Ano 07 - Número 31 - 2017 - R$ 16,00 www.animalbusinessbrasil.agr.br
A FAGRAM
está de volta com ensino e de olho no mercado
TV GLOBO
presta serviço público mostrando a importância do agro
LEO CHAVES PIMENTEL
da dupla Victor & Leo cria gado Senepol, em Uberlândia Animal Business-Brasil_67
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uma publicação da:
O
CANTOR LEO – da bem-sucedida dupla Victor & Leo, na sua bela Fazenda Paraíso, no município mineiro de Uberlândia, investe em gado Senepol ao mesmo tempo em que conserva a mata nativa numa área total de 14 hectares. A FAGRAM – Instituição privada de ensino superior, mantida pela SNA – Sociedade Nacional de Agricultura, fundada em 1897 e proprietária da Animal Business-Brasil, voltou a funcionar depois de um período de reformulação dos seus cursos, sempre com foco no mercado de trabalho. Localizada numa área de Conservação Ambiental, com 150 mil metros quadrados, ricamente arborizada, de frente para a Avenida Brasil, na Penha, a Instituição inicia 2017 com os cursos de Bacharelado em Zootecnia; Curso Superior de Tecnologia em Gestão do Agronegócio e Curso Superior em Comércio Exterior. Informações: www.sna.agr.br e www.fagram.edu.br Tel.(21) 3977-9979. A TV GLOBO – Está prestando um inestimável serviço ao Brasil, mostrando com filmes da melhor qualidade – veiculados em horário nobre - a importância das atividades desenvolvidas na zona rural (AGRO) sob os ângulos da economia, da empregabilidade e da segurança alimentar. Praticamente tudo que se usa ou consome nas cidades vem do campo, com uma dependência quase total o que era ou ainda é pouco sabido. A agropecuária, o agronegócio, no mais amplo sentido, e a agroindústria são a verdadeira vocação do Brasil. Parabéns aos criadores, aos diretores, aos colegas jornalistas, aos cinegrafistas, aos editores, aos locutores e a toda Rede Globo de Televisão que está descobrindo o Brasil para os brasileiros. FÁBIO RAMOS – Diretor da Agrosuisse, inaugura a seção Zootecnia, assunto em que tem lar-
ga experiência, dando consultoria e assistência, há mais de 20 anos, para empresas e pessoas físicas no Brasil e no exterior. CARLOS ALBERTO MAGIOLI – Auditor Fiscal Agropecuário e membro da Academia de Medicina Veterinária no Estado do Rio de Janeiro, um especialista com larga experiência, nos prestigia com o lançamento da sua seção Inspeção, Tecnologia&Higiene de Alimentos de Origem Animal, cujo conteúdo, por sua abrangência e utilidade, interessará a uma ampla variedade de leitores. ROBERTO RODRIGUES – Ex-Ministro da Agricultura e Coordenador do Centro de Agronegócios da FGV-Fundação Getúlio Vargas, defende a tese, no seu bem fundamentado artigo, que as cooperativas colaboram para a paz universal. HÉLIO SIRIMARCO – Vice-Presidente da SNA-Sociedade Nacional de Agricultura e um dos profissionais mais bem informados sobre economia agrícola, analisa, com dados atualizados, o panorama do agronegócio com enfoque nas proteínas de origem animal. JOSÉ FREIRE DE FARIA – Membro da Academia Brasileira de Medicina Veterinária, é um pioneiro nos programas de combate à Febre Aftosa na América do Sul, já tendo ocupado cargos relevantes no Ministério da Agricultura e em organizações internacionais. Ele nos faz um relato histórico da maior relevância. Espero que este primeiro número de 2017 seja do seu agrado, leitor. Aumentamos o número de sessões permanentes, sob a responsabilidade de profissionais do mais alto nível, sempre tendo em mente do objetivo de produzir uma revista útil. Mais novidades virão.
Luiz Octavio Pires Leal Editor Animal Business-Brasil_3
Academia Nacional de Agricultura Fundador e Patrono:
Octavio Mello Alvarenga
Diretoria Executiva Antonio Mello Alvarenga Neto Osaná Sócrates de Araújo Almeida Tito Bruno Bandeira Ryff Maurílio Biagi Filho Helio Guedes Sirimarco Francisco José Villela Santos Hélio Meirelles Cardoso José Carlos Azevedo de Menezes Ronaldo de Albuquerque Sergio Gomes Malta
Presidente Vice-Presidente Vice-Presidente Vice-Presidente Vice-Presidente Diretor Executivo Diretor Executivo Diretor Executivo Diretor Executivo Diretor Executivo
Diretoria Técnica Alberto Werneck de Figueiredo Antonio de Araújo Freitas Júnior Antonio Salazar Pessôa Brandão Fernando Lobo Pimentel Jaime Rotstein José Milton Dallari Soares Kátia Aguiar Marcio Sette Fortes Maria Cecília Ladeira de Almeida Maria Helena Martins Furtado Mauro Rezende Lopes Paulo Manoel Lenz Cesar Protasio Roberto Ferreira da Silva Pinto Rony Rodrigues de Oliveira Ruy Barreto Filho Tulio Arvelo Duran
Comissão Fiscal Claudine Bichara de Oliveira Frederico Price Grechi Plácido Marchon Leão Roberto Paraíso Rocha Rui Otávio Andrade
Diretor responsável Antonio Mello Alvarenga Neto diretoria@sna.agr.br Editor Luiz Octavio Pires Leal piresleal@globo.com Relações Internacionais Marcio Sette Fortes Consultores Albino Belotto albino.belotto@gmail.com Alfredo Navarro de Andrade alfredonavarro@terra.com.br Alexandre Moretti cdt@pesagro.rj.gov.br
Presidente:
Luíz Carlos Corrêa Carvalho
Cadeira Patrono Titular 1 Ennes de Souza Roberto Ferreira da Silva Pinto 2 Moura Brasil Jaime Rotstein 3 Campos da Paz Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira 4 Barão de Capanema Francelino Pereira 5 Antonino Fialho Maurício Antonio Lopes 6 Wencesláo Bello Ronaldo de Albuquerque 7 Sylvio Rangel Tito Bruno Bandeira Ryff 8 Pacheco Leão Lindolpho de Carvalho Dias 9 Lauro Muller Flávio Miragaia Perri 10 Miguel Calmon Paulo Manoel Lenz Cesar Protásio 11 Lyra Castro Marcus Vinícius Pratini de Moraes 12 Augusto Ramos Roberto Paulo Cezar de Andrade 13 Simões Lopes Rubens Ricúpero 14 Eduardo Cotrim Pierre Landolt 15 Pedro Osório Luíz Carlos Corrêa Carvalho 16 Trajano de Medeiros Israel Klabin 17 Paulino Fernandes José Milton Dallari Soares 18 Fernando Costa João de Almeida Sampaio Filho 19 Sérgio de Cavalho Sylvia Wachsner 20 Gustavo Dutra Antônio Delfim Netto 21 José Augusto Trindade Roberto Paraíso Rocha 22 Ignácio Tosta João Carlos Faveret Porto 23 José Saturnino Brito Sérgio Franklin Quintella 24 José Bonifácio Kátia Abreu 25 Luiz de Queiroz Antônio Cabrera Mano Filho 26 Carlos Moreira Jório Dauster 27 Alberto Sampaio Elizabeth Maria Mercier Querido Farina 28 Epaminondas de Souza Antonio Melo Alvarenga Neto 29 Alberto Torres Arnaldo Jardim 30 Carlos Pereira de Sá Fortes John Richard Lewis Thompson 31 Theodoro Peckolt José Carlos Azevedo de Menezes 32 Ricardo de Carvalho Afonso Arinos de Mello Franco 33 Barbosa Rodrigues Roberto Rodrigues 34 Gonzaga de Campos João Carlos de Souza Meirelles 35 Américo Braga Fábio de Salles Meirelles 36 Navarro de Andrade Leopoldo Garcia Brandão 37 Mello Leitão Alysson Paolinelli 38 Aristides Caire Osaná Sócrates de Araújo Almeida 39 Vital Brasil Denise Frossard 40 Getúlio Vargas Luís Carlos Guedes Pinto 41 Edgard Teixeira Leite Erling Lorentzen 42 Elvo Santoro Gustavo Diniz Junqueira 43 Antônio Ernesto Werna de Salvo Eliseu Alves 44 Walmick Mendes Bezerra Walter Yukio Horita 45 Octavio Mello Alvarenga Ronald Levinsohn 46 Nestor Jost Francisco Turra 47 Edmundo Barbosa da Silva Maurílio Biagi Filho 48 Ibsen de Gusmão Câmara Izabella Mônica Vieira Teixeira 49 Antonio Ermírio de Moraes João Guilherme Ometto 50 Joel Naegele Alberto Werneck de Figueiredo 51 Luiz Marcus Suplicy Hafers Cesário Ramalho da Silva
Fernando Roberto de Freitas Almeida freitasalmeida03@yahoo.com.br Roberto Arruda de Souza Lima raslima@usp.br Depto. Comercial Naira Barelli (11) 9 5271-4488 email.: naira.barelli@sna.agr.br Secretaria Maria Helena Elguesabal adm.diretoria@sna.agr.br Valéria Manhães valeria@sna.agr.br Revisão Andréa Cardoso andreascardosojm@gmail.com
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66 Quanto custa um cavalo? TV Globo descobre o Brasil para os brasileiros Top News Números Leo Chaves Pimentel, da dupla Victor & Leo, investe em gado Senepol na sua Fazenda Paraíso, em Uberlândia Para o setor de proteínas de origem animal, 2016 terminou com melhores resultados do que as previsões Perspectivas do mercado do boi gordo para 2017 As cooperativas colaboram para a paz universal Inspeção, Tecnologia e Higiene Febre Amarela
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Início do combate à Febre Aftosa na América do Sul O trabalho de um pioneiro Zootecnia Tratamento dos resíduos da produção animal FAGRAM está de volta com força total Pet Business Síntese Animais Silvestres Zoonoses Ciência e Tecnologia Opinião
Animal Business-Brasil_5
Quanto custa um cavalo? Por:
Fernando Nascimento Magalhães da Silveira, Graduando em Engenharia Agronômica (ESALQUSP) e Roberto Arruda de Souza Lima, Prof. Dr. da ESALQ/USP.
Viktor Hanacek / Picjumbo
Cavalos são animais fantásticos com características e usos fenomenais, que usam uma elaborada linguagem corporal para comunicar uns com os outros, a qual os humanos podem aprender a compreender para melhorar a comunicação com esses animais. Com múltiplas funções, podem ser
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utilizados para esporte, lazer e trabalho. Os cavalos tiveram, e ainda têm, papel importante no transporte; seja como montaria, ou puxando uma carruagem, uma carroça, além do uso militar e importância nos trabalhos agrícolas, ou mesmo na alimentação. Mas você sabe quanto custa um cavalo?
Camilla Cintra
P
ara responder a essa pergunta, devemos separar o custo em duas etapas. Primeiro a compra do cavalo em si e depois o custo de manutenção do cavalo, que inclui: alimentação, ferragens, equipamento, veterinário, pastagens, alojamento e outras.
Há diversas formas para compra e venda de cavalos. Com o avanço da tecnologia, uma das mais populares é o comércio online, existem vários sites que vendem cavalos. Alguns vendem somente cavalos e possuem vários tipos de raça, pelagem, característica física, idade, uso do animal. Nesses sites, geralmente, são encontrados cavalos premiados e de valor. Mas a compra de cavalos pode ser feita, também, em sites de compra e venda em geral, como OLX e Mercado Livre, locais em que é mais comum encontrar cavalos com baixo preço e de idade um pouco avançada, embora também possam ser encontrados, em menor quantidade, cavalos que ganharam corridas e outras competições. Mesmo com o avanço das vendas online, os leilões ainda têm sua grande importância, porém vêm se modificando e atualizando com o tempo. Existem muitos leilões de diversas raças de equinos e outros animais pelo Brasil afora, que são muito tradicionais, e contam, às vezes, com eventos regados a muita bebida e celebrações. Com o avanço da tecnologia e com o auxílio da internet, há leilões que são virtuais, com a mesma temática dos leilões presenciais porém com a velocidade e a facilidade da internet, que consegue encurtar distâncias.
Camilla Cintra
A Compra do Cavalo
Mangalarga Marchador (Propriedade: André G. Cintra)
Raças Há diferentes raças de cavalos, por isso o preço de compra varia muito. São consideradas as principais raças de cavalo no mundo: Quarto de Milha, Árabe, Puro Sangue Inglês, Lusitano, Andaluz, Percheron e Appaloosa. Aqui, no Brasil, outras raças têm lugar na lista dos principais cavalos, como o Mangalarga Marchador, o Mangalarga (muitas vezes chamado de Paulista) e o Campolina.
Valores de venda em sites O cavalo Mangalarga é um cavalo de sela, destinado principalmente aos esportes hípicos e ao trabalho. É um cavalo extremamente resisten-
Mangalarga
te, capaz de percorrer grandes distâncias. Uma das principais características da raça Mangalarga é a marcha trotada, que se diferencia do trote por manter um tempo ínfimo de suspensão entre os apoios. Em sites de vendas gerais (OLX), o preço varia de R$ 1.800,00 (4 anos de idade) até R$ 15.000,00 (5 anos de idade com pelagem diferenciada). Em sites específicos (Mercado Horse), a média dos preços é de R$ 18.000,00. Em alguns leilões, o preço pode chegar até R$ Animal Business-Brasil_7
60.000,00 por um Mangalarga que ganhou vários prêmios e competições. O cavalo Puro Sangue Inglês apresenta um porte de médio para grande, a altura da raça pode variar de 1,62 a 1,67m. A cabeça possui perfil reto ou levemente ondulado, olhos grandes, orelhas médias e narinas elípticas. A sua principal aptidão são as corridas planas ou com obstáculos de média distância. O Puro Sangue Inglês é a raça com menos ofertas em sites de vendas, porém existem vários leilões que vendem somente PSI. Uma semelhança em todos os sites de vendas é que os cavalos Puro Sangue Inglês são mais velhos que outras raças. No início de novembro de 2016, em sites de vendas gerais (Mercado Livre), havia quatro cavalos à venda, sendo que o mais caro custava R$ 9.000,00 e tinha 12 anos de idade. Em sites específicos (Mercado Horse), a média dos preços era de R$ 15.000,00, com idade média pouco superior a 10 anos. De acordo com o padrão oficial da raça, o Campolina é um cavalo “de porte grande, cabeça seca, perfil subconvexo para retilíneo, olhar vivo, orelhas médias tendendo para longas, pescoço musculoso e rodado, tendendo para comprido; crinas fartas e sedosas; garupa ampla e longa, suavemente inclinada; anca arredondada, cauda de inserção baixa”. O cavalo Campolina é dócil e seus movimentos harmoniosos tornam sua montaria nobre e confortável. Em geral, online, os preços da Campolina são mais baratos quando comparados ao Mangalarga, tendo sua
média de preço em torno de R$ 4.500,00, com uma média de 5 anos de idade. O cavalo Quarto de Milha é especialmente apto para o trabalho de condução do gado, principalmente por seu extraordinário arranque e por ser um cavalo capaz de percorrer curtas distâncias com incomparável velocidade. A cabeça é pequena, com a fronte ampla, perfil reto, com olhos grandes e bem afastados entre si, é de temperamento dócil e inteligente. Em sites de vendas gerais (OLX), o preço em média era R$ 15.000,00, também no início de novembro de 2016. Em sites específicos (Mercado de Cavalos), o preço variava de R$ 4.500,00 (cavalo com 1 ano de idade) até R$ 65.000,00 (5 anos de idade, garanhão com uma ótima linhagem).
Os leilões No Brasil, há diversos tipos de leilões de equinos, diferenciados pelas características dos animais comercializados, ou seja, há leilões somente de uma raça, leilões de animais de lida, de esporte, lazer e exposição. Os leilões também podem ser mistos, nos quais qualquer animal pode ser leiloado. Além disso, os leilões podem ser organizados com cavalos de apenas um criador, sendo que muitas vezes, no mesmo evento, são comercializados cavalos de algum convidado do criador promotor do leilão. Existem leilões simples onde o vendedor leva seu animal no dia do arremate e o comprador já o leva no mesmo dia. Porém existem os mais sofisticados que são os leilões com uma Nordestino
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Tabela 1. Brasil: leilões realizados em 2015, exceto da raça PSI Raça
Renda em leilões (Milhões de Reais)
Preço médio pago por lote (em Reais)
Quarto de Milha
268,53
31.893,00
Crioulo
71,58
15.182,00
Mangalarga Marchador
93,35
21.025,00
Paint Horse
0,65
23.353,00
Mangalarga
9,04
14.901,00
Campolina
7,99
12.482,00
Pampa
10,82
13.263,00
Árabe
2,28
13.739,00
Pantaneiro
1,78
14.961,00
Brasileiro de Hipismo
4,10
40.950,00
Appaloosa Total sem PSI
0,35
6.968,00
470,48
23.406,00
Fonte: DBO
série de preparações, publicação em sites, entrega de catálogos, folhetos, propagandas, visita aos locais onde os cavalos ficam preparados para o leilão. Em alguns casos, são exigidos exames clínicos. Nos últimos anos, com o avanço da tecnologia, tem ocorrido incremento de leilões virtuais (pela internet e televisão), como o Canal Rural, Canal do Boi e Canal Terraviva. Esta modalidade já representa cerca de 40% dos eventos realizados. Embora existam mais de cem empresas atuando em leilões de cavalos, os eventos estão concentrados em menos de dez empresas. Observa-se que as empresas leiloeiras podem ser tanto especializadas em determinada raça quanto podem realizar leilões de animais de diferentes raças. Tanto o número de animais vendidos quanto o valor apurado em leilões de cavalo têm apresentado forte crescimento nos últimos anos, atingindo valores próximos de meio de bilhão de reais por ano. Aproximadamente, 90% da renda originam-se de apenas quatro raças (Quarto de Milha, Crioulo, Mangalarga Marchador e Puro Sangue Inglês). Apesar da importância dos leilões no comércio de cavalos, ainda há alguns pontos que necessitam de maior esclarecimento. Em primeiro lugar, a forma de pagamento parcelado nem sempre é clara para o comprador não habitual de leilões. Cada leilão e leiloeiro têm seu jeito de negociar, assim eles estipulam a quantidade de parcelas e como elas serão pagas. A quantidade de parcelas varia, assim como a forma de
pagamento são as mais diversas possíveis: 2 parcelas no ato da compra; 2 parcelas no primeiro mês; 16 parcelas no segundo mês; 2 parcelas no terceiro mês; 2 parcelas no quarto mês; e muitas outras possibilidades de combinações. Outro aspecto relevante, herança do passado menos organizado do setor, são práticas pouco transparentes no mercado. Como qualquer um pode dar lance em um animal, existe a possibilidade de o próprio vendedor o fazer, com intuito de elevar o preço do animal, tentando assim explorar ao máximo o poder de compra dos interessados. Pode-se questionar a ética, mas é comum que o próprio vendedor acabe comprando seu animal, uma vez que ninguém teve interesse em cobrir o lance dado por ele. Quando isso ocorre é chamado de defesa. Também pode ocorrer do animal ser comercializado (acertado o preço) antes do leilão. O animal, já vendido, é apresentado no leilão onde o comprador simula a compra por valores superiores ao real (acertado anteriormente). Estas duas práticas, a defesa e a venda antecipada podem representar parcela significativa de leilões, variando conforme a prática do leiloeiro associado ao evento. Estima-se que as operações transparentes, ou seja, efetivamente de compra e venda de animais, representem 70% da renda citada anteriormente (isto é, 70% de meio bilhão de Reais, equivalem a R$ 350 milhões). A Tabela 1 apresenta os resultados dos leilões realizados no ano de 2015 para as diversas raças, exceto PSI. Animal Business-Brasil_9
Manutenção do Cavalo Após a compra, deve buscar um local que ofereça bem-estar ao seu cavalo e que zele pela saúde dele. Deve-se dar atenção às condições da baia (ou cocheira), piquetes ou campo para o cavalo ficar solto diariamente, qualidade da alimentação, ferradura, aplicação de vacinas preventivas e vermífugos, cuidados veterinários. Toda infraestrutura e cuidados de manejo contribuem para o chamado custo cavalo, uma variável de extrema importância e desconhecida por parcela significativa de compradores, que se atém somente ao preço de aquisição do animal. É importante que ocorra a visualização dos gastos reais realizados no haras e planejamento de medidas econômicas mais disciplinadas. O conhecimento de custos em qualquer criatório é de fundamental importância para fins de programação. De acordo com o impacto de cada parâmetro e compreendendo-se ponto a ponto os investimentos, podem-se programar estratégias para manutenção dos patamares, quando aceitáveis, e diminuir outros quando se julga que ultrapassam o bom-senso.
• Perfil 2: De R$ 700,00 a R$ 900,00/mês, incluindo: baia, alimentação, trabalhar o cavalo e piquetes. Outras características: baias grandes de alvenaria, limpeza diária de cascos, troca de serragem da baia a cada 3 ou 4 dias, banho, pessoa que auxilia na lida com o cavalo, o cavalo é trabalhado duas vezes por semana, por pessoa ou por andador, agendamento automático de troca de ferros e vacinação. Além do redondel, possuem outra área para praticar exercícios com o cavalo. • Perfil 3: De R$ 850,00 a R$ 1.050,00/mês, incluindo: baia, alimentação e piquetes. Outras características: baias grandes e arejadas, limpeza diária de cascos, agendamento automático de troca ferros e vacinação, redondel. Em áreas mais nobres, como centros de metrópoles (por exemplo, na cidade de São Paulo), o custo de manutenção de um cavalo pode superar R$ 10 mil mensais, mas, como exposto anteriormente, é possível manter um cavalo a custos bem inferiores.
Levantamentos
Bons negócios
Em outubro de 2016, foram realizados levantamentos na Região Sul do País referentes a alguns custos que produtores de equinos gastam com seus cavalos por mês. • Perfil 1: De R$ 450,00 a R$ 550,00/mês, incluindo baia, alimentação e piquetes. Outras características: baias de tamanho pequeno a médio de madeira, possuem redondel e área para prática de laço.
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Sepp / Pixabay
Cavalo Brasileiro de Salto
Pixabay
Puro Sangue Inglês
Pelo exposto, observa-se que é possível realizar bons negócios na compra de cavalos, desde que ocorram pesquisas (os preços e custos variam bastante) e, principalmente, esclarecimentos quanto à finalidade e uso do animal (escolha da raça, por exemplo) e como (e onde) será realizada sua manutenção. Quanto à experiência de ter um cavalo, de conviver com o mais nobre dos animais, isto não tem preço.
TV Globo descobre o Brasil
para os brasileiros Por:
Luiz Octavio Pires Leal – jornalista, editor desta Revista e membro-titular da Academia Brasileira de Medicina Veterinária
A série de filmetes Agro veiculada pela TV Globo em horário nobre está mostrando à população brasileira o quanto a vida nas cidades depende das atividades do campo. E isso é inédito no Brasil onde poucos compreendem a importância do agronegócio para a alimentação, a saúde e a força de trabalho das pessoas, a empregabilidade, e a economia brasileira. Prestígio “Grande influência exercida por pessoa ou coisa sobre outra(s) pessoa(s)". “Reconhecimento das qualidades de algo ou alguém, admiração, respeito”. Estas são duas das várias definições do Houaiss para prestígio. É preciso reconhecer que salvo em algumas situações esporádicas, as atividades do campo – agricultura, pecuária, agronegócio – nunca conseguiram conquistar o prestígio merecido.
Complexo de inferioridade Alguém pode duvidar de que café e cana-de-açúcar sejam vegetais, produzidos no campo,
como atividades tipicamente agrícolas e portanto do âmbito do Ministério da Agricultura? Pois saibam os mais novos que durante anos essas duas atividades eram controladas, respectivamente, pelo IBC – Instituto Brasileiro do Café e pelo IAA-Instituto do Açúcar e do Álcool, ambos na esfera do Ministério da Indústria e Comércio. A “explicação” é que sendo duas atividades de produtores milionários e da maior importância para a economia nacional, elas não poderiam estar sob o guarda-chuva de um ministério “menor”, dos capiaus desdentados, do chapéu de palha e do cachimbo de barro.
Ministros quebra-galhos Salvo raríssimas exceções, tradicionalmente, através dos tempos, o lugar de ministro da agricultura serviu para acomodar empistolados para quem era preciso dar um ministério. E a permanência, no cargo, durava e ainda dura uns poucos meses, tempo insuficiente para que o titular conseguisse entender a complexidade do assunto no nosso país tão grande, diverso e complicado. E, muito comumente, para dar o ar da sua graça e tentar defender a permanência no cargo, o ministro desandava a fazer alterações na estrutura do órgão que mudou dezenas de vezes Animal Business-Brasil_11
Em 156 anos de existência, o Ministério da Agricultura teve 139 ministros titulares, além dos interinos.
O negócio que dá certo A julgar pelos dados concretos, pelos números, pelas estatísticas, parece não ser exagerada a afirmação de que o agronegócio – a verdadeira vocação do Brasil – é o único negócio em que somos competitivos no cenário mundial, com a possível missão de alimentar o mundo. E o agronegócio – lembremos todos – não é apenas responsável pela produção de comida, com destaque para as carnes, o leite e seus derivados, os ovos e os peixes, que são os alimentos essenciais, de alto valor biológico, o que já não seria pouco.
Wolfgang Borchers / Pixabay
de nome, o mesmo acontecendo com as antigas delegacias federais de agricultura, no momento em que escrevo ( início de 2017), superintendências federais de agricultura. Raramente, o ministro era um profissional do ramo, como, felizmente, aconteceu em alguns anos, com os ministros Cirne Lima e Alysson Paulinelli e a criação Embrapa, responsável pela transformação do Brasil num dos maiores e melhores produtores e exportadores de produtos da agropecuária do Planeta. O risco agora é que a Embrapa, cuja eficiência é reconhecida mundialmente, seja “politizada” e comece a deteriorar, como não é incomum no nosso País do Futuro. Também merecem menção – embora tenha permanecido por pouco tempo no cargo – a ministra Kátia Abreu e o ministro Roberto Rodrigues. Quanto ao atual – Blairo Maggi – que também é do ramo e sabe das coisas, tomara que permaneça no cargo o tempo suficiente para aumentar e consolidar o prestígio do agronegócio.
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Destaques da TV Globo Como a TV Globo vem mostrando, de forma atraente, tecnicamente correta e didática, e com isso prestando um serviço público da maior importância, quase tudo o que usamos vem do campo: as matérias-primas para os tecidos; a energia do etanol; o couro dos sapatos, das bolsas, dos cintos, dos casacos; os óleos vegetais, da culinária; a madeira, do mobiliário e das construções, para citar alguns exemplos. O campo também oferece emprego para milhares de pessoas com uma crescente melhora do nível de vida. E, ainda, podemos acrescentar as matérias-primas para vários produtos medicinais e de beleza.
Os números As informações a seguir foram publicadas pelo Presidente da SNA-Sociedade Nacional de Agricultura, Antonio Melo Alvarenga, e refletem a importância econômica do agronegócio brasileiro:
• Nos últimos cinco anos, o saldo da balança comercial do agro atingiu US$ 400 bilhões, valor suficiente para cobrir o déficit de US$ 330 bilhões dos demais setores. • A FAO espera que o Brasil aumente sua produção, nos próximos 10 anos, em torno de 35% em grãos, 25% em carnes, 85% nos biocombustíveis e 18% em açúcar. • Em 2015, exportamos US$ 5,8 bilhões em carne bovina e a previsão é fecharmos 2016 com US$ 7,5 bilhões, valor pouco maior do que a exportação de carne de frango (US$ 7,1 bilhões). Em relação à carne suína, a exportação – que está crescendo – foi no valor de U$ 1,3 bilhão, em 2015.
Conclusão Segundo Antonio Alvarenga, “A despeito do que afirmam alguns pseudoambientalistas, o Brasil possui uma das agriculturas mais sustentáveis do planeta. As áreas destinadas à produção agrícola e à pecuária representam menos de um terço do território nacional”. Somos um dos mais importantes produtores agropecuários do mundo, temos uma moderna e pujante indústria de alimentos, fabricamos e exportamos equipamentos de produção, industrialização e comercialização de produtos de origem vegetal e animal, somos pioneiros e dominamos a tecnologia da produção de etanol de cana, estamos progredindo na produção de outros combustíveis e tudo isso, destaco, ocupando menos de um terço do território nacional. Podemos crescer ainda muito mais, aumentando também muito nossa participação no PIB. Mas, então, o que falta? Falta uma compreensão maior dos homens de decisão política e econômica e da população em geral do verdadeiro papel do agronegócio brasileiro e das suas enormes possibilidades. Em última análise, falta prestígio. E nesse sentido, a TV Globo está fazendo um magnífico trabalho que merece o elogio de todos.
Antonio Alvarenga e Carlos Henrique Schroder
A campanha “Agro é Tech, Agro é Pop, Agro é Tudo” desenvolvida pela Rede Globo, recebeu da Sociedade Nacional de Agricultura o Prêmio "Destaque SNA 120 anos". Na solenidade de entrega do premio, a Rede Globo foi representada por seu diretor-geral, Carlos Henrique Schroder, e pelo diretor de Negócios, Willy Haas. “Nos 120 anos da Sociedade Nacional de Agricultura, nunca assistimos uma campanha de valorização do agronegócio tão bem elaborada e eficiente quanto essa, que está sendo veiculada pela Globo”, ressaltou Antonio Alvarenga, presidente da SNA. “Nossa intenção é fazer uma homenagem a todo esse conjunto de pessoas e de empresas que fazem do agronegócio brasileiro um dos mais importantes do mundo. Procuramos também aproximar a cidade do campo, mostrando o valor da agricultura para quem vive nos centros urbanos”, afirmou o diretor de Negócios da Globo. Carlos Henrique Schroder, por sua vez, explicou que, “quando criamos o projeto ‘Agro: A indústria-riqueza no Brasil’, no ano passado, pensamos em como seria importante mostrar, na programação da emissora, a eficiência e a competência do agronegócio brasileiro e sua posição de vanguarda no cenário mundial”. “Por isso, estamos afirmando, diariamente, através das nossas peças (publicitárias), que o agro é tech, que o agro é pop, que o agro é tudo”, reforçou o diretor-geral da TV Globo. Animal Business-Brasil_13
O agronegócio possui um grande parceiro capaz de contribuir para seu desenvolvimento sustentável em todo o estado. Por meio de cursos, consultorias e um atendimento especializado, o Sebrae/RJ incentiva e participa de toda a cadeia, desde a criação até a comercialização, sem esquecer da responsabilidade ambiental. Venha conversar com quem sabe que no agronegócio não existe bicho de sete cabeças.
www.sebraerj.com.br | 0800 570 0800
Por: André Casagrande, jornalista
Alberto Figueiredo assume Secretaria de Agricultura em Resende (RJ)
Com pouca demanda, arroba do boi continua em baixa
Raul Moreira
O engenheiro-agrônomo Alberto Figueiredo, membro da Academia Brasileira de Agricultura e ex-secretário de Agricultura do Estado do Rio de Janeiro, que entre outras realizações, conseguiu eliminar a Febre Aftosa da região, está tomando posse como Secretário de Agricultura do município fluminense de Resende onde é um produtor de leite bem-sucedido. Diretor da SNA-Sociedade Nacional de Agricultura, além de dedicar a vida - mantendo a tradição do pai - à causa da produção rural e do agronegócio, assuntos em que se mantém sempre atualizado, Figueiredo tem muita experiência em administração pública, ótimos contatos e bons amigos. É sucesso garantido. O prefeito Diogo Balieiro está de parabéns pela escolha, e Resende também.
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A retração na demanda de carne, registrada em diversas regiões do País, tem segurado a alta nos preços da arroba do boi gordo. Exemplo disso é que parte das indústrias paulistas, em especial as de pequeno porte, estão pulando dias de abate e com altos índices de ociosidade. Em razão desse cenário, as programações de abate estão artificialmente mais alongadas em relação a períodos anteriores. Mesmo indústrias de grande porte, que possuem parcerias e contratos de boi a termo, apresentam escalas de abate mais espaçadas. Essa folga permite aos frigoríficos testarem o mercado e ofertarem preços abaixo da referência. Com esse cenário atual, dificilmente haverá grandes valorizações para a arroba do boi gordo nos próximos meses, mesmo com oferta limitada de boiadas, pois a margem de comercialização das indústrias continua em patamares acima da média histórica.
Pesquisas desenvolvidas pela Embrapa Gado de Leite indicam que é possível dobrar a velocidade da seleção dos rebanhos leiteiros, com custos menores, utilizando as informações geradas a partir do DNA dos animais. Esse avanço resulta do sequenciamento genético bovino, anunciado pela revista Science em 2009, com diversos desdobramentos para as pesquisas realizadas no Brasil. O sequenciamento, do qual participaram pesquisadores brasileiros, teve o objetivo de identificar diferenças entre os genomas das raças de origem europeia (Bos taurus taurus) e as raças zebuínas de origem indiana (Bos taurus indicus). “Identificamos mais de cinco milhões de SNPs específicos para as raças zebuínas”, informa o pesquisador da Embrapa Gado de Leite, Marcos Vinicius da Silva. De acordo com ele, SNP é um tipo de marcador molecular, cuja sigla traduzida para o português significa “polimorfismo de um único nucleotídeo”.
Interesse econômico As pesquisas coordenadas por Silva identificaram características de interesse econômico para a pecuária de leite, como: tolerância a parasitas e ao estresse térmico; produção de sólidos (proteína, gordura e lactose); persistência da lactação etc. Depois, desenvolveram equações de
Rubens Neiva/Embrapa
Melhoramento genético na pecuária leiteira
predição que permitem identificar os efeitos dos SNPs dos indivíduos e selecioná-los de acordo com os interesses econômicos. A Embrapa Gado de Leite e as associações de criadores de gado estão acertando detalhes para que essa tecnologia esteja, em breve, ao alcance dos produtores. A expectativa é que os testes de progênie dos programas de melhoramento em gado leiteiro passem a usar o valor genômico de touros e vacas. “A seleção genômica vai racionalizar o processo de melhoramento genético, tornando-o menos arriscado ao produtor”, diz Silva. Ele acrescenta que a seleção genômica irá democratizar as oportunidades do melhoramento genético, na medida em que reduz os custos do processo. O mesmo trabalho que levaria sete anos pode ser feito em apenas dois com maior grau de certeza.
Prêmio Qualidade do Leite divulga seus vencedores Após avaliar 2.160 produtores de leite das mais diversas regiões leiteiras do país, a DSM, detentora da marca Tortuga, premiou os vencedores do programa “Qualidade do Leite Começa Aqui!”, durante cerimônia realizada no início de novembro, na capital paulista. Por meio do programa, a empresa estimula iniciativas de pecuaristas que pautam as suas atividades na alta qualidade e reconhece a aplicação de tecnologias que melhoram o desempenho do rebanho e a rentabilidade da produção leiteira. Com um total de 157 mil animais avaliados e após as etapas regionais realizadas em sete Estados (Sergipe, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Goiás), os primeiros colocados da categoria “Qualidade do Leite” foram Inelson Enir Fiorezi (Holandês), Antonio Claudimerio dos Reis (Girolando) e Aurélio Dalaio Neto (Jersey). Na categoria “Quantidade mais Qualidade do Leite”, os primeiros lugares foram para Willian Vriesman Sobrinho (Holandês), Williams e Cia Pecuária (Girolando) e Francisco Bastos de Miranda (Jersey). Animal Business-Brasil_17
Divulgação
Nova diretoria da Asbia, a partir da direita: Márcio Nery (diretor operacional), Sergio Saud, presidente), Luís Adriano Teixeira (diretor técnico), Bruno Grubisich (diretor de Marketing)
Asbia tem novo presidente O médico-veterinário e diretor executivo da CRI Genética, Sergio Saud, é o novo presidente da Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia). “O nosso desafio será ampliar o uso da inseminação artificial tanto na pecuária de corte quanto na leiteira”, observou Saud durante a cerimônia de posse, realizada em outubro, na sede da associação, em Uberaba (MG). Segundo ele, nos últimos anos, graças ao uso da tecnologia e ao surgimento de novos produtos farmacêuticos para inseminação em Tempo Fixo (IATF), o número de fêmeas em idade reprodutiva inseminadas no Brasil tem condições de saltar de 12% para 16% nos próximos 5 anos.
De acordo com o novo presidente da Asbia, é preciso intensificar ainda mais a técnica no país, pois existem algumas ilhas de tecnologia, ou seja, algumas regiões do Brasil concentram produtores altamente tecnificados, que já produzem leite de excelente qualidade, devido à inseminação. “É um mercado excelente com muito potencial para crescer cada vez mais”, avalia Saud. Fazem parte da nova diretoria, que vai comandar a entidade até 2019, o diretor operacional, Márcio Nery, o diretor técnico Luís Adriano Teixeira e o novo diretor de marketing, Bruno Grubisich. Além de trabalhar para a ampliação do mercado de IA, o grupo dará continuidade aos processos já existentes na entidade, tais como o laboratório de análise de sêmen Asbia/ BIO, localizado em Uberaba, e que entrará em total funcionamento no próximo ano.
Índice inédito para a comercialização de sêmen A Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia) e o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA)- Esalq/USP firmaram uma parceria para criar o “Índice de Preço Médio de Venda de Sêmen”, cujas informações nortearão a gestão dos negócios no mercado de inseminação artificial de todas as raças com material genético comercializado no mercado nacional. Esse índice complementará o Index Asbia, documento que reúne dados sobre a produção e comercialização de sêmen bovino e que, a partir do próximo ano, passará a conter também os preços médios de venda. “Atualmente, não há informação do mercado de inseminação em relação à valoração do sêmen, que permita uma análise estratégica por parte das empresas e associações de raça e produtores de genética em relação ao valor médio das doses de sêmen comercializadas em cada raça, daí a criação do índice”, justificou o ex-presidente da Asbia, Carlos Vivacqua. De acordo com o executivo, em nenhum país do mundo, existe essa informação setorial, que é estratégica para gestão do negócio da cadeia como um todo. As informações relativas ao preço do sêmen serão de uso exclusivo, interno e gerencial dos associados da ASBIA e serão utilizadas por eles para nortear a gestão dos negócios. O “Índice de Preço Médio de Venda de Sêmen” será elaborado pelo Cepea com base em informações enviadas pelas empresas do setor, a partir de um software do centro de pesquisa. A expectativa é de que, em fevereiro de 2017, os associados da Asbia recebam o Index já contendo esses dados.
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Pecuária familiar é tema de livro no RS
Desempenho da IATF em risco
O livro Pecuária Familiar no Rio Grande do Sul: história, diversidade social e dinâmicas de desenvolvimento, lançado na Feira do Livro de Porto Alegre, no início de novembro, traz a compilação de diversos materiais científicos gerados por diferentes instituições sobre o tema, desde o ano 2000 até os dias atuais. A publicação contou com a colaboração de dois pesquisadores da Embrapa: Marcos Borba, da Embrapa Pecuária Sul, e Rafael Gastal Porto, da Embrapa Roraima. “A pecuária familiar sempre foi presente e tem motivado interesse mais recentemente. A experiência do Alto Camaquã está ali contemplada pela importância que acabou assumindo, devido aos muitos trabalhos que foram realizados, principalmente na dimensão social”, informa Borba. De acordo com o coautor, a ideia de se fazer o livro surgiu há pouco mais de cinco anos, com o objetivo de traçar uma perspectiva histórica sobre a pecuária familiar no Estado gaúcho. “Desde o princípio, percebemos que existia pecuária familiar no Rio Grande do Sul. Então, aquela ideia de que o Estado foi povoado unicamente com base no latifúndio não se cunha como totalmente real”, explica. “Ao mesmo tempo que produz, a pecuária familiar exerce um papel fundamental na conservação”, observa Borba e acrescenta que, atualmente, os maiores contingentes de campo que ainda sobrevivem estão sob uso e controle da pecuária familiar, que tem características distintas, seja do ponto de vista social, seja produtivo. “Destaco ainda o fato de ela possuir um vínculo muito mais forte da produção pecuária sobre campo nativo. Estas são características históricas, mas que hoje começam a assumir um papel de oportunidades num mundo contemporâneo.”
O que poderia ser uma coincidência tem se tornado uma ameaça à fertilidade dos plantéis. Com a volta das chuvas e a melhora gradativa das pastagens, muitos produtores se apressam em colocar suas fêmeas em estação de monta, porém, o início do manejo, coincide com a segunda etapa de vacinação contra a febre aftosa, obrigatória para todas as categorias em quase todos os Estados durante o mês de novembro. Em Miranda, no Mato Grosso do Sul, um estudo conduzido por oito pesquisadores, revelou que os animais vacinados no 30º dia após a inseminação artificial em tempo fixo (IATF) tiveram perda gestacional 4,2 vezes superiores quando comparados ao grupo vacinado 20 dias antes de passar pela inseminação. Ou seja, a vacinação feita após o manejo reduziu a fertilidade das fêmeas em 16,5%. Segundo o vice-presidente do Conselho Nacional de Pecuária de Corte (CNPC), Sebastião Guedes, esse risco precisa ser informado com antecedência. “É obrigação dos fornecedores avisarem os criadores sobre os perigos que a vacina contra a aftosa pode provocar quando aplicada após a IATF. Acredito que deveria ser de responsabilidade do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) exigir dos fabricantes de vacinas que invistam na comunicação do problema e, deste modo, orientem os produtores sobre o que fazer para reduzir essas perdas”, avalia Guedes. A partir de 2017, a Famato (Federação da Agricultura e Pecuária do Mato Grosso) vai inverter o calendário de vacinação contra a febre aftosa no Estado. Em maio, a vacina será aplicada em todo o rebanho (de mamando a caducando) , enquanto em novembro serão vacinados apenas os animais de zero a 24 meses. “Outros Estados deveriam seguir o exemplo da Famato e pleitear, junto ao Mapa, alterações em seus calendários de vacinação. Certamente, reduziriam os problemas de perda gestacional decorrente da vacina contra aftosa”, diz Guedes.
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Por: Béth
Em outubro de 2016, a receita com as exportações de carne bovina brasileira alcançou US$ 449 milhões referentes ao embarque de 107 mil toneladas. No acumulado de janeiro a outubro deste ano, as vendas externas cresceram 4% no volume, somando 1,1 milhão de toneladas e faturamento de US$ 4,6 bilhões. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS INDÚSTRIAS EXPORTADORAS DE CARNE (ABIEC)
As exportações de carne suína (in natura e processada) totalizaram 614,5 mil toneladas entre janeiro e outubro de 2016, alta de 38,1% em relação ao mesmo período de 2015, que foi de 444,9 mil toneladas. A receita alcançou US$ 1,208 bilhão, superando em 13,4% o saldo dos dez primeiros meses de 2015 (de US$ 1,065 bilhão). A expectativa é ter encerrado o ano de 2016 com mais de 700 mil toneladas. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PROTEÍNA ANIMAL (ABPA)
A Merial, a Tortuga, a Dow AgroSciences, a JBS e a Volkswagen colocaram suas equipes técnicas, na estrada na segunda edição da Caravana da Produtividade, que percorrerá, até dezembro, 136 cidades em 19 Estados, rodando 72 mil quilômetros pelas regiões que concentram 80% do rebanho bovino nacional. O objetivo é levar dicas e estratégias sobre manejo de pastagem, nutrição, saúde, gestão para 5,5 mil pecuaristas. ASSESSORIAS DE IMPRENSA DAS EMPRESAS
A Minerva Foods, de Barretos, SP, adquiriu a unidade de Niterói, RJ, do frigorífico capixaba Frisa, por R$ 205 milhões, o valor será acrescido do capital de giro, que no final de 2015 era de 45 milhões. Com a compra, que precisa do aval do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), a Minerva terá capacidade total de abate diário de cerca de 19 mil cabeças em 9 estados brasileiros e também no Uruguai, Paraguai e Colômbia. CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA MINERVA FOODS
A mineira Itambé Alimentos S/A está investindo R$ 50 milhões na linha de produtos de maior valor agregado, como os leites especiais e iogurtes. Com capacidade de processar 3,5 milhões de litros de leite ao dia, o portfólio da empresa é composto por cerca de 190 produtos derivados de lácteos. Terceiro maior laticínio do País, atrás 20_Animal Business-Brasil
Mélo
da Nestlé e da francesa Lactalis, a Itambé conta com mais de 7 mil fornecedores e 3,3 mil funcionários diretos. ITAMBÉ ALIMENTOS S/A
O Porto do Rio Grande, em Porto Novo, RS, embarcou 11.000 cabeças de bovinos vivos, no dia 16 de novembro, com destino à Turquia, principal mercado comprador do Brasil para gado em pé. De janeiro a junho de 2016, o país importou 86.005 cabeças, 61,8% do total embarcado pelo Brasil no primeiro semestre, que foi de 139.356 cabeças. MINISTÉRIO DA INDÚSTRIA, COMÉRCIO EXTERIOR E SERVIÇOS
Os embarques de frango nos 10 primeiros meses do ano ultrapassaram 3,6 milhões de toneladas, superando em 5,14% o volume exportado no mesmo período de 2015. Se os números de novembro e dezembro mantiverem a média registrada entre julho e outubro (350 mil/t mensais), o total anual será de 4,330 milhões de toneladas, 2,5% acima do que foi exportado em 2015 (4,402 milhões de toneladas). MINISTÉRIO DA INDÚSTRIA, COMÉRCIO EXTERIOR E SERVIÇOS
A redução de 17,5% do preço médio da dose de vacina contra a febre aftosa deverá resultar em uma economia de R$ 6,602 milhões para os pecuaristas mato-grossenses, caso sejam vacinadas as 29.122.782 cabeças de gado do rebanho do Estado. Em 2015, os pecuaristas gastaram R$ 42,423 milhões em vacina contra a febre aftosa e a previsão, para 2016, é de R$ 35,821 milhões. ASSOCIAÇÃO DOS CRIADORES DE MATO GROSSO (ACRIMAT)
Em outubro de 2016, as exportações de couros e peles do Brasil renderam US$ 161,9 milhões, aumento de 7,4% comparado a setembro e de 2,3% em relação ao mesmo mês de 2015. Os couros acabados e semiacabados respondem por quase 70% das vendas externas de 2016, crescimento de 12,2% e 84% no volume, respectivamente. Rio Grande do Sul lidera os embarques, com 21,6%, seguido por São Paulo com 20,8. SECRETARIA DE COMÉRCIO EXTERIOR DO MDIC / CENTRO DAS INDÚSTRIAS DE CURTUMES DO BRASIL (CICB)
Leo Chaves Pimentel, da dupla Victor & Leo, investe em gado Senepol na sua Fazenda Paraíso, em Uberlândia Aos 41 anos de idade, pai de dois filhos, bem de vida, divide seu tempo entre a apertada agenda de shows e a Fazenda Paraíso. Ele nos concedeu a seguinte entrevista.
Jadir Bison
Leo Chaves Zapalá Pimentel, que com seu irmão Vitor, forma a bem sucedida dupla de cantores Victor & Leo, é um apaixonado e bemsucedido pecuarista, criador da raça de gado Senepol.
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Nome da Fazenda, sua localização, área total Leo Chaves: A Fazenda Paraíso está localizada no município de Uberlândia – MG, com uma área total de 14 hectares.
Leo Chaves: A Fazenda Paraíso é um lugar que encanta pela vista exuberante, animais silvestres, mata nativa e pastos de rara beleza. Foi escolhida para a criação e desenvolvimento do gado Senepol. “Minhas raízes me influenciaram diretamente nessa decisão. Por ter uma família ligada ao agronegócio cresci nesse ambiente. Quando algo nasce da essência é difícil se agastar, não sem o cheiro da roça, além de entender que a pecuária é o que sustenta o nosso país.” Investir na comercialização de animais é um grande negócio para quem quer apostar na pecuária de corte.
Raça escolhida e razões da preferência. Resultados que vem alcançando. Dá lucro? Sempre buscando empreender na pecuária, um dia conheci o Senepol por meio da minha es-
Zzn Peres
História da Fazenda e do Leo. Por que decidiu investir em pecuária? É bom negócio? Aconselha?
posa que comprou um touro e uma vaca. Durante um ano, fui me aprofundando sobre o assunto e vi que havia um potencial enorme de expansão no que refere à criação do gado pelas características diferenciadas dele. É uma raça dócil, muito bonita, adaptável a climas quentes e com facilidade de reprodução. Tivemos resultados bastante satisfatórios com genética Paraíso! Muitos clientes interessados em nossos animais, até que um dia resolvemos criar uma forma de democratizar a nossa genética. Criamos um processo que permite ao pecuarista comprar prenhezes de nossas matrizes para fazer a multiplicação em outros estados. Fizemos o primeiro e não paramos mais. Nesse processo que inclui a gestão de um dos nossos colaboradores no pacote das prenhezes, gerou uma credibilidade ainda maior. O pecuarista vem até a fazenda em busca de melhorar a sua atividade, então eu tenho que ajudá-lo a realizar o sonho, que para mim é muito gratificante.
As instalações As nossas instalações estão de acordo com as necessidades de que a fazenda precisa para realizar suas atividades no manejo e reprodução dos animais, supridas com equipamentos de alta tecnologia e qualidade.
A assistência técnica Contamos com alguns parceiros na realização do trabalho no dia a dia da propriedade. 22_Animal Business-Brasil
Na área de reprodução, temos uma parceria com a empresa Vale do Embrião e na parte de maquinários, contamos com a parceria da JF Máquinas, com equipamentos de alta tecnologia que dão maior produtividade e redução de custo per capita.
ria com a JF Máquinas, na utilização dos seus equipamentos, facilitando assim a vida dos nossos colaboradores no dia a dia da fazenda.
Reprodução
Na nutrição dos nossos animais, contamos com parceria da empresa Trown Nutrion, no fornecimento de ração e sal mineral. É importante salientar também que, no processo de nutrição, há uma enorme importância no preparo dos alimentos, e por isso contamos mais uma vez com misturadores que fazem o balanceamento e a mistura homogênea dos nutrientes e servem os animais diretamente no coxo.
A reprodução é realizada através da avaliação dos animais para obtermos um melhor índice no resultado do acasalamento. Foi desenvolvida uma técnica de melhoramento genético por meio de biótipo – Genotipo x Fenotipo. Foi estudado por muito tempo um sistema para produzir um animal de estrutura e equilíbrio. Isso é muito difícil por se tratar de genética, o processo foi sendo aperfeiçoado e fomos criando uma base genética para a Fazenda Paraíso durante alguns anos. Quando começamos a ter os resultados com esses animais, fruto dessa base genética, chegamos a ter matrizes altamente produtivas e com grande potencial genético e de conformação frigorífica, e também touros capazes de transmitirem e fixarem sua base genética para seus filhos.
Manejo
Comercialização dos produtos
O manejo dos animais é realizado através de pastejos rotacionados em áreas de mombaças adubadas no período das águas. Antes do término das águas é colhido o excesso de forrageira e é armazenado para utilização no período de seca, melhoramos esse processo após a parce-
A comercialização acontece através da credibilidade e seriedade do trabalho desenvolvido na Fazenda Paraíso, onde os animais são comercializados através da participação em leilões, venda direta, indicações de clientes fidelizados e parceiros.
Programa de profilaxia / prevenção das doenças São realizadas, periodicamente nos animais do nascimento até a idade adulta vacinas de prevenção e controle sanitário.
Nutrição
Animal Business-Brasil_23
Para o setor de proteínas de origem animal, 2016 terminou
com melhores resultados do que as previsões Por:
Hélio Sirimarco, Diretor da SNA-Sociedade Nacional de Agricultura
Arnaldo Alves / ANPr
O ano de 2016 terminou melhor do que se previa para o setor de proteína. Isso graças ao mercado externo, que surpreendeu. O setor de aves registrou uma evolução de
24_Animal Business-Brasil
5,5% nas exportações de carne de frango in natura para 3.721 milhões de toneladas. Já a receita recuou 12,5% para US$ 5.450 bilhões, devido à queda de 17,1% no preço médio.
Perspectivas para 2017 Segundo previsões da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), as exportações de carne suína devem aumentar até 5% em 2017. Além da continuidade do bom ritmo de embarques para a China, são esperadas a concretização da abertura do mercado sul-coreano, bem como novas conquistas ou ampliação das vendas para compradores da carne suína brasileira. A incógnita está relacionada aos Estados Unidos e aos reflexos das estratégias efetivas que serão colocadas em vigor pelo governo de Donald Trump. A depender das medidas, uma das oportunidades ao Brasil seria a abertura do mercado mexicano. Em contrapartida, o aumento da produção de carne suína pelos norte-americanos, que já vem ocorrendo recentemente, tende a elevar a concorrência com os produtos brasileiros nas vendas internacionais. Segundo dados USDA, já no início de 2017, estarão prontos para abate mais animais que no mesmo período do ano passado. Em 2017, as exportações de carne de frango devem ajudar mais nos resultados da avicultura brasileira, segundo pesquisas do CEPEA (Cen-
Skeeze / Pixabay
M
elhor ainda foi o desempenho da carne suína. No início do ano, o setor previa um crescimento externo de 4% a 5%. As estatísticas mostram que as exportações de carne suína in natura no ano passado cresceram 40,5%. No setor de suínos, em que o ritmo do volume exportado foi grande, 611.300 toneladas, as receitas em dólares aumentaram 7,1% para US$ 1.252 bilhão. O recuo se deve à queda de 23,7% no preço médio do produto. O setor de proteínas viveu um período difícil no ano passado. A redução da oferta interna de milho elevou custos, que só agora começam a se equilibrar. O bom desempenho brasileiro se deve à conquista de novos mercados e à manutenção das vendas para os tradicionais. Os embarques de carne bovina in natura no ano passado aumentaram 6% e atingiram 1.033 milhão de toneladas, enquanto a receita caiu 14,6% para US$ 3.985 bilhões. O preço médio recuou 19,4%. A receita recuou no período 3,57%, atingindo US$ 5.748 bilhões.
tro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da ESALQ/USP. Os recentes casos de influenza aviária em vários países da Europa e da Ásia tendem a redirecionar a procura por produtos de fornecedores com melhor status sanitário, como o Brasil. No mercado internacional, países asiáticos são os que mais podem redirecionar as compras para produtos brasileiros. Na China, em particular, além dos casos de influenza aviária registrados no país, a produção chinesa pode ser ainda comprometida pela redução das importações de genética dos Estados Unidos, alavancando as importações de carne de frango. Por outro lado, os Estados Unidos também podem ser um dos fortes concorrentes do Brasil para as vendas de carne ao mercado chinês. Segundo estimativas do USDA, a produção norte-americana de carne de frango aumentará 2,2% em 2017, para 18.7 milhões de toneladas, e as exportações podem crescer 5%, para 3.1 milhões de toneladas. Os resultados deverão ser influenciados pelas medidas efetivas adotadas pelo novo governo daquele país. Estimativas da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal) projetam aumento de 3% a 5% nos embarques brasileiros de carne de frango em 2017. Os compradores atuais, como os países do Oriente Médio, também devem manter um bom ritmo de importação do produto brasileiro. A expectativa para o desempenho do setor de carne bovina brasileiro em 2017 continua positiva, mesmo após a retração das exportações e dos preços ao final de 2016, quando comparados aos resultados do mesmo período de 2015. “Os dados de exportação de carnes do quarto trimestre continuam a dar suporte a uma melhora significativa nas perspectivas da indústria de carne bovina, e as perspectivas para as empresas brasileiras processadoras de carne continuam sólidas”, avaliaram os analistas do BTG Pactual em relatório divulgado no início do mês de janeiro. Animal Business-Brasil_25
Perspectivas do mercado
do boi gordo para 2017 Alex Lopes, Scot Consultoria
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43,4% 43,4%
43,0%
40,4%
41,0%
39,1%
37,0% 35,0% 33,0%
40,2% 38,9% 37,6%
37,4% 36,1%
35,8% 33,3% 31,7% 31,5%
31,0%
29,7%
29,0% 27,0%
42,0% 41,8% 41,9%
40,4%
39,0%
28,5% 28,1%
* parcial até o primeiro semestre Fonte: IBGE / Elaborado pela Scot Consultoria – www.scotconsultoria.cdom.br
Figura 2. Preço do bezerro de desmama em São Paulo (6,5@), em R$/cabeça. 1400 1350 1300 1250 1200
Fonte: Scot Consultoria – www.scotoconsultoria.com.br
26/10/2016
05/10/2016
14/09/2016
24/08/2016
03/08/2016
13/07/2016
22/06/2016
01/06/2016
11/05/2016
20/04/2016
30/03/2016
1150 09/03/2016
Veja na figura 1 a participação de fêmeas nos abates. Note que a retenção de vacas e novilhas aumentou a partir de 2015. Ou seja, as que ficaram no rebanho e entraram em monta naquele ano, irão desmamar bezerros 2017. Em função disso, deveremos ter mais oferta de animais jovens no próximo ano. Se a disponibilidade de bezerros será maior por causa da retenção de matrizes, a onda de oferta de categorias mais eradas, entre elas, boi
45,0%
17/02/2016
Participação de fêmeas
Figura 1. Participação de fêmeas nos abates.
1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016*
A
gora é começar a pensar em 2017, o que vem por aí. Para começar, há incertezas relacionadas a que tipo de efeito, de alta ou de baixa, a interação dos fundamentos terá no mercado do boi gordo em 2017. Quanto à oferta, espera-se um ano ligeiramente mais ofertado quando se trata de bovinos terminados.
gordo, demorará, pelo menos, mais um ano para chegar ao mercado. Porém, o que poderá ocorrer será a oferta de um pouco mais de fêmeas ao frigorífico, pois desde o início de 2016, quando não havia abundância de bezerros, os preços destes bovinos jovens caíram (figura 2). O pouco estímulo do recriador para repor o rebanho nos preços re-
27/01/2016
O cenário do mercado do boi gordo para o último bimestre deste ano está definido. Como ocorreu até aqui, a demanda continuará sendo o entrave para a arroba atingir patamares elevados e fica a expectativa quanto aos estímulos de venda, normais neste período, mas que certamente não terão força para puxar os preços.
06/01/2016
Por:
Pixabay
A situação do mercado de carne em 2017 ainda não está definida.
ferentes à oferta de venda pela desmama, fez a demanda cair e derrubou o mercado.
Mais bezerros Com mais bezerros no mercado em 2017, mais um componente baixista estará presente e isso deve reduzir a atratividade da retenção de fêmeas. Sendo assim, pode ser que as indústrias encontrem mais facilidade de obtenção de matéria-prima, principalmente através da compra de fêmeas. Veja a figura 2. Concluindo a análise da oferta, é importante deixar claro que este aumento não significa abundância em 2017. Dentre todas as categorias, os bezerros devem ser a de maior incremento de disponibilidade.
Sem recessão Agora, do lado da demanda, talvez venha a perspectiva mais animadora para o pecuarista. Sairemos da recessão. O Boletim Focus do Banco Central, publicado em 21/10/2016, indica que a economia crescerá
a uma taxa de 1,23% no próximo ano. Para completar o pacote de boas notícias, a inflação virá quase para o centro da meta, ficando em 5,0% e a produção industrial, depois de cair por dois anos seguidos, crescerá 1,1%. Ou seja, mais atividade econômica, mais poder de compra da população. E o melhor é que a carne bovina possui uma relação de elasticidade renda alta. Isso indica alta sensibilidade à situação econômica. E não deixa dúvida que uma das primeiras coisas que voltam quando a situação melhora, é o consumo de carne bovina. Portando, o fator altista para os preços da arroba será o crescimento do consumo interno. Fica a dúvida, porém, sobre o resultado desta interação. Aumento de oferta e crescimento da demanda. Impossível mensurar qual o tamanho da cada uma e quem irá vencer esse embate. Por fim, para planejamento, projetar uma arroba “brigando” com a inflação medida pelo IGP-DI (aqui usamos este indicador pois sua composição está ligada aos produtos do agronegócio), que está estimada em 5,5%, é uma boa medida. Animal Business-Brasil_27
As cooperativas colaboram
para a paz universal Por:
Roberto Rodriges, Coordenador do Centro de Agronegócios da FGV; ex-Ministro da Agricultura
Embora a doutrina cooperativista tenha origem bem mais remota, as cooperativas, enquanto seu instrumento, só se organizaram com êxito após o advento da revolução industrial na Europa, em meados do século XIX.
O
que determinou esse fato? Foi a exclusão social. Tendo perdido sua fonte de renda com a instalação das fiações e tecelagens, os tecelões que operavam teares simples em suas casas trataram de unir-se com o objetivo de se ajudarem mutuamente em suas necessidades básicas de consumo. Tal constatação explicita uma característica prática do cooperativismo: ele reduz a exclusão social, oferecendo alternativas de renda ao cooperado. Esse feito está implícito na própria definição de cooperativismo: é a doutrina que visa corrigir o social através do econômico.
Terceira via O sucesso alcançado pelos primeiros associados, em Rochdale-Inglaterra, logo ganhou espaço em outras atividades econômicas e socioculturais, espalhando-se pelo mundo todo como uma brisa libertadora. E ganhou o apelido de “terceira via” para o desenvolvimento socioeconômico, entre o capitalismo e o socialismo. Com o tempo, toda e qualquer atividade econômica - rural e urbana -
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encontrou no cooperativismo uma solução inclusiva. E era comum se imaginar a representação gráfica do movimento como um rio correndo entre duas margens, o capitalismo e o socialismo, rumo à foz do bem-estar coletivo. Por outro lado, o avanço tecnológico empurrado pelo capital intensivo foi gerando as grandes corporações industriais e financeiras que concentram a riqueza. E as cooperativas também se transformaram em empresas mitigadoras dessa concentração, agregando valor às matérias-primas e permitindo às pessoas comuns acessarem os mercados mais sofisticados. Ora, exclusão social e concentração da riqueza não são propriamente os melhores instrumentos de paz. Ao contrário, multidões de excluídos ou de miseráveis se transformam em agentes de instabilidade social. Portanto, o cooperativismo terminou sendo identificado como um promotor e defensor da paz. E seguiu se expandido até que, no final dos anos 80 do século passado, já sob a égide da globalidade econômica, caiu o muro de Berlim. O duro golpe então sofrido pelo socialismo mundial também afetou o cooperativismo. Até porque o liberalismo varreu o planeta todo, alterando o capitalismo. Ora, com o esmaecimento da primeira e da segunda vias, não havia mais como dizer que o cooperativismo era a terceira. Uma grande perplexidade tomou as lideranças do movimento, até porque as cooperativas passaram a ser mais atacadas pelas empresas convencionais por causa da concorrência que se instalara com o crescimento das primeiras. E, sob a coordenação da Aliança Cooperativa Internacional, o mundo todo iniciou uma longa e profunda discussão, sobre os princípios e a própria identidade do movimento.
Danielle Medeiros
As cooperativas estão inseridas de forma competitiva e eficiente, com direção profissional e focada, prestando os serviços necessários.
Aqui cabe uma relevante reflexão. À medida que as cooperativas iam crescendo e ocupando espaços nas diferentes atividades econômicas durante as primeiras décadas de sua existência, interesses e empresas por elas contrariados trataram de combater o movimento ameaçador e, através de lobbies junto a governos e à própria sociedade em geral, buscaram frear seu avanço, seja por meio de legislações limitantes, seja por mecanismos fiscais e tributários não isonômicos.
A busca da defesa Isso fez com que as cooperativas buscassem sua defesa com a instituição de organizações regionais e nacionais, até que, em 1895, foi criada a ACI, já referida. Com o tempo, essa gigantesca instituição ganhou até mesmo a condição de órgão consultivo das Nações Unidas. É o organismo mundial que preserva e difunde os princípios e valores da cooperação e nucleia as entidades de representação setoriais ou nacionais, hoje sediada em Bruxelas e com Conselhos regionais em cada Continente. A ACI tem sido um instrumento super valioso para defender cooperativas no mun-
do todo. Portanto, as cooperativas cuidam dos cooperados, em cada país há uma organização nacional que as defende e no mundo a ACI se bate por todos. Essa reflexão é interessante para retomar a narrativa anterior. Ampla discussão global foi realizada sob a coordenação da ACI ante a inquietação derivada da queda do muro de Berlim. Já então havia em todo o mundo perto de um bilhão de pessoas filiadas a algum tipo de cooperativa. Se cada um desses associados tivesse três dependentes, seriam 4 bilhões de cidadãos ligados direta ou indiretamente ao movimento, sem dúvida o maior ou um dos maiores contingentes humanos unidos por uma única doutrina. Através de seus líderes, esse gigantesco “corpo místico” redefiniu os rumos do cooperativismo sob a nova realidade socioeconômica global em um inesquecível congresso realizado em fins de 1995 (no centenário da ACI), na Inglaterra, bem pertinho do berço de Rochdale. E lá foi ratificada a dicotomia social e econômica da doutrina com a manutenção e aperfeiçoamento dos princípios preexistente, mas foi criado um novo princípio, o sétimo, que mexeu com o compromisso de cada cooperativa: o da preocupação com a comunidade. Em outras palavras, esse novo princípio
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O reconhecimento da ONU Esse trabalho todo fez com que a ONU, organismo multilateral encarregado da manutenção da paz universal, reconhecesse o relevante papel das cooperativas na inclusão social e na mitigação da concentração da riqueza, como já foi dito. E, como forma de manifestar esse reconhecimento, designou o ano de 2012 como o Ano Internacional das Cooperativas. A partir dessa importante designação, a ACI definiu o rumo que todas as entidades de representação em cada país deveria doravante seguir, com três temas centrais: • Trabalhar pelo aumento do número de cooperativas e de cooperados, para assim ampliar o movimento; • Trabalhar para que fossem estabelecidas em cada país legislações modernas, que dessem às cooperativas tratamento isonômico em relação às empresas não cooperativas do mesmo setor; • Buscar recursos financeiros para ampliar a presença das cooperativas nos mercados.
A representação oficial no Brasil No Brasil, a entidade que representa oficialmente o movimento é a Organização das Cooperativas Brasileiras, que vem fazendo um excelente trabalho para a modernização da gestão e
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consolidou ainda mais a diferença entre uma cooperativa e uma empresa convencional, na medida em que só a primeira se preocupa com o bem-estar daqueles que vivem nos seus arredores, não interessando se são associados ou não. Com tal redefinição, a representação gráfica de cooperativismo, antes um rio fluindo entre as margens do capitalismo e do socialismo, ganhou um upgrade: passou a ser uma ponte unindo outras margens. Uma é o mercado, onde as cooperativas estão inseridas de forma competitiva e eficiente, com direção profissional e focada, prestando os serviços necessários para que a outra margem seja alcançada pela tal ponte, exatamente o bem-estar de toda gente. E é nesse contexto que, em quase todos os países do mundo, existem cooperativas trabalhando com um conceito etéreo, o de que o mercado sozinho não gera felicidade coletiva.
da governança em cada cooperativa, até para atender aos objetivos de sua criação, em 1969, antes mesmo da proclamação da Lei Cooperativa em dezembro de 1971 e da qual toda a parcela não afetada pela Constituição de 1988 segue vigendo. Esse trabalho encontra respaldo na Frente Parlamentar do Cooperativismo, suprapartidária, composta por mais de 200 deputados e senadores, completamente sintonizados com o desiderato da OCB de promoção do modelo associativo sob o conceito de que a cooperativa é o braço econômico da organização social. Sob os auspícios da OCB surgiu o S do cooperativismo, o SESCOOP, instituição que vem investindo na formação e treinamento de recursos humanos para todas as áreas de atuação das coops. Também surgiram as cooperativas de crédito cujo conjunto atual já equivale à sexta força financeira nacional. Apoiada pela Frente Parlamentar, a OCB tem avançado em diplomas legais essenciais para o cumprimento dos dispositivos constitucionais referentes ao setor, entre os quais se destaca o da autogestão. Mas há um artigo na nova Constituição Brasileira que estabelece a liberdade de organi-
zação e de filiação a entidades de representação. Com base nesse dispositivo, partidos políticos e entidades que consideram muito liberal a atuação da OCB querem acabar com a determinação hoje legal de que toda e qualquer cooperativa seja filiada ao Sistema OCB. Procuram assim destruir a unicidade de representação. Em outras palavras, querem enfraquecer quem defende as coops para então atacá-las mais facilmente. Nada novo: competição é assim mesmo.
Uma doutrina Mas cooperativismo é uma doutrina da qual as cooperativas são o instrumento. Mal comparando, a Igreja é o instrumento do Cristianismo. Dividir a Igreja significa um novo Cisma que acaba machucando ou até destruindo a doutrina cristã, o que eventualmente pode servir a outros interesses: imaginemos ter 3 Papas falando ao mesmo tempo. Dividir a representação cooperativista pode fazer o mesmo efeito socioeconômico, matando as cooperativas e sua competitividade. Isso não interessa a nenhuma nação democrática que defenda a paz, de modo que a preservação da unicidade de representação é muito importante. Mas também não se deve imaginar que cooperativa é uma panaceia para tudo, desde que está presente em todos os setores de atividade econômica na maior parte dos países do mundo. Para uma cooperativa dar certo, pelo menos três precondições são essenciais: • Tem que ser necessária: os futuros cooperados precisam ter convicção de que não poderão sobreviver em sua atividade sem se juntarem em uma coop; • Ter viabilidade econômica: ela é uma empresa. Baseada em valores e princípios, mas tem que ser viável, dando resultados positivos ao prestar serviços de interesse dos cooperados. • Ter liderança capaz de conduzir o projeto. Se uma dessas condições faltar, é nula a chance de uma cooperativa avançar. Seja como for, o cooperativismo segue sendo a doutrina inclusiva e redutora das grandes diferenças econômicas. E segue assim defen-
Dividir a representação cooperativista pode matar as cooperativas e sua competitividade. Isso não interessa a nenhuma nação democrática que defenda a paz. dendo a paz. É chegada a hora de esse extraordinário movimento receber o Prêmio Nobel da Paz, assim como já receberam modelos semelhantes, como o Médicos Sem Fronteiras. Para tanto, sob a liderança da ACI, cada cooperativa e sua respectiva entidade representativa, em todos os países, deve se associar a um programa global de convencimento de seus governos e parlamentos do que seja o papel do cooperativismo na defesa da democracia e da paz. Não será um objetivo facilmente alcançável, mas sem dúvida é viável. E seu sucesso dependerá fortemente de um poderoso programa de propaganda e marketing sobre a cooperação. Afinal, os exemplos a exibir são maravilhosos. Resta uma questão: com certa frequência surgem denúncias de corrupção em cooperativas, do que se servem seus adversários para desconstruirem a doutrina. Ninguém denúncia o Sistema Financeiro se dirigentes de um Banco roubam: prendem e julgam os culpados e fim. Assim deve ser também no caso das coops. Ou como na Igreja: não é porque existem padres malandros que o Cristianismo ou a Igreja não prestam. Devem ser punidos os culpados - as pessoas que erram - e não a Doutrina e seu Instrumento. Tal constatação reforça de maneira cabal a necessidade da autogestão funcionar bem: só ela poderá separar o joio do trigo, eliminando os maus cooperados, maus funcionários, maus dirigentes e líderes, de forma a “limpar” o movimento, permitindo a sua identificação com os objetivos doutrinários, de defesa da paz.
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História da inspeção Carlos Alberto Magioli – Auditor Fiscal Agropecuário – Academia de Medicina Veterinária no Estado do Rio de Janeiro
A legislação brasileira no que tange a alimentos de origem animal determina que é obrigatória a sua prévia inspeção higiênica, sanitária e tecnológica antes de serem ofertados ao consumidor, sendo esta atividade de fiscalização de caráter público e executada em três níveis municipal, estadual e federal.
O
eminente e saudoso Professor Miguel Cione Pardi, em sua publicação sob o título “Memória da Inspeção Sanitária e Industrial de Produtos de Origem Animal no Brasil: O Serviço de Inspeção Federal – SIF”, remonta ao ano de 1915 quando, através do Decreto 11.462, foi expedido o Regulamento do novo órgão denominado “Serviço de Inspecção de Fábricas de Productos Animais”, subordinado, à época, ao Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio valendo como regulamentação específica da inspeção sanitária de carnes. A obrigatoriedade da prévia inspeção foi estabelecida a partir de 1950 através da Lei 1.283 sancionada em 18 de dezembro daquele ano, portanto há 66 anos, definindo que seria exercida sob o ponto de vista industrial e sanitário, abrangendo todos os produtos de origem animal, comestíveis e não comestíveis.
Competentes para realizar a inspeção Esta mesma lei definia como competentes para realizar a fiscalização o Ministério da Agricultura, as Secretarias ou Departamentos de 32_Animal Business-Brasil
Agricultura dos Estados, dos Territórios e do Distrito Federal e os órgãos de Saúde Pública dos Estados, dos Territórios e do Distrito Federal, com a ressalva da proibição da duplicidade de fiscalização. Esta lei foi regulamentada pelo Decreto 30.691 de 29 de março de 1952, instituindo o Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal (RIISPOA), para vigorar em todo o território nacional e que, com algumas pequenas alterações ao longo dos anos, ainda constitui-se na base de atuação do PublicDomainPictures / Pixabay
Por:
Serviço de Inspeção Federal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e espelho para os regulamentos estaduais e municipais. A iniciativa empresarial na área de alimentos e especificamente os de origem animal, amparada pela moderna legislação à epoca, permitiu um despontar da cadeia produtiva do agronegócio de forma a atender ao crescente consumo interno e a demanda pelo comércio internacional.
Em 6 de junho de 1970, em função do total descalabro na oferta de produtos de origem animal para a população do Estado de São Paulo, a Revista Visão publicou um artigo sob a orientação dos Médicos Veterinários Nelson Garcia de Moraes Forjaz, Diretor Técnico do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo e José Christovam Santos do Ministério da Agricultura, sob o título “Ameaça na Carne” descrevendo a situação caótica e sem qualquer controle, da carne distribuída naquela Estado e por semelhança em todo o Brasil.
Esta mudança radical nos parâmetros definidos desde 1950 constituiu-se em uma das realizações mais notáveis havidas no Brasil, tendo o eminente Professor Ruy Brandão Caldas, seu maior artífice segundo o Professor Miguel Cione Pardi, considerado em sua tese de Livre Docência, como a “maior campanha de saneamento já encetada no campo de alimentos no Brasil”, havendo a citação de estar entre as maiores revoluções no campo da saúde pública já ocorridas no mundo. Este trabalho hercúleo começou pelo Rio Grande do Sul, Estado natal do Ministro da Agricultura à época, Luiz Fernando Cirne Lima, maior incentivador do processo de federalização e os seus frutos já começavam a aparecer na qualidade dos alimentos ofertados à população. Entretanto, com o decorrer dos trabalhos, a organização do sistema passou a sofrer forte pressão contrária de entidades de classe marginais e de industriais que tiveram os seus interesses contrariados pela nova legislação, com a participação ativa de políticos, também contrariados em seus interesses, aliado ao fato de não se interessarem por entender o alcance para o Brasil das medidas adotadas, impedindo a continuidade de tão importante ato. Estas pressões culminaram com a edição da Lei 7.889 de 23 de novembro de 1989, retornando o país aos mesmos preceitos da Lei 1.283, redistribuindo as atividades de inspeção para os três níveis federal, estadual e municipal, em função da área de comercialização dos produtos fabricados pelos estabelecimentos industriais. A partir daí, o Ministério da Agricultura passou a ocupar-se da inspeção dos produtos, motivo de trânsito interestadual e principalmente voltando as suas atenções para o comércio internacional de grandes perspectivas para o país.
Lei da federalização
Desorganização total
Como tentativa de solucionar esta grave questão, o Ministério da Agricultura, através da Lei 5.760 de 30 de dezembro de 1971, instituiu a denominada lei da federalização, definindo para si a exclusiva competência para a execução da fiscalização dos produtos de origem animal no Brasil.
Como muitos Estados e principalmente municípios não tinham e nem tiveram interesse em desenvolver ao longo dos anos a estrutura administrativa e de pessoal técnico para assumirem tão relevante atividade e o Ministério da Agricultura voltando a sua atenção para o mercado internacional, todo o ganho em ter-
Exportações Com respeito às exportações, já havia normas específicas que o Brasil obrigava-se a cumprir por exigências dos importadores e que, a cada dia, ampliavam as possibilidades de modernização do parque industrial na busca de melhores mercados internacionais. Entretanto, o mesmo não acontecia no mercado interno onde a desorganização era evidente e o mercado de produtos sem qualquer fiscalização, clandestinos, cada vez mais aumentava e se acentuava acarretando graves riscos para a saúde pública e a economia.
Situação caótica
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Em muitos casos são necessários exames complexos para garantirem a qualidade dos produtos.
mos de saúde pública conseguido através do processo de federalização foi perdido, voltando às condições de total desorganização do sistema anterior a 1971, o que perdura até hoje em grande parte do Brasil, independente de permanecer em vigência a obrigatoriedade da inspeção em todos os estabelecimentos de produtos de origem animal. Através da Lei 8.171 de 1991, o poder público estabeleceu as ações e instrumentos da política agrícola, relativamente às atividades agropecuárias, agroindustriais e de planejamento das atividades pesqueira e florestal que posteriormente teve dois artigos alterados pela Lei 9.712 de 1998, criando o Sistema Único de Atenção à Sanidade Agropecuária – SUASA, em muito semelhante ao Sistema Único de Saúde- SUS.
Inspeção deficiente As atividades de inspeção executadas de forma deficiente por cada um dos três níveis de governo, sob o aspecto de estrutura administrativa, corpo técnico e metodologia de ações continuavam totalmente divorciadas entre si, como se o
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consumidor dos produtos fiscalizados por cada uma delas fosse diferente e os requisitos de ordem sanitária, tecnológica e higiênica pudessem também o ser. Ao regulamentar o SUASA através do Decreto 5.741 de março de 2006, foi constituído o Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos e Insumos Agropecuários – SISBI, como tentativa de equiparar tecnicamente os três níveis de fiscalização, sendo o acesso ao sistema de forma voluntária. Os Estados e Municípios que desejassem aderir, deveriam ter todas as suas estruturas de inspeção, equivalentes a do Serviço de Inspeção Federal, condição avaliada através de auditoria realizada pelos Auditores Fiscais Federais Agropecuários do Serviço de Inspeção Federal. Independente destas mudanças, o critério da inspeção ser permanente prevalecia, até que, através do Decreto 8.444 de 6 de maio de 2015, foi modificado o Artigo 11 do RIISPOA de 1952, acabando com a consagrada inspeção permanente em todos os estabelecimentos de produtos de origem animal, mantendo esta obrigatoriedade apenas para os estabelecimentos de abate, novo retrocesso no importante e fundamental oferecimento de alimentos de qualidade para o consumidor.
Mudanças desastrosas Como que para coroar negativamente tantas mudanças desastrosas com sérios prejuízos para a saúde do consumidor, alguns Estados instituíram de forma oficiosa, ao arrepio e em contraponto à legislação maior, a chamada inspeção privada, cuja similaridade não encontra parâmetro em lugar nenhum do mundo, confrontando inclusive com as orientações da Organização Internacional de Saúde Animal (OIE), a qual o Brasil é filiado, que define como princípios fundamentais para os serviços oficiais veterinários a qualificação profissional, independência, imparcialidade, integridade, objetividade, legislação e organização do serviço. Com respeito à independência, recomenda que o pessoal dos serviços veterinários não estejam submetidos a nenhuma pressão comercial, financeira, hierárquica, política ou de outro tipo que possa influir em seu juízo e suas decisões.
FEBRE AMARELA Por:
Milton Thiago de Mello, Vice-Presidente da Academia Brasileira de Medicina Veterinária, Membro Honorário e Ex-Presidente da Sociedade Brasileira de Primatologia
A febre amarela (FA) é uma zoonose. Palavra que se destaca no conceito de uma única saúde: humana, animal e ambiental, evidenciando o papel dos veterinários neste importante aspecto da saúde pública.
A WikiImages / Pixabay
s zoonoses são quase uma centena pelo mundo todo. Algumas são transmitidas diretamente entre o homem e animais domésticos ou silvestres, como a raiva, a tuberculose e a brucelose. Outras necessitam de um intermediário, quase sempre um artrópode (inseto, carrapato) como a peste (pulgas), febre amarela, dengue e Zika (mosquitos). Os agentes causais podem ser bactérias, vírus, protozoários ou fungos. As que são causadas por vírus
e transmitidas por artrópodes (em geral mosquitos), são denominadas arboviroses, ou seja, causadas por vírus transmitidos por artrópodes (arthoropode borne vírus). FA na América Latina - Surtos periódicos da FA ocorrem aproximadamente de sete em sete anos iniciando-se ao Sul do México (até passado mais ou menos recente também no Caribe) e terminando ao Norte da Argentina e Sul do Brasil. Essa onda em macacos e humanos dura cerca de 2 anos. Os últimos surtos no Rio Grande do Sul, por exemplo, ocorreram em 2001, 2008-2009 e 20162017 (em curso). Eles foram bem estudados pelos técnicos da Secretaria Estadual de Saúde e vários outros. Nem sempre a mortalidade de macacos é grande ou são afetadas todas as espécies. Entretanto, os bugios ou guaribas (de várias espécies) que ocorrem na grande região do continente, antes mencionada, são os mais atingidos. Também nem toda essa região é alcançada. No
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Fig. 1. Distribuição geográfica das epizootias em primatas não humanos suspeitos de FA (de 01 de dezembro de 2016 a 15 de março de 2017).
Epizootias confirmadas para FA Epizootias em investigação para FA
presente surto, a Mata Atlântica está sendo fortemente atingida na altura de Minas Gerais e Espírito Santo, com grande risco para espécies ameaçadas como o mico-leão e o muriqui. FA silvestre - A FA que no momento está em progresso por grande parte do país, aparentemente, ainda é apenas da modalidade silvestre, ou seja, como zoonose ocorrendo entre macacos e passando destes ao homem pela picada de mosquitos também silvestres. A morte de macacos pela FA indica a possibilidade da doença atingir o homem nas áreas onde existam os macacos doentes e os mosquitos transmissores. Os macacos funcionam então como animais sentinelas: avisam que a doença está na região. A explicação acima propositadamente simples, encerra conceitos científicos, mais complicados sob vários aspectos. FA urbana - Até agora mencionou a FA silvestre, que ocorre entre macacos e é transmitida ao homem pela picada de mosquitos também silvestres, que picaram macacos doentes. 36_Animal Business-Brasil
Mais perigosa, entretanto, é a FA urbana. Em princípio, transmitida de homem a homem pela picada de um mosquito também urbano: Aedes aegypti. Essa modalidade já foi um flagelo da humanidade, inclusive no Brasil, desde meados do século XIX com seu auge no Rio de Janeiro no princípio do século XX e praticamente erradicada pelos trabalhos de Oswaldo Cruz e seus colaboradores no combate ao mosquito. Na época, não existia vacina. Esse mosquito urbano: o Aedes aegypti, agora é citado por toda parte. Ao picar uma pessoa com FA pode transmitir a doença de homem a homem. Ele está onipresente por todo o país. Muito conhecido por ser também o transmissor de Dengue, Chikungunya e Zika. Por motivos ainda não esclarecidos, ele pode picar um indivíduo doente com FA silvestre mas não transmitir a doença para outra pessoa. Até quando? As explicações são variadas e sempre se lança mão da genética: do vírus, do mosquito ou do homem. O perigo é real. A vacina – Logo depois do grande surto de Febre Amarela no Brasil, combatido por Oswaldo Cruz, muitas pesquisas foram desenvolvidas na busca de uma vacina. De uma delas resultou na vacina extremamente eficiente, usada até hoje, com efeito durante 10 anos. Foi desenvolvida por uma equipe liderada por cientistas da Fundação Rockefeller, em pavilhão especialmente construído para isso no Instituto Oswaldo Cruz (Rio de Janeiro) e testada em macacos rhesus importados da Índia a partir de 1928. No momento, ela está sendo aplicada em larga escala nas chamadas áreas de risco, onde existem macacos infectados. No dia 16 de março, as autoridades sanitárias do Estado do Rio de Janeiro decidiram vacinar toda a população do Estado, a grande maioria urbana, contra a FA. Uma sábia decisão prevendo a eventual e temida queda da espada de Damocles, considerando a onipresença do Aedes aegypti mais difícil de eliminar agora do que no tempo de Osvaldo Cruz, além da fácil chegada aos grandes centros urbanos de doentes de áreas atualmente afetadas. Dados oficiais - O Ministério da Saúde (Secretaria de Vigilância em Saúde) divulga dados oficiais que mostram a rápida evolução do presente surto de FA humana no Brasil. Quanto aos macacos (primatas de várias espécies) a mortalidade por FA é estimada em milhares, mas os
dados são imprecisos. A situação tende a ficar mais grave com a progressão da doença na direção Sul como antes mencionado. Os dados oficiais atualizados podem ser facilmente obtidos acessando: http://portalsaude. saude.gov.br/index.php?option=com_content& view=article&id=9612&Itemid=504. As tabelas 1 e 2 retratam a situação oficial da FA humana no Brasil até 15 e 16 de março de 2017. Por sua vez, vez informações sobre epizootias de primatas não-humanos com mapa (Fig. 1) e outras informações são encontradas no mesmo site. Além de um excelente glossário sobre FA, com informações sobre a doença. A parte de imunização, entretanto, mantém uma
atitude demasiada cautelosa recomendando a vacinação somente em algumas áreas consideradas de risco, enquanto os macacos já estão morrendo até no Rio de Grande do Sul. Também sem levar em consideração a possibilidade da FA transformar-se em urbana transmitida pelo Aedes aegypti. Resumo - A FA está em pleno desenvolvimento no Brasil aparentemente só silvestre, até agora. Os mosquitos transmissores de ambas modalidades existem. Assim, é imperioso vacinar toda a população brasileira como foi corretamente decidido pelas autoridades sanitárias do Estado do Rio de Janeiro, dentro ou fora de áreas de risco.
Tabela 1. Distribuição dos casos de FA notificados de 01 de dezembro de 2016 a 16 de março de 2017. UF do LPI Região Centro-Oeste Goiás Região Norte Tocantins Região Nordeste Bahia Rio Grande do Norte Região Sudeste Espírito Santo Minas Gerais Rio de Janeiro São Paulo UF do LPI em investigação Descartados por outras UF's Total
Municípios com casos notificados
Total de casos notificados
Classificação dos casos Casos em Casos investigação confirmados
Casos descartados
5
7
3
0
4
7
7
6
0
1
8 1
19 1
8 1
0 0
11 0
47 89 2 25 184
297 1155 3 25 15 29 1558
150 749 1 11 4 0 933
93 325 2 4 0 0 424
54 81 0 10 11 29 201
Tabela 2. Distribuição de óbitos suspeitos de FA entre o total de casos notificados de 01 de dezembro de 2016 a 15 de março de 2017. UF do LPI Região Norte Tocantins Região Nordeste Bahia Rio Grande do Norte Região Sudeste Espírito Santo Minas Gerais Rio de Janeiro São Paulo UF do LPI em investigação Descartados por outras UF's Total
Municípios com óbitos
Total de óbitos notificados
Classificação dos óbitos Óbitos em Óbitos investigação confirmados
Óbitos descartados
1
1
1
0
0
1 1
1 1
1 1
0 0
0 0
23 49 1 4 80
54 189 1 4 5 3 259
26 78 0 1 4 112
22 111 1 3 0 137
6 0 0 0 1 3 10 Animal Business-Brasil_37
Início do combate à Febre Aftosa na América do Sul O trabalho de um pioneiro Por:
Luiz Octavio Pires Leal, editor
Luiz Octavio Pires Leal
O pioneiro é o veterinário José Freire de Faria (94) membrotitular da Academia Brasileira de Medicina Veterinária, e por duas vezes presidente do Continente Americano da OIE- Organização Mundial de Saúde Animal, fundada em 1924, em Paris, para combater as enfermidades dos animais.
A
partir de 1950 os países da América do Sul começaram a desenvolver, isoladamente, mas com a colaboração do Centro Pan-Americano de Febre Aftosa (Panaftosa) os primeiros trabalhos de controle da Febre Aftosa. “Encontramos a necessidade de maior participação dos países vizinhos, e as negociações com tais países resultaram na formação da COTESA – Comissão Técnica de Saúde Animal” – conta Faria. Ele continua: “Existiam técnicos de elevado conhecimento, tais como os doutores Ivo Torturela, Ubiratan Mendes Serrão, Raimundo Cunha e outros luminares, além do apoio do Centro Pan-Americano de Febre Aftosa”.
A campanha O embrião da estrutura do combate à Febre Aftosa no Brasil foi o programa criado pelo vete-
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Dr. José´Freire de Faria
rinário Ivo Torturela sob encomenda do colega Freire de Faria e que teve a colaboração, entre outros, dos doutores Miguel Cione Pardi e Sinval Coube Bogado. A campanha foi institucionalizada pelo Decreto 52.344 de nove de agosto de 1963.
Duas doses de vacina Faria enfrentou uma grande batalha dos laboratórios – por razões óbvias – quando defendeu a tese de que em vez das três doses de vacinas anuais contra a Febre Aftosa bastavam duas, de
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No início do programa para controle da Febre Aftosa - uma virose altamente contagiosa o Brasil doou vacinas para o Paraguai, a Bolívia e o Peru. vacinas oleosas, o que prevalece até hoje. Isso foi extremamente importante para o controle dessa doença no Brasil e o sucesso das nossas exportações e sua significativa contribuição para o PIB. No início do programa para controle da Febre Aftosa, que todos sabemos ser uma virose altamente cotagiosa, o Brasil doou vacinas para o Paraguai, a Bolívia e o Peru. Deve-se em grande parte ao trabalho do colega Freire de Faria, ao tempo em que ocupou cargos de direção no Ministério da Agricultura, o fato do Brasil estar hoje na posição privilegiada de um dos maiores fabricantes de produtos veterinários do mundo.
Uruguai Naquela época, o Uruguai era um país avançado em termos de tecnologia para o combate à Febre Aftosa, mas carecia de recursos materiais. A solução encontrada pelo colega Faria foi oferecer ao Ministro da Agricultura daquele país vizinho trocar 100 reprodutores leiteiros da raça Holandesa PB por veículos, indispensáveis para os trabalhos de campo. E assim foi feito: o Brasil mandou para lá 29 caminhonetes Aero-Willis e uma Kombi.
Modéstia Modestamente, esse grande pioneiro no combate à Febre Aftosa, que foi o médico veterinário José Freire de Faria, tanto no Brasil como em todo o Continente Americano – do Canadá, à Argentina – faz questão de afirmar que apenas
foi o seguidor dos trabalhos do colega Altamir Gonçalves de Oliveira.
Currículo Formado pela Escola Nacional de Veterinária da atual UFRRJ, onde antes de concluir o curso e depois professor-adjunto do famoso anatomo-patologista Paulo Dacorso Filho, trabalhou no serviço de limpeza como faxineiro. Esse maranhense de Buriti, onde nasceu em 21 de abril de 1922 e que continua ativo na profissão, sempre pautou sua vida pela vontade de “ir além” e foi mesmo muito além, frequentando diversos cursos, exercendo cargos de direção que lhe permitiram fortalecer a veterinária brasileira e trabalhando em muitos países, como: Argentina, Espanha, Equador, México, Paraguai, Estados Unidos, Portugal, Santo Domingo e São José da Costa Rica.
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ZOOTECNIA Uma ciência voltada para o desenvolvimento das cadeias produtivas dos animais Por:
Fábio Ramos, diretor, e equipe da Agrosuisse
A seção da Zootecnia pretende trazer ao leitor da Revista uma visão atualizada sobre o desenvolvimento da Zootecnia no Brasil e no Mundo.
A
Zootecnia é uma ciência agrária voltada para desenvolver as cadeias produtivas de animais domésticos e domesticáveis, visando subsidiar conhecimento, tecnologias, produtos, processos e atendimento aos mercados consumidores, para o atendimento da demanda alimentar e de inúmeros setores que utilizam os produtos e subprodutos dos segmentos da cadeia agroalimentar.
Atuação dos profissionais Segundo a Associação Brasileira de Zootecnistas, ABZ, a atuação dos profissionais de zootecnia permeia a produção animal, preservação do meio ambiente, conservação dos recursos naturais, preservação da fauna, criação de animais de companhia, lazer e esporte, além das atividades relacionadas à produção de alimentos nos setores da agropecuária e das agroindústrias. Nos setores da produção animal, a Zootecnia tem uma atuação fundamental nas áreas de nutrição, melhoramento genético, reprodução, 40_Animal Business-Brasil
sanidade e na administração e gestão das propriedades e empreendimentos rurais.
Gestão Nos últimos anos, com o aumento do número de profissionais formados em Zootecnia, sua atuação se expandiu nas áreas de gestão de instituições públicas e privadas, nas pesquisas em biotecnologia animal, em desenvolvimento de sistemas de produção de animais silvestres, nas áreas de produção de alimentos de origem animal tanto nos processos de qualidade quanto na biossegurança, em diferentes setores do agronegócio, como os segmentos de processamento e mercado, além da integração em equipes multidisciplinares em diversas áreas da economia, da tecnologia e outras.
Pecuária sustentável O conceito de sustentabilidade surge formalmente no relatório Bruntland, realizado pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento das nações Unidas (CMMAD), em 1988, que diz que “a sustentabilidade é o desenvolvimento que satisfaz as necessidades da geração presente, sem comprometer as possibilidades das gerações futuras, em satisfazer suas necessidades” (Nosso,1988). O conceito de agricultura (pecuária) sustentável abrange um amplo leque de visões refletindo o conflito de interesses existentes na sociedade. A proposta de um desenvolvimento sustentável,
Avanços tecnológicos Os avanços tecnológicos do setor da pecuária, nos últimos vinte anos, promoveram bons resultados nas técnicas de melhoramento genético e reprodução animal, no manejo nutricional, no manejo do rebanho voltado para o bem-estar animal, nos sistemas de rodízio de pastagens e na profissionalização dos sistemas de produção intensivos, como os sistemas de confinamento. A integração com a conservação dos recursos naturais vai garantir um aumento de produtividade de forma sustentável.
Produção e boas práticas A legislação pertinente relacionada aos programas de boas práticas de produção animal inclui Leis, Decretos e respectivas Instruções Normativas que definem as regras sobre os processos de produção da pecuária de corte e de
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incluindo as atividades agropecuárias, contempla a conservação dos recursos naturais, a utilização de tecnologias apropriadas, bem como a viabilidade econômica e social. A Pecuária sustentável pode ser caracterizada pelo despertar do setor que assume seu papel maior nas questões de preservação do meio ambiente e conservação dos recursos naturais. A criação do Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável, GTPS, confirma a direção que a cadeia agroalimentar da pecuária tem para os próximos anos e em caráter irreversível. A Pecuária, tanto para produção de carne como de leite, é presente em todos os biomas brasileiros, todos os estados e, na maioria dos municípios, se apresenta em micro, pequenas, médias e grandes propriedades rurais, seus proprietários apresentam diferentes perfis e com visões e filosofias que muitas vezes divergem e outras vezes são convergentes.
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leite e demais exigências sobre o licenciamento das atividades produtivas e agroindustriais. Ressalta-se atualmente o fundamental cumprimento da legislação ambiental, com ênfase nas questões relacionadas ao Código Florestal e suas exigências quanto à área de reserva legal a ser adotada por bioma, as áreas de preservação permanente, APP, assim como as demais regras sobre o uso dos recursos hídricos e florestais. Em 2003, o comitê de agricultura da FAO deu início ao desenvolvimento de um protocolo de boas práticas agropecuárias. Após reuniões e workshops internos, em 2005 foi publicado o documento, “Sustainable Agriculture and Rural Development” (SARD). O comitê sugeriu também que o protocolo de Boas Práticas Agropecuárias da FAO seja aderido voluntariamente e que não 42_Animal Business-Brasil
cause barreiras na hora de exportar caso algum produtor não queria aderir à prática. Mas, que o protocolo seja consistente de acordo com as normas da CODEX, IPPC e OIE1. Segundo a recomendação da FAO em abril de 2003, os critérios para o desenvolvimento das Boas Práticas de Produção Agrícola e Pecuária devem seguir premissas que considerem aspectos ambientais, econômicos e sociais. (FAO COAG 2003 GAP paper) No Brasil, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, EMBRAPA, realiza a difusão do Programa de Boas Práticas Agropecuárias. “O conceito geral é de que as Boas Práticas são normas e procedimentos que devem ser obser1 Codex - Codex Alimentarius Commission; OIE - Organization for Animal Health: IPPC - International Plant Protection Convention;
vados pelos produtores rurais para garantir a produção de alimentos seguros em sistemas de produção sustentáveis. São aqueles que respeitam as legislações ambientais e trabalhistas, são socialmente justos, economicamente viáveis e respeitam os bons tratos para com os animais". (Manual de Boas Práticas Agropecuária – Brazilian GAP; EMBRAPA Gado de Corte, 2008).
e recebem o certificado do Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica, SISORG, e consequentemente o selo Nacional.
Conversão para sistemas orgânicos A produção animal em sistemas de produção orgânica é baseada na recente regulamentação da Lei n° 10.831 que definiu os fundamentos da produção orgânica animal e formaliza o Programa de Boas Práticas da Produção Orgânica Animal e todas as exigências para a produção e processamento dos produtos de origem animal. O primeiro ponto sobre a legislação da produção orgânica animal é quanto ao período de conversão, de acordo com a Lei número 10.831, anexo da Instrução Normativa número 46, para a produção animal, no item 3.4, “O período de conversão será variável de acordo com o tipo de exploração e a utilização anterior da unidade de produção, considerando a situação ecológica e social atual, com duração mínima: I - para aves de corte: pelo menos : (três quartos) do período de vida em sistema de manejo orgânico; II - para aves de postura: no mínimo 75 (setenta e cinco) dias em sistema de manejo orgânico; III - para bovinos, bubalinos, ovinos e caprinos, de corte e leiteiros: pelo menos 6 (seis) meses em sistema de manejo orgânico; (...) No caso específico da Pecuária, em relação às pastagens e produção de volumosos, o período de conversão será variável de acordo com o tipo de exploração e a utilização anterior da unidade de produção, considerando a situação ecológica e social atual, com duração mínima de 12 (doze) meses de manejo orgânico ou pousio na produção vegetal de pastagens perenes e formadas. Após este período de conversão, os sistemas de produção são reconhecidos pelas entidades (certificadoras) credenciadas junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, MAPA,
Aquicultura/Piscicultura e segurança alimentar A aquicultura é uma atividade que vem crescendo no mundo inteiro. Uma das modalidades dessa atividade é a piscicultura. A criação de peixes vem sendo praticada há muitos anos e nas últimas décadas tem se destacado entre as atividades de maior desenvolvimento em todo o mundo, sendo responsável pela geração de inúmeros postos de trabalho e por abastecer boa parte da humanidade com pescado, garantindo a segurança alimentar com boas produções em pequenas áreas. A pobreza é uma das principais causas da insegurança alimentar, sendo a produção de pescado sustentável um importante instrumento para a sua redução. A piscicultura se torna um componente atraente e importante à população rural, em situações em que aumentam as pressões populacionais, a degradação ambiental e a redução das capturas por meio da pesca. Tal atividade traz benefícios para a saúde e a nutrição, geração de empregos, melhora a renda, reduz a vulnerabilidade das propriedades e a sustentabilidade destas. A piscicultura é de caráter econômico, como toda atividade zootécnica. Esse caráter implica o desenvolvimento da atividade sob aspectos empresariais, visando ao fornecimento de alimento à maior parte da população, gerando empregos e melhoria de renda. Essa atividade pode ser praticada por diferentes sistemas de produção. O sistema de proAnimal Business-Brasil_43
A utilização de tanques-rede é uma modalidade da piscicultura intensiva praticada geralmente em corpos d'água de grandes dimensões.
dução em piscicultura pode ser extensivo (em tanques escavados, geralmente com baixo nível tecnológico, não utilização de concentrado e baixa produtividade), semi-intensivo (realizados em tanques escavados com nível tecnológico intermediário a alto, de média a alta produtividade, com utilização variável de concentrado) e intensivo (sistemas com renovação de água constante ou com fluxo contínuo, alta produtividade, alto uso de concentrado, com possibilidade de ser realizado em construções com alto nível tecnológico e grande custo de implantação inicial ou em tanques-rede, aproveitando os corpos d’agua existentes).
Piscicultura O cultivo de peixes em tanques-rede vem crescendo em todo o mundo. Esse tipo de cultivo permite a utilização de rios, reservatórios, la-
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gos e açudes que não podem ser utilizados nos cultivos tradicionais. A utilização de tanques-rede é uma modalidade da piscicultura intensiva, praticada geralmente em corpos d'água de grandes dimensões onde o produtor não poderia estabelecer domínio dos lotes de criação ou de áreas que não podem ser esgotadas totalmente e não permitem o uso de redes para a captura. Os primeiros cultivos com essa metodologia foram utilizados no Vietnã onde os piscicultores engordavam peixes de valor comercial em cestos ou gaiolas de bambu. O sistema de cultivo de peixes está bem próximo da cultura dos pescadores, com o peixe e o ambiente aquático fazendo parte do seu cotidiano, surgindo como atividade econômica alternativa onde a pesca está em declínio, gerando emprego e renda. Além disso, o cultivo de peixes em tanques-rede ajuda no desenvolvimento da cadeia produtiva; contribui para a redução das importações de pescado; e aumenta a oferta de proteína animal à população. No cultivo em tanques-rede os peixes são confinados em altas densidades, dentro de uma estrutura onde os animais recebem ração balanceada e que permita uma grande troca de água com o ambiente. A alta taxa de renovação de água dentro do tanque-rede é o principal fator que viabiliza a alta densidade populacional e a produção de uma grande biomassa de peixes por unidade de volume (50 a 250 kg/m³), já que supre a elevada demanda por oxigênio e remove os dejetos produzidos.
Tratamento dos resíduos da produção animal Por:
Prof. Jadson Luiz Simões Rocha (Professor do EBTT/ IF Baiano/Pós-graduando e pesquisador do AMBIAGRO) e Profª Cecília de Fátima Souza, Prof. Fernando da Costa Baêta e Profª Ilda de Fátima Ferreira Tinôco (Professores do Depto. de Eng. Agrícola/Universidade Federal de Viçosa e pesquisadores do AMBIAGRO).
Em decorrência do crescimento populacional, seguido de melhorias em índices socioeconômicos de países, a exemplo do Brasil, a demanda por alimentos à base de proteína animal tende a crescer. Com o PIB superior a U$ 2 trilhões (2013) e uma população ocupando a quinta posição, segundo a FAO em seu relatório Perspectivas Agrícolas 2015 – 2024, o Brasil encontra-se entre as dez maiores economias mundiais.
O
consumo das carnes bovina, suína e de aves, principais fontes de proteína animal para a população brasileira, atingirá o montante de 83 kg/pessoa no ano de 2024, impulsionado principalmente pela carne de aves, devido ao menor custo final para o consumidor, quando comparado às demais. Para o ano de 2016, nas projeções feitas pelo United States Department of Agriculture - USDA, base outubro de 2016, o Brasil ocupará posições de destaque no ranking mundial de consumo, exportação e produção das carnes bovina, suína e de frango, conforme apresentado na Tabela 1.
Galpão de Sistema Free Stall em Fazenda de Bovinocultura Leiteira na Região Sul de Minas Gerais.
Tabela 1 – Posição do Brasil no Ranking Mundial das Carnes Bovina, de Frango e Suína Carnes
Bovino
Frango
Suíno
Consumo
2º
4º
5º
Exportação
2º
1º
4º
Produção
2º
2º
4º
Projeção outubro de 2016 Fonte: USDA – out/2015
Tecnologia a Serviço da População Para atender à demanda por alimentos, técnicas mais robustas têm sido desenvolvidas e implementadas nos processos produtivos, proporcionando maiores índices de rendimento nas Animal Business-Brasil_45
atividades agropecuárias de um modo geral. O confinamento de grande número de animais, ocupando espaços cada vez menores, associado às técnicas construtivas que promovem o bem-estar animal, melhores padrões genéticos com boa sanidade e dietas com alimentação balanceada, são alguns dos fatores que têm promovido melhores resultados, do ponto de vista da segurança alimentar. Nesta cadeia produtiva, em se tratando de um sistema em que a base energética é de natureza orgânica e mineral, além da água, ao final, após ser apurado o produto principal, a carne, o ovo e/ou os lácteos, é inevitável a geração de resíduos orgânicos, fármacos e patógenos, nas formas sólida, líquida, gasosa e poeira, os quais, se não forem tratados e dispostos adequadamente, podem se tornar causas de degradação de mananciais hídricos, solos e do ar.
Impactos ambientais Neste sentido, os impactos ambientais associados à produção pecuária estão atraindo cada vez mais a atenção dos órgãos de controle ambiental e de pesquisa, além das Universidades, que têm se debruçado sobre o assunto e dispendido energia e recursos financeiros e humanos para o desenvolvimento e aplicação de tecnologias, capazes de tratar adequadamente tais resíduos.
Resíduos da Produção Animal De modo geral, os resíduos gerados na produção animal não têm características tão padronizadas, apresentando grandes variações físico-químicas, o que dificulta a seleção do processo de tratamento e de aproveitamento a ser implementado em uma determinada unidade de produção. O manejo do processo produtivo, envolvendo a alimentação, fornecimento de água e a limpeza das instalações, pode influenciar nas características do efluente gerado, possibilitando o aumento da diluição dos dejetos e acarretando em maior quantidade desses efluentes, além de elevar os custos de coleta, de armazenagem, de tratamento, de transporte e de distribuição.
Mitigação dos Efeitos Negativos As ações mitigadoras dos impactos dos resíduos originados na produção animal requerem 46_Animal Business-Brasil
Sistema de Coleta, Transporte e Armazenamento de Resíduos de Galinha de Postura em Granja na Região Sul de Minas Gerais.
altos investimentos, os quais nem sempre são garantia da eficácia dos sistemas adotados. Este é um dos principais desafios para a adequação dos empreendimentos às exigências legais, pois os custos para implantação e manutenção, normalmente, estão acima da capacidade financeira do produtor. Os dejetos de animais, quando bem manejados, podem representar alternativas econômicas significativas, tendo em vista a possibilidade de aproveitamento integral destes, na forma de adubo orgânico e energia, sem que tal conduta venha a comprometer a qualidade ambiental. A descarga de efluentes brutos nos cursos d’água contribui para a deterioração da qualidade das águas subsuperficiais, sendo então fundamental o seu tratamento prévio. O tratamento dos resíduos gerados em Unidades de Produção Animal pode ser agrupado em métodos físicos, químicos e biológicos, a saber: • nos físicos, ocorre a separação das partículas em suspensão nos dejetos para a obtenção de uma fração líquida mais fluida e outra sólida com teor de umidade próximo dos 70%; • nos químicos, é feita adição de produtos que agem sobre as partículas e o material coloidal, precipitando-os de forma a reduzir a concentração de sólidos totais contidos nos resíduos animais;
Os biodigestores são sistemas fechados de degradação anaeróbia nos quais os gases gerados durante a degradação são coletados e armazenados em gasômetros para posterior utilização ou simples queima. Conjunto de Biodigestor Modelo Canadense para Tratamento de Efluentes de Bovinocultura Leiteira em Fazenda na Região Sul de Minas Gerais.
• nos biológicos, os resíduos animais sofrem a ação de microrganismos, os quais, através do seu metabolismo estabilizam a matéria orgânica, convertendo-a em gases (CO2, CH4 e H2S), água e material celular.
Biodigestores Os biodigestores, por exemplo, são sistemas fechados de degradação anaeróbia, nos quais os gases gerados durante a degradação são coletados e armazenados em componentes denominados “gasômetros”, para posterior utilização ou simples queima. Estes podem ser classificados de acordo com a sua alimentação em contínuos e descontínuos. Existem vários modelos, com destaque para os tipos canadenses e para os reatores de fluxo ascendente UASB. Os modelos canadenses, tipo horizontal ou tubular, construídos, em sua maioria, na forma retangular, com largura superior à profundidade, proporcionam maior área de exposição do substrato ao sol, o que favorece a aceleração do processo de biodigestão. São compostos por uma caixa de entrada, uma câmara subterrânea de fermentação revestida com material impermeável, uma campânula superior constituída de lona plástica para reter o biogás gerado e uma caixa de saída do efluente final para um reservatório. Para controle da segurança no sistema, na linha de fluxo de biogás, são instalados regis-
tros, equipados com manômetros, adequados à inspeção e controle da pressão. O biogás é conduzido diretamente para queimadores, numa importante manobra ambiental, que consiste na sua conversão em dióxido de carbono. Porém, os maiores interesses nesse processo estão focados no seu aproveitamento para geração de energia e calor, devido exatamente à presença do metano como seu principal componente.
Reatores anaeróbios Os reatores anaeróbios de fluxo ascendente, UASB, caracterizam-se por possuírem mecanismos de retenção de sólidos, baixo tempo de detenção hidráulica, capacidade para altas cargas volumétricas, além de serem compactos e apresentarem boa eficiência na remoção da carga poluidora dos efluentes. Seu mecanismo de funcionamento é basicamente o fluxo ascendente do líquido. Nessa estrutura, as zonas de sedimentação e de coleta de gases ficam na sua parte superior. Trata-se de uma alternativa de manejo mais complexo, para a qual o volume recuperado de gases é menor e, além disso, seu custo é mais elevado. Considerando o exposto, o uso de biodigestores apresenta-se como alternativa significativa de recuperação dos importantes gases resultantes da digestão anaeróbia dos resíduos, considerando-se o balanço energético mais favorável e a agreAnimal Business-Brasil_47
Lagoas de Estabilização para Tratamento de Efluentes Suinícolas em Granja na Região da Zona da Mata Mineira.
Lagoa Aerada Artificialmente para Tratamento de Efluentes Suinícolas em Granja na Região da Zona da Mata Mineira.
gação de valor devido ao uso do metano, como gás combustível, na geração de energia. Ademais, via esse processo, há que se considerar a valiosa contribuição na redução da emissão de gases de efeito estufa (GEE), fatores que o tem colocado em posição vantajosa em relação aos demais.
Lagoas de estabilização As lagoas de estabilização são outras vias utilizadas no manejo e tratamento de resíduos. São grandes tanques escavados no solo, para os quais os resíduos líquidos fluem continuamente e são depurados por processos naturais (biológicos). Podem ser classificadas como aeróbias (aeração natural ou mecânica), anaeróbias e facultativas. 48_Animal Business-Brasil
As aeróbias são projetadas de maneira que exista oxigênio dissolvido em toda a massa líquida, ou seja, elas funcionam em um estado aeróbio. A matéria orgânica é oxidada por bactérias mantidas pelo oxigênio molecular livre fornecido ao meio pelas algas como resultado do processo fotossintético. O oxigênio pode advir também de uma superfície de aeração em contato com a atmosfera. Podem ser naturalmente aeradas ou podem ser aeradas mecanicamente por meio de aeradores (classificação quanto à forma de operação). São bastante rasas, 1,0 m de profundidade, de forma que os raios solares penetram com facilidade. Ocupam áreas maiores que outros tipos de lagoas, por isso não são tão utilizadas. As lagoas anaeróbias com profundidades entre 4,0 e 5,0 m, têm como objetivo principal a remoção da carga orgânica (carbonácea) e coliformes fecais presentes no material residual, podendo apresentar também boa eficiência na remoção de fósforo. Devem ser dimensionadas em função da carga orgânica (DBO5) do efluente e do tempo de retenção hidráulica, sendo a profundidade um parâmetro fundamental no dimensionamento, tendo em vista o desenvolvimento dos microrganismos anaeróbios. Com mesma ênfase deve ser considerado o parâmetro tempo de retenção hidráulica, que deve estar entre 30 e 40 dias. As lagoas facultativas objetivam a remoção de nutrientes (especialmente nitrogênio e fósforo), bem como da carga orgânica (DBO5) e dos coliformes fecais. Neste tipo de lagoa, parte da matéria orgânica em suspensão (DBO5 particulada), sedimenta constituindo o lodo de fundo, o qual é decomposto por microrganismos anaeróbios e convertido em gás carbônico, metano e outros compostos. A DBO, nas formas solúvel e em suspensão, dispersa na massa líquida, é decomposta por bactérias facultativas, que possuem a característica de sobrevivência, tanto em meios aeróbios, quanto nos anaeróbios, fato que determina o nome atribuído a este tipo de lagoa. São normalmente rasas, com 1,5 a 2,0 m de profundidade, e semelhantes às anaeróbias, devendo ser dimensionadas de acordo com a carga orgânica e o tempo de retenção hidráulica.
Lagoas de maturação As chamadas lagoas de maturação são adequadas ao pós-tratamento dos resíduos em
No processo de compostagem a decomposição do material decorre de forma anaeróbia, com a geração de gás carbônico, em vez de metano. processos de remoção da DBO5, sendo projetadas com o intuito básico de remover patógenos presentes no material em tratamento. Esse tipo de lagoa normalmente é locada no final de uma linha de tratamento, sendo esta geralmente composta por lagoas anaeróbia e facultativa. Essas lagoas devem possuir baixa profundidade, menos que 1,0 m, de forma que a fotossíntese e os efeitos da radiação solar (ultravioleta) sejam potencializados.
Compostagem Outro processo de bioestabilização empregado no tratamento de resíduos de animais é a compostagem da fração sólida, sendo considerado um processo biológico de transformação da matéria orgânica fresca em composto humificado e estabilizado com propriedades diferentes daquele que lhe deu origem. No processo de compostagem, a decomposição do material ocorre de forma aeróbia, com a geração de CO2, em vez de CH4, pela ação de uma comunidade bacteriana mesofílica/termofílica, reduzindo, assim, os impactos das emissões de GEE no ambiente. O processo de compostagem é influenciado por vários fatores, tais como temperatura, teor de umidade, relação carbono: nitrogênio do substrato, degradabilidade dos compostos de carbono, nível de pH e estrutura física do material orgânico.
consequências benéficas diretamente sobre o desempenho destes e indiretamente sobre a intensidade das emissões gasosas, nutrientes e microrganismos no ambiente. Nesta ótica, fatores como a arquitetura das instalações, a equalização dos parâmetros bioclimáticos, os aspectos sanitários e a seleção genética dos animais, podem contribuir para o equilíbrio dos níveis de produção de resíduos. O fato é que a tomada de decisão acerca do método para se tratar tais resíduos nem sempre é simples e não deve ser feita de maneira intuitiva. Os seguintes questionamentos devem balizar essa decisão: Qual a importância e porte do sistema de produção a ser atendido? Qual o tipo e características do resíduo a ser tratado? O que se busca com o tratamento a ser aplicado (Reduzir DBO/DQO? Eliminar odor desagradável? Evitar autuações? Gerar energia/calor? Produzir biofertilizantes/adubo? Melhorar a eficiência do processo de produção implantado?)? Há restrições (terreno muito acidentado, pouca área, volume excessivo de resíduos, consistência, custo, mão de obra disponível, etc)? Enfim, há disponibilidade de técnicos para elaboração do projeto adequado, para acompanhamento de execução das estruturas e para assistência no manejo do sistema de tratamento a ser implantado?
Usina de Beneficiamento de Resíduos de Galinha de Postura na Região Sul de Minas Gerais, para a Produção de Composto Orgânico de Excelente Qualidade e Valor Comercial Agregado.
Mudanças de Paradigma As boas práticas de gestão que respeitem as necessidades fisiológicas dos animais e que maximizem o seu potencial zootécnico terão Animal Business-Brasil_49
FAGRAM está de volta
com força total Depois de um período de recesso para modernização, a FAGRAM está voltando com força total com vistas à formação de profissionais adequados para o mercado de trabalho.
Eduardo Carvalho
Com instalações confortáveis localizadas em fazenda de frente para a Avenida Brasil (Rio), com
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150 mil metros quadrados, em área de conservação ambiental, fartamente arborizada, tratase de mais uma iniciativa da SNA-Sociedade Nacional de Agricultura, que desde 1897 trabalha em favor do desenvolvimento do agronegócio e da preservação ambiental. Informações: www.sna.agr.br
A
FAGRAM é uma instituição privada de ensino superior, criada em 1995 e mantida pela SNA – Sociedade Nacional de Agricultura. Durante 15 anos, a FAGRAM ofereceu bacharelado em Zootecnia, reconhecido oficialmente com conceito “B”, pelo MEC. Desde então, a Instituição tem buscado ampliar as áreas de abrangência dos seus cursos, mantendo a vocação e experiência nas áreas Ambiental e de Agronegócio.
Agronegócio e Gestão Ambiental A partir de 2008, seguindo as metas apontadas no Programa Pedagógico Institucional, a Diretoria da SNA, juntamente com o corpo docente da FAGRAM, iniciou uma profunda reflexão e revisão curricular que culminou com a criação dos Cursos Tecnológicos com ênfase nas áreas de Agronegócio e Gestão Ambiental.
Instalações & facilidades Auditório, Biblioteca, Instalações administrativas, Internet de Alta Velocidade, Equipamentos Audiovisuais, Salas para Empresas Jr, Laboratório de Informática, Laboratórios de Microscopia, Anatomia Animal, Química, Bromatologia e Nutrição Animal, Imunologia, Reprodução, Fisiologia, Farmacologia, Parasitologia, Histotécnica, Biotecnologia da Reprodução, Solos, Máquinas e Motores, Incubação de Ovos, Bioclimatologia, Genética, Práticas Agrícolas, Fábrica de Ração, Horta Orgânica, Área de Lazer com Restaurante e Cantina.
Localização A FAGRAM fica localizada à Avenida Brasil, 9727, na Penha (Rio). Tel.: (21)3977-9979. E-mail: fagram@fagram. edu.br
Bacharelado em Zootecnia Número de vagas: 40. Carga horária total: 4.035h. Carga mínima: 3.630h. O Curso tem como objetivo capacitar o futuro profissional para a solução de problemas relacionados com o planejamento e a organização da produção animal, envolvendo todos os aspectos relacionados com esse objetivo numa duração mínima de cinco e máxima de sete anos, com o cumprimento de 242 créditos.
Curso Superior de Tecnologia em Gestão do Agronegócio 50 vagas semestrais. Carga horária total: 2.650h. Carga mínima: 2.440h. Módulo Básico: Estatística, Ética e Responsabilidade Social, Química Ambiental, Agroecologia, Extensão Rural, Ferramentas Negociais em Agronegócios, Informática, Redes Solidárias, Associativismo e Cooperativismo. Módulo Fundamentos: Gestão Financeira nas Empresas do Agronegócio, Legislação Ambiental e Agrária, Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável, Análise de Cadeias Produtivas, Práticas de Leitura e Produção Textual e Metodologia Científica, Cenários Econômicos do Agronegócio, Planejamento e Controle da Produção. Mercado de trabalho: Há perspectivas de inserção no mercado de trabalho tanto no serviço público quanto no setor privado como empreendedor, gerente, assessor e como consultor administrativo em organizações e órgãos rurais, especialmente em agroindústrias, cooperativas e unidades de produção agropecuárias.
Curso Superior de Tecnologia em Comércio Exterior 50 vagas semestrais. Carga horária total: 1.850h. Carga mínima:1.640h. Módulo Básico: Estatística, Ética e Responsabilidade Social, Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável, Economia e Mercados, Geopolítica e Economia do Mundo Contemporâneo, Contabilidade, Práticas de Leitura e Produção Textual e Metodologia Científica, Direito da Navegação. Módulo Administração: Estratégias Empresariais, Matemática Financeira, Técnicas de Negociação, Administração Financeira, Análise de Custos, Formação de Preços, Comércio Exterior, Economia Brasileira. Mercado de trabalho: Há perspectivas de inserção do profissional tanto no setor público quanto no privado. Há opções de carreira em indústrias, agroindústrias, empresas de importação e exportação, cooperativas, bancos, multinacionais, empresas de transporte, empresas aduaneiras e de câmbio, empresas de consultoria, assessoramento industrial, empresas prestadoras de serviços, e editoras especializadas, entre outras. Animal Business-Brasil_51
Inovação e os desafios do mercado Por:
Sérgio Lobato, MV, Consultor
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A velocidade com que o mundo se transforma é um clichê que se tornou ultrapassado
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no momento em que você terminou de ler esta frase sobre esse clichê. Fato!
E
é sobre a pressão da velocidade e seus resultados que geram a transformação em nosso mercado veterinário que pretendo conversar em nosso artigo com cada um de vocês. Por muito tempo nossa Medicina Veterinária e nosso Mercado de Produtos e Serviços para Animais de Estimação estiveram repetindo comportamentos padronizados que achávamos que eram os corretos e, ainda por cima, aqueles que nos manteriam no estável e seguro rumo do crescimento econômico sustentável na economia de varejo.
Crescimento Afinal a cada ano os dados mundiais mostravam um crescimento inigualável de nosso segmento, e o mercado crescendo só nos remetia ao pensamento: “Estamos fazendo a coisa certa, para que mudar?” Mas como um tsunami comportamental, o consumidor de nossos produtos e serviços começa a se transformar e exigir mais e mais de um mercado antes acostumado a ser meramente reativo, uma figura pouco inovadora, que replicava constantemente o que se considerava o correto e o costumeiro nas relações comerciais, promocionais e gerenciais em sua rotina.
portamento, e se esse aceite for feito através de um comportamento de consumo que o torne, o simbolize, o classifique como integrante do grupo ao qual ele almeja fazer parte, consumirá marcas e produtos que usem e abusem desse conceito. Mas como então estar atento à essa transformação toda? Inovando!
O que é inovar Inovar é buscar desenvolver um novo olhar para hábitos, estratégias, posturas e ações que você costuma realizar da forma tradicional. É encontrar um caminho para atender demandas novas com a criação de momentos de percepção diferenciada. É chamar a atenção. É de certa forma sair do lugar comum, baseando-se em dados e análises do seu mercado consumidor e não apenas motivado pelo desejo de mudar sem rumo, ok?
Como, por que e em que condições eu inovo O que te leva a inovar, a olhar de outra forma?
Pressão
• Externa - Economia, Concorrência • Interna - Clientes, Processos Operacionais
Reação
• Propostas “Apaga-Incêndio” • Imediatismo
Transformação De repente o mercado se vê em meio a uma mudança de transformação das relações Homem-Animal, do surgimento dos desejos por consumos diferenciados, produtos de nicho, sensações de compra onde na escala de valores surgem novos pontos decisórios e não só a necessidade básica. Por exemplo, o cliente não quer mais apenas comprar ração, quer oferecer a melhor nutrição ao seu animal de estimação. Ele não quer apenas comprar uma coleira e uma guia, mas precisa ser a que apareceu na revista e no programa de TV da moda para que ele possa se sentir parte de um grupo, afinal o homem é um ser social e fazer parte de um grupo é uma necessidade diária, implícita em nosso com-
Visão
• Melhor condição • Melhor posicionamento
Fica claro então que a postura, o posicionamento mais estratégico e mais produtivo é quando inovamos por visão. É desenvolver em nosso DNA empresarial esse gene da visão empresarial, focada em antecipar desejos e necessidades de nossos Animal Business-Brasil_53
clientes. Lembram de 3 décadas atrás? Existiam aparelhos de telefonia móvel? Mas alguém teve a visão e saiu na frente para fornecer o que hoje se tornou um item de primeira necessidade. Proposta: Inovação como Base da Estratégia.
$$$ Estratégia
Porque sendo a inovação a base de toda estratégia vencedora competitiva, a tão sonhada sustentabilidade de nossos negócios veterinários surge em base sólida. Pois ao inovar: • Atendemos às demandas de nossos clientes; • Criamos um diferencial de valor agregado; • Chamamos atenção de novos possíveis consumidores interessados em entender nossa proposta de inovação; • Criamos um cenário de decisões rápidas e focadas em surpreender nossos clientes; • Geramos um comportamento distante do comodismo em gestão das décadas passadas; • Criamos novas interações no mercado.
Inovar é fácil? Gostaria muito de dizer que basta querer inovar, mas devemos, além do tradicional conselho do estudo de mercado e suas tendências, lembrar a cada um de vocês que um dos maiores obstáculos que temos à inovação no mercado veterinário é nossa complexa estrutura fiscalizatória que parou no tempo e no espaço, tornando a vida de nossos empreendedores um conjunto de trabalhos quase hercúleos. 54_Animal Business-Brasil
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Inovação
Tributação excessiva, legislação mal redigida por legisladores que sequer conhecem o mercado veterinário, em especial o mercado pet, um governo sedento por impostos abusivos em toda a cadeia produtiva, e amarras legais que impedem a criação de novos formatos veterinários e pet que realmente sejam inovadores, pois a criatividade, a demanda por novos serviços, formatos e propostas se chocam com ferramentas jurídicas de várias esferas fiscalizatórias que bloqueiam a inovação. Um país que se pretenda capaz de gerar renda, postos de trabalho e promover a mola mestra da sua economia que são seus empresários, precisa estimular, proteger e disseminar o conceito de inovação empresarial dentro de todas as suas esferas e assim criar um cenário onde a pirâmide acima seja uma realidade para todos os integrantes da cadeia produtiva do mercado pet.
Um conselho Não espere que o cenário se torne mais brando. Inove assim mesmo. Inove sem medo. Afinal, inovação é a ausência do medo que paralisa. Pense nisso!
O agronegócio é o segmento que tem mais carimbos no passaporte, porém podemos fazer muito melhor. Mesmo diante dos bons resultados, a constatação que prevalece é a de que “não vendemos, somos comprados”. ANTONIO ALVARENGA Presidente da SNA
surgiriam em todo o espectro da pesquisa, desenvolvimento e acesso, de forma que o conhecimento e práticas de um campo poderiam acelerar o progresso do outro. EDINO CAMOLEZE Coronel-Veterinário, RR-1 •••
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Com a divulgação da série de filmes sobre o AGRO, a TV Globo está prestando um magnífico serviço aos brasileiros, mostrando que praticamente tudo o que é consumido ou usado nas cidades vem do campo, numa dependência quase total. Além disso, as atividades desenvolvidas nas zonas rurais são grandes empregadoras de pessoal e colaboram significativamente para o nosso PIB. Editoria •••
O consumo das carnes bovina, suína e de aves, principais fontes de proteína animal para a população brasileira, atingirá o montante de 83 kg/pessoa no ano de 2024, impulsionado principalmente pela carne de aves. CECÍLIA DE FÁTIMA SOUZA Professora da Universidade Federal de Viçosa •••
Se a barreira artificial que separa os campos da saúde humana e saúde animal pudesse ser superada, muitas oportunidades
A legislação brasileira, no que tange a alimentos de origem animal, determina que é obrigatória a sua prévia inspeção higiênica, sanitária e tecnológica antes de serem ofertados ao consumidor. CARLOS ALBERTO MAGIOLI Membro-Titular da Academia Brasileira de Medicina Veterinária •••
A FAGRAM, instituição de ensino superior da SNA-Sociedade Nacional de Agricultura, está voltando modernizada e com força total no seu campus localizado em área de preservação ambiental com 150 mil metros quadrados, em frente à Avenida Brasil, na Penha (Rio). São os seguintes os cursos oferecidos, todos levando em conta as necessidades do mercado de trabalho: Bacharelado em Zootecnia; Curso Superior de Tecnologia em Gestão do Agronegócio e Curso Superior de Tecnologia em Comércio Exterior. Informações: www.sna.agr.br, www.fagram. edu.br , Tel.(21) 3977-9979 Editoria
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animais silvestres
O Tamanduá-Bandeira MSc. Marcio Barizon Cepeda - Doutorando em Ciências Veterinárias - UFRRJ, MSc. Aline Braga Moreno - Mestre em Ciências Veterinárias UFRRJ e Prof. DSc. Sávio Freire Bruno, Universidade Federal Fluminense. Fotos: DSc. Sávio Freire Bruno Por:
O tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) é também conhecido popularmente por outros nomes como tamanduá-açú e papaformigas. É considerada a maior dentre as três espécies de tamanduás encontradas no Brasil, como o tamanduá-mirim (Tamandua tetradactyla) e o tamanduaí (Cyclopes didactylus). Assim como o tamanduá-mirim, pertence à Ordem Pilosa e Família Myrmecophagidae.
O
tamanduá-bandeira possui características físicas típicas da espécie, como a coloração da pelagem, composta por uma faixa diagonal preta de bordas brancas, e a cauda comprida com longos e compridos pelos, que nos faz lembrar uma bandeira, explicando assim a origem do seu nome popular. Tem ainda musculosos membros anteriores terminando em garras e um longo e cilíndrico focinho. O comprimento total médio da espécie é de 1,20 m no macho e de 1,00 m a 1,02 m nas fêmeas, sem levar em conta a cauda que pode chegar até 90 cm. Nos campos cerrados sua cauda favorece a camuflagem e quando o tamanduá-bandeira descansa, costuma dobrá-la sobre seu próprio corpo, lhe servindo de proteção, inclusive térmica. Seu peso corporal pode ultrapassar de 40 Kg nos machos e estes possuem a cabeça mais robusta e larga.
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Distribuição geográfica Sua distribuição geográfica é ampla, da América Central ao norte da Argentina, sendo encontrado, portanto, no Brasil e em outros países da América do Sul, como Colômbia, Equador, Venezuela, Panamá, Guianas, Bolívia, Paraguai
e Argentina. Na América Central é descrita em países como Honduras e El Salvador. No Brasil, o tamanduá-bandeira ocupa todos os biomas, distribuindo-se pelos Estados da Região Norte e Centro-Oeste e ainda em alguns da Região Nordeste, como Maranhão, Piauí, Ceará e Bahia, da Região Sudeste, como Minas Gerais e São Paulo e da Região Sul, como o Paraná. O Cerrado é certamente o bioma que abriga a maior parte das populações desta espécie. Tanto as populações encontradas neste bioma, quanto àquelas encontradas na Mata Atlântica, vêm sofrendo continuamente os efeitos da fragmentação. Embora a espécie possa viver em uma ampla variedade de hábitats, desde campos limpos e cultivados até florestas, o desmatamento pode levar à redução das populações de tamanduás-
-bandeira, devido, principalmente, à redução dos hábitats disponíveis em decorrência do avanço da agricultura e obras de infraestrutura.
Áreas protegidas Dentre seus maiores redutos, destacam-se o Parque Nacional da Serra da Canastra (MG) e o Parque Nacional das Emas (GO). Há registros da ocorrência deste animal em outras áreas brasileiras protegidas, como a Área de Proteção Ambiental da Escarpa Devoniana, localizada nos municípios de Castro, Piraí do Sul, Jaguariaíva e Sangés, e no Parque Estadual do Cerrado, em Jaguariaíva. Ocorre também na RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural) em Monte Alegre. O Parque Nacional da Ilha Grande conta com indivíduos da espécie na região noroeste do Estado.
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animais silvestres Habitam os campos, principalmente do Cerrado, e áreas extensas, podendo adentrar também em áreas florestais de baixa densidade. São considerados exímios nadadores, sendo capazes de atravessar rios de razoáveis dimensões. De acordo com dados de pesquisadores, o tamanduá-bandeira é considerado o mamífero mais ameaçado da América Central, encontrando-se já extinto em Belize, Guatemala e provavelmente na Costa Rica. Na América do Sul, encontra-se extinto no Uruguai.
Vulnerável Diante desta realidade, a espécie é listada na categoria de Vulnerável, no Livro Vermelho de Fauna Ameaçada do Ministério do Meio Ambiente, e a mesma categoria é citada na avaliação da IUCN (International Union for Conservation of Nature).
Dieta Sua dieta é baseada principalmente em formigas e cupins, o que explica parte do seu nome científico, já que o termo “myrmecophaga” signi-
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fica “comedor de formigas”. Possui uma língua muito comprida, capaz de atingir até 60 cm fora da boca, adaptada para penetrar o estreito caminho até o fundo do formigueiro, onde o animal usa a saliva aderente para capturar os insetos. Observações sobre seu comportamento alimentar mostram que o animal permanece por aproximadamente um minuto em cada formigueiro ou cupinzeiro, uma vez que as picadas defensivas das formigas forçam o animal a procurar um novo formigueiro. Usam com frequência a pata dianteira para “varrer” os insetos de sua face. Durante a alimentação, são capazes de ingerir até 30 mil formigas em um único dia. Como sua dieta é considerada pobre em nutrientes, dormem bastante para economizar energia e bebem água com frequência, chegando até em casos de necessidade, cavarem buracos no solo em busca de hidratação.
Solitários São animais solitários, de hábito diurno ou noturno, dependendo da região, da variação da
temperatura e do período de chuvas. Territorialistas, podem passar o dia inteiro a caminhar em busca de alimentos e abrigo e apresentam frequente atividade no cair da tarde.
Maturidade Alcançam sua maturidade sexual entre dois e meio a quatro anos de vida. A época reprodutiva ocorre no período da primavera e a gestação dura em média seis meses, nascendo um único filhote. Após o nascimento, o filhote permanece agarrado aos pelos do dorso da mãe, que o carrega cuidadosamente até completar um ano de vida. Sua vasta pelagem desenvolvida é um atrativo para espécies de ectoparasitas, como os carrapatos, principalmente aqueles do gênero Amblyomma. As espécies de carrapato que podem parasitar o tamanduá-bandeira variam de acordo com a região geográfica, sendo a região do Pantanal mato-grossense um dos principais locais de infestação. São ainda comumente parasitados por helmintos gastrointestinais, como nematóides e cestóides. O tamanduá-bandeira também é bastante susceptível às infecções bacterianas, como, por exemplo, a salmonelose, causada por bactérias do gênero Salmonella.
Ameaças Dentre as ameaças a espécie, podemos citar o avanço da agropecuária, incêndios, desmatamentos, o crescimento da malha rodoviária e a degradação de seu hábitat natural. Existem ainda outras ameaças, que de forma secundária podem afetar a espécie, como a caça e perseguições, os atropelamentos rodoviários e as intoxicações relacionadas ao uso de inseticidas na agricultura, além de doenças de ordem infecciosas e reprodutivas. A degradação do hábitat natural é a principal causa da redução das populações do tamanduá-bandeira, tendo em vista que esta espécie necessita de ambientes arbóreos, a exemplo, as matas ciliares ou capões de mata do Cerrado, para se abrigar do calor ou frio excessivos. Medidas de conservação da espécie são essenciais para sua preservação e podem envolver diversas frentes. A realização de estudos sobre sua biologia, incluindo a biogeografia, contribuem para aumentar o conhecimento e auxiliam
no planejamento das ações adequadas à sua conservação, tanto in situ (no seu hábitat natural) quanto ex situ (fora de seu lugar de origem). A manutenção das áreas onde o animal habita, com o devido controle da atividade humana, são passos fundamentais para a preservação do tamanduá-bandeira. A realização de atividades de educação ambiental podem auxiliar na sensibilização, ao abordar as principais ameaças e a importância da sobrevivência da espécie no ambiente onde vive. O reconhecimento da necessidade da proteção do tamanduá-bandeira, assim como a implantação dos planos de conservação, asseguram um futuro mais otimista em relação à sua preservação e trazem benefícios a esta espécie e outras que compartilham o mesmo hábitat. Animal Business-Brasil_59
Por: Paula Schiavo
TUBERCULOSE — Sinonímia Tísica; peste cinzenta; doença do peito e mal-de-secar. Etiologia Bacilos gram-positivos álcool-ácido-resistentes do gênero Mycobacterium. O principal agente etiológico envolvido na tuberculose em primatas sempre foi o M. tuberculosis (bacilo de Koch), porém com o advento das imunodeficiências e as novas organizações sociais, a importância da tuberculose causada por M. bovis e M. avium vêm aumentando. M. africanum é um agente importante na África tropical. São resistentes a vários desinfetantes, à dessecação e outros fatores ambientais adversos devido ao alto conteúdo lipídico de suas paredes celulares.
Distribuição geográfica Não há nenhum país livre. A tuberculose atingiu 10,4 milhões de pessoas em todo o mundo e foi, em 2015, uma das dez principais causas de morte, quando dizimou 1,8 milhão de pessoas, matando mais do que as infecções pelo HIV e a malária. Desses 10,4 milhões de casos novos, no entanto, apenas 6,1 milhões foram corretamente identificados. Índia, Indonésia, China, Nigéria, Paquistão e África do Sul concentram 60% dos casos mundiais da doença. A tuberculose multi-droga-resistente (MDR-TB) fez 480 mil novos casos em 2015, com Índia, China e Rússia concentrando metade desses casos. O Brasil é um dos 20 países de maior incidência, com 81 mil casos notificados em 2015. A notificação é obrigatória tanto aos serviços de saúde quanto ao MAPA. M. bovis está presente em bovinos e bubalinos de todo o território, atingindo mais as explorações leiteiras.
Ocorrência no homem Um terço da população mundial tem o M. tuberculosis em sua forma latente, e 10% destes correm 60_Animal Business-Brasil
o risco de desenvolver a doença ativa, mas as infecções pelo HIV, a desnutrição, o diabetes e o fumo incrementam este risco. A prevalência de tuberculose humana de origem animal diminuiu historicamente com a implementação da pasteurização do leite e as campanhas de controle e erradicação animais, onde ocorreu. No entanto, como o aumento dos casos humanos de tuberculose por M. bovis ocorre mesmo nos países e populações que erradicaram as infecções bovinas, considera-se a transmissão de M. bovis entre humanos. M. bovis foi envolvido principalmente em casos pulmonares e em adenite tuberculosa em crianças, mas também destacam-se manifestações genitourinárias.
Ocorrência nos animais Em grande parte dos países é uma das doenças mais importantes em bovinos e bubalinos e em animais domésticos e silvestres. Países desenvolvidos conseguiram erradicar a tuberculose bovina e outros avançaram em seus programas de controle, mas regiões produtoras de leite próximas a grandes cidades têm especial dificuldade, principalmente quando associados à alimentação de suínos com resíduo lácteo não-pasteurizado. Humanos podem transmitir M. tuberculosis para primatas, cães, gatos e psitacídeos, e sofrer a reinfecção.
A doença no homem Tosse, febre e suores noturnos e perda de peso podem ser moderados por muitos meses, retardando a procura por diagnóstico e infectando mais 10-15 outras pessoas por ano. A tuberculose pulmonar ativa provoca tosse com expectoração e hemoptise, dor no peito e fraqueza, além dos sintomas gerais. A tuberculose miliar pode atingir outros órgãos, podendo ocorrer inclusive neurotuberculose.
A infecção é geralmente subclínica, e os sinais clínicos, quando presentes, não são característicos, podendo incluir fraqueza, anorexia, emaciação, dispneia, linfadenomegalia e tosse. Achados frequentes em matadouros, granulomas característicos são mais comumente encontrados nos pulmões e nos linfonodos retrofaríngeos, bronquiais e mediastínicos, podendo ocorrer também nos linfonodos mesentéricos, fígado, baço, membranas serosas e outros órgãos.
Fonte de infecção e modo de transmissão A exposição aerógena ao M. bovis é considerada a via de infecção mais frequente
em bovinos e bubalinos, mas a infecção pela ingestão de material contaminado também é importante. Humanos contraem a infecção primariamente por ingestão, embora a infecção por inalação possa ocorrer. Um humano com a forma respiratória ou urogenital da tuberculose pode retransmitir a doença para o gado, tornandose epidemiologicamente importante nas fases finais da erradicação da doença animal. Suínos, caprinos e ovinos contraem a doença de bovinos, aves e ocasionalmente, do homem. Entre humanos, a via de transmissão mais importante do M. tuberculosis é a aerógena.
Papel dos animais na epidemiologia Geralmente a infecção por M. bovis depende de uma fonte animal, não sendo comum a infecBubalinos e bovinos são comumente contaminados pelo ar. Gabriel Jabur / Agência Brasília
A doença nos animais
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Herney Gómez / Pixabay
O diagnóstico da tuberculose nos bovinos (e nos búfalos) é feito de forma individual.
ção de uma pessoa para outra. Neste caso, a pasteurização do leite e inspeção do abate assumem crucial importância.
Diagnóstico O diagnóstico de tuberculose em bovinos e bubalinos é feito de forma individual e indireta por veterinários capacitados, utilizando testes alérgicos de tuberculinização intradérmica. Em humanos, a microscopia do escarro falha em detectar metade dos casos e tem sido substituída pelos testes rápidos (Xpert MTB/RIF®) desde 2010, e em duas horas detecta, além da infecção, a resistência à rifampicina, um dos antibióticos de primeira linha. A tradicional cultura micobacteriana é difícil e exige medidas de proteção para o laboratorista, mas permanece como golden standard e permite estudos complementares.
Controle As medidas de prevenção visam baixar a prevalência, e seu sucesso têm ficado abaixo do esperado tanto nas populações humanas quanto nas populações animais. Em humanos, a vacinação sistemática de recém-nascidos com o bacilo Calmette-Guérin baixa em torno 20% a probabilidade de crianças serem infectadas, e em 50 a 80% a probabilidade de desenvolverem a doença, caso infectadas. Na prevenção da infecção humana por M. bovis, a pasteurização do leite é importante, mas o controle da erradicação da tuberculose bovina é a única abordagem efetiva. O 62_Animal Business-Brasil
controle nas populações animais é baseado em identificação extensiva e repetida, com eliminação de animais positivos; o tratamento é caro e demorado, e como, mesmo em humanos, precisa ser corretamente assistido devido às falhas das drogas ou da adesão e condução correta, tem sido associado ao aparecimento de cepas resistentes. O sucesso na erradicação da tuberculose bovina nos países desenvolvidos foi associado a alguma compensação financeira para o produtor, por programas de incentivo direto ou por maior margem de lucro de seus produtos no mercado, quando produtos de rebanhos livres alcançam maior valor e maior produtividade. As estratégias devem começar em rebanhos de baixa prevalência e depois estendidos. A cooperação com os serviços de saúde para prevenir pessoas com tuberculose de trabalharem com os animais é importante, bem como a educação sanitária. No Brasil, a primeira regulamentação de um programa de controle e erradicação data de 1976, com revisão e edição em 2000, baseando-se em adesão voluntária e certificação de rebanhos livres, estimando-se dez anos para baixar a prevalência da doença em 1%. O Programa de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose foi reeditado em 03 de novembro de 2016, através da Instrução Normativa SDA n.19, com ênfase na capacitação e habilitação dos médicos-veterinários que assistem aos rebanhos, a padronização das ações e dos métodos diagnósticos, o monitoramento dos rebanhos e a inspeção do abate.
Por: Adeildo
Lopes Cavalcante
Divulgação
A iniciativa é do engenheiro agrônomo Hugo Marcos Alves Fernandes e de seu irmão José Alves Fernandes que criam suínos na granja Irapuã, em São José de Ubá, município do estado do Rio de Janeiro. Na granja, eles construíram um biodigestor, o qual, a partir dos dejetos dos animais, gera energia elétrica para a propriedade, onde são criados cerca de 800 suínos das raças Large White e Landrace dentro de um projeto cuja implantação contou com apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro. Segundo os criadores, antes da implantação do projeto, a granja consumia, em média, 1.600 kW por mês. E para mostrar a viabilidade do projeto explicam: “essa quantidade de kW resultava em uma despesa mensal de R$ 540; isso é mais do que o suficiente para alimentar toda a granja, que bombeia diariamente 20 mil litros de água para os suínos e fabrica cerca de 30 toneladas de ração por mês”.
Divulgação
Suínos: criadores usam dejetos dos animais para gerar energia elétrica para a granja
Pesquisa: carne de ema é fonte alternativa de proteína animal e pode ter aceitação comercial Por meio de estudo da composição físico-química e de análise sensorial da carne de ema, a aluna de mestrado Letícia Cristina Costa e Silva, da Universidade Paulista, em São José do Rio Preto (SP), identificou o alimento como uma fonte alternativa satisfatória de proteína de origem animal. A análise da composição da carne revelou que a gordura dos músculos da ema tem maior valor biológico do que a do frango, por apresentar quantidades consideráveis de ômega três e seis, ácidos graxos, indispensáveis para a boa condição da pele e do coração. Em outra parte do estudo, foram produzidos, em laboratório, salsicha e hambúrguer com a carne de ema e a qualidade dos produtos foi avaliada por provadores, ficando comprovado que, com ajustes na formulação e com uma divulgação adequada, a carne da ave pode ter uma aceitação suficiente para comercialização.
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O mercado de enfardadeiras (máquinas de preparar feno), alimento produzido com capim para animais (principalmente bovinos) passou a contar com novos modelos, entre eles os desenvolvidos pela Massey Ferguson, fabricante tradicional de máquinas para a agropecuária. Um dos modelos lançado no mercado pela empresa é o MF 1837 de fardos retangulares (foto). O equipamento se destaca pela alta produtividade e maior economia de combustível e possibilita o preparo de fardos homogêneos e compactos, facilitando a acomodação para transporte. Além disso, é de fácil operação e de baixo custo de manutenção.
Inédito: UNESP e Instituto Vital Brazil desenvolvem soro contra abelhas venenosas
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Denominado soro antiapílico, primeiro tratamento específico contra o veneno de abelhas africanizadas (as mais comuns no Brasil), o produto é uma conquista de pesquisadores do Centro de Estudos de Venenos e Animais Peçonhentos (CEVAP) da Universidade Paulista, em Botucatu (SP) em parceria com o Instituto Vital Brazil, com sede em Niterói, no Rio de Janeiro. “Foram cerca de doze anos de pesquisa básica, realizando testes em animais ou in vitro, para estudarmos o produto e concluirmos que pode ser testado em humanos”, diz o professor Rui Seabra Ferreira Jr., coordenador executivo do CEVAP. O soro é produzido em cavalos de maneira semelhante ao soro antiofídico, usado contra veneno de serpentes. O veneno da abelha é injetado nos cavalos e, após a produção de anticorpos específicos pelo animal, amostras do sangue são recolhidas para a obtenção do plasma que será purificado e processado até chegar ao produto final.
Pedro Porto, criador de gado há mais de 30 anos no Sul do Brasil, mudou de atividade e resolveu instalar uma criação de ovinos em Vassouras, no estado do Rio de Janeiro. Junto com seu filho, Henrique Mirabeau, ele vem desenvolvendo e produzindo, na Cabanha Mirabeau, de sua propriedade, iogurte e doce com leite de ovelhas, entre outros produtos. O iogurte, o doce de leite e os demais produtos, de acordo com Porto, “são artesanais e 100% naturais, fabricados sem utilização de conservantes e corantes”. Para desenvolver seu projeto, que reúne 130 ovinos da raça francesa Laucane, ele conta com apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro e assessoramento de especialistas em engenharia de alimentos da Universidade Federal Fluminense.
Fotos: Divulgação
Massey Ferguson
Massey Ferguson desenvolve enfardadeira de alta produtividade e baixo custo de manutenção
Criador desenvolve e produz iogurte e doce com leite de ovelhas
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Pedro e Henrique e embalagens de iogurte e doce de leite
Novidade: vacina impede que cães com leishmaniose visceral canina sejam sacrificados Desenvolvida no Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais, a vacina pode preservar a vida de cães, uma vez que os torna incapazes de transmitir o protozoário causador da doença (Leishmania donovani chagasi), transmitido pelo mosquito Lutzomyia longipalpis que está contaminado com o protozoário. A vacina contém, em sua composição, proteína do próprio inseto que transmite o protozoário, para interferir no seu ciclo biológico. “A formulação causa desequilíbrio no inseto, evitando que ele leve a outros hospedeiros (entre eles seres humanos), o parasito causador da doença, explica o veterinário Rodolfo Cordeiro
O extrato natural de orégano é um eficiente antioxidante que pode ser utilizado em produtos desenvolvidos com carne de ovelha, tornando-os mais saudáveis. Essa foi a conclusão a que chegou a médica veterinária Rafaella de Paula Paseto Fernandes em sua tese de doutorado defendida na Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da Universidade de São Paulo (campus de Pirassununga). Em seu estudo, Rafaella elaborou produtos com carne de ovelha, como hambúrguer (foto), nos quais o extrato foi usado, substituindo os aditivos químicos BHT – butil-hidroxi-tolueno e eritorbato de sódio. “Esses aditivos são usados em produtos cárneos e na indústria alimentícia como conservantes e antioxidantes, mas o extrato de orégano conseguiu efeitos equivalentes”, afirma a pesquisadora. Com o estudo, Rafaella obteve, na FZEA, o título de Doutor em Ciências da Engenharia de Alimentos.
Foca Lisboa
Divulgação
Extrato de orégano tem ação antioxidante (mais saudável) em produtos feitos com carne de ovelha
Giunchetti (foto), coordenador da pesquisa que levou ao medicamento. Atualmente, não há tratamento reconhecido no país para cães portadores de leishmaniose e um dos procedimentos adotados pelo Ministério da Saúde para evitar a transmissão da doença é que os animais afetados sejam sacrificados. Animal Business-Brasil_65
Raul Moreira
A Carne é Forte Antonio Alvarenga (*)
A
“Operação Carne Fraca” da Polícia Federal colocou o setor de proteína animal brasileiro no epicentro de uma crise mundial de credibilidade e confiança. Passado o ápice dos acontecimentos, ficou claro que a PF errou na dose, ao divulgar a operação como a “maior já realizada no país”. Isso porque as investigações se referiam a fraudes pontuais – que devem, obviamente, ser apuradas com rigor e seus envolvidos punidos severamente. No entanto, infelizmente, passou-se a impressão que se tratava de um ‘modus operandi’ generalizado da agroindústria brasileira de carnes. Os exageros foram posteriormente reconhecidos, mas o estrago já estava feito, tanto entre os consumidores brasileiros quanto nos mercados internacionais. A notícia se espalhou como um rastilho de pólvora e os embargos ao produto brasileiro não demoraram a acontecer. A verdade é que o Sistema de Inspeção Federal (SIF) é amplo, eficiente, rigoroso, confiável do ponto de vista tecnológico e reconhecido internacionalmente por garantir produtos seguros, saudáveis e de qualidade. Se não fosse assim, o Brasil não seria um dos mais importantes players do mercado global de carnes, liderando os embarques de frango e atuando como um dos principais protagonistas em suínos e bovinos. A carne brasileira, de alta qualidade, é exportada para mais de 150 países, alcançando vendas de US$ 14 bilhões, ou seja, 7 % do valor total das exportações do país em 2016. Entretanto, os mais robustos sistemas de vigilância não estão imunes e/ou blindados contra os desvios de conduta humana, e esta é a questão central de todo este imbróglio. A ação da PF identificou um esquema que envolvia o aliciamento de agentes públicos em troca de favores, para um número limitado de indústrias, com a interferência de determinados políticos. Nesses casos pontuais, a cadeia produtiva das carnes foi um veículo utilizado para viabilizar uma rede de corrupção.
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Os problemas, detectados nos frigoríficos, prejudicam principalmente os produtores, que representam o elo mais frágil de uma cadeia onde há concentração excessiva no segmento industrial. O fato é que a reabertura e a plena normalização de alguns mercados – conquistados após décadas de trabalho - não será fácil, pode demorar e deixar sequelas. A atuação do ministro Blairo Maggi foi rápida e eficiente. A resposta das principais entidades do setor também foi determinante para um melhor entendimento do problema. Toda crise exige esclarecimentos em tempo real. Na medida do possível, as informações disponibilizadas pelo ministro e especialistas conseguiram demonstrar a realidade dos fatos e reverter, pelo menos em parte, o prejuízo sofrido. No entanto, as sequelas serão inevitáveis. As cadeias produtivas do agronegócio precisam tirar lições do episódio. A comunicação e o marketing do setor com a população urbana é fator-chave de sobrevivência, reputação e resultado financeiro. É preciso investir cada vez mais na divulgação da origem da matéria-prima e na qualidade da segurança sanitária, dos processos e dos alimentos produzidos. Ser transparente com a sociedade é uma estratégia crucial de construção positiva de marca. É preciso estabelecer uma aliança do interesse de todos e conquistar a opinião pública. Isso se faz cotidianamente, para que seus argumentos sejam respeitados e melhor considerados nos momentos de crise, como o de agora. Este é mais um desafio para o agronegócio brasileiro. (*) Antonio Alvarenga é presidente da Sociedade Nacional de Agricultura
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