Ano 03 - Número 09 - 2013 - R$ 12,00 www.animalbusinessbrasil.agr.br
Murilo Benício cria gado de raça no Rio de Janeiro
Verdades e Mentiras sobre os alimentos transgênicos
O BRASIL ESTÁ UNIDO CONTRA A FEBRE AFTOSA. VACINE SEU GADO E CONVOQUE SEU VIZINHO.
Desde 2006, o Brasil não registra nenhum caso de Febre Aftosa. Isto é fruto de um esforço coletivo, com Governo e produtores empenhados em proteger o rebanho do país. Mas, para que a Febre Aftosa não volte a ameaçar, é preciso que todos estejam sempre alertas. Confira e acompanhe o calendário de vacinação do seu estado e faça a sua parte. País forte é país que produz pensando no futuro.
ATENÇÃO! NÃO ESQUEÇA DE DECLARAR A VACINAÇÃO AO SERVIÇO VETERINÁRIO OFICIAL DO SEU ESTADO E INFORMAR, EM CASO DE SUSPEITA DA DOENÇA.
PARA SABER MAIS, ACESSE WWW.AGRICULTURA.GOV.BR OU LIGUE 0800 704 1995.
uma publicação da:
A
matéria de capa desta nona edição conta a história e os objetivos do ator Murilo Benício como criador de gado da raça Girolando, que nasceu do cruzamento das raças Gir, de alta rusticidade, com a raça Holandesa, tradicional produtora de leite. Tratamos, também, de um assunto bastante controvertido e que vem gerando insegurança nos consumidores. Os organismos geneticamente modificados apresentam algum tipo de risco para o consumidor, animal ou homem? Artigo do PhD pela Universidade de Purdue (USA), Alfredo Navarro de Andrade, esclarece, com dados científicos, essa questão. Ainda em relação à nutrição, publicamos matéria sobre os chamados “alimentos funcionais”, de autoria da veterinária Marion Pereira da Costa e do professor Carlos Adams Conte Jr, pesquisadores no campo da tecnologia de alimentos da Universidade Federal Fluminense (UFF). São alimentos ou bebidas que podem conferir benefícios fisiológicos específicos para a saúde do consumidor. Eduardo Biagi, presidente da ABCZ , em seu bem fundamentado artigo, defende a tese de que o fortalecimento da economia brasileira exigirá investimentos maiores para atender a demanda por carne e leite de qualidade. Os sistemas agropecuários produzem gases com influência no efeito estufa? Experimentos vêm sendo feitos nos seis biomas brasileiros com o objetivo de responder a essa pergunta com segurança científica. Veja na matéria da Embrapa.
A oftalmologia veterinária brasileira alcançou altos níveis, utilizando técnicas clínicas e cirúrgicas tão avançadas quanto as usadas nos melhores centros de oftalmologia humanos mundiais, como o leitor constatará na matéria “Tecnologia avançada em oftalmologia veterinária”. O peixe-boi da Amazônia teve importância econômica histórica. Seu couro já foi exportado para os Estados Unidos e Europa. A carne e a gordura têm larga aceitação principalmente nos estados da região Norte. Para evitar sua extinção, o INPA – Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia está realizando um importante trabalho. O mercado chinês para produtos brasileiros de origem animal já é grande e só tende a crescer, mas, como informa o CEBC – Centro Empresarial Brasil-China, presidido pelo embaixador Sérgio Amaral, a nossa indústria de alimentos precisa ter muita paciência para enfrentar a burocracia chinesa. A SNA – Sociedade Nacional de Agricultura tem uma propriedade densamente arborizada, de frente para a Avenida Brasil, na Penha (Rio), onde funciona, sob a forma de convênio, há 15 anos, uma unidade da Faculdade de Veterinária Castelo Branco. A SNA tem sido procurada para outras parcerias na sua ampla área de 150 mil metros quadrados. Agradecemos o apoio dos profissionais que vêm colaborando conosco e às entidades do ramo do agronegócio.
Luiz Octavio Pires Leal Editor Animal Business-Brasil_3
Diretoria executiva
Diretoria técnica
Antonio Mello Alvarenga neto presidente
Francisco José Vilela Santos
Almirante Ibsen de Gusmão Câmara 1º Vice-presidente
Hélio Meirelles Cardoso
Osaná Sócrates de Araújo Almeida 2º Vice-presidente
José Carlos Azevedo de Menezes Luiz Marcus Suplicy Hafers
Joel Naegele 3º Vice-presidente
Ronaldo de Albuquerque
Tito Bruno Bandeira Ryff 4º Vice-presidente
Sérgio Gomes Malta
Alberto Werneck de Figueiredo Antonio Freitas Claudio Caiado John Richard Lewis Thompson Fernando Pimentel Jaime Rotstein José Milton Dallari Katia Aguiar Marcio E. Sette Fortes de Almeida Maria Helena Furtado Mauro Rezende Lopes Paulo M. Protásio Roberto Ferreira S. Pinto
Rony Rodrigues Oliveira Ruy Barreto Filho
COMISSÃO FISCAL Claudine Bichara de Oliveira Maria Cecília Ladeira de Almeida Plácido Marchon Leão Roberto Paraíso Rocha Rui Otavio Andrade
Sociedade Nacional de Agricultura – Fundada em 16 de Janeiro de 1897 – Reconhecida de Utilidade Pública pela Lei nº 3.459 de 16/10/1918 End.: Av. General Justo, 171 – 7º andar – Tel.: (21) 3231-6350 – Fax (21) 2240-4189 – Caixa Postal 1245 – CEP 20021-130 – Rio de Janeiro – Brasil E-mail: sna@sna.agr.br – www.sna.agr.br Escola Wenceslão Bello / FAGRAM – Av. Brasil, 9727 – Penha – CEP: 21030-000 – Rio de Janeiro / RJ – Tel.: (21) 3977-9979
Academia Nacional de Agricultura
Fundador e Patrono:
Octavio Mello Alvarenga
Cadeira 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41
Diretor responsável Antonio Mello Alvarenga Neto diretoria@sna.agr.br Editor Luiz Octavio Pires Leal piresleal@globo.com Relações Internacionais Marcio Sette Fortes Consultores Alfredo Navarro de Andrade alfredonavarro@terra.com.br
Patrono Ennes de Souza Moura Brasil Campos da Paz Barão de Capanema Antonino Fialho Wencesláo Bello Sylvio Rangel Pacheco Leão Lauro Muller Miguel Calmon Lyra Castro Augusto Ramos Simões Lopes Eduardo Cotrim Pedro Osório Trajano de Medeiros Paulino Fernandes Fernando Costa Sérgio de Carvalho Gustavo Dutra José Augusto Trindade Ignácio Tosta José Saturnino Brito José Bonifácio Luiz de Queiroz Carlos Moreira Alberto Sampaio Epaminondas de Souza Alberto Torres Carlos Pereira de Sá Fortes Theodoro Peckolt Ricardo de Carvalho Barbosa Rodrigues Gonzaga de Campos Américo Braga Navarro de Andrade Mello Leitão Aristides Caire Vital Brasil Getúlio Vargas Edgard Teixeira Leite
Alexandre Moretti cdt@pesagro.rj.gov.br Fernando Roberto de Freitas Almeida freitasalmeida03@yahoo.com.br Secretaria Maria Helena Elguesabal adm.diretoria@sna.agr.br Valéria Manhães valeria@sna.agr.br Revisão Andréa Cardoso
Titular Roberto Ferreira da Silva Pinto Jaime Rotstein Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira Francelino Pereira Luiz Marcus Suplicy Hafers Ronaldo de Albuquerque Tito Bruno Bandeira Ryff Flávio Miragaia Perri Joel Naegele Marcus Vinícius Pratini de Moraes Roberto Paulo Cézar de Andrades Rubens Ricupero Pierre Landolt Antonio Ermírio de Moraes Israel Klabin Sylvia Wachsner Antonio Delfim Netto Roberto Paraíso Rocha João Carlos Faveret Porto Antonio Cabrera Mano Filho Jório Dauster Antonio Mello Alvarenga Neto Ibsen de Gusmão Câmara John Richard Lewis Thompson José Carlos Azevedo de Menezes Afonso Arinos de Mello Franco Roberto Rodrigues João Carlos de Souza Meirelles Fábio de Salles Meirelles Leopoldo Garcia Brandão Alysson Paolinelli Osaná Sócrates de Araújo Almeida Denise Frossard Erling S. Lorentzen
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Murilo Benício cria Gir Leiteiro, e é sócio do AgroCopa que está incentivando a produção de leite no RJ
O grande e crescente mercado chinês
Biotécnicas avançadas na reprodução de equídeos
Ciência & Tecnologia
Alta tecnologia brasileira na produção de ovos SPF para fabricar vacinas
Sociedade Nacional de Agricultura: novas parcerias em seu campus da Penha, no Rio
Boa qualidade é a marca da carne do futuro
Tecnologia avançada em oftalmologia veterinária
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Murilo Benício
cria Gir Leiteiro, e é sócio do AgroCopa que está incentivando a produção de leite no RJ Por:
Luiz Octavio Pires Leal - editor
O ator entrou para o agronegócio no setor da pecuária leiteira, com a seleção da raça Gir Leiteiro, incentivado por seu amigo e criador Felipe Picciani
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Gir Leiteiro é uma raça zebuína, proveniente da Índia, com aptidão para produção de leite, extremamente rústica, consequentemente superadaptada às condições climáticas e de topografia brasileiras. Nos últimos 10 anos vem se beneficiando de grandes investimentos, principalmente da classe empresarial, o que proporcionou uma evolução extraordinária da raça, tanto no que diz respeito ao fenótipo dos animais, quanto na alta produção de leite. As associações ligadas a esta raça, tais como a ABCZ (Associação Brasileira dos Criadores de Zebu) e a ABCGIL (Associação Brasileira dos Criadores de Gir Leiteiro), através de trabalhos voltados para a pesquisa de ponta, criou, entre outros programas, o PMGZ (Programa de Melhoramento Genético das Raças Zebuínas) o que seguramente contribuiu para a garantia do sucesso e crescimento da representatividade do Gir Leiteiro,como raça fundamental para o aumento da produção leiteira no nosso país. O cruzamento da raça Gir Leiteiro com a europeia Holandesa, tradicional produtora de leite, resultou na obtenção de uma nova raça, o Girolando. A adaptabilidade do Gir Leiteiro, própria das raças zebuínas, e hoje batendo recordes de produção de leite, unida à já conhecida alta produção de leite do gado Holandês, propiciou resultados relevantes para as grandes empresas processadoras de produtos lácteos e principalmente para os pequenos produtores de leite. Em especial no Estado do Rio de Janeiro, através de incentivos fiscais e programas de financiamentos do governo, estes sitiantes e pequenos produtores passaram a ter acesso a essa genética de ponta, não tendo mais motivos para trabalharem com animais sem boa procedência e sem a chancela dos criatórios mais importantes do país. Com investimentos substanciais de grandes empresas, como a Nestlé e a BRFoods, em usinas de processamento de leite, o estado do Rio de Janeiro vai caminhando no sentido de tornar-se um produtor importante. O ator e criador de Gir Leiteiro e Girolando, Murilo Benício,com sua empresa, Agropecuária Copacabana, mais conhecida como AgroCopa, vem participando desse movimento, juntamente com seus sócios André Monteiro, Anderson Blanco e Felipe Picciani, jovem criador, zootecnista, que também opera sete fazendas do Grupo Monte Verde em três estados do Brasil.
Murilo Benício, sócio da AgroCopa e ator
As fazendas do AgroCopa somam 650 hectares, desses, 200 hectares de reserva particular permanente de mata atlântica. Uma das principais preocupações da empresa é com a preservação do meio ambiente e interação sustentável com a atividade produtiva. Os 450 hectares restantes são utilizados na criação e seleção do Gir Leiteiro, com o uso intensivo de pastagens, piquetes rotacionados e adubados diariamente. Para a manutenção e manejo adequado do criatório, utiliza-se o que tem de mais moderno em tecnologia. São duas propriedades, uma filial no município de Tombos (MG),onde ficam as receptoras de embriões, local de nascimento do Girolando, e a matriz em Simão Pereira (MG), onde ficam as doadoras de embriões e maternidade do Gir Leiteiro, ambas na zona da mata mineira. Com trabalho de excelência em selecionar Gir Leiteiro, o AgroCopa conta com uma equipe de 18 funcionários, nutricionistas, zootecnistas, agrônomos e médicos veterinários especializados na reprodução assistida, baseada na técnica de fertilização in vitro(FIV).
Produção media/ano: 200 bezerras Gir Leiteiro 150 bezerras Girolando 50 bezerros Gir Leiteiro Animal Business-Brasil_7
Para Murilo Benício, “só se ganha dinheiro com lazer. Quando você trabalha com o que gosta ganha dinheiro naturalmente” O AgroCopa, também preocupado com as crianças especiais, apoia a AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente), com frequentes doações em todos os leilões que promove. Indagado se seu investimento na seleção do Gir Leiteiro e Girolando tem objetivo comercial ou é simples lazer, o intérprete de Tufão, afirmou que “só se ganha dinheiro com lazer. Quando você trabalha com o que gosta, ganha dinheiro naturalmente”. Ele visita a fazenda principal, em Simão Pereira, quase todos os fins de semana, local onde encontram-se as doadoras de embriões, animais de alto valor genético, consequentemente bastante valorizadas. Lá, verifica tudo pessoalmente, mas conta com a ajuda da sua 8_Animal Business-Brasil
equipe de funcionários e profissionais da área, de confiança. Benício afirma estar certo de que seu investimento no Gir Leiteiro e Girolando, iniciado em 2009, já com o AgroCopa, será também uma alternativa para quando se aposentar. O ator, do primeiro time do cast da TV Globo, decidiu atuar desde muito pequeno, influenciado pelos filmes do genial Charles Chaplin. Ele conta que é de uma família muito unida e tradicional de Niterói (RJ) e que tem três irmãos: Mário Sérgio, o mais velho, é artista plástico e morou a vida inteira no exterior; Marco Antônio é médico e vive em Florianópolis e o Marcelo é empresário em Niterói.
Murilo mantém também um sitio em Secretário, distrito de Petrópolis (RJ), que visita nos fins de semana que não está numa das fazendas do AgroCopa, mantendo seu lazer e vida rural, de que tanto gosta.
Criatividade Tendo como principal canal de vendas os leilões elite, Murilo e seus sócios organizaram no dia três de agosto do ano passado, um leilão da raça Gir Leiteiro em plena Baía da Guanabara a bordo do luxuoso iate Pink Fleet do empresário Eike Batista e que contou com a presença dos principais criadores da raça e de vários artistas “globais”. Os animais eram mostrados em telões espalhados pelo barco e o total das vendas chegou quase a R$ 2 milhões, entre embriões e animais já nascidos. O evento começou às nove da noite e o Murilo chegou na hora marcada, vindo de helicóptero diretamente do Projac. Sempre muito assediado pelos repórteres, fotógrafos e fãs, Murilo insiste em que não é galã e sim ator e que estava ali para tratar de gado e falar de negócios.
AgroCopa Este ano,no dia 8 de agosto próximo, o AgroCopa se unirá ao Grupo Monte Verde e à Agropecuária Alambari, para fazer o maior e mais tradicional leilão da raça Gir Leiteiro, o Leilão Gir das Américas, no Copacabana Palace, no Rio de Janeiro. O AgroCopa, empresa pertencente a um grupo de criadores do qual o Murilo Benício participa, tem sede no município mineiro de Simão Pereira e distante cerca de 50 quilômetros de Juiz de Fora (MG), sendo portanto, próxima ao sitio em Secretario, distrito de Petrópolis (RJ), do ator. E é justamente entre esses municípios que a Nestlé instalou sua nova unidade processadora de leite. “Nossa meta” – afirma Felipe Picciani – “é vender gado com alta capacidade de produção para os criadores da região, fornecedores de leite para a Nestlé que investiu mais de R$160 milhões na sua nova unidade, com capacidade para processar 1.000.000 de litros por dia”. Colaborou: Clóvis Ferreira Animal Business-Brasil_9
Fotos: Rodrigo Arruda
Faz Bom Jardim
BIOTÉCNICAS AVANÇADAS na reprodução de equídeos Por:
Rodrigo Arruda de Oliveira - M.V. Dr. em Reprodução Animal Ivo Pivato - Prof. Departamento de Reprodução Animal FAV/UnB – Brasília/DF
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uitos avanços são notados em todas as áreas da reprodução dos equídeos, desde a avaliação seminal até a clonagem, o que implica em uma produção mais tecnificada e com resultados superiores. Esses avanços podem ser aproveitados tanto em animais de excelente qualidade genética e de esporte, quanto para conservação de recursos genéticos e ampliação de plantéis nacionais com importância sócio-economica (raça Pantaneiro, Campeiro, Baixadeiro, Marajoara, Lavradeiro, etc).
utilizada na reprodução de equídeos no Brasil. Esse material pode ser enviado para diversos lugares do País, o que permite que égua e garanhão estejam, até mesmo, em estados diferentes.
Inseminação Artificial
O sêmen pode ser armazenado em recipientes específicos, disponíveis com vários nomes comerciais, em duas diferentes temperaturas, 15ºC e 5ºC, o que mantém a sua viabilidade, na maioria dos casos, em 24 e 48h, respectivamente. O ideal, antes da comercialização de doses, é que seja feito um teste de refrigeração para decidir em qual recipiente transportar e qual a vida útil do material.
A inseminação artificial com sêmen refrigerado e transportado é, sem dúvida, a biotécnica mais
A utilização do sêmen congelado vem crescendo bastante, devido à liberação do seu
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uso, por grande parte das associações de criadores e à incorporação de novos diluentes de congelamento e crioprotetores alternativos. Um exemplo disso é a redução do glicerol em combinação com as amidas nos meios comerciais de congelação. Esse crioprotetor em altas concentrações, como utilizado para a criopreservação do sêmen de bovinos, apresenta toxicidade superior, o que resulta em um congelamento de baixa qualidade. O sêmen pode ser congelado com animal ainda vivo, utilizando a vagina artificial para colheita. Em casos de animais impossibilitados de saltar no manequim, pode-se lançar mão da colheita farmacológica com a utilização de alguns medicamentos, com um índice de sucesso em torno de 40 a 50%. A última alternativa para se obter sêmen de um reprodutor é a colheita dos espermatozoides da cauda do epidídimo, que apresenta um excelente resultado. Para isso, o testículo deve ser retirado imediatamente após o óbito do animal, e transportado refrigerado (5ºC) ao laboratório, em um intervalo de, no máximo, 24 horas. Sabe-se que espermatozoides danificados, além de apresentarem padrões inadequados para fecundação do ovócito, geram substâncias que podem prejudicar os demais, entre esses elementos, temos os radicais livres. Alguns procedimentos de manipulação seminal podem ser utilizados em uma tentativa de selecionar os melhores espermatozoides, excluindo ao máximo os danificados, seja imediatamente pós-colheita ou após refrigeração/ criopreservação. Para tanto, podemos utilizar a centrifugação amortecida, a centrifugação em gradiente ou a filtração. A centrifugação amortecida pode ser aplicada ao sêmen de garanhões para maximizar a colheita de espermatozoides sem causar lesões. Um composto iodado não iônico, chamado iodixanol, é utilizado como gradiente de densidade ou como amortecedor na centrifugação do sêmen. Pesquisas envolvendo a centrifugação do sêmen equino com este produto mostraram rendimentos excelentes em número de espermatozoides e ausência de lesões causadas pelo processo de centrifugação. A centrifugação com solução de partículas de sílica silanizada mostrou-se promissora para a “seleção” de espermatozoides com boa motilidade, morfologia e qualidade da cromatina. O uso
desse material poderia resultar em maiores taxas de prenhez. Essa biotécnica não deve ser utilizada no sêmen de garanhões de qualidade normal, uma vez que uma porcentagem relativamente alta da população espermática pode ser perdida após a centrifugação. A retirada do plasma seminal é necessária para criopreservação e, em alguns casos, mostrou-se benéfica para refrigeração, principalmente para o sêmen de garanhões considerados de “baixa refrigeração”. A utilização da centrífuga para a retirada do plasma seminal pode interferir negativamente na motilidade, integridade de membrana plasmática e recuperação dos espermatozoides. Uma recente técnica que permite esse processo em substituição a centrifugação, é a utilização de um filtro específico feito de membrana hidrofílica sintética. Esse material faz a retenção e preservação da viabilidade espermática, permitindo somente a passagem do plasma seminal. Após a filtragem, os espermatozoides retidos são ressuspensos no diluente específico, de refrigeração ou congelamento, de acordo com a concentração desejada. Devido à menor viabilidade do sêmen equino criopreservado, é necessário um acompanhamento mais restrito do controle folicular. Deve-se inseminar o mais próximo possível da ovulação, em virtude da pequena viabilidade do ovócito. Para isso utilizamos hormônios indutores da ovulação, como Gonadotrofina Coriônica Humana (hCG) e análogos do hormônio liberador de gonadrofinas (GnRH), como a desorelina. Com o intuito de aumentar o número de produtos obtidos por dose inseminante, técnicas alternativas de inseminação, como a utilização de pipetas flexíveis para depositar os espermatozoides na extremidade do corno uterino, têm sido utilizadas. Essa técnica permite a deposição de uma dose inseminante menor e incrementa os índices de prenhez.
Transferência de embrião O Brasil responde por 41% dos embriões equinos transferidos no mundo, seguido da Argentina (31%). A transferência de embrião (TE), assim como qualquer outra biotécnica, apresenta aplicações e limitações. A principal limitação desta técnica diz respeito à eficiência do programa. Em função da dificuldade de se obter receptoras de Animal Business-Brasil_11
qualidade e da inconsistência dos protocolos de superovulação, os custos para a produção de um potro proveniente de TE são bastante elevados. Também existe uma maior dificuldade em se criopreservar embriões equinos, devido à menor viabilidade pós-descongelamento e aos índices de prenhez relativamente menores do que com embriões frescos. Pesquisas são direcionadas para a vitrificação do embrião, que consiste na exposição do embrião a concentrações maiores de crioprotetores e diminuição do tempo exposição, o que possibilita a não formação de cristais de gelo, resultando em viabilidade superior. A técnica mais utilizada é a refrigeração do embrião no meio de manutenção, para transportá-lo até o local da receptora, ou para aguardar a ovulação de uma receptora atrasada.
Ultrassonografia Apesar da ultrassonografia (US) não ser uma biotécnica recente na reprodução de equídeos, seja para controle folicular, patologias do trato reprodutor ou diagnóstico de gestação, com o advento da US colorida Doppler ou Power Doppler, foi possível reavaliar conceitos antes considerados definitivos quanto à fisiologia da reprodução. Essa técnica demonstrou ser efetiva e prática para a avaliação não invasiva e em tempo real da perfusão vascular do trato reprodutor, tanto masculino quanto feminino. Esse tipo de avaliação permite inúmeras aplicações, entre elas, o auxílio na escolha da receptora no momento da inovulação do embrião, e a decisão para esmagamento de uma vesícula embrionária em casos de gestação gemelar. Embora as técnicas de sexagem fetal tenham sido descobertas e aprimoradas anos atrás, ainda são pouco utilizadas na rotina dos criatórios. A identificação do sexo do feto pelo tubérculo genital (60 a 70 dias), como é realizada em bovinos, é de difícil execução em equinos, já que o feto dessa espécie apresenta uma mobilidade muito grande, extenso cordão umbilical e maior quantidade de líquidos placentários. O procedimento mais realizado com éguas é a identificação da gônada fetal (ovários ou testículos) por volta de 110 a 120 dias. A mais moderna técnica de identificação do sexo fetal em equinos é por meio de exame laboratorial (PCR), com a colheita de sangue da égua 12_Animal Business-Brasil
no terço final de gestação. Estudos estão sendo desenvolvidos para antecipar a sexagem, assim esse protocolo poderá estar disponível em fases mais precoces da prenhez.
Transferência de ovócitos (TO) e Transferência intrafalopiana de gametas (GIFT) Essas técnicas são utilizadas com o intuito de se obter gestações de éguas impossibilitadas de produzir embriões devido a várias condições reprodutivas patológicas adquiridas (éguas idosas, éguas com patologias no oviduto, útero ou cérvix). O ovócito (gameta feminino) é retirado do ovário dessas éguas, através de punção folicular guiada por ultrassom, e transferido, via acesso cirúrgico pelo flanco, para o oviduto (tuba uterina) de outra égua (receptora). A receptora é inseminada com o sêmen do garanhão de escolha, de modo convencional (intrauterino) e gestará o potro. Se a deposição do sêmen ocorrer diretamente na tuba uterina, junto com o ovócito, temos o que denominamos de GIFT, que apresenta como vantagem o uso de baixas quantidades de espermatozoides móveis.
Produção in vitro de embriões Essa biotécnica permite a produção in vitro (em laboratório) de embriões de fêmeas que, por diversos motivos, estão impossibilitadas de produzir embriões naturalmente. Contudo, sistemas empregados em outras espécies para produção de embriões (maturar ovócitos, capacitar espermatozoides e cultivar embriões) in vitro não se adequam à espécie equina. O único relato de potros nascidos por esta técnica foi na França, na década de 90. Porém, esses potros foram originados da fecundação de um ovócito da égua doadora maturado in vivo (dentro da própria égua), sendo posteriormente introduzido um único espermatozoide intracitoplasmático, técnica denominada de “ICSI”.
Injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI) Biotécnica que utiliza ovócitos maduros, em que, através de várias técnicas, um espermatozoide é injetado no seu citoplasma. Os ovócitos fertilizados por ICSI podem ser imediatamente
Lavagem de embrião
transferidos para o oviduto da égua receptora, ou ficarem em cultivo por 7-8 dias para atingir o estádio de blastocisto, sendo então transferidos por método não cirúrgico para o útero das receptoras. É uma alternativa bastante promissora para a multiplicação de animais selecionados. No Brasil, a empresa In Vitro Clonagem, por meio da Dra. Perla Fleury, noticiou o primeiro nascimento de um equino (fêmea) por esta técnica no ano de 2012. Os ovócitos foram obtidos do ovário de uma égua quarto de milha, após sua morte.
Clonagem É definida como o processo que produz uma cópia geneticamente idêntica de uma célula ou organismo, por meio de reprodução assexuada. No universo dos equinos, clonagem é a produção de potros que têm o mesmo material genético do animal doador da célula (seja égua, garanhão ou mesmo um equino castrado). Para realização da clonagem, necessita-se de uma célula do animal doador (uma amostra de tecido da pele). Essa amostra vai para cultivo celular no laboratório, para estabelecer uma linhagem de células. Também há necessidade de um ovócito, que pode ser obtido de ovários equinos de abatedouro ou por aspiração folicular de animal vivo. Esse ovócito é maturado e, depois disso, tem seu material genético (DNA) retirado. Nesse ovócito é inserida uma célula do cultivo celular do animal a ser clonado (DNA do doador). O ovócito reconstruído é estimulado a se desenvolver, sendo cultivado por 6-7 dias em incubadora. Nesse período, se tudo transcorreu de forma esperada, essa estrutura se transforma num embrião, que será transferida para éguas receptoras. Se a gestação se desenvolve nor-
malmente, o potro nascido será geneticamente idêntico ao animal que doou as células. O primeiro registro de clones equídeos é da Universidade de Idaho, nos Estados Unidos. A equipe de pesquisadores utilizou células de feto de mula, com 45 dias de idade, como células doadoras de núcleo. Foram transferidos mais de 300 ovócitos reconstruídos e foram obtidos três clones em 2003. Poucas semanas depois, a equipe do Dr. Cesare Galli anunciou, na Itália, o nascimento de uma potra clone da raça Haflinger. Foi o primeiro registro de nascimento de equino clonado da história. As células que serviram como núcleos eram de uma fêmea adulta. Foram transferidos 17 embriões. Em 2004 não houve registros de nascimentos de clones equinos. Em 2005 foi noticiado o nascimento de dois potros na Itália, resultado do trabalho da equipe do Dr. Galli, sendo que um veio a óbito com 48 horas de vida, em consequência de uma septicemia. O outro potro se desenvolveu normalmente. Também em 2005, o laboratório da Universidade do Texas (Texas A&M University) produziu dois clones viáveis, a partir da transferência de 11 embriões. No mesmo laboratório, em 2006, nasceram nove clones, dos quais sete eram viáveis. A partir de 2006 houve o nascimento de vários potros clonados, além de um aumento na procura por este tipo de serviço, que é oferecido comercialmente. A empresa líder mundial na produção de clones equinos é a ViaGen, com sede no estado do Texas, e com um laboratório em Alberta, no Canadá. No Brasil, os primeiros clones equinos nasceram em 2012, e são da raça Mangalarga. Foram desenvolvidos pela empresa In Vitro Clonagem Animal, de Mogi Mirim, SP. Um dos clones é do lendário reprodutor Turbante JO, que renasce aos 43 anos.
Conclusão No Brasil existem vários Centros especializados em reprodução de equídeos, o Departamento de Reprodução Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Agronomia da Universidade de Brasília (FAV/UnB), é um deles e tem procurado desenvolver e difundir várias destas Biotécnicas ao sistema nacional de produção de equídeos. Animal Business-Brasil_13
Ovos SPF na incubadora
Alta tecnologia brasileira na produção de ovos SPF para fabricar vacinas
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iferentemente das bactérias e dos fungos, que são cultivados em meios mortos, como agar-agar (sólido) ou em meios líquidos, os vírus só se multiplicam em tecidos vivos, como, por exemplo, os ovos embrionados. Mas não basta que o ovo seja embrionado. É fundamental que ele seja SPF (Livre de Patógenos Específicos, na sigla em inglês). Se ele estiver contaminado, a vacina contaminará o ser humano ou o animal.
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Mas conseguir produzir com a máxima segurança esses ovos é tarefa cara e que exige alta tecnologia. Não são muitos os países no mundo que produzem esse tipo de meio de cultura vivo, e, até 1979, o País dependia totalmente de importações. A Granja Rezende, em Uberaba (MG), fundada em 1962 e hoje pertencente ao Grupo Marfrig, foi a pioneira, e a Embrapa, começou a produzir ovos SPF, a partir deste ano (2003).
A produção de ovos SPF usados na fabricação de vacinas exige alta tecnologia e vultosos investimentos
O Brasil produz cerca de cinco milhões de unidades por ano, o que o que corresponde a 8% da produção mundial e independe de importações, que entretanto continuam sendo feitas em casos especiais. O Bio-Manguinhos/Fiocruz é um dos maiores consumidores brasileiros de ovos SPF para a produção de 45 milhões de unidades de vacinas de uso humano. Para isso compra 57% (mais de 140 mil unidades) de produtores nacionais e 43% (mais de 100 mil unidades) no mercado internacional, ao custo unitário médio de R$ 5,50. As aves e ovos SPF são livres de infecções por microrganismos e parasitas. Esses ovos são matérias-primas indispensáveis para a produção de insumos, antígenos e vacinas para animais, assim como de vacinas para uso humano. Além disso, são também um padrão laboratorial para pesquisa e diagnóstico em sanidade na área de microbiologia (bacteriologia e virologia) e parasitologia de aves. São poucos os países no mundo que produzem esse tipo de meio de cultura vivo, e no Brasil o laboratório Biovet, de capital cem por cento nacional, tem o necessário registro do Ministério de Agricultura para a produção desses ovos. A Valo, do Grupo BrasilFoods, e a Biovet são os dois grandes produtores nacionais. A primeira vende esse produto especial e a Biovet utiliza toda a sua produção na fabricação de vacinas para animais e no controle de biológicos. O Brasil produz cerca de cinco milhões de ovos SPF, por ano, o que representa ao redor de 8% da produção mundial.
cumprimento são necessários bastante capital, equipamento e técnicos altamente treinados. A obtenção da certificação pelo Ministério da Agricultura só é dada após o cumprimento integral dessas exigências que são monitoradas por auditores independentes – no caso da Biovet, de auditores independentes vindos da Espanha. Os principais itens considerados são os seguintes: 1. Análise de fluxos: pessoas, materiais e produtos. 2. Análise do processo de fabricação. 3. Materiais de construção das instalações da produção e anexos. 4. Sistema de ar-condicionado e tratado (HVAC). 5. Distribuição e sistema de tratamento de água purificada. 6. Destino e controle de resíduos provenientes do processo produtivo. 7. Equipamentos usados na produção e no controle de qualidade.
Normas rígidas Para poder garantir a qualidade dos aviários, das aves e dos ovos embrionados e a sua inocuidade, o que significa ausência de risco para os seres humanos e animais vacinados, há uma série de exigências muito minuciosas para cujo
Avaliando a qualidade da produção Animal Business-Brasil_15
O Brasil é um do poucos países do mundo que produzem ovos SPF. São cinco milhões de unidades ao preço médio de R$ 5,50 cada Os galpões onde as galinhas e galos são mantidos para a produção dos ovos embrionados SPF são inteiramente fechados, com iluminação e ventilação controladas. As paredes de alvenaria são duplas e até o piso dos galinheiros é impermeabilizado. Não são permitidas visitas em nenhuma hipótese, e os tratadores não entram diretamente nos galpões e sim num compartimento isolado onde tomam banho com sabão especial e vestem macacões esterilizados em envelopes lacrados. As aves que morrem são submetidas a uma série de exames de laboratório e, quando é indicado, todas do mesmo galpão são eliminadas e cremadas. Todas as aves são submetidas, semanalmente, a exames clínicos e sorológicos para verificar seu estado sanitário. Os tratadores são frequentemente examinados por médicos que avaliam seu estado de saúde. Todo o ar que entra nos galpões é filtrado através dos chamados filtros absolutos. A iluminação interna é automatizada e programada para imitar a radiação solar. Há também lâmpadas germicidas. A água que as aves bebem é tratada com cloro e carvão ativado, além de ser prefiltrada antes de passar por um sistema de osmose reversa e nova filtração. Nenhum material entra nos galpões SPF sem ter sido antes esterilizado numa autoclave especialmente projetada. Essa alta tecnologia e a necessidade de grande investimento explicam o motivo pelo qual poucos países produzem ovos SPF. Mas sem esses cuidados é inviável produzir vacinas de vírus que garantidamente não transmitirão doenças para nós, nossas famílias e nossos animais. 16_Animal Business-Brasil
Vista aérea do laboratório Biovet
Pipetagem
Ovos inoculados
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Boa qualidade é a marca
da carne do futuro Por: Eduardo
Biagi, presidente da ABCZ
Uma boa inspeção garante a qualidade da carne
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Foto: Maurício Farias
O
fortalecimento da economia brasileira nos últimos anos exigirá do setor pecuário investimentos ainda maiores para atender a demanda por carne e leite de qualidade. Uma exigência que certamente crescerá no mesmo ritmo da classe média brasileira e da população mundial Chegamos a sete bilhões de pessoas no mundo, a expectativa de vida do brasileiro subiu para 73,5 anos e as classes A, B e C no Brasil dobraram nos últimos cinco anos, ou seja, mais gente com poder de compra. E, com mais dinheiro no bolso, o consumidor passa a basear suas compras em qualidade, não se importando em pagar um pouco mais por um produto de excelência. Já provamos que somos imbatíveis na produção de carne e leite a baixo custo e conseguiremos atender à demanda por alimentos estimada para as próximas décadas. Porém, temos o desafio de produzir com alta qualidade não apenas os produtos destinados ao mercado externo, que corresponde a somente 20% da produção de carne, mas também para o mercado interno, considerado por especialistas o grande foco. Nesse aspecto, o consumidor é muito importante para a evolução da cadeia produtiva. Apesar de ser considerado como pouco exigente e escolher pelo preço, pesquisas recentes mostram uma preocupação maior dos compradores em relação à segurança alimentar, textura, sabor e maciez da carne. Um consumidor insatisfeito pode optar pela compra de outro tipo de carne, como suína ou de frango. A falta de um efetivo sistema de classificação de carcaças é um dos gargalos verificados na produção de carne de maior qualidade e melhores preços do maior exportador de carne bovina do mundo. Apesar de contarmos com uma Classificação de Carcaça, publicada na Instrução Normativa 9 pelo então ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Roberto Rodrigues, parece que esta foi esquecida e está longe de ser plenamente aplicada em nosso país. Como não existe classificação, os consumidores brasileiros não têm acesso a nenhum tipo de informação sobre a carne que consomem. E quem acaba prejudicado por esta situação não é apenas o consumidor, mas também o produtor que deixa de receber informações importantes para aprimorar sua atividade. Os frigoríficos alegam que é preciso avançar muito para colocar a classificação de carcaças em prática. O fato é que hoje, o preço pago ao produtor pelo mercado é diferenciado apenas pelo sexo, macho ou fêmea. Animal Business-Brasil_19
Acredito que a cadeia produtiva não deve esperar a cobrança do consumidor para somente depois aplicar, efetivamente, a classificação de carcaça
Corte da carcaça em ambiente higienizado, sob inspeção federal 20_Animal Business-Brasil
Foto: Maurício Farias
Não há incentivo para a produção de animais precoces, melhor acabados, entre outras características. Embora reconheçamos a existência de dificuldades para implantação de um sistema de classificação de carcaça em nosso país, acreditamos ser completamente possível, como já foi feito na absoluta maioria dos países produtores. Modelos viáveis existem, precisamos agora é de ações concretas. Temos que ter um sistema que estimule o produtor a produzir com qualidade e onde ele seja remunerado adequadamente por isso. Tenho certeza de que isso nos levará a consolidar nossa pecuária internacionalmente. Além disso, comprar carne boa tem que deixar de ser uma loteria para o consumidor. Em um futuro próximo, a qualidade será a marca da carne do futuro e a classificação e a tipificação são ferramentas essenciais para aprimorarmos a carne que produzimos. A classifica-
Foto: Rúbio Marra
Eduardo Biagi, presidente da ABCZ
ção de carcaça é extremamente importante para atingirmos maior padronização da carne, valorizarmos quem produz animais de melhor qualidade e atendermos às exigências do consumidor. Além disso, a classificação e a tipificação têm papel fundamental na facilitação da compra e venda do produto. Acredito que a cadeia produtiva não deve esperar a cobrança do consumidor para somente depois aplicar efetivamente a classificação de carcaça. Precisamos ser proativos, antecipando-nos às exigências do mercado, investir em marketing e em campanhas educativas capazes de auxiliar a população a diferenciar, na hora da compra, o tipo de carne que realmente deseja. Algumas ações específicas já são realizadas há alguns anos em nosso país para oferecer um produto diferenciado ao consumidor, como por exemplo, o Programa de Qualidade Nelore Natural, desenvolvido pela Associação dos Criadores de Nelore do Brasil. Mas os esforços devem ser ampliados para que a padronização seja uma realidade em nosso país. É fundamental que o Brasil esteja preparado para atender os mais diferentes e exigentes mercados nos próximos anos. E para isso não poderemos investir em um sistema caro e ineficaz de classificação de carcaça. Temos que desenvolver uma classificação “made in Brazil” e fazer dela uma grande referência, para alcançarmos um produto com marca forte e reconhecida internacionalmente.
Por: Paulo
Roque
Exportações do agronegócio atingem US$ 96,66 bi As exportações brasileiras do agronegócio, entre fevereiro de 2012 e janeiro de 2013, somaram US$ 96,66 bilhões, o que representa um crescimento de 1,1% sobre os doze meses anteriores. As importações alcançaram US$ 16,37 bilhões. O saldo da balança comercial do setor foi positivo em US$ 80,28 bilhões. As informações são da Secretaria de Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Os setores que mais contribuíram para o crescimento de US$ 1,09 bilhão foram: cereais, farinhas e preparações (crescimento de US$ 3,27 bilhões), complexo soja (crescimento de US$ 1,04 bilhão), fibras e produtos têxteis (cres-
cimento de US$ 396,93 milhões), fumo e seus produtos (US$ 274,01 milhões) e animais vivos (crescimento de US$ 185,99 milhões). As carnes somaram US$ 15,83 bilhões no período. A carne de frango foi o principal produto em vendas do setor, com US$ 7,18 bilhões, ou 3,7 milhões de toneladas. Destacam-se ainda as exportações de carne bovina (US$ 5,86 bilhões, ou 1,27 milhões de toneladas) e carne suína (US$ 1,49 bilhão ou 578,76 mil toneladas). Já o açúcar foi responsável por 84,9% desse montante, com US$ 13,21 bilhões. As exportações de álcool totalizaram US$ 2,34 bilhões.
Produto veterinário recebe certificação ambiental EPD A Zoetis, antiga unidade de negócios de Saúde Animal da Pfizer obteve a certificação Environmental Product Declaration - EPD (ISO 14025 – Tipo III) concedida à Vivax - vacina para imunocastração que atua no sistema imunológico do suíno controlando as substâncias envolvidas no odor de macho inteiro. Esse é o primeiro produto veterinário voltado para saúde animal a obter a certificação mundial, expedida pelo Bureau Veritas Certification da Bélgica – líder em serviços de certificação com mais de 80 mil empresas acreditadas em 140 países. A vacina vem sendo introduzida, progressivamente, em países do mundo inteiro. Atualmen-
te, está registrada em mais de 60 países, como Suíça, Rússia, Brasil, México, Chile, Tailândia, Coreia, África do Sul, Filipinas, Estados Unidos, Canadá, China, Japão e toda a União Europeia. Atualmente, são mais de 25 milhões de suínos imunocastrados abatidos e comercializados no Brasil, o que representa quase um ano e meio de todos os machos abatidos industrialmente, sob Inspeção Federal, no mercado brasileiro. Animal Business-Brasil_21
Novo equipamento para facilitar e preservar a ensilagem A ensilagem, respeitando os princípios básicos para bem prepará-la, conforme advertem os técnicos, é uma das técnicas mais difundidas para “guardar e preservar” o volumoso. Dentro desse princípio, a Matsuda Equipamentos produziu um equipamento simples e versátil, o Silo Fácil Salsichão Matsuda, que é acionado pela tomada de força do trator e equipado com uma esteira própria para abastecimento contínuo. Possui também aplicador de inoculantes, inoculando 100% da matéria a ser armazenada, por meio de jato direcionado e rosca sem fim para a armazenagem e compactação das Silagens. O princípio técnico do Silo Fácil Salsichão otimiza a ensilagem com alto grau de compactação, evitando a entrada de ar no silo e garantindo maior qualidade da mesma, juntando todas as etapas em uma única operação com o mais baixo custo e benefício. É fabricado em polietileno flexível em três camadas, em 140 micras, com aditivo absorvedor de radiação UV. Possui tecnologia de armazenamento que permite um longo período de tempo exposto às maiores exigências climáticas, tendo como uma das principais vantagens, a manutenção das características de qualidade originais da silagem armazenada.
Brasil e UE fecham acordo sobre frango Um novo regime de importação da União Europeia (UE) para algumas preparações e conservas de carne de frango do Brasil vai tornar possível uma maior rentabilidade para o exportador brasileiro. As importações estarão sujeitas a uma cota tarifária que chega a 158,2 mil toneladas anuais. A informação é do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). O acordo, que entrou em vigor a partir do dia 1º de março, é resultado de um entendimento bilateral que modifica o regime de importação da UE que se iniciou em 2009 – e que se adapta às regras da Organização Mundial do Comércio (OMC). Em razão disso, o Brasil negociou o direito de cotas específicas, cuja administração será compartilhada pelos governos do Brasil e da UE. O novo regime deve compensar parcial ou totalmente a elevação das tarifas aplicadas às importações acima da quantidade estabelecida para a cota. A UE é o principal mercado de preparações e conservas de carnes de aves do Brasil.
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Exportações de carne de frango O presidente da UBABEF, Francisco Turra, informou que a entidade deu início a um trabalho de estudos estratégicos para expansão da receita das exportações, por meio da criação de um Núcleo de Inteligência de Mercado, em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (APEX – BRASIL). O desafio, explica ele, é agregar valor às exportações brasileiras por meio de uma série de ações junto às empresas associadas e ao mercado internacional. Coordenado pela Diretoria de Mercados da UBABEF, sob a tutela de Ricardo Santin, o trabalho inclui ações estratégicas, como pesquisas de imagem nos mercados-alvo e estudos de comportamento de comércio com projeções de curto, médio e longo prazos, entre outros.
Carne suína: queda nas vendas para Argentina, Singapura e Hong Kong
Castrolanda e Batavo investem em São Paulo As cooperativas Castrolanda e Batavo vão investir R$ 120 milhões para construir a primeira unidade de beneficiamento de leite (UBL) das empresas fora do Paraná. Com a marca Colônia Holandesa, elas lançaram, em fevereiro, a pedra fundamental do projeto em Itapetininga (SP), que recebeu assessoria da Investe São Paulo, vinculada à Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia. Cerca de 60% do investimento será feito pela Castrolanda, e 40%, da Batavo, ambas cooperativas agroindustriais. A operação deve gerar cerca de 250 empregos diretos e outros 1.260 indiretos. A planta produzirá, em sua primeira fase, 500 mil litros de leite por dia, mas a ideia é de que, com a maturidade do projeto, essa quantidade chegue a um milhão. De acordo com o superintendente de operações lácteas do negócio, Edmilton Aguiar Lemos, a nova fábrica faz parte de uma estratégia de expansão das empresas e das marcas envolvidas: Colônia Holandesa, Frísia e Castrolanda. “Depois de crescer no Paraná, queremos entrar no Estado de São Paulo e no maior mercado consumidor do País”, explicou. A proximidade com a capital, inclusive, foi o que levou as empresas a escolher Itapetininga para o empreendimento. A produção da nova fábrica será realizada em três fases. Depois de ampliar a produção de leite longa vida, serão feitos também leites especiais. Na terceira fase, sucos e néctares e, em um estágio mais avançado, iogurtes. A produção é destinada tanto para o consumidor direto quanto para indústrias, estimulando toda a cadeia produtiva de leite da região.
Segundo a ABIPECS houve uma retração de 64% nas vendas brasileiras de carne suína para os argentinos. O volume, em janeiro, ficou em 1.562 t, em relação a 4.297 t em janeiro de 2012. Em valor, a queda foi de 63%: passou de US$ 14 milhões em janeiro de 2012 para US$ 5,21 milhões em janeiro de 2013. Singapura: a redução nos embarques, em janeiro de 2013, foi 11%. O Brasil vendeu 2.027 t em janeiro deste ano ante 2.280 t em igual período de 2012. Em faturamento, a queda foi de 14%: US$ 5,59 milhões (janeiro/2013) em relação a US$ 6,96 milhões (janeiro/2012). Hong Kong: queda de 39% nas exportações. O Brasil exportou 8.469 t de carne suína em janeiro deste ano, em relação a 13.904 t em janeiro de 2012. A queda na receita também foi de 39%: de US$ 33,80 milhões em janeiro de 2012 para US$ 20,60 milhões em janeiro de 2013.
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Produção de rainhas sem ferrão A multiplicação de colônias de abelhas sem ferrão ganha novo impulso com as inovações obtidas por um grupo de pesquisadores. Larvas que dariam origem a operárias são retiradas da colônia e superalimentadas em laboratório até se desenvolverem em rainhas. Dessa forma, é possível produzir milhares de rainhas a partir de uma única colônia matriz. O trabalho consta em artigo dos pesquisadores Cristiano Menezes (Embrapa Amazônia Oriental), Ayrton Vollet-Neto (Universidade de São Paulo) e Vera Imperatriz Fonseca (Universidade Federal Rural do Semi-Árido) que ganhará as páginas da revista Apidologie, uma referência na área de abelhas. Embora a técnica tenha sido desenvolvida pela pesquisadora Conceição Camargo há cerca de 40 anos, os resultados ainda eram muito baixos. “A meliponicultura (criação de abelhas sem ferrão) é uma atividade que tem crescido e as colônias disponíveis ainda são insuficientes para atender à demanda”, avalia o pesquisador Cristiano Menezes. Com as inovações da pesquisa ora publicada, colônias poderão ser reproduzidas em larga escala. O trabalho foi realizado com a espécie Scaptotrigona depilis, conhecida popularmente como mandaguari. Essas abelhas formam colônias populosas (cerca de 10 mil), produzem grande
quantidade de mel e são importantes polinizadoras de culturas agrícolas, como morango e café. Essa técnica de produção de rainhas in vitro também pode ser usada para a maioria das outras abelhas sem ferrão, entre elas a "abelha mosquito" (Plebeia minima), potencial polinizadora de cupuaçu; a “canudo” (Scaptotrigona postica), potencial polinizadora de rambutã, taperebá, açaí, além de grande produtora de mel; e a “marmelada” (Frieseomelitta varia), espécie ótima para produção de própolis na região amazônica. O artigo An advance in the in vitro rearing of stingless bee queens já está disponível (online first) no site da revista Apidologie:http://link.springer.com/article/10.1007%2Fs13592-013-0197-6.
Pesquisador salva espécie de peixe ameaçada de extinção Um pesquisador conseguiu evitar que uma espécie de peixe, o Acanthobrama telavivensis, se extinguisse em Israel. Uma combinação de poluição industrial e secas havia feito com que a população dessa espécie ficasse reduzida a 150 peixes em 1999. O cientista Menachem Goren conseguiu autorização das autoridades para hospedar os peixes remanescentes em seu laboratório por alguns anos, até que as condições naturais melhorassem e eles pudessem ser devolvidos à natureza. Os 150 peixes recolhidos se reproduziram e chegaram a 14 mil e, no mesmo período, o governo conseguiu despoluir o rio Yarkon, habitat natural da espécie. “Isso prova que temos condições de salvar várias espécies ameaçadas de extinção”, disse Goren.
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Tocantins cancela Circuito Feicorte na Agrotins
Grupos gestores do Plano ABC chegam a mais dois Estados
A Secretaria de Agricultura, da Pecuária e do Desenvolvimento Agrário de Tocantins cancelou a parceria com o Circuito Feicorte para a realização do evento dentro da Agrotins. No entanto, o Agrocentro e a NFT Alliance, organizadores do Circuito Feicorte, acreditam que os pecuaristas do estado do Tocantins precisam de um evento como esse e estão se movimentando para realizá-lo em data e local que serão divulgados em breve. O Circuito Feicorte NFT é uma iniciativa do Agrocentro (que promove a Feicorte – Feira Internacional da Cadeia Produtiva da Carne anualmente em São Paulo) e a Nutrition for Tomorrow Alliance (aliança de marketing cooperativado formada por empresas da cadeia de proteína animal) para levar conhecimento e discussões a importantes praças pecuárias brasileiras. O tema da edição deste ano é “Eficiência na produção e na comercialização da carne”, que será discutido em workshops com palestras e debates, uma feira de negócios com as principais empresas da cadeia produtiva da carne e um leilão. A edição de 2013 do Circuito Feicorte NFT passará por Cuiabá (MT) em 13 e 14 de março, Palmas (TO) em maio, Campo Grande (MS) em 30 e 31 de julho, Ji-Paraná (RO) de 03 a 04 de outubro e Paragominas (PA) nos dias 07 e 08 de novembro.
Um Grupo Gestor Estadual (GGE) do Plano Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (ABC) passou a atuar nos estados do Acre e do Amapá. Com isso, os GGEs estão presentes em 26 estados mais o Distrito Federal atendendo todo Brasil, segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Os grupos gestores têm o apoio dos governos estaduais e municipais, além de entidades ligadas ao setor produtivo e instituições de ensino e pesquisa das respectivas regiões. Cabe ao Mapa coordenar a criação desses Grupos Gestores Estaduais para auxiliar na divulgação e implementação do ABC nas Unidades da Federação. A meta do Plano, quando foi instituído em setembro de 2011, foi a de reduzir, até 2020, entre 125 e 133 milhões de toneladas de CO2 equivalente. Para atender ao seu propósito, o Governo disponibiliza recursos que podem ser captados junto às instituições financeiras para fomentar as práticas sustentáveis, entre as quais o sistema de plantio direto, tratamento de resíduos animais, integração lavoura-pecuária-floresta, fixação biológica de nitrogênio, plantio de florestas e recuperação de áreas de pastagens degradadas. Entre as operações mais contratadas estão aquelas para financiar o plantio direto e a recuperação de pastagens. Ao todo são 3,4 bilhões no Plano Agrícola e Pecuário de 2012/13, que até o presente momento já foram utilizados em torno de 1,7 bilhão de reais.
China habilita frigoríficos brasileiros Seis frigoríficos brasileiros, um de carne suína e cinco de aves, foram aprovados a exportar para a China. Em 2012, uma missão chinesa esteve no Brasil para visitar os estabelecimentos. O grupo conheceu 20 frigoríficos, destes, seis foram contemplados. Um de suíno do Rio Grande do Sul, três de aves de Santa Catarina e um de aves de São Paulo e do Mato Grosso do Sul. Para iniciar o processo de exportação, a China pediu envio, pelo governo brasileiro, da lista dos nomes dos veterinários oficiais encarregados de assinar o certificado sanitário emitido pelo estabelecimento exportador. O lado chinês, assim que recebeu o documento, se prontificou a anunciar o início das exportações através de uma publicação no site oficial daquele país - Administração Geral de Supervisão de Qualidade de Inspeção de Quarentena (AQSIQ). Animal Business-Brasil_25
Lei do Couro: cuidado com certas expressões O Centro das Indústrias de Curtume do Brasil (CICB) informa que é considerado crime no Brasil afirmar que determinado produto é feito em “couro sintético” ou “couro ecológico”. Expressões como estas infringem a Lei 4.888, vigente desde 1965, que proíbe a utilização do termo couro em produtos que não tenham sido obtidos exclusivamente de pele animal. A expressão “couro legítimo” é igualmente proibida pela Lei. Os produtos devem ser identificados apenas como couro. Este ano, o Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB) promoverá uma série de ações para que a Lei do Couro seja amplamente conhecida pelas indústrias e pela população brasileira. O consumidor do país deve estar ciente da origem do produto que está adquirindo – o que pode ter consequências muitas vezes negativas na qualidade e durabilidade quando o artigo não tiver sido produzido em couro. A infração à Lei do Couro constitui crime de concorrência desleal previsto no artigo 195 do Código Penal, cuja pena é a detenção do infrator de 3 meses até 1 ano, ou multa.
Exportações de couro cresceram em janeiro O primeiro mês de 2013 mostrou uma acentuada elevação nas exportações brasileiras de peles e couros em relação ao mesmo período do ano passado. No mais recente mês de janeiro, as vendas ao mercado externo somaram de US$ 164 milhões, representando um crescimento de 17,9% em relação a janeiro de 2012, que foi de US$ 139 milhões. Um dos objetivos do Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB) para o ano de 2013 é promover uma série de ações que forneçam subsídios para que as empresas curtidoras possam superar as dificuldades impostas à indústria, como os problemas de infraestrutura do Brasil, a alta carga tributária trabalhista e a crise em países compradores de couro do país. Estão na agenda da entidade a promoção do Projeto Comprador e do Projeto Imagem durante a Fimec, além de maior destaque na participação de feiras internacionais e diálogo ampliado com países considerados como mercados alvos para couro do Brasil.
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Brasil só fica livre da Aftosa em 2015 O governo admitiu que não conseguiu cumprir a meta de tornar o Brasil livre da febre aftosa até o final de 2012 e prevê que isso poderá ocorrer somente em 2015, quando espera que o País passe a ser reconhecido como território livre da doença por vacinação pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE).
Pecuária tem maior produção em área menor Levantamentos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) dão conta de que as áreas de pastagens brasileiras diminuíram 8% entre 1975 e 2011, período em que o efetivo de bovinos dobrou, passando de 102,5 milhões para 204 milhões de cabeças. Em 1975 a área de pastagens naturais e plantadas era de 165,6 milhões de hectares. Em 2011 esse valor caiu para aproximadamente 152 milhões, segundo estimativa do Mapa.
Financiamento para cobrir capital de giro O Banco do Brasil lançou o BB Agronegócio Giro, uma linha de financiamento para cobrir despesas complementares e inesperadas na condução das atividades dos agropecuaristas.Trata-se de uma linha de crédito rotativo, com movimentações por meio da conta-corrente e possibilidade de renovação automática. Além da falta de burocracia, segundo o BB, as taxas são bastante atrativas e as liberações e amortizações ocorrem no mesmo dia em que solicitadas pelo cliente.
Publicação destaca tradição e rigor do abate Halal no Brasil A União Brasileira de Avicultura (UBABEF), com apoio da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), lançou o número 2 da revista Brazilian Poultry, destinada ao mercado internacional. Trata-se, desta vez, de uma edição em árabe e inglês, voltada para o mercado muçulmano, distribuída durante a realização da Gulfood Dubai, que aconteceu durante a última semana de fevereiro. A revista, com 32 páginas, inclui a descrição detalhada da tradição do processo Halal - o abate segundo os preceitos muçulmanos - nas agroindústrias avícolas brasileiras, inclusive com o depoimento de certificadoras islâmicas. Ao mesmo tempo, a publicação traz uma entrevista com o presidente da Câmara de Comércio Brasil-Árabe, Michel Alaby. O reconhecimento dos mercados de religião islâmica à carne de frango brasileira pode ser medido pelos números apresentados em outra seção da nova edição de Brazilian Poultry. Em 2012, o Brasil embarcou 1,8 milhão de toneladas de frango Halal, o que correspondeu a cerca de 45% do total exportado.
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Rubens Moreira Mendes Filho*
Ambulância veterinária: novos critérios O Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) publicou recentemente a Resolução n° 1.015, que define alguns novos critérios para o funcionamento de estabelecimentos veterinários como hospitais, clínicas e consultórios. O texto também normatiza adequações para os veículos pertencentes aos estabelecimentos veterinários. “Havia necessidade de regulamentação dos veículos para, no caso da ambulância, garantir que haja, no local, profissional e equipamentos necessários para atendimento de emergência, explica o presidente do Conselho Federal de Medicina Veterinária, Benedito Fortes de Arruda. Ele enfatiza que a regulamentação também defende o consumidor que ao chamar uma ambulância veterinária, espera que haja capacidade para realização dos procedimentos iniciais para salvar a vida de seu animal. Arruda esclarece que a normativa não exige que os hospitais ou clínicas veterinárias tenham veículos de transporte, porém, se ofertarem o serviço precisam seguir a normatização. A Resolução CFMV no. 1015 foi publicada em 31 de janeiro deste ano e passa a vigorar após seis meses. A fiscalização e a orientação serão realizadas pelos Conselhos Regionais de Medicina Veterinária. Os veículos passam a se dividir em duas categorias: unidades de transporte e ambulâncias veterinárias. A primeira terá a função única de remoção dos animais e a ambulância deverá ser utilizada somente para atendimentos emergenciais ou de urgências que deverão ser prestados, obrigatoriamente, por um Médico Veterinário. A norma prevê, ainda, que as ambulâncias tenham equipamentos indispensáveis como sistema de maca, sistema para aplicação de fluídos e sistema de provisão de oxigênio e ventilação mecânica, além de monitorização. Os veículos estão proibidos de transportar animais para banho e tosa como medida preventiva para evitar a contaminação de animais sadios.
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A quem a FUNAI representa?
T
enho me concentrado em debater questões atuais e que interessam, efetivamente, à nossa sociedade. Não exponho aqui minha opinião pura e simples. Com o condão de enriquecer o debate, sempre me escudo em acadêmicos renomados, pesquisadores e especialistas nos temas que proponho. Hoje, trato da questão indígena no Brasil e demonstro que a Fundação Nacional do Índio (FUNAI), que deveria existir para defender os interesses dessas comunidades, é quem mais “joga contra”, utiliza de má fé e cria embaraços à preservação dos índios e ao desenvolvimento do Brasil. Encontrei na bem elaborada obra “Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil”, de autoria do pesquisador e jornalista Leandro Narloch, o resgate da verdadeira história do nosso País. Não a que foi candidamente criada, mas a que de fato aconteceu. Interessante observar que a obra começa abordando exatamente a origem dos nossos índios, com base em longas pesquisas, o autor afirma: “Os historiadores já fizeram retratos bem diversos dos índios brasileiros. Nos primeiros relatos, os nativos eram seres incivilizados, quase animais que precisaram ser domesticados ou derrotados. Uma visão oposta se propagou no século 19, com o indianismo romântico, que retratou os nativos como bons selvagens donos de uma moral intangível. Parte dessa visão continuou no século 20. Historiadores como Florestan Fernandes, em sua “A Função Social da Guerra na Sociedade Tupinambá”, de 1952, relata que a cultura indígena original e pura teria sido destruída pelos gananciosos e cruéis conquistadores europeus. Sendo
esses índios, os bravos e corajosos que lutaram contra os portugueses. Surgiu assim o discurso tradicional que até hoje alimenta o conhecimento popular e difundido em salas de aula. Na ultima década a historia mudou outra vez. Em uma nova leva de estudos, que ainda não se popularizou, sem negar as caçadas que os índios sofreram, os pesquisadores mostram que eles não foram só vítimas indefesas. Muitos índios foram amigos dos brancos, aliados em guerras, vizinhos que se misturaram até virar a população brasileira de hoje, como observa a historiadora Maria Regina Celestino de Almeida, em sua tese “Os Índios Aldeados no Rio de Janeiro Colonial”, do ano de 2000, quando afirma que ‘os índios transformaram-se mais do que foram transformados’. Mais do que isso, por mais revolucionários que fossem as roupas e os objetos europeus, os índios não viam sentido em acumular bens e logo se cansavam de facas, anzóis e machados. Queriam era a qualidade de vida que viam nos europeus.” Busquei essa longa citação da obra para mostrar que a mais ampla pesquisa feita em comunidades indígenas no Brasil, pelo Instituto Datafolha, em 2012, confirma exatamente isso. Para o desespero da FUNAI e dos pseudo ambientalistas, bancados com milhões de euros, e que já denunciei neste espaço, os índios responderam na pesquisa citada que não têm interesses em mais terras que as que já possuem. Eles desejam, sim, é ter acesso a serviços públicos de qualidade, como saúde e educação e a bens de consumo. A prova maior da má fé, do desespero da utilização ideologizada da FUNAI e dos que se dizem defensores da natureza e utilizam os índios como fonte de “grandes e suspeitos negócios”, comprovou-se na invasão do plenário da Câmara dos Deputados na sessão do dia 17 de maio. Entendo e defendo ardorosamente, que aquela Casa é o mais legítimo espaço para se debater as questões nacionais. Ali discutimos, democrática e ordeiramente, tudo que a sociedade necessita com amplos e públicos debates. Por isso, não é aceitável que setores que afirmam representar segmentos importantes de nossa sociedade atentem contra nossa democracia ao tentar transformar o Congresso Nacional em palco de fanfarronices encobrindo seus reais interesses.
Mais do que isso. Represento dentro do espírito democrático que norteia nossa sociedade, o setor produtivo brasileiro. Aquele que contribui sobremaneira para o PIB nacional, que mais paga impostos, e o mais prejudicado pelas “ações” da FUNAI e desses pseudo defensores de “causas milionárias e mal esclarecidas”, e que se alimentam também do que produzimos. Não aceitamos que apelem para medidas que a democracia já baniu de nossa sociedade, como guerrilhas e guerrinhas urbanas, menos ainda, quando tentam transformar em campo dessas falsas batalhas o Congresso Nacional. Se o Congresso Nacional existe, basicamente, para debater com a sociedade e legislar em seu nome, por que razão a FUNAI e esses baderneiros querem impedir que discutamos ali, de maneira ordeira e democrática como sempre propomos a PEC 215/00? Se não cabe a nós, Congresso Nacional legislar, a quem essa gente deseja transferir essa prerrogativa? O que há de verdade por trás desses interesses? Quem é, de fato, a FUNAI e essa gente, e o que eles, sinceramente desejam e a quem representam? Aos nossos índios e ao Brasil certamente que não é. A história comprova isso. *Deputado Federal pelo PSD-RO e ex-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA)
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Verdades e mentiras sobre os organismos geneticamente modificados
Por:
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Alfredo Navarro de Andrade MSc,PhD, Purdue (USA)
“Deus acertou em cheio quando limitou nossa inteligência, mas cochilou feio quando não limitou nossa ignorância.” (Nietzsche – 1844/1900)
É
próprio da natureza humana desconfiar e repelir ideias e conceitos revolucionários ou simplesmente novos que não consegue compreender. E temer ou adorar, como faziam os povos primitivos e ainda fazem certas tribos indígenas. Da bioengenharia, ciência recente, nasceu a biogenética e dela os organismos (animais e vegetais) geneticamente modificados, ou, simplesmente OGM, com diversos objetivos, como: melhorar a produtividade, a resistência às agressões do meio, prazo maior de validade,entre outros. Mas, interferir tão profundamente, na natureza, gerou e ainda gera medo, desconfiança, insegurança. Que consequências para a saúde humana, por exemplo, poderão advir da ingestão de leite produzido por uma vaca geneticamente modificada? E da carne? E dos ovos? E dos peixes? E dos animais, em geral, alimentados com produtos vegetais geneticamente modificados? É emblemática a declaração de Patrick Moore (1947): - Os benefícios reais da modificação genética são extremamente maiores e mais significativos do que os riscos apenas hipotéticos levantados por aqueles que se opõem à biotecnologia. Patrick Moore é um dos fundadores do Greenpeace, foi presidente do Greenpeace Canadá durante quase dez anos e diretor do Greenpeace Internacional durante sete anos. Para ele “A modificação genética reduz a liberação de químicos no meio ambiente, reduz o impacto dos produtos químicos sobre as espécies animais não-alvo e também diminui a quantidade de terra necessária para o cultivo de plantas que servirão como alimento”. Segundo a FAO (Organização de Agricultura e Alimentos da ONU). “A biotecnologia oferece oportunidades para se aumentar a disponibilidade e variedade de alimentos, aumentando a produtividade e ao mesmo tempo reduzindo variações sazonais nos suprimentos de alimentos. Através da introdução de lavouras resistentes a insetos e tolerantes a estresses, a biotecnologia poderia reduzir o risco de perdas de safras sob condições biológicas e climáticas difíceis. Mais ainda: a biotecnologia poderia ajudar na redução dos danos Animal Business-Brasil_31
ambientais causados por produtos químicos agrícolas tóxicos.” (Food and Agricultural Organization of the United Nations (FAO, 1004)
Sem risco Há quem afirme – sem nenhuma base científica – que os produtos vegetais e animais resultantes de modificações genéticas promovidas pelos cientistas através das técnicas de bioengenharia, representam um risco tanto para os homens e animais, quanto para o meio ambiente. Isso é uma falácia uma vez que todos os eventos oriundos da biotecnologia são rigorosamente estudados e analisados pela CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) composta por 38 membros representativos de todos os segmentos da sociedade.
Análises passionais Análises passionais de dados mal interpretados podem causar problemas sérios de segurança alimentar. No ano passado, no Pavilhão Humanidade 2012, no encontro Segurança Alimentar e Sustentabilidade no Agronegócio, o Dr. Fernando Sampaio, Diretor Executivo da ABIEC (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes), fez uma colocação das mais inteligentes sobre as questões dos agrotóxicos, transgênicos, orgânicos e congêneres: - Nunca vi um pobre ve-
Germinação de feijões transgênicos
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getariano. Pobre come comida, quem come conceito é rico. Essa declaração do palestrante nos fez recordar o que afirmou a professora Jennifer Thomson, Diretora do Departamento de Microbiologia da Universidade da Cidade do Cabo (África do Sul) em evento sobre biotecnologia: - Pobre precisa de biotecnologia – o recente debate sobre alimentos biotecnológicos é um luxo que somente as pessoas muito bem alimentadas das nações industrializadas podem ter.
Divulgação prejudicial A divulgação de supostos perigos que plantas e animais transgênicos causariam é extremamente prejudicial ao progresso da agricultura e da pecuária e consequentemente, ao combate à fome nacional e mundial que já é grande e só tenderá a aumentar e constituir-se no grande flagelo do século XXI. A visibilidade e a divulgação dadas a pessoas que não sabem a diferença entre ficção e ciência e se utilizam de informações falsas travestidas como verdades, podem causar malefícios de grande monta. Vale repetir a frase do grande filósofo alemão do século XIX, Friederich Wilhelm Nietzsche para quem há homens que já nascem póstumos: -Deus acertou em cheio quando limitou nossa inteligência, mas cochilou feio quando não limitou nossa ignorância.
A divulgação de supostos perigos que plantas e animais transgênicos causariam é extremamente prejudicial
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Modelo ideal para produção
de leite no Brasil Por: Rosangela
Zoccal, Pesquisadora da Embrapa Gado de Leite Geraldo Alvim Dusi, Polo de Excelência de Leite e Derivados
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evantamento do IBGE indicou que no Brasil existem, aproximadamente, 5,2 milhões de estabelecimentos rurais e em 25% deles ocorreu produção de leite, ou seja, 1.350.809 unidades produtivas. A predominância foi de pequenos produtores, com 1,2 milhão de estabelecimentos com volume diário menor que 100 litros (Tabela 1), que somavam 91,5% do total e produziam 47% do leite. Os estabelecimentos com produção entre 100 e 200 litros/dia representavam 5,4% do total e 19% do leite nacional. Propriedades com volume de 201 a 500 litros/dia representavam 2,4% dos produto-
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res e 18% do leite brasileiro. As propriedades com mais de 500 litros por dia não chegavam a 1% e o volume de leite foi de aproximadamente 16% da produção total. Informação importante sobre os estabelecimentos produtores de leite diz respeito à comercialização da produção, que ocorreu em 930 mil unidades (69%), na forma de leite cru ou beneficiado. Este fato significa que em aproximadamente 420 mil unidades (31%) o leite produzido foi consumido ou transformado em derivados na propriedade para o consumo das famílias e/ou destinado para alimentação dos bezerros.
Tabela 1. Número de estabelecimentos rurais e produção de leite por estrato de produção diária. Estrato de produção (litros leite/dia) Menos de 100 De 100 a 200 De 201 a 500 De 201 a 1000 Mais de 1000 TOTAL
Produtores* Número 1.236.130 73.559 32.785 6.109 2.226 1.350.809
% 91,5 5,4 2,4 0,5 0,2 100,0
Produção** Volume 15.085.220 6.098.280 5.773.319 2.567.698 2.567.698 32.096.214
% 47 19 18 8 8 100,0
Dados do IBGE/Pesquisa da Pecuária Municipal 2011 Observação: Os dados do Censo Agropecuário se referem a 2006, porém não ocorreram no País fatos relevantes que possam ter provocado mudanças no setor as quais invalidem uma análise sobre os sistemas de produção em uso atualmente.
Os dados apresentados reforçam que a maioria dos produtores de leite no Brasil possui volume diário inferior a 100 litros, com características de propriedades de subsistência e sem uso de tecnologias. Por outro lado, um número reduzido de estabelecimentos refletem sistemas competitivos, que buscam ganho de escala e usam tecnologias avançadas. Segundo o levantamento realizado pelo site Milkpoint sobre os cem maiores produtores de leite no Brasil, em 2011, o volume diário de produção variou de 5.900 litros a 52 mil litros de leite. O sistema de maior ocorrência entre eles foi o de confinamento total dos animais, com média de produção diária de 27,5 kg/vaca ordenhada, seguido pelo semiconfinamento com 20,4 kg/vaca/ dia e, em terceiro lugar, os sistemas baseados em pastagens com 16,8 kg/vaca/dia. A principal raça utilizada é a Holandesa, porém em muitas fazendas se utilizam mais de uma raça leiteira.
Modelo de produção de leite para o Brasil Estudos realizados pela Embrapa Gado de Leite, diagnósticos estaduais da cadeia produtiva e informações disponibilizadas pelo IBGE, subsidiam uma classificação dos sistemas de produção existentes no Brasil, em quatro tipos, sob a ótica da intensificação, com as seguintes características de produção de leite: Produção de subsistência: São os estabelecimentos mais comuns, com rebanhos menores que 30 vacas; produtividade abaixo de 5 litros/ animal/dia; produção diária por propriedade menor que 100 litros. Tem o pasto como base da
alimentação do rebanho. As pastagens normalmente possuem baixa capacidade de suporte e não fazem uso da suplementação de forragem, apenas o sal comum é fornecido no cocho. Produção semiextensiva: Possuem rebanhos entre 30 e 70 vacas, com produtividade animal de 5 a 8 kg por vaca/dia e produção total entre 100 e 500 kg por dia. O sistema de alimentação é misto, isto é, uso da pastagem com suplementação de forragem e concentrada no inverno ou estação seca e em muitos casos a suplementação concentrada é fornecida durante o ano todo. O pasto possui capacidade mediana de suporte. Produção especializada: Estabelecimentos usualmente com rebanhos de 70 a 200 vacas, com produtividade média entre 8 e 15 kg/vaca/ dia e produção total variando entre 500 e 2.000 kg por dia. O sistema de alimentação e manejo é especializado, geralmente com pastagem adubada, utilização de cana-de-açúcar e silagem como suplementação volumosa e concentrada durante o ano todo. Produção intensiva: São os estabelecimentos grandes, rebanho produtivo com mais de 200 cabeças, sendo, geralmente, a produtividade superior a 15 kg/vaca/dia e o volume diário superior a 2.000 kg por unidade produtiva. A alimentação do rebanho é balanceada e fornecida integralmente no cocho durante o ano todo. A classificação dos sistemas de produção existentes no País reflete a grande heterogeneidade existente, e eleger um modelo ideal seria utópico. A exemplo do que ocorre nos principais países produtores de leite, o Brasil deve adotar
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modelos físicos de produção de leite que busquem competitividade e eficiência dos fatores de produção. Na Figura 2, se observa que a Nova Zelândia, que é o país com maior volume de leite no mercado internacional e que exporta cerca de 90% do leite produzido, a média é de aproximadamente 1.600 litros por propriedade por dia. Nos Estados Unidos, que é o maior produtor mundial de leite de vaca, o volume médio por unidade produtiva é de 1.300 litros/dia. O Uruguai, que é um dos grandes exportadores de leite para o Brasil, apresenta média de 300 litros/dia, índice semelhante aos que apresentam França e Alemanha, que também são países importantes na produção de leite. O Brasil ainda não atingiu a marca de 50 litros por produtor por dia. Ainda, na Figura 2, se observa que os países importantes no cenário mundial apresentam crescimento da quantidade de leite produzida diariamente nos sistemas de produção, no período de 2000 a 2010. Este deve ser o caminho do Brasil na busca do desenvolvimento da atividade leiteira. Os Estados Unidos aumentaram em 91%, passando de 681 litros/dia para 1.303 litros/dia, e a Inglaterra, de 453 litros/dia para 863 litros/dia, o que representou um crescimento de 91% durante a década.
Figura 2. Produção média de leite por unidade produtiva em alguns países, 2000/2010. Fonte: IFCN, 2012
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2000 2010 1303 863
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14
2 Índia
Brasil
Uruguai
França
Alemanha
Inglaterra
Estados Unidos
Nova Zelândia
26
China
331 312 302
Organização do setor leiteiro Os produtores de leite, em grande número, estão organizados em cooperativas, porém o sistema cooperativista brasileiro vem perdendo credibilidade ao longo dos anos, por vários motivos, desde a falta de gestão adequada e transparente até o despreparo dos membros participantes e de dirigentes, causando vários casos de falências nos últimos anos. Apesar dos “tropeços” das cooperativas, muitas delas representam a única opção do produtor de leite para comercialização do produto, que é altamente perecível. Algumas cooperativas deixaram de processar o leite captado e se transformaram em postos de resfriamento, vendendo o produto no mercado spot. Com a implementação da IN 51, que foi substituída pela IN 62, esperava-se que o leite produzido em pequenas quantidades fosse desaparecer em função da qualidade e da coleta a granel, porém esse fato não ocorreu e os pequenos produtores se mantiveram e ainda hoje há leite transportado da fazenda até a plataforma de recepção, em latões, e, em alguns casos, conduzidos por animais ou outros meios não adequados. A dificuldade para que ocorra uma profícua organização dos produtores em cooperativas está relacionada ao baixo nível educacional e à falta de conhecimento dos cooperados quanto às suas obrigações e responsabilidades. As associações de produtores estão surgindo com o propósito inicial de se obterem melhores condições de comercialização do leite e de compra de insumos utilizados na atividade. No entanto, o sucesso de algumas associações resultou em outras iniciativas, tais como a contratação de assistência técnica, centros de cria e recria de animais e comercialização em conjunto. Ainda é reduzido o número de produtores que participam de associações ou de cooperativas e esse é um bom caminho para que o produtor e o setor se fortaleçam.
Empresas nacionais e multinacionais O setor tem se caracterizado pela fusão ou compra de pequenas empresas brasileiras por grandes empresas. Em 2011, 40% do leite produzido no País, 13,1 bilhões de litros, foram adquiridos pelas dez maiores empresas com atuação no Brasil. As principais são: DPA/Nestlé,
BR Foods, LBR – Lácteos Brasil, Itambé, Italac, Laticínios Bela Vista, Embaré, Danone, Jussara e Centroleite. A oferta de leite tem se expandido ao longo dos anos para atender ao crescimento do parque industrial e também por especialização da atividade. Entre 2001 e 2011, a produção nacional cresceu 56%, ou seja, dos 20 bilhões passamos a produzir 32 bilhões de litros. Além do crescimento da produção, o Brasil tem se caracterizado como importador de produtos lácteos. No período de 2004 a 2009, houve uma mudança na balança comercial em que as exportações superaram as importações, mas a partir desse período voltamos a ser grandes compradores de produtos, principalmente da Argentina e do Uruguai. O crescimento da produção e as constantes importações de produtos mostram que a demanda brasileira por leite e derivados ainda está em crescimento. Esse fato significa que vale a pena investir no setor, não só pensando em abastecimento de mercado, mas também por outros benefícios que o leite traz para a sociedade brasileira, como geração de emprego e distribuição de renda.
Perspectivas e desafios para a próxima década Para garantir o desenvolvimento e a especialização da pecuária leiteira nacional, alguns desafios devem ser enfrentados visando à competitividade e à sustentabilidade do setor: Produtividade: Para que a produtividade por animal e por área se aproxime de índices observados em países expressivos na produção de leite, será necessária a adoção de tecnologias, que já estão disponíveis, em relação à qualidade genética dos animais e às práticas de manejo e de alimentação em uso nos sistemas de produção mais eficientes. Nas pequenas e médias propriedades, o uso das pastagens para alimentação do rebanho é de fundamental importância para a redução do custo de produção. Em regiões de clima tropical, como é o caso da maior parte do território brasileiro, a suplementação volumosa no período de seca ainda é um grande entrave para que a alimentação do rebanho seja adequada em quantidade e qualidade durante o ano todo.
A maioria dos produtores de leite no Brasil tem produção média diária inferior a 100 quilos Qualidade do leite: A qualidade do produto deve ser uma preocupação constante do produtor para que o leite atenda às exigências do mercado doméstico e do internacional, ficando dentro dos parâmetros determinados pela IN 62. Gestão da atividade: Para permanecer no leite, acompanhar a evolução e enfrentar a concorrência, o produtor deve priorizar a gestão do negócio, monitorando os indicadores zootécnicos e econômicos mais relevantes, tais como produtividade por área e por animal, rendimento da mão de obra, custo de produção e renda da atividade. O sistema de produção mais adequado é uma tarefa que cabe ao produtor definir, porque a capacidade de investimento e gerenciamento depende de cada um. Capacitação: Para que os sistemas de produção se tornem eficientes é necessária a incorporação de tecnologias e estas inovações exigem uma formação educacional básica por parte dos produtores. Nesse sentido esbarramos em um grande desafio para o setor, que é o nível educacional do produtor. Considerando dados do IBGE, observa-se que o grau de instrução dos dirigentes de estabelecimentos rurais que se dedicam à pecuária é de que a maioria, 57%, tem pouca instrução, ou seja, não concluíram o ensino fundamental, porque não tiveram alfabetização formal, mas sabem ler e escrever, ou foram alfabetizados depois de adulto. Essa situação se agrava com dirigentes que se declararam analfabetos, que somam 22% do total. Uma grande missão do setor para a próxima década é conseguir fazer chegar ao produtor, por meio das instituições de assistência técnica e das empresas de lacticínios, as melhores práticas de produção e as tecnologias adequadas ao seu sistema de produção. Animal Business-Brasil_37
Fiperj desenvolve sistema de alta tecnologia para
produção de carne de rã e cria oportunidades de investimento
O
biólogo José Teixeira de Seixas Filho, coordenador do Projeto de Ranicultura da Fiperj, explica que o objetivo principal das pesquisas é “desestrangular” a cadeia produtiva da ranicultura no RJ, mas a sobretaxa de 18% nos impostos é uma das primeiras desvantagens que o RJ precisa enfrentar. “Nossa ração é mais cara do que a de São Paulo e a de Minas Gerais, por exemplo. Acrescente-se a isso a inexistência de uma Tabela de Exigência Nutricional para a Rã-touro, como já existe, por exemplo, no caso das aves e suínos. Estamos trabalhando não apenas nesse sentido, mas também em melhorias nas instalações e manejo, com a reutilização de água nos setores de girinagem e engorda, na criação com controle da temperatura dentro da faixa de conforto do animal. Essas ações visam oferecer tecnologia com maior segurança de produção aos ranicultores fluminenses, objetivando ampliar o número de criadores e, paralelamente, o consumo da carne de rã que ainda é muito
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cara, chegando, no varejo, a R$ 86,00/quilo. Mas já existe uma demanda reprimida para o consumo dessa carne no RJ”. A carne de rã é uma alternativa terapêutica, como, por exemplo, no caso de crianças com problemas inatos de metabolismo, como as alergias alimentares e também para pacientes imunodeprimidos em função de transplantes de medula ou de órgãos ou em tratamento quimioterápico para câncer e aidéticos. O aproveitamento da proteína de carne de rã é muito alto: cerca de 83% são absorvidos pelo organismo. Além disso, essa carne tem baixo percentual de gordura, sendo rica em ácidos graxos insaturados. Na Fiperj – Fundação Instituto de Pesca do Estado do Rio de Janeiro, na Estação Experimental Almirante Paulo Moreira da Silva, em Guaratiba, está sendo desenvolvido um projeto – Financiado pela Faperj - com o objetivo de melhorar a qualidade das rações para ranicultura em duas fases: Animal Business-Brasil_38
girinos e imagos, além de outras linhas de pesquisa, com o objetivo de fornecer tecnologia para os interessados em investir nessa atividade. Nas épocas frias – período de entressafra – ocorre uma grande diminuição da produção uma vez que a rã não é um animal homeotérmico (não dispõe de mecanismos fisiológicos para manter sua temperatura estável) e sua temperatura corporal tende a equilibrar-se com a do ambiente, reduzindo seu metabolismo o que acarreta na interrupção do acasalamento, da engorda, assim como em altos índices de mortalidade. A pesquisa do reuso de água com controle da temperatura visa reduzir os períodos de entressafra. “Desenvolvemos um sistema de reuso e monitoramento da temperatura da água (25 a 26°C), para a fase aquática (girinagem), que permite a recirculação da água isenta de substâncias tóxicas. Este manejo além de proporcionar ao produtor um substancial aumento nos lucros, pela ampliação das safras anuais com segurança, viabiliza a ampliação geográfica da criação com a utilização de regiões, hoje, não recomendadas a esta atividade pela escassez do líquido. O controle da temperatura está sendo realizado com auxílio de bomba de calor e de chiller (bomba de frio). Nosso trabalho conta com a colaboração de uma indústria do Rio Grande do Sul (Full-Gauge), que atua no campo da automação, e que nos doou os equipamentos fundamentais para o desenvolvimento dessa pesquisa. Esse processo (um ciclo fechado) ainda tem a vantagem de preservar o meio ambiente dos resíduos orgânicos da criação, que estão sendo recolhidos e estudados para a adubação de viveiros de plantas ornamentais como mais uma fonte de recurso financeiro para o produtor” - afirma o coordenador, José Seixas.
Ranário experimental da fiperj
A difusão dessa tecnologia será repassada pela Fiperj, em parceria com a Embrapa, aos extensionistas e produtores das regiões Sul e Sudeste. A redução ou mesmo a eliminação da fase de entressafra é fundamental para que a industrialização e comercialização alcancem um alto nível de eficiência, através do fornecimento contínuo dessa carne especial, durante todo o ano. O Centro Universitário Augusto Motta é parceiro da Fiperj no trabalho de pesquisa. A professora, zootecnista Sílvia Mello, PhD em Medicina Veterinária, explica que na década de 1990, o estado do Rio de Janeiro foi o maior produtor de rãs do Brasil e nos anos 2000 São Paulo disputou esse primeiro lugar, mas o RJ, onde existia uma grande cooperativa – a Cooperã-Rio chegou a exportar para a Argentina e o Uruguai durante quase dois anos. Por problemas de gestão, a Cooperativa acabou encerrando suas atividades e foi criada por outro grupo de ranicultores uma nova cooperativa, a Coopercramma-Cooperativa de Ranicultores e Piscicultores de Cachoeiras de Macacu e Adjacências, também com problemas de gestão, mas ainda em funcionamento. Atualmente, no estado do Rio de Janeiro, existem cerca de 30 ranários em funcionamento, mas, a partir de 2011, constata-se que há um movimento dos ranicultores no sentido de melhorar a produção e a adoção das técnicas modernas desenvolvidas pela Fiperj. O RJ tem um abatedouro com inspeção federal (em Cachoeiras do Macacu) e dois com inspeção estadual, e diversos supermercados oferecem carne de rã congelada.
Tanques de criação de rãs
Colaborou: jornalista Alexandre Moretti, da Pesagro-Rio
Pesquisadores José Texeira de Seixas Filho e Silvia Conceição Reis Pereira Mello Animal Business-Brasil_39
Foto: Acervo Cebc
Embaixador Sergio Amaral
O grande e crescente mercado chinês
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egundo o Embaixador Sergio Amaral, presidente do CEBC-Centro Empresarial Brasil-China, a corrente de comércio do agronegócio entre Brasil e China vem apresentando expressivo crescimento nos últimos tempos. Em apenas quatro anos, a China mais do que duplicou sua participação nas exportações brasileiras do agronegócio e deverá figurar como principal destino das exportações em 2013. A grande demanda chinesa por alimentos é influenciada pelo crescimento da renda da população e pela migração interna do campo para a cidade, que reconfigura o estilo de vida, antes rural, para agora urbano, e o padrão de consumo. Além disso, o 12º Plano Quinquenal apresenta como objetivo do governo chinês ter
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o consumo interno como motor do crescimento do interno, o que implicará numa redistribuição de renda e em um consequente aumento do poder aquisitivo da população. Como nos conta Wilson Mello, vice-presidente da BRF –BrasilFoods, a empresa é a fusão da Perdigão com a Sadia e ambas já tinham uma história internacional muito longa e de muita tradição. “O movimento que a BRF está fazendo é no sentido de expandir-se de uma cultura internacional para uma estrutura multinacional em que a sede da companhia é no Brasil”. Segundo o vice-presidente, o Brasil, apesar de toda a dificuldade, continua extremamente competitivo na produção de proteínas de origem animal, por uma série de fatores como abundância de grãos, de água, de sol, de terra
Para exportar para a China é preciso paciência porque as exigências e a burocracia são grandes e se eles, garantidamente, provêm de estabelecimentos oficialmente habilitados.”
Negociação entre governos e de mão de obra. “Nós fizemos um movimento, em 2012, para produzir proteína animal pela primeira vez fora do Brasil, na Argentina. Lá, abatemos 200 mil cabeças de frangos/dia e no Brasil, sete milhões. diários. No que se refere à China, eu não a considero um competidor para o Brasil na indústria de alimentos porque ela não tem competitividade na produção de proteínas de origem animal”. Wilson Mello não considera a China uma ameaça à indústria de alimentos brasileira, “diferentemente do que ocorre com outras indústrias, como têxtil, sapato e automóvel”.
Burocracia A indústria de alimentos precisa enfrentar uma burocracia diferente da enfrentada por outras indústrias. Em alguns casos – segundo o empresário – “é preciso fazer um requerimento, um pedido e um teste, e o processo de habilitar determinado produto para outro país tem uma burocracia que pode demorar anos, talvez décadas. O primeiro grande passo é obter autorização para vender o produto, independentemente de ter cliente e mercado – e nós passamos por isso na China. Conseguimos, primeiramente, a liberação para vender frangos e em seguida para carne suína, esta depois de quase quatro anos”. A visita ao Brasil de uma missão veterinária chinesa é imprescindível e isso leva tempo. Os profissionais chineses precisam entender-se com os veterinários oficiais brasileiros, do Ministério da Agricultura, antes da sua chegada ao nosso país – “e o MA só libera a saída dos produtos pelo porto após detalhada verificação
A empresa exportadora ou que pretende exportar para a China tem pouca interferência no processo, uma vez que a negociação se dá entre países e não apenas entre empresas. Sempre será necessário contar com o apoio do nosso governo, através do Ministério da Agricultura e do Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty).
Paciência Para conseguir exportar para a China é preciso determinação e paciência. O vice-presidente da BRF conta que, em outubro de 2011, conseguiram habilitar a primeira planta e em dezembro, quando saiu a autorização para exportar, fizeram o primeiro embarque. “Foram seis meses para um processo que engloba a vinda de uma delegação chinesa para visitar as plantas, a certificação e a habilitação. É necessário ser paciente, mas isso faz parte da dinâmica do processo. Essa autorização refere-se à exportação de matéria-prima e alguns cortes”.
Quem manda é a necessidade O empresário destaca que “as barreiras sanitárias de um país são mais ou menos rigorosas a partir da sua necessidade. A China se abriu para os suínos brasileiros porque, pela primeira vez na história milenar daquele país, ocorreu um déficit entre a produção e o consumo local. Esse consumo aumentou para mais de 54 milhões e 500 mil toneladas de carne suína, por ano, e o país produziu 54 milhões. Isso abriu um spread de 500 mil toneladas de necessidade. É um mercado enorme. Esse déficit de produção é muito próximo do total que o Brasil exportou em 2012 – 540 mil toneladas”. Fonte: Carta Brasil-China, CEBC Animal Business-Brasil_41
Fotos: Alta Genetics
Por: Adeildo
Lopes Cavalcante
Desenvolvidos genomas das raças leiteiras Gir e Guzerá Na edição 2012 da Expozebu (maior feira de gado zebu do mundo), realizada em Uberaba (MG), a Embrapa Gado de Leite anunciou o sequenciamento dos genomas de bovinos das raças Gir e Guzerá. Desenvolvidos por aquele órgão em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais; EPAMIG (empresa de pesquisa agropecuária do governo mineiro) e as associações de criadores, os genomas abrem caminho para obtenção de animais mais produtivos e de melhor qualidade. Com o sequenciamento, será possível identificar marcadores moleculares específicos para as duas raças e, a partir daí, desenvolver meios para a seleção dos animais com base nesses marcadores. Esses meios são chips que possibilitarão selecionar precocemente os melhores animais para a produção de leite, resistência a parasitas e ao estresse térmico, entre outras características de importância econômica.
Carne seca com menos gordura e mais proteína Um tipo de carne seca (charque) desidratado pronto para ser consumido, produzido a partir de cortes traseiros de carne bovina. Esse é mais um produto de destaque desenvolvido pelo ITAL, órgão de pesquisa de alimentos da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo. O produto pode ser feito com tiras de carne ou a partir de carne desintegrada e formada em
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tiras ou bastões. Com baixo teor de gorduras totais (aproximadamente 3%) e um alto teor de proteína (cerca de 50%), o produto é desidratado em secadores de ar quente ou em defumadores que permitem agregar ao produto o sabor de defumado. O novo tipo de carne seca pode ser fabricado tanto por grandes como pequenas empresas, oferecendo alternativa de bons negócios para quem pretende diversificar a produção ou pretende investir em nova atividade.
Seara desenvolve e lança dois novos produtos no Reino Unido
A Seara Foods, através do seu departamento de pesquisas, desenvolveu e lançou duas novas categorias de produtos com a marca Seara no Reino Unido. Trata-se dos fatiados de presunto, frango, peru e rosbife Seara e a linha inédita de snacks “Seara Good to Go”, feitos com 100% de carne de peito de frango cozido. A estratégia faz parte da ampliação e consolidação da Seara como marca global do Grupo Marfrig. “O fato de sermos uma empresa global de alimentos nos possibilita ampliar e desenvolver um portfólio amplo de novos produtos”, afirma Andrew Nethercott, diretor de marketing da Moy Park, braço da Seara Foods no Reino Unido.
Projeto viabiliza produção de leite em propriedade familiar
Novidade: doce de leite tradicional e light Resultado de um estudo do Instituto de Tecnologia de Alimentos da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, o doce foi fabricado a partir de leite com baixo teor de lactose, no qual os pesquisadores adicionaram a enzima lactase. Essa enzima foi a responsável pela quebra da lactose, que é o principal açúcar do leite. O leite assim tratado, quando usado na fabricação de doce de leite, evita que durante a estocagem haja formação de cristais de lactose, limitando a vida de prateleira do produto e sua aceitação pelo consumidor.
Um trabalho de pesquisa que está completando 15 anos prova que é possível produzir, com lucro, leite em pequena propriedade familiar. Trata-se do projeto Balde Cheio, da Embrapa Pecuária Sudeste. As propriedades assistidas pelo projeto possuem, em sua maioria, de meio hectare a 20 hectares. A tecnificação e o bom gerenciamento permitem que os produtores multipliquem sua renda, a qual, em alguns casos, era, antes de aderirem ao projeto, inferior a um salário mínimo. Cerca de 90% dos produtores conseguia produção diária inferior a 80 litros no início dos trabalhos. Depois de incorporados ao projeto, passaram a obter de 300 litros a mil litros / dia. Mas o indicador mais importante na atividade, que é a produção de leite por hectare / ano, foi elevada de 12 a 15 vezes, isto é, de 1.100% a 1.400%.
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Sociedade Nacional
de Agricultura:
novas parcerias em seu campus da Penha, no Rio
A
s condições básicas para a aceitação de parceiros são duas: respeito à preservação do ambiente e compromisso com a educação. No local, já funciona, há 15 anos, uma parceria bem sucedida com a Faculdade de Medicina
Veterinária da Universidade Castelo Branco, sob a coordenação da professora médica veterinária Suzane Rizzo, MSc. São 500 alunos que têm à disposição um bem montado hospital veterinário com todas as instalações e equipamentos necessários para
São 150 mil metros quadrados arborizados de frente para a Av. Brasil
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aulas práticas num ambiente tranquilo, com amplo estacionamento e condução na porta. Na Unidade da Penha, do Curso de Veterinária da Universidade Castelo Branco, em convênio com a SNA - Sociedade Nacional de Agricultura, também há à disposição para aulas práticas, criação de rãs, porquinhos-da-índia, aves, suínos, ovinos, coelhos, bovinos e equinos. E também vários tipos de produção vegetal, como cana-de-açúcar; legumes verduras, pastos e também plantas tóxicas, sempre com finalidade educativa. Segundo a coordenadora Suzane Rizzo, esse curso, entre as 12 faculdades de medicina veterinária em funcionamento no estado do Rio de Janeiro, “é o único que tem, concentrados na mesma área, todos os recursos necessários para as aulas práticas, além do atendimento aos animais da população local. Temos um quadro composto de 28 professores, 90% dos quais com o título de Mestre ou de Doutor”. O conceito de “medicina veterinária sustentável” é um dos objetivos permanentemente perseguidos por essa parceria que abrange desde a racionalização do uso da energia até a disponibilidade correta dos resíduos. “Consideramos este um dos nossos diferenciais” – afirma a professora.
Parcerias As possibilidades de parcerias de indústrias e de prestadores de serviço coma SNA - Sociedade Nacional de Agricultura, em sua Unidade da Penha, são amplas e variadas, quer se relacionem com o Curso de Medicina Veterinária, como a fabricação de rações, aditivos, medicamentos, equipamentos, processamento de produtos alimentares, ou mesmo de outros segmentos industriais não obrigatoriamente relacionados com o mundo animal. Mas sempre será necessário levar em conta as duas restrições: ter relação com o ensino e o respeito à natureza. Tanto no que se refere à pesquisa e ao ensino como a unidades de demonstração, o local é privilegiado. Animal Business-Brasil_45
Tecnologia avançada em
oftalmologia veterinária Texto e fotos: Luiz
Octavio Pires Leal Colaboração: Dr. Jorge Pereira
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N
os últimos anos, a oftalmologia veterinária teve importantes avanços tanto no que se refere à qualidade dos profissionais especializados quanto na diversidade e precisão dos equipamentos. Atualmente, os melhores centros de clínica e cirurgia de olhos para animais equiparam-se ao que existe de mais avançado para uso humano. Tratamentos clínicos ou cirúrgicos de glaucomas e catarata, por exemplo, são procedimentos de rotina. Como na medicina humana, pertence ao passado o tempo em que o clínico veterinário tratava de todas as doenças e executava todos os procedimentos. Com o decorrer do tempo, eles foram se especializando e, atualmente, temos anestesistas, endoscopistas, especialistas em diagnóstico por imagem, neurologistas, ortopedistas, intensivistas, acupunturistas, especialistas em comportamento animal, oftalmologistas e outros especialistas treinados para oferecer um serviço de qualidade tanto aos animais de estimação e companhia como aos de esporte e produção.
Cirurgia sem sangue Um bom exemplo de tecnologia avançada usada na oftalmologia veterinária é a operação de catarata pela técnica de Facoemulsificação. Essa técnica permite extrair o cristalino que tornou-se opaco, prejudicando a visão ou mesmo causando a cegueira, em poucos minutos, sem dor e sem uma única gota de sangue. A Facoemulsificação, de forma simplificada, consiste em uma incisão milimétrica, feita com bisturi especial, por onde é introduzida a agulha
Oftalmologista Vet. Jorge Pereira
Piloto profissional e saxofonista de jazz, o médico Charles Kelman, inventor da técnica da Facoemulsificação, foi considerado um gênio nos Estados Unidos de uma “caneta”. Essa agulha vibra em alta frequência e pelo comando de pedais, o cirurgião injeta, alternadamente, uma solução salina balanceada e faz a sucção do material que, gradativamente, vai se fragmentando. A cirurgia – feita com anestesia – é indolor, não há necessidade de ponto nem de internação e a recuperação é rápida.
O inventor Charles Kelmam o criador da Facoemulsificação, um dos seus muitos inventos que revolucionaram a oftalmologia do século XX, foi reconhecido como um gênio nos Estados Unidos onde nasceu e faleceu aos 74 anos, vitimado por um câncer de pulmão contra o qual lutou durante seis anos. Chegou a inventar um equipamento para o cirurgião pulmonar tentar extrair o tumor. Pela sua contribuição à cirurgia de catarata, foi agraciado, em 1992, com a National Medal of Technology, pelo presidente George H.W.Bush, entre outros prêmios de reconhecimento. Além de médico, Kelman era piloto profissional e usava seu avião para passar temporadas de férias em sua casa na Flórida. Um homem de múltiplas habilidades, ele também era saxofonista de jazz e quem visitou seu consultório em NY, certamente viu pendurado na parede um quadro com a reprodução de uma página do NY Times com rasgados elogios à sua performance como músico. Charles Kelman esteve no Brasil diversas vezes, durante a década de 1970, para ajudar a difundir sua técnica. Foi um processo demorado porque encontrou muita resistência, mas acabou reconhecido e recebendo as chaves da Cidade do Rio de Janeiro, no ano de 2000. Animal Business-Brasil_47
Foto: Marcos Cerdeira
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Nascido na Pérsia há 2 mil anos, o polo está crescendo no Brasil Entrevista Sílvia Costa
Um pouco da história do nascimento do polo. Nascido na Pérsia há mais de dois mil anos, reza a lenda que o polo é o esporte (com bola) mais antigo do mundo. A evolução do jogo aconteceu principalmente na Ásia, desde Constantinopla até o Japão, tendo sido utilizado para treinar as cavalarias medievais e seus soldados. Curiosamente, documentos históricos Gregos e Romanos não mencionam o polo. Foram os militares britânicos, que conheceram o polo na Índia, a introduzir o esporte no mundo ocidental no século XIX. Em 1900, chegou a virar um esporte olímpico e hoje em dia é praticado por homens e mulheres em mais de 80 países, destacando-se a Argentina, a Inglaterra e os Estados Unidos.
Como você se interessou pelo esporte? Foi na Inglaterra há quase 8 anos que me apaixonei pelo esporte. Já morava em Londres há vários anos, e como boa carioca sofria o frio e os dias cinzentos, até que assisti a minha primeira partida de polo e disse - Achei! Essa é a minha praia! Geralmente, o caminho para o aprendizado é simples, você começa a montar, depois taquear e quando menos espera já está em campo jogando um torneio! Depois disso, o
caminho não tem mais volta, você compra dois ou três cavalos e reza para não chover no fim de semana, aliás, na Inglaterra se joga até debaixo de chuva. Joguei em vários lugares do mundo, Dubai, México, África do Sul, Argentina e França mas foi só depois da minha primeira partida no Rio de Janeiro, a 5 minutos da praia, que me senti verdadeiramente em casa. Hoje, jogo no Itanhangá Golfe Clube que fica a 15 minutos da minha casa.
Quantos cavalos são necessários para uma partida de polo? Tenho 6 cavalos estabulados no Clube e jogamos treinos ou torneios em média 2 vezes por semana. As pessoas me perguntam muito – Quantos cavalos você precisa para jogar? Bem, teoricamente para jogar treinos inteiros e torneios, o jogador precisa de no mínimo três cavalos mas na prática, seis cavalos é o numero mínimo (ideal). Uma partida tem seis tempos (ou chukkers) e o jogador deve usar um cavalo por tempo ou, pode repetir o mesmo cavalo ao menos uma vez, contando que não sejam utilizados em tempos consecutivos. Se requer muito do cavalo em campo, basta pensar que apesar de cada tempo durar apenas sete minutos e meio, o cavalo sai de campo exausto. Animal Business-Brasil_49
Quais as características de um bom cavalo de polo? Qual a raça ou raças usadas nesse esporte? As características de um bom cavalo são simples: ele deve ser veloz e fácil, com isso quero dizer; deve esbarrar, virar e arrancar com muita rapidez e facilidade. Sem a menor sombra de duvida, hoje em dia, os professionais e jogadores de alto nível procuram cavalos, ou principalmente éguas, da raça PSI (puro sangue Inglês) que possam se adaptar facilmente ao “stress” que o jogo pode causar ao animal. O objetivo é obter um cavalo de corrida com boa doma. Com isso, em Orlândia, por exemplo, alguns criadores cruzaram o Manga-larga, que já tem uma certa rusticidade, com o PSI. Já na Argentina, os maiores criadores de cavalos de polo do mundo, a cruza do PSI com Crioulo já deu resultados F1 (1/2 sangue) excelentes. Analisando a conformação de muitos cavalos de polo percebe-se também que em algum momento houve uma “infusão” de quarto de milha.
Partida de Pólo 50_Animal Business-Brasil
O Brasil produz cavalos de polo? Importa? Exporta? Quais os principais centros de criação de cavalos de polo, no Brasil? O polo no Brasil vem crescendo a cada dia. Sem a menor sombra de dúvida, o maior centro de polo do Brasil está em São Paulo, o Helvetia Country Club. Hoje encontramos algumas famílias, com grande tradição “polística”, investindo pesado na criação de seus cavalos, inclusive desenvolvendo novas tecnologias de transferência de embrião, muitas vezes usando excelentes garanhões argentinos. Mas ainda não existe um centro de criação para a venda ao publico. O maior vendedor de cavalos de polo no Brasil é Flavio “Preto” Castilho mas, como ele mesmo diz não cria cavalos de polo, ele tem um centro de treinamento de cavalos para polo em Uruguaiana, no Rio Grande do Sul. Preto está seguindo o negócio de seu pai, Coronel Castilho, um nome muito respeitado por todos os polistas brasileiros. Coronel Castilho foi um militar muito bem sucedido na Cavalaria que
O preço recorde de venda de um cavalo de polo foi US$ 800 mil
se aposentou para dedicar-se inteiramente ao polo. Ele ensinou a Preto a arte de selecionar, comprar, treinar e vender cavalos para polo. Preto me contou que em 2007 o Brasil exportou mais de 70 cavalos de polo para Europa, já em 2008 com a crise se alastrando quase nenhum cavalo foi exportado.
Quais os países que produzem os melhores cavalos de polo? A Argentina continua a ser o maior, e melhor, país exportador de cavalos de polo, principalmente para a Inglaterra e os Estados Unidos, porém, recentemente houve um aumento nos impostos para exportação de equinos, reduzindo drasticamente os números previamente exportados. Não é nada surpreendente que a China hoje seja um dos maiores importadores no mundo. Os chineses tendem a construir campos de polo em empreendimentos imobiliários milionários para ajudar a elitizá-los. Infelizmente existe uma lei sanitária chinesa que dificulta muito a exportação de equinos da América do Sul para aquele país, facilitando a negociação para os neozelandeses e australianos. Quanto custa um cavalo de polo? Um cavalo de pode custar entre US$ 5.000 e US$ 800.000 (esse foi um recorde obtido pelo clone da melhor égua (chamada Cuartetera) do melhor jogador de polo do mundo, Adolfo Cambiaso. Já um polista entusiasta, mas amador, pode encontrar uma excelente tropa na faixa de 10 mil dólares. Acredito que o maior número de cavalos de polo no Brasil seja vendido, em média, em tor-
Copa Belvedere, vencemos jogando pelo Brasil em 2009 na Inglaterra. Da esquerda para direita: Rafael Villela Rosa, Juracy Santos, Aurora Eastwood e Silvia Costa
no de US$15.000, seja para o mercado doméstico ou internacional.
O cavalo de polo precisa de uma alimentação especial? Ele tem uma alimentação energética, para atletas, baseada em alfafa e aveia, suplementada com rações industrializadas com níveis mais altos de proteína e vitaminas. Quanto custa, em média, por mês, manter um cavalo de polo? Imagine sustentar seis cavalos atletas! Não é barato, principalmente para alimentar a tropa. E o custo é elevado não só pela alimentação mas também pela remuneração de um bom tratador. O custo depende também muito do local onde os cavalos estão estabulados. Uma fazenda no interior de Minas Gerais será sem duvida mais em conta do que um clube no centro da cidade. Na Inglaterra, o trato de cada cavalo custava US$400 por semana. Isso faz parecer que o polo no Rio de Janeiro seja quase grátis! Animal Business-Brasil_51
Bovino de leite com a canga acoplada à cabeça, equipamento que coleta o gás metano emitido para análise em laboratório
Embrapa pesquisa pecuária e efeito estufa
I
niciada há quase dois anos, a rede de pesquisa Pecus começa a reunir para publicação os primeiros resultados dos experimentos. O principal objetivo da rede é estimar a participação dos sistemas de produção agropecuários na dinâmica de gases de efeito estufa, visando subsidiar políticas públicas e alternativas de redução. Para saber se os sistemas de produção possuem potencial de mitigação, eles serão comparados com a vegetação nativa (floresta, caatinga, pampas) de cada região em que estão inseridos. Com centenas de pesquisadores e diversos parceiros no Brasil e no exterior, incluindo universidades, institutos de pesquisa e agências de fomento à pesquisa e da iniciativa privada, os pesquisadores da rede e suas equipes têm feito experimentos nos seis biomas brasileiros - Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pantanal e Pampa.
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Líder da rede, a Embrapa Pecuária Sudeste (São Carlos, SP) vem realizando a pesquisa em áreas de Mata Atlântica. Após cinco anos do início do primeiro projeto, a equipe comemora a consolidação dos primeiros resultados. A emissão de gases de efeito estufa pela pecuária é um processo conhecido. Entretanto, é importante avaliar os diferentes sistemas de produção. O metano é um importante gás de efeito estufa, e é produzido naturalmente pelos herbívoros ruminantes (que possuem estômago dividido em quatro partes: rúmen, retículo, omaso e abomaso). Durante a evolução desses animais, o rúmen foi útil para que eles pudessem comer muito alimento de uma vez e retirar-se para um local seguro de predadores, realizando lá a ruminação e a fermentação desse alimento com a ajuda de micro-organismos. Grande parte do metano produzido pelos animais é, portanto, liberada pela boca e narinas. Para medir a emissão de metano pelo gado, os pesquisadores da rede Pecus utilizam uma canga, acoplada a um cabresto na cabeça do animal por um período de 24 horas. Parte do gás emitido pela boca e narinas fica retida numa espécie de tubo que, vedado, é levado para análise em um aparelho chamado cromatógrafo. As pastagens também emitem gases de efeito estufa. Por isso, na Pecus estão sendo avaliadas as dinâmicas de gás carbônico, óxido nitroso e metano. Esses gases são medidos por meio de uma câmara estática colocada nas áreas de pastagens e de mata durante uma hora. A análise do sistema solo-planta também é feita no cromatógrafo.
Remoção dos gases Não basta calcular a emissão de GEEs. É preciso também medir a remoção de gases pelos sistemas pecuários por meio do sequestro e acúmulo de carbono nos sistemas de produção. Isso ocorre principalmente como consequência da fotossíntese das plantas. Nesse processo são formados carboidratos, que contêm o elemento carbono. Este passa a fazer parte da estrutura das plantas. Quando elas morrem e se transformam em matéria orgânica, o carbono presente nelas é incorporado ao solo, no processo chamado de sequestro de carbono. O carbono presente na madeira das árvores também repre-
Para medir a emissão de metano pelo gado, os pesquisadores da rede Pecus utilizam uma canga acoplada a um cabresto na cabeça do animal senta uma forma de sequestro de carbono. Se a madeira não for queimada e permanecer intacta em usos como mobiliário ou construção civil, o carbono sequestrado permanece estocado. “De gás poluente, o CO2, após o processo de fotossíntese e crescimento das plantas, se transforma em carbono estocado na matéria orgânica do solo ou na madeira “, explica a pesquisadora da Embrapa Pecuária Sudeste Patrícia Perondi Anchão Oliveira.
Balanço final Após avaliar por pelo menos dois anos os resultados de emissão e remoção de gases de efeito estufa, será feito o balanço de carbono de cada sistema de produção e das áreas de vegetação natural. Assim, será possível saber se o sistema é mitigador, ou seja, se é capaz de reduzir os GEEs na atmosfera em relação à vegetação natural. Mas este ainda não é o fim da pesquisa, segundo Patrícia. “Precisamos saber se os sistemas de produção atendem aos requisitos de sustentabilidade por meio de avaliações paralelas em outras áreas de pesquisa. Por exemplo, um sistema irrigado e com alta lotação pode ser mitigador, mas inviável economicamente. Ou pode ser poluidor, mas econômico para o produtor”, afirma. Para que um sistema seja sustentável e recomendado, é necessário atender ao tripé da sustentabilidade: social, ambiental e econômico. Fonte: Jornalista Larissa Morais, Embrapa Pecuária Sudeste, São Carlos/SP larissa.morais@embrapa.br
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Peixe-boi da Amazônia
um gigante ameaçado Por: Dr.
Rodrigo de Souza Amaral e Dra Vera Maria Ferreira da Silva Laboratório de Mamíferos Aquáticos – Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – LMA/INPA
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Foto: Acervo AMPA
O
peixe-boi já teve uma grande importância econômica fornecendo couro, que já foi exportado para a Europa e Estados Unidos, carne e gordura, porém, hoje os pesquisadores lutam contra a extinção da espécie. O peixe-boi da Amazônia é um mamífero aquático endêmico dos rios da Bacia Amazônica. Pertence à Ordem Sirenia, que recebeu esse nome por causa da lenda das sereias. Seu nome científico é Trichechus inunguis, originado das palavras gregas trichos (cabelo, pelos) e ekh_ (ter) referente à presença de pelos esparsos pelo seu corpo, e inunguis devido à ausência de unhas nas nadadeiras peitorais, diferentemente das outras duas espécies de peixes-bois que possuem unhas. O peixe-boi é popularmente assim chamado por viver na água (peixe) e por se alimentar somente de plantas (boi), além de seu focinho lembrar o de um bovino. A espécie possui pele lisa e escura, com coloração variando de cinza escuro a preto, e geralmente tem uma mancha branca na parte ventral, utilizada para identificar os indivíduos. Seu corpo é adaptado para o ambiente aquático, sendo fusiforme e possuindo uma nadadeira caudal arredondada, importante para propulsão durante o deslocamento. Na Amazônia ocorrem cinco espécies de mamíferos aquáticos, das quais duas são espécies de golfinhos (boto-vermelho e tucuxi), duas de mustelídeos (ariranha e lontra neotropical) e uma de sirênio (peixe-boi da Amazônia). O peixe-boi é o maior de todos, podendo medir até 2,75 metros e pesar até 420kg. Acredita-se que o peixe-boi da Amazônia pode viver cerca de 65 anos, atingir a maturidade sexual a partir dos 6 anos de idade, e aos 10 anos já ser considerado adulto. O peixe-boi da Amazônia habita somente os rios e lagos da bacia Amazônica, e pode ser encontrado em quase todos os tributários do Rio Amazonas desde a Colômbia, Peru e Equador, na Amazônia brasileira (passando pelos estados do Acre, Amazonas, Roraima e Amapá), até a sua foz, no estado do Pará. Ocorre nos rios de águas brancas, pretas e claras e, por causa do forte ciclo sazonal dos rios da bacia Amazônica, permanece em áreas de várzea durante a cheia, migrando para lagos perenes e canais de rios durante a vazante. Animal Business-Brasil_55
O peixe-boi da Amazônia é um animal herbívoro e se alimenta de plantas aquáticas e semiaquáticas, raízes e vegetação de áreas alagadas, reduzindo a quantidade de plantas e permitindo a entrada de luz na coluna d’água. Dessa forma, funciona como um grande adubador do ambiente aquático, excretando partículas vegetais e micronutrientes, favorecendo, assim, toda a cadeia trófica. Por causa do tipo de planta consumida, rica em sílica, seus dentes sofrem um intenso desgaste. Como solução, os dentes do peixe-boi são continuamente renovados; nascem na parte posterior da mandíbula e maxila, e vão migrando, de maneira horizontal, para a parte anterior até serem desgastados e cair. Seu metabolismo é muito lento, equivalente a um terço do metabolismo de um mamífero terrestre do mesmo porte. Dessa forma, o peixe-boi consegue ficar embaixo d’água em média por cinco minutos, e em situações de fuga ele é capaz de reduzir seus batimentos cardíacos e permanecer submerso por mais de 15 minutos. É uma espécie muito discreta e difícil de ser vista na natureza, pois quando sobe à superfície para respirar somente expõe a ponta do focinho, e quando mergulha não expõe o dorso ou a cauda como fazem os golfinhos. Assim como sua migração, a sua reprodução também está intimamente relacionada com a variação no nível dos rios da bacia Amazônica. O período reprodutivo do peixe-boi ocorre entre dezembro e junho, época de enchente e cheia dos rios da região e consequentemente de maior disponibilidade de ali-
Foto: Acervo AMPA
O INPA desenvolve trabalhos de pesquisa na Amazônia para preservar o peixe-boi
Ao lado e na página 36: Boo e seu filhote Airumã, o sexto filhote de peixe-boi da Amazônia nascido nos tanques do INPA 56_Animal Business-Brasil
mento para a espécie. A gestação é de aproximadamente 12 meses e as fêmeas normalmente geram um filhote a cada gestação, o qual é amamentado por aproximadamente dois anos. Os peixes-bois possuem uma assinatura vocal (um som característico) que identifica cada indivíduo; dessa forma, durante todo o período de cuidado materno, há uma constante comunicação vocal entre a mãe e seu filhote, possibilitando, assim, que a fêmea reconheça o seu filhote.
Em risco de extinção
Fotos: José Anselmo d’Affonsêca Neto
O peixe-boi da Amazônia é caçado desde antes do período de colonização. Sabe-se que a caça tradicional era realizada pelos índios para o consumo da carne e gordura, e também para a utilização de seu couro como escudo e seus ossos na fabricação de artefatos de pesca e artesanato. Com a colonização europeia no Brasil, a comercialização da carne do peixe-boi, fresca, seca ou principalmente na forma de mixira (carne frita e conservada na própria gordu-
Reabilitação de peixes-bois órfãos
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Foto: Alexandre Fonseca Foto: Alexandre Fonseca
Monitoramento por radiotelemetria de peixes-bois soltos após reabilitação em cativeiro
Ensinando as crianças a respeitar a natureza
ra do animal), foi intensificada e exportada para os países europeus. Por volta de 1934, com a crescente industrialização, o couro do peixe-boi passou a ser utilizado na confecção de polias e correias para os maquinários, aumentando expressivamente a caça deste animal. Durante 20 anos estima-se que entre 80.000 e 140.000 peixes-bois foram mortos nos lagos do estado do Amazonas e o couro exportado para todo Brasil, Estados Unidos e países da Europa. Porém, duas décadas depois, seu comércio cessou, possivelmente pela redução populacional e pelo aumento do uso de borracha e materiais sintéticos nas maquinarias. Mesmo assim, o comércio da carne do peixe-boi retornou com força total, voltando a apresentar picos de quase 7.000 animais caçados por ano. Esta exploração continuou até o ano de 1973, ano em que foi publicada a primeira Lista
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das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção. Porém, a caça de subsistência por comunidades ribeirinhas amazônicas persiste até hoje, com certo grau comercial. Embora protegido, ainda é possível encontrar carne de peixe-boi sendo vendida ilegalmente em feiras e mercados populares em cidades da região amazônica. O peixe-boi da Amazônia está citado no Apêndice I da Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção - CITES (lista que consta as espécies ameaçadas de extinção, permitindo seu comércio somente em situações excepcionais) desde 1973. A espécie é protegida no Brasil desde 1967 pela Lei de Proteção à Fauna (nº 5.197, alterada para 7.653 em 1988), a partir de 1998 pela Lei de Crimes Ambientais (nº 9.605), e consta na Lista Vermelha das Espécies Ameaçadas da IUCN e no Livro Vermelho
O couro já foi exportado para todo Brasil, Estados Unidos e Europa, quando tinha uma grande valor comercial
O que tem sido feito para salvá-lo
Foto: Morais Rego
Diante da grande ameaça de extinção do peixe-boi da Amazônia, esforços têm sido realizados para a recuperação populacional da espécie na natureza. No Brasil, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA foi o pioneiro nas atividades conservacionistas relacionadas ao peixe-boi da Amazônia, iniciando em 1974 os primeiros resgates de filhotes de peixe-boi órfãos, vítimas da caça ilegal, e desenvolvendo técnicas de reabilitação destes animais em cativeiro. De lá para cá, várias pesquisas científicas foram realizadas, aumentando o conhecimento sobre a biologia da espécie e sua inserção no contexto ecológico da Amazônia. Outros centros especializados no resgate e reabilitação de peixes-bois órfãos foram criados, como o Centro de Preservação e Pesquisa dos Mamíferos Aquáticos da Amazônia – CPPMA, o Instituto Mamirauá, e o Centro Mamíferos Aquáticos – CMA vinculado ao ICMBio (Instituto Chico Mendes de
Registro de caça histórica do peixe-boi da Amazônia
Conservação da Biodiversidade), possibilitando um grande sucesso nessa etapa do processo de conservação desta espécie. Além disso, diversas atividades de educação ambiental têm sido realizadas nas cidades e comunidades ribeirinhas da região amazônica com o intuito de informar a importância do peixe-boi da Amazônia para o ecossistema da região. Outro importante passo no processo de conservação começou a ser dado há alguns anos atrás, com a devolução dos animais reabilitados em cativeiro para a natureza. Porém, esta é uma etapa delicada e de aprendizado tanto para os pesquisadores quanto para o próprio peixe-boi, pois é necessário que os animais aprendam a sobreviver no ambiente natural, capazes de conseguir a sua própria comida, de entender o ciclo sazonal dos rios da bacia Amazônica, e principalmente evitar os caçadores. As dificuldades em cada etapa são muitas e o processo para conservação do peixe-boi da Amazônia é lento, porém, os esforços para a sua realização são extremamente necessários para que as futuras gerações possam ter o prazer de conhecer e respeitar este gigante da Amazônia.
Foto: Acervo AMPA
da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção. O peixe-boi também é protegido por lei na Colômbia e no Peru.
Educação Ambiental com comunidades ribeirinhas Animal Business-Brasil_59
Leites fermentados
como alimentos funcionais Por: Vet.
Marion Pereira da Costa, mestranda Prof. Carlos Adam Conte Jr, PhD Faculdade de Veterinรกria da UFF
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F
uncionais são todos os alimentos ou bebidas que, ingeridos nas refeições diárias, podem conferir benefícios fisiológicos específicos, devido à presença de compostos fisiologicamente ativos. O leite fermentado é o principal alimento utilizado como veículo de administração de culturas probióticas e adição de ingredientes prebióticos. Os probióticos são microrganismos vivos, que administrados em quantidades adequadas conferem benefícios à saúde do hospedeiro. Prebióticos são carboidratos seletivamente fermentáveis que permitem modificações específicas na diversidade e/ou na atividade da microbiota gastrointestinal, resultando em benefícios para o bem-estar e a saúde do hospedeiro. Uma série de benefícios é atribuida aos produtos que contêm probióticos e/ou prebióticos. Contudo, deve-se salientar que para a obtenção destes benefícios, o consumidor precisa ingerir uma dose mínima diária desses produtos funcionais, associada a um hábito de vida saudável, que inclui a prática de exercícios regulares e alimentação balanceada. O termo “Alimento Funcional” surgiu primeiramente no Japão, nos anos 80, referindo-se aos alimentos que, além do valor nutritivo, auxiliavam em funções específicas do organismo, devido a alguma substância presente nos mesmos. Naquela época, uma das primeiras definições de alimento funcional foi proposta pela Foods for Specified Health Use (FOSHU) como aqueles alimentos que têm efeito específico sobre a saúde devido à sua constituição química, e que não devem expor quem os consome, a riscos para a saúde. Nestes termos, os alimentos funcionais possuem potencial para promover a saúde através de mecanismos não previstos na nutrição convencional, devendo ser salientado que esse efeito restringe-se à promoção da saúde e não à cura de doenças, ou seja, alimentos funcionais são todos os alimentos ou bebidas que, consumidos nas refeições diárias, podem conferir benefícios fisiológicos específicos, graças à presença de compostos fisiologicamente saudáveis.
Legislação A legislação brasileira não define alimento funcional, mas sim a alegação de propriedade funcional e a de propriedade de saúde, e estabelece as diretrizes para sua utilização, bem como as condições de registro. Esses alimentos podem ser classificados de acordo com o alimento em si, ou conforme os componentes bioativos neles presentes como, por exemplo, os probióticos, os prebióticos, os fitoquímicos, as vitaminas e os minerais essenciais, carotenoides, peptídeos bioativos, além de ácidos graxos insaturados ômega 3 e 6.
Probióticos Os probióticos são microrganismos vivos, que quando consumidos em quantidades adequadas, conferem benefícios para a saúde do hospedeiro. Uma distinção deve ser feita entre culturas probióticas e culturas ativas. Para as culturas serem denominadas probióticas é essencial que sejam comprovados os seus benefícios para a saúde, enquanto para cultura ativa ou iniciadora apenas é necessário confirmar sua capacidade de fermentar alimentos. Sendo assim, nem toda cultura iniciadora é probiótica, e por este motivo, nem todo alimento fermentado deve ser considerado probiótico. Vários gêneros bacterianos e algumas leveduras são utilizados como micro-organismos probióticos, incluindo os gêneros Lactobacillus, Leuconostoc, Bifidobacterium, Propionibacterium, Enterococcus e Saccharomyces, no entanto estudos têm demonstrado que as principais espécies com características probióticas são o L. acidophilus, o Bifidobacterium spp. e o L. casei.
Principais culturas Atualmente, as principais culturas utilizadas pela indústria como probióticos incluem lactobacillos e bifidobactérias que possuem um longo histórico na produção de derivados lácteos e também são encontradas como parte da microbiota gastrointestinal do homem, além da levedura Saccharomyces cerevisiae Animal Business-Brasil_61
Os alimentos funcionais possuem potencial para promover a saúde através de mecanismos não previstos na nutrição convencional
Efeitos
Prebióticos
Os efeitos dos probióticos podem ser classificados em três categorias: (1) capacidade de modular a defesa do hospedeiro; (2) efeito direto sobre outros microrganismos, comensais ou patogênicos, o que os tornam importantes na prevenção e tratamento de infecções e restauração do equilíbrio da mucosa intestinal; e (3) efeito baseado na eliminação de produtos resultantes do metabolismo microbiano, como toxinas, o que resulta na desintoxicação do intestino de quem os consomem. Uma série de benefícios para a saúde é atribuída aos produtos que possuem probióticos, incluindo atividade antimicrobiana, controle de microrganismos patogênicos, hidrólise da lactose, modulação da constipação, atividade antimutagênica e anticarcinogênica, redução do colesterol sanguíneo, modulação do sistema imune, melhoria na doença inflamatória do intestino e supressão de infecções por Helicobacter pylori. Alguns destes benefícios já são bem estabelecidos, como a modulação da constipação e hidrólise da lactose, enquanto outros efeitos têm mostrado resultados promissores em modelos animais, necessitando ainda de mais estudos. Deve-se salientar que estes benefícios para a saúde são transmitidos por linhagens probióticas específicas e não por espécie ou gênero específicos. Cada linhagem está relacionada com um determinado benefício, desta forma nenhuma cepa irá fornecer todos os efeitos propostos.
Os prebióticos são “ingredientes seletivamente fermentáveis que permitem modificações específicas na composição e/ou na atividade da microbiota gastrointestinal, resultando em benefícios ao bem-estar e à saúde do hospedeiro” (Roberfroid, 2007; Wang, 2009). Qualquer alimento que contenha carboidrato, principalmente oligossacarídeos, pode ser classificado como prebiótico, desde que atenda a dois critérios: não serem hidrolizados ou absorvidos no trato gastrointestinal, e serem fermentados por um número limitado de microrganismos, como por exemplo, as bifidobactérias e os lactobacillos. Estes compostos apresentam importância nutricional e tecnológica, sendo naturalmente encontrados em vegetais e frutas, além de poderem ser processados industrialmente. Os prebióticos constituídos por fibras alimentares podem ser classificados em solúveis e insolúveis. No geral, as fibras solúveis, como as presentes naturalmente na maçã, pera e aveia, contribuem para a diminuição do nível de colesterol, prevenindo doenças cardiovasculares; atuam no combate à obesidade, pois a saciedade leva o indivíduo a uma menor ingestão de alimentos; propiciam o retardo na absorção da glicose e ainda protegem contra o câncer de intestino. Enquanto as fibras insolúveis, como as presentes nos vegetais, trigo e centeio, aceleram a velocidade do trânsito fecal, aumentam o bolo fecal, previnem a constipação intestinal e o câncer colorretal.
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Os principais prebióticos utilizados pela indústria mundial de alimentos são as oligofrutoses ou fruto-oligossacarídeos (FOS), a inulina, os isomalto-oligossacarídeos (IMO), os glico-oligossacarídeos (GOS) e os trans-galacto-oligossacarídeos (TOS). Dentre os citados, a inulina e o FOS são os mais estudados, sendo ainda os únicos para os quais a alegação de efeito sobre a composição da microbiota intestinal é permitida no Brasil. A inulina e o fruto-oligossacarídeo pertencem a uma classe de carboidratos denominados frutanos, considerados ingredientes funcionais, uma vez que exercem influência sobre os processos fisiológicos e bioquímicos no organismo, resultando em melhoria da saúde e redução no risco de aparecimento de diversas enfermidades. Frutanos tipo inulina podem ser usados tanto como suplemento em alimentos, quanto como substitutos de macronutrientes. Como suplementos, são adicionados devido às suas propriedades nutricionais, aumentando o teor de fibra dos produtos. Em outras aplicações, são adicionados para permitirem alegações de propriedade funcional, como aquelas relacionadas à atividade bifidogênica (propiciando o crescimento das bifidobactérias). Além disso, podem ser utilizados como substitutos de macronutrientes, sendo a inulina e o FOS utilizados para substituirem gordura e açúcar, respectivamente. Por não apresentarem sabores residuais e não contribuírem significativamente para a viscosidade dos alimentos é possível utilizá-los em concentrações elevadas, originando produtos com alta concentração de fibras e semelhantes em aparência e sabor aos convencionais.
Lactobacillus acidophilus
Preparação de iogurte de leite de cabra
As bactérias probióticas só apresentam efeitos biológicos no ambiente intestinal se atingirem um número mínimo
Benefícios Com relação aos benefícios para a saúde proporcionados pela ingestão de frutanos tipo inulina, é comprovado que em humanos há a melhoria das funções intestinais e da microbiota residente, além do aumento na absorção de minerais. Outros benefícios, como diminuição do colesterol sanguíneo e efeito anticarcinogênico ainda vêm sendo estudados pela comunidade cientifica. Animal Business-Brasil_63
Kefyr de leite
Leites fermentados Os produtos lácteos representam o mais importante segmento dos alimentos funcionais, sendo os primeiros nesta categoria. O leite fermentado é o principal veículo de administração de culturas probióticas e adição de ingredientes prebióticos. Segundo a legislação brasileira, os leites fermentados são os produtos resultantes da fermentação do leite pasteurizado ou esterilizado, por fermentos lácticos próprios, o que inclui o iogurte, o leite fermentado ou cultivado, o leite acidófilo, kefir, kumys e coalhada.
Dos leites fermentados probióticos, o iogurte é o mais popular, sendo o mais produzido e consumido. Na América Latina, o mercado de iogurtes probióticos cresceu 32% de 2005 a 2007, representando 30% do total do mercado de iogurtes produzidos.
Consumo recomendado As bactérias probióticas somente apresentam efeitos biológicos no ambiente intestinal quando atingem um número mínimo viável. No entanto, a dose de probióticos necessária, varia segundo
O leite fermentado é o principal alimento utilizado como veículo de administração de culturas probióticas e adição de ingredientes prebióticos
Amostra de iogurte de leite de cabra
Vet. Marion Pereira da Costa 64_Animal Business-Brasil
a cepa envolvida e o tipo de produto elaborado. Por este motivo, é difícil estabelecer uma dose aplicada para todos os probióticos, o ideal seria estabelecer uma dosagem para cada linhagem baseada em estudos clínicos em humanos. Contudo, diversos autores consideram, no caso do consumo de 100g de produtos lácteos diário, a faixa de 107 a 109 UFC g-1 de micro-organismos probióticos viáveis um número recomendável. Segundo Gibson (2007) e Kolida, Meyer e Gibson (2007) a dose prebiótica de 5 g/dia de inulina, oligofrutose ou FOS é suficiente para alterar beneficamente a microbiota do cólon, sendo que em casos específicos esse valor pode chegar a 8 g/dia. Manning e Gibson (2004) verificaram que no mínimo 4 g/dia, mas preferivelmente 8 g/dia do prebiótico seriam necessários para aumentar significativamente a quantidade de bifidobactérias no intestino.
No Brasil Especificamente em relação ao Brasil, a Comissão Tecnocientífica de Assessoramento em Alimentos Funcionais e Novos Alimentos, instituída junto à Câmara Técnica de Alimentos (BRASIL, 1999), tem avaliado os produtos com alegações de propriedades funcionais e/ou de saúde aprovados no país. A recomendação brasileira mais recente para alimentos probióticos é com base na porção diária de microrganismos viáveis que devem ser ingeridos para efeitos funcionais, sendo o mínimo estipulado de 108 a 109 UFC dia-1. Quanto aos alimentos prebióticos, a recomendação diária mínima de fruto-oligossacarídeos (FOS) e de inulina é de 3 g destes compostos para alimentos sólidos e de 1,5 g para alimentos líquidos (ANVISA, 2008).
Marketing x ciência A propaganda afeta a escolha dos alimentos e influencia os hábitos de consumo da população. Desta forma, a publicidade utilizada em alimentos e bebidas funcionais não deve explorar a credulidade e a inexperiência do consumidor. Alegações como “Ajuda na resposta anti-inflamatória e imunológica” e “Corrige a flora intestinal em desequilíbrio” devem ser evitadas na rotulagem, pois afirmam um benefício dependente de inúmeros fatores e
influencia a decisão do consumidor no momento da aquisição de alguns destes produtos funcionais. Algumas marcas investem em produtos que prometem colaborar com a saúde e o bem-estar dos consumidores. Contudo, cabe salientar ainda que para a obtenção dos benefícios conferidos pela ingestão de alimentos funcionais, as pessoas devem utilizar uma dose mínima de consumo diário destes produtos, associados a um hábito de vida saudável, que inclui a prática de exercícios regulares e uma alimentação balanceada. Animal Business-Brasil_65
Embrapa faz 40 anos e o
agronegócio brasileiro comemora
H
á 40 anos, o Brasil produzia 30 milhões de toneladas de grãos e importava alimentos. Hoje estamos colhendo uma safra de 185 milhões de toneladas e somos o 3º maior fornecedor global de produtos agropecuários. Neste ano, devemos atingir a marca dos U$ 100 bilhões de exportações do agronegócio. Nos últimos 40 anos o valor da cesta básica reduziu-se cerca de 50%, em decorrência do crescimento da oferta de alimentos para o mercado interno. Nesse período, os ganhos de produtividade foram extraordinários: a produção de grãos cresceu 400% enquanto a área cultivada aumentou apenas 80%. Na produção de carnes os indicadores também são inequívocos. O país ampliou em quatro vezes a produção de carne bovina e triplicou a de carne suína. Esse aumento da produção foi conquistada através do incremento da produtividade e não pela expansão da área de pastagens. Todo esse progresso foi alcançado com muita pesquisa, com o desenvolvimento e disseminação de tecnologias apropriadas, onde a Embrapa é nossa maior protagonista. Ao longo de seus 40 anos, a Embrapa reformulou os conceitos e a estrutura da pesquisa agropecuária brasileira. Dispondo de uma equipe com cerca de 2427 pesquisadores - sendo 80% com doutorado - a Embrapa atua em diversas áreas do conhecimento e possui intercambio com instituições líderes no Brasil e no exterior. A Embrapa não tratou apenas dos aspectos científico e tecnológico. A instituição procurou dar aos produtores amplo acesso às inovações. Adotar uma nova tecnologia é tão importante quanto desenvolvê-la. Neste campo, a SNA tem colaborado decisivamente na disseminação das novas tecnologias, principalmente através de suas revistas A Lavoura e Animal Business Brasil. 66_Animal Business-Brasil
Foto: Carlos Silva - ACS/MAPA
Antonio Mello Alvarenga*
Ministros Antonio Andrade (Agricultura) e Gleysi Hoffman (Casa Civil) brindam com Maurício Lopes e Antonio Alvarenga, presidentes da Embrapa e da SNA, no evento de comemoração dos 40 anos da Embrapa.
As pesquisas da Embrapa permitiram incorporar ao processo produtivo grandes extensões de terras do cerrado, que se tornaram solos férteis, onde se pratica uma agricultura moderna e competitiva, com elevados índices de produtividade. Trabalhando em conjunto com instituições de classe, órgãos de assistência técnica e com os produtores, a Embrapa tornou o Brasil um dos líderes mundiais em tecnologia da agricultura tropical e do uso racional dos recursos naturais. Dessa forma, o Brasil cumpre sua vocação natural e consolida-se como um dos maiores fornecedores de alimentos do mundo, com papel fundamental na equação global de segurança alimentar. Poucos países conseguem conciliar uma exuberante produção alimentos, com indicadores elevados de preservação ambiental, como o Brasil. No entanto, não podemos nos acomodar com o sucesso alcançado. É preciso ampliar os investimentos em pesquisas e adoção tecnologias inovadoras. Também é importante manter a cooperação entre o setor público e o privado. Essa foi a chave do sucesso e sempre será fundamental na consolidação de um setor agropecuário moderno, com produtividade, sustentabilidade e renda. Temos razões de sobra para comemorar. Vida longa à Embrapa ! *Antonio Mello Alvarenga é presidente da Sociedade Nacional de Agricultura