considerado Patrimônio Mundial da Humanidade pela UNESCO pela sua excepcional importância e beleza. Contudo, essa jóia da natureza encontra-se uma vez mais ameaçada de mutilação devido ao irresponsável Projeto de Lei Nº 7123/ 2010, de autoria do Deputado Federal Assis do Couto (PT- PR) que, objetivando claramente interesses eleitoreiros, propôs alterar a Lei n. 9985/2000, pela qual foi criado o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), uma das grandes conquistas da Conservação no País. Visando, na verdade, ressuscitar a antiga e sempre recorrente tentativa de ligar as comunidades de Capanema e Medianeira, situadas em lados opostos do Parque, cortando-o por uma estrada. Para isto, o projeto de lei pretende criar uma nova categoria de unidade de conservação denominada “estrada parque”, cujo conceito na realidade é simplesmente uma estrada dentro de uma área preservada.
A idéia da citada estrada começou com um caminho de aproximadamente 18 km dentro do Parque, sendo transformada em uma estrada carroçável em 1959, onze anos após a sua abertura inicial. Evidentemente nociva a essa unidade de conservação, o Ministério Público Federal a fechou em 1996, mas os habitantes das comunidades próximas a invadiram ilegalmente com tratores e outras máquinas de terraplanagem em 1997, destruindo a mata em formação. Neste mesmo ano, uma juíza federal julgou ilegal a invasão e a estrada foi novamente fechada, encontrando-se hoje a mata completamente regenerada. A Constituição Federal prevê em seu Artigo 225, Inciso III, incumbir ao Poder Público “definir em todas as unidades da Federação, espaços territoriais a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção” (o grifo é nosso). Obviamente, pelo próprio sentido desse inciso, a Constituição só justifica qualquer alteração nesses espaços em situações excepcionais. No caso do Parque Nacional do Iguaçu, a última grande área com florestas no oeste do Paraná, ele merece ser preservado cuidadosamente, inclusive devido à sua condição de Patrimônio Mundial da Humanidade. Não obstante, o Deputado, sob o evidente pretexto de criar uma nova categoria de unidade de conservação totalmente inútil, na realidade apenas pretendeu atender a um pleito regional sem qualquer importância econômica – mas que lhe renderá ganhos políticos – e que prejudicará enormemente essa importantíssima área protegida, incluída no grupo de Unidades de Proteção Integral, de acordo com o SNUC, justamente para garantir sua intocabilidade. Qualquer estrada dentro de uma unidade de proteção integral tem consequências trágicas para a fauna local, como vem sendo fartamente constatado pelas inúmeras mortes de animais atropelados, fato sobejamente conhecido por todos os que têm contato com essas áreas preservadas. A título de exemplo, no Taim (RS), somente em um ano foram mortos atropelados 743 animais. No caso do Iguaçu, além deste problema, a estrada facilitaria a caça furtiva, a extração ilegal de madeira e o assalto dos palmiteiros. No período em que a estrada permaneceu aberta eram claramente visíveis as trilhas de caçadores em ambos os lados da via. Se esse projeto eleitoreiro for aprovado significará não somente um desastre ecológico para o Parque, mas também abrirá um precedente perigosíssimo para todas as demais áreas preservadas do País, debilitando sem qualquer dúvida o se pretendeu estabelecer com o citado inciso da Constituição.
E também há ameaças ao Pantanal No ciclo de conferências de 2013, realizado pelo Programa Biota FAPESP, foi denunciado o projeto de construção de 87 Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) nas cabeceiras dos rios do Pantanal. Tal projeto, ora em discussão, constitui séria A Lavoura NO 696/2013 41
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SOBRAPA
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ameaça à hidrologia complexa do Pantanal, região considerada pela Constituição Federal um Patrimônio Nacional. As 30 PCHs já existentes, embora adotem o sistema “fio d’água”, já causam alguns impactos na região do Alto Paraná, mas a construção de mais 87 poderá causar dano considerável à Bacia. O Pantanal é uma das áreas úmidas mais ricas quanto à diversidade de peixes, tendo as últimas pesquisas já identificado 269 diferentes espécies. As PCHs impactam a conectividade dos rios, o regime de cheias e as migrações durante as piracemas e, indiretamente, a pujante fauna local de mamíferos, aves e répteis, fortemente dependente da abundância de peixes. Durante as suas migrações, alguns deles, como o dourado (Salmus brasiliensis) e o curimbatá (Prochilodus lineatus), sobem os rios até suas nascentes para desovar, migração que é impossibilitada pela existência de barragens. Das espécies ameaçadas existentes no Brasil, nada menos de 188 são encontradas no Pantanal. Aparentemente, nenhuma delas está diretamente ameaçada pela pecuária, mas a segunda mais importante atividade econômica da região, a pesca, pode impactar gravemente algumas espécies de peixes. Somente 5% do bioma Pantanal estão protegidos em unidades de conservação, havendo evidente necessidade de ampliar esse percentual. O Programa Biota Mato-grossense, que começou a ser implementado há três anos, pretende ampliar os estudos da fauna e da flora locais, para preencher as lacunas no conhecimento e formar coleções científicas, permitindo assim estabelecer um acervo de informações sobre a biodiversidade regional. (Fonte: Sociedade Brasileira de Silvicultura).
Os combustíveis fósseis ainda representam a maior parte do suprimento mundial de energia Segundo o relatório Energy Vision 2013 – Energy Transitions Past and Future (Visão da Energia 2013 – Transições Energéticas no Passado e Futuro, em tradução livre), apresentado pelo Fórum Econômico Mundial e divulgado em março deste ano em Houston, EUA, o uso do carvão mineral, no que pese seus efeitos maléficos quanto ao problema climático, cresceu dez vezes mais nos 12 primeiros anos deste século do que o do petróleo, e três vezes mais em relação ao do gás natural. O mesmo relatório atribuiu esse resultado à demanda dos países em desenvolvimento, em função das suas necessidades de crescimento. As fontes energéticas renováveis – energia solar, eólica, geotérmica e outras – geraram apenas 1,6% da demanda mundial, e a nuclear, 5%, enquanto coube aos combustíveis fósseis, ou seja, carvão mineral, petróleo e gás natural, nada menos do que 87%. Foram estes combustíveis que viabilizaram a revolução industrial, no Século XIX, e continuam imprescindíveis no mundo moderno. O grande problema em substituí-los é como atender às necessidades de 1,3 bilhão de pessoas que ainda não desfrutam de suprimento de energia amplo e em bases modernas e renováveis.
Comércio ilegal ameaça espécies em todo mundo O comércio ilícito de espécies da vida selvagem e de seus produtos é a maior ameaça para algumas das espécies mais carismáticas e ecologicamente importantes. Nos últimos tempos, essas atividades tiveram um aumento devastador. O impressionante número de 668 rinocerontes quantifica os que foram abatidos no sul da África somente em 2012, unicamente para a extração de seus chifres, e dezenas de milhares de elefantes tiveram a mesma sorte, com vistas à comercialização de marfim. A maior parte desse butim é orientada para a Ásia, para confecção de artesanato destinado à venda aos turistas, ou para o preparo de medicamentos sem nenhum efeito verdadeiro. Lamentavelmente, os responsáveis por tais ações raramente são punidos. No Brasil, o comércio ilegal é também sério. Avalia-se que 38 milhões de animais selvagens são a cada ano retirados de seus hábitats naturais e que somente quatro milhões deles sobrevivem e chegam a ser vendidos, principalmente na Região Sudeste, onde se concentra o maior número de compradores. Os demais terminam seus dias engaiolados, são libertados em locais inadequados, fora de seus ambientes naturais, ou simplesmente morrem em grande número em razão do tratamento incorreto que recebem após a captura. Capturar e vender animais selvagens são atos ilegais no Brasil, mas, não obstante, a prática existe em todo o País devido às dificuldades de fiscalização ou por negligência. As maiores vítimas são as aves de canto e aquelas mais vistosas, que são as preferidas pelos comerciantes e compradores. (Fonte: WWF – Noticiário Cerrado Pantanal, fev/12).
Projeto Quelônios Para Sempre Uma iniciativa da Universidade Federal do Pará (UFPA), Campus de Altamira, com o apoio da Secretaria de Meio Ambiente e Turismo de Senador José Porfírio e do WWF-Brasil, foi iniciada em dezembro de 2011, visando à proteção dos quelônios fluviais da Amazônia das espécies tartaruga-daamazônia (Podocnemis expansa), tracajá (Podocnemis unifilis) e pitiú (Podocnemis sextuberculata). O projeto tem como componentes principais o monitoramento, a proteção e a preservação dessas tartarugas, bem como a pesquisa sobre sua ecologia e a promoção de alternativas para um uso sustentável. O uso não sustentável dessas espécies e de seus ovos para consumo humano têm sido tradicional na região, o que as levou a decréscimo populacional acentuado em amplas regiões da Amazônia. Desde seu início, o projeto tem efetuado atividades de educação ambiental nos “tabuleiros” de postura. Só em 2011 foram contados e monitorados 11.786 ninhos, cada um tendo em média 90 ovos, e mais de um milhão de filhotes de P. expansa tiveram o nascimento também monitorado. As tartarugas desta espécie, a de maior tamanho, podem depositar até 120 ovos por ninho. Apesar desses números enormes, o percentual de sobrevivência é relativamente baixo devido a causas naturais, e isto faz parte da ecologia desses animais.
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SOBRAPA
S O C I E D A D E B R A S I L E I R A D E P R O T E Ç Ã O A M B I E N TAL
A época de desova acontece normalmente entre setembro e novembro, período em que as tartarugas aproveitam as praias fluviais formadas na época de seca na região, e a eclosão dos ovos acontece, depois de aproximadamente dois meses. Projetos desse tipo poderão preservar para sempre essas espécies e ao mesmo tempo viabilizar seu uso sustentável desde que seja mantido controle permanente. (Fonte: Revista Panda Brasil - WWF-Brasil)
Os agrotóxicos podem ser benéficos à fauna de invertebrados? Ao longo das últimas duas décadas, vastas áreas de culturas transgênicas produzindo as proteínas inseticidas da bactéria Bacillus thuringiensis (Bt) têm auxiliado no controle de diversos insetos daninhos e reduzido a necessidade de pulverizações com outros inseticidas. É sabido que os inseticidas de amplo espectro matam também os artrópodes que são inimigos naturais das pragas, fazendo seu controle biológico, e a redução do uso desnecessário destas substâncias em pulverizações nas culturas transgênicas daquele tipo deveriam realçar o efeito do controle biológico natural. Não obstante, esse raciocínio lógico não havia ainda sido testado em larga escala e por longo prazo. Agora, com base em observações efetuadas em 16 diferentes locais no norte da China, constatou-se sensível acréscimo das aranhas, joaninhas e outros artrópodes predadores e um decréscimo na abundância de algumas pragas onde acontecem amplos plantios de algodão transgênico com Bt. Observou-se ainda a ocorrência de maior controle biológico natural nos plantios de milho, soja e amendoim nas vizinhanças desses algodoais transgênicos. Estas experiências comprovaram que plantios com transgênicos usando Bt podem promover controle biológico em amplas regiões cultivadas vizinhas. (Fonte: Nature, 19-07-2012)
Efeito inesperado da redução de emissões na Amazônia Entre os anos de 2004 e 2011, houve acentuada redução dos desmatamentos na Amazônia, equivalente a 21.354 km2, sendo desta forma esperado um declínio correspondente das emissões totais de CO2, calculado em 802 milhões de toneladas e cuja maior fonte no Brasil é justamente a destruição das florestas. No entanto, usando-se um modelo mais preciso, verificouse de fato uma redução muito menor do que a calculada pelo modelo utilizado, o que somente pode ser atribuído à demora na queima das árvores abatidas e ao apodrecimento lento das raízes que permaneceram no solo. Essa constatação indica que será necessário desenvolver métodos mais apurados para avaliar o real impacto do desmatamento e, consequentemente, da agricultura na região.
Alteração na distribuição da vegetação devido às mudanças de clima Mudanças na distribuição da vegetação devido às alterações de temperatura e pluviosidade, em função das alterações de clima, constituem uma decorrência lógica, uma vez que tais fatores são fundamentais para o tipo, as espécies e a quantidade de vegetação natural da Terra. Estudos realizados em universidades européias, com base em observações de satélites, mostraram que isto de fato já está acontecendo, como também ocorreu nos eventos de mudanças climáticas ocorridos naturalmente no passado. Há, por exemplo, sólidas evidências de que grandes áreas do atual deserto do Saara há alguns milênios já foram férteis, com abundante vegetação, e o norte da África permitia fartas colheitas. Também a Groenlândia, cujo nome deriva na verdade da denominação “Terra Verde”, hoje coberta de geleiras e com vegetação muito escassa, já permitiu a existência de uma significativa colônia viking em tempos mais amenos. Os citados estudos indicaram que 54% das alterações por eles agora detectadas devem ser atribuídas às mudanças climáticas e apenas um terço delas às ações humanas diretas, havendo incerteza em apenas 10%. Verificou-se que a vegetação aumentou ao norte do Equador e diminuiu no Hemisfério Sul. Devido ao aquecimento do Ártico, algumas partes da Groenlândia estão se tornando mais verdes. Ao sul do Sahel, partes da África Central, incluído Zimbábue e Tanzânia, são as regiões mais afetadas pelo ressecamento. (Fonte: Climate News Network).
SOBRAPA Sociedade Brasileira de Proteção Ambiental CONSELHO DIRETOR PRESIDENTE Ibsen de Gusmão Câmara DIRETORES Maria Colares Felipe da Conceição Olympio Faissol Pinto Cecília Beatriz Veiga Soares Malena Barreto Flávio Miragaia Perri Elton Leme Filho CONSELHO FISCAL Luiz Carlos dos Santos Ricardo Cravo Albin SUPLENTES Jonathas do Rego Monteiro Luiz Felipe Carvalho Pedro Augusto Graña Drummond
(Fonte: Nature, 30-08-2012)
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MORANGO ORGÂNICO
Ao alcance das mãos Plasticultura ao alcance das mãos, facilitando o plantio e o manejo, e mudas produzidas pelos próprios produtores, viabilizando a antecipação do plantio e da colheita, são alternativas tecnológicas para a produção de morango no Rio Grande do Sul DEISE FROELICH - EMATER/RS
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O manejo das plantas ao alcance das mãos é mais confortável para o agricultor
ENIO TODESCHINI- EMATER/RS-ASCAR
m novo sistema para o cultivo de morangos orgânicos em plásticos, desenvolvido pela Emater/RS-Ascar, vem proporcionando melhor qualidade de vida aos produtores, uma vez que os substratos e as mudas acomodadas em saco plástico são colocados em estruturas com altura que facilita o manejo. Segundo o engenheiro agrônomo e extensionista Leandro Seger, uma das justificativas para a adoção do sistema é a possibilidade de elevar os sacos plásticos a uma altura em que o agricultor não precisa mais se abaixar, reduzindo a penosidade do trabalho. “Isso também gera interesse de outros integrantes da família em auxiliar na atividade”, destaca.
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Outro benefício do sistema está relacionado à sanidade da planta. “A cultura do morango geralmente é suscetível a doenças. Quando identificado o problema nas mudas, pode-se manejar especificamente o saco daquela planta”, explica o extensionista, acrescentando que, de todo modo, é aconselhável proteger a cultura com estufa ou telado.
ENIO TODESCHINI- EMATER/RS-ASCAR
MORANGO ORGÂNICO
Sistema de irrigação Para atender às necessidades da planta, é sugerido o sistema de irrigação por gotejamento e fertirrigação. Na mesma estrutura em que é conduzida a água, pode ser utilizado um fertilizante líquido à base de esterco de galinha. “A proposta é potencializar o aproveitamento dos fertilizantes e, ao mesmo tempo, suprir a demanda de água da planta. O cultivo orgânico já apresenta produção de um quilo de morango por pé, com baixo custo”, enfatiza Seger.
O plantio em substrato permite uma densidade de plantas três vezes maior
Nova técnica reduz até 80% aplicação de agroquímicos
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s produtores de morango iniciaram, em abril, o plantio da nova safra no Rio Grande do Sul. Conforme informações do engenheiro agrônomo da Emater/RS-Ascar, Enio Ângelo Todeschini, a implantação das primeiras áreas tem-se dado por meio de mudas produzidas em estufas pelos próprios moranguicultores. “É uma técnica que permite antecipar o plantio e a colheita, além de garantir a qualidade da muda e otimizar o custo”, afirma Todeschini. Os bons resultados obtidos na safra passada, tanto em termos econômicos, quanto produtivos, especialmente em ambientes protegidos e nos cultivos em substrato, têm estimulado os produtores a investirem na cultura, sendo grande a procura por mudas importadas, normalmente provenientes do Chile e da Argentina.
Mudas cultivadas Levantamento realizado pela Emater/RS-Ascar indica que o Rio Grande do Sul possui uma área de 540 hectares cultivados com morangueiro, resultando em uma produção de 18,4 mil toneladas. Ao todo, são 1.255 produtores envolvidos na atividade, que, nesta safra, deverá ter um acréscimo de 10% no número de mudas cultivadas. “Na fruticultura, diferentemente dos grãos e olerícolas, a área de cultivo oscila de forma menos intensa de um ano para outro”, diz Todeschini.
A cada ano tem aumentado o número de produtores que investem no sistema de cultivo em substrato, conduzido em ambiente protegido. Nessa técnica, as mudas são plantadas em sacolas plásticas cheias de substrato, especialmente formulado para a espécie, dispostas sobre bancadas elevadas a uma altura de 80cm em relação ao solo.
Três vezes mais mudas Todeschini explica que no plantio em substrato é possível utilizar três vezes mais mudas por área do que no cultivo tradicional, havendo, por consequência, incremento no rendimento. “Em 250 m² podem ser cultivados 3.400 mudas. A produtividade pode chegar a até um quilo por planta, contra cerca de 350 gramas do cultivo realizado no solo”, destaca. E, como se reduz em até 80% a aplicação de agroquímicos, o produtor fica menos exposto a esses produtos, explica o agrônomo, destacando também a oferta de uma fruta mais saudável ao consumidor. No município de Bom Princípio, tradicional produtor de morango no Estado, a maioria dos 56 produtores da Associação Bom Morango aderiu ao sistema de plantio em substrato, segundo o técnico agrícola Juliano Galina. “O cultivo em substrato permite que se produza nos 12 meses do ano. Com isso, o agricultor consegue colocar seu produto no mercado em períodos de entressafra, aumentando os ganhos”, frisa. Ao contrário do sistema convencional, em que se utiliza adubação química, esse cultivo usa uma solução nutritiva orgânica, explica Galina. DEISE FROELICH E JÚLIO FIORI - EMATER/RS-ASCAR
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Orgânicos “made in Brazil” E se os produtores orgânicos escolhessem caminhos diferentes dos agricultores convencionais?
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om consumidores dispostos a pagar um valor mais elevado nos mercados nacionais e no exterior, os alimentos orgânicos ganham maior destaque nas prateleiras do varejo. Alguns supermercados reservam espaços específicos para os orgânicos, outros realizam promoções e degustações dos produtos. A gastronomia oferece pratos com esses produtos e já se cogita que os orgânicos sejam disponibilizados no Mundial de 2014 e nas Olimpíadas de 2016. O governo brasileiro estabeleceu programas que permitem aos municípios ofertar alimentos orgânicos na merenda escolar. As feiras municipais se espalham nos diversos estados e, enquanto alguns produtores entregam cestas nos domicílios, outros fazem da Internet seu principal canal de comercialização. Para as cooperativas de agricultores familiares, pequenos produtores e agroindústrias, crescem as oportunidades de mercado. Mesmo em época de freio nas economias europeias e nos Estados Unidos, o consumo de alimentos orgânicos, símbolo de um cultivo sem agrotóxicos, a partir de uma produção menos danosa ao meio ambiente, tem aumentado. Cada vez mais países produzem este tipo de alimento. A Federação Internacional dos Movimentos Orgânicos (Ifoam) calculou, em 2011, em US$62,9 bilhões o valor mundial de mercado. No Brasil, mesmo carecendo de estatísticas oficiais, o fato é que a produção orgânica vai se espalhando. Podemos falar de 12.000 unidades de produção, numa área de aproximadamente 1.600.000 hectares.
Exportação orgânica Entre os produtos orgânicos, exportamos açúcar, óleo de palma, um pouco de soja, café, mel, cacau, castanhas de caju e do brasil (Pará), alguns ingredientes para a indústria de cosméticos e alimentícia e umas poucas frutas, como açaí e acerola. Nossa exportação orgânica ainda é muito pequena, considerando o potencial agrícola brasileiro e, mesmo comparada a dos países vizinhos como Argentina, Chile e Peru, difere também na falta de produtos de valor agregado. Temo que os orgânicos estejam repetindo, em parte, o modelo exportador do agronegócio, exportando commodities, agregando pouco valor. A
“marca Brasil”, por exemplo, some do nosso café, para virar made in Italy. Se os produtos orgânicos são produzidos em pequenas glebas de terra, de maneira mais ecológica e sustentável, permitem que os produtores e suas famílias permaneçam no campo e tenham uma vida digna. Se também são vistos como alternativas aos alimentos industrializados, como fazer para que a exportação orgânica não seja só de commodities agrícolas? Lembremo-nos que commodities são produtos comercializados sem diferenciação, que atendem a um preço fixado no mercado internacional, no qual o pequeno produtor fica num “mato sem cachorro”.
Desafios Os desafios do setor orgânico são exportar produtos de valor agregado, investir em tecnologia e qualidade e colocar seus produtos em mercados diferenciados, com resultados que levariam o produtor a vender a um preço mais elevado e, assim, aumentar sua renda. Considerar que o simples fato de produzir orgânicos faz com que os produtos deixem de virar commodities, pode ser uma falácia. O produto ser orgânico não o isenta de ser uma commodity, mesmo que na categoria “orgânica”. Assim como as melhores marcas de vinho, produtores do cacau Arriba Nacional, nativo do Equador, conhecido por seu rico sabor, aroma frutado e complexo, além de notas florais, estão comercializando o produto nos Estados Unidos e na Europa. Com linhas especiais para gourmets, o “Raw”, por exemplo, é minimamente processado em baixas temperaturas e misturado com sabores andinos de ervas e frutas, como o mirtilo. Os agricultores entregam o produto à agroindústria, que realiza o blend, produzido a partir de um único tipo de semente de cacau. Ele é embalado e finalizado para ser comercializado com marca equatoriana. É reconhecido nos mercados internacionais como um dos melhores chocolates do mundo. Então, este é o nosso desafio: vamos exportar alimentos orgânicos com a marca “Made in Brazil”?
SYLVIA WACHSNER Coordenadora do CI Orgânicos da SNA A Lavoura NO 696/2013 47
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Nem sempre vilões Apesar dos prejuízos causados pelos excessos ocasionais de população, abelhas, formigas e até cupins têm um papel importante nos ecossistemas
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e maneira geral, considera-se praga um animal, planta ou micro-organismo que aumenta sua densidade populacional até o ponto de prejudicar a saúde humana ou animal e, principalmente, sistemas agrícolas e florestais. Mas será que essas espécies deveriam ser constantemente denominadas assim? Conhecidos e temidos nas cidades, os cupins desempenham um papel importantíssimo tanto nas áreas de vegetação aberta, como nas florestas. Junto com as formigas, constituem enorme parte da biomassa nesses ecossistemas, funcionando como consumidores primários e decompositores. Além disso, através das atividades de construção de ninhos e galerias junto ao solo, acabam sendo responsáveis pela distribuição de vários nutrientes. Outras propriedades dos solos também são alteradas pela atividade dos cupins, que podem ter um papel semelhante ao das minhocas na aeração do solo. Ainda como consumidores primários, alguns insetos são fonte alimentar para vários animais, como formigas e outros artrópodes, peixes, anfíbios, lagartos, aves e mamíferos. Mesmo a broca da cana-de-açúcar (Diatraea saccharalis), que causa prejuízos diretos e indiretos para a cultura quando sua população aumenta desordenadamente, fora dessa condição, é uma espécie que deve ser vista como importante na cadeia alimentar. Nesse contexto, vale a pena salientar que,
dentro de um milhão de espécies de insetos descritas, apenas 10% tem o potencial de se tornarem pragas.
Diversas funções ecológicas Dentre outros papéis fundamentais dos insetos está sua função polinizadora: estima-se que 80% das plantas com flores dependam da polinização para se reproduzirem. Outra utilidade é a indicação da qualidade ambiental de acordo com sua presença, ausência, distribuição e densidade, sinais que permitem definir a saúde do ecossistema. Desses sinais, pode-se avaliar, especialmente, a presença de contaminantes do ar, solo e água. Os insetos também podem intervir decisivamente nos ciclos biogeoquímicos, já que sem eles a matéria orgânica levaria muito mais tempo para ser reciclada. Eles são capazes de controlar naturalmente pragas agrícolas e florestais e, além disso, esses organismos prestam seus serviços para produção de mel, cera, alimentação humana e animal, pesca comercial e esportiva, entre outros. Estas e outras características foram desenvolvidas em, aproximadamente, 400 milhões de anos de existência dos insetos na Terra. Considerando-se que o homem tem apenas dois milhões, observa-se uma vantagem evolutiva de mais ou menos 398 milhões de anos para os primeiros. Como resultado de múltiplas pressões seletivas ocorridas no curso desses milhões de anos, os insetos aperfeiçoaram mecanismos de sobrevivência e reprodução que explicam sua diversidade atual. Dentre as características que permitem essa adequabilidade aos agroecossistemas atuais, destaca-se seu elevado potencial biótico e sua capacidade de adaptação e de dispersão. Deste modo, os insetos podem investir seu potencial energético na reprodução e ocupação de novos ambientes.
Diferenças entre ecossistemas Em condições naturais, populações de insetos não têm potencial de crescimento exponencial, porque existem fatores naturais originados na complexidade do ambiente que regulam suas populações. Entre esses
80% das plantas com flores dependem da polinização para se reproduzirem
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fatores limitantes estão a competição inter e intraespecífica dos insetos, os efeitos do clima (oscilações na temperatura e umidade relativa, pluviosidade, vento, entre outros), a disponibilidade de alimento, a migração e a dispersão e o controle biológico exercido pelos inimigos naturais (predadores, parasitoides e entomopatógenos). É necessário observar que há diferenças óbvias entre os ecossistemas naturais e artificiais, como cultivos agrícolas, plantações florestais, fazendas de gado etc. Ao se analisar tais fatores, podem ser buscadas as causas do surgimento dos insetos denominados de pragas. Provavelmente, o principal fator a ser destacado seja o cultivo da mesma espécie de planta em uma área ampla e isolada, que favorece aos insetos biomassa vegetal abundante, contínua e muito concentrada fisicamente, enquanto na natureza o alimento é mais escasso e está mais disperso. Além disso, o processo de simplificação dos ecossistemas naturais é outro fator relevante para compreender o surgimento das pragas. A eliminação da vegetação nativa tem favorecido o aumento da densidade populacional desses indivíduos, já que os ecossistemas naturais são fonte propícia de alimento e refúgio aos inimigos naturais. Certas espécies vegetais também devem ser consideradas como um fator importante nesse contexto, pois ao serem introduzidas em
CANA-DE-AÇUCAR INSETOS
Os cupins são responsáveis pela distribuição de vários nutrientes no solo
uma nova região (cultivos exóticos) podem ser atacadas por organismos que nunca haviam estado em contato com elas, e que se alimentavam de plantas nativas.
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Adaptabilidade a ambientes exóticos No caso dos insetos, quando espécies são introduzidas em regiões não endêmicas, elas podem se adaptar e se alimentar dos cultivos agrícolas. Essa nova disponibilidade de recursos, aliada à ausência de inimigos naturais, faz com que determinadas espécies de organismos, previamente inofensivos, sejam considerados nocivos. Os insetos podem ser benéficos e maléficos: o que vai determinar essa condição é o ambiente em que eles estão, a sua densidade populacional e também quem está interagindo com esses organismos. Entretanto, indiferente dessas condições, cabe a nós, humanos, o bom senso de aprender a respeitar e a conviver harmoniosamente com os insetos, uma vez que dependemos muito mais deles do que eles de nós. PATRÍCIA PAULA BELLON, MELISSA DONADELLO DE OLIVEIRA, MARINA DE REZENDE ANTIGO, FABRÍCIO FAGUNDES PEREIRA, MARCOS GINO FERNANDES UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS-MS
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As formigas podem intervir decisivamente nos ciclos biogeoquímicos, pois, sem elas, a matéria orgânica levaria muito mais tempo para ser reciclada
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PESTICIDA NATURAL DIVULGAÇÃO
simples, barato e seguro Instituto agrícola de pesquisa desenvolve mistura de óleos comestíveis que pode ser alternativa contra insetos e fungos
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pesquisador israelense Samuel Gan-Mor, do Volcani Institute, desenvolveu um pesticida simples, barato e seguro à base de um blend de óleos comestíveis. A mistura criada pelo cientista agrícola é uma composição de óleos de canola, soja, algodão e oliva. O cientista descobriu que ingredientes desconhecidos ativos nesses óleos podem bloquear a capacidade de respiração dos insetos, impedindo sua mobilidade. O produto está sendo comercializado e representa uma alternativa sustentável totalmente segura, mesmo quando usado minutos antes da colheita. Pesticidas químicos tradicionais exigem um período de “descanso” entre a aplicação e a colheita. Tomates cultivados convencionalmente, por exemplo, retêm, pelo menos, 35 resíduos de pesticidas. Alguns pesticidas químicos provocam disrupção hormonal, têm agentes causadores de câncer ou nerotoxinas, que podem ter efeitos nocivos no cérebro e no desenvolvimento de bebês. Pouco se sabe sobre como estes pesticidas, indetectáveis aos sentidos humanos nos alimentos, agem em conjunto.
Atuação Segundo o cientista, legumes de casca fina, como tomate e abobrinha, são suscetíveis à infestação de insetos e fungos, e até mesmo novos pesticidas orgânicos não são totalmente seguros. O mecanismo de ação da solução oleosa elaborada por Gan-Mor e seus colegas ainda não está completamente desvendado. Contudo, os pesquisadores acreditam que dois fatores são responsáveis pela eficiência do produto:
ingredientes ativos ainda desconhecidos dos óleos, provavelmente destinados a bloquear as vias respiratórias dos invertebrados e dificultar a sua mobilidade. Além disso, as próprias sementes podem ter desenvolvido “truques evolucionários” para evitar o ataque de insetos.
Resíduos sem toxicidade Gan-Mor também se dedica à otimização de pulverizadores industriais que cubram mais superfície da planta usando menos pesticida. O equipamento é vendido junto com a mistura de óleos aliada a um emulsionante, e vem sendo comercializado como uma alternativa orgânica aos pesticidas. Uma grande vantagem frente à pulverização convencional é que a mistura oleosa pode ser utilizada minutos antes da colheita, enquanto a feita com pesticidas químicos necessita de um “período de descanso” entre a aplicação e a colheita. A função deste intervalo é diminuir os riscos de saúde para as pessoas e para o meio ambiente.
Demanda por alternativas ecológicas Já são conhecidos diversos óleos naturais que mantêm os insetos e fungos sob controle, incluindo óleo de rícino, cuja utilização foi descartada por Gan-Mor devido à presença de toxinas. Em seu lugar, o pesquisador voltou-se para os óleos de cozinha simples e baratos, como canola ou soja. Para testar as diferentes formulações, o Instituto Volcani tem parceria com a empresa Shelef, que faz experimentos em 20 fazendas em Israel. Um inconveniente das soluções oleosas é seu tempo de armazena-
Óleos de canola, soja, algodão e oliva são matéria-prima para a produção do pesticida natural
mento, que não ultrapassa um ano, e a possibilidade de deterioração em ambientes quentes. O produto de Samuel Gan-Mor contorna isso, pois só deve ser preparado momentos antes do uso. “Se o óleo for armazenado próximo à fazenda em temperatura ambiente, só será preciso uma máquina de processamento de pequeno porte para transformar o óleo em uma emulsão. Como não serão necessárias quantidades industriais do produto, basta usar um pouco de conservante e surfactantes para um armazenamento de até três dias”, explica Gan-Mor. Outro problema de materiais como o óleo é a necessidade de reaplicação: uma vez por semana, e generosamente. Contudo, o pesquisador indica que fazendas menores poderiam compartilhar uma máquina de pulverização, já que os materiais básicos são baratos — cerca de US$ 1 por litro para o óleo, que é bastante diluído em água. Depois, é necessária eletricidade para o pulverizador. A empresa Shelef está pesquisando formulações específicas para certas culturas e condições, mas já está vendendo um sistema completo para os agricultores interessados . “A mistura de óleo poderia ser personalizada para combater cada inseto”, estima Gan-Mor. MAIS INFORMAÇÕES: HTTP://ISRAEL21C.ORG/ ENVIRONMENT/COOKING-OIL-THE-PERFECT-PESTICIDE
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Atenção ao controle da MASTITE BOVINA
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rodutores rurais que trabalham com pecuária leiteira devem estar sempre atentos à mastite, doença que atinge vacas leiteiras, causando a inflamação da glândula mamária e ocasionando prejuízos à atividade de produção de leite. De acordo com a pesquisadora da Embrapa Rondônia, Juliana Dias, as perdas econômicas decorrem de vários fatores como: diminuição da produção, custos com mão de obra, honorários profissionais, gastos com medicamentos, morte ou descarte precoce de animais e queda na qualidade do produto final. Além das perdas, a infecção pode representar risco à saúde humana devi-
do à eliminação de microrganismos e toxinas no leite consumido.
Formas A pesquisadora explica que a mastite é causada, principalmente, por bactérias, mas também podem ocorrer casos em decorrência da infecção por fungos, algas e vírus. A doença pode se apresentar de duas maneiras. A forma clínica é caracterizada por alteração no leite, podendo ocorrer também anormalidades visíveis no úbere, como aumento de temperatura e edema. Já a forma subclínica é caracterizada pela ausência de alterações visíveis a olho nu. “A forma
subclínica acontece com mais frequência e é responsável por cerca de 70% das perdas. Pode diminuir a produção de leite em até 45%”, informa Juliana.
Controle Para o controle da mastite, um conjunto de medidas pode ser aplicado no rebanho. A primeira é a definição da situação da doença. A higiene e o conforto no local onde ficam os animais e o manejo adequado de ordenha também são importantes. Os procedimentos que garantem esse manejo correto são: realização do teste da caneca telada em todas as ordenhas para o diagnóstico de mastite clínica; realização
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FABIANE ANTES - EMBRAPA RONDÔNIA
A mastite é causada, principalmente, por bactérias, mas também podem ocorrer casos devido à infecção por fungos, algas e vírus
do California Mastitis Test (CMT) a cada quinze dias para o diagnóstico da mastite subclínica; desinfecção dos tetos antes da ordenha; secagem dos tetos com papel toalha; realização da ordenha manual ou colocação da ordenhadeira mecânica; desinfecção dos tetos após a ordenha e alimentação dos animais para que eles permaneçam em pé até o completo fechamento do esfíncter do teto. “Para evitar a transmissão da mastite, além do manejo de ordenha adequado, recomenda-se a implantação da linha de ordenha, utilizando como base o resultado do CMT. A linha é estruturada de forma que as vacas com o resultado negativo no teste sejam ordenhadas primeiramente. Em seguida, as vacas com mastite subclínica e, por último, os animais com mastite clínica”, explica Juliana.
Medidas As medidas para o controle da doença também incluem o tratamento imediato dos casos clíni-
cos com antibiótico. A indicação do medicamento deve ser feita por um técnico. O tratamento precisa ser realizado por, no mínimo, três dias. A pesquisadora observa que os animais que estão sendo tratados devem ser marcados e o leite deles descartado durante o tratamento, considerando o período de carência do produto descrito na bula, para evitar a presença de resíduos no leite do tanque ou latão. Outra medida é a limpeza e manutenção dos equipamentos de ordenha.
É necessário fazer a manutenção a cada seis meses, visando garantir a sanidade da glândula mamária. A lavagem do equipamento deve ser realizada imediatamente após a ordenha seguindo as instruções do fabricante. Durante a secagem, o uso de antibióticos específicos em todos os quartos do animal é fundamental para o tratamento de casos subclínicos, adquiridos durante a lactação e, também, para a prevenção de novas infecções
KADIJAH SULEIMAN
ITAIPU BINACIONAL
MANEJO
Bactérias causadoras da mastite identificadas no diagnóstico microbiológico EMBRAPA RONDÔNIA
Teste da caneca para o diagnóstico da mastite clínica
EMBRAPA RONDÔNIA
Manejo adequado da ordenha é uma das medidas de controle da mastite
CMT utilizado para diagnóstico da mastite subclínica
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MANEJO
Aprovado primeiro LEITE ORGÂNICO proveniente de cooperativa com certificação participativa
durante o período seco. A recomendação é que o animal tratado seja acompanhado durante as duas primeiras semanas pós-tratamento. De acordo com Juliana, precisam ser separados e descartados os animais com mastite crônica não curada, por causa da diminuição da capacidade produtiva do teto afetado e por serem potenciais fontes de infecção para os animais não infectados.
A
rede Ascooper, formada pela Associação das Cooperativas e Associações de Produtores Rurais do Oeste de Santa Catarina, Cooperativa Central da Agricultura Familiar, obteve junto ao Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA), o primeiro registro de inspeção federal de industrialização de leite produzido organicamente em sistema cooperativado e com certificação participativa da Rede Ecovida. O lançamento o leite orgânico Ecolact ocorreu durante a Mercoláctea 2012, realizada em Chapecó-SC, em novembro de 2012. O sistema de produção orgânica de leite, segundo o coordenador do Núcleo Noroeste Catarinense de Agroecologia, Eliandro Comin, envolve 23 famílias, que deverão produzir 90 mil litros do produto por mês. Com qualidade nutricional garantida, livre de resíduos de agrotóxicos, sustentável, economicamente viável e ambientalmente correto, o leite orgânico certificado contou com o suporte do Sebrae/SC, por meio do Arranjo Produtivo Local (APL) de Leite e Derivados do Oeste Catarinense. “O trabalho do Sebrae teve foco para a elaboração de Estudos de Viabilidade Técnica e Econômica (EVTE) para indústria e para a fábrica de rações, além de diagnósticos e consultorias de preparação, cadastro para cumprimento dos re-
Exames Para evitar a ocorrência da mastite no rebanho, recomenda-se a análise do California Mastitis Test (CMT) ou CCS, ou exame microbiológico do leite, dos animais a serem comprados. Células somáticas são células de defesa (predominantemente leucócitos) e células de descamação do epitélio mamário. “Em caso de mastite, existe um aumento das células somáticas no leite, o que é definido como indicador da infecção. O CMT é um teste feito a campo para diagnóstico da mastite, pois detecta a presença de células somáticas (CS) no leite. O CCS, que é a contagem de células somáticas, é realizado em laboratórios oficiais da Rede Brasileira de Laboratórios de Qualidade do Leite (RBQL), por isso é mais preciso e confiável. Os valores são expressos em células por mL”, explica Juliana Dias. O monitoramento da doença pode ser realizado através da coleta sistemática de dados de CCS dos animais. Para os casos de mastite clínica, é necessário serem registrados dados como: número do animal, duração do caso, dia, tratamento realizado e duração do tratamento. Além dessas informações individuais, é preciso haver o monitoramento dos dados do rebanho, como incidência de casos de mastite clínica e informações sobre CCS dos animais. “Nos animais em que a CCS está alta, é indicada a realização da cultura microbiológica para a identificação do agente causador da infecção e, assim, estabelecer uma estratégia de controle mais eficaz”, finaliza a pesquisadora. KADIJAH SULEIMAN - EMBRAPA RONDÔNIA
Mercado Os produtores de leite orgânico recebem, em média, um valor 30% superior à média da região pelo litro do produto. Pelo volume produzido, a comercialização deverá ficar restrita à região, no máximo, chegando à capital, Florianópolis. Mas a ideia é direcionar grande parte para a merenda escolar, a fim de oferecer às crianças um produto de melhor qualidade. Os municípios de São Domingos e Abelardo Luz deverão ser os primeiros a incluir o leite orgânico na merenda escolar.
Produção do leite orgânico Para produção do leite orgânico, os animais são manejados em piquetes, onde recebem pasto, água, minerais e sombra, que proporcionam o bem-estar do rebanho. A adubação das pastagens é feita com esterco dos próprios animais e a sanidade é realizada de modo preventivo com homeopatia, fitoterapia. Em caso de enfermidades, são utilizados procedimentos permitidos pela legislação de produção orgânica. A água, o solo e toda a biodiversidade animal/vegetal são protegidos para o equilíbrio no ambiente produtivo. Como o Estado de Santa Catarina é dispensado
MB COMUNICAÇÃO
Monitoramento
quisitos de certificação dos produtores e orientações técnicas”, destaca o coordenador regional oeste do Sebrae/SC, Enio Albérto Parmeggiani.
Eco Lact, leite orgânico produzido em Santa Catarina
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LEITE
Pastoreio Voisin Foi com o sistema de pastoreio Voisin que produtores de Novo Horizonte, associados à Cooperal, e de Formosa do Sul, associados à Coopleforsul, identificaram, na produção de leite, características muito próximas ao sistema orgânico, o que motivou a formação do grupo de agricultores “Leite Orgânico” para atender às normas de certificação participativa da Rede Ecovida, além da legislação de orgânicos vigente. A Cooperativa de Crédito Cresol, vinculada aos municípios de abrangência do projeto, asseguraram o apoio financeiro para os serviços de assistência técnica e o Sebrae elaborou os Estudos de Viabilidade Técnica e Econômica. O sistema Voisin de pastoreio exige conhecimento do agricultor, pois parte do princípio que os animais devem ser manejados para áreas nas quais as pastagens estejam no ponto ideal. “Não segue um esquema pré-determinado de rotação de piquetes, por isso, o produtor precisa conhecer muito bem os animais e os aspectos vegetais da forragem”, alerta Eliandro Comin. Caso seja necessária a suplementação alimentar, comum no período de seca, as Instruções Normativas para produção orgânica animal permitem o uso de até 20% de matéria seca por dia, desde que obtida de material (soja, milho, cana-de-açúcar) não trangênico. A implantação de inúmeras propriedades familiares, com produção de leite pelo sistema Voisin foi viabilizada por meio de uma parceria entre Rede Ascooper, Núcleo Pastoreio Racional Voisin (UFSC), LETA (UFSC), EPAGRI, CESAP, Secretaria de Agricultura, Sebrae/SC, Instituto Saga, MAPA, MDA, Rede Ecovida de Certificação Participativa, Cooperoeste Terra Viva, Ideia em Ação, Milk Suck, e prefeituras da região oeste catarinense. A industrialização será feita pela Coopleiti que prestará serviço para a Ascooper. Para permanecer no mercado, foi sentida a necessidade de trocar a produção em escala para uma produção diferenciada e de grande importância para a saúde do consumidor, tornando o produto valorizado e competitivo.
Soro como alimento funcional Pesquisa pretende dar aproveitamento ao subproduto como ingrediente funcional e evitar seu descarte no meio ambiente
R
ico em proteínas, o soro de leite pode ser um poluente de difícil degradação quando lançado no meio ambiente. Por falta de tecnologias adequadas, muitas agroindústrias acabam descartando o soro e interferindo negativamente no ecossistema. Para evitar o descarte desse subproduto, a Embrapa Agroindústria de Alimentos está investindo em pesquisas que visam estudar sua capacidade de ingrediente funcional, como coadjuvante em tratamentos da hipertensão e de problemas cardiovasculares. À frente do trabalho, a pesquisadora Lourdes Maria Corrêa Cabra explica que, quando o soro é fracionado, divide-se em água, proteína, açúcares e sais minerais. Da proteína obtêm-se os peptídeos, moléculas de aminoácidos indispensáveis para o bom funcionamento do organismo e que possuem efeito antihipertensivo, dentre outras propriedades. “A ideia é concentrar os peptídeos bioativos na forma de pó para utilizá-lo como ingrediente na formulação de alimentos funcionais como iogurtes, por exemplo”, completa a pesquisadora.
Resultado em três anos Os demais elementos fracionados (água, sais minerais e açúcares) também podem servir de base para a elaboração de novos ingredientes. No entanto, no momento, o foco das pesquisas estará na obtenção de peptídeos em pó, trabalho que deverá consumir três anos de pesquisas até que seja viável técnica e economicamente. “O que hoje é um passivo ambiental pode tornar-se um produto de alto valor agregado para
LUIZ FERNANDO
de vacinações, sequer vacinas são aplicadas, mas, mesmo que fossem necessárias — e a legislação permite —, não afetariam a qualidade do leite.
Ultrafiltração: processo leva à maior concentração de soro de leite
a agroindústria e benéfico para o consumidor”, ressalta Lourdes Cabral. A pesquisadora lidera o projeto “Aproveitamento agroindustrial de resíduos proteicos e não proteicos gerados pela agroindústria”. Além do soro, a equipe do projeto investirá em pesquisas com cascas de frutas, normalmente descartadas no processamento, mas que possuem valor nutricional e potencial para produtos funcionais. Alimentos funcionais Os alimentos funcionais são responsáveis por efeitos metabólicos benéficos à saúde e bemestar e podem atuar como coadjuvantes na prevenção e tratamento de doenças. Os estudos científicos são importantes para comprovar seus efeitos. Ao mesmo tempo, o aproveitamento de resíduos minimiza o custo ambiental do processamento agroindustrial, uma questão cada vez mais cobrada pela sociedade. RAPHAEL SANTOS
MARCOS A. BEDIN - MB COMUNICAÇÃO
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Videiras abrigadas
O cultivo protegido de videira estĂĄ em expansĂŁo no Brasil, sendo adotado, especialmente, por produtores de uva de mesa
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A cobertura protege os parreirais do frio e do calor excessivos, da chuva e do granizo, proporcionando um ambiente favorável à produção de frutos de melhor qualidade
KATIA MARCON
KATIA MARCON
EMATER ASCAR
VITICULTURA
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área manejada com o cultivo protegido de videiras no Rio Grande do Sul é de cerca de 100 hectares, 90% dos quais concentrados na região de Caxias do Sul, serra gaúcha.
Custo de implantação Apesar do maior custo de implantação do sistema protegido, a redução dos gastos com tratamentos fitossanitários para o controle de
fitomoléstias, a segurança contra intempéries e a melhoria da qualidade e do aspecto do produto, compensam o investimento. Segundo o engenheiro agrônomo Enio Ângelo Todeschini, assistente técnico do escritório regional da Emater/ RS-Ascar de Caxias do Sul, apesar de o custo de produção da videira coberta ser, em média, de R$ 120 mil por hectare — incluindo mudas, mão de obra etc. —, os gastos com defensivos
Recomendações importantes Abaixo, recomendações da Emater/RS-Ascar sobre os cuidados a serem tomados durante a instalação da cobertura que cobrirá os parreirais e dicas para ampliar a sua vida útil:
1. Deve-se evitar a formação de pontas que possam rasgar a cobertura e o contato direto dela com madeira, arames ou pregos, pois o atrito com estes materiais e a ferrugem degradam o plástico.
2. O uso de quebra-ventos e a não aplicação de fungicidas diretamente sobre o plástico também podem aumentar a durabilidade da cobertura, de cinco anos, em média.
podem ser reduzidos em até 90%. “Como as plantas estão abrigadas, não sofrem ação da chuva, do granizo, do vento e do calor excessivo. Com o ambiente mais seco, há pouca possibilidade da incidência de doenças fúngicas. Porém, elevam-se os riscos da ocorrência de doença chamada oídio e o aumento da população e ataque de ácaros”, explica o agrônomo. Ele alerta, entretanto, para que os produtores tenham atenção redo-
3. A altura da cobertura plástica deve ser suficiente para proteger as folhas da chuva, mas não pode ficar muito próxima à planta. A distância tem que permitir a circulação de ar, evitando o efeito estufa. 4. As lonas devem ser instaladas em dias mais quentes, por ficarem mais maleáveis, e retiradas logo após a colheita. 5. Os produtores que preferem deixar a lona enrolada na estrutura que a sustenta, devem envolvê-la com plástico para evitar o acúmulo de água e o surgimento de microvegetais e fungos. ATENÇÃO: O tempo médio de durabilidade da cobertura é de 4 a 5 anos.
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VITICULTURA
Produtor de uva tem vantagens com o novo modelo de preço mínimo
brada no eventual uso de fungicidas. “Como as uvas não são ‘lavadas’ pela água da chuva, é preciso rever a quantidade a ser aplicada e, principalmente, o período de carência que deve ser, em média, três vezes maior. Todeschini diz que o preço recebido pelo produtor varia de R$ 1,50 o quilo de uvas Niágara rosada, a R$ 5,00 o quilo da uva Itália e suas seleções. Considerando uma produtividade média de 20.000 kg/ha — já descontados os descartes e as perdas entre a colheita e a entrega do produto — a renda do produtor pode chegar a R$ 100 mil/ha, no caso da uva Itália. Mas, ainda assim, segundo o técnico, o investimento inicial pode levar de cinco a sete anos para ser amortizado.
Entraves ao cultivo Um dos maiores entraves ao cultivo de parreiras abrigadas é o alto custo da mão de obra, especialmente na fase de manejo do cacho: penicagem (para ‘ralear’ as flores dos cachos) e a limpeza dos cachos (desbaste das bagas) das variedades finas, como a Itália. Esta última etapa pode demandar 700 horas/hectare. Por isso, explica o agrônomo, muitos produtores da serra gaúcha estão deixando de produzir a variedade Itália e optando pela Niágara Rosada, que não demanda esses tratos e possibilita uma colheita até 30 dias após o período de ‘safra’, aumentando a possibilidade de obtenção de melhores preços.
O
produtor de uva que valorizar qualidade terá mais vantagens na safra atual e na de 2014, de acordo com a nova modalidade de cálculo definida pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O novo cálculo oferece melhor remuneração em troca de melhor qualidade, objetivo maior da mudança. O preço mínimo foi aprovado recentemente pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e aguarda portaria do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para entrar em vigor. É o mesmo da safra anterior, de R$ 0,57 o quilo do produto. A ideia é incentivar o manejo dos parreirais, de modo que seja produzido menos com mais qualidade. Até 2012, para cada grau babo (que determina o teor de açúcar na fruta) acima dos 15 graus, havia um acréscimo de 5% em relação ao valor do preço mínimo. A partir desta safra, o produtor receberá um ágio de 7,5% para cada grau acima dos 14 graus das uvas brancas, 15 graus para variedades americanas e a partir de 16 graus para as viníferas. Da mesma forma, serão aplicados deságios em igual proporção. Já para o próximo ano, o ágio passa para 10%. A área técnica da Conab fez uma comparação econômica, aplicando a nova tabela à safra do ano passado, tendo em vista o grau glucométrico (de açúcar) médio da uva colhida em 2012. De forma geral, naquelas condições de safra, que são semelhantes as deste ano, houve ganho econômico em favor dos produtores que colheram uvas de maior qualidade. Tomando-se por base as quantidades de uvas e as respectivas graduações médias, em 2012, os produtores receberiam, com base nos preços mínimos com ágio/ deságio de 5%, o valor de R$ 422,2 milhões, e se fosse com o percentual de 7,5%, o valor subiria para R$ 431,8 milhões, portanto, com uma diferença de R$ 9,6 milhões a favor dos produtores. ”Um ganho significativo, em especial a demonstração de que os produtores só terão a ganhar com as novas medidas. Para alcançar esse patamar de qualidade (grau glucométrico maior que 14, 15 ou 16), os produtores ainda terão que fazer a poda verde, o que será extremamente positivo para reduzir possíveis excessos de produção”, enfatiza o diretor de Política Agrícola e Informações da Conab, Sílvio Porto. RAIMUNDO ESTEVAM/CONAB
Produtores, como os de Bento Gonçalves, serão beneficiados pelo novo cálculo do preço mínimo CONAB
Preço ao produtor
Agroturismo A fim de garantir agregação de valor e, consequentemente, maior renda ao produtor, a Emater também vem incentivando o agroturismo (turismo rural) na região, oferecendo roteiros de visitas a propriedades, onde os turistas podem experimentar colher pessoalmente os frutos no parreiral para consumo. “É um colha e pague”, explica Todeschini. JÚLIO FIORI - EMATER RS / ASCAR
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Novas UVAS para MESA e SUCO JOÃO DIMAS GARCIA MAIA
BRS Magna e BRS Vitória são as novas cultivares de uva da Embrapa que foram lançadas em eventos nas regiões onde o processo de validação de cada uma foi iniciado
em São Paulo e no Vale do Submédio São Francisco.
Melhoramento genético As duas novas cultivares são resultantes do Programa de Melhoramento Genético da Videira, estabelecido em 1977, pela Embrapa Uva e Vinho. O Programa visa ao desenvolvimento e à criação de variedades de uva de qualidade, com boas características agronômicas, diferentes finalidades e ampla adaptação climática. Já foram lançadas 14 cultivares para mesa e elaboração de sucos e vinhos, que se adaptam bem às condições climáticas dos principais polos vitivinícolas do Brasil. Para conhecer as outras cultivares lançadas pela Embrapa Uva e Vinho, basta acessar www.cnpuv.embrapa .br/pesquisa/pmu/cultivares.html.
Magna, para suco
Cultivar de uva para suco, a Magna possui ampla adaptação climática
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uas novas cultivares de uva, a BRS Magna — para elaboração de suco – e a BRS Vitória — uva de mesa sem sementes — foram lançadas pela Embrapa Uva e Vinho. Os lançamentos aconteceram nos locais onde o processo de validação de cada uma foi iniciado, Mato Grosso e Paraná, respectivamente. As novas variedades contam com características que atendem tanto a demandas dos viticultores, que trabalham com uvas de mesa, quanto daqueles que cultivam uvas para elaboração de sucos, conforme os pesquisadores Patrícia Ritschel e João Dimas Garcia Maia, coordenadores do Programa de
Melhoramento Genético da Videira, da Embrapa. A BRS Magna caracteriza-se pela ampla adaptação climática e pelos altos conteúdos de açúcar e de matéria corante, enquanto a BRS Vitória destaca-se pela ausência de sementes e pela tolerância ao míldio, a principal doença da videira no Brasil. Este ano, estão planejados eventos de apresentação das novas cultivares nas outras regiões para as quais são recomendadas. Assim, a BRS Vitória será apresentada em São Paulo, Minas Gerais e Vale do Submédio São Francisco e a BRS Magna na Serra Gaúcha e também
A BRS Magna é uma cultivar de uva para suco, que tem como principal característica a ampla adaptação climática, podendo ser cultivada em regiões de clima temperado, como a Serra Gaúcha, ou tropical úmido, como Nova Mutum, em Mato Grosso, e Jales, no Noroeste de São Paulo. Tem um ciclo de produção de médio a precoce, o que possibilita a colheita de duas safras por ano em regiões tropicais. A nova cultivar apresenta um sabor aframboesado, uma coloração violácea intensa e um alto teor de açúcar — de 17º a 19º Brix — podendo ser utilizada para a elaboração de sucos pura ou em conjunto com outras variedades. Principais características da cultivar: ampla adaptação climática; ciclo de produção intermediário; vigor médio; peso médio do cacho de 200g; tamanho da baga: 18mm x 20mm; cachos levemente compactos; produtividade entre 25 e 30 t/ha; alto teor de açúcar — entre 17 e 19º Brix; e acidez moderada do mosto — 90mEq/L.
Vitória, cultivar sem sementes A BRS Vitória é a primeira cultivar de uvas sem semente brasileira tolerante ao míldio, característica que garantirá uma produção mais sustentável, pela redução de aplicações de
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VITICULTURA e 30 t/ha, possui alto teor de açúcar — entre 19º e 23º Brix.
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fungicidas. Preta, com sabor aframboesado, ela já foi testada nas regiões de São Paulo, Paraná, Minas Gerais e também no Vale do Submédio do São Francisco. É vigorosa, com ciclo precoce e elevada produtividade — entre 25 e 30 t/ha —, além de apresentar teor de açúcar acima de 19º Brix (podendo chegar a 23º Brix, em regiões tropicais). As principais características da cultivar são: tolerância ao míldio, ciclo de produção precoce, vigorosa, peso médio do cacho de 290g. O tamanho da baga é de 17mm x 19mm, os cachos levemente comUvas produzidas em Jaíba, norte de Minas Gerais, embaladas pactados. Sua para comercialização em bandejas de isopor, cobertas com filme produtividaplástico, e acondicionadas em caixas de papelão de, entre 25 JO
ÃO
Para adquirir
JOÃO DIMAS GARCIA MAIA
A comercialização de gemas das cultivares BRS Magna e BRS Vitória será feita pela Embrapa Produtos e Mercado, Escritório de Campinas (SP), a partir de julho de 2013. Os produtores interessados na aquisição desse material propagativo deverão fazer reserva, por meio do site www. campinas. spm.embrapa.br, estando a mesma sujeita à disponibilidade de estoque na época da poda, quando a Embrapa entrará em contato, pelo e-mail cadastrado. Mais informações: (19) 3749-8888 e fax (19) 3749-8890.
A BRS Vitória é a primeira cultivar sem sementes tolerante ao míldio
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O Desafio Verde Sete coisas que você precisa saber sobre as dificuldades para produzir alimentos orgânicos no Brasil Aproximadamente 15 mil agricultores trabalham como produtores orgânicos no país. A estimativa é do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). O número é modesto. E, se olharmos para o todo, veremos que não representa nem 1% do total de estabelecimentos agropecuários no Brasil. A magra representatividade deste setor na agropecuária brasileira pode ser explicada pelo enorme desafio que é manter a produção orgânica de forma lucrativa. Desde o preparo do solo até o produto exposto nas prateleiras, são inúmeros fatores que dificultam a cadeia produtiva dos orgânicos. E, para desvendá-los, precisamos percorrer um longo caminho, começando — sem redundância — do princípio: “Como se tornar orgânico?”.
1. A certificação Diferentemente dos alimentos convencionais, os produtos orgânicos precisam ser certificados. Isto é, o agricultor deve provar que produz organicamente, seguindo uma série de padrões e protocolos. Essa certificação pode ser feita de três maneiras. Uma delas é o controle social pela venda direta. Neste caso, produtores cadastram-se no MAPA, porém, não são obrigados a exibir o selo orgânico, sendo este registro válido apenas para venda direta em mercados locais. A segunda maneira é por meio do Sistema Participativo de Garantia, no qual produtores organizam-se com seus vizinhos/comunidades e se responsabilizam por fiscalizar as práticas agrícolas uns dos outros. Essas duas formas legais de certificação são mais baratas, quando comparadas com a certificação por auditoria; porém, estão limitadas a uma atuação local. Ocorre que, se um produtor orgânico já possui uma variedade maior de produtos, tratando-se de uma agroindústria, e deseja comercializar seus produtos em diversos estados, em grandes redes de varejo, ou até mesmo exportá-los, estes produtos precisam ser certificados por empresas terceirizadas. É a chamada certificação por auditoria. E este processo é um tanto dispendioso. Segundo Alexandre Schuch, diretor da Ecocert, uma das principais certificadoras de orgânicos do Brasil, a certificação orgânica parte de R$ 1.500, podendo chegar a R$ 50 mil. Schuch explica que existem muitas variantes que incidem sobre o preço da certificação, como o “tamanho da área produtiva, número de unidades de processamento, localização, se certificação somente para mercado nacional ou certificação internacional etc.”. Sem falar que este processo deve ser realizado a cada 12 meses. O que pesa, e muito, no bolso do produtor orgânico.
2. E os convencionais, por que não são certificados? Existe quem questione a necessidade de certificação dos orgânicos, enquanto a agricultura convencional não é submetida a quase nenhum tipo de controle de qualidade. “É totalmente ilógico ter que provar que não utilizam-se agrotóxicos, transgênicos e afins na produção orgânica. Por que o agrotóxico/transgênico, que já se provaram maléficos em tantas circunstâncias, são permitidos irrestritamente?”, questiona Helen Carmignotto, gerente geral da ViaPaxBio, indústria de pequeno porte, localizada em Joinville (SC), que cresce 20% ao ano, trabalhando no beneficiamento e distribuição de alimentos orgânicos. A colocação da empresária traz à tona uma discussão sobre valores e diretrizes embutidas na produção orgânica, e que geralmente são deixados de lado pelo sistema convencional. O engenheiro agrônomo Moacir Darolt, que este ano lançou o livro Conexões Ecológicas, no qual fala sobre alternativas de comercialização de produtos orgânicos, também aponta para esse aspecto. “A agricultura convencional exclui dos cálculos de formação de preços a contabilidade ambiental, exteriorizando os impactos ao meio ambiente, ao passo que a agricultura orgânica interioriza esses custos”, afirma Darolt.
3. O solo e o meio ambiente Promoção da qualidade de vida aliada à preservação do meio ambiente é responsabilidade central da produção orgânica. É levado em conta o uso responsável do solo, do ar e da água, de modo que o cultivo não comprometa o curso natural da biodiversidade. Na agricultura orgânica, valorizam-se as boas práticas de manejo agrícola, poupando recursos naturais, principalmente os não renováveis. Por isso, o produtor deve se preocupar com a preparação do solo. Como o orgânico não pode receber nenhum tipo de aditivo químico, a adubação deve ser natural e, geralmente, o controle de pragas e doenças é biológico. Já nos casos em que a terra tenha sido utilizada na agricultura convencional, há mais um desafio: o processo de conversão, que pode levar alguns meses. Durante esse período, o que é produzido não pode ser vendido como orgânico. Resultado: com a produção reduzida, enquanto se consegue equilibrar o manejo agrícola com os insumos, o pequeno produtor acaba sofrendo perdas nos primeiros anos.
4.
Escala menor, tempo maior
Ao longo dos anos, houve uma preocupação do agronegócio em produzir alimentos suficientes para uma população em crescimento exponencial. Tal fato influenciou no desenvolvi-
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SITIIO DO MOINHO SYLVIA WACHSNER
Desde o preparo do solo, ao controle de pragas e doenças, até a oferta no mercado, os orgânicos enfrentam desafios
mento tecnológico, por meio de melhoramento genético e intensificação do uso de agrotóxicos. Surgiram, então, adubos químicos, herbicidas, inseticidas, vislumbrando aumento da produção. Esse movimento, hoje questionado pelo impacto no meio ambiente, ficou conhecido como Revolução Verde, e ganhou força no Brasil a partir da década de 1970. Os orgânicos começaram a se destacar no mercado nacional, ainda discretamente, na década seguinte, e seguiram um caminho inverso. Hoje, grande parte da produção orgânica concentra-se em pequenas propriedades com agricultores familiares, cerca de 85%, segundo o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). Agricultores que, ao não utilizarem agrotóxico ou produtos sintéticos, produzem em escalas menores e precisam esperar mais tempo para ter o seu produto final em mãos. “Em uma pesquisa, fizemos uma comparação dos custos de produção entre a batata orgânica e a convencional, produzidas em pequenas propriedades, no Paraná. Os resultados mostraram que no sistema convencional a produtividade média (400 sacas/hectare) foi superior ao sistema orgânico (206 sacas/ hectare)”, afirma Darolt.
5. Insumos e Mão de obra Nesta mesma pesquisa, Darolt concluiu que os gastos com mão de obra e serviços foram, em média, 30% maiores no sistema orgânico. Como a produção orgânica exige mais conhecimentos específicos, há poucas pessoas qualificadas. Com a pouca oferta de mão de obra, os salários acabam tendo que ser mais convidativos. Isto significa mais custos. Os insumos são outro entrave. Na verdade, a falta deles. Existe no MAPA uma regulamentação específica para registro de insumos orgânicos, que inicialmente visava facilitar o processo. Porém, há três anos o decreto 6.913/2009, referente a este registro diferenciado, está em fase de elaboração. De acordo com o MAPA, apenas 16 registros foram concedidos neste período.
6.
Distribuição: um problema brasileiro
Gargalos no escoamento da produção não são exclusividade dos produtores orgânicos. Estradas ineficientes e alternativas de transporte, que simplesmente inexistem, atrapalham na distribuição, seja do mega agroempresário ou do pequeno agricultor. E nem é preciso dizer quem sofre mais. De acordo com alguns produtores orgânicos, o frete pode
incidir em até 20% no preço final do produto. “O ideal seria trabalhar num raio de até 100 km do local de produção”, diz Darolt, apresentando uma alternativa aos produtores que estão longe dos centros urbanos. “Eles deveriam optar pelo cultivo de produtos menos perecíveis, e, até mesmo, priorizarem a venda para Programas Governamentais como o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos), que paga até R$ 8 mil/ano/ produtor) e o PNAE (Merenda Escolar), que remunera até 20 mil/ano/produtor). Hoje a Prefeitura deve comprar parte da merenda (30%) de produtos da agricultura familiar”.
7. O que é preciso ser feito Ainda que o governo venha, aos poucos, implementando políticas públicas de incentivo à agricultura orgânica, a exemplo do PAA e PNAE, há muito que fazer, principalmente na área de pesquisa e tecnologia. A Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PNAPO), em fase de elaboração, é uma das alternativas que pretende sanar este déficit. Enquanto isso, assistimos a agricultores orgânicos sem qualquer tipo de assistência técnica especializada e a ausência de inovação tecnológica no setor. Outro ponto refere-se ao amadurecimento do mercado orgânico brasileiro. De um lado, países acompanham o crescimento de suas exportações orgânicas alavancado por produtos com valor agregado. Como o caso dos Estados Unidos, que, em 2012, geraram US$ 450 milhões, impulsionados pela exportação de maçãs orgânicas selecionadas. Do outro, a velha política de comércio internacional do Brasil, baseada na exportação de commodities. É preciso reavaliar estratégias. Mas, fugindo do âmbito político-econômico, talvez o maior desafio ainda seja o consumidor. Ou melhor, soluções de marketing que atraiam novos consumidores, e não limitem os orgânicos apenas aos mais “entendidos” no assunto. O desafio de fazer com que esse entendimento e as informações a respeito da produção orgânica desenvolvam um consumo consciente, como bem lembra o engenheiro agrônomo, Moacir Darolt: “A maioria das pessoas ainda não faz a ligação entre o alimento que consome, a sua saúde e a forma como foi produzido. É preciso fazer boas escolhas para uma boa saúde!”.
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INFORME OCB/SESCOOP-RJ
Saneamento básico no meio rural: considerações políticas e sociais V
ivemos um momento no País em que inúmeras políticas públicas de inclusão social têm sido costuradas com vistas à superação das desigualdades sociais. A consolidação dessas políticas requer, entre outros fatores, articulação institucional, buscandose a integração entre as diversas políticas sociais. Dentre as muitas demandas municipais, o saneamento básico, por mais elementar que seja, carece de melhor planejamento e gestão mais participativa que promovam a universalização do acesso a esse serviço de fundamental importância.
Política de saneamento básico Neste sentido, a Lei Federal nO 11.445 de 5 de janeiro de 2007 estabelece a Política Federal de Saneamento Básico, um marco regulatório para a gestão de serviços de saneamento para os 5.565 municípios brasileiros. A Lei determina a participação e o controle social em todas as etapas do processo, o exercício da titularidade municipal no planejamento das ações, a regulação e a fiscalização da prestação dos serviços e o uso de tecnologias apropriadas à realidade local. Para tanto, os municípios deverão elaborar, até 2014, o Plano Municipal de Saneamento Básico (PMSB), com base nos termos desta Lei, demonstrando que conhecem bem os problemas locais e apresentando as soluções em curto, médio e longo prazos, do ponto de vista técnico, financeiro e social, para um horizonte de 20 anos. O Ministério das Cidades publicou, através do Conselho das Cidades, a Resolução Recomendada nO 75, em 2 de julho de 2009, visando orientar os gestores municipais quanto aos conteúdos mínimos do PMSB.
Soluções compatíveis Esta Lei tem, ainda, como uma de suas diretrizes a garantia de meios adequados para o atendimento da população rural dispersa, incluindo os assentamentos rurais da reforma agrária, mediante o uso de soluções compatíveis com suas realidades econômica e social peculiares, além da educação ambiental como estratégia de ação permanente. Neste contexto, os Planos Mu-
nicipais deverão apresentar projetos e ações a fim de contemplar estas comunidades com programas de educação continuada e soluções locais para o tratamento da água, o esgotamento sanitário e o manejo de resíduos sólidos.
Salubridade ambiental Diversas práticas agrícolas impactam negativamente a salubridade ambiental e, somadas à falta de saneamento nas propriedades rurais, acabam por contribuir significativamente para a contaminação de águas superficiais e subterrâneas. Conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE (PNAD/2009) apenas 5,7% dos domicílios rurais estão ligados à rede de coleta de esgotos e 20,3% utilizam a fossa séptica como solução local. Os demais domicílios (74%) depositam os dejetos em “fossas negras”, lançam em cursos d’água ou diretamente no solo a céu aberto. Segundo a Fundação Nacional de Saúde (FUNASA), órgão do Governo Federal responsável pela implementação das ações de saneamento rural em todo o país, este cenário contribui direta e indiretamente para o surgimento de doenças de veiculação hídrica, parasitoses intestinais e diarréias, as quais são responsáveis pela elevação da taxa de mortalidade infantil.
Responsabilidade de todos Com tudo isto, a superação desses déficits no meio rural é de responsabilidade de todos, sejam Estado, organizações, movimentos sociais e sociedade civil. O momento é de todos assumirmos a responsabilidade, caminhando na direção dos ideais da democracia, do fortalecimento da agricultura familiar e do empoderamento da população rural.
Robson Barros, Biólogo e técnico em agropecuária, professor e palestrante, atua junto às comunidades rurais nas áreas de saneamento rural, saúde e turismo rural e sócio da Cooperativa Prisma Consultoria robsonmarcosbarros@gmail.com
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INFORME OCB/SESCOOP-RJ
O papel da Agricultura Familiar
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agricultura familiar, composta por pequenos agricultores, retrata a imensa maioria de produtores rurais no Brasil, com aproximadamente 4,5 milhões de estabelecimentos no país. O segmento, que detém 20% das terras produtivas e responde por 30% da produção total, ainda é responsável por 1/3 do valor bruto da produção agropecuária brasileira e por 40% da produção agrícola do país, empregando doze milhões de brasileiros, o equivalente a 70% dos empregos gerados no campo. Quando visitamos as páginas do site da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), identificamos que o segmento gera mais de 80% da ocupação no setor rural e é também responsável pela geração de 60% dos produtos básicos que compõem a dieta do brasileiro (feijão, arroz, milho, hortaliças, mandioca e pequenos animais). Respondendo por cerca de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, supre em grande parte o consumo interno, cobrindo de 70% a 80% dos alimentos consumidos nos lares brasileiros. Isto significa a garantia da segurança alimentar de inúmeras famílias, considerando que este segmento utiliza práticas produtivas ecologicamente mais equilibradas, menos impactantes, com diversificação de cultivos e menor uso de insumos industriais. A agricultura familiar desempenha papel fundamental na economia de pequenos municípios, transformando-se, assim, em ferramenta indispensável ao desenvolvimento social e econômico do nosso país. Vale ressaltar que os resultados supracitados são alcançados sem o acesso às tecnologias e infraestruturas adequadas, muitas vezes sem o quantum de informa-
ções necessárias, fazendo com que o resultado produtivo seja um verdadeiro milagre da multiplicação para disponibilizar e ofertar produtos mais saudáveis. A agricultura familiar é definida como uma forma de produção na qual ocorre a interação entre gestão e trabalho, onde os agricultores administram e conduzem o processo produtivo, utilizando mão de obra familiar, embora, eventualmente, contratem empregados para a realização de algumas atividades desenvolvidas. Baseada na diversificação de produtos de subsistência e para a venda, que permite a diluição dos custos, acaba por corroborar para a constância e o equilíbrio produtivo e econômico, além de proporcionar o aumento da renda e maior aproveitamento das oportunidades de oferta ambiental. Como conhecedores dos valores e da importância deste segmento para a sociedade, também sabemos dos desafios a vencer. Desta forma, não estamos medindo esforços para que possamos trabalhar através de ações simples, buscando suprir as necessidades deste público, no âmbito da gestão e acesso/participação aos programas federais, tais como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). O Sistema OCB/SESCOOP/RJ vem buscando aproximar-se do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), visando à qualificação de mão de obra, com base na Portaria Nº 98 de 29 de agosto de 2007. Com isto, entendemos estar promovendo o desenvolvimento sustentável para estas famílias, na medida em que estaremos colaborando para a elevação dos níveis de emprego, renda, bem-estar social e qualidade de vida. Para tanto, são sempre
Marcos Diaz
bem-vindas atividades direcionadas ao público em questão, sem distinção de classe de produtores. A promoção e disseminação dos princípios cooperativistas e autogestão familiar do negócio contribuirão para que todos os integrantes das comunidades envolvidas adquiram a segurança e o controle necessários às tomadas de decisões, através de uma democracia consciente. Isto permitirá a elevação da participação decisória, a formação de lideranças que proporcionarão opções futuras à gestão do empreendimento. Estas ações, aliadas à troca de informações entre os produtores, permitirão o intercâmbio comunitário que ocorrerá por ocasião da adoção das tecnologias apropriadas e solucionará o grande e grave entrave da sucessão. Trabalhar para o atendimento adequado das demandas de um segmento tão importante é uma satisfação, um saboroso e gratificante desafio fundamental para que cumpramos com o papel de proporcionar desenvolvimento social e econômico para as mais diversificadas regiões e públicos, promovendo uma sociedade mais justa e harmônica para todos.
Marcos Diaz, presidente da OCB/SESCOOP-RJ
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ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO
Dicas para acertar na escolha do melhor local para deixar seu PET nas FÉRIAS De hotel para animais a casa de amigos, saiba escolher o lugar mais adequado para o seu pet ficar enquanto você viaja Férias marcadas, viagem planejada, família toda empolgada. Mas e o pet? O que fazer com ele quando não dá para levar no passeio? Deixar em casa sozinho, com algum conhecido ou optar por um hotel para animais? Confira as vantagens de cada uma das opções e o que você deve levar em conta na hora de escolher o destino do seu animalzinho durante as suas férias.
EU VOU E ELE FICA EM CASA Você vai viajar e o pet vai ficar em casa sozinho?
1. Apenas para passeios rápidos
Pode ser na casa de um amigo, de alguém da família ou até mesmo do vizinho. 1. O pet pode estranhar o local O animal pode estranhar o local diferente. Uma boa forma para contornar o problema é levar alguns pertences do pet para esse abrigo temporário. 2. Informe o responsável sobre os hábitos do seu pet Informar a pessoa que cuidará do animal sobre as rotinas dele também é fundamental. Quantidade de ração consumida diariamente, hábitos de higiene e o contato do veterinário são alguns tópicos que devem ser informados. 3. Verifique se há mais animais na casa Caso haja mais animais na casa, certifique-se se eles estão com as vacinas em dia e cuide da vacinação do seu bichinho de estimação. Avalie se o seu pet poderá ter algum problema de convívio com os outros bichos. Uma opção é levar o bichinho uns dias antes para ir acostumando os animais uns com os outros. 4. Disponibilidade É importante verificar se a pessoa que se responsabilizará pelos cuidados com o pet terá tempo para tal.
EU VOU E ELE FICA HOSPEDADO EM UM HOTEL PARA ANIMAIS Esta pode ser uma boa opção, mas requer cuidados especiais na hora de escolher o estabelecimento em que o animal de estimação vai ficar hospedado. 1. Visite pessoalmente o local De acordo com Isabela Vincoletto, médica veterinária da Vetnil, é imprescindível uma visita presencial para conhecer o hotel. “Pela internet tudo parece lindo, mas é de extrema importância os proprietários conhecerem pessoalmente o hotel para se certifiCRISTINA BARAN
A opção só é válida para passeios extremamente curtos, ou o animal poderá sentir demais a falta do dono, podendo inclusive adoecer. 2. Deixe comida suficiente Se esta for a opção, certifique-se de que você deixará ração e água suficiente para a nutrição do pet durante o tempo que você estiver fora. 3. Encontre companhia para o pet É possível também pedir para algum amigo ou conhecido passar diariamente na casa para alimentar, cuidar da higiene do animal e verificar se está tudo bem com ele. 4. Vantagens e desvantagens A vantagem de o bichinho ficar em casa é que não haverá problema relacionado ao estranhamento do local. A desvantagem, por outro lado, é que o pet pode sentir ainda mais a falta do dono.
EU VOU E ELE FICA NA CASA DE UM AMIGO
A vantagem de o animal ficar em casa é não estranhar o local, mas é preciso deixar água e comida disponível
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DIVULGAÇÃO VETNIL
car das condições do local, conhecer o ambiente em que o pet irá ficar, qual ração que é fornecida, as atividades praticadas, a segurança do hotel, e se existe um veterinário responsável ou uma clínica que possa prestar algum tipo de suporte, caso necessário”. 2. Observe a infraestrutura Na visita, a veterinária sugere que sejam observados detalhes referentes à infraestrutura do local, como se o espaço onde os pets dormem e se alimentam é coberto ou não e se os animais são alojados em locais fechados e qual o tamanho. 3. Atente para a limpeza e demais hábitos do hotel Também é preciso reparar na limpeza, no horário das refeições, em como os animais são separados e que tipos de pets são hospedados no estabelecimento: se são aceitos pets agressivos ou anti-sociais. 4. Tome algumas precauções em prol da saúde do seu pet Além de todos esses cuidados, é também preciso tomar algumas precauções antes de deixar seu pet em um hotel, explica Vincoletto. “Como um tratamento preventivo, é importante aplicar um ectoparasiticida no animal, impedindo a infestação com pulgas e carrapatos”. Vale também conferir se a carteirinha de vacinação e vermifugação do pet está em dia e passar informações básicas sobre o animal para a pessoa que ficará responsável por ele, tais como detalhes sobre a rotina diária e se ele costuma tomar algum medicamento ou não. É importante informar o veterinário do animal que ele ficará em um hotel, além de passar para o estabelecimento o contato do profissional.
Cães adoram brincadeiras ao ar livre
E A SAUDADE DO BICHINHO? Não é só o animal que sente falta do seu dono, o contrário também acontece e bastante. Para quem não consegue ficar sem ver a carinha do seu bichinho de estimação, a internet está aí para ajudar. Já existem hotéis para animais que disponibilizam o serviço de webcam, no qual é possível assistir pelo site do estabelecimento como o seu animal está se comportando por ali. E ao vivo!
O REENCONTRO É UM MOMENTO DE ALEGRIA E DE ATENÇÃO Na hora de buscar o pet, além de matar a saudade, é preciso verificar se ele se encontra nas mesmas condições em que foi deixado no estabelecimento. “É importante o proprietário fazer uma observação pelo corpo do animal antes de sair do local, pois caso haja algo diferente o hotel terá que prestar suporte por meio do veterinário responsável pelo estabelecimento”, alerta Vincoletto. No geral, para evitar complicações, é imprescindível ler de forma cautelosa o termo de compromisso do estabelecimento. E depois de escolhido o local em que o pet ficará, é só preparar as malas e boas férias!
Biscoito ajuda a manter hálito fresco
PEDIGREE
Todos podem sofrer com o mau hálito, e com os cães não é diferente. Para evitar esse incomodo na hora de brincar com o seu pet o Petshop trouxe o PEDIGREE® DentaFresh, um biscoito crocante que promove até 3 horas de hálito mais fresco! O snack é composto por ingredientes exclusivos como eucalipto, menta e salsa que o tornam mais saboroso. E além de fazer a alegria do animal, o biscoito ajuda a remover o tártaro e a manter os dentes mais limpos. A escovação dos dentes do animal não é um trabalho simples e dificilmente é feita com frequência. A dica para fugir do mau cheiro é oferecer diariamente ao seu cachorro um PEDIGREE® DentaFresh.
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AGRICULTURA FAMILIAR
Oleaginosas de alto valor agregado
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á alguns anos, a Empresa Matogrossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (Empaer) desenvolve pesquisas com as culturas do amendoim e gergelim testando materiais genéticos para produção de alimentos e biodiesel. As oleaginosas são consideradas excelentes fontes de renda e alimento devido ao elevado valor agregado de seus produtos, tradicionalmente explorados pela agricultura familiar. Estão sendo avaliadas 18 linhagens, sendo oito de amendoim e dez de gergelim, em quatro municípios do Estado. O pesquisador da Empaer, Norival Tiago Cabral, explica que nos próximos plantios serão aplicadas técnicas e métodos de melhoramento para avaliação, seleção e síntese de cultivares com características de produtividade, precocidade, resistência a doenças e insetos e para cultivo manual ou mecanizado. O objetivo é disponibilizar cultivares que atendam aos diversos requisitos exigidos pelas cadeias produtivas do amendoim e gergelim. Os materiais em teste são oriundos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e de outras instituições de pesquisa.
Qualidade Conforme Norival, a determinação da composição nutricional, teor e qua-
lidade do óleo são importantes para introduzir características que aumentem a competitividade no mercado. A expectativa é apresentar resultados com informações técnico-científicas sobre o comportamento genético e agronômico de genótipos adaptados aos diferentes sistemas de cultivo, resistentes a pragas e doenças e que contribuam para o aumento da produtividade. A pesquisa conta com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso (Fapemat).
Avaliação Os experimentos estão sendo avaliados nos municípios de Tangará da Serra, Primavera do Leste, Sinop e São José dos Quatro Marcos. O trabalho visa atender à demanda dos agricultores familiares como uma alternativa de renda, utilizando pequenas áreas, e potencializar a atividade econômica em forma de associação. Segundo Norival, a intenção é ampliar a pesquisa com outras oleaginosas como o pinhãomanso, mamona, girassol e outras. “Estamos testando diferentes materiais genéticos para selecionar os melhores”, esclarece. Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a cultura do amendoim no Mato Grosso ocupa uma área de 3.188 hectares, produção de 7.754 toneladas e
produtividade de 2.432 quilos por hectare. O plantio concentra-se nos municípios de Campo Novo do Parecis, Tangará da Serra, Barra do Bugres, Aripuanã, Cáceres e Alto Paraguai. O gergelim é plantado numa área de 435 hectares, com produção de 141 toneladas e rendimento de 324 quilos por hectare. As lavouras estão localizadas nos municípios de Alto Boa Vista, Porto Alegre do Norte, Colniza e Cocalinho.
Origem O gergelim é uma planta originária da Índia e seus frutos são cápsulas que variam de tamanho de dois a oito centímetros de comprimento e chegam até dois centímetros de diâmetro. As sementes são pequenas e ovaladas e ligeiramente achatadas. As sementes pretas são as mais utilizadas para cultivo de subsistência e as de coloração branca e creme são destinadas à indústria de panificação e ao mercado internacional. O amendoim é uma leguminosa de origem sul-americana. Rico em óleo, proteínas e vitaminas, era uma importante fonte de energia utilizada intensamente na alimentação dos indígenas antes da colonização. Nos dias atuais, o amendoim é um produto conhecido e apreciado em praticamente todos os países pelo seu incomparável sabor e versatilidade de uso em pratos salgados, doces e pela indústria. ROSANA PERSONA — EMPAER MT
O gergelim (abaixo) e o amendoim (ao lado) são oleaginosas com dupla finalidade: produção de alimentos e biodiesel
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EMPAER MT
Cultivo de amendoim e gergelim é mais uma alternativa de renda para a agricultura familiar
ANDRÉ VALENTIM-BANCO DE IMAGENS PETROBRAS
AGRICULTURA FAMILIAR
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ALIMENTAÇÃO
Óleo de amendoim: o amigo do coração
A vitamina E, por exemplo, é um poderoso antioxidante, capaz de defender o organismo das agressões externas e ajudar na absorção da vitamina A. Já o Ômega 6, um ácido gordo poli-insaturado, é essencial na estruturação das membranas celulares do organismo, no sistema de coagulação (prevenindo as hemorragias) e na proteção da pele. A nutricionista Gislaine Anvanello explica que uma das principais características do óleo de amendoim é o altíssimo teor de vitamina E. “Por causa desta vitamina, ele é responsável pela eliminação de radicais livres que podem danificar células sadias no organismo”, diz. Segundo a especialista em alimentos e dietas naturais Silvia Amaral, o óleo de amendoim tem cerca de 28% de proteína em sua composição e, por isso, sua carga energética é tão intensa. “Este óleo é útil no combate e prevenção de doenças de pele, para auxiliar no metabolismo e é usado também contra infecções”, afirma.
Composto auxilia na redução do colesterol, é rico em vitaminas e preserva o sabor natural dos alimentos
C
omo diz o ditado “O hábito faz o monge”, são os pequenos costumes saudáveis que proporcionam a melhoria na qualidade de vida das pessoas. Trocar, por exemplo, o uso de gorduras pesadas por similares mais leves na preparação dos alimentos é uma maneira de evitar problemas para a saúde, como também contribuir com uma melhor degustação dos alimentos. Com a crescente preocupação das pessoas em manter a saúde em dia, sobretudo nas questões nutricionais e, ao mesmo tempo, não perder o prazer durante a refeição, é preciso escolher os ingredientes apropriados para que essa receita dê certo. Um tipo de gordura que pertence à escala de ingredientes que une o útil ao agradável é o óleo de amendoim, que pode ser usado no preparo das mais diversas receitas, preservando o bem-estar do organismo e o sabor dos alimentos.
Não interfere no sabor natural dos alimentos Diferente de outros, o uso do óleo de amendoim não interfere no sabor dos alimentos. O preparo das refeições pode ser feito sem que o óleo absorva o sabor da comida e o transfira para outros alimentos, mantendo, desta forma, o sabor natural dos ingredientes. Outro fator interessante é que o óleo possui um alto ponto de fumaça, ou smoke point. O que significa que a sua temperatura se mantém alta por mais tempo, proporcionando economia para o consumidor. O uso desse composto é ideal para cozinhar, fritar, temperar saladas e também como margarina. Consumir óleo de amendoim pode ser uma opção mais saudável, durável e econômica comparada aos outros tipos. Mas, a especialista em alimentos e dietas naturais, Silvia Amaral, alerta que o produto não pode ser hidrogenado. “Pois perde as propriedades e começa a fazer mal”, conclui.
Sabe-se que o colesterol em excesso é extremamente prejudicial ao coração. Importantes pesquisas têm demonstrado que o uso do óleo de amendoim pode diminuir o risco de doenças cardiovasculares. Segundo um estudo realizado pela Universidade do Estado da Pensilvânia-EUA, substituindo-se 50% da gordura derivada de óleos de soja, milho ou animal, por gorduras provenientes do amendoim, é possível reduzir significativamente a produção do colesterol ruim no sistema sanguíneo. Segundo o Dr. Penny Kris Etherton, responsável pelo departamento de nutrição da universidade, isto ocorre porque no óleo de amendoim estão combinados altos índices de gordura monoinsaturada — que aumenta o colesterol sadio — e baixos índices de gordura saturada — encontradas na gordura animal, ricas em colesterol ruim. De acordo com a nutricionista Gislaine Arantes Sales Anvanello, este produto não contém gorduras que entopem o miocárdio, como outros óleos. “O consumo do óleo de amendoim é uma excelente forma de se combater o principal vilão do coração, o colesterol alto, evitando, assim, doenças cardiovasculares”, afirma.
SEMENTE ESPERANÇA
Reduz o colesterol e previne doenças cardíacas
O óleo de amendoim também se destaca pela rica base de nutrientes que possui. Composto pelos nutrientes E, K e Ômega 6, é uma oleaginosa com alto valor energético.
SEMENTE ESPERANÇA
Importante fonte de energia e vitaminas
Rico em nutrientes e vitaminas, o óleo de amendoim não interfere no sabor dos alimentos
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A
Amendoim sadio sem aflatoxina
do ao excesso de umidade no solo, especialmente em períodos que antecedem ou coincidem com a colheita. Essa recomendação é resultado de uma pesquisa conduzida pela Embrapa Cerrados, localizada em Planaltina (DF). Foi estudado o manejo da irrigação, o que levou à produção de amendoins sadios e de boa qualidade, que é do interesse tanto do produtor, quanto do consumidor. Embora ainda não seja muito produzida na região, a cultura pode ser uma boa alternativa para o agricultor e tem produtividade de mais de 3 toneladas por hectare.
produção de amendoim é uma opção importante para os cerrados por se apresentar como produtivo e de boa qualidade, quando produzido sob regime de irrigação. Constituise também em mais uma alternativa para o sistema produtivo baseado na rotação de culturas. Outra vantagem da cultura na região é que, devido à possibilidade de controle da irrigação, é possível chegar a um produto sem aflatoxina, substância tóxica produzida por um fungo muito comum no alimento. Ela pode contaminar o amendoim, é responsável por intoxicações e tem-se mostrado cancerígena.
Aflatoxina
Período propício
A aflatoxina ocorre com maior frequência no amendoim, que é o substrato preferido pelo fungo que produz a substância. Isso constitui
um problema para a produção e consequentemente para o consumo, trazendo risco para a saúde do consumidor. Esses fungos crescem com variação de temperatura de 17 O C a 42OC, sendo o intervalo entre 25OC e 35 OC considerado ótimo. O crescimento do fungo é também ótimo quando o nível de umidade do solo varia de 15% a 35% e a umidade relativa varia de 87% a 98%. O período em que as vagens de amendoim permanecem dentro dessas condições ambientais também influencia o crescimento e produção de aflatoxina. Quando a umidade relativa está próxima de 70%, o conteúdo de umidade na semente equilibrará entre 7% e 9%, um nível não favorável para o crescimento do fungo Aspergillus flavus, que produz a toxina. SEBASTIÃO FRANCISCO FIGUEREDO E JUSCELINO ANTONIO DE AZEVEDO PESQUISADORES DA EMBRAPA CERRADOS
FONTE ASSES IMPRENSA
O período mais propício para a produção sob total condição de irrigação é de maio a setembro, quando não há ocorrência de chuvas. A baixa umidade dessa época contribui para um alimento sadio, sem aflatoxina. A aplicação de água pela irrigação é uma alternativa viável para garantir o desenvolvimento da cultura e produção livre da substância tóxica. Já sob regime de chuvas, na maioria das vezes, a cultura apresenta índices elevados de contaminação por aflatoxina devi-
ÃO AÇ IC UN M CO
A aflatoxina é um problema para a produção e, consequentemente, para o consumo, trazendo riscos para a saúde do consumidor
A IV CT PE RS PE
Amendoim sem AFLATOXINA nos cerrados
CAROLINA BITTENCOURT
DIVULGAÇÃO
Por meio do controle da irrigação é possível obter amendoim sem aflatoxina nos cerrados
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CONTROLE BIOLÓGICO
ARMADILHAS com FEROMÔNIOS:
controle limpo e barato
RAUL LAUMANN
CLÁUDIO BEZERRA
Ensaios conduzidos pela Fundação Mato Grosso mostraram que armadilhas com feromônios sexuais são eficientes no monitoramento de pragas — como o percevejo-da-soja — e impactam a produtividade
As armadilhas com feromônios facilitam o monitoramento dos percevejos
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FRUTICULTURA
Rede A organização do Projeto em rede permite o compartilhamento de conhecimentos e equipamentos entre grupos com diferentes especialidades, maximizando o potencial de cada grupo e permitindo o alcance de resultados de forma mais dinâmica e precisa. Graças à essa união de saberes, foram realizados os testes de campo no Mato Grosso. Nesses ensaios, armadilhas à base de feromônios desenvolvidas pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, em parceria com a ISCA Tecnologias, foram testadas pela Fundação Mato Grosso, na Fazenda Guarita, na localidade de Rondonópolis (MT), com bons resultados. Segundo a pesquisadora da Fundação MT, Lúcia Vivan, os testes de campo foram conduzidos em duas áreas de 25 hectares cada, sendo uma com as armadilhas à base de feromônios (oito armadilhas com distância de 200 metros entre elas) e a outra com a metodologia de amostragem chamada de “pano de batida”.
Monitoramento O monitoramento realizado com as armadilhas de feromônios detectou população de percevejo marrom mais precoce e em maior número do que as amostragens realizadas com “pano de batida”. Este é um bom resultado para o monitoramento e controle dessa praga, explica Vivan. “Quanto antes detectarmos as populações de percevejos, mais cedo podemos iniciar o controle”. Os resultados obtidos pelos testes de campo mostraram que o controle mais precoce, propiciado pela utilização de feromônios, impacta diretamente a produtividade nas lavouras de soja, já que o percevejo marrom é uma das piores pragas dessa cultura no Brasil. O inseto se alimenta diretamente nos grãos, causando sérios prejuízos no rendimento e na qualidade das sementes, como baixo vigor e menor teor de óleo. Segundo a pesquisadora, a área com as armadilhas apresentou maior produtividade e menor quantidade de sementes danificadas. Ela explica que, em 2013, outros testes serão feitos em novas áreas no estado do Mato Grosso.
Feromônios e cairomônios O Laboratório de Semioquímicos da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, liderado pelo pesquisador Miguel Borges, desenvolve estudos com os semioquímicos (feromônios e
CLÁUDIO BEZERRA
T
estes de campo realizados pela Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso — Fundação MT localizada em Rondonópolis, município de Mato Grosso mostraram que a utilização de armadilhas à base de feromônios sexuais em lavouras de soja é uma boa estratégia para monitorar e controlar as populações de percevejos que atacam essa cultura, especialmente o percevejo marrom. A iniciativa é resultado do projeto “Rede Nacional de Ecologia Química (Repensa)”, liderado pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, além de outras instituições brasileiras e internacionais, com o objetivo de estudar a comunicação química entre seres vivos (insetos, plantas e animais pecuários) e utilizar esses conhecimentos em prol do controle biológico de pragas agrícolas.
O pesquisador Miguel Borges desenvolve estudos com feromônios e cairomônios em laboratório para aplicá-los em campo
cairomônios) das diferentes espécies de percevejos da soja, desde 1990, para controle e monitoramento de percevejos que atuam como pragas na cultura da soja no Brasil. Os feromônios são os mais importantes elementos da comunicação entre os insetos. São substâncias químicas de cheiro peculiar, presentes em cada espécie, que atuam como meios de comunicação. Na natureza, os feromônios são responsáveis pela atração de indivíduos da mesma espécie para acasalamento, demarcação de território e outros tipos de comportamento. Os cientistas reproduzem, em laboratório, as condições observadas na natureza para monitorar o comportamento dos insetos-praga e interromper a sua reprodução.
Soja A soja é uma das principais culturas agrícolas do Brasil, com uma produção de 68 milhões de toneladas, envolvendo 16 estados e uma área superior a 23 milhões de hectares. O percevejo da soja é uma das pragas mais nocivas a essa cultura, de norte a sul do Brasil e também em outros países, como Argentina e Estados Unidos. Hoje, a tecnologia existente para monitoramento e identificação da presença de percevejos nas lavouras de soja, é a técnica do pano de batida, que além de exigir mão de obra qualificada, demanda tempo dos técnicos envolvidos no monitoramento. Por estes motivos, não é muito utilizada pelos produtores, especialmente em plantios extensivos.
Armadilhas As armadilhas desenvolvidas a partir de feromônios facilitam o monitoramento dos percevejos nas lavouras de soja, pois as capturas são especificas à praga-alvo, exigindo somente que o produtor conte o número de insetos. “O que se espera, no futuro, é que o produtor espalhe as armadilhas na área cultivada e faça inspeções semanais em busca de percevejos. Sempre que o número de insetos alcançar uma quantidade pré-determinada, a aplicação de inseticida será recomendada, de forma a aumentar a efetividade do controle e, o mais importante: diminuir o número de aplicações de pesticidas, o que protege o bolso do agricultor e o meio ambiente”, afirma o pesquisador Miguel Borges , que também é coordenador da Rede. A Lavoura NO 696/2012 73
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CONTROLE BIOLÓGICO
Vantagens do uso de insetos no controle de pragas e doenças ARQUIVO EMBRAPA SEMIÁRIDO
Segundo ele, a Embrapa e a ISCA Tecnologias vão investir em novos testes de campo na próxima safra da soja, visando não apenas ao monitoramento, como também ao controle da população de percevejos, com a utilização de feromônios nas diferentes regiões produtoras. “O processo consistirá em concentrar a população de percevejos em uma determinada área, denominada “área ou cultura armadilha”, na qual serão aplicadas medidas de controle”, explica Borges.
Rede Repensa O objetivo final da Rede Repensa, de acordo com o pesquisador, é organizar um banco de semioquímicos, proteínas e genes envolvidos na comunicação química de plantas, animais e insetos, para tornar mais eficiente o processo de desenvolvimento de tecnologias baseadas nessas moléculas. Por isso, as pesquisas estão sendo realizadas em nível básico — para compreender os mecanismos naturais de interação inseto-inseto, inseto-planta e inseto-mamífero — e em nível aplicado, como o teste de campo de Rondonópolis, entre outras ações em conjunto entre as instituições envolvidas. Segundo o pesquisador, os semioquímicos ocupam hoje cerca de 30% do mercado de biopesticidas no mundo, perdendo apenas para os inseticidas bacterianos e os botânicos. No Brasil, o mercado de semioquímicos está em franca expansão, com mais de 15 produtos registrados e outros em fase de registro. “Com esse Projeto, esperamos contribuir para a sustentabilidade da agricultura no Brasil”, finaliza Borges. Participam da Rede as seguintes unidades da Embrapa — Pecuária Sul; Arroz e Feijão; Pecuária Sudeste; Amazônia Ocidental e Clima Temperado — as universidades: Estadual de Mato Grosso (Unemat); de Brasília (UnB); Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); Federal de Lavras (UFLA); Federal de São Carlos (UFSCar); Federal de Goiás (UFG), além de instituições brasileiras — Fundação de Apoio à Pesquisa Agrope-cuária de Mato Grosso — Fundação MT; CEPLAC/Bahia; Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI) e Empresa Matogrossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (EMPAER) — e internacionais: USDA/ARS-Chemicals, Affecting Insect Behavior Laboratory e Rothamsted Research-Chemical Biological Group. FERNANDA DINIZ - EMBRAPA RECURSOS GENÉTICOS E BIOTECNOLOGIA
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em todo inseto é ruim para as plantas. Na verdade, alguns deles são tão benéficos que o melhor a fazer é criar condições para que se estabeleçam em meio aos cultivos, pois fazem, com vantagens, o que os agricultores só têm conseguido ao usar intensivamente insumos químicos: controlar pragas responsáveis por danos diversos à produção agrícola. Nas instituições de pesquisa, como a Embrapa Semi-árido, são crescentes os estudos que avaliam a eficiência dessa técnica na superação de vários problemas fitossanitários em culturas de importância econômica. No Laboratório de Entomologia, a pesquisadora Beatriz Jordão Paranhos Aguiar tem encontrado resultados promissores com três insetos predadores de outros insetos que causam perdas severas a espécies de plantas forrageiras e frutíferas. Um deles, chamado de Exochomus (Zagreus) bimaculosus, é um predador nativo que se alimenta, durante as fases de larva e adulto, de cochonilhas de corpo mole e de carapaça, pulgões, ovos e lagartas de mariposas. Outro, o Cryptolaemus montrouzieri, uma espécie de joaninha de origem australiana, ataca várias espécies de cochonilhas e afídeos (pulgões). Já a Chrysoperla externa é um grande predador encontrado em variadas culturas de interesse econômico, a exemplo do algodoeiro, citros, milho, soja, alfafa, fumo, videira, macieira, seringueira, mangueira e videira.
Estratégia Pesquisador da Embrapa Semi-árido e responsável pelo Laboratório de Controle Biológico, Carlos Gava explica que fungos e bactérias também podem ser empregados na contenção da população de organismos que causam perdas severas aos plantios ou à qualidade de grãos ou de frutos. A técnica é importante e seu uso ajuda a compor a sustentabilidade de uma agricultura moderna, seja em uma escala familiar ou em empreendimentos com extensas áreas cultivadas. O emprego dos chamados “insetos do bem” evita o uso indiscriminado de produtos químicos e, em consequência, inibe a ocorrência de problemas relacionados à resistência de pragas aos inseticidas, afirma Gava. O engenheiro agrônomo Elder Manoel Moura Rocha, supervisor do Núcleo de Comunicação Organizacional (NCO) da Embrapa Semi-árido, aponta que o manejo de pragas com base nos inimigos naturais gera benefícios que vão além dos ganhos com as produtividades nos cultivos. Por se tratar de um insumo natural, não há risco de intoxicar trabalhadores rurais. Além disso, não polui o meio ambiente nem causa desequilíbrio ecológico
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MANEJO BOVINO
Doença dos cascos, PREJUÍZO na certa Infecção nos pés dos animais gera prejuízos e pode contaminar todo o rebanho como pisos escorregadios, lama, esterco e umidade”, conclui. O tratamento deve ser rápido com a higienização, curetagem e casqueamento do local infectado, associados a antibióticos e anti-inflamatórios.
Além de causar muita dor, a doença pode espalhar-se rapidamente
EMBRAPA GADO DE LEITE
predispondo a lesões e infecções”, diz Mello. Mas é no gado confinado que ocorre a maioria dos casos. Pisos de concreto ou abrasivos, molhados e com esterco contribuem para a menor resistência a parasitas e maior susceptibilidade às infecções nos pés. Outros fatores, como alterações metabólicas e dietas de alta energia, colaboram para alterações fisiopatológicas nos dedos e unhas que, associadas ao sistema de criação e manejo, desencadeiam a doença. Mello alerta também que as pododermatites são as doenças de maior ocorrência e, como geralmente é infectocontagiosa, é fácil a transmissão de um animal para o outro. Assim, os animais doentes devem ser tratados rapidamente para que a infecção não se dissemine a todo o rebanho. “Os animais acometidos devem ser separados dos animais sadios e afastados dos fatores que desencadearam a doença,
OUROFINO AGRONEGÓCIO
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doença dos cascos é uma enfermidade comum no campo, mais frequente no gado de leite, atingindo cerca de 30% das vacas leiteiras. Devido à queda na produção e aos gastos com tratamentos, o prejuízo chega a US$ 88 por vaca acometida. Por esse motivo, a lesão nos pés ainda é uma das principais causas do descarte de animais. “O animal fica manco, sente muita dor e evita ir até o cocho ou ao bebedouro. Como consequência, deixa de se alimentar, e a produção cai”, explica o médico veterinário e supervisor técnico de produtos da Ourofino, Ingo Mello. Locais alagados e currais de manejos com cascalhos influenciam no aparecimento da inflamação. “Temos observado um aumento da doença nos pastos, quando há falhas no manejo e reforma de pastagens com ramos de capim que ferem os dedos dos animais,
Pisos úmidos, e mal higienizados facilitam a contaminação
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ORGÂNICOS
Água que gera energia e renda O Brasil é o segundo maior produtor de orgânicos, com pouco mais de 10% da área mundial. São 11.500 propriedades certificadas, que ocupam 1,5 milhão de hectares, segundo dados de 2012 do Ministério da Agricultura. No país, a atividade cresce a uma média de 30% ao ano, agrega mais de 15 mil produtores rurais, dos quais 80% familiares. A hidrelétrica Itaipu Binacional, maior do mundo em geração de energia, localizada em Foz do Iguaçu (PR), fronteira com o Paraguai, contribui para esse crescimento. Seu projeto focado nos produtos orgânicos envolve 1.200 famílias, 22 associações e sete cooperativas
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consumo interno ainda tímido, na casa de 1% do mercado total de alimentos, indica o potencial de crescimento deste setor, tanto no mercado interno quanto externo. No campo, ainda faltam pesquisas e tecnologias, principalmente para controlar pragas e doenças, além de melhor organização que promova escala de produção e aumento de renda para os produtores. Assim como na produção tradicional, os orgânicos também enfrentam — e mais intensamente — gargalos na comercialização. Hoje, os principais produtos exportados, segundo dados da Apex, são café, cacau, soja, açúcar mascavo, erva-mate, suco de laranja, óleo de dendê, frutas secas, castanha de caju e guaraná. É preciso conquistar mais espaço no mercado externo e com produtos com maior valor agregado.
Modelo de uma década Desenvolvido há uma década pela Itaipu binacional, na bacia hidrográfica do rio Paraná 3, o Programa Cultivando Água Boa, que tem como missão gerar energia elétrica com responsabilidade social e ambiental, impulsionando o desenvolvimento econômico, turístico e tecnológico sustentável, criou vários outros programas, entre eles, o Programa de Desenvolvimento Rural Sustentável e o Vida Orgânica.
Água Boa O Cultivando Água Boa, nasceu como uma resposta à problemática global decorrente das mudanças climáticas, epidemias e perda da biodiversidade. Também procura solucionar problemas regionais do Estado do Paraná, buscando a redução da erosão, do desmatamento e do uso excessivo de agrotóxicos. Outra questão regional é a concentração de produção de aves e suínos e a decorrente geração de resíduos e efluentes, que acabam atingindo a represa e geram passivos ambientais. O Cultivando Água Boa abrange 29 municípios da Bacia do Paraná, uma área de 3,8 mil km² composta por 196 microbacias, e suas ações — são mais de 65 junto a 2.146 parceiros — atingem cerca de um milhão de habitantes. O Programa Desenvolvimento Rural Sustentável de Itaipu, nasceu, segundo o seu gestor, Sérgio Angheben, como uma alternativa para os agricultores que querem produzir de modo mais responsável. O trabalho parte do princípio básico da
agricultura sustentável, amparado no tripé: ecologicamente correto, economicamente sustentável e socialmente justo. Uma de suas principais ações é o incentivo à agricultura orgânica baseada na gestão participativa, na qual um comitê gestor atua junto a vários parceiros entre ONGs, entidades governamentais e sociedade civil organizada. É este comitê que toma as principais decisões do Programa de Desenvolvimento Rural Sustentável.
Assistência técnica Apesar da decisão de se priorizar a agricultura orgânica, a falta de assistência técnica e extensão rural (Ater) era um entrave, superado por meio da formação de uma rede de Ater praticamente privada, na qual Itaipu arca com 75% dos recursos e entidades e prefeituras municipais com os 25% restantes. Há dez anos, no início do programa, eram 188 agricultores orgânicos em conversão. Hoje são atendidas 1.200 famílias, gratuitamente. Além da assistência direta nos assuntos relacionados ao campo, os técnicos também orientam na formação de associações e cooperativas. Ao longo dos anos, foram criadas e recebem assessoria 22 associações e sete cooperativas.
Vida Orgânica Na ponta da comercialização, Itaipu apoia com o projeto Vida Orgânica, composto por 21 feiras regulares, 12 pontos de venda e 10 feiras móveis. O objetivo é fazer com que o produtor estabeleça contato direto com o consumidor. A usina também está investindo na inclusão de produtos orgânicos nos típicos cafés coloniais da região.
As associações Entre as cooperativas, Sérgio Angheben destaca a Cofamel, cuja maior parte dos apicultores mantém as suas colmeias na faixa de proteção do reservatório da Itaipu, com extensão de 200 metros de vegetação. A cooperativa conta com um mix de 15 produtos e 411 pontos de venda, em oito estados e no Distrito Federal, para escoar as mais de 219 toneladas de mel produzidas ao ano. Outro exemplo de prosperidade é a Coperfam, que iniciou a venda de alimentos orgânicos para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) em 2011, ano em que faturou
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ORGÂNICOS R$ 420 mil. Já em 2012, fornecendo para 52 escolas em 12 municípios, os 88 cooperados venderam mais de R$ 1 milhão, e a previsão para este ano é de um faturamento de R$ 2 milhões. A participação das cooperativas de orgânicos no PNAE e no Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) gerou uma receita total de R$ 7,3 milhões, na Bacia do Rio Paraná 3.
Suporte Itaipu, em parceria com a Prefeitura Municipal, mantém um centro de difusão e pesquisa no município de Santa Helena, que atende a mais de 1.600 pessoas/ano, en-
tre agricultores e demais interessados na produção orgânica. Mais de 52 caravanas já foram organizadas e 60 palestras ministradas no período de um ano. Além disso, a usina apoia a criação de agroindústrias (abatedouro de frango caipira, processamento de frutas, mel e vinho e beneficiamento de grãos) e incentiva o controle de qualidade dos produtos. Já treinou 870 merendeiras em manipulação de alimentos, estimulando-as através da promoção de concursos de receitas com alimentos orgânicos. Itaipu também atua na educação ambiental, atingindo 135.000 alunos, por meio da distribuição da cartilha ‘Mundo Orgânico’ e da implantação de 218 hortas escolares.
NILTON ROLIN
CAIO CORONEL
A assistência técnica e a extensão rural atendem a 1.200 famílias e orienta na estruturação de associações e cooperativas
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EMPRESAS SYLVIA WACHSNER
Amor ao verde
associados participam da comercialização conjunta de toda a produFundada no Rio de Janeiro, em ção de alimentos orgânicos. 2007, a Amora Verde comercializa A Amora Verde também repreprodutos orgânicos de qualidade, senta a Vale das Especiarias Orgâcertificados, com foco na agricultura nicas (Valeso), localizada na Bahia, familiar e no comércio justo e susprodutora de especiarias finas voltentável. Segundo sua idealizadora tadas para o segmento gourmet, e diretora, Verônica Oliveira, a emcomo fava de baunilha orgânica, presa atua ao longo de toda a cacardamomo, açúcar baunilhado, deia produtiva — agricultura, indúsmix de especiarias e curry Taj tria e comércio — além de prestar Sucos orgânicos da Coopernatural Mahal, entre outros. consultoria para estabelecimentos que desejam iniciar a venA Nativas do Brasil é outra empresa familiar, do sul catada de produtos orgânicos, informando sobre novidades do rinense, representada pela Amora Verde. Produz a palmeira setor e promovendo palestras, cursos e feiras, entre outros. real, da qual extrai, após quatro anos de cultivo, o palmito Miolo Para atingir seus objetivos, a Amora Verde trabalha em Real, de textura e sabor diferenciados. Também certificada como parceria com pequenos produtores e iniciativas da agriculorgânica, a empresa colabora para combater a extração pretura familiar. São produtores comprometidos em apresendatória da palmeira Juçara, nativa da Mata Atlântica. tar produtos sadios, plantados e cultivados sem agrotóxiEntre outros produtos representados pela Amora Verde estão cos e fertilizantes químicos, mantendo suas propriedades as cachaças artesanais e os licores Weber Haus, os molhos e nutricionais intactas. Como resultado, a Amora Verde ofepolpas de tomate importados da italiana Terre di Sangiorgio, rece um portfólio de produtos benéficos à saúde, que atende a banana passa e as bananas processadas com sementes e ao rápido crescimento do segmento de orgânicos. grãos da Banana Power, os néctares, sucos integrais, doces Seu carro-chefe é a Coopernatural, cooperativa da sere geleias da Novo Citrus, os sais com pimenta e flores comesra gaúcha fornecedora de uma diversa linha de produtos tíveis da Ganesha Produtos Orgânicos. como açúcar mascavo, doces em calda, chás, geleias, mel, www.amoraverde.com melado, néctares, sucos, vinhos e espumantes. Seus 32
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Produzida a partir de processo de liofilização, que preserva 93% dos nutrientes contidos nos alimentos, a nova linha de sopas instantâneas Soupi da Korin tem teor controlado de sódio e seu sabor é obtido somente através de ervas e condimentos naturais. É a primeira sopa instantânea do mercado a utilizar o frango orgânico certificado produzido pela Korin, que confere ainda mais sabor e qualidade ao produto. A novidade, que possui o frango orgânico como base, pode ser encontrada nos sabores frango orgânico com batatas, com fubá de milho, com legumes ou com abóbora kabochá, de sabor adocicado graças à presença da abóbora japonesa em 70% da sua composição. A embalagem, em forma de envelope, possui 17 gramas, que, misturadas a 200 ml de água quente, rende uma porção saborosa e livre de aditivos químicos como conservantes, corantes e realçadores de sabor, presentes na maioria dos alimentos prontos convencionais encontrados no mercado. www.korin.com.br
Alternativa saudável ao açúcar Calda de Agave Azul tem frutose 100% pura e orgânica
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ova alternativa ao açúcar, a Calda de Agave Azul representa a possibilidade de uma alimentação mais saudável. Completamente natural e orgânica, é extraída do agaveazul Tequilana Weber, planta nativa do México. A Calda de Agave azul reúne mais três vantagens em relação ao açúcar e aos adoçantes: composição natural, sem aditivos químicos; maior poder adoçante e paladar neutro (não interfere no sabor original do alimento). “Levando-se em conta o poder adoçante superior, é possível substituir três colheres de açúcar por duas colheres de Calda de Agave azul. Portanto, o valor energético (calórico) acaba sendo menor”, explica Adriana Bassoul, nutricionista do Sítio do Moinho, importador oficial do Agave (puro) no Brasil. “Ainda que seja aquecido ou resfriado, o poder adoçante se mantém.”, acrescenta. www.sitiodomoinho.com
O lançamento da Korin é livre de aditivos
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SÍTIO DO MOINHO
Korin lança sopa instantânea orgânica
EMPRESAS Referência em orgânicos derivados da soja
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ECOBRAS
ma das empresas pioneiras na produção de derivados da soja orgânica, livres de lactose e colesterol, a Ecobras se destaca no mercado pela qualidade de seus produtos. Não há consumidor que prefira alimentos à base de soja que não conheça a empresa. Sua linha de produtos inclui desde o leite de soja in natura a três diferentes tipos de tofu fresco, tofu defumado, cottage de tofu, pastas de tofu de diferentes sa-
Kosher, que diz respeito à produção de alimentos de acordo com normas da religião judaica. Fundada em 1989, em Nova Friburgo (RJ), a Ecobras iniciou suas atividades hospedando interessados em programas de reeducação alimentar. Foi a demanda por produtos com o padrão de qualidade necessários à realização das atividades nos programas que levou a empresa a dar início à produção, em pequena escala, de alimentos à base de soja. O excedente produzido começou a ser vendido para restaurantes do Rio de Janeiro e cooperativas orgânicas. Logo a procura começou a crescer. Assim, dez anos mais tarde, a empresa passou a dedicar-se exclusivamente à produção de alimentos, instalando sua unidade fabril no bairro de Guaratiba, no Rio de Janeiro. www.ecobras.com.br
bores, quatro variações de hambúrgueres de soja, pasta homus (à base de grão-de-bico), molho shoyu, até sobremesas à base de soja com açúcar orgânico. A soja e os demais ingredientes são certificados na origem, provenientes da agricultura orgânica e cada produto processado, também é certificado. A Ecobras possui o selo Ecocert de certificação orgânica, ou seja, a garantia de que a produção está de acordo com as normas de produção orgânica, entre elas a proibição do uso de produtos químicos que prolongam o tempo de prateleira. Na maioria dos produtos, a empresa também possui a certificação
OLEARYS
A grande variedade de produtos faz a Ecobras se destacar no mercado
Plantação monitorada
Monitoramento climático reduz uso de agrotóxicos O Brasil é o país que mais utiliza agrotóxicos no mundo, respondendo por 1/5 do consumo de agrotóxicos e 19% de todos os defensivos agrícolas produzidos globalmente, segundo pesquisas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O setor fatura no País 7,3 bilhões de dólares ao ano. Os Estados Unidos aparecem na segunda colocação, com 17% do consumo, enquanto os demais países somam 64%. O uso desses produtos cresceu 93% entre 2000 e 2010 em todo o mundo, mas no Brasil o percentual chegou a 190%. Dados da Anvisa e do Observatório da Indústria dos Agrotóxicos da Universidade Federal do Paraná (UFPR) mostram que, em média, o produtor brasileiro consome 5,2 litros de agrotóxico por ano. Em 2011, foi pulverizado um total de 852 milhões de litros nas lavouras brasileiras.
Solução viável Um software pioneiro no Brasil, baseado em monitoramento do clima, foi desenvolvido pela empresa Olearys S/A
para beneficiar os produtores rurais. A técnica está sendo aplicada por agricultores familiares da Região Serrana do Rio de Janeiro, onde o uso de agrotóxico foi reduzido em até 52%, com consequente diminuição na emissão de gases de efeito estufa, já que o uso do maquinário também foi reduzido. “Conseguimos a adesão de alguns agricultores familiares da Região Serrana do Rio de Janeiro, como um produtor tradicional de tomate que diminuiu em 41,2% o uso de pesticidas e baixou o uso de água de 11.900 litros para 5.600 litros nas plantações”, explica o engenheiro agrônomo Marcos Balbi, CEO da Olearys. A plataforma de serviço da Olearys — um projeto em parceria com a Pesagro-Rio — promove o desenvolvimento de agricultura mais sustentável, com maior eficiência técnica, econômica e ambiental. Isso porque, mesmo com a utilização de menos agrotóxicos, as plantações se mostraram livres de doenças. Para Balbi, realizar o monito-
ramento climático é essencial para viabilizar a agricultura ecológica, uma vez que ele disponibiliza informações sobre a previsão do tempo, sobre o molhamento foliar e sobre a umidade do solo, auxiliando produtores e técnicos a tomarem decisões mais assertivas na aplicação do agrotóxico. Por ser considerado de grande impacto na geração de emprego e renda no país, o projeto foi selecionado pela multinacional de softwares empresariais SAP e o Instituto Endeavor do Brasil para o projeto “SAP Expoentes”, que visa capacitar a gestão de pequenas e médias empresas. A Olearys foi uma das 50 escolhidas, entre um total de 500 candidatos em todo o Brasil. www.olearys.com.br
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EMPRESAS
BASF
Novos produtos são alternativas para aumentar a qualidade das maçãs
populacional da Mariposa Oriental ou Broca-dos-ponteiros (Grapholita molesta). O produto age causando desorientação ou confusão sexual dos machos, interrompendo o seu ciclo e evitando a reprodução da praga por não haver a realização da cópula. Indicado para a cultura da maçã, o produto não estimula a resistência da praga, é de fácil aplicação e não causa efeitos negativos nos inimigos naturais das pragas. Outra vantagem é que ajuda a proporcionar uma colheita de frutos sadios, que atendem às normas de tolerância de exportação. A aplicação de Cetro® é recomendada também em pomares de pêssego, nectarina, ameixa, pêra entre outras frutas nas quais incide esta praga.
Produtos biológicos para a maçã
Biofungicida
A Unidade de Proteção de Cultivos da BASF apresenta aos fruticultores alternativas que proporcionem um melhor manejo de importantes pragas e doenças da maçã. De acordo com a empresa, utilizando produtos diferenciados como o Cetro® e Serenade® é possível obter resultados que adicionam valor à cadeia produtiva da maçã. “Os dois produtos vão ao encontro das necessidades dos produtores de maçã, cumprindo com o nosso objetivo de fornecer alternativas viáveis que colaborem para a melhor qualidade da fruta”, argumenta o gerente de Marketing para Hortifruti da BASF, Eduardo Eugênio Vieira. Cetro® é um produto à base de feromônio sintético com tecnologia desenvolvida pela BASF para o controle
Já o biofungicida Serenade® tem como princípio ativo a bactéria gran-positiva Bacillus subtilis, um agente biológico não patogênico e comum no meio ambiente. Sua principal característica é inibir o desenvolvimento de outros agentes biológicos nocivos às plantas e presentes na natureza. Indicado para o manejo de resistência de importantes fungos, possibilita ainda mais flexibilidade de aplicação em intervalos mais curtos que antecedem a colheita e de reentrada no campo. Serenade® é eficaz no controle de importantes doenças, além de proporcionar aumento da produtividade e qualidade das lavouras, aliado a um melhor gerenciamento dos limites máximos de resíduos. www.basf.com.br
Secador de grãos movido a gás
os que não têm recorrem às cooperativas que fazem esse trabalho. Além do custo com o transporte, outro problema apontado é que nas cooperativas não há separação dos grãos de cada produtor, gerando com isto perda de valor no mercado comprador”, afirma Marcos Moisés, gerente de desenvolvimento de mercado da Supergasbras. Além de reduzir o custo com transporte, já que a máquina vai até a lavoura, o sistema aumenta a garantia da qualidade do produto vendido, pois beneficia a produção individualmente, mesmo em dias chuvosos, o que é uma grande vantagem em relação ao método tradicional. O secador móvel de grãos tem a capacidade de beneficiar até 2.000 sacas de feijão por dia e, em média, são usados 0,5 kg de Gás LP em cada uma. www.supergasbras.com.br
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rojeto pioneiro no Brasil, que usa avançadas técnicas ecologicamente corretas e economicamente viáveis, o secador móvel de grãos movido a gás LP visa reduzir os custos dos produtores. Fruto de quase um ano de pesquisas, a máquina foi desenvolvida pela Supergasbras, empresa do grupo SHV Energy, em parceria com a Boom, companhia especializada em tecnologia. O secador móvel de grãos leva às lavouras toda a estrutura necessária para a realização do beneficiamento da safra, por um custo competitivo. O sistema é transportado até a lavoura por uma carreta, juntamente a um tanque de GLP. Os grãos são inseridos no equipamento, que faz a secagem por meio da queima do gás. O secador ainda possibilita pesar, separar e ensacar a safra e pode ser usado em plantações de feijão, café, milho, trigo, arroz e soja.
SUPERGASBAS
Lavouras de feijão No Brasil, o equipamento já está sendo utilizado em 50 fazendas, principalmente nas safras de feijão. “Os grandes beneficiados da nova tecnologia são os pequenos e médios agricultores. A secagem dos grãos obriga os fazendeiros a ter uma grande infraestrutura de beneficiamento, e O novo secador de grãos movido a gás é transportado até a lavoura por carreta
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Aliança Agropecuária
JORGE DUARTE
OPINIÃO
M AURÍCIO L OPES * O planeta vem passando por mudanças bastante significativas nos últimos anos, com avanço em várias frentes. O mundo muda com muita celeridade e torna-se mais complexo. O futuro aponta para uma sociedade totalmente inserida num ambiente de ciência, tecnologia e inovação extremamente dinâmico. A evolução do conhecimento em praticamente todos os ramos da atividade humana é alucinante. Essas revoluções no mundo da ciência e da tecnologia certamente trarão impactos na forma de atuação de instituições de pesquisa científica e tecnológica. Os processos de sofisticação que emergem em diferentes países e instituições exigem novos arranjos, além de uma visão aguçada do futuro da inovação agropecuária. A construção de parcerias e alianças se mostram fundamentais nesse cenário, se quisermos manter a eficiência e competitividade do setor. Diversos estudos e análises recentes mostram que a nossa agricultura será desafiada por transformações substanciais ao longo das próximas décadas. A pesquisa agropecuária será demandada pela agricultura brasileira para gerar inovações que contribuam para a diversificação, agregação de valor, produtividade, segurança e qualidade, com velocidade e eficiência superiores àquelas alcançadas no passado. Mais ainda, ela terá que buscar isso garantindo a sustentabilidade futura da agricultura frente às mudanças climáticas e à intensifica-
ção de estresses térmicos, hídricos e nutricionais previstos para as próximas décadas. Esses fatores exigirão substanciais avanços em diversos campos do conhecimento científico e tecnológico. Os desafios do futuro são enormes e é premente que as instituições passem a tentar antecipar as batalhas e a se preparar para elas. É preciso olhar adiante, pois tudo o que iniciarmos hoje só produzirá impactos no futuro — em alguns casos em futuro muito distante — como no melhoramento genético animal e vegetal, por exemplo. Por isso, é necessário fortalecer os ambientes de estudo, de análise e de antecipação. É fundamental que estejamos preparados para as batalhas que teremos futuramente. A Embrapa é uma empresa consciente de que em um mundo tão competitivo e complexo, nenhuma organização tem todas as competências para prover, de forma isolada e autossuficiente, as soluções que o País necessita. São essas evidências que levaram a Embrapa e o Conselho Nacional dos Sistemas Estaduais de Pesquisa Agropecuária (Consepa) a criarem o arranjo chamado “Aliança para a Inovação Agropecuária no Brasil”. Trata-se de uma nova plataforma de pesquisa que contará com estratégias e infraestrutura compartilhadas, governança mais ágil e foco no mercado de inovações para os setores agroalimentar e agroindustrial. A Aliança congregará 18 instituições estaduais, reunidas no Consepa, além das Unidades da Embrapa.
Maurício Lopes
Partimos da certeza de que o trabalho em redes de cooperação científica e tecnológica, que inclua as universidades e evite a atuação fragmentada e as agendas autossuficientes, é imprescindível para fortalecer e fazer avançar a capacidade de inovação da pesquisa agropecuária e do setor produtivo brasileiro. É também a aposta na inteligência estratégica a partir de esforços conjuntos. Assim será ainda maior a capacidade de diálogo com a sociedade e com os tomadores de decisão. Por mais que estejamos construindo alicerces mais sólidos para a Ciência, Tecnologia e Inovação brasileiras é preciso atenção sempre crescente. Pois se a ciência evolui em alta velocidade, os paradigmas são quebrados muito rapidamente e os desafios se sucedem e se tornam cada vez mais complexos. * Presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa
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